SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 14
Subsídio para o conhecimento da flora económica da

                                     Guiné



   Algumas plantas tintoriais

     lsatis tinctoria LINN:




       lsatis tinctoria

Crucífera produtora do celebrado pastel dos tintureiros (espécie outrora
intensamente cultivada na Europa) foi até o último quartel do século XVIlI
inimiga irreconciliável das plantas tinturiais asiáticas, africanas e americanas; a
protecção e propaganda organizadas em quase todos os países europeus a
favor daquela e contra estas levaram a chamar tinta do diabo a droga
proveniente de várias espécies do género Indigofera.
   A Holanda, que então figurava como a principal importadora do indigo de
procedência oriental, deixou de o ser a partir do século XVII como medida de
protecção à Isatis.
   Na Alemanha, iguais medidas foram tomadas; na Inglaterra foram
destruídos os produtos já armazenados.
   «Em Nuremberga os magistrados obrigavam os tintureiros a prestar
anualmente juramento de que não empregariam o indigo. Em França, de 1598
a 1737, o uso do anil foi interdito a fim de proteger os produtores de
pastel». (1)
     Só mais tarde; já nos fins do século XVIII ou pouco depois, é que aos
tintureiros foi facultado preferir as tintas a utilizar na laboração das suas
indústrias. A partir desta época, a cultura do anileiro tomou certo
incremento, principalmente na América Central e Índia, cujos produtos
afluíam aos mercados conjuntamente com as matérias primas congéneres
das plantas cultivadas e, sobretudo, das espécies espontâneas da Africa
Tropical e Subtropical.
      Não há dúvida que os aborígenes da Senegâmbia e Guiné conheciam
de há· muito o uso do indigo ou, ao que parece, receberam dos maometa-
nos, desde um período bastante recuado, a arte de extracção e aplicação
deste produto.
      «André Alvares de Almada - escreve FICALHO - que percorreu os rios
da Guiné a partir de 1566 fala dos panos de algodão brancos e pretos que
usavam os jalofos e mandingas, diz que os tintos são tão finos que cegam
os que vêem e explica detidamente o processo empregado na extracção da
tintas» (2).
      Sabe-se que o conhecimento da técnica da extracção e o modo de
utilização do anil passou da Guiné para o arquipélago de Cabo Verde,
onde, diga-se de passagem, por certo prosperou a ponto de haver pro-
movido, nas ilhas de Santo Antão e São Tiago, a instalação de fábricas
para a sua industrialização; sabe-se também que essas fábricas se encon-
travam em completa ruina, por falta de actuação técnica eficiente, no fim do
século passado.
      «Hoje - escreve FICALHo em 1884 - a extracção da tinta e sua
aplicação acham-se nas ilhas de Cabo Verde entregues à pequena indús-
tria caseira, que pelos mais rudimentares e imperfeitos processos consegue
no entanto tingir com certa perícia e graça os panos de lei, de agulha,
                 *
galans, etc.s (3).
      Nessa luta desigual da Isatis contra a Indigofera ambas foram feridas de
morte com os porfiados trabalhos de HEUMAN baseados na síntese da
indigotina realizada por BAYER (4) em 1878. De então para cá, com os
aperfeiçoamentos incessantes da técnica de produção, o anil sintético tem
tomado dia a dia vulto de tal sorte que hoje o anil natural só de longe em longe
intervém como droga medicamentosa.
      Entretanto, as plantas tinturiais cultivadas, ruderais e espontâneas dos
géneros Indiqofera e Lonchocorpus, principalmente deste último, ainda
representam na indústria caseira indígena um apreciável valor económico.
      É curioso notar-se, ainda que pareça estranho, que os anileiros «as
arvorezinhas» de que nos fala ANDRÉ ÁLVARES DE ALMADA (5) se acham
hoje confinados num aro de utilidades bem restrictas; ou porque a extracção da
tinta da lndigofera tivesse caído em desuso, ou porque fosse preferida a lei de
menor esforço pela adopção da colheita de produtos espontâneos de
Lonchocarpus (tinta grande), os indígenas falam da Indigofera (tinta pequena)
como coisa dos «tempos idos», de utilidade meramente aparente.
     Seja como for, parece que os factos até agora observados nos conduzem
naturalmente à ilacção de que as plantas produtoras do indigo-cârre, baludo,
banhepe, banô cárô e gara (6) - respectivamente dos balantas, brames,
manjacos, papeis, mandingas e fulas - se acham representadas na Colónia por
algumas espécies já determinadas. Todavia, é sobretudo a espécie indígena
arrecta que, largamente disseminada, quer no estado de cultura em alguns
quintais indígenas, quer no estado espontâneo e ruderal nas clareiras florestais
e nos terrenos abandonados, parece mais comum a oeste do rio Corubal.
    O indigo que, sem dúvida, animou durante um largo período uma corrente
comercial relativamente importante, não só provinha da espécie indígena já
conhecida, como também das exóticas tinctoria e suffruticosa, oriundas da
índia Ocidental e da América. Sabe-se que estas duas últimas espécies se
acham hoje verdadeiramente indigenatadas, tendo a asiática vindo através do
Sudão com os maometanos e sendo a americana provavelmente introduzida
pelos portugueses no decurso do século XVI e seguintes, com a corrente de
navegação então estabelecida entre o continente americano e a África
Ocidental.
      Com efeito, essa dupla corrente que, do Sudão e da América, se dirigia
para o litoral atlântico africano, foi sobremodo operosa na introdução de plantas
úteis no aro das culturas autóctones.
      Não obstante a vultosa produção de anilinas, o produto tinturial do
Lonchocorpus, que hoje francamente sobrepuja aos da lndigofera, e ainda para
os indígenas um apreciável recurso económico.
      O Lonchocarpus cyanescens, planta espontânea com uma vasta área de
dispersão, ocupa os territórios das Circunscrições Civis de Catió e Fulacunda,
e corre ao longo das margens do rio Corubal até às terras altas do Boé,
oferecendo aos aborígenes matéria prima para a produção de belos tintos, de
que ainda hoje nos admiramos, e alimenta de pães de folhas, simplesmente
piladas, um pequeno comércio que os cota à razão de 10$00 por quilograma.


