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As aventuras olímpicas de Braguinha
istoedinheiro.com.br/noticias/negocios/20120803/aventuras-olimpicas-braguinha/108765.shtml
A televisão está ligada na suíte do nono andar do sofisticado Hotel Savoy, tradicional ponto de
encontro da nobreza em Londres. As cortinas fechadas protegem o ambiente da luz de um raro dia
ensolarado na capital inglesa. ?Com o reflexo, não consigo enxergar a tevê?, explica o hóspede. Na
tela, uma transmissão da BBC com as eliminatórias da competição olímpica de levantamento de peso.
Sentado em uma poltrona de frente para o aparelho, Antonio Carlos de Almeida Braga, o paulista mais
carioca do Brasil, exercita um dos maiores prazeres de sua vida. Para onde houver esporte, estarão
voltados os olhos desse empresário que deixou seu nome marcado na história das finanças do Brasil.
Sonho dourado: Braguinha esteve em
todas as Olimpíadas
desde 1972, em Munique. Agora, aos 86
anos, quer estar
nos Jogos do Rio de Janeiro em 2016.
Horas mais tarde, naquela segunda-feira
30 de julho, ele estava sob o sol nas
tribunas da arena do vôlei de praia,
montada na Horses Guard Parade,
torcendo pela dupla brasileira Juliana e
Larissa. Encerrado o jogo, correu para a
Earls Court, sede dos jogos de vôlei de
quadra, onde as meninas da seleção
nacional perderam para as americanas.
Braguinha, como é conhecido desde os
tempos em que dava as cartas no setor
de seguros no País, saiu de lá chateado.
?Nunca vi errarem tanto saque?, disse.
?Podíamos ter endurecido o jogo.? Essa
será a rotina de Braguinha até o
domingo 12, quando a Olimpíada de
Londres chega ao seu final. Esporte pela
tevê de manhã; ao vivo, à tarde, em pelo
menos duas competições. Ele não se
cansa. Tem sido assim há décadas.
O homem não perde uma Copa do Mundo desde 1950 e foi a todos os Jogos Olímpicos desde 1972,
em Munique. Viaja o mundo seguindo os circuitos internacionais de tênis (tem seu próprio camarote
em Roland Garros, em Paris) e de Fórmula 1, duas de suas maiores paixões. Não seria exagero dizer
que se trata do maior torcedor da história do esporte nacional. Só não se trata de uma inteira verdade
porque um simples torcedor não investe tanto dinheiro como ele na sua paixão. Braguinha sempre o
fez ? e ainda faz. Com isso, tornou-se o maior mecenas do esporte brasileiro em todos os tempos. E
mais: foi o grande responsável pela introdução do patrocínio corporativo às modalidades esportivas,
usando não apenas seus recursos, mas a influência, a capacidade de articulação e o círculo de
amizades que vai de Pelé e Bernardinho a Lázaro Brandão e Gustavo Kuerten.
Foi também amigo do tricampeão de F1, Ayrton Senna. Por isso, em Londres, como em qualquer lugar
do mundo onde se encontre, é festejado por dirigentes e atletas. Circula com uma credencial
fornecida pelo Comitê Olímpico Brasileiro, presidido por seu amigo Carlos Arthur Nuzman, com quem
divide o mérito de ter transformado o vôlei nacional em uma potência global. Mesmo com alguma
dificuldade para caminhar, em função de uma cirurgia no joelho feita no ano passado, ele mantém o
fôlego. ?Até hoje nado todo dia?, diz. ?Em todo lugar que fico tem de haver uma piscina aquecida.?
Um dos responsáveis pela consolidação do mercado nacional de seguros, ele começou comprando
pequenas companhias e reuniu-as sob o nome de Atlântica Boavista, uma das maiores do setor, nos
anos 1970.
No início da década seguinte, vendeu-a ao Bradesco, cujo conselho de administração passou a
presidir, na condição de um dos maiores acionistas individuais. Deixou o banco da Cidade de Deus em
1986 e criou o Icatu, grife dos investimentos sediada no Rio de Janeiro. Mas não esquentou a cadeira
lá. Deixou o comando nas mãos da filha Kati de Almeida Braga e foi fazer o que mais gosta: viver junto
ao esporte. Aos 86 anos, recém-completados, ele torcepara realizar um último sonho, conforme contou
nesta rara entrevista, concedida à DINHEIRO: estar na arquibancada na Olimpíada do Rio de Janeiro.
Promessa: o golfista Felipe Navarro é seu atual protegido. "Ele é um fenômeno da natureza".
Quando foi que o sr. decidiu investir seu dinheiro no patrocínio do esporte?
Tudo começou em 1980, quando fui à Olimpíada de Moscou. O Brasil foi quinto colocado no vôlei
masculino. Na saída do jogo encontrei com o Nuzman (na época presidente da Confederação
Brasileira de Voleibol) e perguntei: ?O que precisamos fazer para segurar os jogadores no Brasil?? Ele
me disse que precisávamos criar um time forte. Como não havia dinheiro no vôlei nacional, todos iriam
embora, jogar nos campeonatos da Europa, principalmente na Itália e nos Estados Unidos.
