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Aristóteles

 Para Aristóteles, o dualismo platônico entre mundo sensível e mundo das idéias era um artifício
dispensável para responder à pergunta sobre o conhecimento verdadeiro. Nossos pensamentos
não surgem do contato de nossa alma com o mundo das idéias, mas da experiência sensível.
"Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos", dizia o filósofo.

  Isso significa que não posso ter idéia de um teiú (lagarto) sem ter observado um diretamente
ou por meio de uma pesquisa científica. Sem isso, "teiú" é apenas uma palavra vazia de
significado. Igualmente vazio ficaria nosso intelecto se não fosse preenchido pelas informações
que os sentidos nos trazem.

  Mas nossa razão não é apenas receptora de informações. Aliás, o que nos distingue como
seres racionais é a capacidade de conhecer. E conhecer está ligado à capacidade de entender o
que a coisa é no que ela tem de essencial. Por exemplo, se digo que "todos os cavalos são
brancos", vou deixar de fora um grande número de animais que poderiam ser considerados
cavalos, mas que não são brancos. Por isso, ser branco não é algo essencial em um cavalo,
mas você nunca encontrará um cavalo que não seja mamífero, quadrúpede e herbívoro.

O papel da razão

  Conhecer é perceber o que acontece sempre ou freqüentemente. As coisas que acontecem de
modo esporádico ou ao acaso, como o fato de uma pessoa ser baixa ou alta, ter cabelos
castanhos ou escuros, nada disso é essencial. Aristóteles chama essas características de
acidentes.

  O erro dos sofistas (e de muita gente ainda hoje) é o de tomar algo acidental como sendo a
essência. Através desse artifício, diziam que não se pode determinar quem é Sócrates, porque
se Sócrates é músico, então não é filósofo, se é filósofo, então não é músico. Ora, Sócrates
pode ser várias coisas sem que isso mude sua essência, ou seja, o fato de ser um animal
racional como todos nós.

  Mas como nós fazemos para conhecer a definição de algo e separar a essência dos
acidentes? Aí está o papel da razão. A razão abstrai, ou seja, classifica, separa e organiza os
objetos segundo critérios. Observando os insetos, percebo que eles são muito diferentes uns dos
outros, mas será que existe algo que todos tenham em comum que me permita classificar uma
barata, um besouro ou um gafanhoto como insetos? Sim, há: todos têm seis pernas. Se
abstrairmos mais um pouco, perceberemos que os insetos são animais, como os peixes, as
aves...

Ato ou potência

  E poderíamos ir mais longe, separando o que é ser, do que não é. E aqui chegamos à outra
grande contribuição de Aristóteles: se o ser é e o não-ser não é, como dizia Parmênides, então
como é possível o movimento?

  Segundo Aristóteles, as coisas podem estar em ato ou em potência. Por exemplo, uma
semente é uma árvore em potência, mas não em ato. Quando germina, a semente torna-se
árvore em ato. O movimento é a passagem do ato à potência e da potência ao ato.

Qual a causa?

  Por outro lado, se as coisas mudassem completamente ao acaso, não poderíamos conhecê-
las. Conhecer é saber qual a causa de algo. Se tenho uma dor de estômago, mas não sei a
causa, também não posso tratar-me. Conhecendo a causa é possível saber não só o que a coisa
é, mas o que se tornará no futuro. Pois, se determinado efeito se segue sempre de uma
determinada causa, então podemos estabelecer leis e regras, tal como se opera nos vários
ramos da ciência.

As quatro causas

  Para Aristóteles uma coisa é o que é devido a sua forma. Como, porém, o filósofo entende
essa expressão? Ele compreende a forma como a explicação da coisa, a causa de algo ser
aquilo que é. Na verdade, Aristóteles distingue a existência de quatro causas diferentes e
complementares:

Causa material: de que a coisa é feita? No exemplo da casa, de tijolos.

Causa eficiente: o que fez a coisa? A construção.

Causa formal: o que lhe dá a forma? A própria casa.

Causa final: o que lhe deu a forma? A intenção do construtor.

   Há uma hierarquia entre as causas, sendo a causa final a mais importante. A ciência que
estuda as causas últimas de tudo é chamada de filosofia. Por isso, a tradição costuma situar a
filosofia como a ciência mais elevada ou mãe de todas as ciências, por ser o ramo do
conhecimento que estuda as questões mais gerais e abstratas.

  Embora Aristóteles não seja materialista (vimos que a forma não é a matéria), sua explicação
do mundo é mundana, está no próprio mundo. Finalmente, para o filósofo, a essência de
qualquer objeto é a sua função. Diz ele que, se o olho tivesse uma alma, esta seria o olhar; se
um machado tivesse uma alma, esta seria o cortar. Entendendo isso, entendemos as coisas.

