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FILOSOFIA, HISTÓRIA E
POLÍTICA
Resumo da Filosofia de Platão: Teoria das
Ideias, Mundo Sensível e Psicologia
Platão foi o maior filósofo de todos os tempos. Na minha opinião, sua filosofia é a mais
completa, metafísica e humana que a de Aristóteles. Seus escritos em forma de diálogo
são de uma beleza incomparável em relação a qualquer outro filósofo que já tenha
existido. Vou analisar a filosofia platônica em seus principais aspectos, como o mundo das
Ideias, a psicologia, a existência de Deus, o domínio da opinião, a moral e a política.
A Ideia
No começo, podemos definir a teoria das Ideias dizendo que o mundo sensível é apenas
uma cópia do mundo ideal, e que o objeto da ciência é o mundo real das Ideias. O mundo
inteligível é estudado na dialética, e o mundo sensível é o domínio da opinião ( DOXA).
A existência do mundo Ideal é baseada em duas provas, segundo Thonnard: uma de
ordem lógica, e outra de ordem ontológica.
A prova lógica: Platão em nenhum momento põe em dúvida a existência da ciência, que
para ele é um fato indiscutível; então, é necessário um objeto estável e permanente, que
possa permanecer no espírito. Ora, para Platão, esse objeto não se encontra no mundo
sensível, pois ele acredita, como Heráclito, que o mundo é “um infinito e perpétuo tecido
de movimentos”, onde “tudo passa como as águas das torrentes”, sendo que nada
permanece estável. Surge, então, a necessidade da ciência encontrar seu objeto: o mundo
inteligível das Ideias.
Prova Ontológica: Thonnard dizque o mundo sensível prova a existência do mundo ideal
como sombra da realidade. Sabemos disso pois os objetos desse mundo são mais ou
menos perfeitos, e estas participações supõem a existência de uma fonte que possui a
perfeição em estado pleno. Esse é o mundo inteligível, que é o objeto da ciência.
A pluralidade das Ideias podem ser provadas de duas maneiras: uma prova direta e outra
indireta.
Thonnard assim define essas provas: a prova direta é resultado da experiência racional, e
o objetivo é libertar do mundo sensível as perfeições estáveis. O mundo sensível não pode
apresentar um objeto real que possa ser fonte de um conhecimento científico, por isso é
necessário pedir auxílio ao mundo das Ideias.
Prova indireta: Sabemos que negar a pluralidade das Ideias destruiria toda a ciência, pois
ela é um sistema coordenado de juízos. Para a ciência existir são necessários objetos
estáveis para um ser inteligível, e também uma pluralidade de Ideias para construir um
conjunto de juízos. Sendo assim, Thonnard conclui que deve-se conceder a Heráclito que
os objetos sensíveis estão em perpétua variação e misturados com seus contrários; que
devemos rejeitar Parmênides, pois o Ser que tem estabilidade desejada, mas destrói todo
o juízo pela sua absoluta unidade; por último, Sócrates liberta do sensível perfeições
múltiplas, mas estáveis, que podem definir-se. O objeto da ciência não é o mundo
sensível, mas os gêneros que Sócrates definiu, tantos os substanciais, como as
qualidades, pois esse é o mundo das Ideias.
A natureza das Ideias
Platão definiu quatro propriedades:
A espiritualidade, que são de ordem inteligível, portanto, invisíveis aos olhos humanos e
apreendidas pela inteligência
A realidade, pois para Platão as Ideias não são conceitos abstratos do espírito, nem
pensamentos do Espírito divino, mas são realidades subsistentes e individuais, sendo
objeto da contemplação científica e fonte das realidades da terra. Da realidade, derivam-se
duas propriedades:
A imutabilidade, que exclui toda a mudança, pois são eternas;
A pureza, pois realiza a essência plenamente e sem mistura, e cada uma na sua ordem é
perfeita.
Método de Platão
No filósofo grego, o método principal é o dialético, com um aspecto lógico, um psicológico
e a doutrina metafísica da participação das Ideias.
O aspecto lógico é a continuação do método Socrático, em que Platão insiste no papel da
purificação; propõe que a razão incite à investigação das essências graças à Dialética do
amor, e conduz o espírito por degraus sucessivos até à intuição do mundo ideal.
O método da purificação é àquele que procura liberar a alma intelectual do peso da
matéria através do domínio do eu. Controlando às paixões desordenadas, submetendo as
tendências inferiores à razão, o homem está a caminho das realidades eternas, porque as
coisas do mundo sensível não são mais do que a sombra. Libertando à alma do corpo, ela
eleva-se até o mundo das Ideias, pois o objetivo do filósofo, segundo Platão, é aprender a
morrer( Fedon).
O mundo Sensível e o domínio da opinião
Platão diz no Timeu: ” O que é fixo e imutável supõe razões fixas e imutáveis. Quanto à
imitação do que é imutável, convém falar dela em forma verossímil e analógica… Posto
que as minhas palavras não tenham mais inverossimilhança que as dos outros, há que nos
contentarmos com elas…convém em semelhante matéria limitarmo-nos a discursos
verossímeis.” Thonnard explica que isso sugere explicações de ordem mítica.
O mundo sensível possui em primeiro grau as percepções efêmeras das coisas sensíveis.
Thonnard explica que a atenção para ouvir ou recordar-se de belas músicas, procurando a
mais harmoniosa, só dá origem à conjectura.
No segundo grau temos o esforço de estabilização em que se esboçam as definições
científicas; porém, fica incompleto e provisório porque se baseia em opiniões aceitas pelo
povo ou transmitidas por poetas e tradições religiosas( mitos como o narrado em Fedro,
em que o cavalo branco representa o coração, e o cavalo negro a concupiscência).
A existência de Deus
Platão recorre ao mito para provar a existência de Deus. Temos duas provas:
Prova baseada na existência do mundo: Deus é o Demiurgo.Platão reconheceu que
para uma obra ter origem, é necessário que haja um artífice, e expõe o seu Demiurgo em
linguagem mítica. Ele, depois de ter contemplado o mundo Ideal, decidiu fazer o universo à
sua imagem.
Prova baseada no movimento: Deus é a alma real. Platão verifica que o mundo está
sujeito a um movimento ordenado, como o movimento circular das esferas celestes, que é
pela sua estabilidade, a própria imagem da inteligência. Para que exista o movimento, é
necessário um motor. Platão sugere dois motores: um corpóreo e a alma. O corpo é inerte
e é sempre movido por um outro antes de se mover, e a alma é o motor que tem em si o
princípio de seu movimento, e pode comunicá-lo sem receber antes( As Leis). a alma
domina o corpo que morre.
A psicologia
Para Platão, a alma está acidentalmente unida ao corpo, e é uma substância espiritual
completa. Existem três teorias para estabelecer essa doutrina:
A preexistência da alma que é definida pela teoria da reminiscência, porque Platão
desconhecia a criação ex nihilo do judaísmo e cristianismo, de forma que explicar a
existência de ideias presentes em nós desde o nascimento ficava impossível a não ser por
uma vida anterior. Platão explica essa vida anterior por um mito em que as almas
cometem certas faltas e são punidas com a união com o corpo humano.
A união acidental da alma com o corpo difere a teoria de Aristóteles, porque Platão
acreditava que o corpo impedia a alma de alcançar à sabedoria por imposição de
necessidades tirânicas, e que a alma prejudicava o corpo porque investigações filosóficas
profundas levavam à exaustão corporal.
A imortalidade da alma que pode ser demonstrada pela participação no mundo ideal, na
Ideia da vida e na necessidade moral.
A moral
Platão quer que a Ideia do bem seja derramada na natureza humana. A felicidade para ele
não está identificada com o prazer, pois era isso que os sofistas pregavam. Falta ao prazer
estabilidade e plenitude, pois novos desejos levam a novos sofrimentos em um movimento
que parece não ter fim. Ele identifica a sabedoria com a felicidade, mas acredita na
desigualdade das inclinações dos homens para a prática da virtude; uns se contentariam
com a coragem, outros com a temperança; poucos, no entanto, buscariam à virtude
perfeita. Esses possuiriam o germe divino da sabedoria.
O Estado para Platão
A existência do Estado é necessária para a prática da virtude, mas Platão o concebia
como pequenas cidades autônomas. Dividia o povo em classes sociais como os
trabalhadores, os guerreiros, os arcontes e os escravos. Nesse ponto ,Platão tem uma
vantagem monumental sobre Aristóteles, que Thonnard, fiel ao seu aristotelismo
dogmático, não menciona: ele considera a escravidão um mal e que deveria ser evitado.
Nas penas da vida após à morte do Hades platônico está a de ter possuído escravos.
Platão também sugeriu a igualdade de homens e mulheres, concedendo uma grande
dignidade a essas últimas. A educação deveria ser igual para ambos os sexos. A forma de
governo mais adequada para os cidadãos é a aristocracia ou a monarquia, de preferência
governada por um rei-filósofo. A democracia é condenada.
Agora Platão nos narra o seu mito da caverna. Voegelin diz que o mito prepara o
conhecimento da PAIDEIA. A educação de um homem é incompleta se ele não
experimentou a verdade da alma, a PERIAGOGE. Depois do homem ser solto da caverna
e ter experimentado a contemplação divina, ele quer ficar lá para sempre(517). Esse
homem( filósofo) que experimentou a eudaimonia irá sentir-se inclinado a permanecer na
contemplação e não irá querer voltar para os seus companheiros prisioneiros. Haveria
então a tentação de esse filósofo tornar-se apolítico. Mas ele deve descer e sacrificar-se à
polis.