O que o sr. fez então?
Na volta ao Brasil, comecei a patrocinar o time de vôlei do Fluminense. Na camisa do clube apareceu
pela primeira vez o nome da Atlântica, que era a minha seguradora na época. Depois é que virou
Atlântica Boavista. O interessante é que na ocasião a iniciativa não foi bem-aceita pelas emissoras de
tevê. A Globo punha uma tarja preta em cima do nome do patrocinador. Eu encontrei com o Roberto
Marinho, que era um grande amigo, e disse brincando: ?Você vai ver que ainda vou fazer um time com
o nome da empresa e você vai ter que mostrar.? Foi o que fiz, tempos depois, e aí começou a sair
tudo direitinho. Nessa altura eu já tinha certeza de que daria certo, porque via como as empresas dos
Estados Unidos aproveitavam o esporte para fazer publicidade.
Quando o sr. vendeu a Atlântica Boavista para o Bradesco, o banco manteve sua filosofia de
patrocinar o esporte?
Eu vendi a empresa e passei a fazer parte do conselho de administração do Bradesco, que manteve
tudo como estava antes. Mas havia um fato curioso. O Amador Aguiar (fundador e então presidente do
banco, já falecido) era o único que torcia pelo time da Atlântica Boavista. Os outros da diretoria que
eram paulistas torciam pelos times de São Paulo, como a Pirelli.
Bernardinho: amigo desde a época da
Atlântica Boavista.
"Ele ainda faz a maior onda comigo".
Todos os times paulistas, inclusive o
da Pirelli, são posteriores ao da
Atlântica...
Sim, são posteriores. Até porque fui eu
que consegui, na época, fazer com que
o Conselho Nacional de Desportos
mudasse a lei para permitir que
empresas entrassem no esporte e
criassem seus times. Antes disso,
apenas os clubes é que podiam fazer.
Os seus concorrentes também o
seguiram e investiram em patrocínio?
Esse é outro fato curioso. A Sul América,
que era meu maior concorrente, fazia um
campeonato de tênis na Bahia. Eu
sempre adorei tênis, tenho até mesmo
um camarote em Roland Garros, para
onde vou todo ano. Quando viu que o
meu investimento estava dando certo, o Leonildo Ribeiro, que era presidente da Sul América e meu
amigo, me fez uma proposta: ?Sr. Braga, o sr. fica com todos os outros esportes, mas o tênis fica
comigo, certo?? Então fizemos uma divisão do esporte. Também a Previdência mais tarde usou o
Bernard (uma das estrelas da seleção brasileira de vôlei nos anos 1980) como garoto-propaganda
numa campanha em que distribuía prêmios para os clientes. Ele tinha aquele saque ?jornada nas
estrelas? que era algo excepcional.
Aquela geração do vôlei ajudou muito no marketing ao criar jogadas que ficaram
mundialmente famosas.
Eles deram muita visibilidade para o vôlei e para quem investia neles. Eram especiais não apenas na
quadra. Veja o Bernardinho, que hoje é o técnico mais premiado do vôlei mundial. Ele era o levantador
da Atlântica e até hoje somos amicíssimos. Ainda ontem (domingo, 29 de julho) fui assistir ao jogo do
Brasil contra a Tunísia e ele fez a maior onda comigo. É um rapaz espetacular.
O seu modelo de patrocínio era o americano?
Era uma forma abrasileirada do modelo americano. Mas eu fiz coisas até antes disso que eram
completamente malucas.
Joaquim Cruz: o medalhista olímpico
recusou presente em dinheiro.
"Dr. Braga, estou bem de vida".
Por exemplo...
Eu gostava muito do Emerson Fittipaldi
(piloto brasileiro bicampeão mundial de
Fórmula 1, nos anos 1970). Um dia
resolvi que podia ajudá-lo. Fui para São
Paulo para uma reunião no Bradesco,
em São Paulo, na segunda-feira, mas
ainda no domingo decidi procurar por
ele. Não o conhecia, mas descobri onde
era a casa dele e toquei a campainha.
Ele me atendeu e eu disse: ?Eu vim aqui
para te ajudar.? Nunca antes nenhuma
companhia de seguros havia patrocinado
qualquer coisa com corrida, que é um
esporte associado a risco. Então, no
início, eu ajudava com dinheiro, mas sem
poder aproveitar, porque preferia não
expor minha marca em corridas.
O sr. não pediu nada em troca?
Não pedi, mas fiquei procurando uma forma de obter retorno. Um dia, descobri que poderia usar a boa
imagem do Fittipaldi em um filmezinho de dois ou três minutos em que ele dizia: ?Quando eu ando na
cidade, dirijo dessa maneira. Na estrada, dirijo dessa maneira. Na corrida é dessa maneira. Uma coisa
é correr na pista. Na cidade é preciso dirigir com mais cuidado.? Acabou sendo um negócio muito
interessante e inovador. Hoje em dia, a Allianz, que é a maior seguradora da Europa e da qual fui o
único brasileiro a ser diretor, é uma das principais patrocinadoras da Fórmula 1. Só se vê Allianz nas
corridas.
