1) O documento discute conceitos importantes sobre antimicrobianos como antifúngicos, e descreve as classes de medicamentos usadas no tratamento de infecções fúngicas, incluindo anfotericina B e nistatina.
2) A resistência crescente de microrganismos é um problema, e o uso inadequado de medicamentos contribui para isso.
3) Existem diferentes tipos de tratamento antimicrobiano como empírico, preventivo e pós-exames.
1. FARMACOLOGIA – 28/07/2021
Antifúngicos
CONCEITOS IMPORTANTES
Na literatura mais antiga, antimicrobianos eram
relacionados apenas a antibacterianos
o As literaturas mais atuais englobam como
antimicrobianos o tratamento de
microrganismos causadores de doenças,
entram nessa classificação: antifúngicos,
antivirais, antiprotozoários, antihelminticos e
antibacterianos
Outro conceito importante é o de antibióticos
o Normalmente, as pessoas associam a
antibacterianos não é errado, apenas
incompleto
o São substâncias específicas: produzidas por
microrganismos que possuem a capacidade
de eliminar outros se não for produzida
por um microrganismo, não pode ser
chamada de antibiótico
o Penicilina é um exemplo clássico, uma vez que
ela é uma substância produzida por um fungo
que tem atividade contra bactérias
o Nem sempre os antibióticos terão atividade
apenas contra bactérias existem
substâncias antibióticas que apresentam
atividade antifúngica e antiviral, por exemplo
Na atualidade, observa-se uma resistência crescente
dos microrganismos, sobretudo, em relação às
práticas clínicas
o Não tomar o medicamento correto, na hora e
na dosagem correta
o Tudo isso corrobora para o surgimento de
uma SUPERBACTÉRIA
o Descarte indevido dos medicamentos também
é um fator contribuinte
O que se observa em alguns antibiogramas é a
presença de algumas bactérias, por exemplo, que não
são resolvidas com os medicamentos atuais disponíveis
o Não se sabe o que fazer com um paciente com
uma superbactéria (a qual não se tem
tratamento)
Existem 3 tipos de tratamento para antimicrobianos:
1. Empírico: paciente chega com todas as
características, sinais e sintomas de uma
infecção bacteriana, por exemplo
Tratamento é imediato, não dá
tempo de descobrir qual o
microrganismo em questão
Pode ser iniciado através do
resultado de um EAS (sumário de
urina)
Normalmente, a classe de
medicamentos utilizada apresenta
uma atividade que abrange uma
gama de microrganismos
medicamento escolhido tem uma
atividade ampla, servindo para
microrganismos diferentes
Outro caso é uma infecção urinária
com sangramento: por mais que os
exames sejam pedidos, não dá para
esperar pelos resultados para
poder começar a tratar o paciente
OBS.: o problema dos medicamentos de amplo espectro deixa o
paciente suscetível ao desenvolvimento de resistência, pois,
talvez não fosse necessário utilizar um medicamento de um
espectro tão alto medicamento passa a não fazer mais efeito,
sucessivamente, devido à resistência do microrganismo
CASO 1: quando o paciente está com uma dor de garganta, por
exemplo, ele procura o médico e toma a medicação
recomendada
Em um segundo momento que o episódio aconteça,
o paciente não irá mais procurar o médico, ele vai
comprar e tomar a medicação como recomendado
da última vez (pelo menos é o que acontece na
maioria dos casos)
CASO 2: médico receita amoxicilina 500mg, 12/12hrs, para ser
tomada durante 7 dias
Quando chega no 4º/5º dia, paciente começa a
apresentar melhoras e uma dor de barriga (efeito
adverso do remédio, o qual causa uma destruição da
flora), opta por parar o tratamento
2. 2. Prevenção: normalmente é feito quando o
paciente vai passar por uma grande cirurgia
Para que não ocorra um processo
infeccioso posterior
Pode causar resistência também
3. Pós-exames: através dos resultados de
cultura e antibiograma
Normalmente, quando o paciente
chega com características de uma
infecção, pede-se exames normais
(cultura, antibiograma, EAS...)
