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Baixar para ler offline
CAMINHOS PARA A PROFICIÊNCIA LEITORA
Suely Amaral1
Imagine duas pessoas em um corredor de supermercado, procurando um mesmo produto. Uma delas
observa atentamente as embalagens, seleciona aquela que parece mostrar o item que procura. Com o
produto na mão, a pessoa analisa com atenção cada sílaba até completar a pronúncia e formar a palavra:
“mas-sa-de-to-ma-te”. Outra pessoa, na mesma situação, percorre o corredor, dá uma olhada geral, de
relance, seleciona o produto que deseja e pronto. Entre uma pessoa e outra, o que dá conta da agilidade
para a localização e escolha do produto é a velocidade e a exatidão da leitura. Qual a diferença entre elas?
No primeiro caso, o comportamento indica que a pessoa utiliza a decodificação como estratégia principal
para alcançar a informação escrita. Certamente ao ler, ela inclui também outros indícios para identificar o
produto, como cor e tamanho das embalagens, ilustrações e logotipo da marca. Mas ainda precisa se
certificar de que está levando exatamente o que quer, que não se confundiu entre massa de tomate e molho
de tomate, por exemplo. No segundo caso, a pessoa alcança a informação escrita dentre um conjunto de
textos parecidos, de maneira precisa e sem esforço. E faz isso de maneira tão espontânea que não se dá
conta de que leu todas as embalagens antes de selecionar a que buscava. Diferentemente do leitor que
decodifica sílaba a sílaba para compor a palavra, o leitor proficiente lê globalmente cada palavra, focada na
representação ortográfica da palavra, o que permite uma leitura fluente, rápida. Se tiver necessidade de
leitura em voz alta, o leitor hábil o faz com expressão, adotando o tom adequado.
E qual o percurso para o desenvolvimento da capacidade de leitura?
A alfabetização não é resultado natural da maturação do cérebro, do desenvolvimento humano. A criança
já tem domínio da sua língua materna antes de aprender a ler, e isso significa que, além da capacidade de
reconhecer cada palavra pronunciada isoladamente, ela também é capaz de operar com as regras segundo
as quais as palavras podem ser combinadas em frases, em textos, com uma variedade de significados, em
diferentes contextos de uso.
Na linguagem falada, palavras são representações de sons e significados. O conjunto de palavras que
armazenamos ao longo de nossa experiência e que acessamos, em textos, para a comunicação oral e
escrita é denominado léxico mental.
Na língua escrita, palavras são representações de sons, significados e de uma forma ortográfica, ou seja, o
léxico mental é formado por representações fonológicas e ortográficas, acessadas pelo leitor a cada texto
lido.
Assim, saber ler significa, em primeira instância, a habilidade de decodificar com eficácia e rapidez os
signos impressos, relacionar aos contextos e construir um modelo mental do sentido do texto.
O domínio da língua falada e a vivência com a língua escrita torna possível o aprimoramento do mecanismo
de decodificação de modo que as crianças passam a utilizá-lo com maior destreza, em situações
frequentes, tanto para dar conta das tarefas da sala de aula, quanto no reconhecimento das informações
do seu espaço cotidiano: leitura de embalagens, avisos, placas, histórias literárias. Melhora o
reconhecimento de sílabas com domínio de sequências complexas, o reconhecimento de grupos silábicos
1
Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC/SP).
de maior dificuldade, como dígrafos e encontros consonantais. Ao mesmo tempo em que o procedimento
da decodificação aperfeiçoa-se, a criança começa a exercitar um modo de leitura em que a palavra é
reconhecida como uma representação ortográfica, agregada à forma sonora e ao significado, sem que seja
necessário recorrer à soletração ou à decodificação de sons e letras, para a leitura. Instala-se um modo de
leitura não mais fundado na discriminação fonética, mas no reconhecimento visual das palavras, o que
permite que a criança faça uma leitura global das palavras que conhece, o que resulta em maior velocidade
e maior fluidez.