Do ponto de vista do negócio, e não do seu amor pelo esporte, os investimentos valeram à
pena?
Foram a melhor coisa para tornar as marcas conhecidas. Eu, modéstia à parte, fiz algumas coisas na
minha vida de empresário. Comprei 30 companhias de seguro, ajudei a limpar o mercado brasileiro.
Naquele tempo havia cento e tantas seguradoras. O Delfim Netto, que era o ministro da Fazenda, me
chamou e disse: ?Braga, eu quero fazer nossa economia ser como a japonesa, com grupos fortes em
setores estratégicos. Então preciso diminuir o número de companhias.? E disse que cada um que
comprasse três companhias pequenas e juntasse numa só ganharia uma carta-patente para operar no
mercado. Eu, de 30, fiz dez. Teve até uma briga grande porque, nessa mesma altura, eu fiz a
sociedade com o Bradesco, para vender seguros pela rede do banco. Isso era proibido, mas também
consegui que a lei fosse mudada. Quando fomos ao Delfim falar sobre esse assunto ele fechou a
porta com a chave. E, como era brincalhão, falou: ?Eu vou dizer uma coisa para vocês, mas para
evitar que saiam correndo e não me escutem até o final, achei melhor trancar a porta.? Então ele nos
disse que iria permitir que seguradoras e bancos trabalhassem juntos.
Gustavo Kuerten: ao lado do tricampeão de Roland Garros, onde tem um camarote cativo.
Desde quando o sr. frequenta os grandes eventos esportivos?
Vou a todas as Olimpíadas, desde Munique, em 1972. Nas de inverno, só faltei duas. Nas Copas do
Mundo, fui a todas, desde 1950, sem exceção. Fiquei amicíssimo do João Havelange (ex-presidente
da Confederação Brasileira de Futebol e da Fifa), que era um dos meus vice-presidentes na
seguradora. O escritório da Fifa no Brasil, durante um tempo, funcionou num andar meu, num prédio
na rua Pio X, no Rio de Janeiro. Eu dava de graça para a Fifa. O João agora teve seus problemas,
mas sempre foi um sujeito excepcional. Ele está sendo muito criticado, mas é preciso lembrar que foi
ele que elevou o futebol à posição que ocupa hoje no mundo. Ele construiu a Fifa. No tempo dos
ingleses, aquilo era muito limitado. E a Fifa pagava tudo para os ingleses. O Stanley Rous, que veio
antes dele, tinha casa, empregados, tudo pago pela Fifa.
Como o sr. analisa esses problemas de corrupção no esporte? Não deveria haver mecanismos
mais claros de governança em grandes entidades, como a Fifa e o Comitê Olímpico
Internacional?
Eu nunca me dediquei a pensar muito sobre isso, mas não há dúvidas de que alguma coisa está
errada.
O sr. acompanha de perto a organização da Rio-2016? Com a experiência de quem foi a tantas
Olimpíadas, já foi consultado pelos organizadores?
Eles me fizeram uma série de homenagens, mas não me envolvi com nada. Quando surgiu pela
primeira vez a ideia de lançar a candidatura brasileira para sediar a Olimpíada, nem me lembro há
quanto tempo, me chamaram para ser o presidente do comitê organizador. Disse que não queria ser o
presidente, mas concordava em ajudar. Puseram o Rafael de Almeida Magalhães (ex-ministro da
Previdência, falecido em 2011), que trabalhou comigo. Fiquei algum tempo no grupo, mas saí porque
percebi que muita gente estava ali só para tirar vantagem. Logo depois encontrei um amigo meu,
riquíssimo, que estava também no comitê e comentei: ?Só nós dois é que estamos nisso como
amadores, por gostar do esporte, por querer ajudar.? Ele me disse: ?Braga, você está enganado. Eu
estou aqui porque quero fazer o trem-bala, estou aqui para ganhar dinheiro?.
Quem era ele?
Prefiro não revelar, ainda é meu amigo e gosto muito dele.
Trio de ouro: Braguinha (à esq.) com Amador Aguiar e Lázaro Brandão,
na época da fusão com o Bradesco.
De todas as Olimpíadas a que o sr. assistiu, qual o momento que julga mais emocionante?
Tive vários momentos incríveis, como o primeiro ouro do vôlei, em Barcelona, em 1992. Me lembro
também daquele rapaz que ganhou do Coe (Sebastian Coe, ex-recordista mundial dos 1.500 metros
rasos e atual presidente do Comitê Organizador das Olimpíadas de Londres), em Los Angeles, em
1984.
O Joaquim Cruz...
Exatamente. Muitas vezes, quando acabavam as provas e um brasileiro ganhava medalha, eu ia
encontrá-lo e levava US$ 5 mil, US$ 10 mil e dava para ele. Não era por nada não, apenas porque me
davam tanta alegria. Então com esse rapaz foi a mesma coisa. Depois da corrida, que foi
emocionante, com recorde olímpico, fui até ele e ofereci esse prêmio. Ele me disse: ?Dr. Braga, muito
obrigado, mas não precisa me dar nada. Eu já estou bem de vida.? Falou tudo de uma maneira muito
agradável.