Ética e política

  No campo da ética, segundo Aristóteles, todos nós queremos ser felizes no sentido mais pleno
dessa palavra. Para obter a felicidade, devemos desenvolver e exercer nossas capacidades no
interior do convívio social.

  Aristóteles acredita que a auto-indulgência e a autoconfiança exageradas criam conflitos com
os outros e prejudicam nosso caráter. Contudo, inibir esses sentimentos também seria
prejudicial. Vem daí sua célebre doutrina do justo meio, pela qual a virtude é um ponto
intermediário entre dois extremos, os quais, por sua vez, constituem vícios ou defeitos de
caráter.

  Por exemplo, a generosidade é uma virtude que se situa entre o esbanjamento e a
mesquinharia. A coragem fica entre a imprudência e a covardia; o amor-próprio, entre a vaidade
e a falta de auto-estima, o desprezo por si mesmo. Nesse sentido, a ética aristotélica é uma ética
do comedimento, da moderação, do afastamento de todo e qualquer excesso.

  Para Aristóteles, é a ética que conduz à política. Segundo o filósofo, governar é permitir aos
cidadãos viver a vida plena e feliz eticamente alcançada. O Estado, portanto, deve tornar
possível o desenvolvimento e a felicidade do indivíduo. Por fim, o indivíduo só pode ser feliz em
sociedade, pois o homem é, mais do que um ser social, um animal político - ou seja, que precisa
estabelecer relações com outros homens.