Ele então desce( KATABATEON). Sócrates desceu para ajudar os prisioneiros da caverna
e consegue discernir as sombras(EIDOLA) das coisas reais. Como o filósofo viu o
AGATHON, a polis sob seu comando será governada com uma mente desperta( HYPAR)
em vez de ser conduzida como as outras Pólis como num sonho(ONAR)
***
A filosofia platônica foi adotada pela igreja católica até o século XIII, herdada pelos padres
da igreja, especialmente Santo Agostinho. A partir de São Tomás de Aquino, e pelas
influências de Aristóteles, a posição da igreja em relação à mulher muda: a igreja que
antes concedia grande liberdade para as mulheres no cristianismo, permitindo até o
divórcio, torna-se hostil a essas liberdades, pregando a clausura para as freiras e
impedindo algo completamente natural e humano que é o divórcio. A mesma filosofia
aristotélica que criou dificuldades para São Tomás de Aquino em relação à escravidão,
impediu a igreja católica de oferecer respostas ao gigantesco tráfico de seres humanos
vindos da África para as Américas. Os protestantes ingleses, hostis a Aristóteles, e mais
abertos a Platão, foram aqueles que iniciaram o movimento abolicionista mundial.
Introdução à estética platônica
14segunda-feiraMAR 2011
POSTED BY RUDINEI BORGES IN + CULTURA, + LITERATURA & ARTES
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arte, belo, pensamento estético, Platão
Por Sidnei Ferreira de Vares
Como afirma Jean Lacoste, se a filosofia da arte começa com Platão (e de fato isso
é verdade se considerarmos seus escritos), ela principia com a condenação da arte.
Embora Platão tenha nascido, crescido e vivido numa época em que Atenas
respirava a reformulação processada por Péricles, inclusive do pont o de vista das
belas artes, e tenha recebido, como grande parte dos jovens de sua época, uma
educação que conferia um lugar proeminente aos poetas (principalmente Homero e
Hesíodo), vai voltar-se contra a poesia, a pintura, o discurso escrito, a escultura e
os cenários dos teatros.
A compreensão da beleza em Platão passa necessariamente por sua teoria das
idéias, sem a qual fica difícil alocar e discorrer sobre o belo. Como afirma Ariano
Suassuna, a teoria platônica da arte e da beleza está atrelada a sua visão de
mundo. Como é sabido, Platão divide o universo em dois mundos: como diz Ortega
y Gasset, o mundo em ruínas e o mundo em formas. Aquele é o que temos diante
dos olhos, um mundo de transformações e mudanças intensas, onde nada
permanece e tudo se esvai, no sentido mais típico dopantha-rei heraclitiano, o
mundo da feiúra e da decadência. Este, por sua vez, é o mundo do autêntico, das
idéias puras ou essências, do eterno e imutável que existe e sempre existirá, no
sentido proposto por Parmênides e pela exatidão da matemática que Platão tanto
admirava. O mundo das idéias no qual a verdade, a beleza e o bem são essências
superiores, arquétipos imutáveis que servem de formas, modelos às coisas do
mundo do sensível, este marcado pela mutabilidade, pela imperfeição. E tendo
como pano de fundo esse sistema binário que Platão refletira a questão da beleza.
Desde já cumpre lembrar que as alusões deste à arte não se aproximam das
modernas concepções de belas-artes. Longe disso, Platão designa arte tudo aquilo
que se refira a um saber-fazer, ou seja, a uma ação puramente técnica que se
estende a muitas áreas como a política, a poesia, a marcenaria, a retórica, etc.
Platão está longe de partilhar da mesma visão dos modernos no concernente à
arte, sendo, portanto, porta-voz de uma cultura que relaciona arte e técnica,
usando um conceito por outro.
Em sua obra A República, Platão, por meio de Sócrates, erige uma sociedade
próxima da perfeição cujo fio condutor é a justiça. No livro X da referida obra,
Platão alerta sobre o perigo que os poetas representam para seu intento, sendo a
poesia definida como arte da imitação ou mimese.
A mimese ou imitação, nos diz Harold Osborne (1974: 52), se desenvolveu entre os
séculos sexto e quinto a. C. na Grécia, e pode ser encontrada em manifestações
artísticas distintas, como a escultura, a pintura, cenários, etc., tendo por escopo
reproduzir similares convincentes dos objetos que representavam. As pinturas e as
esculturas eram admiradas pela aproximação com a realidade. O critério ut ilizado
pelos artistas é o da verossimilhança ilusionística, ou seja, de produzir simulacros,
sendo que essa técnica perdurou durante toda antiguidade clássica (OSBORNE,
1974: 54-57). Segundo Osborne, Platão utilizava o termo “mimese” para expressar
a relação em que determinadas coisas empíricas se encontravam com o conceito
geral que as abrange. Todavia, também aplica o termo para falar da poesia,
escultura e pintura, e critica principalmente o poeta por iludir os ouvintes, já que se
recusa a falar na primeira pessoa dando a entender de que são os personagens que
estão a falar.
Como alerta Jean Lacoste, a arte mimética questionada por Platão, tem suas raízes
mais profundas na sua concepção do ser e da verdade. Em outras palavras, o ser é
aquilo que é justamente porque dispõe de uma identidade ou essência. O ser é
então definido como idéia que se opõe ao devir. As essências, compreendidas como
realidades perfeitas têm correlatos no mundo sensível. Se um artesão faz uma
cadeira, esta só pôde ser feita a partir de uma idéia universal de cadeira. De certo
modo, o artesão imita uma idéia que preexiste a cadeira feita por ele. Não foi ele
que produziu a idéia de cadeira, mas apenas tentou aproximar-se dessa idéia.
Todavia, uma vez concluída a sua obra, esta não é perfeita tal como a idéia que lhe
serviu de modelo. Mas embora sua cadeira não seja perfeita como a idéia que a
gerou, ela “participa” em algum grau da perfeição da cadeira real (ideal), tendo em
vista que a teve como modelo. Ora, o escultor, o pintor, o poeta, são como
artífices, pois também produzem objetos, mas, diferentemente daqueles, o fazem
por um processo de imitação da imitação, pois têm como modelos não as
essências, mas coisas produzidas pelos homens. Um pintor ao pintar um sapato,
apreende uma parte da realidade, embora sua pintura nos dê a impressão de
totalidade. Ao pintar um sapato, o pintor não sabe fazer um sapato, pois não é
sapateiro, mas tem como modelo um sapato produzido pelo sapateiro e não o
conceito de sapato.
Para Platão, as essências correspondem à realidade, o trabalho de um artesão
corresponde a uma imitação da realidade, enquanto a produção de um escultor,
poeta ou pintor uma imitação da imitação da realidade, estando, portanto, mais
afastada da realidade, distanciada em relação ao ser. As belas-artes, termo que
Platão desconhecia, são simulacros, sendo os poetas simuladores de virtude, e é
por isso que o autor faz pesadas críticas a eles.
Na obra O Sofista, Platão divide as artes em duas, a saber: a arte de
aquisição (pesca, caça, guerra, etc.) e a arte de produção. Esta última de dividem
em duas partes: a arte de produção de coisas reais e a arte de produção de
simulacros, no qual se enquadram as belas-artes. Mas a arte de produção de
simulacros (mimese), ainda pode ser dividida entre aquelas que procuram produzir
o modelo real em sua inteireza e simetria (tamanho, forma) e aquelas que se
deviam para a criação da ilusão. A época em que Platão viveu já contava com
algumas inovações no que se refere à pintura. Técnicas de perspectiva
(profundidade e volume) revolucionam os cenários teatrais e criam falsas
impressões sobre a realidade. Platão questiona essas técnicas, pois essas iludem o
expectador, que se compara a uma feitiçaria. Platão, portanto, compara essas
técnicas (trompe d´oiel) à arte dos sofistas, cujo objetivo também era ludibriar,
gerando falsos prazeres, principalmente quando são avistas a distância, pois de
perto podem ser facilmente identificadas. Pintores, poetas, escultores e sofistas são
alocados dentro de um mesmo rol: o dos enganadores e, portanto, a arte mimética
é vista como uma ilusão que faz esquecer as coisas verdadeiras.
Numa outra obra As Leis, Platão reconhece a importância da música (canto e
dança) para a educação dos jovens, mas esse reconhecimento é seguido de sérias
ponderações sobre sua utilização, tendo em vista que a música trata das paixões
humanas devem ser regulamentadas. A mimese para Platão constitui uma arte de
inferioridade ontológica por se afastar das realidades verdadeiras. Mas Platão
também institui uma teoria do belo. Ao analisar a questão do belo em Platão,
Suassuna afirma que a alma é sempre atraída para a beleza, haja vista ter
contemplado no mundo das essências a Beleza Absoluta e dela sentir imensuráveis
saudades. A decadência da alma para o mundo sensível, mas precisamente no
cárcere que é o corpo, afastou-a de beleza absoluta do mundo das idéias. Algumas
almas recordam com maior facilidade do que outras presas à parte material e
grosseira da vida. Essa teoria fica mais explicita em duas obras O
Banquete e Fedro. Na primeira delas, Platão demonstra que o único caminho capaz
de elevar a alma ao mundo das idéias é o amor. Os seres humanos seriam, a
princípio, andrógenos e uma vez tendo sido separados, vivem a procurar sua
parelha. Essa busca da alma, comentada no diálogo n´O Banquete, é muitas vezes
marcada por erros. Platão afirma que os indivíduos inferiores se satisfazem com a
forma mais grosseira de amor: o amor físico. Jaeger em sua Paidéia faz um imenso
comentário sobre a questão dos corpos belos, que geralmente atraem os homens,
mas que não são mais do que a manifestação de um belo absoluto. Ao perceber,
por comparação, que a beleza dos corpos participa de uma beleza absoluta, o
homem superior libertasse do amor inferior, pois descobre que a beleza dos corpos
é passageira e passa a contemplar a beleza em sim mesma desinteressadamente.