                                       *
      A flora económica da Guiné foi, logo após os descobrimentos, objecto de
detidas informações e estudos por quantos a percorreram, observações e
estudos que eram tanto mais detalhados quanto mais se desdobrava em
valiosos produtos comerciáveis. É, porém, supérfluo notar que tais estudos
informativos vinham por vezes tão minuciosos que esclareciam as
determinações de espécies botânicas imperfeitamente conhecidas.
      «O principal resgate deste rio (7) - escreve ANDRÉ ÁLVARES DE
ALMADA - são tintas, como as da Costa de que já tratámos no 1º Capítulo (8)
que se fazem do mesmo modo de que se faz o verdadeiro anil; estas deste Rio
são diferentes porque são árvores como hera, e vão trepando pelas outras
árvores, e têm as folhas largas. E os negros, no tempo, apanhão estas folhas e
as pisão, e fazem huns pães como de açúcar, assim grandes, enfolhados com
as folhas de cabopa (9) e vem os nossos navios carregarem - se destas tintas,
que he huma grande trato, para o Rio de S. Domingos».
      Com este curioso documento, ANDRÉ ALVARES DE ALMADA dá ao
mundo a primeira notícia acerca do Lonchocarpus cyanescens e sua utilização;
e, neste particular, muitos outros exemplos poderia citar no tocante a plantas
úteis assinaladas nos escritos clássicos portugueses, se me não assaltasse o
receio de tornar demasiadamente longa esta ligeira nótula.
      E, todavia, não resisto à tentação de aqui anotar que são também dele as
primeiras notícias concernentes à técnica de extracção e aplicação do indigo
relativamente à África. É, porém, de certo modo singular reparar que o método
de confecção da tinta, então noticiado (10), não corresponde aos processos
actuais empregados pelos indígenas; ou porque tivesse evoluído a prática de
extracção e utilização ou porque fosse mal interpretada a técnica do fabrico, o
que é verdade é que os aborígenes, principalmente os fulas e futa-fulas,
operam, independentemente da espécie, sobre folhas novas que são
apanhadas de Abril a Junho e de Novembro a Dezembro, isto é, nas duas
épocas em que, para o Lonchocarpus, se realiza o fenómeno de rebentação
folhear.
     Estas folhas frescas e tenras são reduzidas, em almofariz de madeira, a
uma massa grosseira que é imediatamente transformada em bolas de tamanho
de punho; depois de sujeitas a secagem, estas bolas são acondicionadas em
cestos ou atados. Em devido tempo, o indigo assim preparado é
convenientemente humedecido, e depois amontoado em folhas de manganaz
(11), onde sofre durante três dias uma primeira fermentação. Procede-se, em
seguida, à redução da massa a uma fina polpa, que é também submetida a
secagem; nesta altura o produto está pronto a ser lançado em grandes
recepientes com água, operação que corresponde a uma das fases da
confecção da tintura.
      Para a preparação de 100 litros de tinta, lançam-se, num recipiente de
200 litros, 10 quilogramas de folhas piladas, 60 litros de água, 40 litros de
infusão de raiz de uanda (12) e 2,5 quilogramas de cinza, de preferência de
poilão (13) ou de colabaceira (14). Esta calda, que é de início bem agitada,
deixa-se em repouso durante 3 ou 5 dias, se a laboração se realiza na época
seca ou das chuvas, respectivamente. Esta operação, a que chamam cozer a
tinta, corresponde à última fase de fermentação.
     Com efeito, a fermentação bem conduzida, quer se opere sobre Lon-
chocarpus, quer sobre lndigofera, proporciona o desenvolvimento dos
elementos actuantes de tal modo que permite as necessárias transformações.
     Segundo DALZIEL (15), o elemento básico indol encontra-se em com-
binação nas folhas, bem como o glicosídeo indican - um composto de glucose
e indoxyl. Na fermentação, o indoxyl é liberto do açúcar e, pela sua oxidação,
operada com agitação do líquido, produz a verdadeira substância azul,
indigotina - indigo azul - assim como indirubina, - indigo   vermelho.    .
     Estas duas substâncias - azul e vermelho - ainda que isómeras, não se
formam simultâneamente; segundo as condições do trabalho, obter-se-á uma
ou outra. Se a oxidação se opera lentamente num meio ácido produz
indirubina; se, pelo contrário, ela se realizar rapidamente num meio alcalino, o
resultado será indigotina.
     «A fermentação das folhas é o resultado da acção de enzimas; o calor
acelera-a, mas a temperatura de água em ebulição destrói quaisquer
substâncias capazes de produzir azul pela oxidação». Decorrido o período da
fermentação - cozedura -, a tinta apresenta-se de cor verde ou amarelada e
com desagradável e característico cheiro; nesta altura ela está pronta para ser
utilizada depois de agitada fortemente.
     O tecido a tingir sofre alternadamente imersões e exposições ao ar até
tomar a cor desejada.
     Os tintureiros ou antes, as tintureiras, afirmam que quando os tintos se
apresentam de cor baça é prova de que se utilizou na preparação da tinta
folhas velhas, ou a fermentação se operou em condições pouco favoráveis.
    O líquido resultante do cozimento da raiz de uanda é empregado com o
objectivo de não só reforçar o poder tinturial da droga, como ainda o de
pretender tintos brilhantes. Os tintureiros não explicam o motivo porque utilizam
a cinza; todavia, os factos anotados conduzem-nos naturalmente a conjecturar
que a cinza deve actuar com o fim de neutralizar o meio ácido nascente da
própria natureza das folhas e, consequentemente, proporcionar à fermentação
um ambiente alcalino propício à produção da indigotina.
      Não se conhecem cientificamente os efeitos da actuação da infusão de
uanda.
     O indigo moldado em cubos com auxílio de pequenas quantidades de
goma, pode ser obtido nas cubas de decantação nas quais se lança, às vezes,
água de cal para activar a precipitação de indigotina, que é insolúvel na água.
Na tinturaria mais aperfeiçoada, o indigo precipitado é transformado pela acção
de um alcali em anil branco solúvel e dá uma solução esverdeada. O· tecido
nela mergulhado e exposto ao ar faz-se azul com a reversão do indigo branco
em indigo azul pela oxidação.
      O anil africano assim preparado possue a seguinte composição: (15)
      Humidade - 4,8%
      Cinza - 31,3%
      Indigotina - 27,5 %
      Indirubina - 1,5%
      A percentagem de indigotina que pelo processo vulgar é de 2,50 %
aproximadamente, do peso da massa vegetal, poderá ser muito aumentada
quando a fermentação e oxidação forem bem conduzidas.
      Para o Lonchocarpus cyanescens está calculado que 100 quilogramas de
folhas frescas podem produzir 67,80 a 2232 gramas de indigo, com uma
percentagem de indigotina superior a 43 %; porém, esta percentagem pode
atingir 56 % quando a colheita das folhas naturalmente coincidir com a época
de maior concentração da droga nelas contida.
     COVIAU, citado por DALZIEL (16) sugere que, tratando-se do Lon-
chocarpus, a apanha das folhas deverá ser feita na altura da floração.
     Esta ligeira notícia pretende chamar a atenção daqueles que, dispondo de
meios e tempo, queiram contribuir com o seu saber para a ocupação científica
das Colónias Portuguesas.
      Seria interessante, quer sob o ponto de vista puramente científico, quer
sob o ponto de vista da economia indígena, proceder a investigações
exaustivas das espécies tinturiais da Colónia.
      Sem a pretensão de haver acertado neste complexo problema de ta-
xionomia botânica, passo à diagnose das plantas aqui referidas - Indiqofera e
Lonchocarpus - baseada, principalmente, nos materiais do meu herbário
particular.


                                          *
      lndigofera - LINN - Flores zigomórficas dispostas em espigas axilares,
racimos ou em capítulos pedunculados; sepalas 5; corola papilionácea com
5 pétalas de estivação imbricativa; estames diadelfos - 9 aderentes e um
livre - com os filetes não dilatados no cimo; estilete ligeiramente curvo e
estigma pequeno capitado; anteras uniformes, apiculadas; frutos
deiscentes, afectando diversas formas, mas, em geral, linear sub-roliça ou
sub-quadrangular e, de ordinário, polispérmicos; plantas anuais prostradas
ou arbustos perenes com folhas compostas, imparipinuladas; folíolos de
ordinário inteiros estipulados.
     A) Frutos distintamente falciformes, finamente pubescentes, de cerca
de 2 cm. de comp., reflexos; folhas com cerca de 5-6 pares de foliolos mais
ou menos oblanciolados, finamente pubescentes, medindo 2-3,5 cm. de
comp., mucronados; racimos axilares muito mais curtos do que as folhas;
flores vermelhas; arbusto de 1,60 - 2 m. cultivado ou nos lugares ruderais
       Indiqofera suffruticosa - MILL.




      B) Frutos subcilíndricos de 2-2,5 cm. de comp., glabracentes; folhas
compostas de 5-8 pares de foliolos estreitamente oblanciolados, de 2-3 cm.
de comp., pubescentes; racimios mais curtos do que as folhas; flores ver-
melhas; ramos de cor cinzenta, sulcados, pubescentes; arbusto de 1-2 m.
cultivado nos quintais, no estado espontâneo nas clareiras florestais e
lugares ruderais lndigofera arrecta-HOCHST.




     C) Frutos rectos ou ligeiramente curvos de 3,5 cm. de comp., ligei-
ramente pubescentes folhas com 4-7 pares de foliolos obvados, de cerca
de 2 cm. de comp., glaucos ou azulados, mais ou menos truncados e mu-
cronados; flores palidamente vermelhas; arbustos de 1,60 m. cultivado e
nos lugares ruderais    lndigofera tinctoria - LINN.
*
   Lonchocarpus - H. B. & K. - Flores papilionáceas, hermafroditas, dispostas
em panículas na extremidade dos ramos novos; ramificações de panículas
curtas; cálice levemente lobolado e exteriormente pubescente; corola com o
estandarte unguiculado e largamente emarginado no ápice; estames 10,
monodelfos; estilete curvo com estigma terminal; frutos - vagens - de 1-5
sementes, comprimidos, glabros, reticulados e com as sementes distintamente
proeminentes. Folhas compostas de 4-5 pares de foliolos ovados ou elípticos,
curtamente acuminados, medindo 16 cem.. de comp. por 8 cm. de larg.,
glabros. Arbusto sarmentoso ou robusta liana de 8-15 m. e mais altura. Flores;
asas rosadas e o estandarte maculado de azul
   Lonchocorpus cyanescens - BENT.




       NOTAS:
       (1) H. A. NICHOLS & E. RAOUL-Petit Traité d'Agriculture Tropicale- pág. 322. Paris. 1895
       (2) CONDE DF. FICALHO- Plantas Úteis da A/rica Portuguesa Lisboa. 1884.
       (3) Loc. cit. pág. 130.
       (4) L. PLANCHON, P. BRETIN e P. MANOCEAU - Précis de Matière MédicaleTome II. pág. 902.
Paris. 1937.

       (5) Tratado Breve dos Rios de Guiné e de Cabo Verde -1594-ed.1841. Porto.

       (6) Alguns nomes vernáculos da lndigofera; Cárô em Biafada-Empada; banhube=anil,

banhebe=anileiro na ilha de Pecixe; córô-messem-ô e carandim-ô = tinta pequena, em mandinga; gara-

tcileudo=tinta pequena, em fula.

       (7) Rio Nuno - ANDRÉ ÁLVARES DE ALMDA - Loc. cit. pág. 69.

       (8) É capítulo 2.°.

       (9) Cabopa é o nome vernáculo da Mitragyna stipulosa O. KUNTZE.

       (10) Recolhe-se somente aquella quantidade que se ha de fazer naquelle dia, porque tanto que

seccão as folhas não prestãm para isto: e aquelles pelouros feitos fazem a tinta com que tingem os seus

panos, os quais, como fica dito, são mui formosos e tão tintos que ficão parecendo setins. - ANDRÉ

ÁLVARES DE ALMADALoc. cito pág. 13.

       (11) Manganaz é o nome vernáculo da lcacina seneqalensis A. ]USS.
       (12) Uanda é o nome vernáculo da .Marinda geminata D. C. .
(13) Poilão é o nome vernáculo da Ceiba pentandra, GAERTIl;.

(14) Calobaceira é o nome vernáculo da Adansonia digiJata LINN.

(15) TIIc Usejul Plants 01 Wcsl Tropical A/rica by J. M. DALZIEL, pág.2~. -1937. Londres.

(16) DALZIEL-Loc. cit. pág. 245

(17) Loc, cito pág. 249.



                                                                            J. Espírito Santo
J. Espírito Santo




   (

   ,
      (1) H. A. ~ICHOLLS & E. RAOUL-Petit Traité d'Agriculture Tropicale-«
pág. 322. Paris. 189i
   (2) CONDE DF. FICALHO- Plantas fIteis da A/rica Portuguesa - Lisboa.
1884. (3) Loc. cit. pág. 130.