Platão

O problema do conhecimento surge em Platão como o processo em que o homem acessa o
inteligível. Pode-se perceber que todos os filósofos anteriores, de algum modo, já tinham
trabalhado esta dimensão, porém nenhum deles da forma e presteza com que fez Platão.
Vê-se que, ao contrário de Demócrito e seus seguidores, Platão não buscava as verdadeiras
essências da forma física, mas sob a influência de Sócrates, buscava a verdade essencial. Para
ele, a verdade não poderia ser buscada a partir da teoria atômica apresentada por Demócrito,
pois a existência destas coisas materiais não divisíveis, são corruptíveis, variam, mudam,
surgem e se vão. Como filósofo, sabia que deveria buscar a verdade plena em algo estável e
nas verdadeiras causas, pois a verdade não pode variar. Ele dizia ainda que, se há uma verdade
essencial para os homens, essa deve valer para todas as pessoas, portanto, devendo ser
buscada em algo superior.
Assim como em Parmênides e em Heráclito a questão do conhecimento relaciona-se com
exigências ontológicas, ocorre em Platão. O primeiro, levado pelas exigências do ser, negara
qualquer valor ao conhecimento sensível, enquanto o segundo, premido pelas exigências do
devir, deu pleno valor a este conhecimento. Em ambos a epistemologia é movida pela
metafísica, sendo que em Parmênides ela reconhece como válido apenas o conhecimento
intelectivo, na condução da realidade ao que é estático, e, em Heráclito, ela reconhece, pelo
contrário, apenas o conhecimento sensitivo como válido, através da condução da realidade ao
que é dinâmico.
Já na metafísica de Platão há lugar, não somente para o ser estático de Parmênides, como
também para o mundo em devir de Heráclito, pois para Platão a realidade se constitui de um
estrato estático e de outro dinâmico. Daí pode-se notar a valorização na epistemologia platônica
tanto ao conhecimento intelectivo quanto ao sensitivo, respectivamente para o mundo das idéias
e para o mundo sensível.
A primeira obra de Platão que tenta abordar essa temática do conhecimento é Menon, onde
aparece uma aporia com relação ao que se já se conhece e o que se é possível conhecer; em
vista disso, Platão propõe que o conhecimento é anamnese, ou seja, é uma forma de recordação
do que já existe desde sempre no interior da alma humana. Essa anamnese é apresentada em
duas formas: uma mítica, vinculada às doutrinas órfico-pitagóricas, onde a alma é imortal e
renasce muitas vezes, por isso já teria visto e conhecido toda a realidade, tanto neste quanto no
outro mundo; a outra, dialética, e Platão a experimenta quando interroga um escravo sobre
questões geométricas e, a partir do diálogo, este consegue acertar a resposta. Tanto no
mitológico como no dialético, o conhecimento, acredita-se, vem de dentro da própria pessoa,
extraindo de si mesmo verdades que não conhecia e as quais ninguém lhe ensinou. Isso se
relaciona claramente com o método socrático que provavelmente influenciou o pensamento
platônico em peso equivalente ao dado às doutrinas órfico-pitagóricas.
A anamnese explica de onde vem e como pode ser o conhecimento desde que haja, já na alma,
a presença do verdadeiro. Platão, querendo melhor detalhar esse alcance da verdade,
desenvolve etapas e modos específicos de realização deste conhecimento, que são explicitados
em A República e nos diálogos dialéticos.
Platão parte do princípio que o conhecimento é proporcional ao ser. Quanto maior o grau de ser,
maior o de cognoscibilidade e o mesmo no sentido inverso. À realidade intermediária que é
mistura do ser e do não ser, que está entre as duas polaridades e é sujeito do devir, Platão
chama sensível. Dentro desse intermediário, o filósofo descobre um conhecimento também
intermediário entre ciência e ignorância, que chama ele doxa ou opinião.
Platão considera este tipo de conhecimento, que não é identificável ao conhecimento verdadeiro,
como algo quase sempre enganador e por mais que seja verdadeiro, sua verdade não pode se
provar, nem sequer se garantir, por si próprio. Está sempre sujeito a alterações, o que é
característico do mundo sensível. Para que a opinião seja provada como verdadeira, a teoria
platônica do conhecimento impõe que ela seja tratada com o expediente do raciocínio causal,
experimentando-a através do conhecimento da causa, ou seja, da Idéia, levando-a a outro
horizonte, agora não mais sensível, o que a faz deixar de ser opinião – doxa – para ser ciência –
episteme.
Outra graduação criada por Platão está relacionada exatamente a estas duas formas do
conhecimento. A primeira, que corresponde aos graus do sensível, divide-se em simples
imaginação (eikasía) que se refere às sombras e às imagens sensíveis das coisas, e, em crença
(pistis) que corresponde às coisas e aos próprios objetos sensíveis; a segunda, no entanto,
relacionada aos dois graus do inteligível, dividindo-se em ciência intermediária (dianóia), que é
um conhecimento intermediário ligado às coisas visíveis e também às hipóteses e ainda, como
segundo nível da ciência, a inteleção pura (noesis) que se exerce através da captação pura das
Idéias e do princípio supremo e absoluto do qual dependem todas elas.
Para contemplar o conhecimento, o homem deve caminhar desde a opinião até à ciência
educando-se gradualmente, como contece no mito da caverna, onde os homens são como
escravos que vêem sombras projetadas pelo fogo de fora (eikasía) e as tomam como realidade,
por que não conhecem o que é verdadeiro; saindo da caverna não poderiam de imediato
suportar a luz do sol; teriam que se habituar a olhar as sombras e as imagens refletidas (pistis),
em seguida, as próprias coisas (diánoia) e só no fim de tudo poderia contemplar o sol (noesis). A
caverna é, analogamente, o mundo sensível, quem dela sai, sabe que a verdadeira realidade
está fora e não são sombras, sendo assim, parte do mundo das Idéias, ou mundo supra-
sensível.
Por isso, para Platão, os homens comuns estão presos ao nível da opinião. Ao plano das
ciências, os matemáticos conseguem ascender-se à diánoia, mas somente o filósofo à noesis e
à ciência suprema. Isso porque o intelecto e a inteleção, tendo superado o mundo sensível
captam as Idéias na sua pureza, que através de um processo de implicação e exclusão, que se
denomina dialética, conduz à Idéia Suprema, o Incondicionado. Esse processo pode levar
também tanto do sensível às Idéias, como pode ocorrer no sentido descendente, levando a
extração de Idéias particulares das Idéias gerais. Desse modo, o filósofo é “o dialético”, pois
percorre o caminho e realiza os processos.
Portanto, dentro dessa perspectiva da teoria do conhecimento em Platão, pode-se perceber de
modo, ora aporético, ora bastante claro, que a partir de sua doutrina, seu pensamento e
ensinamento na Academia, que o conhecimento, ou a verdade, como ele próprio se refere, é a
captação e a apreensão do mundo das Idéias, através de um progressivo e reminiscente
aprendizado, que leva a entender a forma como este mundo supra-sensível se estrutura e, por
fim, a compreensão do lugar, do valor e do sentido que cada Idéia ocupa em relação às outras.
Finalmente, se como foi dito, recordar é se fazer aprender, a teoria platônica do conhecimento
pode ajudar hoje na vida acadêmica de modo considerável, nem tanto no sentido sensível e
supra-sensível que ele a deu, mas muito mais, no sentido de que o saber é um processo, no qual
o próprio estudante é o sujeito. Por último, cabe lembrar do que disse Platão: “Aquilo que
absolutamente é, é absolutamente cognoscível, aquilo que de nenhum modo é, de nenhum
modo é cognoscível”. Faz entender o profundo sentido que ele dá ao mundo das Idéias, onde
tudo é mais perfeito e onde está a real verdade, por isso, nele as coisas são mais absolutas que
no mundo sensível e assim, mais possível de serem conhecidas plenamente. O conhecimento,
em Platão, é, por fim, o cume do caminho percorrido, a verdade buscada e contemplada.