Existe, portanto, uma identificação entre Beleza, Verdade e o Bem, pois o belo é
uma característica da verdade, sendo por isso boa moralmente. É por esse motivo
que a fruição da beleza gera prazer e deleite. A própria sabedoria é amada por sua
beleza. Mas a passagem que conduz o ser humano a fruição da beleza absoluta é
entendida dentro dos limites da reminiscência, já que essa contemplação é ainda
uma recordação do que a alma já contemplou. Na obra Fedro, Platão, pela boca de
Sócrates, explora a questão do amor. Mas, embora o amor seja o tema principal do
diálogo, nele o Platão explora a questão da beleza. Procurando provar que o
discurso de Lísias, segundo o qual é preferível que um jovem belo e amado deve
conceder seu amor àquele que não o ama, do que àquele que o ama de fato,
declamado no início do diálogo por Fedro, Platão desenvolve a tese de que o amor é
a visão do belo excitada pela paixão por meio da reminiscência das visões eternas.
A alma, que já teria habitado o mundo das idéias e contemplado a beleza em
essência, se compara a uma carruagem, dirigida pro um cocheiro (intelecto) e
puxada por dois corcéis alados, um dócil (a coragem), outro rebelde
(concupiscência). Quando descontrolada pela concupiscência, a alma pode cair para
o mundo sensível e ser aprisionada num corpo. Algumas se lembram das belezas
contempladas no mundo ideal, outras têm mais dificuldade. Platão defende que a
alma é apaixonada pelo belo e deseja retornar a seu mundo. Segundo Platão
(2007: 83) [246 e 247], “O que é divino é belo, sábio e bom. Dessas qualidades as
asas se alimentam e se desenvolvem, enquanto todas as qualidades contrárias
como o que é feio e o que é mau, fazem-na diminuir e fenecer”. Mais a frente
afirma (2007: 91) [254]: “Quando o cocheiro vê o ser amado, a lembrança o
reconduz para essência da beleza. Este a revê no santo pedestal, ao lado da
sabedoria, e ele se assusta, teme, e necessariamente puxa o freio.E com tal
violência o retrai que ambos os cavalos recuam; o bom voluntariamente e sem
resistência; o ruim, entretanto, a contragosto”. Sobre os discursos escritos, tão
utilizados pelos sofistas, Platão faz sérias críticas e compara a pintura a sofistica,
quando afirma que (2007: 120) [275], “o uso da escrita, Fedr, tem um
inconveniente que se assemelha à pintura. Também as figuras pintadas têm a
atitude de pessoas vivas, mas se alguém as interrogar conservar-se-ão gravemente
caladas. O mesmo sucede com os discursos. Falam das coisas como se as
conhecessem, mas quando alguém quer informar-se sobre qualquer assunto
exposto, eles se limitam a repetir sempre a mesma coisa”. Como se pode notar,
Platão procura aproximar aqueles que enganam, por meio de ilusões discursivas
àqueles que ludibriam através da pintura e da poesia, pois tanto num caso como no
outro, essas artes não têm como objetivo elevar a alma, mas iludi-la. Isso fica claro
quando Platão opõe o discurso sofístico ao filosófico, ao afirmar que “…Os melhores
discursos escritos são os que servem para reavivar as lembranças dos
conhecedores; só as palavras pronunciadas com o fim de instruir, e que de fato se
gravam na alma, sobre o que é justo, belo e bom, apenas nelas se encontra uma
força eficaz, perfeita e divina a ponto de nelas empregarmos os nossos esforços;
somente tais discursos merecem ser chamados filhos legítimos do orador, gerados
por ele próprio, quando esse orador possui um gênio inventivo, e quando nas almas
de outras pessoas eles engendram descendentes e irmãos que sejam dignos da
família. Quanto aos demais discursos, podemos desprezá-los” (PLATÃO, 2007:123)
[277]
ResumodoTexto:"TeoriaPlatônicadaBeleza"deArianoSuassuna
Primeiro Resumo:
Platão dizia existir dois mundos: o Real ou “em ruína” onde predominava a morte, a
ruína, a feiúra e a decadência e o Ideal, Autêntico ou “em forma” que era o mundo
das essências ligadas ao ser do mundo real onde a Verdade, a Beleza e o Bem são
essências superiores, cada ser do nosso mundo possui um modelo, um arquétipo
ideal e a beleza terrestre seria um reflexo, uma “imitação” de modelos da Beleza
Absoluta. Portanto, para Platão a beleza depende da comunicação que um ser ou
objeto possua com a Beleza Absoluta, ideal, existente neste mundo das Idéias.
Segundo ele a alma humana é proveniente do mundo das idéias por isso ela é
atraída pela beleza. Ela, antes de unir-se ao corpo vivenciou a Beleza e Verdade
Absolutas e por isso aqueles que se dedicam à Beleza e Verdade são aqueles cujas
almas recordam-se da experiência assimilada no plano das idéias.
O mito da “parelha alada” de Platão diz ser o caminho místico o único capaz de
elevar o homem ao mundo das idéias. Tal caminho seria o do amor, pois a princípio
o ser humano era andrógino, ao ser separado (machos e fêmeas) cada alma
procura seu par. Os indivíduos inferiores contentam-se com o amor físico, já os
superiores iniciam sua busca pelo amor físico, logo alcançam o desejo de um belo
corpo e passam a amar toda a beleza existente em belos corpos. Contudo a beleza
corpórea torna-se pouco digna de estima, pois é sujeita à ruína (velhice, morte)
então tal indivíduo passa a contemplar a beleza moral (da alma) porque ela resiste
e com o tempo, sua contemplação é aprimorada até ele atingir o estágio final que é
possível na terra, alcança a beleza “suprema”, acima de qualquer coisa, imutável e
absoluta identificada com a Verdade e que causava prazer, deleite.
Segundo Resumo:
Platão via o universo como dividido em dois mundos: o mundo em ruína e o mundo
em forma. O nosso mundo é o campo da ruína, da morte, da feiúra, da decadência.
O mundo autêntico é aquele mundo das essências, da idéias puras. É o mundo
eterno e imutável que existe acima do nosso. Nele a verdade, a beleza e o bem são
essências superiores, ligas diretamente ao ser.
Segundo Platão, a alma humana, eterna, sofre uma decadência ao se unir ao corpo
material. Para ele a alma sabe tudo e se nós não a acompanhamos nesse
conhecimento é porque a nossa parte material e grosseira faz com que nós nos
esqueçamos da maior parte daquilo que a alma sabe, por ter contemplado já, a
verdade, a beleza e o bem absolutos.
Os diálogos platônicos que mais se referem à Beleza são “O Banquete” e o “Fredo”.
No primeiro, o chamado “discurso de Sócrates” explica, quase que de modo
definitivo, a teoria platônica da Beleza, valendo-se do famoso mito da “parelha
alada”. Platão aconselha a seus discípulos o caminho místico, como o único apto a
elevar os homens das coisas sensíveis e grosseiras até o mundo das idéias. O
estágio de aperfeiçoamento seguinte, será aquele em que se considera a beleza da
alma como superior à beleza do corpo.
Para Platão, a Beleza causava antes de mais nada, enlevo, prazer, arrebatamento.
Deleitação. Para ele a alma lembra dificultosamente e como pode, realidades que
contemplou numa outra vida mais autêntica da qual vivemos desterrados. É a
famosa teoria da reminiscência, que iria informar todo o pensamento platônico, não
só quanto a contemplação da Beleza, da Verdade e do Bem, como a respeito dos
métodos e processos criadores da Arte.
Alegoria da Caverna
A Alegoria da Caverna é o texto mais conhecido de Platão, que levanta muitas questões
sobre a realidade, conhecimento, etc.
Na história, dois homens prisioneiros estão acorrentados numa
caverna, virados de costas para a abertura, por onde entra a luz
solar. Eles sempre viveram ali, nesta posição. Conheciam os animais
e as plantas somente pelas suas sombras projetadas nas paredes.
Um dia, um dos homens consegue se soltar, e vai para fora da
caverna. Fica encantado com a realidade, percebendo que foi iludido
completamente pelos seus sentidos dentro da caverna. Agora ele
estava diante das coisas em si, e não suas sombras. Diante do
conhecimento. Retornou para a caverna, e contou para o
companheiro o que havia visto. Este não acreditou, e preferiu
continuar na caverna, vendo e acreditando que o mundo é feito de
sombras.
Para Platão, as coisas que nos chegam através dos sentidos (tato,
visão, audição, etc), são apenas as sombras das idéias. Quem estiver
preso ao conhecimento das coisas sensíveis apenas não poderá
alcançar o mundo das idéias, ficando como o prisioneiro.
ARISTOTELES
Lógica: Para Aristóteles, a Lógica é um instrumento, uma introdução para as ciências e para o
conhecimento e baseia-se no silogismo, o raciocínio formalmente estruturado que supõe certas
premissas colocadas previamente para que haja uma conclusão necessária. O silogismo é
dedutivo parte do universal para o particular; a indução, ao contrário, parte do particular para o
universal. Dessa forma, se forem verdadeiras as premissas, a conclusão, logicamente, também
o será.
