3. A descoberta dos antibióticos está associada à data de 1928,
quando Alexandre Fleming notou que uma cultura de fungo
(Penicillium notatum) produzia um composto (mais tarde
denominado penicilina) que inibia o crescimento bacteriano
de colónias do género estafilococo
4. Antibiótico – são substâncias, desenvolvidas a partir de
fungos, bactérias ou elementos sintéticos (produzidos em
laboratórios farmacêuticos), cuja finalidade é combater
(inibir ou destruir) de forma selectiva microorganismos
(principalmente bactérias, mas também alguns protozoários
e fungos) causadores de infecção no organismo.
5. Antibiótico bacteriostático – é aquele que quando usado inibe
o crescimento e reprodução dos microorganismos, sendo
necessário o sistema imune complementar para a eliminação das
mesmas do organismo. É o tipo de antibiótico preferencial em
pacientes imunodeprimidos. Exemplos: cloranfenicol,
eritromicina, co-trimoxazol.
2.1.3 Antibiótico bactericida – é aquele que quando usado
mata/destroi as bactérias. Exemplos: todas penicilinas,
estreptomicina, gentamicina, rifampicina, cefalosporinas
(ceftriaxona), ácido nalidíxico, ciprofloxacina
6. Definição:
Espectro microbiano – é a diversidade de microorganismos que são
afectados pelo agente antimicrobiano (ou antibiótico).
Os antibióticos podem ter dois tipos de espectro microbiano de acção
• Antibióticos de amplo espectro – são aqueles que são capazes de
destruir tanto bactérias gram positivas quanto gram negativas.
Exemplo: ampicilina, cloranfenicol, tetraciclina, rifampicina.
• Antibióticos de espectro limitado – são aqueles que são capazes de
destruir apenas bactérias gram positivas ou gram negativas, mas não
ambos tipos. Exemplo: contra apenas gram positivas – vancomicina.
Contra apenas gram negativas: ácido nalidíxico
7. Os antibióticos actuam através de um ou mais dos seguintes
mecanismos de acção:
• Inibição da síntese da parede celular (exemplo: penicilinas,
cefalosporinas)
• Inibição da função da membrana celular (polimixina B, colistina)
• Inibição da síntese de proteínas (inibição da tradução e transcrição
do material genético). Exemplos: aminoglicosídeos (gentamicina,
estreptomicina), eritromicina, tetraciclina.
• Inibição da síntese de ácidos nucléicos (exemplo: quinolonas –
ácido nalidíxico, ciprofloxacina), rifampicina, co-trimoxazol,
metronidazol.
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18. Nota 1: O efeito bactericida ou bacteriostático é relativo e depende
da concentração atingida pelo antibiótico (ou fármaco) no meio
onde se situa o microrganismo e da sensibilidade deste. Qualquer
antibiótico pode ter um efeito bactericida ou bacteriostático sobre
uma determinada bactéria dependendo da sua concentração no meio
ser maior ou menor.
Nota 2: A classe dos anti-tuberculosos será discutida nas aulas
posteriores
19. A duração do tratamento de uma doença infecciosa depende do
tipo de infecção, do estado de imunidade do hospedeiro, do tipo
de agente infeccioso e do fármaco usado:
• Infecções agudas têm geralmente um curto período de
tratamento. Exemplo: uma infecção urinária ou pneumonia tem
um tempo de tratamento entre 5 a 10 dias, e dependende do
antibiótico usado.
Uma pneumonia pode ser tratada por 5 dias com azitromicina,
mas 7 a 10 dias com eritromicina.
20. • Infecções crónicas geralmente têm um longo período de
tratamento. Por exemplo: a tuberculose, devido a factores da
própria bactéria e do hospedeiro, tem um tratamento longo.
Osteomielite ou endocardite bacteriana geralmente requer
um tratamento com duração de pelo menos 6 a 8 semanas.
O HIV/SIDA tem um tratamento para toda a vida. A
imunodepressão pode levar a um tratamento antibiótico por
tempo mais prolongado do que num paciente
imunocompetente
21. Após a descoberta da penicilina por Alexandre Fleming e
passados poucos anos de seu uso sistemático, começaram a
surgir os primeiros Staphylococcus aureus resistentes à
acção desse antibiótico.