   Flora
   GmlES E SOUSA (29) agrupa as plantas da Guiné em:
       1.0) povoamentos sempre verdes, divididos em: a) povoamentos sempre
verdes das águas salgadas (mangais); b) povoamentos sempre verdes das
águas doces (galerias florestais); e c) povoamentos sempre verdes dos
terrenos secos (palmares de Elaeis guineensis e de Borassus flabellifer) ;
     iO) povoamentos de folha caduca, compreendendo os povoamentos: a)
com dominância de malváceas, em particular Ceiba pentandra, na zona coteira;
b) com dominância de leguminosas (Parkia biglobosa, Daniellia thurifera e
Albizzia spp.); c) sem dominância definida (Khaya seneçolensis, Pycnanthus
Kombo, Xylopsia aethiopico, Terminalia macroptera, etc.).
     Segundo EsPÍRITO SANTO (2), embora esteja ainda por fazer o estudo
da distribuição das manchas de vegetação, relativamente à sua fisionomia, nas
diferentes regiões fitogeográficas da Colónia podem, de uma maneira geral,
considerar-se os seguintes tipos fisionómicos :
   I.") floresta hidrófila, 2.°) floresta mesófila, 3.°) floresta xerôjila,
   4.°) mato aberto serõjilo, 5.°) capinais .
   •
   Floresta hidrófila. - Abrange toda a vegetação que acompanha os
   cursos de água doce ou salgada, e as depressões de terreno, com
excepção . das lalas e bolanhas. Fazem parte desta formação os mangais (3)',
que
    (1) Citado por CURASSON (1).
    (2) ]. V. G. EspiRITO SANTO - Comunicação pessoal.
       (3) No crioulo da Guiné, os mangais são impropriamente designados por
tarrafes, devido à sua semelhança com o verdadeiro tarrofe (Tamarix gal/ice),
muito abundante nas costas caboverdeanas.
   constituem as galerias florestais dos solos salgados, e as galerias florestais
dos solos não salgados.
     O primeiro estrato de vegetação dos mangais é representado pelas
espécies Rhizophora racemosa e Avicennia nítida, seguidas de um segundo
estrato de Laguncularia racemosa. Disseminadas nos terrenos mais ou menos
impregnados de sal marinho ou simplesmente influenciados pela água salgada,
encontramos as seguintes espécies: Conocorpus erectus, Termina/ia scutifero,
Phoenix reclinoto, Ecastaphillum Broumei, Drepenocarpus lunatus. Existe um
último estrato desta formação, formado de plantas herbáceas, umas
localizadas nos terrenos leves e areentos (C allavalia ohtusifolia, Ipomoea
stolonifero, Thelanthero marítima), outras nos terrenos fortes e húmidos
(Sesuvium portulacastrum, Phdoxerus uermiculotus, Banisteria leona e
Brachyspteris ovata).
     Nas galerias florestais dos solos não salgados, aparecem os seguintes
tipos: Elaeis guineensis, a palmeira do azeite; Parinari excelso, o mampataz;
Picnanthus Kombo, em crioulo de S. Tomé pau-caixão; Antiaris africana, o pau-
bicho branco; Kloinedox« gabotlensis, em beafada bissarnbaná; lrvinja
gabunensis, em sosso cofé; Anihostema seneqalensis, em fula. bufena;
Pentaclethro macrophila, em crioulo de .S. Tomé rnuandim, etc.
      Floresta mesôfila. - Caracteriza-se pelo seu duplo aspecto fisionómico em
relação com a estação em que é observada, apresentando na época das
chuvas o aspecto de floresta pluviosa, e no tempo seco o de floresta clara (sub-
xerófila). Fazem parte desta formação: Ceibo pentondro, o poilão; Khaya
seneqalensis, o bissilão; Erithrophleum guineense. o mancone; Chlorophora
excelso, o pau-bicho; Sterculia troçocamo, a rnanjanja; Alstonia conqensis, a
tagara; Albizzia sasso, a farroba de laia, etc.
      Floresta xerófila. - Caracteriza-se pelos tipos biológicos de· folhas
caducas, formados por ávores e arbustos dispersos, com intervalos povoados
por grarníneas. As plantas que entram na floresta xerófila compreendem:
Parinari macrophyla, o mampataz grande; Bombax buonopoeense, o poilão
forro; Parkia biqloboso, a farroba : Terminalia macroptero, o macete; Pterocarpus
erinaceus, o pau-sangue; Daniellio thurífera. o pau-incenso; Erithrophleum
africcnus, em fula péli; Oxytenathera abyssinica, o barnbú; Prosopis africana, o
pau-carvão; Dicbrostachys glomerata, em fula tchide; Acacia albido, Acacia
machrostachya e Acacia seneqal, as acácias, etc.
      Mato aberto xerájilo, - Di fere do anterior pela dominância das gramineas,
com arbustos raquíticos e rizomatosos. Nas gramineas, predominam os
géneros Andropoqon, Ponicum, Pennisetum, etc.; nos arbustos, a mambomba
(Annona seneçalensis}, o manganaz (Icacina seneçalensis ), Zizyphus
Jt,jubo, Gimnosporio seneqalensis, Colotropis procera, etc.
      Capinais. - Plantas anuais dos terrenos secos ou húmidos, com alguns
arbustos esparsos, geralmente sujeitas a queimadas anuais. Os tipos desta
formação pertencem aos géneros Phraqmites, Andropogon, Ctenium,
Hyporrhemia, Leersui, Rhytachne, Echinochloa, Ronboeliio, Rtvynchelytrum,
Heteropoçon, Pennisetum, Selaria, Impera/a, Perotis, Aristida, Açrostis,
CytlOdon, Chloris, Eleusine, etc.
    Nos extremos bio-ecológicos das relações entre as tsétsés e os diversos
tipos de vegetação, aliados aos restantes factores epizootol6gicos, si tua-se,
de um lado, a Glossina palpalis, espécie tipo de tsétsé higrófila, que, para
viver, necessita da humidade dos mangais e das galerias florestais dos
terrenos não salgados, e, do outro, a Glossina sub-morsitans, espécie
xerófila, mais abundante nas regiões florestais e savânicas do interior, com
passagem pelas necessidades intermediárias da Glossino /011- gipalpis e
da Glossino fusca.
IS-L. A. CARVALHO VIEGAs-Guiné Portuguesa. Vol. r. Lisboa, 1936.
          16 - A. MONARII- Résultats de la mission scientifique du dr. Monard en
      Guinée Portugaisé, 1937-1938. II. Ongulés. -Arq. do Mus. Bocage IX. 150-196.
      1938. 17-F. FRADE-Distribuition géographique des éléphants d'Afrique.-C. R.
      XII' Congo Intem. ZO%~~ Lisbonne 1935. II. 1191-1202. 1936-37.
18-F. COUTOULY-Gros et petit gibier en Afrique Occidentale Française (carnivores,
      édentés, proboscidiens, hippopotamidés, suidés, primates, rongeurs).Bu/I.
      Comité d'~ttld. Hist, et Scienti]. de I'Afrique Occid. Françoise VIII. 559-605.
      1925.
19 - A. MONARD - Résultats de la mission scientifique du dr. Monard en Guinée
      Portugaise, 1937-1938. I. Primates. - Arq. do MUI. Bocage IX. 121-149.
      1938.

                                         ▀
         A Flora da Guiné-Bissau

         Os primeiros levantamentos sobre a flora da Guiné-Bissau datam do período
     colonial no qual se salientam sobretudo os diferentes trabalhos do Instituto de
     Investigação Científica de Portugal (precursor da então chamada Junta de
     Investigação do Ultramar), que através de diferentes missões geográficas e de
     investigação do Ultramar, procedeu a recolha e a identificação de várias
     espécies florísticas e faunísticas, e que ainda actualmente continuam a ser
     realizadas no quadro de cooperações específicas com o INPA, a ONG Acção
     para o Desenvolvimento e o Programa da Reserva da Biosfera coordenado pelo
     INEP. Sobretudo os resultados dos inventários realizados no período colonial,
     encontram-se nas diferentes publicações da então Junta de Investigação do
     Ultramar e na Série de Publicações “Garcia da Horta". A este processo e
     sobretudo no sentido de definir a superfície ocupada pelas diferentes formações
     foram importantes os trabalhos do SCET-Internacional, ATLANTA-Consult e por
     último do CIRAD-Foret. Este último enquadrou-se no processo de elaboração do
     Plano Director de Floresta (PAFT). Igualmente trabalhos pontuais foram
     entretanto desenvolvidos por investigadores nacionais e estrangeiros, como é o
     caso de BANCESSI, Q. que inventariou leguminosas e gramíneas da Guiné-
     Bissau e da Iniciativa de Cantanhez e da Universidade de Jembloux, que
     inventariaram variadas espécies florísticas da floresta húmida de Cantanhez, e
     por ONGs sobretudo no quadro da farmacopeia tradicional da Guiné-Bissau.
         Uma inventariação exaustiva com base na literatura dá conta da existência de
     1.186 espécies inventariadas na Guiné-Bissau, agrupadas em cerca de 160
     famílias como demonstra o quadro 2, em anexo I. Destes segundo DAVIS & al.
     (1986) citados no "Guia da Biodiversidade" cerca de 12 espécies são
     endémicas, entretanto das quais só cita o nome das seguintes:
                          Byrsanthus brownii var. latifolius
                          Indigofera omissa var. trifoliliolata
                          Nesaea santoi
                          Hyphaena santoana
         As Papilonaceas, com 131 especies, as Rubiaceae com 73, as gramíneas
     com 97 são as famílias com maior número de espécies (vide tabela 2 em Anexo
     I). Saliente-se que, as plantas inferiores, as plantas aquáticas em geral, ainda
estão pouco estudadas na Guiné-Bissau. Identificou-se em diferentes literaturas
os usos seguintes para algumas das espécies recenseadas:
                     128 têm uso na medicina tradicional;
                     30 espécies fornecem madeira de construção;
                     76 têm usos alimentares na alimentação humana;
    cerca de 86 espécies são objectos de uso diverso, entre os quais para
alimentação do gado, artesanato, etc.
    Designações da maioria das espécies recenseadas são conhecidas nas
diferentes línguas nacionais, o que demonstra em parte o grande acervo de
conhecimento tradicional sobre as espécies existentes nas diferentes formações
vegetais da Guiné-Bissau.
    Exemplares de várias destas espécies encontram-se depositadas de forma
dispersa, nos herbários da Casa de Ambiente em Bubaque, nos centros do INPA
em Contuboel, na sede da Iniciativa de Cantanhez em Iemberem. Amostras de
medicamentos existem igualmente em Farim no quadro das acções da Swissaid,
em Varela na Escola de Verificação Ambiental promovida pela ONG AD, na Casa
de Ambiente em Bubaque coordenada pelo INEP, assim como nos diferentes
centros do INPA. Uma grande colecção de amostras existe no herbário do
Centro de Botânica do IICT, e exemplares vivos “ex-situ” no “antigo” Jardim e
Museu Agrícola do Ultramar em Portugal.
    MALAISE (1996), efectuou um estudo recente no quadro da Iniciativa de
Cantanhez na qual identificou na floresta húmida com o mesmo nome, cerca
de 237 espécies, entre as quais, 8 pteridófitas e 237 plantas superiores (191
dicotiledôneas e 191 monocotiledóneas). As espécies de plantas superiores
foram agrupadas em 84 famílias e 197 géneros. Na Reserva da Biosfera, e no
quadro dos inventários recentes efectuados em colaboração com o IICT de
Portugal foram identificados cerca de 213 espécies agrupadas em cerca de 30
famílias. Das espécies identificadas em Bubaque, 65 são utilizadas de forma
diferenciada na farmacopeia tradicional.
    (…) Se bem que muito pouco conhecidas ainda, existem maciços
consideráveis nas Ilhas de Caravela, Enú e Cute, e João Vieira no Arquipélago
Bolama-Bijagós, assim como a Floresta de Ucô na zona de Calequisse e nas
Ilhas de Jeta e Pecixe.



