SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 15
Baixar para ler offline
X SEUR – VI Colóquio Internacional sobre as Cidades do Prata
Jornal O Pescador – Jornalismo Comunitário e construção da Memória dos Pescadores da
Colônia Z 3
Título da Comunicação
Jerusa de Oliveira Michel, UFPEL, jerusa.michel@gmail.com
Margareth de Oliveira Michel, UCPEL, margareth.michel@gmail.com
Resumo: este artigo tem como objetivo analisar a construção da memória na Z3 - Colônia de
Pescadores em Pelotas, através de um jornal Comunitário – O Pescador. O tema reveste-se de
importância pelos reflexos na vida, tanto da comunidade quanto dos acadêmicos de
Jornalismo. É um campo de investigação amplo, abordado por diversas correntes teóricas, e
tem despertado interesse em muitas áreas das ciências sociais, permitindo aos jornalistas uma
visão mais próxima da responsabilidade no exercício de suas atividades, de sua possibilidade
de interação neste processo, assim como de sua valiosa contribuição neste campo social.
Palavras-chave: Memória, Jornalismo Comunitário, O Pescador.
Abstract
Deve ser incluído um resumo no mesmo idioma do artigo e ainda em outra língua oficial do encontro
(espanhol ou inglês), com uma dimensão compreendida entre 5 e 10 linhas. O tipo de letra a utilizar
será “Times New Roman”, tamanho 11, espaçamento simples.
Introdução
Nossa sociedade é chamada ‘sociedade sem memória’, porque parece que nela ninguém se
lembra de nada, devido às muitas atividades que cada pessoa desenvolve, há pouco ou nenhum tempo
para o registro das suas experiências e histórias de vida. Com relação à fluidez, um dos principais
conceitos do sociólogo polonês Zigmunt Bauman, ele coloca que tudo muda muito rápido, nada é feito
para durar, para ser ‘sólido’ pois o movimento constante coloca em cena a instabilidade dos
relacionamentos interpessoais e familiares. Para ele, nesse mundo ‘líquido’ tanto a solidez das coisas
quanto a das relações humanas são interpretadas como ameaças: juramentos de fidelidade,
compromissos de longo prazo são fardos que prenunciam um futuro sobrecarregado, cuja liberdade é
limitada e ocorre a incapacidade de ‘pegar no vôo, as novas e ainda desconhecidas oportunidades
(BAUMAN, 2011, p. 112). Há um descompasso entre as gerações de ‘jovens’ e ‘velhos’ marcado
pelas mudanças profundas, aceleradas e contínuas, as sociedades ocidentais descartam objetos e
pessoas como nunca antes na história, desenvolvendo um ‘apetite’ insaciável por novidades. Mas o
sociológo, apesar de suas constatações coloca: “Desejo que os jovens percebam razoavelmente cedo
que há tanto significado na vida quando eles conseguem adicionar isso a ela através de esforço e
dedicação. Que a árdua tarefa de compor uma vida não pode ser reduzida a adicionar episódios
agradáveis. A vida é maior que a soma de seus momentos.” Esta afirmativa de Bauman remete à
importância da manutenção dos relacionamentos entre pessoas e grupos sociais e das narrativas da
história e da manutenção de sua memória, pois embora reconhecendo as dificuldades da vida numa
sociedade fragmentada, que estimula o individualismo e a fragilidade dos laços humanos, ele acredita
na possibilidade de mudança.
As ‘tecnologias contemporâneas’ remetem a uma constante mudança e atualização de
instrumentos e conhecimentos, que segundo Nora (2000), levam a uma necessidade constante de obter
dispositivos para armazenar dados, memória. Para Nora, devido à fluidez e rapidez da nossa
experiência cotidiana, o que está mudando é a relação que os indivíduos mantêm com o passado,
experiência que precisa ser revista, revisitada, pois são as narrativas de memória que oferecem a
possibilidade de um retorno ao passado, e com esse retorno, uma construção de identidade e vida.
Os teóricos concordam com a premissa de que tanto as narrativas de vida quanto a memória
são essenciais para a construção das identidades pessoais quanto coletivas, especialmente na sociedade
contemporânea, na qual as identidades são tão fluidas, fragmentadas, descentradas, ou “líquidas”.
(Zygmunt Bauman (2005) e Stuart Hall (2005)). Em vista disso, deve ser levada em conta a posição de
Hall quando ele coloca que “nossa identidade, tenha ela a forma que tiver, é uma história sobre nós
mesmos, ou em última análise, uma ‘narrativa do eu’” (HALL, 2000, p.12), por certo construída com a
ajuda de nossa memória, por meio da nossa história de vida. Outro autor que reforça o elo entre
narrativa e memória, de forma destacada com relação aos grupos sociais, é Jay Winter, que afirma:
“uma identidade comum é uma divisão de um grupo de narrativas sobre o passado” (2006, p.78). De
acordo com Lima (2012, p. 144) “Nos estudos realizados sobre a produção de saberes, independente
de qualquer área do conhecimento, nota-se que as narrativas orais são excelentes ferramentas para que
os grupos sociais comuniquem suas experiências”.
Fazendo um contraponto com a sociedade moderna, “tão líquida”, a Colônia de Pescadores Z3
é uma comunidade onde compartilhar a memória ainda é importante seja de forma oral, seja através de
poesias e crônicas, como faz Dona Laura, poetiza da Z3, seja nas salas de aula do colégio Raphael
Brusque, seja nas páginas do jornal comunitário “O Pescador”.
Sobre a Comunidade de Pescadores Z3
Em 1912 o Governo Federal, através da Lei 2.5441
, de 4 de janeiro coloca os pescadores sob a
tutela do estado. No artigo 73 a referida lei afirma que “Fica o governo autorizado a desenvolver a
industria da pesca, instituindo uma inspectoria superintendida pelo Ministério da Agricultura, Industria
e Commercio”. Essa política pública adotada pelo então governo de Hermes da Fonseca permite a
criação das primeiras colônias pesqueiras uma vez que a mesma lei permite
1
Diário Oficial da União - Seção 1 - 5/1/1912, Página 189 (Publicação Original), Coleção de Leis do Brasil -
1912, Página 12 Vol. 1 (Publicação Original)
Aos pescadores, individualmente, e ás emprezas ou companhias de pesca,
constituidas ou que se venham a constituir, de accôrdo com a legislação
vigente, são assegurados os seguintes favores: 1º, concessão de terrenos de
marinhas e terrenos publicos, nas costas e nas ilhas, para fundação de
estabelecimentos de pesca; 2º, direito de desapropriação, por utilidade
publica, dos terrenos necessarios á edificação de estaleiros, parques e
depositos de salga e frigoríficos. (Lei nº 2.544, de 4 de Janeiro de 1912)
Surge então em 29 de junho de 1921 a Colônia de pescadores Z3. Localizada na zona rural de
Pelotas, a Colônia de São Pedro ou Arroio Sujo como também é conhecida a Colônia de Pescadores
Z3 é banhada pela Laguna dos Patos e integra a região da Costa Doce. Sobre a localização da Colônia
de Pescadores Z3, Niederle afirma que:
Sua posição à beira da região estuarina da Lagoa dos Patos permite aos
pescadores fácil acesso às águas oceânicas. Esta região compreende cerca de
10% (971 Km²) da área total (10.360 Km²) da Lagoa e vai do canal de
acesso com o mar, até uma linha imaginária entre o Saco do Rincão e a
Ponta da Ilha da Feitoria. A única comunicação com o mar, onde ocorre a
passagem de diferentes espécies marinhas, é um canal delimitado pelos
molhes da barra de Rio Grande, possuindo apenas 4 km de comprimento e
0,5 a 3 km de largura. A situação hidrográfica de Pelotas, extremamente
favorecida pela proximidade com o oceano, Lagoa dos Patos e canal São
Gonçalo - que une a Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim -, tem reflexos
importantes sobre os aspectos físico-climáticos e sócio-econômicos. A
Lagoa dos Patos, a maior do Brasil, é o principal local de pesca. De água
doce na maior parte do ano, no verão e seu nível diminui significativamente
permitindo a invasão das águas do Oceano Atlântico. Junto com a água
salgada entram os peixes e camarões, que atualmente constituem a principal
fonte de renda dos pescadores. (NIEDERLE, 2006. p. 45)
Sobre a história da Colônia Z3 como a conhecemos hoje, Silveira (2012)2
nos diz que:
No início eram aproximadamente 40 famílias que moravam na Z3. Em 29 de
junho de 1921 era fundada a Colônia de Pescadores Z3, mais conhecida na
época como Arroio Sujo. Em 1º de setembro de 1965 as terras foram doadas
pela firma Coronel Pedro Osório. Desde aqueles tempos já enfrentavam-se
problemas. Os barcos eram movidos pela força do vento, as redes eram
confeccionadas em linha de algodão e banhadas em uma mistura com óleo
de linhaça para ficarem mais resistentes à água. As roupas eram de lã. O
camarão, que hoje em dia é muito valorizado, naquela época nem se pescava.
O deslocamento era outro problema, para chegar até o centro de Pelotas ou
se aventurava a pé, a cavalo ou então de barco até a praia do Laranjal, o que
era mais fácil. Somente em 1950 chega o primeiro ônibus e, em 1978 é
construída a estrada ligando a Z3 ao balneário dos Prazeres. (SILVEIRA,
2012, S/P)
Relatos parecidos com este podem ser encontrados na página web do “Ecomuseu da Colônia
Z3”3
e nas páginas do jornal “O Pescador”, em uma matéria de Flávia Guidotti e Elio Stolz com o
2
Disponível em http://www.pelotas.com.br. Acesso em 05 de junho de 2014.
título “Um pouco de história da Colônia Z3” veiculada na segunda edição do jornal como podemos ver
na imagem abaixo.
Figura 1 – Matéria publicada na segunda edição do jornal “O Pescador”
Fonte: Acervo da autora
Sobre as práticas sociais da Colônia Z3, Figueira (2009) nos diz que estas sempre se
organizaram e se articularam com base na atividade econômica partilhada sobre as águas da Lagoa dos
Patos, ou seja, a pesca. O autor explica que a comunidade definiu nas margens da Lagoa suas outras
atividades de trabalho, tais como: peixarias, galpões, ancoradouros, comércio tradicional artesanal de
pescados e frutos do mar... São nesses espaços, onde as redes são confeccionadas e reparadas, os
barcos recebem manutenção e o pescado é comercializado, que as pessoas passam a maior parte do
tempo quando não estão envolvidos diretamente na atividade pesqueira. Figueira (2009) explica que
[...] a atividade pesqueira na Colônia Z3 é desenvolvida como uma atividade
de subsistência caracterizada pela coletividade familiar a partir da formação
de uma espécie de microempresa chamada pelos pescadores de “parelha”,
composta por membros da mesma família e por outras pessoas que possuam
certo relacionamento com esta família (FIGUEIRA, 2009, p. 42).
Organizada a partir da cadeia produtiva da cultura da pesca, a realidade da Colônia de
Pescadores Z3 está baseada na possibilidade de boas safras. Para Figueira (2009, pág. 43) “a Colônia
de Pescadores Z3 se organiza produtiva e culturalmente a partir de um processo que envolve saída
3
A página tem como objetivo, de acordo com seus criadores, estimular as memórias, preservar os patrimônios
cultural e ecológico, e promover o desenvolvimento do turismo local. Disponível em
http://ecomuseudacoloniaz3.blogspot.com.br/2010/05/historia-da-colonia-de-pescadores-z3.html. Acesso em
09/06/2014.
para pesca, coleta de pescados, comercialização e manutenção de suprimentos e equipamentos de
trabalho”. A Colônia de Pescadores Z3 é uma comunidade que traz consigo memórias e experiências
de vida – muitas alegres, muitas sofridas – compartilhadas, muitas vezes, de forma oral nos galpões de
pesca, lugares onde as redes são confeccionadas e reparadas, os barcos recebem manutenção e o
pescado é comercializado. São nesses galpões que as pessoas passam a maior parte do tempo quando
não estão envolvidos diretamente na atividade pesqueira é nesses lugares que a memória muitas vezes
é compartilhada, auxiliando no resgate, manutenção e construção de suas histórias e memórias. Por
isso o estudo da narrativa de suas histórias de vida, de suas memórias, reveste-se de tanto valor, pois
de certa forma, consiste na constatação de que esse conhecimento não se perdeu, continua a ser
mantido pelos seus moradores, através de uma memória que não é apenas individual, mas também
coletiva.
Sobre o Jornalismo e o Jornalismo Comunitário na Z34
O Jornalismo é uma atividade profissional que consiste em transmitir informações, dados e
notícias que ocorrem no mundo inteiro. O profissional de jornalismo deve coletar informações, e a
partir delas redigir as matérias que irão ser veiculadas nos meios de comunicação. Segundo Bond
(1962, p15), a palavra jornalismo “significa, hoje, todas as formas nas quais e pelas quais as notícias e
seus comentários chegam ao público. Todos os acontecimentos mundiais, desde que interessem ao
público, e todo o pensamento, ação e ideias que esses acontecimentos estimulam, constituem o
material básico para o jornalista”. Os jornalistas enxergam os fatos de um ponto de vista diferente da
maioria das pessoas. Os jornalistas vêem os acontecimentos como “estórias” e as notícias são
construídas como “estórias”, como narrativas, que não estão isoladas de “estórias” e narrativas
passadas (TRAQUINA, 2005).
A linguagem jornalística apesar de ser cotidianamente apreciada pelos leitores não se faz
patente considerando que os leitores buscam a informação e não a forma de criação jornalística. Os
jornalistas, ao contrário, compreendem vivamente as formas de apresentar as informações e as suas
finalidades. Este distanciamento entre o conhecimento jornalístico e a memória é refletido no sentido
de possibilitar ao leitor compreender a produção de um jornal. O documento jornalístico, o jornal,
segue padrões, e, muitas vezes, os pesquisadores não se referenciam nestes, tendo em vista que o
documento é tratado como um texto “puro” não estruturado. Não se dão conta que o editor e
jornalistas dão forma ao jornal para garantir que algumas formas de transmissão sejam asseguradas.
Sobre isto se tratará a seguir.
O jornalismo, como atividade, é visível a partir do modo como os jornais são produzidos, os
gêneros jornalísticos que contêm e que são determinados por manifestações culturais de cada
sociedade. Os estudiosos da área afirmam que o jornalismo é uma construção histórica e possui
estrutura linguística própria. Marques de Melo (2003) escreveu a obra mais consistente sobre os
4
Fonte: Projeto de Extensão da UCPEL. http://www.ucpel.edu.br/portal/?secao=noticias&id=5344 Acesso 30/10/2014
gêneros jornalísticos em função das análises bibliográficas que fez ao longo do tempo sobre esse tema.
Desta forma as reportagens, notícias, entrevistas e outros gêneros de textos jornalísticos devem
contemplar questões como a autoria do texto, o assunto e o protagonismo das matérias, em que não só
representem aquele grupo social e sua identidade – mas contemplem sua história, sua construção de
mundo e da história recente, retomando em sua fala/conteúdo, acontecimentos considerados
“memoráveis”. Ao contextualizar as temáticas ocorre o movimento de constituição de memória. “O
trabalho de enquadramento da memória se alimenta do material fornecido pela história. Esse material
