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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                             84
              (Corresponde ao quinto tópico do Capítulo 10,
                 intitulado Mundos-bebês em gestação)




    Afinal, redes são apenas (múltiplos) caminhos

“Ah, sim, isso é evidentemente óbvio”

De que transição se trata? Da transição da organização hierárquica para a
organização em rede (entendendo-se por isso, a rigor, o aumento dos graus
de distribuição-conectividade).

Transição evoca caminho. Mas não existe um caminho, em primeiro lugar,
porque os caminhos são múltiplos (aliás, rede é, por definição, múltiplos
caminhos).
Mas também não existe caminho para se chegar a um padrão de rede, em
segundo lugar, porque a maneira de ter +rede é tendo +distribuição. Em
outras palavras: a rede é o caminho! Não é possível chegar às redes a não
ser pelas redes.

Mohandas Ghandi disse certa vez que "não existe caminho para a paz: a
paz é o caminho". John Dewey, antes de Ghandi – e Amartya Sen, muito
depois – já haviam sugerido que não existe caminho para a democracia a
não ser a própria democracia. Com as redes é a mesma coisa: 'não existe
caminho para as redes: as redes são o caminho'. A paráfrase não é apenas
literária. Há uma relação intrínseca entre essas realidades processuais –
paz, democracia e redes: na verdade não há paz, senão +pazeamento; e
não há democracia, senão +democratização; e não há redes, senão
+enredamento ou +reticulação ou, ainda, +distribuição.

Entendida assim, processualmente, a problemática da transição deixa-se
ver sob nova luz. Trata-se de aumentar os graus de distribuição-
conectividade na rede social conformada pelas pessoas afetadas, de algum
modo, pela vida orgânica: não só os empregados e os gestores, mas
também os donos ou acionistas, os fornecedores, os clientes, usuários ou
consumidores e todas as outras pessoas concernidas na atividade da
organização (os chamados stakeholders, lato sensu).

Qual é a novidade aqui? A novidade é a seguinte: isso tem que ser feito
agora, não depois. Não pode haver uma transição para uma organização em
rede mantendo-se intocado o padrão centralizado atual (+centralizado do
que distribuído, entenda-se) em nome de um futuro padrão de rede
(+distribuído do que centralizado). Essa é a desculpa para não mexer nos
graus de centralização e é por isso que uma transição assim não costuma
dar certo.

Na transição não existe o futuro a não ser na medida em que o
antecipamos. Se não anteciparmos padrões de rede, nunca teremos um
futuro de rede. Se queremos chegar às redes, temos que começar, aqui-e-
agora, a fazer redes; quer dizer: netweaving. A rede é o caminho!

Mas como fazer redes? Não há um guia, um verdadeiro how-to. Por isso,
fuja dos receituários. Todos esses receituários contemporâneos que
pretendem ensinar a fazer redes, em geral não servem porque confundem
redes sociais com midias sociais. Então elencam 5 passos, recomendam 10
medidas, sugerem 15 procedimentos, dão 20 dicas para você usar melhor
(?) o seu blog ou alguma plataforma interativa da moda como o Twitter e o
Facebook. Mas não falam nada sobre seus encontros com seus amigos na



                                   2
sua casa, nos restaurantes, nas festas, nos seus locais de estudo e
trabalho. Ou seja, não falam das redes sociais propriamente ditas.

Para aprender, você tem que começar a fazer. Começar conversando, no
mínimo, com outras duas pessoas (que não podem estar acima nem abaixo
de você em qualquer sentido). Depois você vai ver o que acontece. O
essencial é que você não mande em ninguém, nem obedeça a alguém.

Só redes podem gerar redes. Os que querem assumir o papel de agentes,
indutores, facilitadores, promotores da mudança, não poderão fazer nada se
eles mesmos não se organizarem em rede (ou seja, de modo +distribuído
do que centralizado). Esta é uma daquelas argumentações evidentes por si
mesmas, das quais falava Wittgenstein (1931) em conversa com Friedrich
Waismann – e narrada por este último em Ludwig Wittgenstein and the
Vienna Circle (1979) – que seriam capazes de provocar no interlocutor uma
reação do tipo: "Ah, sim, isso é evidentemente óbvio" (12).




                                    3
Nota

(12) WAISMANN, Friedrich (1979). Ludwig Wittgenstein and the Vienna Circle. New
York: Routledge, 2003.