O problema é o tempo que se espera
pelos resultados, logo, trata o
paciente pelos sinais e sintomas
apresentados pede para o
paciente retornar quando tiver um
resultado
Quando se está tratando o paciente
e observa-se que o espectro do
medicamento não foi suficiente para
eliminar o microrganismo, tem-se a
certeza que o medicamento que vai
ser passado “agora” vai servir para
o que o paciente tem caso o
paciente retorne sem sinais ou
sintomas, significa que o
medicamento serviu
INTRODUÇÃO AOS ANTIFÚNGICOS
Tratamento de fungos é diferenciado quando se fala de
microrganismos
o Apresentam crescimento lento
o Ocorrência de infecções em tecidos de difícil
acesso: dificulta o processo de absorção do
medicamento
o Tempo de tratamento maior (15 dias até 1 ano
e meio): a maioria dos medicamentos
disponíveis mexem com o metabolismo do
paciente
A patogenia das infecções fúngicas baseia-se na inter-
relação entre o sistema imune do hospedeiro e a
patogenicidade do fungo
o Baixa de imunidade favorece o aparecimento
de infecções oportunistas
Fatores que contribuem para o aumento das infecções
fúngicas:
a. Uso de cateteres e/ou outros processos
invasivos
b. Uso de corticoides
c. Quimioterapia antineoplásica
d. Imunossupressores ou transplantes
e. Fatores externos: trabalho com sapato
fechado no sol, por exemplo
As infecções fúngicas podem ser classificadas em:
1. Infecções superficiais: pele, unhas, cabelos
e mucosas
Vários agentes envolvidos
“Molhou o cabelo, não pode
prender” cria um ambiente
propicio para o aparecimento de
fungos por ser um local quente e
úmido
2. Infecções sistêmicas: apresentam-se de
forma disseminada e podem ser
potencialmente fatais
Número limitado de agentes
3. Infecções oportunistas: causada por uma
baixa de imunidade
Tem-se observado um crescimento alto relacionado a
infecções de unhas
Está sendo associado à colocação de unhas
postiças
Processo de colocação das unhas remove a
camada superficial das unhas, criando portas de
entradas para microrganismos
A infecção acontece quando há uma perturbação
no sistema imunológico, alterando a simbiose
entre o sistema imune e os microrganismos
O ideal seria se ter 100% confiança no que se está trabalhando,
uma vez que, tendo essa confiança, não precisa se preocupar
com contaminação microbiana
Se não tem nenhum organismo causador de doenças
naquele ambiente/local, significa que a própria pele e
os microrganismos que estão no ambiente (nãoseriam
causadores de problemas) podem criar resistência
Pode ser que se tenham poucos microrganismos
causadores de doença no ambiente que não seriam
capazes de infeccionar ninguém. Porém, em algum
momento, depois que tiveram contato, eles se
multiplicaram e ganharam resistência não se pode
utilizar o mesmo medicamento de novo
O medicamento pode matar 99,9% dos
microrganismos, aquele 0,1% restante pode causar
problema
Uma única bactéria pode ser causadora de problemas
posteriores
Nem sempre omedicamento é ruim, as vezes é a forma
como o paciente utiliza-o
3. Pode causar problemas sistêmicos
Agentes mais comuns: Candida sp,
Cryptococcus sp., Aspergillus sp.,
Zygomycetes sp
Pode-se ter desde uma manchinha de pano branco até
uma paracoccidioidomicose
TRATAMENTO
Algumas classes são consideradas as principais para o
tratamento:
1. Inibidores da estabilidade da membrana
fúngica: anfotericina B e nistatina
2. Inibidores da síntese do ergosterol:
alilaminas sintéticas e derivados azólicos
Inibidores da estabilidade da membrana fúngica:
ANFOTERICINA B:
Medicamento desenvolvido em 1950, mas ainda tem um
potencial crescente
Apresenta uma estrutura grande, por isso, faz parte do
grupo de macrolídeos é um macrolídeo poliênico
Foi desenvolvida a partir de Streptomyces nodosus, ou
seja, é um antibiótico
Possui baixa lipossolubilidade
Apresenta seletividade ao ergosterol, um componente
da membrana fúngica tem uma afinidade 500x
maior pelo ergosterol, em comparação com o
colesterol significa que ela tem um alvo terapêutico
que é 500x mais seletivo no fungo que no ser humano
o Essa seletividade maior com o fungo garante
que não se tenha tanta toxicidade no ser
humano, através do seu mecanismo de ação
FARMACOCINÉTICA:
o Absorção: mal absorvida no TGI
o Uso parenteral: EV, intratecal, tópica,
intraocular e intra-articular
o Baixa LPP (lipossolubilidade)
o Baixa penetração no humor vítreo, LCR e
líquido amniótico
o Baixa metabolização
o Excreção: renal (em torno de 80%) e biliar
(em menor expressão)
Caso o paciente apresente uma meningite fúngica, vai
ser necessária a utilização de anfotericina B + outro
medicamento (que tenha uma interação um pouco
maior a nível do SNC)
De uma forma geral, os efeitos adversos são:
1. Nefrotoxicidade: alta taxa devido a sua
excreção renal
2. Hipocalemia e hipomagnesemia
3. Comprometimento da função hepática
4. Trombocitopenia
5. Reações sistêmicas imediatas: conhecido
como “tempestade de citocinas”
Paciente vai apresentar: febre,
calafrios, hipotensão, náuseas e
vômitos
Isso acontece com menos de 1%
dos pacientes
6. Distúrbios hematológicos: anemia
Ocorre a diminuição de produção e
liberação de eritropoietina
Muito raro
É por conta do efeitos adversos que a anfotericina B é
considerada tóxica
Medicamento de controle muito alto, sendo usado,
principalmente, para infecções graves e disseminadas
causadas por vários microrganismos
o Na maioria das vezes, esses microrganismos
são fungos por causa do ergosterol
Antifúngico e antiprotozoário (utilizado para o
tratamento de leishmaniose)
o Na superfície da leishmania tem-se uma
membrana com presença de ergosterol
utilizada por via parenteral também
FARMACODINÂMICA:
o Tem a capacidade de formar interações
hidrofóbicas com os esteróis da membrana
geralmente, acontece com a junção de
duas moléculas, onde a parte hidrofílica fica
“para fora”
o A junção de duas moléculas resulta na
formação de poros: ficam com a parte
hidrofílica livre passagem livre de água e
alguns elementos (sais minerais)
desequilíbrio hidroeletrolítico
4. o O desequilíbrio hidroeletrolítico causa lise no
fungo
Normalmente, esse medicamento é disponibilizado de
duas formas:
1. Desoxicolato: mais utilizada por ser mais
barato
2. Lipossomal: fica dentro de lipossomas
Faz com que a anfotericina B
diminuía em torno de 80% a sua
toxicidade
Todo o processo de distribuição,
metabolização e excreção são
facilitados pela presença da
substância nos lipossomas, fazendo
com que seja diminuído todo o
processo relacionado com a
toxicidade
É mais caro
NISTATINA:
Medicamento muito utilizado, principalmente, por
pacientes que estão passando por uma quimioterapia
antineoplásica
Também é um macrolídeo poliênico, desenvolvido a
partir do Streptomyces noursei
Apresenta o mesmo mecanismo de ação que
Anfotericina B
FARMACOCINÉTICA:
o Não éusada por via parenteral: alta toxicidade
o Pouco absorvida por via oral
o Efeito local no TGI
o Uso tópico
o Excreção fecal de forma inalterada
Medicamento de escolha para candidíase oral,
esofagiana, intestinal e infecções cutâneas por Candida
sp.