pode, sem dúvida, ser interpretado e combinado a um sem-número de referências associadas”
(POLLAK, 1989).
Embora existam várias abordagens acerca do tema, utilizar-se-á neste trabalho a
classificação de gêneros estudados por Marques de Melo (1994, 2003), Medina (1986), e Piza (2003),
que atendem a critérios funcionais, de acordo com as funções que os textos desempenham em relação
ao leitor, que seriam informar, explicar ou orientar. Marques de Melo propõe três categorias básicas,
nas quais se enquadram os gêneros estudados pelos vários autores, a primeira caracterizada pelo
jornalismo informativo (nota, notícia, reportagem, e entrevista); a segunda em que se enquadra o
jornalismo interpretativo (reportagem em profundidade); e por fim, aquela que contém o jornalismo
opinativo (editorial, artigo, crônica, opinião ilustrada, opinião do leitor).
O jornalismo comunitário, que é voltado para os interesses de uma determinada
comunidade, acaba por tornar-se um espaço em que seu cotidiano é expresso porque “É ele que vai
estabelecer a verdadeira comunicação entre os membros da comunidade, o debate de seus problemas e
a participação de todos nas soluções a serem dadas” (CALLADO; ESTRADA, 1985, p.08). Assim, o
texto jornalístico, com este objetivo, deve propor formas de compreender e reportar a realidade da
comunidade, com interpretações e enfoques do cotidiano, permitindo à comunidade o auto-
conhecimento. Peruzzo (2004), não só concorda com este posicionamento, como coloca que a
comunicação popular (comunitária ou alternativa) é uma comunicação voltada para as necessidades
dos movimentos sociais e das comunidades, envolvendo consciência coletiva, organização e ação
dentro de cada dinâmica, referindo-se ao particular de cada lugar. Assim, o jornalismo comunitário
pode contribuir com o desenvolvimento de relações de pertença, de relações sociais onde existe
proximidade, a qual deve estar presente no veículo comunitário.
[...] a proximidade entre as pessoas é a principal característica do meio
comunitário. As pessoas se conhecem e se reconhecem (como dizia Paulo
Freire) nos seus problemas, angústias, alegrias e ritos cotidianos. Essa
reconhecibilidade também exige uma linguagem referenciada aos costumes
do grupo social. É uma linguagem coloquial, de fácil entendimento,
reconhecível em suas gírias e modismos (CELSO apud BICUDO;
SEQUEIRA, 2007, p.08-09).
Entende-se, portanto, que o jornalismo comunitário mobiliza conteúdos de reconhecimento
e representação coletivos, cujos textos constroem e reconstroem identidades coletivas, mobilizando as
ações em torno de objetivos comuns: ao mesmo tempo em que posicionam o indivíduo em um lugar
dentro do grupo criam laços de reconhecimento e de representação deste grupo para a sociedade. “É
por meio dos significados produzidos por estas representações que damos sentido à nossa experiência
e àquilo que somos” (WOODWARD, 2000, p.17),
Em maio de 2000 a comunidade da Colônia de Pescadores Z3 recebe um veículo de
comunicação próprio chamado “O Pescador”. É um jornal comunitário, criado pela Escola de
Comunicação Social da Universidade Católica de Pelotas, que tem como objetivo veicular assuntos
ligados diretamente ao dia-a-dia da comunidade, onde podemos visualizar muitos dos tópicos
relatados acima como, por exemplo, os problemas enfrentados pela comunidade na época do defeso, a
expectativa com as safras, a luta pelo seguro desemprego, etc. Ao veicular estas informações, o jornal
comunitário vai registrando a história da comunidade e de seus habitantes e ocupando lugar como um
registro de suas memórias.
Foi em uma tarde de sábado, no mês de junho de 2000 que aconteceu a distribuição da
primeira edição do jornal “O Pescador”. Realizada pelos próprios componentes da equipe, os alunos
distribuíram o jornal de mão em mão aos moradores e puderam sentir a reação da comunidade ao
receber, pela primeira vez, um jornal que falava da sua comunidade, da sua vida e do seu cotidiano,
onde era possível se encontrar ou encontrar algum conhecido nas páginas do jornal, fosse através de
fotografias, fosse mencionado em alguma das matérias que integravam a edição do jornal.
O projeto do jornal “O Pescador” surgiu na Escola de Comunicação Social da Universidade
Católica de Pelotas – no curso de Jornalismo, por uma reivindicação dos próprios alunos, com o
objetivo de discutir e desenvolver o jornalismo comunitário, ou seja, de novas formas de ação
jornalística, a partir de um processo comunicativo horizontal, alternativo, participativo e inclusivo.
Trata-se da produção de um jornal comunitário impresso, de periodicidade mensal e distribuição
gratuita direcionado à comunidade da Colônia de Pescadores Z3, bairro periférico da cidade de
Pelotas.
A escolha da Z3 como primeira comunidade a receber o projeto, se deu com base em alguns
critérios pré-determinados. Primeiro, por ser uma comunidade afastada do centro urbano. Segundo,
por ter vida própria, sua cultura, seu jeito de ser. Então, a Z3 se encaixou perfeitamente nesses
requisitos. O projeto nasceu tendo como ideal o desenvolvimento de novas formas de comunicação,
baseado nas teorias do jornalismo comunitário, ou seja, propor um veículo alternativo e popular,
voltado para os interesses da comunidade. O principal, no entanto, é que o jornal deveria ser feito a
partir dos moradores, que sempre tiveram uma participação forte e decisiva. A ideia ao criar “O
Pescador” foi inverter o processo comunicativo5
, ou seja, um veículo que brotasse na comunidade e
5
Esse processo comunicativo refere-se aos dos Meios de Comunicação de Massa (jornais diários, rádio,
televisão e cinema), assim batizados por se dirigirem, especificamente, a leitores que se caracterizam como
fosse feito com essa comunidade, que é quem define como quer fazer o jornal e que temas o jornal
deve tratar.
Sobre a Memória Social
Maurice Halbwachs (2006), em sua análise sobre a memória coletiva reforça a força de
diferentes pontos que compõe a estrutura de nossa memória e que inserem essa memória na
coletividade à qual pertencemos. Entre esses pontos de referência estão: o patrimônio arquitetônico, as
paisagens, as datas e personagens históricas, as tradições e costumes, certas regras de interação, o
folclore e a música, e, por que não, as tradições culinárias. Ainda segundo Halbawachs a memória
aparentemente mais particular remete a um grupo. O indivíduo carrega em si a lembrança, mas está
sempre interagindo com a sociedade, seus grupos e instituições. É no contexto destas relações que
construímos as nossas lembranças. Assim, entende-se que a memória individual se constitui na
tessitura das memórias dos diferentes grupos a que pertencemos e com que nos relacionamos. Essa
memória do grupo está impregnada das memórias dos que nos cercam, de maneira que, ainda que não
estejamos juntos, o que lembramos e o nosso jeito de perceber e ver o que nos cerca se constitui a
partir desse emaranhado de experiências.
As lembranças se constituem a partir das diversas memórias oferecidas pelo grupo, a que o
autor denomina 'comunidade afetiva'. Esta memória coletiva tem assim uma importante função de
contribuir para o sentimento de pertença a um grupo que compartilha memórias. Ela garante o
sentimento de identidade do indivíduo calcado numa memória compartilhada não só no campo
histórico, do real, mas, sobretudo no campo simbólico. Essa memória atua como um cimento social
que mantém unidas as partes
A memória se modifica e se rearticula conforme a posição ocupada e as relações estabelecidas
nos diferentes grupos de atuação. Também está submetida a questões inconscientes, como o afeto, a
censura, entre outros. As memórias individuais alimentam-se da memória coletiva e histórica e
incluem elementos mais amplos do que a memória construída pelo indivíduo e seu grupo.
Jornalismo Comunitário e Memória
O jornalismo, como já foi dito, surge historicamente da necessidade de construir um
conhecimento singular sobre os acontecimentos sociais, históricos e políticos, com o objetivo de
apreender as especificidades de cada aspecto do cotidiano, onde são tomadas decisões, definidos os
papéis sociais, idéias ou crenças. Para Meditsch (1996, p. 26), ao compreender-se o jornalismo como
“uma forma social de conhecimento”, ressalta-se a relevância do seu espaço na vida dos grupos
massa, na medida em que essa massa é, segundo definição de Charles Wright, “relativamente grande,
heterogênea e anônima”. Sua característica é dirigir-se a qualquer pessoa – não importa sua origem, classe social,
fé, escolaridade, etnia – que estiver interessada nas informações que veicula. Exercem poderosa influência na
nossa cultura pois refletem, recriam e difundem o que se torna importante socialmente tanto ao nível dos
acontecimentos (processo de informação) como do imaginário (através de noticiário, novelas, seriados, etc.).
sociais. O autor coloca que, “Enquanto lugar de memória do cotidiano, o jornalismo cumpre a função
de ser referencial sobre a realidade. O jornalismo trafica, ao reconstruir o mundo, uma concepção
sobre o mundo”, (MEDITSCH, 1996, p. 31). Na perspectiva do autor, a prática jornalística como
conhecimento social acerca do dia-a-dia, propicia elementos para as reflexões sobre o passado, o
presente e o futuro. O ato de rememorar é reflexão, reconstrução, continuidade e descontinuidade em
uma experiência única:
Na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir,
repensar, com imagens e ideias de hoje, as experiências do passado (...) A
lembrança é uma imagem construída pelos materiais que estão, agora, à nossa
disposição, no conjunto de representações que povoam nossa consciência
atual (BOSI, 1995,p. 55)
Da colocação da autora entende-se que quando uma lembrança é reconhecida e reconstruída
por integrantes de um mesmo grupo ou sociedade, essa lembrança constitui-se em memória. Este
pensamento vai ao encontro do que é exposto por Halbwachs (2006, p.38) que afirma “quando as
representações de passado e presente, além dos significados, são compartilhados socialmente temos a
memória coletiva”. Esses são pontos de encontro entre a memória individual e a memória coletiva. Por
isso, o jornalismo, especialmente o comunitário que nasce das comunidades, ao gerar um
conhecimento sobre o cotidiano, traz para a comunidade uma notícia capaz de suscitar o sentido do
comum, do que deve ser socializado por despertar o interesse público, produz imagens e
representações, portanto, memórias.
Desta forma, quando se fala em memória, estamos trabalhando com pessoas, representações
sociais, tempos, espaços, significados, valores culturais, sentimentos individuais e coletivos. Essas
memórias sejam individualizadas e/ou coletivas constituem e organizam a história juntamente com as
práticas culturais de um determinado local, construindo suas identificações conforme as relações com
o(s) outro(s). Pode-se constatar isto na tabela a seguir, oriunda dos estudos já mencionados, em que
por meio da análise dos diferentes gêneros jornalísticos presentes no jornal comunitário “O Pescador”,
recortes dos perfis e depoimentos, saberes, conhecimentos e experiências são compartilhados pela e na
comunidade da Colônia de Pescadores Z3.
Tabela 1 - Material relativo à Memória no "O Pescador"
Categoria Memória
Período Material publicado no
Jornal
Gênero Jornalístico
Ano 4 – N 17 -
2003
Página 2 - “Mais um Dia”
na seção Mar de Letras.
Seção do Jornal em que os moradores contribuem com
depoimentos e textos variados. Mais um dia é uma poesia de
uma poetisa da Z3, Dona Laura, que descreve o pescador em
seu dia-a-dia, quem ele é, como é sua rotina.
Ano 4 – N 21 -
2003
Pág. 8 – Depoimento -
Olhar de Jarbas
O Depoimento relata a história da Z3 pelo olhar de Jarbas,
traz o depoimento de Jarbas Mota, que há 68 anos mora na
Colônia. Com 81 anos, relembra o tempo em que se mudou
para a comunidade e acompanhou a maior parte das mudanças
que aconteceram. Pescou durante 45 anos e se aposentou em
1976. Afirma, que hoje pescar é uma brincadeira, visto toda a
tecnologia que facilita a vida dos pescadores.
Ano 4 – N 22 -
2003
Pág. 8 – Depoimento –
Resgatando a História da Z3
– Histórias pela lembrança
de Zezé
Este Depoimento traz a História da Colônia Z3 através das
lembranças de Zezé, José Alberto Souza de Oliveira, 50 anos,
pescador, morador da colônia desde 1969. Ele fala sobre a
vida de pescador na colônia Z3 e como a colônia era pequena.
Que vivia lá, mantinha sua família só com a pesca , e resume
a vida de pescador dizendo que antes era só alegria e hoje é só
tristeza. Ela fala sobre o descaso das autoridades quanto à
poluição da lagoa, segundo o pescador isso faz com que não
ocorra pesca o ano todo e o pescadores tenham que se manter
com o seguro desemprego.
Ano 4 – N 23 -
2003
Pág. 8 – Depoimento -
“Pedrinho”
Este Depoimento traz a História da Colônia Z3 através das
lembranças de Pedro João Constantino, o Pedrinho, hoje com
74 anos.Ela fala sobre a vida da colônia desde que, aos 24
anos, se mudou de Laguna para tentar a sorte aqui. Fala do
tempo em que o peixe era salgado e vendido por arrobas para
as indústrias de Rio Grande, recorda também de um mini
cinema construído de madeira e que funcionava somente à
manivela. Pedro é casado e tem seis filhos nascido e criados
na Colônia Z3.
Ano 4 – N 24 -
2003
Pág. 8 – Depoimento -
Geraldo
Pág. 9 – Coluna - Pesando
Recordações
Este Depoimento traz a História da Colônia Z3 através das
lembranças de Geraldo Nicoleti, morador da Colônia Z-3 há
41 anos. Chegou sozinho e constituiu família de seis filhos,
todos pescadores. Segundo ele, a colônia era pouco habitada,
sem televisão, rádio, ou qualquer outro tipo de aparelho
eletrônico. A casa era cercada de mato e habitualmente se
deparava com cobras. Para ele o desenvolvimento da colônia
era previsto, afirma que a comunidade é um local ótimo para
se viver.
Esta Coluna fala sobre as recordações da Colônia Z3 ou
como era conhecida Arroio Sujo. Michel Constantino, seu
autor, morador, aluno do curso de turismo fala sobre a criação
de um lugar de memórias e diz que os moradores também
deveriam se unir para participar deste trabalho de
reconstrução do passado. A criação de uma casa de memória,
poderia se transformar num prazeroso ponto turístico e ser
visitado devolvendo o orgulho da comunidade e sendo um
passo grandioso para o desenvolvimento do turismo local.
Ano 4 – N 25 -
2003
Pág. 8 – Depoimento -
Mãe e filho
Neste Depoimento mãe e filho trazem a História da Colônia
Z3 através de suas lembranças. Joana Santos, 78 anos,
moradora da colônia há 30 diz que antigamente era mais
tranqüilo e alegre. Ela diz que memso se dando bem com os
vizinho e não tendo queixa de ninguém, não gosta da Z3. Já
seu filho, o pescador Luis Fernando Santos, 49 anos, diz que
quando chegou na Z3, não havia diversão para os rapazes da