A resistência deve ser entendida como um fenómeno
evolutivo das bactérias (e de outros microorganismos) e
sobrevivência dos mesmos que deve ser prevenida e travada
pelos clínicos para salvaguardar o uso dos antimicrobianos
22. Definições:
Resistência antibiótica – é quando a bactéria tem a capacidade
de crescer in vitro na presença da concentração do antibiótico
que normalmente poderia inibir o seu crescimento e reprodução
ou matá-la.
No entanto, é preciso perceber que a concentração do
antibiótico na corrente sanguínea é diferente da sua
concentração em outros líquidos ou tecidos corporais (por
exemplo: na urina).
23. Assim, uma bactéria pode ser “resistente” a um
determinado antibiótico quando ela está presente na corrente
sanguínea, mas “sensível” quando está nas vias urinárias.
O inverso também é válido, quando uma bactéria “sensível”
está presente numa região anatómica do corpo na qual o
antibiótico não alcança a concentração adequada.
24. Concentração Inibitória Mínima (CIM ou MIC) – é a
menor concentração (ou dose) do antibiótico necessário para
inibir o crescimento bacteriano in vitro.
Concentração Bactericida Mínima (CBM ou MBC) – é a
menor concentração (ou dose) do antibiótico necessário para
destruir uma bactéria.
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26. Resistência terapêutica natural – é aquela que a bactéria está
fora do espectro de acção do antibiótico. Exemplo: bactérias
anaeróbicas para aminoglicosídeos; bactérias gram negativas
para penicilina G.
Resistência terapêutica adquirida – é aquela em que a
bactéria é previamente sensível a um antibiótico e desenvolve
resistência ao mesmo antibiótico. Exemplo: o Staphylococcus
aureus previamente foi sensível a penicilina, porém, adquiriu
posteriormente resistência ao antibiótico
27. • A resistência terapêutica adquirida primária – é aquela que o
organismo se infecta por bactérias (ou microorganismos) já resistentes.
Por exemplo: um paciente que é infectado por bacilo de koch
multirresistente e apresenta tuberculose multirresistente.
• A resistência terapêutica adquirida secundária – é aquela que o
organismo apresenta infecção por bactéria (ou microorganismo
sensível) e, que a bactéria (ou microorganismo) desenvolve resistência
durante o processo da história natural da doença. Exemplo: um paciente
que tem tuberculose pulmonar por bacilo de koch sensível, que durante
o curso da doença e terapêutica (especialmente se o tratamento for
interrompido ou a adesão for fraca), o bacilo torna-se resistente.
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29. Inibição enzimática – consiste na produção por parte da
bactéria de enzimas que inactivam o antibiótico. É o
mecanismo principal de resistência adquirida aos beta-
lactâmicos (penicilinas, cefalosporinas).
Exemplo: o Staphylococcus aureus resistentes a penicilina
G, produzem uma enzima bectalactamase que destrói o
fármaco
30. Alteração do sítio de acção do antibiótico – o sítio de acção na
bactéria que o fármaco (ou antibiótico) deveria actuar, fica
alterado de forma que essa estrutura apresenta baixa afinidade
pelo fármaco.
Exemplo: a resistência do Streptococcus pneumoniae à
penicilina é devido a alteração da estrutura denominada
proteínas ligantes de penicilina (PLP ou PBP) – que está
associada a síntese de peptidoglicano (faz parte da estrutura da
parede celular), resultando numa baixa afinidade do fármaco ao
local.
31. Alteração do transporte – as bactérias podem produzir
alterações no transporte do antibiótico através do invólucro
bacteriano por dois mecanismos: diminuição da entrada do
antibiótico (redução da permeabilidade) ou por mecanismo de
efluxo activo (retirada do antibiótico de dentro da célula
bacteriana).
Por exemplo: a Pseudomonas aeruginosa é resistente a vários
antibióticos (beta-lactâmicos, tetraciclinas, quinolonas,
cloranfenicol) exactamente devido a um mecanismo duplo e
sinérgico entre redução da permeabilidade e o mecanismo de
efluxo
32. Desenvolvimento de via metabólica alterada – os
microorganismos desenvolvem uma via metabólica alterada
que omite a reacção inibida pelo fármaco.