Física: A concepção aristotélica de Física parte do movimento, elucidando-o nas análises dos
conceitos de crescimento, alteração e mudança. A teoria do ato e potência, com implicações
metafísicas, é o fundamento do sistema. Ato e potência relacionam-se com o movimento
enquanto que a matéria e forma com a ausência de movimento.
Psicologia: A Psicologia é a teoria da alma e baseia-se nos conceitos de alma (psykhé) e
intelecto (noûs). A alma é a forma primordial de um corpo que possui vida em potência, sendo
a essência do corpo. O intelecto, por sua vez, não se restringe a uma relação específica com o
corpo; sua atividade vai além dele.
No homem, a alma, além de suas características vegetativas e sensitivas, há também a
característica da inteligência, que é capaz de apreender as essências de modo independente
da condição orgânica. Ele acreditava que a mulher era um ser incompleto, um meio homem.
Seria passiva, ao passo que o homem seria ativo.
Biologia: A biologia é a ciência da vida e situa-se no âmbito da física (como a própria
psicologia), pois está centrada na relação entre ato e potência. Aristóteles foi o verdadeiro
fundador da zoologia - levando-se em conta o sentido etimológico da palavra. A ele se deve a
primeira divisão do reino animal.
Aristóteles é o pai da teoria da abiogênese, que durou até séculos mais recentes, segundo a
qual um ser nascia de um germe da vida, sem que um outro ser precisasse gerá-lo (exceto os
humanos): um exemplo é o das aves que vivem à beira das lagoas, cujo germe da vida estaria
nas plantas próximas.
Metafísica: O termo "Metafísica" não é aristotélico; o que hoje chamamos de metafísica era
chamado por Aristóteles de filosofia primeira. Esta é a ciência que se ocupa com realidades
que estão além das realidades físicas que possuem fácil e imediata apreensão sensorial. O
filósofo deu quatro definições para metafísica:
1. a ciência que indaga causas e princípios;
2. a ciência que indaga o ser enquanto ser;
3. a ciência que investiga a substância;
4. a ciência que investiga a substância supra-sensível.
Ética: No sistema aristotélico, a ética é a ciência das condutas, menos exata na medida em que
se ocupa com assuntos passíveis de modificação. Ela não se ocupa com aquilo que no homem
é essencial e imutável, mas daquilo que pode ser obtido por ações repetidas, disposições
adquiridas ou de hábitos que constituem as virtudes e os vícios. Seu objetivo último é garantir
ou possibilitar a conquista da felicidade.
As virtudes se realizam sempre no âmbito humano e não têm mais sentido quando as relações
humanas desaparecem, como, por exemplo, em relação a Deus. Totalmente diferente é a
virtude especulativa ou intelectual, que pertence apenas a alguns (geralmente os filósofos) que,
fora da vida moral, buscam o conhecimento pelo conhecimento. É assim que a contemplação
aproxima o homem de Deus.
Política: Na filosofia aristotélica a política é um desdobramento natural da ética. Ambas, na
verdade, compõem a unidade do que Aristóteles chamava de filosofia prática.
Se a ética está preocupada com a felicidade individual do homem, a política se preocupa com a
felicidade coletiva da pólis. Desse modo, é tarefa da política investigar e descobrir quais são as
formas de governo e as instituições capazes de assegurar a felicidade coletiva. Trata-se,
portanto, de investigar a constituição do estado.
Direito: Para Aristóteles, assim como a política, o direito também é um desdobramento da ética.
O direito para Aristóteles é uma ciência dialética, por ser fruto de teses ou hipóteses, não
necessariamente verdadeiras, validadas principalmente pela aprovação da maioria.
Retórica: Aristóteles considerava importante o conhecimento da retórica, já que ela se
constituiu em uma técnica (por habilitar a estruturação e exposição de argumentos) e por
relacionar-se com a vida pública. O fundamento da retórica é o entimema (silogismo truncado,
incompleto), um silogismo no qual se subentende uma premissa ou uma conclusão. O discurso
retórico opera em três campos ou gêneros: gênero deliberativo, gênero judicial e gênero
epidítico (ostentoso, demonstrativo).
Poética: A poética é imitação (mimesis) e abrange a poesia épica, a lírica e a dramática:
(tragédia e comédia). A imitação visa a recriação e a recriação visa aquilo que pode ser. Desse
modo, a poética tem por fim o possível. O homem apresenta-se de diferentes modos em cada
gênero poético: a poesia épica apresenta o homem como maior do que realmente é, ideali
Aristóteles
Aristóteles (em grego Αριστοτέλης) nasceu em Estagira, na Calcídica (384 a.C. - 322 a.C.).
Filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande, é considerado um dos
maiores pensadores de todos os tempos e criador do pensamento lógico. Aristóteles figura
entre os mais influentes filósofos gregos, ao lado de Sócrates e Platão, que transformaram a
filosofia pré-socrática, construindo um dos principais fundamentos da filosofia ocidental.
Aristóteles prestou contribuições fundantes em diversas áreas do conhecimento humano,
destacando-se: ética, política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica, zoologia,
biologia, história natural. É considerado por muitos o filósofo que mais influenciou o
pensamento ocidental. Aluno de Platão, Aristóteles discorda de uma parte fundamental da
filosofia. Platão concebia dois mundos existentes: aquele que é apreendido por nossos
sentidos, o mundo concreto -, em constante mutação; e outro mundo - abstrato -, o das idéias,
acessível somente pelo intelecto, imutável e independente do tempo e do espaço material.
Aristóteles, ao contrário, defende a existência de um único mundo: este em que vivemos. O
que está além de nossa experiência sensível não pode ser nada para nós. A filosofia
aristotélica é um sistema, ou seja, há relação e conexão entre as várias áreas pensadas pelo
filósofo. Seus escritos versam sobre praticamente todos os ramos do conhecimento de sua
época (menos as matemáticas). Embora sua produção tenha sido excepcional, apenas uma
parcela foi conservada. Seus escritos dividiam-se em duas espécies: as 'exotéricas' e as
'acroamáticas'. As exotéricas eram destinadas ao público em geral e, por isso, eram obras de
caráter introdutório e geralmente compostas na forma de diálogo. As acroamáticas, eram
destinadas apenas aos discípulos do Liceu e compostas na forma de tratados. Praticamente
tudo que se conservou de Aristóteles faz parte das obras acroamáticas.
Teoria do conhecimento - Aristóteles
Apesar de ter sido discípulo de Platão durante vinte anos, Aristóteles (384-322 a.C.) diverge
profundamente de seu mestre em sua teoria do conhecimento. Isso pode ser atribuído, em
parte, ao profundo interesse de Aristóteles pela natureza (ele realizou grandes progressos em
biologia e física), sem descuidar dos assuntos humanos, como a ética e a política. Para
Aristóteles, o dualismo platônico entre mundo sensível e mundo das idéias era um artifício
dispensável para responder à pergunta sobre o conhecimento verdadeiro. Nossos
pensamentos não surgem do contato de nossa alma com o mundo das idéias, mas da
experiência sensível. "Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos", dizia o
filósofo. Isso significa que não posso ter idéia de um teiú sem ter observado um diretamente ou
por meio de uma pesquisa científica. Sem isso, "teiú" é apenas uma palavra vazia de
significado. Igualmente vazio ficaria nosso intelecto se não fosse preenchido pelas informações
que os sentidos nos trazem. Mas nossa razão não é apenas receptora de informações. Aliás, o
que nos distingue como seres racionais é a capacidade de conhecer. E conhecer está ligado à
capacidade de entender o que a coisa é no que ela tem de essencial. Por exemplo, se digo que
"todos os cavalos são brancos", vou deixar de fora um grande número de animais que
poderiam ser considerados cavalos, mas que não são brancos. Por isso, ser branco não é algo
essencial em um cavalo, mas você nunca encontrará um cavalo que não seja mamífero,
quadrúpede e herbívoro.
A teoria aristotélica da respiração
Em seus tratados biológicos, Aristóteles estuda o processo de respiração no homem e nos
animais, concluindo que se trata de um fenômeno de refrigeração, destinado a controlar o calor
inato dos seres vivos. Ele analisa como se processaria esse fenômeno de refrigeração, em
várias classes de animais, desenvolvendo observações, dissecações anatômicas e
experimentos com animais. Proporciona um sistema teórico coerente, bem fundamentado sob
o ponto de vista empírico e sistemático. Este artigo descreve essa contribuição de Aristóteles e
discute os seus aspectos metodológicos, visando mostrar que a metodologia seguida por ele
em seus estudos biológicos é essencialmente igual à da ciência moderna.
Teoria da Substancia:
as diversas abordagens e soluções trazidas ao longo dos séculos não apenas contribuíram
para a exegese do Filósofo, mas
desencadearam concomitantemente escolas e linhagens de pensamento cujos temas e
questões ganharam autonomia em relação à própria obra de Aristóteles. Na interpretação
desses textos, muitas vezes podemos perceber o desenrolar da história ocidental: que temas e
problemas interessam e são preferidos, que visões de mundo são colocadas em jogo, que
saberes ou ciências concorrem para orientar as perspectivas de cada tempo. Isso se reflete
inclusive nos conceitos que prevalecem e nas suas traduções, que passam a valer como
vocabulário básico e fundamental da filosofia e das ciências.