sua idade, apenas mais tarde surgiram, os bailes no salão do
Marítimo. Salienta que a construção da Divinéia, sendo um
fato marcante e que melhorou a vida dos pescadores.
Ano 4 – N 26 -
2003
Pág. 8 – Depoimento - A
história da primeira casa
da Rua Raphael Brusque
Este Depoimento traz a História da Colônia Z3 através das
lembranças de seu Bernardi Costa e dona Leda Peres Costa,
casados há 58 anos. Ela, hoje com 73, se mudou para a Z3
com 13 anos e ele mora na comunidade desde que nasceu.
Suas histórias pessoais se fundem à história da Z3. A primeira
casa da rua Raphael Brusque foi construída por eles em um
terreno doado pelo senhor Antônio Rosa. Eles falam que
naquela época a igreja ainda não havia sido construída e dona
leda conta que os batizados eram realizados embaixo de uma
figueira. O tem-po vai passando e através dos objetos e,
principalmente, das palavras, vai-se regatando a história da
Z3.
Ano 5 – N 27 -
2004
Pág. 8 – Depoimento – A
ambulância que deu vida à
Colônia Z-3
Este Depoimento traz a história de uma ambulância mantida
pela comunidade lá pelos idos de 1975. Quem conta a história
é Adão Nunes Macedo, conhecido como o “Adão da Sandu”.
Ele foi o motorista da ambulância nos tempos em que a
comunidade pode manter o veículo, antes da estrada do
Laranjal ser asfaltada. Ele conta que havia dois modos de se
chegar à cidade, pela estrada do cotovelo ou pelo posto
branco. Em dias bons se levava cerca de 40 minutos, em dias
de chuva a viagem podia levar até 4 horas. A ambulância
guarda a história de muitas vidas, em sua maioria, mulheres
grávidas. No início da década de 80, o veículo foi entregue à
prefeitura. Sem o veículo seu Adão continuou a transportar os
doentes em carro particular.
Ano 6 – N. 30 –
2005
Pág. Contra Capa – D.
Laura
A Reportagem, traz a história de Laura Mateus, a dona Laura
e sua participação no livro Literatura Marginal, lançado na
feira do livro deste ano. A autora, que costuma escrever sobre
a história da Colônia de Pescadores, relata que a Z3 é sua
inspiração e fala também de sua participação nas páginas do
jornal.
* Os perfis do jornal comunitário foram obtidos diretamente por relatos dos moradores da Colônia de Pescadores Z3,
assim como os depoimentos.
A análise da categoria Memória, utiliza os gêneros jornalísticos presentes na tabela de
análise que se refere a esta categoria. Encontramos aqui, segundo a classificação de Marques de Melo
(2003), com maior ênfase no gênero jornalístico opinativo, em que se enquadram ‘comentário’,
‘depoimento’, entre outras. No recorte feito com relação aos exemplares do Jornal comunitário “O
Pescador” que se refere à memória, encontra-se 07 matérias que envolvem depoimentos. O primeiro,
“Olhar de Jarbas” registra o percurso da vida do personagem, sua história na comunidade e o
acompanhamento da “maior parte das mudanças que aconteceram”. O segundo, “Pela lembrança de
Zezé”, trata sobre a vida de pescador na colônia Z3 e como a colônia era pequena, das dificuldades
que são encontradas, hoje, na atividade pesqueira e no descaso das autoridades com a poluição da
Lagoa. O terceiro, traz a História da Colônia Z3 através das lembranças de Pedro João Constantino,
em que o peixe era salgado e vendido por arrobas para as indústrias de Rio Grande e em que foi
edificado um mini cinema construído de madeira, funcionando somente à manivela. O quarto é o
depoimento de Geraldo Nicoleti, vindo para a Z3 há 41 anos, quando a colônia era pouco habitada,
sem televisão, rádio, ou qualquer outro tipo de aparelho eletrônico, e a casa cercada de mato
propiciava o aparecimento de cobras. Ele constitui família e todos são pescadores. Outro depoimento
envolve mãe e filho: Joana Santos (78 anos) afirma que ‘antigamente era mais tranquilo e alegre’; seu
filho, o pescador Luis Fernando, (49 anos) diz que, antigamente, não havia diversão para os rapazes
mais jovens (mais tarde surgiram os bailes no salão Marítimo), e, também a construção da Divinéia foi
um fato marcante, melhorando a vida dos pescadores. O sexto traz a História da Colônia Z3, através
das lembranças de seu Bernardi Costa e dona Leda Peres Costa, casados há 58 anos. Seu Bernardi
conta que:
Suas histórias pessoais se fundem à história da Z3. A primeira casa da rua
Raphael Brusque foi construída por eles em um terreno doado pelo senhor
Antônio Rosa. Eles falam que, naquela época, a igreja ainda não havia sido
construída e dona leda conta que os batizados eram realizados embaixo de
uma figueira. O tempo vai passando e através dos objetos e, principalmente
das palavras, vai-se regatando a história da Z3.
O sétimo e último depoimento, de Seu Macedo, conhecido como o “Adão da Sandu”, conta
e traz a história de uma ambulância mantida pela comunidade lá pelos idos de 1975. Motorista da
ambulância, ele fala das dificuldades encontradas para chegar à cidade, o tempo de percurso e as
muitas histórias de vida. Mesmo depois que a ambulância foi entregue à prefeitura, na década de 80,
ele continuou a transportar os doentes em carro particular. Encerra a tabela a reportagem sobre Dona
Laura a escritora da Z3 em que ela relata que a Z3 é sua inspiração e fala também de sua participação
nas páginas do jornal, como forma de dividir com os moradores o seu conhecimento da história da
comunidade.
Conforme Pollak (1992), a memória é um elemento constituinte do sentimento de
identidade, tanto individual como coletivo, construído no conjunto pelas experiências e vivências do
indivíduo e de seu grupo. Pode ser submetida a transformações constantes, transmite a cultura local
herdada e é constituída por acontecimentos vividos socialmente. Nessa ótica, são três os elementos que
servem de apoio à memória: os acontecimentos vividos, as pessoas e os lugares. E, são estes os
elementos responsáveis pelo estabelecimento dos laços afetivos entre as pessoas. Para o autor, a
memória é seletiva, pois nem todos os fatos ficam registrados e os indivíduos só têm recordações dos
momentos a que dão importância e que, por alguma razão, ficaram marcados subjetivamente. É o que
se pode perceber nos relatos realizados, nos depoimentos acima. Parte das lembranças também podem
ser herdadas dos acontecimentos relacionados aos antepassados como, por exemplo, quando os
sujeitos contam as experiências vividas por seus pais e avós.
Ainda na perspectiva de Pollak (1992), os acontecimentos históricos são auxiliares na nossa
memória; não desempenham outro papel, senão as divisões do tempo assinaladas em relógio ou
determinadas pelo calendário. É o que se percebe nos conteúdos do jornal comunitário em estudo. Um
indivíduo para lembrar seu passado tem que se remeter às lembranças dos outros, que se constituem
em pontos de referência, onde estão fixados pela sociedade. Desta forma, a memória coletiva envolve
sentimentos de pertença e identidade, já que ela é sempre dependente das interações e dos grupos
sociais. Do gênero opinativo está presente a matéria jornalística conhecida como coluna, elaborada
por Constantino – aluno do curso de Turismo, apresenta as recordações da Colônia Z3 ou como era
conhecida Arroio Sujo, a ‘Pesando Recordações’. Ele relata:
a criação de um lugar de memórias e diz que os moradores também deveriam
se unir para participar deste trabalho de reconstrução do passado. A criação
de uma casa de memória poderia se transformar num prazeroso ponto
turístico e ser visitado. devolvendo o orgulho da comunidade e sendo um
passo grandioso para o desenvolvimento do turismo local.
Esta coluna traz a história da Divinéia, a casa de barcos da Z3. Aqui, Michel Constantino,
aluno do curso de Turismo, relata a história do pequeno ancoradouro-baia que tem a função de
proteger os barcos da fúria da mãe natureza.
Medina (1986), Piza (2003), Marques de Melo (1994, 2003), entre outros, que afirmam que
os textos jornalísticos têm como funções informar, explicar ou orientar os leitores, e se enquadram em
três categorias básicas; a primeira caracterizada pelo jornalismo informativo (nota, notícia,
reportagem, e entrevista); a segunda em que se enquadra o jornalismo interpretativo (reportagem em
profundidade); e, por fim, aquela que contém o jornalismo opinativo (editorial, artigo, crônica, opinião
ilustrada, opinião do leitor). As fontes iconográficas são importantes na linguagem jornalísticas, pois
na perspectiva de Kossoy (2005, p. 50), “dentre as diferentes formas de informação transmitidas pela
mídia, as imagens, em geral, se constituem num dos sustentáculos da memória”. Lima (2012) afirma
que
Quando se fala em memória, estamos trabalhando com pessoas,
representações sociais, tempos, espaços, significados, valores culturais,
sentimentos individuais e coletivos. Essas memórias sejam individualizadas
e/ou coletivas constituem e organizam a história juntamente com as práticas
culturais de um determinado local, construindo suas identificações
conforme as relações com o outro. (LIMA, 2012, p. 145)
A memória, para Le Goff (2003), é expressa de forma tanto individual quanto coletiva. Cada
sujeito revela uma subjetividade, manifestada tanto em alguma coisa representativa do passado e
quanto a partir do momento que suas lembranças e experiências são compartilhadas pelos diferentes
grupos sociais, quando a memória se torna coletiva. É então que a memória contribui para sejam
apropriados saberes estabelecidos por experiências de grupos sociais, permitindo que se forme um elo
entre memória e narrativa.
Considerações
Assim, por meio do referencial teórico estudado e observando a produção das matérias
jornalísticas pode-se inferir que a memória é uma construção social, produzida pelos homens e grupos
sociais a partir de suas relações, de seus valores e de suas experiências vividas. A história dos
indivíduos toma um novo rumo, que sofre transformações à medida que o tempo passa, em função do
que se pode dizer que a memória não é apenas um registro histórico dos fatos, mas uma combinação
de construções sociais passadas, com fatores da vida social do presente que se tornam significativos, e
portanto, está sendo permanentemente reconstruída. Tal fato pode-se constatar no relato feito pelos
pescadores e moradores da Colônia de Pescadores Z3 nas páginas do jornal comunitário, mesmo em
seus diferentes gêneros jornalísticos.
O conteúdo jornalístico produzido, em seus diferentes gêneros e categorias, analisados nas
diferentes tabelas, permite afirmar que o jornal está sim vinculado à história da comunidade,
retratando aspectos de sua identidade e as representações sociais dos grupos de pescadores e de suas
famílias, em que estão presentes elementos de sua cultura relacionados às condutas, atitudes e
conhecimentos constituindo uma construção individual e coletiva, portanto pertinente à memória
social daqueles indivíduos. “O Pescador” é um instrumento de comunicação comunitária que permite
o compartilhamento do legado histórico dos zeteresenses, valorizando as identidades, valores e raízes
culturais, discutindo os problemas sociais enfrentados e buscando facilitar as relações sociais,
tornando-se um repositório que mantém a memória viva e mais permanente na comunidade.
Referências
Livros:
BAUMAN, Zygmunt. (2011) Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
BICUDO. Francisco; SEQUEIRA, Cleofe. (2007) Jornalismo Comunitário. Importância, conceitos e
desafios contemporâneos. Revista PJ: BR Jornalismo Brasileiro. Dossiê: Comunitário e Popular.
BOND, Fraser. (1962) Introdução ao Jornalismo: Uma análise do quarto poder em todas as suas
formas. Rio de Janeiro: Agir, 1962.
BOSI, Ecleia.(1994)Memória e Sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras.
CALADO, Ana Arruda e ESTRADA, Maria Ignez Duque Estrada. (1985) Como se faz um jornal
comunitário. Editora vozes.
HALBWACHS, Maurice. (2006)A memória coletiva. São Paulo: Vértice.
HALL, Stuart. (2005)A Identidade Cultural na Pós-Modernidade . Trad. Tomaz Tadeu da Silva e
Guacira Lopes Louro. 10ª edição. Rio de Janeiro, DP&A.
LE GOFF. Jacques. (2003)História e memória. 3ª ed. Campinas: Editora UNICAMP.
MARQUES DE MELO, José. (2003) Jornalismo opinativo: gêneros opinativos no jornalismo
brasileiro.(1 ed. 1994) 3.ed. revista e ampliada. Campos do Jordão: Mantiqueira.
MEDINA, Cremilda. (1986) Entrevista o diálogo possível. São Paulo, SP: Editora Ática.
MEDITSCH, Eduardo.( 1996) O jornalismo como forma de conhecimento. Florianópolis, Editora
UFSC.
PERUZZO, Cicília M. K. (2004) Comunicação nos Movimentos Populares: a participação na
construção da cidadania. Petrópolis/RJ: Vozes.
PIZA, Daniel. (2003) Jornalismo cultural. São Paulo: Contexto.
POLLAK, Michael.(1992) Memória e Identidade Social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, Vol. 5, n.
10.
TRAQUINA, Nelson. (2005) Teorias do Jornalismo. Vol II – A tribo jornalística – uma comunidade
interpretativa transnacional. Florianópolis, SC: Insular.
WINTER, Jay. Remembering War: The Great War and Historical Memory in the 20th Century. Yale
University Press, 2006.
Capítulos de Livros:
HALL, Stuart. (2000) Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu. Identidade e diferença:
a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes.
KOSSOY, Bóris. (2005) Mídia: imagens, ideologia e memória. In: BRAGANÇA, Aníbal e
MOREIRA, Sonia Virginia (Org.) Comunicação, Acontecimento e Memória. São Paulo: Intercom.
LIMA LOPES, Fernanda. (2012) Identidade jornalística e memória. In: RIBEIRO, Ana Paula Goulart;
FERREIRA, Lucia Maria Alves. Mídia e memória: a produção de sentidos nos meios de comunicação.
Rio de Janeiro: Mauad.
WOORWARD, Kathryn.(2000) Identidade e Diferença: uma introdução teórica e conceitual.
In: SILVA, Tomaz Tadeu (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais.
Petrópolis: Vozes.
Revistas:
NIEDERLE, Paulo André. GRISA, Catia. (2006) Uma Análise das Transformações no Universo
Social da Pesca Artesanal do Estuário da Laguna dos Patos, RS. Rev. eletrônica Mestr. Educ.
Ambient. ISSN 1517-1256, v.16, janeiro junho de 2006.Acesso em março de 2012
NORA, Pierre. (2000) Entre história e memória: a problemática dos lugares. Revista Projeto História.
São Paulo, v. 10, p. 7-28. Revista do Programa de Estudos Pós-Gradudos em História e do
Departamento de História da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Dissertações:
FIGUEIRA, Michel Constantino. (2009) COLÔNIA DE PESCADORES Z3, PELOTAS – RS: da
crise na pesca à expansão do turismo com base no patrimônio cultural. Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural do Instituto de
Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas. Também disponível em
http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp/v03-01/wp-content/uploads/2012/05/FIGUEIRA._Michel.
dissertacao_2009.pdf Acesso em fevereiro de 2012.
Artigos:
SILVEIRA Fábio. Cantos, Recantos e encantos do mar de Dentro. (s/d) Disponível em
http://www.pelotas.com.br. Acesso em 05 de junho de 2014.