Foi o único que não aceitou sua oferta?
Os outros todos aceitaram. Teve um grande atleta brasileiro, sem citar nomes, que ganhou um bronze
em Moscou, mas que muitos diziam que poderia ter sido ouro se não tivesse sido prejudicado pela
arbitragem. Eu estava no voo de volta para o Brasil, na primeira classe, e o vi lá no avião. Então o
chamei e disse que queria conversar. Falei: ?Eu vou te dar um automóvel.? Ele agradeceu muito e
voltou lá para trás. Depois de algum tempo veio até mim o técnico dele e disse: ?Dr. Braga, automóvel
ele já tem, ele quer é uma casa.? Fiquei chateado com aquilo e respondi: ?Então ele não vai ganhar
nem automóvel nem a casa.?
Ayrton Senna: era frequentador assíduo da casa de Braguinha, em Portugal.
Ou seja, antes mesmo de começar a patrocinar equipes, o sr. já atuava informalmente no apoio
ao esporte.
Isso eu sempre fiz. Por exemplo, ajudei até mesmo o Pelé, logo que ele explodiu. Aliás, quando o Pelé
fez o milésimo gol, no Maracanã, ele havia passado o dia comigo. Fui ao Delfim com ele, porque ele
tinha ganho um automóvel no Exterior, mas naquele tempo não podia trazer para cá de jeito nenhum.
Na hora, o Delfim despachou e permitiu que ele trouxesse, já que era um presente e que não se
destinava a ser vendido no Brasil.
Houve outros casos em que o sr. ficou arrependido por ter tentado ajudar um atleta?
Tive pouquíssimos arrependimentos. Um deles foi quando comecei a investir em tênis. Aquele meu
acordo com a Sul América já não valia mais, porque eles estavam começando a entrar em outros
esportes. Por isso, chamei o Paulo da Silva Costa, um amigo que sabia muito de tênis, e o Thomas
Koch (ex-tenista brasileiro de sucesso nos anos 1970) para me ajudar a organizar um torneio nos
moldes da Taça Davis, com jovens tenistas do Brasil e dos Estados Unidos. Na época, havia um
garoto do interior de São Paulo que jogava muito e que poderia ter sido um dos melhores do mundo. E
ele ganhou de todos os americanos com facilidade. Passei a apoiar esse garoto e mais alguns juvenis,
até que um dia um deles me procurou e disse que deixaria a minha equipe, porque tinha muita droga
entre eles. Então eu chamei o Paulo e disse que ia parar, porque não estava ali para patrocinar o vício
dos jovens. O pai de um dos tenistas até me procurou para saber por que eu estava deixando de
investir. Contei a verdade, inclusive que o filho dele também estava envolvido. No começo ele não
aceitou, mas depois foi até ótimo. Ele me
pediu desculpas e disse que o fato de eu
ter contado o ajudou a consertar a
situação. Acabei com a equipe, mas
também com o princípio de vício do
rapaz.
Ainda hoje o sr. apoia alguns atletas,
isoladamente?
Há uns quatro ou cinco que eu ajudo,
mas informalmente. Agora eu sou
pessoa física, então o que mais faço é
abrir portas para os atletas junto a
empresários amigos. Não posso mais
ficar a vida toda ajudando, então eu dou
aquele empurrão e depois a pessoa
administra o resto junto ao patrocinador.
Agora mesmo estou ajudando um piloto
a chegar na Fórmula 1. A própria Globo
está procurando um novo nome e tem
um rapaz excepcional, o Nicolas Costa,
que eu já apresentei para eles.
Londres, 2012: Braguinha não perde a chance de assistir ao vivo aos jogos com os atletas que
admira.
O sr. mantém ligação com o vôlei?
Não, diretamente não. Há um caso, digamos, indireto. A Isabel (ex-jogadora da seleção brasileira de
vôlei nos anos 1980) me pediu ajuda para suas filhas, Maria Clara e Carolina, que são jogadoras de
vôlei de praia. Respondi que podia dar um pouco, mas que uma coisa grande não poderia. Mas a levei
ao Xandy Negrão, que é piloto e tinha uma indústria de medicamentos (a Medley, vendida em 2009
para o grupo francês Sanofi-Aventis). Ele virou o patrocinador das duas garotas e depois do Pedro,
outro filho de Isabel e também jogador de vôlei de praia. Quando o Xandy vendeu a empresa, o
patrocínio foi cortado. Então eu falei com o Eike Batista, que nunca tinha se metido em esporte. Disse:
?Essas garotas são lindas e podem dar muito certo?. Na hora ele fez um contrato com elas. E a Isabel
tinha falado comigo, mas esquecido do Pedro. Quando ela foi falar com o Eike para agradecer,
acabou conseguindo patrocínio para o Pedro também. Tem um caso agora interessante que é o Felipe
Navarro, jogador de golfe. É um fenômeno da natureza, tem 21 anos. Esse eu estou ajudando
totalmente. Também arranjei para ele fazer um contrato com o Eike, mas até agora sou só eu. Ele vai
ser grande.