   República da            Guiné-Bissau
   Ministério de Desenvolvimento Rural e Agricultura,
   Recursos Naturais e Ambiente
   Programa de Nações Unidas para Desenvolvimento
   Projecto GBS/97/G31/1G/9 - “Estratégia e Plano de Acção Nacional para a
Biodiversidade

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Trabalho de historia rita
Trabalho de historia ritaTrabalho de historia rita
Trabalho de historia ritaMarta Pereira
 
Uma aventura no palácio...
Uma aventura no palácio...Uma aventura no palácio...
Uma aventura no palácio...Ana Barreiros
 
Introdução a Informática
Introdução a InformáticaIntrodução a Informática
Introdução a InformáticaDaniel Brandão
 
Comércio à escala mundial
Comércio à escala mundialComércio à escala mundial
Comércio à escala mundialMaria Gomes
 
OpenUP: um processo integrado e ágil
OpenUP: um processo integrado e ágilOpenUP: um processo integrado e ágil
OpenUP: um processo integrado e ágilAndré Ficht
 
Miguel ciganos
Miguel ciganosMiguel ciganos
Miguel ciganosPeroVaz
 
1.agricultura 1 conceitos_2010-2011
1.agricultura 1 conceitos_2010-20111.agricultura 1 conceitos_2010-2011
1.agricultura 1 conceitos_2010-2011Helena Saraiva
 
Equipamentos informaticos
Equipamentos informaticosEquipamentos informaticos
Equipamentos informaticosxXtmk4sXx
 
Ler é...
Ler é...Ler é...
Ler é...Lucca
 
Turismo cultural em portugal continental
Turismo cultural em portugal continentalTurismo cultural em portugal continental
Turismo cultural em portugal continentalTina Lima
 
Atividades de Programação de Jogos com o software Scratch no 1º Ciclo do Ensi...
Atividades de Programação de Jogos com o software Scratch no 1º Ciclo do Ensi...Atividades de Programação de Jogos com o software Scratch no 1º Ciclo do Ensi...
Atividades de Programação de Jogos com o software Scratch no 1º Ciclo do Ensi...ejml
 
O cartoon proposta didática
O cartoon   proposta didáticaO cartoon   proposta didática
O cartoon proposta didáticagracacruz
 

Mais procurados (20)

Ambiente wifi
Ambiente wifiAmbiente wifi
Ambiente wifi
 
Trabalho de historia rita
Trabalho de historia ritaTrabalho de historia rita
Trabalho de historia rita
 
Uma aventura no palácio...
Uma aventura no palácio...Uma aventura no palácio...
Uma aventura no palácio...
 
Introdução a Informática
Introdução a InformáticaIntrodução a Informática
Introdução a Informática
 
Comércio à escala mundial
Comércio à escala mundialComércio à escala mundial
Comércio à escala mundial
 
Alemanha
AlemanhaAlemanha
Alemanha
 
OpenUP: um processo integrado e ágil
OpenUP: um processo integrado e ágilOpenUP: um processo integrado e ágil
OpenUP: um processo integrado e ágil
 
Wifi
WifiWifi
Wifi
 
Miguel ciganos
Miguel ciganosMiguel ciganos
Miguel ciganos
 
1.agricultura 1 conceitos_2010-2011
1.agricultura 1 conceitos_2010-20111.agricultura 1 conceitos_2010-2011
1.agricultura 1 conceitos_2010-2011
 
D. Afonso Henriques
D. Afonso HenriquesD. Afonso Henriques
D. Afonso Henriques
 
Castelo Branco
Castelo BrancoCastelo Branco
Castelo Branco
 
Equipamentos informaticos
Equipamentos informaticosEquipamentos informaticos
Equipamentos informaticos
 
Ler é...
Ler é...Ler é...
Ler é...
 
Aula 12 - Processador
Aula 12 - ProcessadorAula 12 - Processador
Aula 12 - Processador
 
Turismo cultural em portugal continental
Turismo cultural em portugal continentalTurismo cultural em portugal continental
Turismo cultural em portugal continental
 
Serra da estrela
Serra da estrelaSerra da estrela
Serra da estrela
 
Atividades de Programação de Jogos com o software Scratch no 1º Ciclo do Ensi...
Atividades de Programação de Jogos com o software Scratch no 1º Ciclo do Ensi...Atividades de Programação de Jogos com o software Scratch no 1º Ciclo do Ensi...
Atividades de Programação de Jogos com o software Scratch no 1º Ciclo do Ensi...
 
Servidor proxy
Servidor proxy Servidor proxy
Servidor proxy
 
O cartoon proposta didática
O cartoon   proposta didáticaO cartoon   proposta didática
O cartoon proposta didática
 

Semelhante a Flora da Guiné

Resumo dos cinco ciclos econômicos no brasil
Resumo dos cinco ciclos econômicos no brasilResumo dos cinco ciclos econômicos no brasil
Resumo dos cinco ciclos econômicos no brasilEnio Economia & Finanças
 
O início da colonização brasileira
O início da colonização brasileiraO início da colonização brasileira
O início da colonização brasileiraEefg Tj
 
Património varietal de fruteiras da região do Algarve
Património varietal de fruteiras da região do AlgarvePatrimónio varietal de fruteiras da região do Algarve
Património varietal de fruteiras da região do AlgarveArmindo Rosa
 
Revista Cafés de Rondônia 2018: Aroma, sabor e origem
Revista Cafés de Rondônia 2018: Aroma, sabor e origemRevista Cafés de Rondônia 2018: Aroma, sabor e origem
Revista Cafés de Rondônia 2018: Aroma, sabor e origemLuiz Valeriano
 
60 papel artesanal (agricola)
60 papel artesanal (agricola)60 papel artesanal (agricola)
60 papel artesanal (agricola)Jorge Luciano
 
Trabalho 7º 8º ano
Trabalho 7º   8º anoTrabalho 7º   8º ano
Trabalho 7º 8º anowsshist
 
Conímbriga e botânico coimbra - 5ºa e b a2010-2011
Conímbriga e botânico   coimbra - 5ºa e b a2010-2011Conímbriga e botânico   coimbra - 5ºa e b a2010-2011
Conímbriga e botânico coimbra - 5ºa e b a2010-2011AECBA
 
Apostila de cana de açucar
Apostila  de cana de açucarApostila  de cana de açucar
Apostila de cana de açucarHeider Franco
 
Rugendas e Debret: retratos da escravidão no Brasil
Rugendas e Debret: retratos da escravidão no BrasilRugendas e Debret: retratos da escravidão no Brasil
Rugendas e Debret: retratos da escravidão no Brasilmarialuzinete
 
3º ano - Mineração, expansão territorial e escravidão.
3º ano - Mineração, expansão territorial e escravidão.3º ano - Mineração, expansão territorial e escravidão.
3º ano - Mineração, expansão territorial e escravidão.Daniel Alves Bronstrup
 

Semelhante a Flora da Guiné (20)

Pau brasil
Pau brasilPau brasil
Pau brasil
 
Resumo dos cinco ciclos econômicos no brasil
Resumo dos cinco ciclos econômicos no brasilResumo dos cinco ciclos econômicos no brasil
Resumo dos cinco ciclos econômicos no brasil
 
Mestiçagem dos alimentos
Mestiçagem dos alimentosMestiçagem dos alimentos
Mestiçagem dos alimentos
 
O início da colonização brasileira
O início da colonização brasileiraO início da colonização brasileira
O início da colonização brasileira
 