Assim, o conhecimento muda de um processo inicial, que tem a decodificação letra por letra, sílaba a sílaba,
como procedimento predominante, para um processo focado nas palavras que vão se tornando mais e mais
familiares, de acordo com o número de vezes que são encontradas em diferentes contextos. Ao encontrar
– e decodificar – por exemplo a palavra flor, o aprendiz estará mais receptivo a palavras como florista,
floreira, florzinha, floração, e quanto maior for o número de vezes que lida com tal palavra, mais fácil se
tornará a leitura. Cada nova forma ortográfica aprendida alimenta o léxico ortográfico de tal forma que
saber decodificar com eficácia leva a criança a ser capaz de ler com maior precisão a maioria das palavras
que encontra, em diferentes contextos de leitura. Essa habilidade permite ampliar para a construção dos
vários sentidos que uma mesma palavra pode adquirir.
Ao ler, a criança recorre também ao seu conhecimento de mundo, ao seu vocabulário, ao seu conhecimento
da língua para garantir o significado do que lê. Assim, quanto mais ela lê, mais ela cria ligações estreitas
entre forma ortográfica, significado e pronúncia da palavra e, assim, vai utilizando a automatização como
procedimento dominante de leitura.
Ao longo desse processo, a criança passa a se movimentar com maior autonomia dentre os vários textos
que circulam em diferentes espaços sociais, sendo capaz de utilizar a decodificação ou a leitura global,
selecionando o mecanismo mais adequado para a situação. Ao ler palavras em que enfrenta alguma
dificuldade ortográfica poderá utilizar a decodificação para chegar à pronúncia correta como apoio ao
significado. Ao ler palavras conhecidas, poderá fazer uso da leitura automatizada, com rapidez e sem
esforço.
À medida em que a criança cresce, tende a superar sozinha obstáculos de leitura (textos mais longos,
assuntos que não domina, textos com palavras desconhecidas, por exemplo) e prosseguir para
compreender o que está lendo. Com isso, alarga sua visão de mundo, amplia o conhecimento sobre
assuntos diversos e amplia seu conhecimento linguístico, com o domínio de recursos de escrita mais
sofisticados do que a frase simples, estruturada em ordem direta. Além disso, a prática cotidiana da leitura
institui a capacidade de análise de unidades menores do que a palavra – os prefixos e sufixos – recurso que
amplia rapidamente o vocabulário e ajuda na precisão de conceitos, em palavras novas.
O esforço na decodificação ocupa de tal forma suas energias que as dificuldades parecem insuperáveis, e
ela fica paralisada. Na prática de leitura, o leitor hábil é capaz de selecionar a estratégia de leitura mais
apropriada a cada contexto. Assim, ao ler menos, ela terá menor acesso a novos saberes, o que aumenta a
diferença entre o desempenho de outros colegas, bons leitores.
Quanto mais a criança lê, melhor ela lê. Decorre dessa constatação o termo “Efeito Mateus”, adotado na
educação para descrever o fato de que vantagens iniciais na aprendizagem da leitura estão relacionadas a
sucessos posteriores, enquanto os insucessos iniciais tendem a se associar à frustração e ao desestímulo,
o que aumenta a dificuldade na aquisição da competência leitora. A dificuldade de compreender
rapidamente as palavras cria um fosso, que se acentua ao longo do tempo, visto que em todo o percurso de
escolarização a criança precisará fazer uso da leitura como ferramenta para aprendizagem de novos
conteúdos escolares. Com dificuldade em operar com estratégias de leitura, a criança presta atenção em
informações fragmentadas, aquelas que podem ser percebidas por serem mais salientes. Esse modo de ler
leva a inferências erradas e a uma compreensão prejudicada.
O que a escola precisa fazer para garantir que todos os alunos desenvolvam
processos de leitura hábil?
A escola, desde o início do processo de escolarização, precisa criar situações em que a criança vivencie
experiências de leitor iniciante, e deve acompanhar cada criança de uma forma rigorosa para verificar seu
desempenho, e fazer intervenções sempre que necessário.