o O tratamento de candidíase oral é local, ou
seja, é um tratamento bucal medicamento
precisaentrar emcontato com toda amucosa
oral para que o microrganismo seja
erradicado (deve ser bochecho e gargarejo)
Quando o paciente está fazendo uso do medicamento
pela via oral, ele vai apresentar efeitos adversos
(náuseas, vômitos e diarreia)
o A dosagem que deveria ser distribuída por
toda a mucosa e o esôfago, o paciente está
tomando (dosagem alta)
No caso de um uso tópico, o efeito adverso que o
paciente pode apresentar é uma dermatite
Inibidores da síntese do ergosterol: atuam na mesma via, mas
em locais diferentes
TERBINAFINA:
Atua inibindo a enzima esqualeno epoxidase, no meio da
síntese
o Não se tem mais a síntese de ergosterol no
fim
o Vai haver acúmulo de esqualeno e não haverá
a formação de ergosterol
o Sem ergosterol, sem formação de membrana
fúngica
o Atua diretamente no processo de
multiplicação fúngica
Uso tópico e por via oral (VO)
Indicado para dermatofitoses cutâneas e onicomicose
o Atuação apenas em fungos de unha, pele e
cabelos
Boa absorção: é extremamente lipofílica
Metabolizado no fígado
Excretado pela urina
Contraindicado para: gestantes, pacientes com
insuficiência renal e hepática
Efeitos adversos:
o Baixa incidência de desconforto do TGI
o Cefaleia
o Prurido
o Erupções cutâneas
o Tontura
o Dores articulares
o Hepatotoxicidade
5. DERIVADOS AZÓLICOS (AZÓIS):
Atuam inibindo aenzima 14α-ergosteroldesmetilase, no
fim da síntese
o Leva ao acúmulo de 14α-metilesteróis
o Vai haver desagregação dos fosfolipídeos,
comprometendo as funções enzimáticas
ligadas a membrana
o Essa desagregação inibe o crescimento do
fungo
São divididos em dois grupos:
1. Imidazóis: cetoconazol e miconazol
2. Triazóis: fluconazol e itraconazol
Apesar da divisão, apresentam o mesmo mecanismo de
ação
Cetoconazol e fluconazol apresentam as maiores
atividade de seus grupos, além de serem os mais
antigos
Miconazol e clotrimazol possuem uma via de
administração tópica
o Sua atividade está mais relacionada com
micoses superficiais
o Normalmente, o efeito deles é para esse tipo
de dermatofitose
o Tem atuação boa
Itraconazol tem ação tópica, mas é utilizado por via
oral
o Atividade boa relacionada a infecções
superficiais e infecções de TGI
o Absorção ainda não é 100% absorção
errônea devido a um processo de
lipossolubilidade
o Em alguns casos, pode ser administrado por
via endovenosa para facilitar o processo de
absorção errônea dosagem específica
CETOCONAZOL:
o Protótipo da classe: criado em 1977
o A partir dele foram desenvolvidos os outros
fármacos da classe
o Mecanismo de ação: evitar a conversão de
lanosterol a ergosterol, através da inibição da
enzima 14α-ergosterol desmetilase (O MESMO
PARA TODOS OS FÁRMACOS DO GRUPO)
FARMACOCINÉTICA:
o Administração VO e tópica
o Absorção em ambiente ácido se o
medicamento não é absorvido, por alguma
alteração de pH, não faz efeito
o Ampla distribuição por todos os tecidos e
líquidos teciduais
o Não atinge concentrações terapêuticas no
SNC
o Excretado na bile e urina
EFEITOS ADVERSOS:
o Náuseas, vômitos, anorexia e dor abdominal
em (10-20% dos casos)
o Prurido (2% dos casos)
o Exantema alérgico (4-10% dos casos)
o Toxicidade hepática
o Alterações endócrinas: irregularidade
menstrual, ginecomastia, diminuição do libido,
impotência e oligospermia
INDICAÇÕES:
a. Blastomicose
b. Histoplasmose
c. Coccidioidomicose
d. Paracoccidioidomicose
e. Dermatofitoses
f. Tínea versicolor
g. Candidíase mucocutânea
h. Vulvovaginite por candida
i. Candidíase oral ou esofagiana
FLUCONAZOL:
FARMACOCINÉTICA:
o Administração VO ou EV aumento de pH
podem dificultar o processo de absorção
o Biodisponibilidade acima de 90%
o Ampla distribuição nos tecidos, bem como no
LCR, olhos, tecido vaginal, pele, unhas e saliva
o Excreção renal
EFEITOS ADVERSOS:
o Náuseas
o Vômitos
o Cefaleias
o Exantema
o Alopecia reversível (por VO)
6. o Stevens-Johnson
INDICAÇÕES:
o Candidíase sistêmica
o Meningites: criptocócica ou por coccídeos
o Prevenção de infecções fúngicas em
pacientes submetidos a transplante de
medula óssea tratamento de prevenção
o Ineficaz no tratamento de aspergilose