Muitas vezes, tentamos desmentir um boato ou ruído enviando mais e mais comunicados à imprensa ou publicando notas em sites. Algumas vezes, diversas ações de comunicação são orquestradas sem sucesso.
Todo esse conjunto de ações adotadas são as chamadas campanhas de contra resposta, desmentidos ou counter strategy, analisados por Bateman & Jackson. Tal conceito é apresentado na obra Countering Disinformation Effectively: An Evidence-Based Policy Guide (2024)
1. Grupo de Pesquisa Mídias,
Dados e Tecnologia
Professor: Marcelo Alves
Discente: Isabela Duarte
Pimentel
Counter Messaging Strategies
Case Study 5
Bateman & Jackson
Psychological Underpinnings of
Misinformation Countermeasures
Ziemer & Rothmund
2. “There is strong
evidence that truthful
communications
campaigns designed to
engage people on a
narrative and
psychological level
are more effective
than facts alone”
[p.43]
3. Conceito de contra estratégias
O que são? Campanhas de comunicação que visam
competir com a desinformação e substituir uma
história falsa por uma história verdadeira,
tanto em nível das narrativas, quanto em
aspectos psicológicos.
Dados: estudos comprovam que contra
estratégias funcionam melhor do que a mera
checagem dos fatos e refutação de notícias
falsas.
Linguagem da contra resposta precisa ter
empatia e evitar ‘repisar o erro’.
4. O campo dos contradiscursos
Disciplinas como a Psicologia Social, a
Ciência Política, a comunicação, a
publicidade e os estudos de mídia
investigaram questões relevantes para as
contra-mensagens.
Os campos que têm estado sujeitos à
desinformação persistente - como a saúde
pública e a ciência climática - também
dedicaram muita atenção às contra
mensagens nos últimos anos.
Os estudos baseados em inquéritos ou
experiências de laboratórios são comuns,
mas não refletem totalmente a reação das
audiências em contextos mais naturais.
5. Propósito
1. São implementadas com o objetivo
específico de combater a
desinformação;
2. Precisam ir além dos apelos
puramente racionais, como a
verificação de fatos;
3. Ao mudar o quadro narrativo em
torno de uma questão ou tema
específico, com táticas de
conteúdo concebido para ressoar, as
contra-mensagens têm como objetivo
tornar o público mais aberto aos
fatos e menos disposto a acatar
mensagens sensacionalistas.
6. Desafios
1. Tempo que se leva para produzir
checagem;
2. Mecanismos de distribuição e
segmentação da audiência;
3. Investimentos;
4. Uso de IA e tecnologias para
rotulagem de conteúdo (labeling
content).
7. Evidências
• Há fortes indícios de que as campanhas de
comunicação concebidas para envolver as
pessoas a nível narrativo e psicológico
são mais eficazes do que apenas os fatos.
• Ao entender os sentimentos e ideias mais
profundos que tornam as afirmações falsas
apelativas, as estratégias de contra
mensagem têm o potencial de cativar
públicos mais difíceis de se alcançar.
• No entanto, o sucesso depende da
interação complexa de diversos fatores.
8. Perspectiva granular
As melhores
campanhas de Counter
strategies utilizam
uma análise
cuidadosa da
audiência para
selecionar os
mensageiros, os
meios, os temas e os
estilos mais
ressonantes - mas
este é um processo
dispendioso, cujo
êxito é difícil de
mensurar!
Contra
mensagem
Mensagem
Mensageiros
/emissores
Estilo e tom
Meio
Meio móvel =
Perfis de
redes sociais
mais
Suscetíveis
9. Exemplos
• Recrutamento de médicos locais
como ‘porta-vozes’, com base na
premissa de que muitas pessoas
confiam mais nos seus médicos de
família do que nas autoridades
nacionais de Saúde;
• As campanhas de mensagens
públicas relacionadas com a
vacina também estabeleceram
parcerias com líderes religiosos
cristãos, judeus e muçulmanos
para chegar às comunidades
religiosas em Israel, no Reino
Unido e nos Estados Unidos.
10. Métricas e indicadores: dificuldade de avaliar
as contra estratégias
É bem difícil articular
conhecimentos e recursos para
avaliar o impacto do trabalho
para além da utilização de
métricas de envolvimento e
engajamento nas redes sociais.
Redução do alcance de um
conteúdo, em recorte temporal
pós-campanha, pode ser um
indicador de sucesso para
estratégias de contra resposta?
11. Estudos de caso
• Estudos sobre o ceticismo em relação às
alterações climáticas concluíram que as
mensagens mais eficazes para contrariar a
desinformação oferecem aos indivíduos a
sensação de que podem tomar medidas
significativas, em oposição às mensagens
que focam no erro e consideram o público
burro.
• Uma análise das mensagens sobre saúde
pública concluiu que alguns segmentos da
audiência eram mais movidos por apelos
para se protegerem a si próprios ou aos
seus entes queridos do que por apelos à
responsabilidade social.