A criança aprende a escrever, escrevendo, experimentando, ousando, usando os conhecimentos que
detém sobre a escrita, e o mesmo se dá com a leitura, pois não se pode esquecer que ler e escrever, falar e
ouvir são faces da mesma moeda.
Na alfabetização, uma parte do tempo deve ser dedicada para aplicação das regras da decodificação – na
leitura e na produção de pequenos textos -, levando a criança a prestar atenção consciente nas unidades
sonoras da fala (a consciência fonêmica) e na organização do sistema ortográfico, na exploração das
relações som/letra, nas sílabas e formação de palavras. Por outro lado, e simultaneamente à realização de
práticas com foco no sistema, as ações devem garantir um trabalho pedagógico que torne possível a
automatização da leitura, com foco em propostas em que o texto seja a unidade de ensino, uma vez que é
por meio de textos – orais ou escritos – que a criança tenta compreender o processo que vive, comparando
e relacionando as informações que fazem sentido para ela.
Como organizar o planejamento de ensino para incluir crianças em diferentes
níveis de conhecimento?
O trabalho com projetos permite o foco em áreas de uso da linguagem denominadas na Base Nacional
Comum Curricular como Campos de Atuação: Campos da vida cotidiana, Campos da vida pública, Campo
das práticas de estudo e pesquisa, Campo artístico-literário. A criança aprende que em cada espaço social
circulam textos com características peculiares, pois em cada um desses grupos os textos têm funções
sociais distintas: informar, seduzir para o consumo, criar representações da experiência vivida, opinar,
polemizar, debater, apresentar informações sistematizadas para estudo, por exemplo.
No 3º ano do Ensino Fundamental, espera-se que a criança conquiste autonomia na leitura, utilizando
estratégias especificas para cada tipo de texto. A leitura hábil decorre de um conjunto de habilidades
aprendidas gradualmente, em um processo no qual cada vez mais os conhecimentos vão transformando a
própria capacidade de leitura e dando à criança instrumentos para compreensão do texto lido maior
autonomia no trânsito de todos os textos.
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  • 2. CAMINHOS PARA A PROFICIÊNCIA LEITORA Suely Amaral1 Imagine duas pessoas em um corredor de supermercado, procurando um mesmo produto. Uma delas observa atentamente as embalagens, seleciona aquela que parece mostrar o item que procura. Com o produto na mão, a pessoa analisa com atenção cada sílaba até completar a pronúncia e formar a palavra: “mas-sa-de-to-ma-te”. Outra pessoa, na mesma situação, percorre o corredor, dá uma olhada geral, de relance, seleciona o produto que deseja e pronto. Entre uma pessoa e outra, o que dá conta da agilidade para a localização e escolha do produto é a velocidade e a exatidão da leitura. Qual a diferença entre elas? No primeiro caso, o comportamento indica que a pessoa utiliza a decodificação como estratégia principal para alcançar a informação escrita. Certamente ao ler, ela inclui também outros indícios para identificar o produto, como cor e tamanho das embalagens, ilustrações e logotipo da marca. Mas ainda precisa se certificar de que está levando exatamente o que quer, que não se confundiu entre massa de tomate e molho de tomate, por exemplo. No segundo caso, a pessoa alcança a informação escrita dentre um conjunto de textos parecidos, de maneira precisa e sem esforço. E faz isso de maneira tão espontânea que não se dá conta de que leu todas as embalagens antes de selecionar a que buscava. Diferentemente do leitor que decodifica sílaba a sílaba para compor a palavra, o leitor proficiente lê globalmente cada palavra, focada na representação ortográfica da palavra, o que permite uma leitura fluente, rápida. Se tiver necessidade de leitura em voz alta, o leitor hábil o faz com expressão, adotando o tom adequado. E qual o percurso para o desenvolvimento da capacidade de leitura? A alfabetização não é resultado natural da maturação do cérebro, do desenvolvimento humano. A criança já tem domínio da sua língua materna antes de aprender a ler, e isso significa que, além da capacidade de