O que o sr. gostaria de ver no esporte que ainda não viu?
Um sonho é a Olimpíada, no Brasil. Se eu chegar até lá, vou realizá-lo.
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As aventuras olímpicas de Braguinha

  • 1. As aventuras olímpicas de Braguinha istoedinheiro.com.br/noticias/negocios/20120803/aventuras-olimpicas-braguinha/108765.shtml A televisão está ligada na suíte do nono andar do sofisticado Hotel Savoy, tradicional ponto de encontro da nobreza em Londres. As cortinas fechadas protegem o ambiente da luz de um raro dia ensolarado na capital inglesa. ?Com o reflexo, não consigo enxergar a tevê?, explica o hóspede. Na tela, uma transmissão da BBC com as eliminatórias da competição olímpica de levantamento de peso. Sentado em uma poltrona de frente para o aparelho, Antonio Carlos de Almeida Braga, o paulista mais carioca do Brasil, exercita um dos maiores prazeres de sua vida. Para onde houver esporte, estarão voltados os olhos desse empresário que deixou seu nome marcado na história das finanças do Brasil. Sonho dourado: Braguinha esteve em todas as Olimpíadas desde 1972, em Munique. Agora, aos 86 anos, quer estar nos Jogos do Rio de Janeiro em 2016. Horas mais tarde, naquela segunda-feira 30 de julho, ele estava sob o sol nas tribunas da arena do vôlei de praia, montada na Horses Guard Parade, torcendo pela dupla brasileira Juliana e Larissa. Encerrado o jogo, correu para a Earls Court, sede dos jogos de vôlei de quadra, onde as meninas da seleção nacional perderam para as americanas. Braguinha, como é conhecido desde os tempos em que dava as cartas no setor de seguros no País, saiu de lá chateado. ?Nunca vi errarem tanto saque?, disse. ?Podíamos ter endurecido o jogo.? Essa será a rotina de Braguinha até o domingo 12, quando a Olimpíada de Londres chega ao seu final. Esporte pela tevê de manhã; ao vivo, à tarde, em pelo menos duas competições. Ele não se cansa. Tem sido assim há décadas. O homem não perde uma Copa do Mundo desde 1950 e foi a todos os Jogos Olímpicos desde 1972, em Munique. Viaja o mundo seguindo os circuitos internacionais de tênis (tem seu próprio camarote em Roland Garros, em Paris) e de Fórmula 1, duas de suas maiores paixões. Não seria exagero dizer que se trata do maior torcedor da história do esporte nacional. Só não se trata de uma inteira verdade porque um simples torcedor não investe tanto dinheiro como ele na sua paixão. Braguinha sempre o fez ? e ainda faz. Com isso, tornou-se o maior mecenas do esporte brasileiro em todos os tempos. E mais: foi o grande responsável pela introdução do patrocínio corporativo às modalidades esportivas,
  • 2. usando não apenas seus recursos, mas a influência, a capacidade de articulação e o círculo de amizades que vai de Pelé e Bernardinho a Lázaro Brandão e Gustavo Kuerten. Foi também amigo do tricampeão de F1, Ayrton Senna. Por isso, em Londres, como em qualquer lugar do mundo onde se encontre, é festejado por dirigentes e atletas. Circula com uma credencial fornecida pelo Comitê Olímpico Brasileiro, presidido por seu amigo Carlos Arthur Nuzman, com quem divide o mérito de ter transformado o vôlei nacional em uma potência global. Mesmo com alguma dificuldade para caminhar, em função de uma cirurgia no joelho feita no ano passado, ele mantém o fôlego. ?Até hoje nado todo dia?, diz. ?Em todo lugar que fico tem de haver uma piscina aquecida.? Um dos responsáveis pela consolidação do mercado nacional de seguros, ele começou comprando pequenas companhias e reuniu-as sob o nome de Atlântica Boavista, uma das maiores do setor, nos anos 1970. No início da década seguinte, vendeu-a ao Bradesco, cujo conselho de administração passou a presidir, na condição de um dos maiores acionistas individuais. Deixou o banco da Cidade de Deus em 1986 e criou o Icatu, grife dos investimentos sediada no Rio de Janeiro. Mas não esquentou a cadeira lá. Deixou o comando nas mãos da filha Kati de Almeida Braga e foi fazer o que mais gosta: viver junto ao esporte. Aos 86 anos, recém-completados, ele torcepara realizar um último sonho, conforme contou nesta rara entrevista, concedida à DINHEIRO: estar na arquibancada na Olimpíada do Rio de Janeiro. Promessa: o golfista Felipe Navarro é seu atual protegido. "Ele é um fenômeno da natureza". Quando foi que o sr. decidiu investir seu dinheiro no patrocínio do esporte? Tudo começou em 1980, quando fui à Olimpíada de Moscou. O Brasil foi quinto colocado no vôlei masculino. Na saída do jogo encontrei com o Nuzman (na época presidente da Confederação Brasileira de Voleibol) e perguntei: ?O que precisamos fazer para segurar os jogadores no Brasil?? Ele me disse que precisávamos criar um time forte. Como não havia dinheiro no vôlei nacional, todos iriam embora, jogar nos campeonatos da Europa, principalmente na Itália e nos Estados Unidos.