Giovane
GiovaneGiovane
Giovane
 
Património varietal de fruteiras da região do Algarve
Património varietal de fruteiras da região do AlgarvePatrimónio varietal de fruteiras da região do Algarve
Património varietal de fruteiras da região do Algarve
 
Revista Cafés de Rondônia 2018: Aroma, sabor e origem
Revista Cafés de Rondônia 2018: Aroma, sabor e origemRevista Cafés de Rondônia 2018: Aroma, sabor e origem
Revista Cafés de Rondônia 2018: Aroma, sabor e origem
 
60 papel artesanal (agricola)
60 papel artesanal (agricola)60 papel artesanal (agricola)
60 papel artesanal (agricola)
 
Trabalho 7º 8º ano
Trabalho 7º   8º anoTrabalho 7º   8º ano
Trabalho 7º 8º ano
 
Brasil Pré-colonial_1500 1530
Brasil Pré-colonial_1500 1530Brasil Pré-colonial_1500 1530
Brasil Pré-colonial_1500 1530
 
Fibras naturais
Fibras naturaisFibras naturais
Fibras naturais
 
Conímbriga e botânico coimbra - 5ºa e b a2010-2011
Conímbriga e botânico   coimbra - 5ºa e b a2010-2011Conímbriga e botânico   coimbra - 5ºa e b a2010-2011
Conímbriga e botânico coimbra - 5ºa e b a2010-2011
 
História do papel e do pergaminho
História do papel e do pergaminhoHistória do papel e do pergaminho
História do papel e do pergaminho
 
História do papel e do pergaminho
História do papel e do pergaminhoHistória do papel e do pergaminho
História do papel e do pergaminho
 
História do papel e do pergaminho
História do papel e do pergaminhoHistória do papel e do pergaminho
História do papel e do pergaminho
 
Apostila de cana de açucar
Apostila  de cana de açucarApostila  de cana de açucar
Apostila de cana de açucar
 
Ciclos econômicos
Ciclos econômicosCiclos econômicos
Ciclos econômicos
 
Rugendas e Debret: retratos da escravidão no Brasil
Rugendas e Debret: retratos da escravidão no BrasilRugendas e Debret: retratos da escravidão no Brasil
Rugendas e Debret: retratos da escravidão no Brasil
 
Escravidão no brasil
Escravidão no brasilEscravidão no brasil
Escravidão no brasil
 
3º ano - Mineração, expansão territorial e escravidão.
3º ano - Mineração, expansão territorial e escravidão.3º ano - Mineração, expansão territorial e escravidão.
3º ano - Mineração, expansão territorial e escravidão.
 

Mais de Cantacunda

Lembranças do Reis
Lembranças do ReisLembranças do Reis
Lembranças do ReisCantacunda
 
Jardins do Palácio de Cristal
Jardins do Palácio de Cristal Jardins do Palácio de Cristal
Jardins do Palácio de Cristal Cantacunda
 
18º Encontro da CART1690
18º Encontro da CART169018º Encontro da CART1690
18º Encontro da CART1690Cantacunda
 
O nosso primeiro livro de leitura
O nosso primeiro livro de leituraO nosso primeiro livro de leitura
O nosso primeiro livro de leituraCantacunda
 
Sapal de Corroios
Sapal de CorroiosSapal de Corroios
Sapal de CorroiosCantacunda
 
Aumentar desemprego, baixar salários, aumentar exportações
Aumentar desemprego, baixar salários, aumentar exportaçõesAumentar desemprego, baixar salários, aumentar exportações
Aumentar desemprego, baixar salários, aumentar exportaçõesCantacunda
 
Cultura do amendoim na Guiné
Cultura do amendoim na GuinéCultura do amendoim na Guiné
Cultura do amendoim na GuinéCantacunda
 
Cultura o amendoim na Guiné
Cultura o amendoim na GuinéCultura o amendoim na Guiné
Cultura o amendoim na GuinéCantacunda
 
Eduardo Gageiro, fotos com história
Eduardo Gageiro, fotos com históriaEduardo Gageiro, fotos com história
Eduardo Gageiro, fotos com históriaCantacunda
 
Pontes históricas do Minho
Pontes históricas do MinhoPontes históricas do Minho
Pontes históricas do MinhoCantacunda
 
Ensino rudimentar (para indígenas)
Ensino rudimentar (para indígenas)Ensino rudimentar (para indígenas)
Ensino rudimentar (para indígenas)Cantacunda
 
História da guiné bissau em datas
História da guiné bissau em datasHistória da guiné bissau em datas
História da guiné bissau em datasCantacunda
 
As crises político-militares na Guiné-Bissau
As crises político-militares na Guiné-BissauAs crises político-militares na Guiné-Bissau
As crises político-militares na Guiné-BissauCantacunda
 
Crenças dos povos da Guiné ii
Crenças dos povos da Guiné iiCrenças dos povos da Guiné ii
Crenças dos povos da Guiné iiCantacunda
 
No segredo das crenças da Guiné
No segredo das crenças da GuinéNo segredo das crenças da Guiné
No segredo das crenças da GuinéCantacunda
 
Motorista para o Relvas por 73466 euros
Motorista para o Relvas por 73466 eurosMotorista para o Relvas por 73466 euros
Motorista para o Relvas por 73466 eurosCantacunda
 
Parque da cidade_(ocidental)
Parque da cidade_(ocidental)Parque da cidade_(ocidental)
Parque da cidade_(ocidental)Cantacunda
 
Parque da cidade_(ocidental)
Parque da cidade_(ocidental)Parque da cidade_(ocidental)
Parque da cidade_(ocidental)Cantacunda
 

Mais de Cantacunda (20)

Lembranças do Reis
Lembranças do ReisLembranças do Reis
Lembranças do Reis
 
Jardins do Palácio de Cristal
Jardins do Palácio de Cristal Jardins do Palácio de Cristal
Jardins do Palácio de Cristal
 
18º Encontro da CART1690
18º Encontro da CART169018º Encontro da CART1690
18º Encontro da CART1690
 
O nosso primeiro livro de leitura
O nosso primeiro livro de leituraO nosso primeiro livro de leitura
O nosso primeiro livro de leitura
 
Sapal de Corroios
Sapal de CorroiosSapal de Corroios
Sapal de Corroios
 
Maiakovski
MaiakovskiMaiakovski
Maiakovski
 
Aumentar desemprego, baixar salários, aumentar exportações
Aumentar desemprego, baixar salários, aumentar exportaçõesAumentar desemprego, baixar salários, aumentar exportações
Aumentar desemprego, baixar salários, aumentar exportações
 
Cultura do amendoim na Guiné
Cultura do amendoim na GuinéCultura do amendoim na Guiné
Cultura do amendoim na Guiné
 
Cultura o amendoim na Guiné
Cultura o amendoim na GuinéCultura o amendoim na Guiné
Cultura o amendoim na Guiné
 
Eduardo Gageiro, fotos com história
Eduardo Gageiro, fotos com históriaEduardo Gageiro, fotos com história
Eduardo Gageiro, fotos com história
 
Pontes históricas do Minho
Pontes históricas do MinhoPontes históricas do Minho
Pontes históricas do Minho
 
Ensino rudimentar (para indígenas)
Ensino rudimentar (para indígenas)Ensino rudimentar (para indígenas)
Ensino rudimentar (para indígenas)
 
Rachel Corrie
Rachel CorrieRachel Corrie
Rachel Corrie
 
História da guiné bissau em datas
História da guiné bissau em datasHistória da guiné bissau em datas
História da guiné bissau em datas
 
As crises político-militares na Guiné-Bissau
As crises político-militares na Guiné-BissauAs crises político-militares na Guiné-Bissau
As crises político-militares na Guiné-Bissau
 
Crenças dos povos da Guiné ii
Crenças dos povos da Guiné iiCrenças dos povos da Guiné ii
Crenças dos povos da Guiné ii
 
No segredo das crenças da Guiné
No segredo das crenças da GuinéNo segredo das crenças da Guiné
No segredo das crenças da Guiné
 
Motorista para o Relvas por 73466 euros
Motorista para o Relvas por 73466 eurosMotorista para o Relvas por 73466 euros
Motorista para o Relvas por 73466 euros
 
Parque da cidade_(ocidental)
Parque da cidade_(ocidental)Parque da cidade_(ocidental)
Parque da cidade_(ocidental)
 
Parque da cidade_(ocidental)
Parque da cidade_(ocidental)Parque da cidade_(ocidental)
Parque da cidade_(ocidental)
 