Mais conteúdo relacionado

Destaque

Marketing nas Mídias Alternativas
Marketing nas Mídias AlternativasMarketing nas Mídias Alternativas
Marketing nas Mídias AlternativasLarissa Queiroz
 
O Jornalismo nas Rádios Comunitárias
O Jornalismo nas Rádios ComunitáriasO Jornalismo nas Rádios Comunitárias
O Jornalismo nas Rádios ComunitáriasAlberto Ramos
 
Aula 3 caracteristicas do jornalismo na internet
Aula 3   caracteristicas do jornalismo na internetAula 3   caracteristicas do jornalismo na internet
Aula 3 caracteristicas do jornalismo na internetaulasdejornalismo
 
Comunicacao comunitaria mod1
Comunicacao comunitaria mod1Comunicacao comunitaria mod1
Comunicacao comunitaria mod1Joanna Alimonda
 
Tipos de Documentários
Tipos de DocumentáriosTipos de Documentários
Tipos de DocumentáriosLuciano Dias
 
APRESENTAÇÃO SOBRE RÁDIOS COMUNITÁRIAS
APRESENTAÇÃO SOBRE RÁDIOS COMUNITÁRIASAPRESENTAÇÃO SOBRE RÁDIOS COMUNITÁRIAS
APRESENTAÇÃO SOBRE RÁDIOS COMUNITÁRIASINSTITUTO VOZ POPULAR
 

Destaque (7)

Marketing nas Mídias Alternativas
Marketing nas Mídias AlternativasMarketing nas Mídias Alternativas
Marketing nas Mídias Alternativas
 
O Jornalismo nas Rádios Comunitárias
O Jornalismo nas Rádios ComunitáriasO Jornalismo nas Rádios Comunitárias
O Jornalismo nas Rádios Comunitárias
 
Aula 3 caracteristicas do jornalismo na internet
Aula 3   caracteristicas do jornalismo na internetAula 3   caracteristicas do jornalismo na internet
Aula 3 caracteristicas do jornalismo na internet
 
Comunicacao comunitaria mod1
Comunicacao comunitaria mod1Comunicacao comunitaria mod1
Comunicacao comunitaria mod1
 
Tipos de Documentários
Tipos de DocumentáriosTipos de Documentários
Tipos de Documentários
 
APRESENTAÇÃO SOBRE RÁDIOS COMUNITÁRIAS
APRESENTAÇÃO SOBRE RÁDIOS COMUNITÁRIASAPRESENTAÇÃO SOBRE RÁDIOS COMUNITÁRIAS
APRESENTAÇÃO SOBRE RÁDIOS COMUNITÁRIAS
 
Radio comunitaria
Radio comunitariaRadio comunitaria
Radio comunitaria
 

Semelhante a VI Colóquio Internacional sobre as Cidades do Prata: Jornalismo Comunitário e memória dos pescadores da Z3

Afinal o que é uma praia para a história
Afinal o que é uma praia para a históriaAfinal o que é uma praia para a história
Afinal o que é uma praia para a históriajoaosantosterrivel
 
C 9ilha 01-invejidade
C 9ilha 01-invejidadeC 9ilha 01-invejidade
C 9ilha 01-invejidademilsumav
 
Revista Blogs Edição 016/2013
Revista Blogs Edição 016/2013Revista Blogs Edição 016/2013
Revista Blogs Edição 016/2013RevistaBlogs
 
Livro: O Campo de Peixe e os Senhores do Asfalto
Livro: O Campo de Peixe e os Senhores do AsfaltoLivro: O Campo de Peixe e os Senhores do Asfalto
Livro: O Campo de Peixe e os Senhores do AsfaltoComunidade Campeche
 
O mar nao ta pra peixe. Conflitos socio-ambientais na Baixada Santista. Parte02
O mar nao ta pra peixe. Conflitos socio-ambientais na Baixada Santista. Parte02O mar nao ta pra peixe. Conflitos socio-ambientais na Baixada Santista. Parte02
O mar nao ta pra peixe. Conflitos socio-ambientais na Baixada Santista. Parte02Coletivo Alternativa Verde
 
Semana do Mar 2011 - at Edificio Transparente
Semana do Mar 2011 - at Edificio TransparenteSemana do Mar 2011 - at Edificio Transparente
Semana do Mar 2011 - at Edificio TransparenteADNG DIVING
 
Um projecto da Linha de Investigação em Assuntos Marítimos da Área Científi...
Um projecto da Linha de Investigação  em Assuntos Marítimos da Área  Científi...Um projecto da Linha de Investigação  em Assuntos Marítimos da Área  Científi...
Um projecto da Linha de Investigação em Assuntos Marítimos da Área Científi...Cláudio Carneiro
 
Livro Estudantes, universidade e o patrimônio e artístico de Ouro Preto
Livro Estudantes, universidade e o patrimônio e artístico de Ouro PretoLivro Estudantes, universidade e o patrimônio e artístico de Ouro Preto
Livro Estudantes, universidade e o patrimônio e artístico de Ouro Pretoeditoraprospectiva
 
Manual de educação ambiental vol 3
Manual de educação ambiental vol 3Manual de educação ambiental vol 3
Manual de educação ambiental vol 3Ananda Helena
 
Relação politica publica pesca tecnologia sustentatbilidade
Relação politica publica pesca tecnologia sustentatbilidadeRelação politica publica pesca tecnologia sustentatbilidade
Relação politica publica pesca tecnologia sustentatbilidadeVictor Hugo Silva
 
USP_Artigo_ luiz mauricio VII simpósio nacional de história cultural_2014
USP_Artigo_ luiz mauricio  VII simpósio nacional de história cultural_2014USP_Artigo_ luiz mauricio  VII simpósio nacional de história cultural_2014
USP_Artigo_ luiz mauricio VII simpósio nacional de história cultural_2014Luiz Maurício Abreu Arruda
 
Slides - Ciências Humajjjnas (2) (1).pptx
Slides - Ciências Humajjjnas (2) (1).pptxSlides - Ciências Humajjjnas (2) (1).pptx
Slides - Ciências Humajjjnas (2) (1).pptxgiovanamartin28
 
Aula 47 robert heilbroner - a revolução econômica
Aula 47   robert heilbroner - a revolução econômicaAula 47   robert heilbroner - a revolução econômica
Aula 47 robert heilbroner - a revolução econômicapetecoslides
 
História, Crise e Dependência do Brasil
História, Crise e Dependência do BrasilHistória, Crise e Dependência do Brasil
História, Crise e Dependência do Brasilcarlos ars
 
A VERDADEIRA FACE DO “AQÜÍFERO GUARANI”: MITOS E FATOS.
A VERDADEIRA FACE DO “AQÜÍFERO GUARANI”: MITOS E FATOS.A VERDADEIRA FACE DO “AQÜÍFERO GUARANI”: MITOS E FATOS.
A VERDADEIRA FACE DO “AQÜÍFERO GUARANI”: MITOS E FATOS.fernandameneguzzo
 
Enem república velha (2) (1)
Enem  república velha (2) (1)Enem  república velha (2) (1)
Enem república velha (2) (1)jacoanderle
 

Semelhante a VI Colóquio Internacional sobre as Cidades do Prata: Jornalismo Comunitário e memória dos pescadores da Z3 (20)

Afinal o que é uma praia para a história
Afinal o que é uma praia para a históriaAfinal o que é uma praia para a história
Afinal o que é uma praia para a história
 
C 9ilha 01-invejidade
C 9ilha 01-invejidadeC 9ilha 01-invejidade
C 9ilha 01-invejidade
 
Revista Blogs Edição 016/2013
Revista Blogs Edição 016/2013Revista Blogs Edição 016/2013
Revista Blogs Edição 016/2013
 
Livro: O Campo de Peixe e os Senhores do Asfalto
Livro: O Campo de Peixe e os Senhores do AsfaltoLivro: O Campo de Peixe e os Senhores do Asfalto
Livro: O Campo de Peixe e os Senhores do Asfalto
 
O mar nao ta pra peixe. Conflitos socio-ambientais na Baixada Santista. Parte02
O mar nao ta pra peixe. Conflitos socio-ambientais na Baixada Santista. Parte02O mar nao ta pra peixe. Conflitos socio-ambientais na Baixada Santista. Parte02
O mar nao ta pra peixe. Conflitos socio-ambientais na Baixada Santista. Parte02
 
A roda e a agroecologia
A roda e a agroecologiaA roda e a agroecologia
A roda e a agroecologia
 
Semana do Mar 2011 - at Edificio Transparente
Semana do Mar 2011 - at Edificio TransparenteSemana do Mar 2011 - at Edificio Transparente
Semana do Mar 2011 - at Edificio Transparente
 
Um projecto da Linha de Investigação em Assuntos Marítimos da Área Científi...
Um projecto da Linha de Investigação  em Assuntos Marítimos da Área  Científi...Um projecto da Linha de Investigação  em Assuntos Marítimos da Área  Científi...
Um projecto da Linha de Investigação em Assuntos Marítimos da Área Científi...
 