  • 3. O que o sr. fez então? Na volta ao Brasil, comecei a patrocinar o time de vôlei do Fluminense. Na camisa do clube apareceu pela primeira vez o nome da Atlântica, que era a minha seguradora na época. Depois é que virou Atlântica Boavista. O interessante é que na ocasião a iniciativa não foi bem-aceita pelas emissoras de tevê. A Globo punha uma tarja preta em cima do nome do patrocinador. Eu encontrei com o Roberto Marinho, que era um grande amigo, e disse brincando: ?Você vai ver que ainda vou fazer um time com o nome da empresa e você vai ter que mostrar.? Foi o que fiz, tempos depois, e aí começou a sair tudo direitinho. Nessa altura eu já tinha certeza de que daria certo, porque via como as empresas dos Estados Unidos aproveitavam o esporte para fazer publicidade. Quando o sr. vendeu a Atlântica Boavista para o Bradesco, o banco manteve sua filosofia de patrocinar o esporte? Eu vendi a empresa e passei a fazer parte do conselho de administração do Bradesco, que manteve tudo como estava antes. Mas havia um fato curioso. O Amador Aguiar (fundador e então presidente do banco, já falecido) era o único que torcia pelo time da Atlântica Boavista. Os outros da diretoria que eram paulistas torciam pelos times de São Paulo, como a Pirelli. Bernardinho: amigo desde a época da Atlântica Boavista. "Ele ainda faz a maior onda comigo". Todos os times paulistas, inclusive o da Pirelli, são posteriores ao da Atlântica... Sim, são posteriores. Até porque fui eu que consegui, na época, fazer com que o Conselho Nacional de Desportos mudasse a lei para permitir que empresas entrassem no esporte e criassem seus times. Antes disso, apenas os clubes é que podiam fazer. Os seus concorrentes também o seguiram e investiram em patrocínio? Esse é outro fato curioso. A Sul América, que era meu maior concorrente, fazia um campeonato de tênis na Bahia. Eu sempre adorei tênis, tenho até mesmo um camarote em Roland Garros, para onde vou todo ano. Quando viu que o meu investimento estava dando certo, o Leonildo Ribeiro, que era presidente da Sul América e meu amigo, me fez uma proposta: ?Sr. Braga, o sr. fica com todos os outros esportes, mas o tênis fica comigo, certo?? Então fizemos uma divisão do esporte. Também a Previdência mais tarde usou o Bernard (uma das estrelas da seleção brasileira de vôlei nos anos 1980) como garoto-propaganda
  • 4. numa campanha em que distribuía prêmios para os clientes. Ele tinha aquele saque ?jornada nas estrelas? que era algo excepcional. Aquela geração do vôlei ajudou muito no marketing ao criar jogadas que ficaram mundialmente famosas. Eles deram muita visibilidade para o vôlei e para quem investia neles. Eram especiais não apenas na quadra. Veja o Bernardinho, que hoje é o técnico mais premiado do vôlei mundial. Ele era o levantador da Atlântica e até hoje somos amicíssimos. Ainda ontem (domingo, 29 de julho) fui assistir ao jogo do Brasil contra a Tunísia e ele fez a maior onda comigo. É um rapaz espetacular. O seu modelo de patrocínio era o americano? Era uma forma abrasileirada do modelo americano. Mas eu fiz coisas até antes disso que eram completamente malucas. Joaquim Cruz: o medalhista olímpico recusou presente em dinheiro. "Dr. Braga, estou bem de vida". Por exemplo... Eu gostava muito do Emerson Fittipaldi (piloto brasileiro bicampeão mundial de Fórmula 1, nos anos 1970). Um dia resolvi que podia ajudá-lo. Fui para São Paulo para uma reunião no Bradesco, em São Paulo, na segunda-feira, mas ainda no domingo decidi procurar por ele. Não o conhecia, mas descobri onde era a casa dele e toquei a campainha. Ele me atendeu e eu disse: ?Eu vim aqui para te ajudar.? Nunca antes nenhuma companhia de seguros havia patrocinado qualquer coisa com corrida, que é um esporte associado a risco. Então, no início, eu ajudava com dinheiro, mas sem poder aproveitar, porque preferia não expor minha marca em corridas. O sr. não pediu nada em troca? Não pedi, mas fiquei procurando uma forma de obter retorno. Um dia, descobri que poderia usar a boa imagem do Fittipaldi em um filmezinho de dois ou três minutos em que ele dizia: ?Quando eu ando na cidade, dirijo dessa maneira. Na estrada, dirijo dessa maneira. Na corrida é dessa maneira. Uma coisa é correr na pista. Na cidade é preciso dirigir com mais cuidado.? Acabou sendo um negócio muito