Sócrates

A figura de Sócrates é como um divisor de águas na Filosofia Antiga, tanto que os filósofos
anteriores a ele são tradicionalmente chamados de pré-socráticos.

De fato, com Sócrates há uma mudança significativa no rumo das discussões filosóficas sobre a
verdade e o conhecimento. Os primeiros filósofos estavam preocupados em encontrar o
fundamento (arké) de todas as coisas. Sócrates, por sua vez, está mais interessado em nossa
relação com os outros e com o mundo.

Curiosamente, Sócrates nada escreveu - e tudo o que sabemos dele é graças a seus discípulos,
particularmente Platão. Sócrates teria tomado a inscrição da entrada do templo de Delfos como
inspiração para construir sua filosofia: Conhece-te a ti mesmo.

Para compreendermos o sentido dessa frase, segundo o filósofo francês Michel Foucault (1926 -
1984), devemos inscrevê-la em uma estratégia mais geral do cuidado de si.

Ou seja, o que Sócrates pregava era que nós devemos nos ocupar menos com as coisas
(riqueza, fama, poder) e passarmos a nos ocupar com nós mesmos. Poderia objetar-se: com que
propósito deveria ocupar-me comigo mesmo? Porque é o caminho que me permite ter acesso à
verdade. Mas que tipo de verdade? Obviamente não é uma verdade qualquer, tal como a
fórmula química da água, mas a verdade que é capaz de transformá-lo no seu próprio ser de
sujeito.

É esse ato de conhecimento, capaz de promover nossa autotranscendência, de que fala
Sócrates. Conhecer a mim mesmo para saber como modificar minha relação para comigo, com
os outros e com o mundo.

Como ter acesso à verdade?
Tal modificação para ter acesso à verdade, contudo, não é um ato puramente intelectual. Ela
exige, por vezes, determinadas renúncias e purificações, das quais Sócrates é um exemplo.

Sócrates dizia ter recebido de Deus a missão de exortar os atenienses, fossem eles velhos ou
jovens, a deixarem de cuidar das coisas, passando a cuidar de si mesmos. Tal atitude o fez
dedicar-se inteiramente à filosofia e à prática dialógica (uma forma especial de diálogo,
denominada maiêutica) por meio da qual ele fazia com que seu interlocutor percebesse as
inconsistências de seu discurso e se autocorrigisse.

A atitude de Sócrates questionava os valores da sociedade ateniense, razão pela qual seus
inimigos o levaram ao tribunal, onde foi julgado e condenado à morte. Sua morte, porém, não
impediu que a questão do cuidado de si se tornasse um tema central na filosofia durante mais de
mil anos - e chegasse a influenciar alguns filósofos modernos e contemporâneos.

A questão central do cuidado de si é que jamais se tem acesso à verdade sem uma experiência
de purificação, de meditação, de exame de consciência - enfim, através de determinados
exercícios espirituais capazes de transfigurar nosso próprio ser.

Dito de outro modo, o estado de iluminação, de descoberta da verdade, não é produto do estudo,
mas de uma prática acompanhada de reflexão constante sobre minhas ações, atitudes - e de
como posso modificá-las para me tornar uma pessoa melhor. É como se a vida fosse uma obra
de arte em que nós vamos nos moldando, nos aperfeiçoando no decorrer da existência.

A difícil busca da verdade
Atualmente, estamos distantes dessa perspectiva socrática do cuidado de si. A ciência moderna
está preocupada com a produção e acumulação de conhecimentos.

Mas quando nos perguntamos: para quê acumulamos e produzimos conhecimento? A resposta é
simplesmente: para aumentar infinitamente nosso conhecimento. Entramos, assim, numa corrida
sem fim, em que nunca nos questionamos se isso realmente está trazendo os benefícios
prometidos.

Claro que a tecnologia traz inegáveis benefícios, mas não parece que as pessoas, atualmente,
estejam mais felizes. Pode-se alegar, no entanto, que não é papel do conhecimento e da ciência
promover a felicidade humana - e que, talvez, conhecimento e ciência tenham a única função de
contribuir para a concentração de poder e dinheiro nas mãos de alguns uns poucos.

Sócrates, porém, via a busca da verdade como um caminho de ascese, pois, quando cuidamos
de nós mesmos, modificamos nossa relação com os outros e com o mundo.