Carta nautica maio 2019
Carta nautica maio 2019Carta nautica maio 2019
Carta nautica maio 2019
 
Livro Estudantes, universidade e o patrimônio e artístico de Ouro Preto
Livro Estudantes, universidade e o patrimônio e artístico de Ouro PretoLivro Estudantes, universidade e o patrimônio e artístico de Ouro Preto
Livro Estudantes, universidade e o patrimônio e artístico de Ouro Preto
 
Manual de educação ambiental vol 3
Manual de educação ambiental vol 3Manual de educação ambiental vol 3
Manual de educação ambiental vol 3
 
Trabalho patrimônio
Trabalho patrimônioTrabalho patrimônio
Trabalho patrimônio
 
Relação politica publica pesca tecnologia sustentatbilidade
Relação politica publica pesca tecnologia sustentatbilidadeRelação politica publica pesca tecnologia sustentatbilidade
Relação politica publica pesca tecnologia sustentatbilidade
 
USP_Artigo_ luiz mauricio VII simpósio nacional de história cultural_2014
USP_Artigo_ luiz mauricio  VII simpósio nacional de história cultural_2014USP_Artigo_ luiz mauricio  VII simpósio nacional de história cultural_2014
USP_Artigo_ luiz mauricio VII simpósio nacional de história cultural_2014
 
Slides - Ciências Humajjjnas (2) (1).pptx
Slides - Ciências Humajjjnas (2) (1).pptxSlides - Ciências Humajjjnas (2) (1).pptx
Slides - Ciências Humajjjnas (2) (1).pptx
 
Aula 47 robert heilbroner - a revolução econômica
Aula 47   robert heilbroner - a revolução econômicaAula 47   robert heilbroner - a revolução econômica
Aula 47 robert heilbroner - a revolução econômica
 
Educação para a água
Educação para a águaEducação para a água
Educação para a água
 
História, Crise e Dependência do Brasil
História, Crise e Dependência do BrasilHistória, Crise e Dependência do Brasil
História, Crise e Dependência do Brasil
 
A VERDADEIRA FACE DO “AQÜÍFERO GUARANI”: MITOS E FATOS.
A VERDADEIRA FACE DO “AQÜÍFERO GUARANI”: MITOS E FATOS.A VERDADEIRA FACE DO “AQÜÍFERO GUARANI”: MITOS E FATOS.
A VERDADEIRA FACE DO “AQÜÍFERO GUARANI”: MITOS E FATOS.
 
Enem república velha (2) (1)
Enem  república velha (2) (1)Enem  república velha (2) (1)
Enem república velha (2) (1)
 

Mais de Margareth Michel

A Comunicação Organizacional, as redes sociais e as fan pages – o caso “Dove ...
A Comunicação Organizacional, as redes sociais e as fan pages – o caso “Dove ...A Comunicação Organizacional, as redes sociais e as fan pages – o caso “Dove ...
A Comunicação Organizacional, as redes sociais e as fan pages – o caso “Dove ...Margareth Michel
 
As mulheres no jornalismo esportivo no rio grande sul
As mulheres no jornalismo esportivo no rio grande sulAs mulheres no jornalismo esportivo no rio grande sul
As mulheres no jornalismo esportivo no rio grande sulMargareth Michel
 
A comunicação organizacional e memória institucional
A comunicação organizacional e memória institucionalA comunicação organizacional e memória institucional
A comunicação organizacional e memória institucionalMargareth Michel
 
A comunicação organizacional e memória institucional
A comunicação organizacional e memória institucionalA comunicação organizacional e memória institucional
A comunicação organizacional e memória institucionalMargareth Michel
 
Media training Marisa Rosa
 Media training Marisa Rosa Media training Marisa Rosa
Media training Marisa RosaMargareth Michel
 
A comunicação e a propaganda no âmbito da saúde coletiva r30 1233-1
A comunicação e a propaganda no âmbito da saúde coletiva r30 1233-1A comunicação e a propaganda no âmbito da saúde coletiva r30 1233-1
A comunicação e a propaganda no âmbito da saúde coletiva r30 1233-1Margareth Michel
 
O jornalismo de revista e a educação física
O jornalismo de revista e a educação física   O jornalismo de revista e a educação física
O jornalismo de revista e a educação física Margareth Michel
 
As mulheres no jornalismo esportivo no Rio Grande do Sul
As mulheres no jornalismo esportivo no Rio Grande do SulAs mulheres no jornalismo esportivo no Rio Grande do Sul
As mulheres no jornalismo esportivo no Rio Grande do SulMargareth Michel
 
A comunicação organizacional o jornalismo empresarial e a memória institucional
A comunicação organizacional o jornalismo empresarial e a memória institucionalA comunicação organizacional o jornalismo empresarial e a memória institucional
A comunicação organizacional o jornalismo empresarial e a memória institucionalMargareth Michel
 
A comunicação organizacional o jornalismo empresarial e a memória institucional
A comunicação organizacional o jornalismo empresarial e a memória institucionalA comunicação organizacional o jornalismo empresarial e a memória institucional
A comunicação organizacional o jornalismo empresarial e a memória institucionalMargareth Michel
 
A Comunicação Organizacional, as redes sociais: afetos, emoções e memória na ...
A Comunicação Organizacional, as redes sociais: afetos, emoções e memória na ...A Comunicação Organizacional, as redes sociais: afetos, emoções e memória na ...
A Comunicação Organizacional, as redes sociais: afetos, emoções e memória na ...Margareth Michel
 
A comunicação organizacional as redes sociais afetos emoções e memória
A comunicação organizacional as redes sociais   afetos emoções e memóriaA comunicação organizacional as redes sociais   afetos emoções e memória
A comunicação organizacional as redes sociais afetos emoções e memóriaMargareth Michel
 
A comunicação organizacional as redes sociais afetos e imagem
A comunicação organizacional as redes sociais afetos e imagemA comunicação organizacional as redes sociais afetos e imagem
A comunicação organizacional as redes sociais afetos e imagemMargareth Michel
 
Jornalismo e patrimônio cultural
Jornalismo e patrimônio culturalJornalismo e patrimônio cultural
Jornalismo e patrimônio culturalMargareth Michel
 

Mais de Margareth Michel (19)

Crack em pelotas
Crack em pelotasCrack em pelotas
Crack em pelotas
 
Neuroplasticidade
NeuroplasticidadeNeuroplasticidade
Neuroplasticidade
 
A Comunicação Organizacional, as redes sociais e as fan pages – o caso “Dove ...
A Comunicação Organizacional, as redes sociais e as fan pages – o caso “Dove ...A Comunicação Organizacional, as redes sociais e as fan pages – o caso “Dove ...
A Comunicação Organizacional, as redes sociais e as fan pages – o caso “Dove ...
 
Adriana rabassa
Adriana rabassaAdriana rabassa
Adriana rabassa
 
Artigo Luciana Trápaga
Artigo Luciana TrápagaArtigo Luciana Trápaga
Artigo Luciana Trápaga
 
Carolina barreto
Carolina barretoCarolina barreto
Carolina barreto
 
As mulheres no jornalismo esportivo no rio grande sul
As mulheres no jornalismo esportivo no rio grande sulAs mulheres no jornalismo esportivo no rio grande sul
As mulheres no jornalismo esportivo no rio grande sul
 
A comunicação organizacional e memória institucional
A comunicação organizacional e memória institucionalA comunicação organizacional e memória institucional
A comunicação organizacional e memória institucional
 
A comunicação organizacional e memória institucional
A comunicação organizacional e memória institucionalA comunicação organizacional e memória institucional
A comunicação organizacional e memória institucional
 
Media training Marisa Rosa
 Media training Marisa Rosa Media training Marisa Rosa
Media training Marisa Rosa
 
A comunicação e a propaganda no âmbito da saúde coletiva r30 1233-1
A comunicação e a propaganda no âmbito da saúde coletiva r30 1233-1A comunicação e a propaganda no âmbito da saúde coletiva r30 1233-1
A comunicação e a propaganda no âmbito da saúde coletiva r30 1233-1
 
O jornalismo de revista e a educação física
O jornalismo de revista e a educação física   O jornalismo de revista e a educação física
O jornalismo de revista e a educação física
 
As mulheres no jornalismo esportivo no Rio Grande do Sul
As mulheres no jornalismo esportivo no Rio Grande do SulAs mulheres no jornalismo esportivo no Rio Grande do Sul
As mulheres no jornalismo esportivo no Rio Grande do Sul
 
A comunicação organizacional o jornalismo empresarial e a memória institucional
A comunicação organizacional o jornalismo empresarial e a memória institucionalA comunicação organizacional o jornalismo empresarial e a memória institucional
A comunicação organizacional o jornalismo empresarial e a memória institucional
 
A comunicação organizacional o jornalismo empresarial e a memória institucional
A comunicação organizacional o jornalismo empresarial e a memória institucionalA comunicação organizacional o jornalismo empresarial e a memória institucional
A comunicação organizacional o jornalismo empresarial e a memória institucional
 
A Comunicação Organizacional, as redes sociais: afetos, emoções e memória na ...
A Comunicação Organizacional, as redes sociais: afetos, emoções e memória na ...A Comunicação Organizacional, as redes sociais: afetos, emoções e memória na ...
A Comunicação Organizacional, as redes sociais: afetos, emoções e memória na ...
 
A comunicação organizacional as redes sociais afetos emoções e memória
A comunicação organizacional as redes sociais   afetos emoções e memóriaA comunicação organizacional as redes sociais   afetos emoções e memória
A comunicação organizacional as redes sociais afetos emoções e memória
 
A comunicação organizacional as redes sociais afetos e imagem
A comunicação organizacional as redes sociais afetos e imagemA comunicação organizacional as redes sociais afetos e imagem
A comunicação organizacional as redes sociais afetos e imagem
 
Jornalismo e patrimônio cultural
Jornalismo e patrimônio culturalJornalismo e patrimônio cultural
Jornalismo e patrimônio cultural
 

Último

2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamentalAntônia marta Silvestre da Silva
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptMaiteFerreira4
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfFernandaMota99
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
Atividades sobre Coordenadas Geográficas
Atividades sobre Coordenadas GeográficasAtividades sobre Coordenadas Geográficas
Atividades sobre Coordenadas Geográficasprofcamilamanz
 
análise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertaçãoanálise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - DissertaçãoMaiteFerreira4
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Ilda Bicacro
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavrasMary Alvarenga
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.Mary Alvarenga
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfLeloIurk1
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.silves15
 

Último (20)

2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
Atividades sobre Coordenadas Geográficas
Atividades sobre Coordenadas GeográficasAtividades sobre Coordenadas Geográficas
Atividades sobre Coordenadas Geográficas
 
análise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertaçãoanálise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertação
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavras
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
 

VI Colóquio Internacional sobre as Cidades do Prata: Jornalismo Comunitário e memória dos pescadores da Z3