  • 5. interessante e inovador. Hoje em dia, a Allianz, que é a maior seguradora da Europa e da qual fui o único brasileiro a ser diretor, é uma das principais patrocinadoras da Fórmula 1. Só se vê Allianz nas corridas. Do ponto de vista do negócio, e não do seu amor pelo esporte, os investimentos valeram à pena? Foram a melhor coisa para tornar as marcas conhecidas. Eu, modéstia à parte, fiz algumas coisas na minha vida de empresário. Comprei 30 companhias de seguro, ajudei a limpar o mercado brasileiro. Naquele tempo havia cento e tantas seguradoras. O Delfim Netto, que era o ministro da Fazenda, me chamou e disse: ?Braga, eu quero fazer nossa economia ser como a japonesa, com grupos fortes em setores estratégicos. Então preciso diminuir o número de companhias.? E disse que cada um que comprasse três companhias pequenas e juntasse numa só ganharia uma carta-patente para operar no mercado. Eu, de 30, fiz dez. Teve até uma briga grande porque, nessa mesma altura, eu fiz a sociedade com o Bradesco, para vender seguros pela rede do banco. Isso era proibido, mas também consegui que a lei fosse mudada. Quando fomos ao Delfim falar sobre esse assunto ele fechou a porta com a chave. E, como era brincalhão, falou: ?Eu vou dizer uma coisa para vocês, mas para evitar que saiam correndo e não me escutem até o final, achei melhor trancar a porta.? Então ele nos disse que iria permitir que seguradoras e bancos trabalhassem juntos. Gustavo Kuerten: ao lado do tricampeão de Roland Garros, onde tem um camarote cativo. Desde quando o sr. frequenta os grandes eventos esportivos? Vou a todas as Olimpíadas, desde Munique, em 1972. Nas de inverno, só faltei duas. Nas Copas do Mundo, fui a todas, desde 1950, sem exceção. Fiquei amicíssimo do João Havelange (ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol e da Fifa), que era um dos meus vice-presidentes na seguradora. O escritório da Fifa no Brasil, durante um tempo, funcionou num andar meu, num prédio na rua Pio X, no Rio de Janeiro. Eu dava de graça para a Fifa. O João agora teve seus problemas, mas sempre foi um sujeito excepcional. Ele está sendo muito criticado, mas é preciso lembrar que foi ele que elevou o futebol à posição que ocupa hoje no mundo. Ele construiu a Fifa. No tempo dos ingleses, aquilo era muito limitado. E a Fifa pagava tudo para os ingleses. O Stanley Rous, que veio
  • 6. antes dele, tinha casa, empregados, tudo pago pela Fifa. Como o sr. analisa esses problemas de corrupção no esporte? Não deveria haver mecanismos mais claros de governança em grandes entidades, como a Fifa e o Comitê Olímpico Internacional? Eu nunca me dediquei a pensar muito sobre isso, mas não há dúvidas de que alguma coisa está errada. O sr. acompanha de perto a organização da Rio-2016? Com a experiência de quem foi a tantas Olimpíadas, já foi consultado pelos organizadores? Eles me fizeram uma série de homenagens, mas não me envolvi com nada. Quando surgiu pela primeira vez a ideia de lançar a candidatura brasileira para sediar a Olimpíada, nem me lembro há quanto tempo, me chamaram para ser o presidente do comitê organizador. Disse que não queria ser o presidente, mas concordava em ajudar. Puseram o Rafael de Almeida Magalhães (ex-ministro da Previdência, falecido em 2011), que trabalhou comigo. Fiquei algum tempo no grupo, mas saí porque percebi que muita gente estava ali só para tirar vantagem. Logo depois encontrei um amigo meu, riquíssimo, que estava também no comitê e comentei: ?Só nós dois é que estamos nisso como amadores, por gostar do esporte, por querer ajudar.? Ele me disse: ?Braga, você está enganado. Eu estou aqui porque quero fazer o trem-bala, estou aqui para ganhar dinheiro?. Quem era ele? Prefiro não revelar, ainda é meu amigo e gosto muito dele. Trio de ouro: Braguinha (à esq.) com Amador Aguiar e Lázaro Brandão, na época da fusão com o Bradesco. De todas as Olimpíadas a que o sr. assistiu, qual o momento que julga mais emocionante?