Mergulhados em preocupações com a aparência e o consumo, pensamos estar cuidando de nós
mesmos, quando na verdade estamos nos perdendo em meio às coisas. É preciso conhecer a si
mesmo para não perder-se. Claro que você não vai encontrar toda verdade em si mesmo, mas,
pelo menos, a única verdade capaz de salvá-lo.

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Filosofia

  • 1. Aristóteles Para Aristóteles, o dualismo platônico entre mundo sensível e mundo das idéias era um artifício dispensável para responder à pergunta sobre o conhecimento verdadeiro. Nossos pensamentos não surgem do contato de nossa alma com o mundo das idéias, mas da experiência sensível. "Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos", dizia o filósofo. Isso significa que não posso ter idéia de um teiú (lagarto) sem ter observado um diretamente ou por meio de uma pesquisa científica. Sem isso, "teiú" é apenas uma palavra vazia de significado. Igualmente vazio ficaria nosso intelecto se não fosse preenchido pelas informações que os sentidos nos trazem. Mas nossa razão não é apenas receptora de informações. Aliás, o que nos distingue como seres racionais é a capacidade de conhecer. E conhecer está ligado à capacidade de entender o que a coisa é no que ela tem de essencial. Por exemplo, se digo que "todos os cavalos são brancos", vou deixar de fora um grande número de animais que poderiam ser considerados cavalos, mas que não são brancos. Por isso, ser branco não é algo essencial em um cavalo, mas você nunca encontrará um cavalo que não seja mamífero, quadrúpede e herbívoro. O papel da razão Conhecer é perceber o que acontece sempre ou freqüentemente. As coisas que acontecem de modo esporádico ou ao acaso, como o fato de uma pessoa ser baixa ou alta, ter cabelos castanhos ou escuros, nada disso é essencial. Aristóteles chama essas características de acidentes. O erro dos sofistas (e de muita gente ainda hoje) é o de tomar algo acidental como sendo a essência. Através desse artifício, diziam que não se pode determinar quem é Sócrates, porque se Sócrates é músico, então não é filósofo, se é filósofo, então não é músico. Ora, Sócrates pode ser várias coisas sem que isso mude sua essência, ou seja, o fato de ser um animal racional como todos nós. Mas como nós fazemos para conhecer a definição de algo e separar a essência dos acidentes? Aí está o papel da razão. A razão abstrai, ou seja, classifica, separa e organiza os objetos segundo critérios. Observando os insetos, percebo que eles são muito diferentes uns dos outros, mas será que existe algo que todos tenham em comum que me permita classificar uma barata, um besouro ou um gafanhoto como insetos? Sim, há: todos têm seis pernas. Se abstrairmos mais um pouco, perceberemos que os insetos são animais, como os peixes, as aves... Ato ou potência E poderíamos ir mais longe, separando o que é ser, do que não é. E aqui chegamos à outra grande contribuição de Aristóteles: se o ser é e o não-ser não é, como dizia Parmênides, então como é possível o movimento? Segundo Aristóteles, as coisas podem estar em ato ou em potência. Por exemplo, uma semente é uma árvore em potência, mas não em ato. Quando germina, a semente torna-se árvore em ato. O movimento é a passagem do ato à potência e da potência ao ato. Qual a causa? Por outro lado, se as coisas mudassem completamente ao acaso, não poderíamos conhecê- las. Conhecer é saber qual a causa de algo. Se tenho uma dor de estômago, mas não sei a causa, também não posso tratar-me. Conhecendo a causa é possível saber não só o que a coisa é, mas o que se tornará no futuro. Pois, se determinado efeito se segue sempre de uma
  • 2. determinada causa, então podemos estabelecer leis e regras, tal como se opera nos vários ramos da ciência. As quatro causas Para Aristóteles uma coisa é o que é devido a sua forma. Como, porém, o filósofo entende essa expressão? Ele compreende a forma como a explicação da coisa, a causa de algo ser aquilo que é. Na verdade, Aristóteles distingue a existência de quatro causas diferentes e complementares: Causa material: de que a coisa é feita? No exemplo da casa, de tijolos. Causa eficiente: o que fez a coisa? A construção. Causa formal: o que lhe dá a forma? A própria casa. Causa final: o que lhe deu a forma? A intenção do construtor. Há uma hierarquia entre as causas, sendo a causa final a mais importante. A ciência que estuda as causas últimas de tudo é chamada de filosofia. Por isso, a tradição costuma situar a filosofia como a ciência mais elevada ou mãe de todas as ciências, por ser o ramo do conhecimento que estuda as questões mais gerais e abstratas. Embora Aristóteles não seja materialista (vimos