Flora da Guiné

  • 1. Subsídio para o conhecimento da flora económica da Guiné Algumas plantas tintoriais lsatis tinctoria LINN: lsatis tinctoria Crucífera produtora do celebrado pastel dos tintureiros (espécie outrora intensamente cultivada na Europa) foi até o último quartel do século XVIlI inimiga irreconciliável das plantas tinturiais asiáticas, africanas e americanas; a protecção e propaganda organizadas em quase todos os países europeus a favor daquela e contra estas levaram a chamar tinta do diabo a droga proveniente de várias espécies do género Indigofera. A Holanda, que então figurava como a principal importadora do indigo de procedência oriental, deixou de o ser a partir do século XVII como medida de protecção à Isatis. Na Alemanha, iguais medidas foram tomadas; na Inglaterra foram destruídos os produtos já armazenados. «Em Nuremberga os magistrados obrigavam os tintureiros a prestar anualmente juramento de que não empregariam o indigo. Em França, de 1598 a 1737, o uso do anil foi interdito a fim de proteger os produtores de pastel». (1) Só mais tarde; já nos fins do século XVIII ou pouco depois, é que aos tintureiros foi facultado preferir as tintas a utilizar na laboração das suas indústrias. A partir desta época, a cultura do anileiro tomou certo incremento, principalmente na América Central e Índia, cujos produtos afluíam aos mercados conjuntamente com as matérias primas congéneres das plantas cultivadas e, sobretudo, das espécies espontâneas da Africa Tropical e Subtropical. Não há dúvida que os aborígenes da Senegâmbia e Guiné conheciam de há· muito o uso do indigo ou, ao que parece, receberam dos maometa-
  • 2. nos, desde um período bastante recuado, a arte de extracção e aplicação deste produto. «André Alvares de Almada - escreve FICALHO - que percorreu os rios da Guiné a partir de 1566 fala dos panos de algodão brancos e pretos que usavam os jalofos e mandingas, diz que os tintos são tão finos que cegam os que vêem e explica detidamente o processo empregado na extracção da tintas» (2). Sabe-se que o conhecimento da técnica da extracção e o modo de utilização do anil passou da Guiné para o arquipélago de Cabo Verde, onde, diga-se de passagem, por certo prosperou a ponto de haver pro- movido, nas ilhas de Santo Antão e São Tiago, a instalação de fábricas para a sua industrialização; sabe-se também que essas fábricas se encon- travam em completa ruina, por falta de actuação técnica eficiente, no fim do século passado. «Hoje - escreve FICALHo em 1884 - a extracção da tinta e sua aplicação acham-se nas ilhas de Cabo Verde entregues à pequena indús- tria caseira, que pelos mais rudimentares e imperfeitos processos consegue no entanto tingir com certa perícia e graça os panos de lei, de agulha, * galans, etc.s (3). Nessa luta desigual da Isatis contra a Indigofera ambas foram feridas de morte com os porfiados trabalhos de HEUMAN baseados na síntese da indigotina realizada por BAYER (4) em 1878. De então para cá, com os aperfeiçoamentos incessantes da técnica de produção, o anil sintético tem tomado dia a dia vulto de tal sorte que hoje o anil natural só de longe em longe intervém como droga medicamentosa. Entretanto, as plantas tinturiais cultivadas, ruderais e espontâneas dos géneros Indiqofera e Lonchocorpus, principalmente deste último, ainda representam na indústria caseira indígena um apreciável valor económico. É curioso notar-se, ainda que pareça estranho, que os anileiros «as arvorezinhas» de que nos fala ANDRÉ ÁLVARES DE ALMADA (5) se acham hoje confinados num aro de utilidades bem restrictas; ou porque a extracção da tinta da lndigofera tivesse caído em desuso, ou porque fosse preferida a lei de menor esforço pela adopção da colheita de produtos espontâneos de Lonchocarpus (tinta grande), os indígenas falam da Indigofera (tinta pequena) como coisa dos «tempos idos», de utilidade meramente aparente. Seja como for, parece que os factos até agora observados nos conduzem naturalmente à ilacção de que as plantas produtoras do indigo-cârre, baludo, banhepe, banô cárô e gara (6) - respectivamente dos balantas, brames,
  • 3. manjacos, papeis, mandingas e fulas - se acham representadas na Colónia por algumas espécies já determinadas. Todavia, é sobretudo a espécie indígena arrecta que, largamente disseminada, quer no estado de cultura em alguns quintais indígenas, quer no estado espontâneo e ruderal nas clareiras florestais e nos terrenos abandonados, parece mais comum a oeste do rio Corubal. O indigo que, sem dúvida, animou durante um largo período uma corrente comercial relativamente importante, não só provinha da espécie indígena já conhecida, como também das exóticas tinctoria e suffruticosa, oriundas da índia Ocidental e da América. Sabe-se que estas duas últimas espécies se acham hoje verdadeiramente indigenatadas, tendo a asiática vindo através do Sudão com os maometanos e sendo a americana provavelmente introduzida pelos portugueses no decurso do século XVI e seguintes, com a corrente de navegação então estabelecida entre o continente americano e a África Ocidental. Com efeito, essa dupla corrente que, do Sudão e da América, se dirigia para o litoral atlântico africano, foi sobremodo operosa na introdução de plantas úteis no aro das culturas autóctones. Não obstante a vultosa produção de anilinas, o produto tinturial do Lonchocorpus, que hoje francamente sobrepuja aos da lndigofera, e ainda para os indígenas um apreciável recurso económico. O Lonchocarpus cyanescens, planta espontânea com uma vasta área de dispersão, ocupa os territórios das Circunscrições Civis de Catió e Fulacunda, e corre ao longo das margens do rio Corubal até às terras altas do Boé, oferecendo aos aborígenes matéria prima para a produção de belos tintos, de que ainda hoje nos admiramos, e alimenta de pães de folhas, simplesmente piladas, um pequeno comércio que os cota à razão de 10$00 por quilograma. * A flora económica da Guiné foi, logo após os descobrimentos, objecto de detidas informações e estudos por quantos a percorreram, observações e estudos que eram tanto mais detalhados quanto mais se desdobrava em valiosos produtos comerciáveis. É, porém, supérfluo notar que tais estudos informativos vinham por vezes tão minuciosos que esclareciam as determinações de espécies botânicas imperfeitamente conhecidas. «O principal resgate deste rio (7) - escreve ANDRÉ ÁLVARES DE ALMADA - são tintas, como as da Costa de que já tratámos no 1º Capítulo (8) que se fazem do mesmo modo de que se faz o verdadeiro anil; estas deste Rio são diferentes porque são árvores como hera, e vão trepando pelas outras
  • 4. árvores, e têm as folhas largas. E os negros, no tempo, apanhão estas folhas e as pisão, e fazem huns pães como de açúcar, assim grandes, enfolhados com as folhas de cabopa (9) e vem os nossos navios carregarem - se destas tintas, que he huma grande trato, para o Rio de S. Domingos». Com este curioso documento, ANDRÉ ALVARES DE ALMADA dá ao mundo a primeira notícia acerca do Lonchocarpus cyanescens e sua utilização; e, neste particular, muitos outros exemplos poderia citar no tocante a plantas úteis assinaladas nos escritos clássicos portugueses, se me não assaltasse o receio de tornar demasiadamente longa esta ligeira nótula. E, todavia, não resisto à tentação de aqui anotar que são também dele as primeiras notícias concernentes à técnica de extracção e aplicação do indigo relativamente à África. É, porém, de certo modo singular reparar que o método de confecção da tinta, então noticiado (10), não corresponde aos processos actuais empregados pelos indígenas; ou porque tivesse evoluído a prática de extracção e utilização ou porque fosse mal interpretada a técnica do fabrico, o que é verdade é que os aborígenes, principalmente os fulas e futa-fulas, operam, independentemente da espécie, sobre folhas novas que são apanhadas de Abril a Junho e de Novembro a Dezembro, isto é, nas duas épocas em que, para o Lonchocarpus, se realiza o fenómeno de rebentação folhear. Estas folhas frescas e tenras são reduzidas, em almofariz de madeira, a uma massa grosseira que é imediatamente transformada em bolas de tamanho de punho; depois de sujeitas a secagem, estas bolas são acondicionadas em cestos ou atados. Em devido tempo, o indigo assim preparado é convenientemente humedecido, e depois amontoado em folhas de manganaz (11), onde sofre durante três dias uma primeira fermentação. Procede-se, em seguida, à redução da massa a uma fina polpa, que é também submetida a secagem; nesta altura o produto está pronto a ser lançado em grandes recepientes com água, operação que corresponde a uma das fases da confecção da tintura. Para a preparação de 100 litros de tinta, lançam-se, num recipiente de 200 litros, 10 quilogramas de folhas piladas, 60 litros de água, 40 litros de infusão de raiz de uanda (12) e 2,5 quilogramas de cinza, de preferência de poilão (13) ou de colabaceira (14). Esta calda, que é de início bem agitada, deixa-se em repouso durante 3 ou 5 dias, se a laboração se realiza na época seca ou das chuvas, respectivamente. Esta operação, a que chamam cozer a tinta, corresponde à última fase de fermentação. Com efeito, a fermentação bem conduzida, quer se opere sobre Lon-
