1. Pacto Nacional pela Alfabetização na
Idade Certa
Julho de 2013
Conceitos Importantes no Processo de
Alfabetização
2. O que o PACTO?
O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa é
um acordo formal assumido pelo Governo Federal,
estados, municípios e instituições de ensino superior
públicas.
Apesar de ter por eixo a formação de professores que
atuam no 1º, 2º e 3º ano de escolaridade ou em
turmas multisseriadas e multietapas, o Pacto não é um
curso, mas um compromisso em alfabetizar todas as
crianças matriculadas nas escolas públicas, em língua
portuguesa e em matemática, até os 08 anos de idade,
ao final do ciclo de alfabetização.
3. O que significa estar
alfabetizado?
Alfabetizar é ensinar ou aprender a ler e
escrever.
Alfabetizado é, portanto, aquele que sabe
ler e escrever.
No contexto do PACTO, a criança
alfabetizada é aquela que compreende o
sistema de escrita, é capaz de ler e
escrever com autonomia em diferentes
situações sociais e apresenta um
4. Conceito de Letramento
No Brasil, o termo letramento não substituiu a
palavra alfabetização, mas aparece associada a
ela. Segundo Soares (1998), o termo letramento
é a versão para o Português da palavra literacy.
Literacy é a condição de ser literate
(especialmente capaz de ler e escrever). Literacy
é a condição de ser especialmente capaz de ler e
escrever. É o estado ou condição que assume
aquele que aprendeu a ler e escrever (SOARES,
1998).
5. Relação entre Alfabetização e
Letramento?
Para Soares (1998), alfabetizar e letrar são
duas ações distintas, mas indissociáveis.
O ideal seria alfabetizar letrando, ou seja:
ensinar a ler e escrever no contexto das
práticas sociais da leitura e da escrita, de
modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo
tempo, alfabetizado e letrado (Soares, 1998, p.
47).
6. LETRAMENTO E O CENSO
No Brasil, o Censo sinaliza a necessidade
do termo letramento, a partir da mudança
nos critérios para definir o número de
analfabetos: De apenas “saber escrever
o próprio nome” o censo para a exigir
que o cidadão saiba “escrever e ler um
bilhete simples” para ser considerado
alfabetizado
- OBS: Para Soares (1998), uma pessoa
pode não ser alfabetizada e ser, de uma
certa forma, letrada quando faz uso da
7. Quais práticas a escola precisa ensinar?
É necessário um ensino que contemple os diferentes eixos do
ensino da Língua Portuguesa, de modo a se garantir que, desde o
1º ano, as crianças vivenciem atividades que as façam avançar em
relação ao processo de apropriação e consolidação da escrita
alfabética, à leitura e produção de textos.
Em relação à apropriação da escrita alfabética, espera-se que, no
1º ano, a criança construa a base alfabética e que, no 2º e 3º anos
seja consolidada a aprendizagem das correspondências som-
grafia.
Em relação à leitura e à produção de textos, espera-se que os
alunos vivenciem atividades envolvendo diferentes gêneros
textuais, desde o 1º ano, e que no final do 3º ano possam ler e
produzir textos diversos com autonomia
8. Bases Cognitivas da Alfabetização
Para diferentes autores, como Soares
(2004), Carraher e Rego (1984), a
alfabetização é um processo complexo e
relacionado a diversos fatores. Para
Carraher e Rego (1984), dentre estes
fatores está a capacidade da criança em
compreender a relação entre palavra
escrita e palavra falada.
Para se alfabetizar a criança precisa
9. Bases Cognitivas da Alfabetização
Embora muitos autores tenham discutido a
questão, Piaget (1967) considerou mais
detalhadamente a capacidade da criança em
focalizar a palavra (significante) independente
de seu significado (ideia, representação).
Piaget denominou a confusão entre nomes e
coisas de Realismo Nominal Lógico – que é
uma característica do pensamento infantil que
consiste na atribuição de um valor lógico
intrínseco aos nomes, sendo que a criança
não compreende que a relação entre nome e
10. Estágios de Realismo Nominal
Piaget (1967) identificou dois estágios de
realismo nominal lógico, no período que vai até
os 9 anos de idade.
Para Piaget, no primeiro estágio, que termina por
volta de 6 anos, a criança revela uma profunda
confusão entre palavra (significante) e coisa
(significado), e acredita mudar o nome das
coisas implica em mudar a coisa também.
Para Vigotsky, as crianças explicam o nome dos
objetos pelos seus atributos e trocar os nomes
significa trocar as características das coisas.
Para a criança, há uma conexão entre nome e
11. Exemplos de Realismo Nominal
E. A lua podia ter o nome de sol e o sol o
nome de lua?
C. Não;
E. Por que não?
C. Por que o sol esquenta e a lua ilumina.
E. A lua podia ter o nome de sol e o sol o
nome de lua?