12. O caso da Covid-19 e os influenciadores locais
• Estudos realizados nas zonas rurais dos
Estados Unidos revelaram que os amigos e
familiares, as organizações comunitárias,
os líderes religiosos e os profissionais
de saúde eram os mensageiros mais
eficazes na resposta aos boatos sobre a
COVID-19.
• Na Índia, os profissionais de saúde e os
pares foram considerados os mais dignos
de confiança.
• Constatou-se o poder dos influenciadores
locais e informais.
13. Conteúdo orgânico x
campanhas oficiais do
Governo
Conteúdos orgânicos
utilizados para refutar
as afirmações e
narrativas extremistas
parecem mais
persuasivos do que os
conteúdos criados pelo
governo. [ P.47]
14. Escalabilidade
• A contra mensagem enfrenta
desafios de implementação devido
à sua natureza frequentemente
reativa.
• São campanhas que surgem
frequentemente em resposta a um
reconhecimento tardio, quando as
narrativas de desinformação já
ganharam força e impacto em
múltiplas plataformas.
• O tempo, velocidade e
escalabilidade dessas respostas
são outros desafios.
15. Limitações
A necessidade de adaptar as contra-
mensagens a um público e a um
contexto específicos dificulta o
escalonamento.
Para atingir grandes audiências
pode ser necessário dividi-las em
subpopulações identificáveis, cada
uma das quais receberia então a sua
própria investigação,
desenvolvimento de mensagens e
estratégias novas ou mesmo
concorrentes.
Optar por uma campanha mais
genérica e em grande escala pode
comprometer grande parte da
especificidade associada a uma
17. Escopo do trabalho • Revisão sistemática sobre as bases
psicológicas que sustentam a crença em
informações incorretas e as
intervenções desenvolvidas para
combater sua aceitação e disseminação.
• Com um total de 170 casos analisados,
estudo busca integrar duas linhas de
pesquisa frequentemente separadas: as
razões psicológicas para a
susceptibilidade à desinformação e o
desenvolvimento de intervenções
eficazes contra ela.
18. Teorias sobre susceptibilidade à desinformação
Há expansão rápida da
pesquisa em intervenções
contra desinformação,
impulsionada não apenas por
esforços acadêmicos, mas
também por iniciativas
governamentais, não
governamentais e da sociedade
civil.
No entanto, uma grande parte
das intervenções (77,2%) não
está vinculada a nenhuma
teoria básica sobre a
susceptibilidade à
desinformação, sugerindo uma
desconexão entre a pesquisa
aplicada e a teórica.
19. Fundamentos psicológicos da desinformação
• Tem havido um esforço acadêmico
substancial para (a) investigar os
fundamentos psicológicos e razão pela
qual os indivíduos acreditam em
desinformação, e (b) desenvolver
intervenções que dificultem a sua
aceitação e disseminação.
• No entanto, há uma falta de
integração sistemática destas duas
linhas de investigação.
• A análise de dados da pesquisa
mostrou que a suscetibilidade à
desinformação é psicologicamente
explicada: raciocínio clássico e
motivado.
20. Fundamentos psicológicos da desinformação
Grande parte da investigação sobre a
desinformação psicológica tem-se centrado
em duas questões:
O que é que e o que torna os indivíduos
susceptíveis à desinformação?
Que intervenções podem ser desenvolvidas
para ajudar os indivíduos aa identificar
corretamente a desinformação ou a alterar
as percepções erradas existentes?
21. Dois processos relacionados à desinformação
Dois processos psicológicos principais
que aumentam a vulnerabilidade à
desinformação:
1. o processamento superficial;
2. o processamento seletivo.
22. Os dois conceitos
• O processamento superficial, dentro do
contexto do raciocínio clássico,
refere-se à utilização de atalhos
cognitivos ou heurísticas para chegar
a conclusões, o que pode levar a uma
maior probabilidade de acreditar em
desinformação.
• Já o raciocínio motivado caracteriza-
se por um processamento seletivo de
informações, guiado por objetivos que
não estão diretamente relacionados à
precisão, como a defesa da identidade
ou a resistência a mudanças, tornando-
se uma causa significativa da
susceptibilidade à desinformação.
23. Teoria do raciocínio motivado
O raciocínio motivado é discutido como uma das
principais causas da suscetibilidade à
desinformação (Nyhan & Reifler, 2019; van Bavel
et al., 2021)
A teoria do raciocínio motivado postula que o
processamento de informações é seletivo, não
verdadeiramente convergente e impulsionado por
objetivos distintos e independentes da
motivação para a precisão (Kahan, 2015; Kunda,
1990).
O raciocínio motivado pode ser a consequência
da experiência de altos níveis de motivação de
defesa devido à dissonância cognitiva
cognitiva, resistência à mudança ou ameaça à
identidade (verJonas et al., 2014).
24. Desafio 1 – falta de conexão teórica
Três das quatro intervenções no nosso
conjunto de dados não estão ligadas ao
raciocínio clássico e motivado ou a
qualquer teoria para explicar o seu
efeito.