  • 5. chocarpus, quer sobre lndigofera, proporciona o desenvolvimento dos elementos actuantes de tal modo que permite as necessárias transformações. Segundo DALZIEL (15), o elemento básico indol encontra-se em com- binação nas folhas, bem como o glicosídeo indican - um composto de glucose e indoxyl. Na fermentação, o indoxyl é liberto do açúcar e, pela sua oxidação, operada com agitação do líquido, produz a verdadeira substância azul, indigotina - indigo azul - assim como indirubina, - indigo vermelho. . Estas duas substâncias - azul e vermelho - ainda que isómeras, não se formam simultâneamente; segundo as condições do trabalho, obter-se-á uma ou outra. Se a oxidação se opera lentamente num meio ácido produz indirubina; se, pelo contrário, ela se realizar rapidamente num meio alcalino, o resultado será indigotina. «A fermentação das folhas é o resultado da acção de enzimas; o calor acelera-a, mas a temperatura de água em ebulição destrói quaisquer substâncias capazes de produzir azul pela oxidação». Decorrido o período da fermentação - cozedura -, a tinta apresenta-se de cor verde ou amarelada e com desagradável e característico cheiro; nesta altura ela está pronta para ser utilizada depois de agitada fortemente. O tecido a tingir sofre alternadamente imersões e exposições ao ar até tomar a cor desejada. Os tintureiros ou antes, as tintureiras, afirmam que quando os tintos se apresentam de cor baça é prova de que se utilizou na preparação da tinta folhas velhas, ou a fermentação se operou em condições pouco favoráveis. O líquido resultante do cozimento da raiz de uanda é empregado com o objectivo de não só reforçar o poder tinturial da droga, como ainda o de pretender tintos brilhantes. Os tintureiros não explicam o motivo porque utilizam a cinza; todavia, os factos anotados conduzem-nos naturalmente a conjecturar que a cinza deve actuar com o fim de neutralizar o meio ácido nascente da própria natureza das folhas e, consequentemente, proporcionar à fermentação um ambiente alcalino propício à produção da indigotina. Não se conhecem cientificamente os efeitos da actuação da infusão de uanda. O indigo moldado em cubos com auxílio de pequenas quantidades de goma, pode ser obtido nas cubas de decantação nas quais se lança, às vezes, água de cal para activar a precipitação de indigotina, que é insolúvel na água. Na tinturaria mais aperfeiçoada, o indigo precipitado é transformado pela acção de um alcali em anil branco solúvel e dá uma solução esverdeada. O· tecido nela mergulhado e exposto ao ar faz-se azul com a reversão do indigo branco
  • 6. em indigo azul pela oxidação. O anil africano assim preparado possue a seguinte composição: (15) Humidade - 4,8% Cinza - 31,3% Indigotina - 27,5 % Indirubina - 1,5% A percentagem de indigotina que pelo processo vulgar é de 2,50 % aproximadamente, do peso da massa vegetal, poderá ser muito aumentada quando a fermentação e oxidação forem bem conduzidas. Para o Lonchocarpus cyanescens está calculado que 100 quilogramas de folhas frescas podem produzir 67,80 a 2232 gramas de indigo, com uma percentagem de indigotina superior a 43 %; porém, esta percentagem pode atingir 56 % quando a colheita das folhas naturalmente coincidir com a época de maior concentração da droga nelas contida. COVIAU, citado por DALZIEL (16) sugere que, tratando-se do Lon- chocarpus, a apanha das folhas deverá ser feita na altura da floração. Esta ligeira notícia pretende chamar a atenção daqueles que, dispondo de meios e tempo, queiram contribuir com o seu saber para a ocupação científica das Colónias Portuguesas. Seria interessante, quer sob o ponto de vista puramente científico, quer sob o ponto de vista da economia indígena, proceder a investigações exaustivas das espécies tinturiais da Colónia. Sem a pretensão de haver acertado neste complexo problema de ta- xionomia botânica, passo à diagnose das plantas aqui referidas - Indiqofera e Lonchocarpus - baseada, principalmente, nos materiais do meu herbário particular. * lndigofera - LINN - Flores zigomórficas dispostas em espigas axilares, racimos ou em capítulos pedunculados; sepalas 5; corola papilionácea com 5 pétalas de estivação imbricativa; estames diadelfos - 9 aderentes e um livre - com os filetes não dilatados no cimo; estilete ligeiramente curvo e estigma pequeno capitado; anteras uniformes, apiculadas; frutos deiscentes, afectando diversas formas, mas, em geral, linear sub-roliça ou sub-quadrangular e, de ordinário, polispérmicos; plantas anuais prostradas ou arbustos perenes com folhas compostas, imparipinuladas; folíolos de ordinário inteiros estipulados. A) Frutos distintamente falciformes, finamente pubescentes, de cerca
  • 7. de 2 cm. de comp., reflexos; folhas com cerca de 5-6 pares de foliolos mais ou menos oblanciolados, finamente pubescentes, medindo 2-3,5 cm. de comp., mucronados; racimos axilares muito mais curtos do que as folhas; flores vermelhas; arbusto de 1,60 - 2 m. cultivado ou nos lugares ruderais Indiqofera suffruticosa - MILL. B) Frutos subcilíndricos de 2-2,5 cm. de comp., glabracentes; folhas compostas de 5-8 pares de foliolos estreitamente oblanciolados, de 2-3 cm. de comp., pubescentes; racimios mais curtos do que as folhas; flores ver- melhas; ramos de cor cinzenta, sulcados, pubescentes; arbusto de 1-2 m. cultivado nos quintais, no estado espontâneo nas clareiras florestais e lugares ruderais lndigofera arrecta-HOCHST. C) Frutos rectos ou ligeiramente curvos de 3,5 cm. de comp., ligei- ramente pubescentes folhas com 4-7 pares de foliolos obvados, de cerca de 2 cm. de comp., glaucos ou azulados, mais ou menos truncados e mu- cronados; flores palidamente vermelhas; arbustos de 1,60 m. cultivado e nos lugares ruderais lndigofera tinctoria - LINN.
  • 8. * Lonchocarpus - H. B. & K. - Flores papilionáceas, hermafroditas, dispostas em panículas na extremidade dos ramos novos; ramificações de panículas curtas; cálice levemente lobolado e exteriormente pubescente; corola com o estandarte unguiculado e largamente emarginado no ápice; estames 10, monodelfos; estilete curvo com estigma terminal; frutos - vagens - de 1-5 sementes, comprimidos, glabros, reticulados e com as sementes distintamente proeminentes. Folhas compostas de 4-5 pares de foliolos ovados ou elípticos, curtamente acuminados, medindo 16 cem.. de comp. por 8 cm. de larg., glabros. Arbusto sarmentoso ou robusta liana de 8-15 m. e mais altura. Flores; asas rosadas e o estandarte maculado de azul Lonchocorpus cyanescens - BENT. NOTAS: (1) H. A. NICHOLS & E. RAOUL-Petit Traité d'Agriculture Tropicale- pág. 322. Paris. 1895 (2) CONDE DF. FICALHO- Plantas Úteis da A/rica Portuguesa Lisboa. 1884. (3) Loc. cit. pág. 130. (4) L. PLANCHON, P. BRETIN e P. MANOCEAU - Précis de Matière MédicaleTome II. pág. 902. Paris. 1937. (5) Tratado Breve dos Rios de Guiné e de Cabo Verde -1594-ed.1841. Porto. (6) Alguns nomes vernáculos da lndigofera; Cárô em Biafada-Empada; banhube=anil, banhebe=anileiro na ilha de Pecixe; córô-messem-ô e carandim-ô = tinta pequena, em mandinga; gara- tcileudo=tinta pequena, em fula. (7) Rio Nuno - ANDRÉ ÁLVARES DE ALMDA - Loc. cit. pág. 69. (8) É capítulo 2.°. (9) Cabopa é o nome vernáculo da Mitragyna stipulosa O. KUNTZE. (10) Recolhe-se somente aquella quantidade que se ha de fazer naquelle dia, porque tanto que seccão as folhas não prestãm para isto: e aquelles pelouros feitos fazem a tinta com que tingem os seus panos, os quais, como fica dito, são mui formosos e tão tintos que ficão parecendo setins. - ANDRÉ ÁLVARES DE ALMADALoc. cito pág. 13. (11) Manganaz é o nome vernáculo da lcacina seneqalensis A. ]USS. (12) Uanda é o nome vernáculo da .Marinda geminata D. C. .
  • 9. (13) Poilão é o nome vernáculo da Ceiba pentandra, GAERTIl;. (14) Calobaceira é o nome vernáculo da Adansonia digiJata LINN. (15) TIIc Usejul Plants 01 Wcsl Tropical A/rica by J. M. DALZIEL, pág.2~. -1937. Londres. (16) DALZIEL-Loc. cit. pág. 245 (17) Loc, cito pág. 249. J. Espírito Santo
  • 10. J. Espírito Santo ( , (1) H. A. ~ICHOLLS & E. RAOUL-Petit Traité d'Agriculture Tropicale-« pág. 322. Paris. 189i (2) CONDE DF. FICALHO- Plantas fIteis da A/rica Portuguesa - Lisboa. 1884. (3) Loc. cit. pág. 130. Flora GmlES E SOUSA (29) agrupa as plantas da Guiné em: 1.0) povoamentos sempre verdes, divididos em: a) povoamentos sempre verdes das águas salgadas (mangais); b) povoamentos sempre verdes das