Teoria da Escravidão:
Aristóteles é um dos poucos filósofos da Antigüidade que se colocou
explicitamente o problema da legitimidade da escravidão e desenvolveu uma
doutrina sobre o tema, em particular no Livro I da Política.[1] Para justificar a
escravidão – que era a base do sistema econômico e social do seu tempo -
Aristóteles recorre à distinção entre “escravo por lei” e “escravo por natureza”.
Na sua época, havia críticos da escravidão que afirmavam que ela havia sido
introduzida pela força e pela violência, que não podem ser o fundamento do
justo. Aristóteles produz várias tentativas de definição do escravo natural, nem
sempre satisfatórias e convincentes, que encontram a sua justificação principal
na afirmação de que existe uma distinção entre quem é por natureza escravo e,
portanto, destinado a obedecer e quem é por natureza livre e, portanto,
destinado a comandar:
Comandar e ser comandado (árchein kai árchesthai) estão entre as condições
não somente necessárias, mas também convenientes; e certos seres, desde o
nascimento (ek genetés), são diferenciados

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Platão: Teoria das Ideias e Mundo Sensível

  • 1. FILOSOFIA, HISTÓRIA E POLÍTICA Resumo da Filosofia de Platão: Teoria das Ideias, Mundo Sensível e Psicologia Platão foi o maior filósofo de todos os tempos. Na minha opinião, sua filosofia é a mais completa, metafísica e humana que a de Aristóteles. Seus escritos em forma de diálogo são de uma beleza incomparável em relação a qualquer outro filósofo que já tenha existido. Vou analisar a filosofia platônica em seus principais aspectos, como o mundo das Ideias, a psicologia, a existência de Deus, o domínio da opinião, a moral e a política. A Ideia No começo, podemos definir a teoria das Ideias dizendo que o mundo sensível é apenas uma cópia do mundo ideal, e que o objeto da ciência é o mundo real das Ideias. O mundo inteligível é estudado na dialética, e o mundo sensível é o domínio da opinião ( DOXA). A existência do mundo Ideal é baseada em duas provas, segundo Thonnard: uma de ordem lógica, e outra de ordem ontológica. A prova lógica: Platão em nenhum momento põe em dúvida a existência da ciência, que para ele é um fato indiscutível; então, é necessário um objeto estável e permanente, que possa permanecer no espírito. Ora, para Platão, esse objeto não se encontra no mundo sensível, pois ele acredita, como Heráclito, que o mundo é “um infinito e perpétuo tecido de movimentos”, onde “tudo passa como as águas das torrentes”, sendo que nada permanece estável. Surge, então, a necessidade da ciência encontrar seu objeto: o mundo inteligível das Ideias. Prova Ontológica: Thonnard dizque o mundo sensível prova a existência do mundo ideal como sombra da realidade. Sabemos disso pois os objetos desse mundo são mais ou menos perfeitos, e estas participações supõem a existência de uma fonte que possui a perfeição em estado pleno. Esse é o mundo inteligível, que é o objeto da ciência.
  • 2. A pluralidade das Ideias podem ser provadas de duas maneiras: uma prova direta e outra indireta. Thonnard assim define essas provas: a prova direta é resultado da experiência racional, e o objetivo é libertar do mundo sensível as perfeições estáveis. O mundo sensível não pode apresentar um objeto real que possa ser fonte de um conhecimento científico, por isso é necessário pedir auxílio ao mundo das Ideias. Prova indireta: Sabemos que negar a pluralidade das Ideias destruiria toda a ciência, pois ela é um sistema coordenado de juízos. Para a ciência existir são necessários objetos estáveis para um ser inteligível, e também uma pluralidade de Ideias para construir um conjunto de juízos. Sendo assim, Thonnard conclui que deve-se conceder a Heráclito que os objetos sensíveis estão em perpétua variação e misturados com seus contrários; que devemos rejeitar Parmênides, pois o Ser que tem estabilidade desejada, mas destrói todo o juízo pela sua absoluta unidade; por último, Sócrates liberta do sensível perfeições múltiplas, mas estáveis, que podem definir-se. O objeto da ciência não é o mundo sensível, mas os gêneros que Sócrates definiu, tantos os substanciais, como as qualidades, pois esse é o mundo das Ideias. A natureza das Ideias Platão definiu quatro propriedades: A espiritualidade, que são de ordem inteligível, portanto, invisíveis aos olhos humanos e apreendidas pela inteligência A realidade, pois para Platão as Ideias não são conceitos abstratos do espírito, nem pensamentos do Espírito divino, mas são realidades subsistentes e individuais, sendo objeto da contemplação científica e fonte das realidades da terra. Da realidade, derivam-se duas propriedades: A imutabilidade, que exclui toda a mudança, pois são eternas; A pureza, pois realiza a essência plenamente e sem mistura, e cada uma na sua ordem é perfeita. Método de Platão No filósofo grego, o método principal é o dialético, com um aspecto lógico, um psicológico e a doutrina metafísica da participação das Ideias. O aspecto lógico é a continuação do método Socrático, em que Platão insiste no papel da purificação; propõe que a razão incite à investigação das essências graças à Dialética do amor, e conduz o espírito por degraus sucessivos até à intuição do mundo ideal. O método da purificação é àquele que procura liberar a alma intelectual do peso da matéria através do domínio do eu. Controlando às paixões desordenadas, submetendo as tendências inferiores à razão, o homem está a caminho das realidades eternas, porque as coisas do mundo sensível não são mais do que a sombra. Libertando à alma do corpo, ela eleva-se até o mundo das Ideias, pois o objetivo do filósofo, segundo Platão, é aprender a morrer( Fedon). O mundo Sensível e o domínio da opinião Platão diz no Timeu: ” O que é fixo e imutável supõe razões fixas e imutáveis. Quanto à imitação do que é imutável, convém falar dela em forma verossímil e analógica… Posto
  • 3. que as minhas palavras não tenham mais inverossimilhança que as dos outros, há que nos contentarmos com elas…convém em semelhante matéria limitarmo-nos a discursos verossímeis.” Thonnard explica que isso sugere explicações de ordem mítica. O mundo sensível possui em primeiro grau as percepções efêmeras das coisas sensíveis. Thonnard explica que a atenção para ouvir ou recordar-se de belas músicas, procurando a mais harmoniosa, só dá origem à conjectura. No segundo grau temos o esforço de estabilização em que se esboçam as definições científicas; porém, fica incompleto e provisório porque se baseia em opiniões aceitas pelo povo ou transmitidas por poetas e tradições religiosas( mitos como o narrado em Fedro, em que o cavalo branco representa o coração, e o cavalo negro a concupiscência). A existência de Deus Platão recorre ao mito para provar a existência de Deus. Temos duas provas: Prova baseada na existência do mundo: Deus é o Demiurgo.Platão reconheceu que para uma obra ter origem, é necessário que haja um artífice, e expõe o seu Demiurgo em linguagem mítica. Ele, depois de ter contemplado o mundo Ideal, decidiu fazer o universo à sua imagem. Prova baseada no movimento: Deus é a alma real. Platão verifica que o mundo está sujeito a um movimento ordenado, como o movimento circular das esferas celestes, que é pela sua estabilidade, a própria imagem da inteligência. Para que exista o movimento, é necessário um motor. Platão sugere dois motores: um corpóreo e a alma. O corpo é inerte e é sempre movido por um outro antes de se mover, e a alma é o motor que tem em si o princípio de seu movimento, e pode comunicá-lo sem receber antes( As Leis). a alma domina o corpo que morre. A psicologia Para Platão, a alma está acidentalmente unida ao corpo, e é uma substância espiritual completa. Existem três teorias para estabelecer essa doutrina: A preexistência da alma que é definida pela teoria da reminiscência, porque Platão desconhecia a criação ex nihilo do judaísmo e cristianismo, de forma que explicar a existência de ideias presentes em nós desde o nascimento ficava impossível a não ser por uma vida anterior. Platão explica essa vida anterior por um mito em que as almas cometem certas faltas e são punidas com a união com o corpo humano. A união acidental da alma com o corpo difere a teoria de Aristóteles, porque Platão acreditava que o corpo impedia a alma de alcançar à sabedoria por imposição de necessidades tirânicas, e que a alma prejudicava o corpo porque investigações filosóficas profundas levavam à exaustão corporal. A imortalidade da alma que pode ser demonstrada pela participação no mundo ideal, na Ideia da vida e na necessidade moral. A moral Platão quer que a Ideia do bem seja derramada na natureza humana. A felicidade para ele não está identificada com o prazer, pois era isso que os sofistas pregavam. Falta ao prazer estabilidade e plenitude, pois novos desejos levam a novos sofrimentos em um movimento que parece não ter fim. Ele identifica a sabedoria com a felicidade, mas acredita na
  • 4. desigualdade das inclinações dos homens para a prática da virtude; uns se contentariam com a coragem, outros com a temperança; poucos, no entanto, buscariam à virtude perfeita. Esses possuiriam o germe divino da sabedoria. O Estado para Platão A existência do Estado é necessária para a prática da virtude, mas Platão o concebia como pequenas cidades autônomas. Dividia o povo em classes sociais como os trabalhadores, os guerreiros, os arcontes e os escravos. Nesse ponto ,Platão tem uma vantagem monumental sobre Aristóteles, que Thonnard, fiel ao seu aristotelismo dogmático, não menciona: ele considera a escravidão um mal e que deveria ser evitado. Nas penas da vida após à morte do Hades platônico está a de ter possuído escravos. Platão também sugeriu a igualdade de homens e mulheres, concedendo uma grande dignidade a essas últimas. A educação deveria ser igual para ambos os sexos. A forma de governo mais adequada para os cidadãos é a aristocracia ou a monarquia, de preferência governada por um rei-filósofo. A democracia é condenada. Agora Platão nos narra o seu mito da caverna. Voegelin diz que o mito prepara o conhecimento da PAIDEIA. A educação de um homem é incompleta se ele não experimentou a verdade da alma, a PERIAGOGE. Depois do homem ser solto da caverna e ter experimentado a contemplação divina, ele quer ficar lá para sempre(517). Esse homem( filósofo) que experimentou a eudaimonia irá sentir-se inclinado a permanecer na contemplação e não irá querer voltar para os seus companheiros prisioneiros. Haveria então a tentação de esse filósofo tornar-se apolítico. Mas ele deve descer e sacrificar-se à polis. Ele então desce( KATABATEON). Sócrates desceu para ajudar os prisioneiros da caverna e consegue discernir as sombras(EIDOLA) das coisas reais. Como o filósofo viu o AGATHON, a polis sob seu comando será governada com uma mente desperta( HYPAR) em vez de ser conduzida como as outras Pólis como num sonho(ONAR) *** A filosofia platônica foi adotada pela igreja católica até o século XIII, herdada pelos padres da igreja, especialmente Santo Agostinho. A partir de São Tomás de Aquino, e pelas influências de Aristóteles, a posição da igreja em relação à mulher muda: a igreja que antes concedia grande liberdade para as mulheres no cristianismo, permitindo até o divórcio, torna-se hostil a essas liberdades, pregando a clausura para as freiras e impedindo algo completamente natural e humano que é o divórcio. A mesma filosofia aristotélica que criou dificuldades para São Tomás de Aquino em relação à escravidão, impediu a igreja católica de oferecer respostas ao gigantesco tráfico de seres humanos vindos da África para as Américas. Os protestantes ingleses, hostis a Aristóteles, e mais abertos a Platão, foram aqueles que iniciaram o movimento abolicionista mundial.