  • 1. X SEUR – VI Colóquio Internacional sobre as Cidades do Prata Jornal O Pescador – Jornalismo Comunitário e construção da Memória dos Pescadores da Colônia Z 3 Título da Comunicação Jerusa de Oliveira Michel, UFPEL, jerusa.michel@gmail.com Margareth de Oliveira Michel, UCPEL, margareth.michel@gmail.com Resumo: este artigo tem como objetivo analisar a construção da memória na Z3 - Colônia de Pescadores em Pelotas, através de um jornal Comunitário – O Pescador. O tema reveste-se de importância pelos reflexos na vida, tanto da comunidade quanto dos acadêmicos de Jornalismo. É um campo de investigação amplo, abordado por diversas correntes teóricas, e tem despertado interesse em muitas áreas das ciências sociais, permitindo aos jornalistas uma visão mais próxima da responsabilidade no exercício de suas atividades, de sua possibilidade de interação neste processo, assim como de sua valiosa contribuição neste campo social. Palavras-chave: Memória, Jornalismo Comunitário, O Pescador. Abstract Deve ser incluído um resumo no mesmo idioma do artigo e ainda em outra língua oficial do encontro (espanhol ou inglês), com uma dimensão compreendida entre 5 e 10 linhas. O tipo de letra a utilizar será “Times New Roman”, tamanho 11, espaçamento simples. Introdução Nossa sociedade é chamada ‘sociedade sem memória’, porque parece que nela ninguém se lembra de nada, devido às muitas atividades que cada pessoa desenvolve, há pouco ou nenhum tempo para o registro das suas experiências e histórias de vida. Com relação à fluidez, um dos principais conceitos do sociólogo polonês Zigmunt Bauman, ele coloca que tudo muda muito rápido, nada é feito para durar, para ser ‘sólido’ pois o movimento constante coloca em cena a instabilidade dos relacionamentos interpessoais e familiares. Para ele, nesse mundo ‘líquido’ tanto a solidez das coisas quanto a das relações humanas são interpretadas como ameaças: juramentos de fidelidade, compromissos de longo prazo são fardos que prenunciam um futuro sobrecarregado, cuja liberdade é limitada e ocorre a incapacidade de ‘pegar no vôo, as novas e ainda desconhecidas oportunidades (BAUMAN, 2011, p. 112). Há um descompasso entre as gerações de ‘jovens’ e ‘velhos’ marcado pelas mudanças profundas, aceleradas e contínuas, as sociedades ocidentais descartam objetos e pessoas como nunca antes na história, desenvolvendo um ‘apetite’ insaciável por novidades. Mas o sociológo, apesar de suas constatações coloca: “Desejo que os jovens percebam razoavelmente cedo que há tanto significado na vida quando eles conseguem adicionar isso a ela através de esforço e dedicação. Que a árdua tarefa de compor uma vida não pode ser reduzida a adicionar episódios
  • 2. agradáveis. A vida é maior que a soma de seus momentos.” Esta afirmativa de Bauman remete à importância da manutenção dos relacionamentos entre pessoas e grupos sociais e das narrativas da história e da manutenção de sua memória, pois embora reconhecendo as dificuldades da vida numa sociedade fragmentada, que estimula o individualismo e a fragilidade dos laços humanos, ele acredita na possibilidade de mudança. As ‘tecnologias contemporâneas’ remetem a uma constante mudança e atualização de instrumentos e conhecimentos, que segundo Nora (2000), levam a uma necessidade constante de obter dispositivos para armazenar dados, memória. Para Nora, devido à fluidez e rapidez da nossa experiência cotidiana, o que está mudando é a relação que os indivíduos mantêm com o passado, experiência que precisa ser revista, revisitada, pois são as narrativas de memória que oferecem a possibilidade de um retorno ao passado, e com esse retorno, uma construção de identidade e vida. Os teóricos concordam com a premissa de que tanto as narrativas de vida quanto a memória são essenciais para a construção das identidades pessoais quanto coletivas, especialmente na sociedade contemporânea, na qual as identidades são tão fluidas, fragmentadas, descentradas, ou “líquidas”. (Zygmunt Bauman (2005) e Stuart Hall (2005)). Em vista disso, deve ser levada em conta a posição de Hall quando ele coloca que “nossa identidade, tenha ela a forma que tiver, é uma história sobre nós mesmos, ou em última análise, uma ‘narrativa do eu’” (HALL, 2000, p.12), por certo construída com a ajuda de nossa memória, por meio da nossa história de vida. Outro autor que reforça o elo entre narrativa e memória, de forma destacada com relação aos grupos sociais, é Jay Winter, que afirma: “uma identidade comum é uma divisão de um grupo de narrativas sobre o passado” (2006, p.78). De acordo com Lima (2012, p. 144) “Nos estudos realizados sobre a produção de saberes, independente de qualquer área do conhecimento, nota-se que as narrativas orais são excelentes ferramentas para que os grupos sociais comuniquem suas experiências”. Fazendo um contraponto com a sociedade moderna, “tão líquida”, a Colônia de Pescadores Z3 é uma comunidade onde compartilhar a memória ainda é importante seja de forma oral, seja através de poesias e crônicas, como faz Dona Laura, poetiza da Z3, seja nas salas de aula do colégio Raphael Brusque, seja nas páginas do jornal comunitário “O Pescador”. Sobre a Comunidade de Pescadores Z3 Em 1912 o Governo Federal, através da Lei 2.5441 , de 4 de janeiro coloca os pescadores sob a tutela do estado. No artigo 73 a referida lei afirma que “Fica o governo autorizado a desenvolver a industria da pesca, instituindo uma inspectoria superintendida pelo Ministério da Agricultura, Industria e Commercio”. Essa política pública adotada pelo então governo de Hermes da Fonseca permite a criação das primeiras colônias pesqueiras uma vez que a mesma lei permite 1 Diário Oficial da União - Seção 1 - 5/1/1912, Página 189 (Publicação Original), Coleção de Leis do Brasil - 1912, Página 12 Vol. 1 (Publicação Original)
  • 3. Aos pescadores, individualmente, e ás emprezas ou companhias de pesca, constituidas ou que se venham a constituir, de accôrdo com a legislação vigente, são assegurados os seguintes favores: 1º, concessão de terrenos de marinhas e terrenos publicos, nas costas e nas ilhas, para fundação de estabelecimentos de pesca; 2º, direito de desapropriação, por utilidade publica, dos terrenos necessarios á edificação de estaleiros, parques e depositos de salga e frigoríficos. (Lei nº 2.544, de 4 de Janeiro de 1912) Surge então em 29 de junho de 1921 a Colônia de pescadores Z3. Localizada na zona rural de Pelotas, a Colônia de São Pedro ou Arroio Sujo como também é conhecida a Colônia de Pescadores Z3 é banhada pela Laguna dos Patos e integra a região da Costa Doce. Sobre a localização da Colônia de Pescadores Z3, Niederle afirma que: Sua posição à beira da região estuarina da Lagoa dos Patos permite aos pescadores fácil acesso às águas oceânicas. Esta região compreende cerca de 10% (971 Km²) da área total (10.360 Km²) da Lagoa e vai do canal de acesso com o mar, até uma linha imaginária entre o Saco do Rincão e a Ponta da Ilha da Feitoria. A única comunicação com o mar, onde ocorre a passagem de diferentes espécies marinhas, é um canal delimitado pelos molhes da barra de Rio Grande, possuindo apenas 4 km de comprimento e 0,5 a 3 km de largura. A situação hidrográfica de Pelotas, extremamente favorecida pela proximidade com o oceano, Lagoa dos Patos e canal São Gonçalo - que une a Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim -, tem reflexos importantes sobre os aspectos físico-climáticos e sócio-econômicos. A Lagoa dos Patos, a maior do Brasil, é o principal local de pesca. De água doce na maior parte do ano, no verão e seu nível diminui significativamente permitindo a invasão das águas do Oceano Atlântico. Junto com a água salgada entram os peixes e camarões, que atualmente constituem a principal fonte de renda dos pescadores. (NIEDERLE, 2006. p. 45) Sobre a história da Colônia Z3 como a conhecemos hoje, Silveira (2012)2 nos diz que: No início eram aproximadamente 40 famílias que moravam na Z3. Em 29 de junho de 1921 era fundada a Colônia de Pescadores Z3, mais conhecida na época como Arroio Sujo. Em 1º de setembro de 1965 as terras foram doadas pela firma Coronel Pedro Osório. Desde aqueles tempos já enfrentavam-se problemas. Os barcos eram movidos pela força do vento, as redes eram confeccionadas em linha de algodão e banhadas em uma mistura com óleo de linhaça para ficarem mais resistentes à água. As roupas eram de lã. O camarão, que hoje em dia é muito valorizado, naquela época nem se pescava. O deslocamento era outro problema, para chegar até o centro de Pelotas ou se aventurava a pé, a cavalo ou então de barco até a praia do Laranjal, o que era mais fácil. Somente em 1950 chega o primeiro ônibus e, em 1978 é construída a estrada ligando a Z3 ao balneário dos Prazeres. (SILVEIRA, 2012, S/P) Relatos parecidos com este podem ser encontrados na página web do “Ecomuseu da Colônia Z3”3 e nas páginas do jornal “O Pescador”, em uma matéria de Flávia Guidotti e Elio Stolz com o 2 Disponível em http://www.pelotas.com.br. Acesso em 05 de junho de 2014.
  • 4. título “Um pouco de história da Colônia Z3” veiculada na segunda edição do jornal como podemos ver na imagem abaixo. Figura 1 – Matéria publicada na segunda edição do jornal “O Pescador” Fonte: Acervo da autora Sobre as práticas sociais da Colônia Z3, Figueira (2009) nos diz que estas sempre se organizaram e se articularam com base na atividade econômica partilhada sobre as águas da Lagoa dos Patos, ou seja, a pesca. O autor explica que a comunidade definiu nas margens da Lagoa suas outras atividades de trabalho, tais como: peixarias, galpões, ancoradouros, comércio tradicional artesanal de pescados e frutos do mar... São nesses espaços, onde as redes são confeccionadas e reparadas, os barcos recebem manutenção e o pescado é comercializado, que as pessoas passam a maior parte do tempo quando não estão envolvidos diretamente na atividade pesqueira. Figueira (2009) explica que [...] a atividade pesqueira na Colônia Z3 é desenvolvida como uma atividade de subsistência caracterizada pela coletividade familiar a partir da formação de uma espécie de microempresa chamada pelos pescadores de “parelha”, composta por membros da mesma família e por outras pessoas que possuam certo relacionamento com esta família (FIGUEIRA, 2009, p. 42). Organizada a partir da cadeia produtiva da cultura da pesca, a realidade da Colônia de Pescadores Z3 está baseada na possibilidade de boas safras. Para Figueira (2009, pág. 43) “a Colônia de Pescadores Z3 se organiza produtiva e culturalmente a partir de um processo que envolve saída 3 A página tem como objetivo, de acordo com seus criadores, estimular as memórias, preservar os patrimônios cultural e ecológico, e promover o desenvolvimento do turismo local. Disponível em http://ecomuseudacoloniaz3.blogspot.com.br/2010/05/historia-da-colonia-de-pescadores-z3.html. Acesso em 09/06/2014.
  • 5. para pesca, coleta de pescados, comercialização e manutenção de suprimentos e equipamentos de trabalho”. A Colônia de Pescadores Z3 é uma comunidade que traz consigo memórias e experiências de vida – muitas alegres, muitas sofridas – compartilhadas, muitas vezes, de forma oral nos galpões de pesca, lugares onde as redes são confeccionadas e reparadas, os barcos recebem manutenção e o pescado é comercializado. São nesses galpões que as pessoas passam a maior parte do tempo quando não estão envolvidos diretamente na atividade pesqueira é nesses lugares que a memória muitas vezes é compartilhada, auxiliando no resgate, manutenção e construção de suas histórias e memórias. Por isso o estudo da narrativa de suas histórias de vida, de suas memórias, reveste-se de tanto valor, pois de certa forma, consiste na constatação de que esse conhecimento não se perdeu, continua a ser mantido pelos seus moradores, através de uma memória que não é apenas individual, mas também coletiva. Sobre o Jornalismo e o Jornalismo Comunitário na Z34 O Jornalismo é uma atividade profissional que consiste em transmitir informações, dados e notícias que ocorrem no mundo inteiro. O profissional de jornalismo deve coletar informações, e a partir delas redigir as matérias que irão ser veiculadas nos meios de comunicação. Segundo Bond (1962, p15), a palavra jornalismo “significa, hoje, todas as formas nas quais e pelas quais as notícias e seus comentários chegam ao público. Todos os acontecimentos mundiais, desde que interessem ao público, e todo o pensamento, ação e ideias que esses acontecimentos estimulam, constituem o material básico para o jornalista”. Os jornalistas enxergam os fatos de um ponto de vista diferente da maioria das pessoas. Os jornalistas vêem os acontecimentos como “estórias” e as notícias são construídas como “estórias”, como narrativas, que não estão isoladas de “estórias” e narrativas passadas (TRAQUINA, 2005). A linguagem jornalística apesar de ser cotidianamente apreciada pelos leitores não se faz patente considerando que os leitores buscam a informação e não a forma de criação jornalística. Os jornalistas, ao contrário, compreendem vivamente as formas de apresentar as informações e as suas finalidades. Este distanciamento entre o conhecimento jornalístico e a memória é refletido no sentido de possibilitar ao leitor compreender a produção de um jornal. O documento jornalístico, o jornal, segue padrões, e, muitas vezes, os pesquisadores não se referenciam nestes, tendo em vista que o documento é tratado como um texto “puro” não estruturado. Não se dão conta que o editor e jornalistas dão forma ao jornal para garantir que algumas formas de transmissão sejam asseguradas. Sobre isto se tratará a seguir. O jornalismo, como atividade, é visível a partir do modo como os jornais são produzidos, os gêneros jornalísticos que contêm e que são determinados por manifestações culturais de cada sociedade. Os estudiosos da área afirmam que o jornalismo é uma construção histórica e possui estrutura linguística própria. Marques de Melo (2003) escreveu a obra mais consistente sobre os 4 Fonte: Projeto de Extensão da UCPEL. http://www.ucpel.edu.br/portal/?secao=noticias&id=5344 Acesso 30/10/2014