que a forma não é a matéria), sua explicação do mundo é mundana, está no próprio mundo. Finalmente, para o filósofo, a essência de qualquer objeto é a sua função. Diz ele que, se o olho tivesse uma alma, esta seria o olhar; se um machado tivesse uma alma, esta seria o cortar. Entendendo isso, entendemos as coisas. Ética e política No campo da ética, segundo Aristóteles, todos nós queremos ser felizes no sentido mais pleno dessa palavra. Para obter a felicidade, devemos desenvolver e exercer nossas capacidades no interior do convívio social. Aristóteles acredita que a auto-indulgência e a autoconfiança exageradas criam conflitos com os outros e prejudicam nosso caráter. Contudo, inibir esses sentimentos também seria prejudicial. Vem daí sua célebre doutrina do justo meio, pela qual a virtude é um ponto intermediário entre dois extremos, os quais, por sua vez, constituem vícios ou defeitos de caráter. Por exemplo, a generosidade é uma virtude que se situa entre o esbanjamento e a mesquinharia. A coragem fica entre a imprudência e a covardia; o amor-próprio, entre a vaidade e a falta de auto-estima, o desprezo por si mesmo. Nesse sentido, a ética aristotélica é uma ética do comedimento, da moderação, do afastamento de todo e qualquer excesso. Para Aristóteles, é a ética que conduz à política. Segundo o filósofo, governar é permitir aos cidadãos viver a vida plena e feliz eticamente alcançada. O Estado, portanto, deve tornar possível o desenvolvimento e a felicidade do indivíduo. Por fim, o indivíduo só pode ser feliz em sociedade, pois o homem é, mais do que um ser social, um animal político - ou seja, que precisa estabelecer relações com outros homens. Platão O problema do conhecimento surge em Platão como o processo em que o homem acessa o inteligível. Pode-se perceber que todos os filósofos anteriores, de algum modo, já tinham
  • 3. trabalhado esta dimensão, porém nenhum deles da forma e presteza com que fez Platão. Vê-se que, ao contrário de Demócrito e seus seguidores, Platão não buscava as verdadeiras essências da forma física, mas sob a influência de Sócrates, buscava a verdade essencial. Para ele, a verdade não poderia ser buscada a partir da teoria atômica apresentada por Demócrito, pois a existência destas coisas materiais não divisíveis, são corruptíveis, variam, mudam, surgem e se vão. Como filósofo, sabia que deveria buscar a verdade plena em algo estável e nas verdadeiras causas, pois a verdade não pode variar. Ele dizia ainda que, se há uma verdade essencial para os homens, essa deve valer para todas as pessoas, portanto, devendo ser buscada em algo superior. Assim como em Parmênides e em Heráclito a questão do conhecimento relaciona-se com exigências ontológicas, ocorre em Platão. O primeiro, levado pelas exigências do ser, negara qualquer valor ao conhecimento sensível, enquanto o segundo, premido pelas exigências do devir, deu pleno valor a este conhecimento. Em ambos a epistemologia é movida pela metafísica, sendo que em Parmênides ela reconhece como válido apenas o conhecimento intelectivo, na condução da realidade ao que é estático, e, em Heráclito, ela reconhece, pelo contrário, apenas o conhecimento sensitivo como válido, através da condução da realidade ao que é dinâmico. Já na metafísica de Platão há lugar, não somente para o ser estático de Parmênides, como também para o mundo em devir de Heráclito, pois para Platão a realidade se constitui de um estrato estático e de outro dinâmico. Daí pode-se notar a valorização na epistemologia platônica tanto ao conhecimento intelectivo quanto ao sensitivo, respectivamente para o mundo das idéias e para o mundo sensível. A primeira obra de Platão que tenta abordar essa temática do conhecimento é Menon, onde aparece uma aporia com relação ao que se já se conhece e o que se é possível conhecer; em vista disso, Platão propõe que o conhecimento é anamnese, ou seja, é uma forma de recordação do que já existe desde sempre no interior da alma humana. Essa anamnese é apresentada em duas formas: uma mítica, vinculada às doutrinas órfico-pitagóricas, onde a alma é imortal e renasce muitas vezes, por isso já teria visto e conhecido toda a realidade, tanto neste quanto no outro mundo; a outra, dialética, e Platão a experimenta quando interroga um escravo sobre questões geométricas e, a partir do diálogo, este consegue acertar a resposta. Tanto no mitológico como no dialético, o conhecimento, acredita-se, vem de dentro da própria pessoa, extraindo de si mesmo verdades que não conhecia e as quais ninguém lhe ensinou. Isso se relaciona claramente com o método socrático que provavelmente influenciou o pensamento platônico em peso equivalente