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  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 84 (Corresponde ao quinto tópico do Capítulo 10, intitulado Mundos-bebês em gestação) Afinal, redes são apenas (múltiplos) caminhos “Ah, sim, isso é evidentemente óbvio” De que transição se trata? Da transição da organização hierárquica para a organização em rede (entendendo-se por isso, a rigor, o aumento dos graus de distribuição-conectividade). Transição evoca caminho. Mas não existe um caminho, em primeiro lugar, porque os caminhos são múltiplos (aliás, rede é, por definição, múltiplos caminhos).
  • 2. Mas também não existe caminho para se chegar a um padrão de rede, em segundo lugar, porque a maneira de ter +rede é tendo +distribuição. Em outras palavras: a rede é o caminho! Não é possível chegar às redes a não ser pelas redes. Mohandas Ghandi disse certa vez que "não existe caminho para a paz: a paz é o caminho". John Dewey, antes de Ghandi – e Amartya Sen, muito depois – já haviam sugerido que não existe caminho para a democracia a não ser a própria democracia. Com as redes é a mesma coisa: 'não existe caminho para as redes: as redes são o caminho'. A paráfrase não é apenas literária. Há uma relação intrínseca entre essas realidades processuais – paz, democracia e redes: na verdade não há paz, senão +pazeamento; e não há democracia, senão +democratização; e não há redes, senão +enredamento ou +reticulação ou, ainda, +distribuição. Entendida assim, processualmente, a problemática da transição deixa-se ver sob nova luz. Trata-se de aumentar os graus de distribuição- conectividade na rede social conformada pelas pessoas afetadas, de algum modo, pela vida orgânica: não só os empregados e os gestores, mas também os donos ou acionistas, os fornecedores, os clientes, usuários ou consumidores e todas as outras pessoas concernidas na atividade da organização (os chamados stakeholders, lato sensu). Qual é a novidade aqui? A novidade é a seguinte: isso tem que ser feito agora, não depois. Não pode haver uma transição para uma organização em rede mantendo-se intocado o padrão centralizado atual (+centralizado do que distribuído, entenda-se) em nome de um futuro padrão de rede (+distribuído do que centralizado). Essa é a desculpa para não mexer nos graus de centralização e é por isso que uma transição assim não costuma dar certo. Na transição não existe o futuro a não ser na medida em que o antecipamos. Se não anteciparmos padrões de rede, nunca teremos um futuro de rede. Se queremos chegar às redes, temos que começar, aqui-e- agora, a fazer redes; quer dizer: netweaving. A rede é o caminho! Mas como fazer redes? Não há um guia, um verdadeiro how-to. Por isso, fuja dos receituários. Todos esses receituários contemporâneos que pretendem ensinar a fazer redes, em geral não servem porque confundem redes sociais com midias sociais. Então elencam 5 passos, recomendam 10 medidas, sugerem 15 procedimentos, dão 20 dicas para você usar melhor (?) o seu blog ou alguma plataforma interativa da moda como o Twitter e o Facebook. Mas não falam nada sobre seus encontros com seus amigos na 2
  • 3. sua casa, nos restaurantes, nas festas, nos seus locais de estudo e trabalho. Ou seja, não falam das redes sociais propriamente ditas. Para aprender, você tem que começar a fazer. Começar conversando, no mínimo, com outras duas pessoas (que não podem estar acima nem abaixo de você em qualquer sentido). Depois você vai ver o que acontece. O essencial é que você não mande em ninguém, nem obedeça a alguém. Só redes podem gerar redes. Os que querem assumir o papel de agentes, indutores, facilitadores, promotores da mudança, não poderão fazer nada se eles mesmos não se organizarem em rede (ou seja, de modo +distribuído do que centralizado). Esta é uma daquelas argumentações evidentes por si mesmas, das quais falava Wittgenstein (1931) em conversa com Friedrich Waismann – e narrada por este último em Ludwig Wittgenstein and the Vienna Circle (1979) – que seriam capazes de provocar no interlocutor uma reação do tipo: "Ah, sim, isso é evidentemente óbvio" (12). 3
  • 4. Nota (12) WAISMANN, Friedrich (1979). Ludwig Wittgenstein and the Vienna Circle. New York: Routledge, 2003. 4