  • 11. águas doces (galerias florestais); e c) povoamentos sempre verdes dos terrenos secos (palmares de Elaeis guineensis e de Borassus flabellifer) ; iO) povoamentos de folha caduca, compreendendo os povoamentos: a) com dominância de malváceas, em particular Ceiba pentandra, na zona coteira; b) com dominância de leguminosas (Parkia biglobosa, Daniellia thurifera e Albizzia spp.); c) sem dominância definida (Khaya seneçolensis, Pycnanthus Kombo, Xylopsia aethiopico, Terminalia macroptera, etc.). Segundo EsPÍRITO SANTO (2), embora esteja ainda por fazer o estudo da distribuição das manchas de vegetação, relativamente à sua fisionomia, nas diferentes regiões fitogeográficas da Colónia podem, de uma maneira geral, considerar-se os seguintes tipos fisionómicos : I.") floresta hidrófila, 2.°) floresta mesófila, 3.°) floresta xerôjila, 4.°) mato aberto serõjilo, 5.°) capinais . • Floresta hidrófila. - Abrange toda a vegetação que acompanha os cursos de água doce ou salgada, e as depressões de terreno, com excepção . das lalas e bolanhas. Fazem parte desta formação os mangais (3)', que (1) Citado por CURASSON (1). (2) ]. V. G. EspiRITO SANTO - Comunicação pessoal. (3) No crioulo da Guiné, os mangais são impropriamente designados por tarrafes, devido à sua semelhança com o verdadeiro tarrofe (Tamarix gal/ice), muito abundante nas costas caboverdeanas. constituem as galerias florestais dos solos salgados, e as galerias florestais dos solos não salgados. O primeiro estrato de vegetação dos mangais é representado pelas espécies Rhizophora racemosa e Avicennia nítida, seguidas de um segundo estrato de Laguncularia racemosa. Disseminadas nos terrenos mais ou menos impregnados de sal marinho ou simplesmente influenciados pela água salgada, encontramos as seguintes espécies: Conocorpus erectus, Termina/ia scutifero, Phoenix reclinoto, Ecastaphillum Broumei, Drepenocarpus lunatus. Existe um último estrato desta formação, formado de plantas herbáceas, umas localizadas nos terrenos leves e areentos (C allavalia ohtusifolia, Ipomoea stolonifero, Thelanthero marítima), outras nos terrenos fortes e húmidos (Sesuvium portulacastrum, Phdoxerus uermiculotus, Banisteria leona e Brachyspteris ovata). Nas galerias florestais dos solos não salgados, aparecem os seguintes tipos: Elaeis guineensis, a palmeira do azeite; Parinari excelso, o mampataz; Picnanthus Kombo, em crioulo de S. Tomé pau-caixão; Antiaris africana, o pau-
  • 12. bicho branco; Kloinedox« gabotlensis, em beafada bissarnbaná; lrvinja gabunensis, em sosso cofé; Anihostema seneqalensis, em fula. bufena; Pentaclethro macrophila, em crioulo de .S. Tomé rnuandim, etc. Floresta mesôfila. - Caracteriza-se pelo seu duplo aspecto fisionómico em relação com a estação em que é observada, apresentando na época das chuvas o aspecto de floresta pluviosa, e no tempo seco o de floresta clara (sub- xerófila). Fazem parte desta formação: Ceibo pentondro, o poilão; Khaya seneqalensis, o bissilão; Erithrophleum guineense. o mancone; Chlorophora excelso, o pau-bicho; Sterculia troçocamo, a rnanjanja; Alstonia conqensis, a tagara; Albizzia sasso, a farroba de laia, etc. Floresta xerófila. - Caracteriza-se pelos tipos biológicos de· folhas caducas, formados por ávores e arbustos dispersos, com intervalos povoados por grarníneas. As plantas que entram na floresta xerófila compreendem: Parinari macrophyla, o mampataz grande; Bombax buonopoeense, o poilão forro; Parkia biqloboso, a farroba : Terminalia macroptero, o macete; Pterocarpus erinaceus, o pau-sangue; Daniellio thurífera. o pau-incenso; Erithrophleum africcnus, em fula péli; Oxytenathera abyssinica, o barnbú; Prosopis africana, o pau-carvão; Dicbrostachys glomerata, em fula tchide; Acacia albido, Acacia machrostachya e Acacia seneqal, as acácias, etc. Mato aberto xerájilo, - Di fere do anterior pela dominância das gramineas, com arbustos raquíticos e rizomatosos. Nas gramineas, predominam os géneros Andropoqon, Ponicum, Pennisetum, etc.; nos arbustos, a mambomba (Annona seneçalensis}, o manganaz (Icacina seneçalensis ), Zizyphus Jt,jubo, Gimnosporio seneqalensis, Colotropis procera, etc. Capinais. - Plantas anuais dos terrenos secos ou húmidos, com alguns arbustos esparsos, geralmente sujeitas a queimadas anuais. Os tipos desta formação pertencem aos géneros Phraqmites, Andropogon, Ctenium, Hyporrhemia, Leersui, Rhytachne, Echinochloa, Ronboeliio, Rtvynchelytrum, Heteropoçon, Pennisetum, Selaria, Impera/a, Perotis, Aristida, Açrostis, CytlOdon, Chloris, Eleusine, etc. Nos extremos bio-ecológicos das relações entre as tsétsés e os diversos tipos de vegetação, aliados aos restantes factores epizootol6gicos, si tua-se, de um lado, a Glossina palpalis, espécie tipo de tsétsé higrófila, que, para viver, necessita da humidade dos mangais e das galerias florestais dos terrenos não salgados, e, do outro, a Glossina sub-morsitans, espécie xerófila, mais abundante nas regiões florestais e savânicas do interior, com passagem pelas necessidades intermediárias da Glossino /011- gipalpis e da Glossino fusca.
  • 13. IS-L. A. CARVALHO VIEGAs-Guiné Portuguesa. Vol. r. Lisboa, 1936. 16 - A. MONARII- Résultats de la mission scientifique du dr. Monard en Guinée Portugaisé, 1937-1938. II. Ongulés. -Arq. do Mus. Bocage IX. 150-196. 1938. 17-F. FRADE-Distribuition géographique des éléphants d'Afrique.-C. R. XII' Congo Intem. ZO%~~ Lisbonne 1935. II. 1191-1202. 1936-37. 18-F. COUTOULY-Gros et petit gibier en Afrique Occidentale Française (carnivores, édentés, proboscidiens, hippopotamidés, suidés, primates, rongeurs).Bu/I. Comité d'~ttld. Hist, et Scienti]. de I'Afrique Occid. Françoise VIII. 559-605. 1925. 19 - A. MONARD - Résultats de la mission scientifique du dr. Monard en Guinée Portugaise, 1937-1938. I. Primates. - Arq. do MUI. Bocage IX. 121-149. 1938. ▀ A Flora da Guiné-Bissau Os primeiros levantamentos sobre a flora da Guiné-Bissau datam do período colonial no qual se salientam sobretudo os diferentes trabalhos do Instituto de Investigação Científica de Portugal (precursor da então chamada Junta de Investigação do Ultramar), que através de diferentes missões geográficas e de investigação do Ultramar, procedeu a recolha e a identificação de várias espécies florísticas e faunísticas, e que ainda actualmente continuam a ser realizadas no quadro de cooperações específicas com o INPA, a ONG Acção para o Desenvolvimento e o Programa da Reserva da Biosfera coordenado pelo INEP. Sobretudo os resultados dos inventários realizados no período colonial, encontram-se nas diferentes publicações da então Junta de Investigação do Ultramar e na Série de Publicações “Garcia da Horta". A este processo e sobretudo no sentido de definir a superfície ocupada pelas diferentes formações foram importantes os trabalhos do SCET-Internacional, ATLANTA-Consult e por último do CIRAD-Foret. Este último enquadrou-se no processo de elaboração do Plano Director de Floresta (PAFT). Igualmente trabalhos pontuais foram entretanto desenvolvidos por investigadores nacionais e estrangeiros, como é o caso de BANCESSI, Q. que inventariou leguminosas e gramíneas da Guiné- Bissau e da Iniciativa de Cantanhez e da Universidade de Jembloux, que inventariaram variadas espécies florísticas da floresta húmida de Cantanhez, e por ONGs sobretudo no quadro da farmacopeia tradicional da Guiné-Bissau. Uma inventariação exaustiva com base na literatura dá conta da existência de 1.186 espécies inventariadas na Guiné-Bissau, agrupadas em cerca de 160 famílias como demonstra o quadro 2, em anexo I. Destes segundo DAVIS & al. (1986) citados no "Guia da Biodiversidade" cerca de 12 espécies são endémicas, entretanto das quais só cita o nome das seguintes: Byrsanthus brownii var. latifolius Indigofera omissa var. trifoliliolata Nesaea santoi Hyphaena santoana As Papilonaceas, com 131 especies, as Rubiaceae com 73, as gramíneas com 97 são as famílias com maior número de espécies (vide tabela 2 em Anexo I). Saliente-se que, as plantas inferiores, as plantas aquáticas em geral, ainda
  • 14. estão pouco estudadas na Guiné-Bissau. Identificou-se em diferentes literaturas os usos seguintes para algumas das espécies recenseadas: 128 têm uso na medicina tradicional; 30 espécies fornecem madeira de construção; 76 têm usos alimentares na alimentação humana; cerca de 86 espécies são objectos de uso diverso, entre os quais para alimentação do gado, artesanato, etc. Designações da maioria das espécies recenseadas são conhecidas nas diferentes línguas nacionais, o que demonstra em parte o grande acervo de conhecimento tradicional sobre as espécies existentes nas diferentes formações vegetais da Guiné-Bissau. Exemplares de várias destas espécies encontram-se depositadas de forma dispersa, nos herbários da Casa de Ambiente em Bubaque, nos centros do INPA em Contuboel, na sede da Iniciativa de Cantanhez em Iemberem. Amostras de medicamentos existem igualmente em Farim no quadro das acções da Swissaid, em Varela na Escola de Verificação Ambiental promovida pela ONG AD, na Casa de Ambiente em Bubaque coordenada pelo INEP, assim como nos diferentes centros do INPA. Uma grande colecção de amostras existe no herbário do Centro de Botânica do IICT, e exemplares vivos “ex-situ” no “antigo” Jardim e Museu Agrícola do Ultramar em Portugal. MALAISE (1996), efectuou um estudo recente no quadro da Iniciativa de Cantanhez na qual identificou na floresta húmida com o mesmo nome, cerca de 237 espécies, entre as quais, 8 pteridófitas e 237 plantas superiores (191 dicotiledôneas e 191 monocotiledóneas). As espécies de plantas superiores foram agrupadas em 84 famílias e 197 géneros. Na Reserva da Biosfera, e no quadro dos inventários recentes efectuados em colaboração com o IICT de Portugal foram identificados cerca de 213 espécies agrupadas em cerca de 30 famílias. Das espécies identificadas em Bubaque, 65 são utilizadas de forma diferenciada na farmacopeia tradicional. (…) Se bem que muito pouco conhecidas ainda, existem maciços consideráveis nas Ilhas de Caravela, Enú e Cute, e João Vieira no Arquipélago Bolama-Bijagós, assim como a Floresta de Ucô na zona de Calequisse e nas Ilhas de Jeta e Pecixe. República da Guiné-Bissau Ministério de Desenvolvimento Rural e Agricultura, Recursos Naturais e Ambiente Programa de Nações Unidas para Desenvolvimento Projecto GBS/97/G31/1G/9 - “Estratégia e Plano de Acção Nacional para a Biodiversidade