  • 5. Introdução à estética platônica 14segunda-feiraMAR 2011 POSTED BY RUDINEI BORGES IN + CULTURA, + LITERATURA & ARTES ≈ DEIXE UM COMENTÁRIO Tags arte, belo, pensamento estético, Platão Por Sidnei Ferreira de Vares Como afirma Jean Lacoste, se a filosofia da arte começa com Platão (e de fato isso é verdade se considerarmos seus escritos), ela principia com a condenação da arte. Embora Platão tenha nascido, crescido e vivido numa época em que Atenas respirava a reformulação processada por Péricles, inclusive do pont o de vista das belas artes, e tenha recebido, como grande parte dos jovens de sua época, uma educação que conferia um lugar proeminente aos poetas (principalmente Homero e Hesíodo), vai voltar-se contra a poesia, a pintura, o discurso escrito, a escultura e os cenários dos teatros. A compreensão da beleza em Platão passa necessariamente por sua teoria das idéias, sem a qual fica difícil alocar e discorrer sobre o belo. Como afirma Ariano Suassuna, a teoria platônica da arte e da beleza está atrelada a sua visão de mundo. Como é sabido, Platão divide o universo em dois mundos: como diz Ortega y Gasset, o mundo em ruínas e o mundo em formas. Aquele é o que temos diante dos olhos, um mundo de transformações e mudanças intensas, onde nada permanece e tudo se esvai, no sentido mais típico dopantha-rei heraclitiano, o mundo da feiúra e da decadência. Este, por sua vez, é o mundo do autêntico, das idéias puras ou essências, do eterno e imutável que existe e sempre existirá, no sentido proposto por Parmênides e pela exatidão da matemática que Platão tanto admirava. O mundo das idéias no qual a verdade, a beleza e o bem são essências superiores, arquétipos imutáveis que servem de formas, modelos às coisas do mundo do sensível, este marcado pela mutabilidade, pela imperfeição. E tendo como pano de fundo esse sistema binário que Platão refletira a questão da beleza.
  • 6. Desde já cumpre lembrar que as alusões deste à arte não se aproximam das modernas concepções de belas-artes. Longe disso, Platão designa arte tudo aquilo que se refira a um saber-fazer, ou seja, a uma ação puramente técnica que se estende a muitas áreas como a política, a poesia, a marcenaria, a retórica, etc. Platão está longe de partilhar da mesma visão dos modernos no concernente à arte, sendo, portanto, porta-voz de uma cultura que relaciona arte e técnica, usando um conceito por outro. Em sua obra A República, Platão, por meio de Sócrates, erige uma sociedade próxima da perfeição cujo fio condutor é a justiça. No livro X da referida obra, Platão alerta sobre o perigo que os poetas representam para seu intento, sendo a poesia definida como arte da imitação ou mimese. A mimese ou imitação, nos diz Harold Osborne (1974: 52), se desenvolveu entre os séculos sexto e quinto a. C. na Grécia, e pode ser encontrada em manifestações artísticas distintas, como a escultura, a pintura, cenários, etc., tendo por escopo reproduzir similares convincentes dos objetos que representavam. As pinturas e as esculturas eram admiradas pela aproximação com a realidade. O critério ut ilizado pelos artistas é o da verossimilhança ilusionística, ou seja, de produzir simulacros, sendo que essa técnica perdurou durante toda antiguidade clássica (OSBORNE, 1974: 54-57). Segundo Osborne, Platão utilizava o termo “mimese” para expressar a relação em que determinadas coisas empíricas se encontravam com o conceito geral que as abrange. Todavia, também aplica o termo para falar da poesia, escultura e pintura, e critica principalmente o poeta por iludir os ouvintes, já que se recusa a falar na primeira pessoa dando a entender de que são os personagens que estão a falar. Como alerta Jean Lacoste, a arte mimética questionada por Platão, tem suas raízes mais profundas na sua concepção do ser e da verdade. Em outras palavras, o ser é aquilo que é justamente porque dispõe de uma identidade ou essência. O ser é então definido como idéia que se opõe ao devir. As essências, compreendidas como realidades perfeitas têm correlatos no mundo sensível. Se um artesão faz uma cadeira, esta só pôde ser feita a partir de uma idéia universal de cadeira. De certo modo, o artesão imita uma idéia que preexiste a cadeira feita por ele. Não foi ele que produziu a idéia de cadeira, mas apenas tentou aproximar-se dessa idéia. Todavia, uma vez concluída a sua obra, esta não é perfeita tal como a idéia que lhe serviu de modelo. Mas embora sua cadeira não seja perfeita como a idéia que a gerou, ela “participa” em algum grau da perfeição da cadeira real (ideal), tendo em vista que a teve como modelo. Ora, o escultor, o pintor, o poeta, são como artífices, pois também produzem objetos, mas, diferentemente daqueles, o fazem por um processo de imitação da imitação, pois têm como modelos não as
  • 7. essências, mas coisas produzidas pelos homens. Um pintor ao pintar um sapato, apreende uma parte da realidade, embora sua pintura nos dê a impressão de totalidade. Ao pintar um sapato, o pintor não sabe fazer um sapato, pois não é sapateiro, mas tem como modelo um sapato produzido pelo sapateiro e não o conceito de sapato. Para Platão, as essências correspondem à realidade, o trabalho de um artesão corresponde a uma imitação da realidade, enquanto a produção de um escultor, poeta ou pintor uma imitação da imitação da realidade, estando, portanto, mais afastada da realidade, distanciada em relação ao ser. As belas-artes, termo que Platão desconhecia, são simulacros, sendo os poetas simuladores de virtude, e é por isso que o autor faz pesadas críticas a eles. Na obra O Sofista, Platão divide as artes em duas, a saber: a arte de aquisição (pesca, caça, guerra, etc.) e a arte de produção. Esta última de dividem em duas partes: a arte de produção de coisas reais e a arte de produção de simulacros, no qual se enquadram as belas-artes. Mas a arte de produção de simulacros (mimese), ainda pode ser dividida entre aquelas que procuram produzir o modelo real em sua inteireza e simetria (tamanho, forma) e aquelas que se deviam para a criação da ilusão. A época em que Platão viveu já contava com algumas inovações no que se refere à pintura. Técnicas de perspectiva (profundidade e volume) revolucionam os cenários teatrais e criam falsas impressões sobre a realidade. Platão questiona essas técnicas, pois essas iludem o expectador, que se compara a uma feitiçaria. Platão, portanto, compara essas técnicas (trompe d´oiel) à arte dos sofistas, cujo objetivo também era ludibriar, gerando falsos prazeres, principalmente quando são avistas a distância, pois de perto podem ser facilmente identificadas. Pintores, poetas, escultores e sofistas são alocados dentro de um mesmo rol: o dos enganadores e, portanto, a arte mimética é vista como uma ilusão que faz esquecer as coisas verdadeiras. Numa outra obra As Leis, Platão reconhece a importância da música (canto e dança) para a educação dos jovens, mas esse reconhecimento é seguido de sérias ponderações sobre sua utilização, tendo em vista que a música trata das paixões humanas devem ser regulamentadas. A mimese para Platão constitui uma arte de inferioridade ontológica por se afastar das realidades verdadeiras. Mas Platão também institui uma teoria do belo. Ao analisar a questão do belo em Platão, Suassuna afirma que a alma é sempre atraída para a beleza, haja vista ter contemplado no mundo das essências a Beleza Absoluta e dela sentir imensuráveis saudades. A decadência da alma para o mundo sensível, mas precisamente no cárcere que é o corpo, afastou-a de beleza absoluta do mundo das idéias. Algumas