C. Não;
E. Por que não?
C. Por que aí a gente ia dormir de dia e
12. Exemplos de Realismo Nominal
E. Diga aí umas palavras grandes.
Cr. Kombi, caminhão, maverick.
Maverick é um carro bem grande. Eu
se lembro de uma grande panela.
E. Agora diga umas palavras
pequenas.
Cr. Morango, flor, toalha.
E. Por que morango é uma palavra
pequena?
13. Consciência Fonológica
A consciência fonológica é uma
capacidade metalinguística. Envolve o
reconhecimento pelo indivíduo de que
as palavras são formadas por
diferentes sons que podem ser
manipulados, abrangendo não só a
capacidade de reflexão (constatar e
comparar), mas também a de
operação com fonemas, sílabas, rimas
e aliterações (contar, segmentar, unir,
14. Qual a origem do conceito?
Liberman e colaboradores (1974)
descobriram que as crianças americanas
não alfabetizadas tinham mais facilidade
para segmentar palavras em sílabas e
contar quantas sílabas continham as
palavras, do que fazer a separação e a
contagem dos fonemas.
A partir dessa constatação, os
pesquisadores concluíram que a
consciência sobre os fonemas parecia
depender da escolarização. Concluíram,
ainda, que a consciência fonológica era
15. Novos estudos apontaram
conclusões diferentes
No Reino Unido, Bradley e Bryant (1983)
desenvolveram estudo longitudinal com crianças na
pré-escola. O grupo foi dividido em três subgrupos:
1º parte do grupo foi treinada em atividades de
consciência fonológica;
2º parte do grupo foi treinada com atividade de
consciência fonológica e escrita das palavras
trabalhadas;
3º outro grupo não recebeu tratamento especial.
Os estudiosos concluíram que a consciência
fonológica constitui-se como pré-requisito para a
alfabetização. A consciência fonológica passou a
16. Por que estes estudos apontaram
conclusões diferentes
(pré-requisitos ou consequência)?
Morais (2006) acredita que estas diferenças
sejam consequência do conceito adotado pelo
pesquisador.
Quando é focalizado o fonema, acredita-se
que a consciência fonológica seja
consequência da alfabetização.
Quando é considerado um conceito mais
amplo, que inclui um conjunto amplo de
habilidades (sílabas, letras, palavras, rimas
aliterações, etc) a conclusão é que a
consciência fonológica seja elemento
causador da alfabetização.
17. O que focalizam os diferentes
pesquisadores?
Segundo Morais (2006), ao avaliar os
conhecimentos dos sujeitos, os
pesquisadores utilizaram tarefas
diferentes, que implicavam na capacidade
de refletir sobre diferentes unidades
linguísticas: rimas, aliterações, sílabas,
segmentos intrassilábicos.
Os estudos também consideram
diferentes posições das unidades
linguísticas nas palavras: início, meio e
final – tarefas que têm grau de diferente
18. Consciência Fonológica no Nível da
Sílaba
Compreende a capacidade de dividir
as palavras em sílabas, que, conforme
Morais (2006) é o primeiro e o mais
óbvio caminho de segmentação
sonora, que traz pouca dificuldade para
a maioria das crianças.
Desde cedo as crianças apresentam
essa habilidade de dividir uma palavras
em sílabas oralmente, sendo um
excelente indicativo de que possuem
19. Consciência Fonológica no Nível das
Unidades Intrassílabicas
As palavras podem ser divididas em unidades
que são maiores que um fonema individual,
mas menores que uma sílaba, ou seja, as
unidades intrassilábicas ONSET e RIMA.
Onset: MINHOCA e MENINO/ PRATO e
PRETO tem o mesmo onset (onset é o
elemento que vem antes do núcleo da sílaba,
sendo que o núcleo de uma sílaba é sempre a
vogal).
Rima da sílaba: CAMINHÃO e BLUSÃO /
SABER e PODER são palavras que rimam.
Rima da palavra: BONECA e CANECA são
20. Consciência Fonológica no Nível dos
Fonemas
O nível dos fonemas compreende a
capacidade de dividir as palavras nas
menores unidades de som, que
podem mudar o significado de uma
palavra. (ELEFANTE – ELEGANTE)
Na alfabetização é necessário o
reconhecimento de que as palavras
são um conjunto de fonemas. No
entanto, o caráter abstrato dos
21. Consciência Fonológica X Consciência
Fonêmica
Muitos autores e pesquisadores
utilizam os termos consciência
fonológica e consciência fonêmica
como termos sinônimos, muitas
vezes considerando consciência
fonológica apenas como a
capacidade de manipular fonemas.
No entanto, a consciência fonológica
é mais abrangente e envolve o nível
23. A consciência fonológica é um conjunto
de habilidades para:
Segmentar uma palavra em sílabas ou
fonemas.
Contar fonemas ou sílabas das palavras.
Comparar palavras quanto ao tamanho
(número de sílabas ou fonemas).
Identificar ou produzir palavras semelhantes
(com segmentos sonoros semelhantes no
início ou no final).