ao dado às doutrinas órfico-pitagóricas. A anamnese explica de onde vem e como pode ser o conhecimento desde que haja, já na alma, a presença do verdadeiro. Platão, querendo melhor detalhar esse alcance da verdade, desenvolve etapas e modos específicos de realização deste conhecimento, que são explicitados em A República e nos diálogos dialéticos. Platão parte do princípio que o conhecimento é proporcional ao ser. Quanto maior o grau de ser, maior o de cognoscibilidade e o mesmo no sentido inverso. À realidade intermediária que é mistura do ser e do não ser, que está entre as duas polaridades e é sujeito do devir, Platão chama sensível. Dentro desse intermediário, o filósofo descobre um conhecimento também intermediário entre ciência e ignorância, que chama ele doxa ou opinião. Platão considera este tipo de conhecimento, que não é identificável ao conhecimento verdadeiro, como algo quase sempre enganador e por mais que seja verdadeiro, sua verdade não pode se provar, nem sequer se garantir, por si próprio. Está sempre sujeito a alterações, o que é característico do mundo sensível. Para que a opinião seja provada como verdadeira, a teoria platônica do conhecimento impõe que ela seja tratada com o expediente do raciocínio causal, experimentando-a através do conhecimento da causa, ou seja, da Idéia, levando-a a outro horizonte, agora não mais sensível, o que a faz deixar de ser opinião – doxa – para ser ciência – episteme. Outra graduação criada por Platão está relacionada exatamente a estas duas formas do conhecimento. A primeira, que corresponde aos graus do sensível, divide-se em simples imaginação (eikasía) que se refere às sombras e às imagens sensíveis das coisas, e, em crença (pistis) que corresponde às coisas e aos próprios objetos sensíveis; a segunda, no entanto, relacionada aos dois graus do inteligível, dividindo-se em ciência intermediária (dianóia), que é
  • 4. um conhecimento intermediário ligado às coisas visíveis e também às hipóteses e ainda, como segundo nível da ciência, a inteleção pura (noesis) que se exerce através da captação pura das Idéias e do princípio supremo e absoluto do qual dependem todas elas. Para contemplar o conhecimento, o homem deve caminhar desde a opinião até à ciência educando-se gradualmente, como contece no mito da caverna, onde os homens são como escravos que vêem sombras projetadas pelo fogo de fora (eikasía) e as tomam como realidade, por que não conhecem o que é verdadeiro; saindo da caverna não poderiam de imediato suportar a luz do sol; teriam que se habituar a olhar as sombras e as imagens refletidas (pistis), em seguida, as próprias coisas (diánoia) e só no fim de tudo poderia contemplar o sol (noesis). A caverna é, analogamente, o mundo sensível, quem dela sai, sabe que a verdadeira realidade está fora e não são sombras, sendo assim, parte do mundo das Idéias, ou mundo supra- sensível. Por isso, para Platão, os homens comuns estão presos ao nível da opinião. Ao plano das ciências, os matemáticos conseguem ascender-se à diánoia, mas somente o filósofo à noesis e à ciência suprema. Isso porque o intelecto e a inteleção, tendo superado o mundo sensível captam as Idéias na sua pureza, que através de um processo de implicação e exclusão, que se denomina dialética, conduz à Idéia Suprema, o Incondicionado. Esse processo pode levar também tanto do sensível às Idéias, como pode ocorrer no sentido descendente, levando a extração de Idéias particulares das Idéias gerais. Desse modo, o filósofo é “o dialético”, pois percorre o caminho e realiza os processos. Portanto, dentro dessa perspectiva da teoria do conhecimento em Platão, pode-se perceber de modo, ora aporético, ora bastante claro, que a partir de sua doutrina, seu pensamento e ensinamento na Academia, que o conhecimento, ou a verdade, como ele próprio se refere, é a captação e a apreensão do mundo das Idéias, através de um progressivo e reminiscente aprendizado, que leva a entender a forma como este mundo supra-sensível se estrutura e, por fim, a compreensão do lugar, do valor e do sentido que cada Idéia ocupa em relação às outras. Finalmente, se como foi dito, recordar é se fazer aprender, a teoria platônica do conhecimento pode ajudar hoje na vida acadêmica de modo considerável, nem tanto no sentido sensível e supra-sensível que ele a deu, mas muito mais, no sentido de que o saber é um processo, no qual o próprio estudante é o sujeito. Por último, cabe lembrar do que disse Platão: “Aquilo que absolutamente é, é absolutamente cognoscível, aquilo que de nenhum modo é, de nenhum modo é cognoscível”. Faz entender o profundo sentido que ele dá ao mundo das Idéias, onde tudo é mais perfeito e