  • 8. almas recordam com maior facilidade do que outras presas à parte material e grosseira da vida. Essa teoria fica mais explicita em duas obras O Banquete e Fedro. Na primeira delas, Platão demonstra que o único caminho capaz de elevar a alma ao mundo das idéias é o amor. Os seres humanos seriam, a princípio, andrógenos e uma vez tendo sido separados, vivem a procurar sua parelha. Essa busca da alma, comentada no diálogo n´O Banquete, é muitas vezes marcada por erros. Platão afirma que os indivíduos inferiores se satisfazem com a forma mais grosseira de amor: o amor físico. Jaeger em sua Paidéia faz um imenso comentário sobre a questão dos corpos belos, que geralmente atraem os homens, mas que não são mais do que a manifestação de um belo absoluto. Ao perceber, por comparação, que a beleza dos corpos participa de uma beleza absoluta, o homem superior libertasse do amor inferior, pois descobre que a beleza dos corpos é passageira e passa a contemplar a beleza em sim mesma desinteressadamente. Existe, portanto, uma identificação entre Beleza, Verdade e o Bem, pois o belo é uma característica da verdade, sendo por isso boa moralmente. É por esse motivo que a fruição da beleza gera prazer e deleite. A própria sabedoria é amada por sua beleza. Mas a passagem que conduz o ser humano a fruição da beleza absoluta é entendida dentro dos limites da reminiscência, já que essa contemplação é ainda uma recordação do que a alma já contemplou. Na obra Fedro, Platão, pela boca de Sócrates, explora a questão do amor. Mas, embora o amor seja o tema principal do diálogo, nele o Platão explora a questão da beleza. Procurando provar que o discurso de Lísias, segundo o qual é preferível que um jovem belo e amado deve conceder seu amor àquele que não o ama, do que àquele que o ama de fato, declamado no início do diálogo por Fedro, Platão desenvolve a tese de que o amor é a visão do belo excitada pela paixão por meio da reminiscência das visões eternas. A alma, que já teria habitado o mundo das idéias e contemplado a beleza em essência, se compara a uma carruagem, dirigida pro um cocheiro (intelecto) e puxada por dois corcéis alados, um dócil (a coragem), outro rebelde (concupiscência). Quando descontrolada pela concupiscência, a alma pode cair para o mundo sensível e ser aprisionada num corpo. Algumas se lembram das belezas contempladas no mundo ideal, outras têm mais dificuldade. Platão defende que a alma é apaixonada pelo belo e deseja retornar a seu mundo. Segundo Platão (2007: 83) [246 e 247], “O que é divino é belo, sábio e bom. Dessas qualidades as asas se alimentam e se desenvolvem, enquanto todas as qualidades contrárias como o que é feio e o que é mau, fazem-na diminuir e fenecer”. Mais a frente afirma (2007: 91) [254]: “Quando o cocheiro vê o ser amado, a lembrança o reconduz para essência da beleza. Este a revê no santo pedestal, ao lado da sabedoria, e ele se assusta, teme, e necessariamente puxa o freio.E com tal violência o retrai que ambos os cavalos recuam; o bom voluntariamente e sem
  • 9. resistência; o ruim, entretanto, a contragosto”. Sobre os discursos escritos, tão utilizados pelos sofistas, Platão faz sérias críticas e compara a pintura a sofistica, quando afirma que (2007: 120) [275], “o uso da escrita, Fedr, tem um inconveniente que se assemelha à pintura. Também as figuras pintadas têm a atitude de pessoas vivas, mas se alguém as interrogar conservar-se-ão gravemente caladas. O mesmo sucede com os discursos. Falam das coisas como se as conhecessem, mas quando alguém quer informar-se sobre qualquer assunto exposto, eles se limitam a repetir sempre a mesma coisa”. Como se pode notar, Platão procura aproximar aqueles que enganam, por meio de ilusões discursivas àqueles que ludibriam através da pintura e da poesia, pois tanto num caso como no outro, essas artes não têm como objetivo elevar a alma, mas iludi-la. Isso fica claro quando Platão opõe o discurso sofístico ao filosófico, ao afirmar que “…Os melhores discursos escritos são os que servem para reavivar as lembranças dos conhecedores; só as palavras pronunciadas com o fim de instruir, e que de fato se gravam na alma, sobre o que é justo, belo e bom, apenas nelas se encontra uma força eficaz, perfeita e divina a ponto de nelas empregarmos os nossos esforços; somente tais discursos merecem ser chamados filhos legítimos do orador, gerados por ele próprio, quando esse orador possui um gênio inventivo, e quando nas almas de outras pessoas eles engendram descendentes e irmãos que sejam dignos da família. Quanto aos demais discursos, podemos desprezá-los” (PLATÃO, 2007:123) [277]
  • 10. ResumodoTexto:"TeoriaPlatônicadaBeleza"deArianoSuassuna Primeiro Resumo: Platão dizia existir dois mundos: o Real ou “em ruína” onde predominava a morte, a ruína, a feiúra e a decadência e o Ideal, Autêntico ou “em forma” que era o mundo das essências ligadas ao ser do mundo real onde a Verdade, a Beleza e o Bem são essências superiores, cada ser do nosso mundo possui um modelo, um arquétipo ideal e a beleza terrestre seria um reflexo, uma “imitação” de modelos da Beleza Absoluta. Portanto, para Platão a beleza depende da comunicação que um ser ou objeto possua com a Beleza Absoluta, ideal, existente neste mundo das Idéias. Segundo ele a alma humana é proveniente do mundo das idéias por isso ela é atraída pela beleza. Ela, antes de unir-se ao corpo vivenciou a Beleza e Verdade Absolutas e por isso aqueles que se dedicam à Beleza e Verdade são aqueles cujas almas recordam-se da experiência assimilada no plano das idéias. O mito da “parelha alada” de Platão diz ser o caminho místico o único capaz de elevar o homem ao mundo das idéias. Tal caminho seria o do amor, pois a princípio o ser humano era andrógino, ao ser separado (machos e fêmeas) cada alma procura seu par. Os indivíduos inferiores contentam-se com o amor físico, já os superiores iniciam sua busca pelo amor físico, logo alcançam o desejo de um belo corpo e passam a amar toda a beleza existente em belos corpos. Contudo a beleza corpórea torna-se pouco digna de estima, pois é sujeita à ruína (velhice, morte) então tal indivíduo passa a contemplar a beleza moral (da alma) porque ela resiste e com o tempo, sua contemplação é aprimorada até ele atingir o estágio final que é possível na terra, alcança a beleza “suprema”, acima de qualquer coisa, imutável e absoluta identificada com a Verdade e que causava prazer, deleite. Segundo Resumo: Platão via o universo como dividido em dois mundos: o mundo em ruína e o mundo em forma. O nosso mundo é o campo da ruína, da morte, da feiúra, da decadência. O mundo autêntico é aquele mundo das essências, da idéias puras. É o mundo eterno e imutável que existe acima do nosso. Nele a verdade, a beleza e o bem são essências superiores, ligas diretamente ao ser. Segundo Platão, a alma humana, eterna, sofre uma decadência ao se unir ao corpo material. Para ele a alma sabe tudo e se nós não a acompanhamos nesse conhecimento é porque a nossa parte material e grosseira faz com que nós nos esqueçamos da maior parte daquilo que a alma sabe, por ter contemplado já, a verdade, a beleza e o bem absolutos. Os diálogos platônicos que mais se referem à Beleza são “O Banquete” e o “Fredo”. No primeiro, o chamado “discurso de Sócrates” explica, quase que de modo definitivo, a teoria platônica da Beleza, valendo-se do famoso mito da “parelha alada”. Platão aconselha a seus discípulos o caminho místico, como o único apto a elevar os homens das coisas sensíveis e grosseiras até o mundo das idéias. O estágio de aperfeiçoamento seguinte, será aquele em que se considera a beleza da alma como superior à beleza do corpo.