A categoria de intervenção melhor
fundamentada na teoria, a inoculação, liga
o seu mecanismo de intervenção à teoria da
inoculação, uma teoria proeminente da
investigação da persuasão (Ivanov et al.,
2015),
25. Desafio 2 – poucos estudos sobre
raciocínio motivado
Embora o raciocínio motivado seja considerado uma
causa importante causa da suscetibilidade à
desinformação na investigação básica(Altay et al.,
2023), quase não é abordado por pesquisas.
Desafio 3 –
Generalização de
resultados fora dos
Estados Unidos
É crucial examinar as intervenções de desinformação
com amostras culturalmente mais diversificadas, uma
vez que 71,0% dos estudos da nossa amostra foram
realizados com amostras dos EUA e apenas dois estudos
em países do Sul Global, nomeadamente a Indonésia e a
Índia (Guess et al., 2020).
26. Alerta Importante
É preciso ter em conta que a
desinformação não é um mal-estar
individual, mas sim implementada
num contexto cultural e político
específico, com diferentes normas,
tradições, regras e necessidades.
27. Desafio 4 – Limitação de faixas etárias
A maioria das pesquisas (76%) no nosso conjunto
de dados foi testada em populações adultas.
Uma vez que existem provas preliminares e
evidências sobre a vulnerabilidade específica
dos cidadãos mais velhos à desinformação (Shu
et al., 2018), precisamos de mais intervenções
para este grupo-alvo.
28. Desafio 5 – longevidade dos efeitos
Resultados indicam que apenas 8,3% das
intervenções examinam efeitos a longo
prazo.
Este fato não é problemático para as pesquisas
que são especificamente direcionadas para
efeitos a curto prazo, como as intervenções de
nudging.
A investigação futura precisa incluir testes de
acompanhamento para medir apara medir a
longevidade dos efeitos e para identificar
intervalos razoáveis para as sessões de reforço
com base na lógica teórica da pesquisa.
29. Desafio 6 - interdisciplinariedade
A interdisciplinaridade pode
levar a linhas de
investigação desconexas
A investigação sobre a
intervenção na desinformação
envolve principalmente
ciência da comunicação,
seguida da psicologia e da
ciência política.
31. A força do fact checking
As pesquisas mais estudadas são as de
verificação de fatos, representando 62,1%
do conjunto de dados, seguidas por
reforço, incentivos, inoculação e gestão
de identidade.
Além disso, a revisão aponta para várias
lacunas e desafios na pesquisa de
intervenções contra desinformação,
incluindo a falta de conexão teórica, a
limitada abordagem contra o raciocínio
motivado, a generalização limitada dos
resultados fora dos Estados Unidos, a
escassez de estudos voltados para grupos
etários além dos adultos, o conhecimento
limitado sobre a durabilidade dos efeitos
das intervenções e a potencial
fragmentação da pesquisa devido à
interdisciplinaridade.
32. Uso de gamificação
Das 11 pesquisas sobre inoculação
estratégica, oito são
gamificadas.
BadNewsé um jogo de inoculação,
que coloca jogadores no papel de
um troll da desinformação nas
redes sociais, que recolhe o
maior número possível de
seguidores aplicando estratégias
típicas de desinformação para
tornar as publicações
potencialmente virais
(por exemplo, Basol et al., 2020;
Roozenbeek& van der Linden,
2019).
33. Conclusões
Necessidade de um enfoque mais
integrado e fundamentado
teoricamente na pesquisa de
intervenções contra desinformação,
bem como a importância de
considerar as condições contextuais
e culturais específicas na
avaliação da eficácia das
intervenções.
Sugere-se que uma combinação de
diferentes intervenções, adaptadas
às necessidades narrativas e
psicológicas específicas do
público, pode ser a chave para
aumentar a resiliência contra a
desinformação.
34. Referências
Psychological Underpinnings of
Misinformation Countermeasures
Carolin-Theresa Ziemer & Tobias Rothmund
Counter Messages Strategy –
Bateman & Jackson
1.Jacob Davey, Henry Tuck, and Amarnath Amarasingam, “An Imprecise
Science: Assessing Interventions for the Prevention, Disengagement and
De-radicalisation of Left and Right-Wing Extremists,” Institute for Strategic
Dialogue, 2019, https://www.isdglobal.org/isd-publications/an-
imprecisescience-
assessing-interventions-for-the-prevention-disengagement-andde-
radicalisation-of-left-and-right-wing-extremists /.
2.Rachel Brown and Laura Livingston, “Counteracting Hate and Dangerous
Speech Online: Strategies and Considerations,” Toda Peace Institute,
March 2019, https://toda.org/assets/files/resources/policy-briefs/tpb-
34_brown-and-livingston_counteracting-hate-and-dangerous-speechonline.
pdf.
3. Benjamin J. Lee, “Informal Countermessaging: The Potential and Perils
of Informal Online Countermessaging,” Studies in Conflict & Terrorism
42 (2018): https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/105761
0X.2018.1513697.