  • 6. gêneros jornalísticos em função das análises bibliográficas que fez ao longo do tempo sobre esse tema. Desta forma as reportagens, notícias, entrevistas e outros gêneros de textos jornalísticos devem contemplar questões como a autoria do texto, o assunto e o protagonismo das matérias, em que não só representem aquele grupo social e sua identidade – mas contemplem sua história, sua construção de mundo e da história recente, retomando em sua fala/conteúdo, acontecimentos considerados “memoráveis”. Ao contextualizar as temáticas ocorre o movimento de constituição de memória. “O trabalho de enquadramento da memória se alimenta do material fornecido pela história. Esse material pode, sem dúvida, ser interpretado e combinado a um sem-número de referências associadas” (POLLAK, 1989). Embora existam várias abordagens acerca do tema, utilizar-se-á neste trabalho a classificação de gêneros estudados por Marques de Melo (1994, 2003), Medina (1986), e Piza (2003), que atendem a critérios funcionais, de acordo com as funções que os textos desempenham em relação ao leitor, que seriam informar, explicar ou orientar. Marques de Melo propõe três categorias básicas, nas quais se enquadram os gêneros estudados pelos vários autores, a primeira caracterizada pelo jornalismo informativo (nota, notícia, reportagem, e entrevista); a segunda em que se enquadra o jornalismo interpretativo (reportagem em profundidade); e por fim, aquela que contém o jornalismo opinativo (editorial, artigo, crônica, opinião ilustrada, opinião do leitor). O jornalismo comunitário, que é voltado para os interesses de uma determinada comunidade, acaba por tornar-se um espaço em que seu cotidiano é expresso porque “É ele que vai estabelecer a verdadeira comunicação entre os membros da comunidade, o debate de seus problemas e a participação de todos nas soluções a serem dadas” (CALLADO; ESTRADA, 1985, p.08). Assim, o texto jornalístico, com este objetivo, deve propor formas de compreender e reportar a realidade da comunidade, com interpretações e enfoques do cotidiano, permitindo à comunidade o auto- conhecimento. Peruzzo (2004), não só concorda com este posicionamento, como coloca que a comunicação popular (comunitária ou alternativa) é uma comunicação voltada para as necessidades dos movimentos sociais e das comunidades, envolvendo consciência coletiva, organização e ação dentro de cada dinâmica, referindo-se ao particular de cada lugar. Assim, o jornalismo comunitário pode contribuir com o desenvolvimento de relações de pertença, de relações sociais onde existe proximidade, a qual deve estar presente no veículo comunitário. [...] a proximidade entre as pessoas é a principal característica do meio comunitário. As pessoas se conhecem e se reconhecem (como dizia Paulo Freire) nos seus problemas, angústias, alegrias e ritos cotidianos. Essa reconhecibilidade também exige uma linguagem referenciada aos costumes do grupo social. É uma linguagem coloquial, de fácil entendimento, reconhecível em suas gírias e modismos (CELSO apud BICUDO; SEQUEIRA, 2007, p.08-09).
  • 7. Entende-se, portanto, que o jornalismo comunitário mobiliza conteúdos de reconhecimento e representação coletivos, cujos textos constroem e reconstroem identidades coletivas, mobilizando as ações em torno de objetivos comuns: ao mesmo tempo em que posicionam o indivíduo em um lugar dentro do grupo criam laços de reconhecimento e de representação deste grupo para a sociedade. “É por meio dos significados produzidos por estas representações que damos sentido à nossa experiência e àquilo que somos” (WOODWARD, 2000, p.17), Em maio de 2000 a comunidade da Colônia de Pescadores Z3 recebe um veículo de comunicação próprio chamado “O Pescador”. É um jornal comunitário, criado pela Escola de Comunicação Social da Universidade Católica de Pelotas, que tem como objetivo veicular assuntos ligados diretamente ao dia-a-dia da comunidade, onde podemos visualizar muitos dos tópicos relatados acima como, por exemplo, os problemas enfrentados pela comunidade na época do defeso, a expectativa com as safras, a luta pelo seguro desemprego, etc. Ao veicular estas informações, o jornal comunitário vai registrando a história da comunidade e de seus habitantes e ocupando lugar como um registro de suas memórias. Foi em uma tarde de sábado, no mês de junho de 2000 que aconteceu a distribuição da primeira edição do jornal “O Pescador”. Realizada pelos próprios componentes da equipe, os alunos distribuíram o jornal de mão em mão aos moradores e puderam sentir a reação da comunidade ao receber, pela primeira vez, um jornal que falava da sua comunidade, da sua vida e do seu cotidiano, onde era possível se encontrar ou encontrar algum conhecido nas páginas do jornal, fosse através de fotografias, fosse mencionado em alguma das matérias que integravam a edição do jornal. O projeto do jornal “O Pescador” surgiu na Escola de Comunicação Social da Universidade Católica de Pelotas – no curso de Jornalismo, por uma reivindicação dos próprios alunos, com o objetivo de discutir e desenvolver o jornalismo comunitário, ou seja, de novas formas de ação jornalística, a partir de um processo comunicativo horizontal, alternativo, participativo e inclusivo. Trata-se da produção de um jornal comunitário impresso, de periodicidade mensal e distribuição gratuita direcionado à comunidade da Colônia de Pescadores Z3, bairro periférico da cidade de Pelotas. A escolha da Z3 como primeira comunidade a receber o projeto, se deu com base em alguns critérios pré-determinados. Primeiro, por ser uma comunidade afastada do centro urbano. Segundo, por ter vida própria, sua cultura, seu jeito de ser. Então, a Z3 se encaixou perfeitamente nesses requisitos. O projeto nasceu tendo como ideal o desenvolvimento de novas formas de comunicação, baseado nas teorias do jornalismo comunitário, ou seja, propor um veículo alternativo e popular, voltado para os interesses da comunidade. O principal, no entanto, é que o jornal deveria ser feito a partir dos moradores, que sempre tiveram uma participação forte e decisiva. A ideia ao criar “O Pescador” foi inverter o processo comunicativo5 , ou seja, um veículo que brotasse na comunidade e 5 Esse processo comunicativo refere-se aos dos Meios de Comunicação de Massa (jornais diários, rádio, televisão e cinema), assim batizados por se dirigirem, especificamente, a leitores que se caracterizam como
  • 8. fosse feito com essa comunidade, que é quem define como quer fazer o jornal e que temas o jornal deve tratar. Sobre a Memória Social Maurice Halbwachs (2006), em sua análise sobre a memória coletiva reforça a força de diferentes pontos que compõe a estrutura de nossa memória e que inserem essa memória na coletividade à qual pertencemos. Entre esses pontos de referência estão: o patrimônio arquitetônico, as paisagens, as datas e personagens históricas, as tradições e costumes, certas regras de interação, o folclore e a música, e, por que não, as tradições culinárias. Ainda segundo Halbawachs a memória aparentemente mais particular remete a um grupo. O indivíduo carrega em si a lembrança, mas está sempre interagindo com a sociedade, seus grupos e instituições. É no contexto destas relações que construímos as nossas lembranças. Assim, entende-se que a memória individual se constitui na tessitura das memórias dos diferentes grupos a que pertencemos e com que nos relacionamos. Essa memória do grupo está impregnada das memórias dos que nos cercam, de maneira que, ainda que não estejamos juntos, o que lembramos e o nosso jeito de perceber e ver o que nos cerca se constitui a partir desse emaranhado de experiências. As lembranças se constituem a partir das diversas memórias oferecidas pelo grupo, a que o autor denomina 'comunidade afetiva'. Esta memória coletiva tem assim uma importante função de contribuir para o sentimento de pertença a um grupo que compartilha memórias. Ela garante o sentimento de identidade do indivíduo calcado numa memória compartilhada não só no campo histórico, do real, mas, sobretudo no campo simbólico. Essa memória atua como um cimento social que mantém unidas as partes A memória se modifica e se rearticula conforme a posição ocupada e as relações estabelecidas nos diferentes grupos de atuação. Também está submetida a questões inconscientes, como o afeto, a censura, entre outros. As memórias individuais alimentam-se da memória coletiva e histórica e incluem elementos mais amplos do que a memória construída pelo indivíduo e seu grupo. Jornalismo Comunitário e Memória O jornalismo, como já foi dito, surge historicamente da necessidade de construir um conhecimento singular sobre os acontecimentos sociais, históricos e políticos, com o objetivo de apreender as especificidades de cada aspecto do cotidiano, onde são tomadas decisões, definidos os papéis sociais, idéias ou crenças. Para Meditsch (1996, p. 26), ao compreender-se o jornalismo como “uma forma social de conhecimento”, ressalta-se a relevância do seu espaço na vida dos grupos massa, na medida em que essa massa é, segundo definição de Charles Wright, “relativamente grande, heterogênea e anônima”. Sua característica é dirigir-se a qualquer pessoa – não importa sua origem, classe social, fé, escolaridade, etnia – que estiver interessada nas informações que veicula. Exercem poderosa influência na nossa cultura pois refletem, recriam e difundem o que se torna importante socialmente tanto ao nível dos acontecimentos (processo de informação) como do imaginário (através de noticiário, novelas, seriados, etc.).
  • 9. sociais. O autor coloca que, “Enquanto lugar de memória do cotidiano, o jornalismo cumpre a função de ser referencial sobre a realidade. O jornalismo trafica, ao reconstruir o mundo, uma concepção sobre o mundo”, (MEDITSCH, 1996, p. 31). Na perspectiva do autor, a prática jornalística como conhecimento social acerca do dia-a-dia, propicia elementos para as reflexões sobre o passado, o presente e o futuro. O ato de rememorar é reflexão, reconstrução, continuidade e descontinuidade em uma experiência única: Na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as experiências do passado (...) A lembrança é uma imagem construída pelos materiais que estão, agora, à nossa disposição, no conjunto de representações que povoam nossa consciência atual (BOSI, 1995,p. 55) Da colocação da autora entende-se que quando uma lembrança é reconhecida e reconstruída por integrantes de um mesmo grupo ou sociedade, essa lembrança constitui-se em memória. Este pensamento vai ao encontro do que é exposto por Halbwachs (2006, p.38) que afirma “quando as representações de passado e presente, além dos significados, são compartilhados socialmente temos a memória coletiva”. Esses são pontos de encontro entre a memória individual e a memória coletiva. Por isso, o jornalismo, especialmente o comunitário que nasce das comunidades, ao gerar um conhecimento sobre o cotidiano, traz para a comunidade uma notícia capaz de suscitar o sentido do comum, do que deve ser socializado por despertar o interesse público, produz imagens e representações, portanto, memórias. Desta forma, quando se fala em memória, estamos trabalhando com pessoas, representações sociais, tempos, espaços, significados, valores culturais, sentimentos individuais e coletivos. Essas memórias sejam individualizadas e/ou coletivas constituem e organizam a história juntamente com as práticas culturais de um determinado local, construindo suas identificações conforme as relações com o(s) outro(s). Pode-se constatar isto na tabela a seguir, oriunda dos estudos já mencionados, em que por meio da análise dos diferentes gêneros jornalísticos presentes no jornal comunitário “O Pescador”, recortes dos perfis e depoimentos, saberes, conhecimentos e experiências são compartilhados pela e na comunidade da Colônia de Pescadores Z3. Tabela 1 - Material relativo à Memória no "O Pescador" Categoria Memória Período Material publicado no Jornal Gênero Jornalístico Ano 4 – N 17 - 2003 Página 2 - “Mais um Dia” na seção Mar de Letras. Seção do Jornal em que os moradores contribuem com depoimentos e textos variados. Mais um dia é uma poesia de uma poetisa da Z3, Dona Laura, que descreve o pescador em seu dia-a-dia, quem ele é, como é sua rotina. Ano 4 – N 21 - 2003 Pág. 8 – Depoimento - Olhar de Jarbas O Depoimento relata a história da Z3 pelo olhar de Jarbas, traz o depoimento de Jarbas Mota, que há 68 anos mora na Colônia. Com 81 anos, relembra o tempo em que se mudou
  • 10. para a comunidade e acompanhou a maior parte das mudanças que aconteceram. Pescou durante 45 anos e se aposentou em 1976. Afirma, que hoje pescar é uma brincadeira, visto toda a tecnologia que facilita a vida dos pescadores. Ano 4 – N 22 - 2003 Pág. 8 – Depoimento – Resgatando a História da Z3 – Histórias pela lembrança de Zezé Este Depoimento traz a História da Colônia Z3 através das lembranças de Zezé, José Alberto Souza de Oliveira, 50 anos, pescador, morador da colônia desde 1969. Ele fala sobre a vida de pescador na colônia Z3 e como a colônia era pequena. Que vivia lá, mantinha sua família só com a pesca , e resume a vida de pescador dizendo que antes era só alegria e hoje é só tristeza. Ela fala sobre o descaso das autoridades quanto à poluição da lagoa, segundo o pescador isso faz com que não ocorra pesca o ano todo e o pescadores tenham que se manter com o seguro desemprego. Ano 4 – N 23 - 2003 Pág. 8 – Depoimento - “Pedrinho” Este Depoimento traz a História da Colônia Z3 através das lembranças de Pedro João Constantino, o Pedrinho, hoje com 74 anos.Ela fala sobre a vida da colônia desde que, aos 24 anos, se mudou de Laguna para tentar a sorte aqui. Fala do tempo em que o peixe era salgado e vendido por arrobas para as indústrias de Rio Grande, recorda também de um mini cinema construído de madeira e que funcionava somente à manivela. Pedro é casado e tem seis filhos nascido e criados na Colônia Z3. Ano 4 – N 24 - 2003 Pág. 8 – Depoimento - Geraldo Pág. 9 – Coluna - Pesando Recordações Este Depoimento traz a História da Colônia Z3 através das lembranças de Geraldo Nicoleti, morador da Colônia Z-3 há 41 anos. Chegou sozinho e constituiu família de seis filhos, todos pescadores. Segundo ele, a colônia era pouco habitada, sem televisão, rádio, ou qualquer outro tipo de aparelho eletrônico. A casa era cercada de mato e habitualmente se deparava com cobras. Para ele o desenvolvimento da colônia era previsto, afirma que a comunidade é um local ótimo para se viver. Esta Coluna fala sobre as recordações da Colônia Z3 ou como era conhecida Arroio Sujo. Michel Constantino, seu autor, morador, aluno do curso de turismo fala sobre a criação de um lugar de memórias e diz que os moradores também deveriam se unir para participar deste trabalho de reconstrução do passado. A criação de uma casa de memória, poderia se transformar num prazeroso ponto turístico e ser visitado devolvendo o orgulho da comunidade e sendo um passo grandioso para o desenvolvimento do turismo local. Ano 4 – N 25 - 2003 Pág. 8 – Depoimento - Mãe e filho Neste Depoimento mãe e filho trazem a História da Colônia Z3 através de suas lembranças. Joana Santos, 78 anos, moradora da colônia há 30 diz que antigamente era mais tranqüilo e alegre. Ela diz que memso se dando bem com os vizinho e não tendo queixa de ninguém, não gosta da Z3. Já seu filho, o pescador Luis Fernando Santos, 49 anos, diz que quando chegou na Z3, não havia diversão para os rapazes da sua idade, apenas mais tarde surgiram, os bailes no salão do Marítimo. Salienta que a construção da Divinéia, sendo um fato marcante e que melhorou a vida dos pescadores. Ano 4 – N 26 - 2003 Pág. 8 – Depoimento - A história da primeira casa da Rua Raphael Brusque Este Depoimento traz a História da Colônia Z3 através das lembranças de seu Bernardi Costa e dona Leda Peres Costa, casados há 58 anos. Ela, hoje com 73, se mudou para a Z3 com 13 anos e ele mora na comunidade desde que nasceu. Suas histórias pessoais se fundem à história da Z3. A primeira casa da rua Raphael Brusque foi construída por eles em um terreno doado pelo senhor Antônio Rosa. Eles falam que naquela época a igreja ainda não havia sido construída e dona