onde está a real verdade, por isso, nele as coisas são mais absolutas que no mundo sensível e assim, mais possível de serem conhecidas plenamente. O conhecimento, em Platão, é, por fim, o cume do caminho percorrido, a verdade buscada e contemplada. Sócrates A figura de Sócrates é como um divisor de águas na Filosofia Antiga, tanto que os filósofos anteriores a ele são tradicionalmente chamados de pré-socráticos. De fato, com Sócrates há uma mudança significativa no rumo das discussões filosóficas sobre a verdade e o conhecimento. Os primeiros filósofos estavam preocupados em encontrar o fundamento (arké) de todas as coisas. Sócrates, por sua vez, está mais interessado em nossa relação com os outros e com o mundo. Curiosamente, Sócrates nada escreveu - e tudo o que sabemos dele é graças a seus discípulos, particularmente Platão. Sócrates teria tomado a inscrição da entrada do templo de Delfos como inspiração para construir sua filosofia: Conhece-te a ti mesmo. Para compreendermos o sentido dessa frase, segundo o filósofo francês Michel Foucault (1926 - 1984), devemos inscrevê-la em uma estratégia mais geral do cuidado de si. Ou seja, o que Sócrates pregava era que nós devemos nos ocupar menos com as coisas (riqueza, fama, poder) e passarmos a nos ocupar com nós mesmos. Poderia objetar-se: com que propósito deveria ocupar-me comigo mesmo? Porque é o caminho que me permite ter acesso à
  • 5. verdade. Mas que tipo de verdade? Obviamente não é uma verdade qualquer, tal como a fórmula química da água, mas a verdade que é capaz de transformá-lo no seu próprio ser de sujeito. É esse ato de conhecimento, capaz de promover nossa autotranscendência, de que fala Sócrates. Conhecer a mim mesmo para saber como modificar minha relação para comigo, com os outros e com o mundo. Como ter acesso à verdade? Tal modificação para ter acesso à verdade, contudo, não é um ato puramente intelectual. Ela exige, por vezes, determinadas renúncias e purificações, das quais Sócrates é um exemplo. Sócrates dizia ter recebido de Deus a missão de exortar os atenienses, fossem eles velhos ou jovens, a deixarem de cuidar das coisas, passando a cuidar de si mesmos. Tal atitude o fez dedicar-se inteiramente à filosofia e à prática dialógica (uma forma especial de diálogo, denominada maiêutica) por meio da qual ele fazia com que seu interlocutor percebesse as inconsistências de seu discurso e se autocorrigisse. A atitude de Sócrates questionava os valores da sociedade ateniense, razão pela qual seus inimigos o levaram ao tribunal, onde foi julgado e condenado à morte. Sua morte, porém, não impediu que a questão do cuidado de si se tornasse um tema central na filosofia durante mais de mil anos - e chegasse a influenciar alguns filósofos modernos e contemporâneos. A questão central do cuidado de si é que jamais se tem acesso à verdade sem uma experiência de purificação, de meditação, de exame de consciência - enfim, através de determinados exercícios espirituais capazes de transfigurar nosso próprio ser. Dito de outro modo, o estado de iluminação, de descoberta da verdade, não é produto do estudo, mas de uma prática acompanhada de reflexão constante sobre minhas ações, atitudes - e de como posso modificá-las para me tornar uma pessoa melhor. É como se a vida fosse uma obra de arte em que nós vamos nos moldando, nos aperfeiçoando no decorrer da existência. A difícil busca da verdade Atualmente, estamos distantes dessa perspectiva socrática do cuidado de si. A ciência moderna está preocupada com a produção e acumulação de conhecimentos. Mas quando nos perguntamos: para quê acumulamos e produzimos conhecimento? A resposta é simplesmente: para aumentar infinitamente nosso conhecimento. Entramos, assim, numa corrida sem fim, em que nunca nos questionamos se isso realmente está trazendo os benefícios prometidos. Claro que a tecnologia traz inegáveis benefícios, mas não parece que as pessoas, atualmente, estejam mais felizes. Pode-se alegar, no entanto, que não é papel do conhecimento e da ciência promover a felicidade humana - e que, talvez, conhecimento e ciência tenham a única função de contribuir para a concentração de poder e dinheiro nas mãos de alguns uns poucos. Sócrates, porém, via a busca da verdade como um caminho de ascese, pois, quando cuidamos de nós mesmos, modificamos nossa relação com os outros e com o mundo. Mergulhados em preocupações com a aparência e o consumo, pensamos estar cuidando de nós mesmos, quando na verdade estamos nos perdendo em meio às coisas. É preciso conhecer a si mesmo para não perder-se. Claro que você não vai encontrar toda verdade em si mesmo, mas, pelo menos, a única verdade capaz de salvá-lo.