  • 7. Tive vários momentos incríveis, como o primeiro ouro do vôlei, em Barcelona, em 1992. Me lembro também daquele rapaz que ganhou do Coe (Sebastian Coe, ex-recordista mundial dos 1.500 metros rasos e atual presidente do Comitê Organizador das Olimpíadas de Londres), em Los Angeles, em 1984. O Joaquim Cruz... Exatamente. Muitas vezes, quando acabavam as provas e um brasileiro ganhava medalha, eu ia encontrá-lo e levava US$ 5 mil, US$ 10 mil e dava para ele. Não era por nada não, apenas porque me davam tanta alegria. Então com esse rapaz foi a mesma coisa. Depois da corrida, que foi emocionante, com recorde olímpico, fui até ele e ofereci esse prêmio. Ele me disse: ?Dr. Braga, muito obrigado, mas não precisa me dar nada. Eu já estou bem de vida.? Falou tudo de uma maneira muito agradável. Foi o único que não aceitou sua oferta? Os outros todos aceitaram. Teve um grande atleta brasileiro, sem citar nomes, que ganhou um bronze em Moscou, mas que muitos diziam que poderia ter sido ouro se não tivesse sido prejudicado pela arbitragem. Eu estava no voo de volta para o Brasil, na primeira classe, e o vi lá no avião. Então o chamei e disse que queria conversar. Falei: ?Eu vou te dar um automóvel.? Ele agradeceu muito e voltou lá para trás. Depois de algum tempo veio até mim o técnico dele e disse: ?Dr. Braga, automóvel ele já tem, ele quer é uma casa.? Fiquei chateado com aquilo e respondi: ?Então ele não vai ganhar nem automóvel nem a casa.? Ayrton Senna: era frequentador assíduo da casa de Braguinha, em Portugal. Ou seja, antes mesmo de começar a patrocinar equipes, o sr. já atuava informalmente no apoio ao esporte. Isso eu sempre fiz. Por exemplo, ajudei até mesmo o Pelé, logo que ele explodiu. Aliás, quando o Pelé fez o milésimo gol, no Maracanã, ele havia passado o dia comigo. Fui ao Delfim com ele, porque ele tinha ganho um automóvel no Exterior, mas naquele tempo não podia trazer para cá de jeito nenhum. Na hora, o Delfim despachou e permitiu que ele trouxesse, já que era um presente e que não se destinava a ser vendido no Brasil. Houve outros casos em que o sr. ficou arrependido por ter tentado ajudar um atleta? Tive pouquíssimos arrependimentos. Um deles foi quando comecei a investir em tênis. Aquele meu acordo com a Sul América já não valia mais, porque eles estavam começando a entrar em outros esportes. Por isso, chamei o Paulo da Silva Costa, um amigo que sabia muito de tênis, e o Thomas Koch (ex-tenista brasileiro de sucesso nos anos 1970) para me ajudar a organizar um torneio nos moldes da Taça Davis, com jovens tenistas do Brasil e dos Estados Unidos. Na época, havia um garoto do interior de São Paulo que jogava muito e que poderia ter sido um dos melhores do mundo. E ele ganhou de todos os americanos com facilidade. Passei a apoiar esse garoto e mais alguns juvenis, até que um dia um deles me procurou e disse que deixaria a minha equipe, porque tinha muita droga entre eles. Então eu chamei o Paulo e disse que ia parar, porque não estava ali para patrocinar o vício dos jovens. O pai de um dos tenistas até me procurou para saber por que eu estava deixando de
  • 8. investir. Contei a verdade, inclusive que o filho dele também estava envolvido. No começo ele não aceitou, mas depois foi até ótimo. Ele me pediu desculpas e disse que o fato de eu ter contado o ajudou a consertar a situação. Acabei com a equipe, mas também com o princípio de vício do rapaz. Ainda hoje o sr. apoia alguns atletas, isoladamente? Há uns quatro ou cinco que eu ajudo, mas informalmente. Agora eu sou pessoa física, então o que mais faço é abrir portas para os atletas junto a empresários amigos. Não posso mais ficar a vida toda ajudando, então eu dou aquele empurrão e depois a pessoa administra o resto junto ao patrocinador. Agora mesmo estou ajudando um piloto a chegar na Fórmula 1. A própria Globo está procurando um novo nome e tem um rapaz excepcional, o Nicolas Costa, que eu já apresentei para eles. Londres, 2012: Braguinha não perde a chance de assistir ao vivo aos jogos com os atletas que admira. O sr. mantém ligação com o vôlei? Não, diretamente não. Há um caso, digamos, indireto. A Isabel (ex-jogadora da seleção brasileira de vôlei nos anos 1980) me pediu ajuda para suas filhas, Maria Clara e Carolina, que são jogadoras de
  • 9. vôlei de praia. Respondi que podia dar um pouco, mas que uma coisa grande não poderia. Mas a levei ao Xandy Negrão, que é piloto e tinha uma indústria de medicamentos (a Medley, vendida em 2009 para o grupo francês Sanofi-Aventis). Ele virou o patrocinador das duas garotas e depois do Pedro, outro filho de Isabel e também jogador de vôlei de praia. Quando o Xandy vendeu a empresa, o patrocínio foi cortado. Então eu falei com o Eike Batista, que nunca tinha se metido em esporte. Disse: ?Essas garotas são lindas e podem dar muito certo?. Na hora ele fez um contrato com elas. E a Isabel tinha falado comigo, mas esquecido do Pedro. Quando ela foi falar com o Eike para agradecer, acabou conseguindo patrocínio para o Pedro também. Tem um caso agora interessante que é o Felipe Navarro, jogador de golfe. É um fenômeno da natureza, tem 21 anos. Esse eu estou ajudando totalmente. Também arranjei para ele fazer um contrato com o Eike, mas até agora sou só eu. Ele vai ser grande. O que o sr. gostaria de ver no esporte que ainda não viu? Um sonho é a Olimpíada, no Brasil. Se eu chegar até lá, vou realizá-lo. > Siga a DINHEIRO no Twitter > Curta a DINHEIRO no Facebook