Adicionar, transpor ou subtrair segmentos
sonoros como sílabas ou fonemas.
Fazer síntese de sílabas ou de fonemas, de
24. Exemplos que revelam ausência de consciência
fonológica para a sílaba inicial
E- Diga uma palavra que começa igual a palavra
CACHORRO.
CR- Gato,
E- Por que cachorro parece com gato?
CR- Porque parece.
E- O que tem de parecido?
CR- O olho, a boca, a orelha e o cabim também (Pedro,
6 anos, 08-04-13).
Criança 02 -Leão, eu acho que ele parece porque ele
tem um nariz igual o do cachorro (Kauã, 6 anos. 08-04-
13).
25. Exemplos que revelam ausência de
consciência fonológica para a sílaba final
E – Diga uma palavra que termina igual a SABÃO.
CR 01- Sabonete.
E- Qual pedaço da palavra sabonete que termina
igual?
CR 01- O pedaço que sobrar (Pedro, 6 anos, 08-04-
13).
CR02 - Sabonete de tomar banho, sabonete é de
passar na bucha pra tomar banho e ficar limpo.
(Kauã, 6 anos, 08-04-13).
CR 03- Sabonete, porque é o mesmo sabão, mas é
de tomar banho (Ketelen, 6 anos, 09-04-13)
26. Respostas que revelam a presença de
Realismo Nominal
E – Diga uma palavra pequena.
CR 01- Existe várias pequena. Escorpião
é grande, mas existe a fêmea botar o
escorpiãozinho, lacraia é pequena.
Biblioteca é grande, armário é grande,
porque o armário tem uns pezinho
embaixo dele e é grande (Natanael 8-4-
13).
CR 01- Formiguinha, porque elas andam
um pouquinho devagar. Passarinho,
27. Respostas que revelam a presença de
Realismo Nominal
Ao serem solicitadas para comparar as palavras
BOI e FORMIGUINHA e dizerem qual a palavra
maior, são apresentadas muitas respostas que
revelam a dificuldade em pensar a palavra
independente do seu significado.
C8: Boi – é maior porque pode atacar.
C10: Boi – porque boi é a mesma coisa de vaca.
C13: Boi – porque come demais
C19: Boi – porque eu já vi um boi grande.
C21: Formiguinha – porque tem umas que é gorda
C23: Boi – porque formiguinha é mais pequena.
C24: Boi – porque o boi é grande
28. Realismo Nominal e Alfabetização
Carraher e Rego (1984) consideram que
a superação do nível I do Realismo
Nominal é essencial para a
alfabetização.
Embora, com base na memória, possa
aprender nomes de letras, letras iniciais
das palavras, emitir sons iniciais de
determinadas palavras, reconhecer
palavras e sílabas, dificilmente a criança
29. Recomendações para a sala de aula
Segundo Morais (2006), é recomendável que,
desde a educação infantil, a criança realize
atividades de reflexão sobre rimas, de contagem
de sílabas nas palavras, de identificação palavras
que iniciam com a mesma sílaba, etc.
Para o autor, não se trata de treinar as crianças
para identificar fonemas, nem tampouco adotar o
método fônico como remédio milagroso para
alfabetizar, como tem sido defendido por
estudiosos da consciência fonológica.
Se crianças e adultos recém-alfabetizados têm
dificuldade em segmentar palavras em fonemas, é
30. Considerações Finais
Morais (2006) considera que, superando
limitações de alguns estudos sobre
consciência fonológica, é preciso admitir
que, para a criança alcançar as hipóteses
silábica, silábico-alfabética e alfabética é
necessário pensar sobre as partes
sonoras das palavras e não apenas em
seu significado.
Como a escrita alfabética é uma invenção
cultural, o aprendiz não pode avançar
sozinho, sem ajuda da instrução escolar
31. Considerações Finais
Para Morais (2006),as atividades de aula
devem ajudar os aprendizes a pensar
certas propriedades do sistema de escrita
(ordem das letras, estabilidade da escrita,
repetição de letras) e atentar para a
quantidade de partes faladas e partes
escritas das palavras.
O autor defende que, diariamente, as
crianças devem praticar a reflexão sobre a
dimensão sonora das palavras, com apoio
da notação escrita.
Morais (1996) também defende a prática
32. Referências
CARRAHER, Terezinha Nunes, REGO,Lúcia Lins
Bowne. O realismo nominal como obstáculo na
aprendizagem da leitura. Cadernos CEDES. São
Paulo, 1984.
FREITAS, Gabriela Castro Menezes de. Sobre a
consciência fonológica. In: LAMPRECHT, Regina
Ritter. Aquisição fonológica do português: perfil de
desenvolvimento e subsídios para terapia. Porto
alegre: Artes Médicas, 2004.
MORAIS, Artur Gomes de (2006). Consciência
fonológica e metodologias de alfabetização. Revista
presença Pedagógica. Belo Horizonte: Editora