  • 11. leda conta que os batizados eram realizados embaixo de uma figueira. O tem-po vai passando e através dos objetos e, principalmente, das palavras, vai-se regatando a história da Z3. Ano 5 – N 27 - 2004 Pág. 8 – Depoimento – A ambulância que deu vida à Colônia Z-3 Este Depoimento traz a história de uma ambulância mantida pela comunidade lá pelos idos de 1975. Quem conta a história é Adão Nunes Macedo, conhecido como o “Adão da Sandu”. Ele foi o motorista da ambulância nos tempos em que a comunidade pode manter o veículo, antes da estrada do Laranjal ser asfaltada. Ele conta que havia dois modos de se chegar à cidade, pela estrada do cotovelo ou pelo posto branco. Em dias bons se levava cerca de 40 minutos, em dias de chuva a viagem podia levar até 4 horas. A ambulância guarda a história de muitas vidas, em sua maioria, mulheres grávidas. No início da década de 80, o veículo foi entregue à prefeitura. Sem o veículo seu Adão continuou a transportar os doentes em carro particular. Ano 6 – N. 30 – 2005 Pág. Contra Capa – D. Laura A Reportagem, traz a história de Laura Mateus, a dona Laura e sua participação no livro Literatura Marginal, lançado na feira do livro deste ano. A autora, que costuma escrever sobre a história da Colônia de Pescadores, relata que a Z3 é sua inspiração e fala também de sua participação nas páginas do jornal. * Os perfis do jornal comunitário foram obtidos diretamente por relatos dos moradores da Colônia de Pescadores Z3, assim como os depoimentos. A análise da categoria Memória, utiliza os gêneros jornalísticos presentes na tabela de análise que se refere a esta categoria. Encontramos aqui, segundo a classificação de Marques de Melo (2003), com maior ênfase no gênero jornalístico opinativo, em que se enquadram ‘comentário’, ‘depoimento’, entre outras. No recorte feito com relação aos exemplares do Jornal comunitário “O Pescador” que se refere à memória, encontra-se 07 matérias que envolvem depoimentos. O primeiro, “Olhar de Jarbas” registra o percurso da vida do personagem, sua história na comunidade e o acompanhamento da “maior parte das mudanças que aconteceram”. O segundo, “Pela lembrança de Zezé”, trata sobre a vida de pescador na colônia Z3 e como a colônia era pequena, das dificuldades que são encontradas, hoje, na atividade pesqueira e no descaso das autoridades com a poluição da Lagoa. O terceiro, traz a História da Colônia Z3 através das lembranças de Pedro João Constantino, em que o peixe era salgado e vendido por arrobas para as indústrias de Rio Grande e em que foi edificado um mini cinema construído de madeira, funcionando somente à manivela. O quarto é o depoimento de Geraldo Nicoleti, vindo para a Z3 há 41 anos, quando a colônia era pouco habitada, sem televisão, rádio, ou qualquer outro tipo de aparelho eletrônico, e a casa cercada de mato propiciava o aparecimento de cobras. Ele constitui família e todos são pescadores. Outro depoimento envolve mãe e filho: Joana Santos (78 anos) afirma que ‘antigamente era mais tranquilo e alegre’; seu filho, o pescador Luis Fernando, (49 anos) diz que, antigamente, não havia diversão para os rapazes mais jovens (mais tarde surgiram os bailes no salão Marítimo), e, também a construção da Divinéia foi um fato marcante, melhorando a vida dos pescadores. O sexto traz a História da Colônia Z3, através das lembranças de seu Bernardi Costa e dona Leda Peres Costa, casados há 58 anos. Seu Bernardi conta que:
  • 12. Suas histórias pessoais se fundem à história da Z3. A primeira casa da rua Raphael Brusque foi construída por eles em um terreno doado pelo senhor Antônio Rosa. Eles falam que, naquela época, a igreja ainda não havia sido construída e dona leda conta que os batizados eram realizados embaixo de uma figueira. O tempo vai passando e através dos objetos e, principalmente das palavras, vai-se regatando a história da Z3. O sétimo e último depoimento, de Seu Macedo, conhecido como o “Adão da Sandu”, conta e traz a história de uma ambulância mantida pela comunidade lá pelos idos de 1975. Motorista da ambulância, ele fala das dificuldades encontradas para chegar à cidade, o tempo de percurso e as muitas histórias de vida. Mesmo depois que a ambulância foi entregue à prefeitura, na década de 80, ele continuou a transportar os doentes em carro particular. Encerra a tabela a reportagem sobre Dona Laura a escritora da Z3 em que ela relata que a Z3 é sua inspiração e fala também de sua participação nas páginas do jornal, como forma de dividir com os moradores o seu conhecimento da história da comunidade. Conforme Pollak (1992), a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletivo, construído no conjunto pelas experiências e vivências do indivíduo e de seu grupo. Pode ser submetida a transformações constantes, transmite a cultura local herdada e é constituída por acontecimentos vividos socialmente. Nessa ótica, são três os elementos que servem de apoio à memória: os acontecimentos vividos, as pessoas e os lugares. E, são estes os elementos responsáveis pelo estabelecimento dos laços afetivos entre as pessoas. Para o autor, a memória é seletiva, pois nem todos os fatos ficam registrados e os indivíduos só têm recordações dos momentos a que dão importância e que, por alguma razão, ficaram marcados subjetivamente. É o que se pode perceber nos relatos realizados, nos depoimentos acima. Parte das lembranças também podem ser herdadas dos acontecimentos relacionados aos antepassados como, por exemplo, quando os sujeitos contam as experiências vividas por seus pais e avós. Ainda na perspectiva de Pollak (1992), os acontecimentos históricos são auxiliares na nossa memória; não desempenham outro papel, senão as divisões do tempo assinaladas em relógio ou determinadas pelo calendário. É o que se percebe nos conteúdos do jornal comunitário em estudo. Um indivíduo para lembrar seu passado tem que se remeter às lembranças dos outros, que se constituem em pontos de referência, onde estão fixados pela sociedade. Desta forma, a memória coletiva envolve sentimentos de pertença e identidade, já que ela é sempre dependente das interações e dos grupos sociais. Do gênero opinativo está presente a matéria jornalística conhecida como coluna, elaborada por Constantino – aluno do curso de Turismo, apresenta as recordações da Colônia Z3 ou como era conhecida Arroio Sujo, a ‘Pesando Recordações’. Ele relata: a criação de um lugar de memórias e diz que os moradores também deveriam se unir para participar deste trabalho de reconstrução do passado. A criação de uma casa de memória poderia se transformar num prazeroso ponto
  • 13. turístico e ser visitado. devolvendo o orgulho da comunidade e sendo um passo grandioso para o desenvolvimento do turismo local. Esta coluna traz a história da Divinéia, a casa de barcos da Z3. Aqui, Michel Constantino, aluno do curso de Turismo, relata a história do pequeno ancoradouro-baia que tem a função de proteger os barcos da fúria da mãe natureza. Medina (1986), Piza (2003), Marques de Melo (1994, 2003), entre outros, que afirmam que os textos jornalísticos têm como funções informar, explicar ou orientar os leitores, e se enquadram em três categorias básicas; a primeira caracterizada pelo jornalismo informativo (nota, notícia, reportagem, e entrevista); a segunda em que se enquadra o jornalismo interpretativo (reportagem em profundidade); e, por fim, aquela que contém o jornalismo opinativo (editorial, artigo, crônica, opinião ilustrada, opinião do leitor). As fontes iconográficas são importantes na linguagem jornalísticas, pois na perspectiva de Kossoy (2005, p. 50), “dentre as diferentes formas de informação transmitidas pela mídia, as imagens, em geral, se constituem num dos sustentáculos da memória”. Lima (2012) afirma que Quando se fala em memória, estamos trabalhando com pessoas, representações sociais, tempos, espaços, significados, valores culturais, sentimentos individuais e coletivos. Essas memórias sejam individualizadas e/ou coletivas constituem e organizam a história juntamente com as práticas culturais de um determinado local, construindo suas identificações conforme as relações com o outro. (LIMA, 2012, p. 145) A memória, para Le Goff (2003), é expressa de forma tanto individual quanto coletiva. Cada sujeito revela uma subjetividade, manifestada tanto em alguma coisa representativa do passado e quanto a partir do momento que suas lembranças e experiências são compartilhadas pelos diferentes grupos sociais, quando a memória se torna coletiva. É então que a memória contribui para sejam apropriados saberes estabelecidos por experiências de grupos sociais, permitindo que se forme um elo entre memória e narrativa. Considerações Assim, por meio do referencial teórico estudado e observando a produção das matérias jornalísticas pode-se inferir que a memória é uma construção social, produzida pelos homens e grupos sociais a partir de suas relações, de seus valores e de suas experiências vividas. A história dos indivíduos toma um novo rumo, que sofre transformações à medida que o tempo passa, em função do que se pode dizer que a memória não é apenas um registro histórico dos fatos, mas uma combinação de construções sociais passadas, com fatores da vida social do presente que se tornam significativos, e portanto, está sendo permanentemente reconstruída. Tal fato pode-se constatar no relato feito pelos
  • 14. pescadores e moradores da Colônia de Pescadores Z3 nas páginas do jornal comunitário, mesmo em seus diferentes gêneros jornalísticos. O conteúdo jornalístico produzido, em seus diferentes gêneros e categorias, analisados nas diferentes tabelas, permite afirmar que o jornal está sim vinculado à história da comunidade, retratando aspectos de sua identidade e as representações sociais dos grupos de pescadores e de suas famílias, em que estão presentes elementos de sua cultura relacionados às condutas, atitudes e conhecimentos constituindo uma construção individual e coletiva, portanto pertinente à memória social daqueles indivíduos. “O Pescador” é um instrumento de comunicação comunitária que permite o compartilhamento do legado histórico dos zeteresenses, valorizando as identidades, valores e raízes culturais, discutindo os problemas sociais enfrentados e buscando facilitar as relações sociais, tornando-se um repositório que mantém a memória viva e mais permanente na comunidade. Referências Livros: BAUMAN, Zygmunt. (2011) Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. BICUDO. Francisco; SEQUEIRA, Cleofe. (2007) Jornalismo Comunitário. Importância, conceitos e desafios contemporâneos. Revista PJ: BR Jornalismo Brasileiro. Dossiê: Comunitário e Popular. BOND, Fraser. (1962) Introdução ao Jornalismo: Uma análise do quarto poder em todas as suas formas. Rio de Janeiro: Agir, 1962. BOSI, Ecleia.(1994)Memória e Sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras. CALADO, Ana Arruda e ESTRADA, Maria Ignez Duque Estrada. (1985) Como se faz um jornal comunitário. Editora vozes. HALBWACHS, Maurice. (2006)A memória coletiva. São Paulo: Vértice. HALL, Stuart. (2005)A Identidade Cultural na Pós-Modernidade . Trad. Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 10ª edição. Rio de Janeiro, DP&A. LE GOFF. Jacques. (2003)História e memória. 3ª ed. Campinas: Editora UNICAMP. MARQUES DE MELO, José. (2003) Jornalismo opinativo: gêneros opinativos no jornalismo brasileiro.(1 ed. 1994) 3.ed. revista e ampliada. Campos do Jordão: Mantiqueira. MEDINA, Cremilda. (1986) Entrevista o diálogo possível. São Paulo, SP: Editora Ática. MEDITSCH, Eduardo.( 1996) O jornalismo como forma de conhecimento. Florianópolis, Editora UFSC. PERUZZO, Cicília M. K. (2004) Comunicação nos Movimentos Populares: a participação na construção da cidadania. Petrópolis/RJ: Vozes. PIZA, Daniel. (2003) Jornalismo cultural. São Paulo: Contexto.
  • 15. POLLAK, Michael.(1992) Memória e Identidade Social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, Vol. 5, n. 10. TRAQUINA, Nelson. (2005) Teorias do Jornalismo. Vol II – A tribo jornalística – uma comunidade interpretativa transnacional. Florianópolis, SC: Insular. WINTER, Jay. Remembering War: The Great War and Historical Memory in the 20th Century. Yale University Press, 2006. Capítulos de Livros: HALL, Stuart. (2000) Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes. KOSSOY, Bóris. (2005) Mídia: imagens, ideologia e memória. In: BRAGANÇA, Aníbal e MOREIRA, Sonia Virginia (Org.) Comunicação, Acontecimento e Memória. São Paulo: Intercom. LIMA LOPES, Fernanda. (2012) Identidade jornalística e memória. In: RIBEIRO, Ana Paula Goulart; FERREIRA, Lucia Maria Alves. Mídia e memória: a produção de sentidos nos meios de comunicação. Rio de Janeiro: Mauad. WOORWARD, Kathryn.(2000) Identidade e Diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis: Vozes. Revistas: NIEDERLE, Paulo André. GRISA, Catia. (2006) Uma Análise das Transformações no Universo Social da Pesca Artesanal do Estuário da Laguna dos Patos, RS. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v.16, janeiro junho de 2006.Acesso em março de 2012 NORA, Pierre. (2000) Entre história e memória: a problemática dos lugares. Revista Projeto História. São Paulo, v. 10, p. 7-28. Revista do Programa de Estudos Pós-Gradudos em História e do Departamento de História da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Dissertações: FIGUEIRA, Michel Constantino. (2009) COLÔNIA DE PESCADORES Z3, PELOTAS – RS: da crise na pesca à expansão do turismo com base no patrimônio cultural. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas. Também disponível em http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp/v03-01/wp-content/uploads/2012/05/FIGUEIRA._Michel. dissertacao_2009.pdf Acesso em fevereiro de 2012. Artigos: SILVEIRA Fábio. Cantos, Recantos e encantos do mar de Dentro. (s/d) Disponível em http://www.pelotas.com.br. Acesso em 05 de junho de 2014.