reconhecer cada palavra pronunciada isoladamente, ela também é capaz de operar com as regras segundo as quais as palavras podem ser combinadas em frases, em textos, com uma variedade de significados, em diferentes contextos de uso. Na linguagem falada, palavras são representações de sons e significados. O conjunto de palavras que armazenamos ao longo de nossa experiência e que acessamos, em textos, para a comunicação oral e escrita é denominado léxico mental. Na língua escrita, palavras são representações de sons, significados e de uma forma ortográfica, ou seja, o léxico mental é formado por representações fonológicas e ortográficas, acessadas pelo leitor a cada texto lido. Assim, saber ler significa, em primeira instância, a habilidade de decodificar com eficácia e rapidez os signos impressos, relacionar aos contextos e construir um modelo mental do sentido do texto. O domínio da língua falada e a vivência com a língua escrita torna possível o aprimoramento do mecanismo de decodificação de modo que as crianças passam a utilizá-lo com maior destreza, em situações frequentes, tanto para dar conta das tarefas da sala de aula, quanto no reconhecimento das informações do seu espaço cotidiano: leitura de embalagens, avisos, placas, histórias literárias. Melhora o reconhecimento de sílabas com domínio de sequências complexas, o reconhecimento de grupos silábicos 1 Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC/SP).
  • 3. de maior dificuldade, como dígrafos e encontros consonantais. Ao mesmo tempo em que o procedimento da decodificação aperfeiçoa-se, a criança começa a exercitar um modo de leitura em que a palavra é reconhecida como uma representação ortográfica, agregada à forma sonora e ao significado, sem que seja necessário recorrer à soletração ou à decodificação de sons e letras, para a leitura. Instala-se um modo de leitura não mais fundado na discriminação fonética, mas no reconhecimento visual das palavras, o que permite que a criança faça uma leitura global das palavras que conhece, o que resulta em maior velocidade e maior fluidez. Assim, o conhecimento muda de um processo inicial, que tem a decodificação letra por letra, sílaba a sílaba, como procedimento predominante, para um processo focado nas palavras que vão se tornando mais e mais familiares, de acordo com o número de vezes que são encontradas em diferentes contextos. Ao encontrar – e decodificar – por exemplo a palavra flor, o aprendiz estará mais receptivo a palavras como florista, floreira, florzinha, floração, e quanto maior for o número de vezes que lida com tal palavra, mais fácil se tornará a leitura. Cada nova forma ortográfica aprendida alimenta o léxico ortográfico de tal forma que saber decodificar com eficácia leva a criança a ser capaz de ler com maior precisão a maioria das palavras que encontra, em diferentes contextos de leitura. Essa habilidade permite ampliar para a construção dos vários sentidos que uma mesma palavra pode adquirir. Ao ler, a criança recorre também ao seu conhecimento de mundo, ao seu vocabulário, ao seu conhecimento da língua para garantir o significado do que lê. Assim, quanto mais ela lê, mais ela cria ligações estreitas entre forma ortográfica, significado e pronúncia da palavra e, assim, vai utilizando a automatização como procedimento dominante de leitura. Ao longo desse processo, a criança passa a se movimentar com maior autonomia dentre os vários textos que circulam em diferentes espaços sociais, sendo capaz de utilizar a decodificação ou a leitura global, selecionando o mecanismo mais adequado para a situação. Ao ler palavras em que enfrenta alguma dificuldade ortográfica poderá utilizar a decodificação para chegar à pronúncia correta como apoio ao significado. Ao ler palavras conhecidas, poderá fazer uso da leitura automatizada, com rapidez e sem esforço. À medida em que a criança cresce, tende a superar sozinha obstáculos de leitura (textos mais longos, assuntos que não domina, textos com palavras desconhecidas, por exemplo) e prosseguir para compreender o que está lendo. Com isso, alarga sua visão de mundo, amplia o conhecimento sobre assuntos diversos e amplia