Exemplo: as bactérias resistentes às sulfonamidas (um dos
componentes do co-trimoxazol) utilizam, como alternativa
ao ácido para amino benzóico (PABA) extracelular, o ácido
fólico pré-formado.
33. Elaboração de uma enzima alterada – os
microorganismos elaboram uma enzima alterada que ainda
tem a capacidade de desempenhar sua função metabólica,
porém é menos afectada pelo fármaco.
Exemplo: as bactérias resistentes ao trimetropim (um dos
componentes do cotrimoxazol), a enzima diidrofolato
redutase é inibida com menos eficácia que nas bactérias
susceptíveis a ele.
34. • Prescrição empírica sem confirmação do agente infeccioso
• Prescrição de antibióticos de amplo espectro
• Uso indiscriminado de antibióticos (prescrição de antibióticos
para infecções virais)
• Uso de doses inadequadas (sub-dosagem)
• Prescrição ou toma de antibióticos por tempo menor em
relação ao necessário para a cura
• Prescrição de antibióticos fora do prazo de validade ou em
mau estado de conservaçã
35. • Uso de antibióticos para profilaxia de doenças infecciosas
• Falta de observância das directrizes nacionais de
tratamento padronizado
• Prescrição de monoterapias (um fármaco) em doenças que
necessitam politerapia (terapia combinada) (ex: Tuberculose
ou endocardite bacteriana)
• Fraca adesão do paciente à medicação
• Auto-medicação dos pacientes
36. • Sempre que possível, efectuar o diagnóstico etiológico e,
efectuar o tratamento específico com antibióticos de espectro
limitado
• Evitar o uso indiscriminado de antibióticos (por exemplo: para
tratar infecção viral)
• Uso de doses adequadas por período de tempo adequado para a
cura
• Garantir a adesão ao tratamento completo
• Prescrever antibióticos profiláticos quando for absolutamente
necessário
37. • Aconselhar aos pacientes para evitar a auto-medicação
• Observância das directrizes nacionais de tratamento
padronizado
• Prescrever terapias combinadas quando a doença assim o
exige, evitando prescrições de monoterapias nestes casos
• Controlar os prazos de validade dos antibióticos e garantir
uma conservação adequada dos mesmos
38. Definição: terapia combinada é aquela em que se usa
mais de um fármaco (antibiótico) para o combate de
determinada doença infecciosa, exemplo: o cotrimoxazol
(combinação de trimetropim e sulfametoxazol), coartem
(combinação de artemeter e lumefantrina).
Outro exemplo seria o tratamento da tuberculose que usa a
terapia combinada de rifampicina (R), isoniazida (H),
etambutol (E) e pirazinamida (Z) – HERZ sob a forma de
4DFC – 4 Doses Fixas Combinadas.
39. A terapia combinada pode exercer vários efeitos a saber:
• Indiferença – quando a acção combinada não se mostra
superior à obtida quando o fármaco mais eficaz é administrado
isoladamente
• Adição – quando a acção combinada é equivalente a soma das
acções de cada fármaco quando administrado isoladamente
• Sinergismo – quando a acção combinada é significativamente
superior a soma de ambos efeitos
• Antagonismo - quando a acção combinada é inferior à obtida
quando o fármaco mais eficaz é administrado isoladamente
40. Motivos para o uso de terapia combinada
• Atrasar o surgimento de resistência a um fármaco
• Tratar infecções mistas (polimicrobianas)
• Obter sinergismo bacteriano ou proporcionar acção
bactericida (ex: endocardite)
• Tratar imediatamente os pacientes em estado crítico, com
suspeita de doença infecciosa grave (ex: sepsis)
41.
42. Burton G, Engelkirk P. Microbiologia para as ciências de saúde. 7ª
Edição. Guanabara Koogan, Brasil; 2004.
Adelberg et al. Microbiologia médica. 24ª Edição. McGrawHill;
2009.
Barros E et al. Antimicrobianos. 4ª Edição. Artimed Editora, SA;
2008.