seu conhecimento linguístico, com o domínio de recursos de escrita mais sofisticados do que a frase simples, estruturada em ordem direta. Além disso, a prática cotidiana da leitura institui a capacidade de análise de unidades menores do que a palavra – os prefixos e sufixos – recurso que amplia rapidamente o vocabulário e ajuda na precisão de conceitos, em palavras novas. O esforço na decodificação ocupa de tal forma suas energias que as dificuldades parecem insuperáveis, e ela fica paralisada. Na prática de leitura, o leitor hábil é capaz de selecionar a estratégia de leitura mais apropriada a cada contexto. Assim, ao ler menos, ela terá menor acesso a novos saberes, o que aumenta a diferença entre o desempenho de outros colegas, bons leitores. Quanto mais a criança lê, melhor ela lê. Decorre dessa constatação o termo “Efeito Mateus”, adotado na educação para descrever o fato de que vantagens iniciais na aprendizagem da leitura estão relacionadas a sucessos posteriores, enquanto os insucessos iniciais tendem a se associar à frustração e ao desestímulo, o que aumenta a dificuldade na aquisição da competência leitora. A dificuldade de compreender rapidamente as palavras cria um fosso, que se acentua ao longo do tempo, visto que em todo o percurso de escolarização a criança precisará fazer uso da leitura como ferramenta para aprendizagem de novos
  • 4. conteúdos escolares. Com dificuldade em operar com estratégias de leitura, a criança presta atenção em informações fragmentadas, aquelas que podem ser percebidas por serem mais salientes. Esse modo de ler leva a inferências erradas e a uma compreensão prejudicada. O que a escola precisa fazer para garantir que todos os alunos desenvolvam processos de leitura hábil? A escola, desde o início do processo de escolarização, precisa criar situações em que a criança vivencie experiências de leitor iniciante, e deve acompanhar cada criança de uma forma rigorosa para verificar seu desempenho, e fazer intervenções sempre que necessário. A criança aprende a escrever, escrevendo, experimentando, ousando, usando os conhecimentos que detém sobre a escrita, e o mesmo se dá com a leitura, pois não se pode esquecer que ler e escrever, falar e ouvir são faces da mesma moeda. Na alfabetização, uma parte do tempo deve ser dedicada para aplicação das regras da decodificação – na leitura e na produção de pequenos textos -, levando a criança a prestar atenção consciente nas unidades sonoras da fala (a consciência fonêmica) e na organização do sistema ortográfico, na exploração das relações som/letra, nas sílabas e formação de palavras. Por outro lado, e simultaneamente à realização de práticas com foco no sistema, as ações devem garantir um trabalho pedagógico que torne possível a automatização da leitura, com foco em propostas em que o texto seja a unidade de ensino, uma vez que é por meio de textos – orais ou escritos – que a criança tenta compreender o processo que vive, comparando e relacionando as informações que fazem sentido para ela. Como organizar o planejamento de ensino para incluir crianças em diferentes níveis de conhecimento? O trabalho com projetos permite o foco em áreas de uso da linguagem denominadas na Base Nacional Comum Curricular como Campos de Atuação: Campos da vida cotidiana, Campos da vida pública, Campo das práticas de estudo e pesquisa, Campo artístico-literário. A criança aprende que em cada espaço social circulam textos com características peculiares, pois em cada um desses grupos os textos têm funções sociais distintas: informar, seduzir para o consumo, criar representações da experiência vivida, opinar, polemizar, debater, apresentar informações sistematizadas para estudo, por exemplo. No 3º ano do Ensino Fundamental, espera-se que a criança conquiste autonomia na leitura, utilizando estratégias especificas para cada tipo de texto. A leitura hábil decorre de um conjunto de habilidades aprendidas gradualmente, em um processo no qual cada vez mais os conhecimentos vão transformando a própria capacidade de leitura e dando à criança instrumentos para compreensão do texto lido maior autonomia no trânsito de todos os textos.