  • 11. Para Platão, a Beleza causava antes de mais nada, enlevo, prazer, arrebatamento. Deleitação. Para ele a alma lembra dificultosamente e como pode, realidades que contemplou numa outra vida mais autêntica da qual vivemos desterrados. É a famosa teoria da reminiscência, que iria informar todo o pensamento platônico, não só quanto a contemplação da Beleza, da Verdade e do Bem, como a respeito dos métodos e processos criadores da Arte. Alegoria da Caverna A Alegoria da Caverna é o texto mais conhecido de Platão, que levanta muitas questões sobre a realidade, conhecimento, etc. Na história, dois homens prisioneiros estão acorrentados numa caverna, virados de costas para a abertura, por onde entra a luz solar. Eles sempre viveram ali, nesta posição. Conheciam os animais e as plantas somente pelas suas sombras projetadas nas paredes. Um dia, um dos homens consegue se soltar, e vai para fora da caverna. Fica encantado com a realidade, percebendo que foi iludido completamente pelos seus sentidos dentro da caverna. Agora ele estava diante das coisas em si, e não suas sombras. Diante do conhecimento. Retornou para a caverna, e contou para o companheiro o que havia visto. Este não acreditou, e preferiu continuar na caverna, vendo e acreditando que o mundo é feito de sombras. Para Platão, as coisas que nos chegam através dos sentidos (tato, visão, audição, etc), são apenas as sombras das idéias. Quem estiver preso ao conhecimento das coisas sensíveis apenas não poderá alcançar o mundo das idéias, ficando como o prisioneiro. ARISTOTELES Lógica: Para Aristóteles, a Lógica é um instrumento, uma introdução para as ciências e para o conhecimento e baseia-se no silogismo, o raciocínio formalmente estruturado que supõe certas premissas colocadas previamente para que haja uma conclusão necessária. O silogismo é dedutivo parte do universal para o particular; a indução, ao contrário, parte do particular para o universal. Dessa forma, se forem verdadeiras as premissas, a conclusão, logicamente, também o será. Física: A concepção aristotélica de Física parte do movimento, elucidando-o nas análises dos conceitos de crescimento, alteração e mudança. A teoria do ato e potência, com implicações
  • 12. metafísicas, é o fundamento do sistema. Ato e potência relacionam-se com o movimento enquanto que a matéria e forma com a ausência de movimento. Psicologia: A Psicologia é a teoria da alma e baseia-se nos conceitos de alma (psykhé) e intelecto (noûs). A alma é a forma primordial de um corpo que possui vida em potência, sendo a essência do corpo. O intelecto, por sua vez, não se restringe a uma relação específica com o corpo; sua atividade vai além dele. No homem, a alma, além de suas características vegetativas e sensitivas, há também a característica da inteligência, que é capaz de apreender as essências de modo independente da condição orgânica. Ele acreditava que a mulher era um ser incompleto, um meio homem. Seria passiva, ao passo que o homem seria ativo. Biologia: A biologia é a ciência da vida e situa-se no âmbito da física (como a própria psicologia), pois está centrada na relação entre ato e potência. Aristóteles foi o verdadeiro fundador da zoologia - levando-se em conta o sentido etimológico da palavra. A ele se deve a primeira divisão do reino animal. Aristóteles é o pai da teoria da abiogênese, que durou até séculos mais recentes, segundo a qual um ser nascia de um germe da vida, sem que um outro ser precisasse gerá-lo (exceto os humanos): um exemplo é o das aves que vivem à beira das lagoas, cujo germe da vida estaria nas plantas próximas. Metafísica: O termo "Metafísica" não é aristotélico; o que hoje chamamos de metafísica era chamado por Aristóteles de filosofia primeira. Esta é a ciência que se ocupa com realidades que estão além das realidades físicas que possuem fácil e imediata apreensão sensorial. O filósofo deu quatro definições para metafísica: 1. a ciência que indaga causas e princípios; 2. a ciência que indaga o ser enquanto ser; 3. a ciência que investiga a substância; 4. a ciência que investiga a substância supra-sensível. Ética: No sistema aristotélico, a ética é a ciência das condutas, menos exata na medida em que se ocupa com assuntos passíveis de modificação. Ela não se ocupa com aquilo que no homem é essencial e imutável, mas daquilo que pode ser obtido por ações repetidas, disposições adquiridas ou de hábitos que constituem as virtudes e os vícios. Seu objetivo último é garantir ou possibilitar a conquista da felicidade. As virtudes se realizam sempre no âmbito humano e não têm mais sentido quando as relações humanas desaparecem, como, por exemplo, em relação a Deus. Totalmente diferente é a virtude especulativa ou intelectual, que pertence apenas a alguns (geralmente os filósofos) que, fora da vida moral, buscam o conhecimento pelo conhecimento. É assim que a contemplação aproxima o homem de Deus. Política: Na filosofia aristotélica a política é um desdobramento natural da ética. Ambas, na verdade, compõem a unidade do que Aristóteles chamava de filosofia prática. Se a ética está preocupada com a felicidade individual do homem, a política se preocupa com a felicidade coletiva da pólis. Desse modo, é tarefa da política investigar e descobrir quais são as formas de governo e as instituições capazes de assegurar a felicidade coletiva. Trata-se, portanto, de investigar a constituição do estado.
  • 13. Direito: Para Aristóteles, assim como a política, o direito também é um desdobramento da ética. O direito para Aristóteles é uma ciência dialética, por ser fruto de teses ou hipóteses, não necessariamente verdadeiras, validadas principalmente pela aprovação da maioria. Retórica: Aristóteles considerava importante o conhecimento da retórica, já que ela se constituiu em uma técnica (por habilitar a estruturação e exposição de argumentos) e por relacionar-se com a vida pública. O fundamento da retórica é o entimema (silogismo truncado, incompleto), um silogismo no qual se subentende uma premissa ou uma conclusão. O discurso retórico opera em três campos ou gêneros: gênero deliberativo, gênero judicial e gênero epidítico (ostentoso, demonstrativo). Poética: A poética é imitação (mimesis) e abrange a poesia épica, a lírica e a dramática: (tragédia e comédia). A imitação visa a recriação e a recriação visa aquilo que pode ser. Desse modo, a poética tem por fim o possível. O homem apresenta-se de diferentes modos em cada gênero poético: a poesia épica apresenta o homem como maior do que realmente é, ideali Aristóteles Aristóteles (em grego Αριστοτέλης) nasceu em Estagira, na Calcídica (384 a.C. - 322 a.C.). Filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande, é considerado um dos maiores pensadores de todos os tempos e criador do pensamento lógico. Aristóteles figura entre os mais influentes filósofos gregos, ao lado de Sócrates e Platão, que transformaram a filosofia pré-socrática, construindo um dos principais fundamentos da filosofia ocidental. Aristóteles prestou contribuições fundantes em diversas áreas do conhecimento humano, destacando-se: ética, política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica, zoologia, biologia, história natural. É considerado por muitos o filósofo que mais influenciou o pensamento ocidental. Aluno de Platão, Aristóteles discorda de uma parte fundamental da filosofia. Platão concebia dois mundos existentes: aquele que é apreendido por nossos sentidos, o mundo concreto -, em constante mutação; e outro mundo - abstrato -, o das idéias, acessível somente pelo intelecto, imutável e independente do tempo e do espaço material. Aristóteles, ao contrário, defende a existência de um único mundo: este em que vivemos. O que está além de nossa experiência sensível não pode ser nada para nós. A filosofia aristotélica é um sistema, ou seja, há relação e conexão entre as várias áreas pensadas pelo filósofo. Seus escritos versam sobre praticamente todos os ramos do conhecimento de sua época (menos as matemáticas). Embora sua produção tenha sido excepcional, apenas uma parcela foi conservada. Seus escritos dividiam-se em duas espécies: as 'exotéricas' e as 'acroamáticas'. As exotéricas eram destinadas ao público em geral e, por isso, eram obras de caráter introdutório e geralmente compostas na forma de diálogo. As acroamáticas, eram destinadas apenas aos discípulos do Liceu e compostas na forma de tratados. Praticamente tudo que se conservou de Aristóteles faz parte das obras acroamáticas.
  • 14. Teoria do conhecimento - Aristóteles Apesar de ter sido discípulo de Platão durante vinte anos, Aristóteles (384-322 a.C.) diverge profundamente de seu mestre em sua teoria do conhecimento. Isso pode ser atribuído, em parte, ao profundo interesse de Aristóteles pela natureza (ele realizou grandes progressos em biologia e física), sem descuidar dos assuntos humanos, como a ética e a política. Para Aristóteles, o dualismo platônico entre mundo sensível e mundo das idéias era um artifício dispensável para responder à pergunta sobre o conhecimento verdadeiro. Nossos pensamentos não surgem do contato de nossa alma com o mundo das idéias, mas da experiência sensível. "Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos", dizia o filósofo. Isso significa que não posso ter idéia de um teiú sem ter observado um diretamente ou por meio de uma pesquisa científica. Sem isso, "teiú" é apenas uma palavra vazia de significado. Igualmente vazio ficaria nosso intelecto se não fosse preenchido pelas informações que os sentidos nos trazem. Mas nossa razão não é apenas receptora de informações. Aliás, o que nos distingue como seres racionais é a capacidade de conhecer. E conhecer está ligado à capacidade de entender o que a coisa é no que ela tem de essencial. Por exemplo, se digo que "todos os cavalos são brancos", vou deixar de fora um grande número de animais que poderiam ser considerados cavalos, mas que não são brancos. Por isso, ser branco não é algo essencial em um cavalo, mas você nunca encontrará um cavalo que não seja mamífero, quadrúpede e herbívoro. A teoria aristotélica da respiração Em seus tratados biológicos, Aristóteles estuda o processo de respiração no homem e nos animais, concluindo que se trata de um fenômeno de refrigeração, destinado a controlar o calor inato dos seres vivos. Ele analisa como se processaria esse fenômeno de refrigeração, em várias classes de animais, desenvolvendo observações, dissecações anatômicas e experimentos com animais. Proporciona um sistema teórico coerente, bem fundamentado sob o ponto de vista empírico e sistemático. Este artigo descreve essa contribuição de Aristóteles e discute os seus aspectos metodológicos, visando mostrar que a metodologia seguida por ele em seus estudos biológicos é essencialmente igual à da ciência moderna. Teoria da Substancia: as diversas abordagens e soluções trazidas ao longo dos séculos não apenas contribuíram para a exegese do Filósofo, mas desencadearam concomitantemente escolas e linhagens de pensamento cujos temas e questões ganharam autonomia em relação à própria obra de Aristóteles. Na interpretação desses textos, muitas vezes podemos perceber o desenrolar da história ocidental: que temas e problemas interessam e são preferidos, que visões de mundo são colocadas em jogo, que saberes ou ciências concorrem para orientar as perspectivas de cada tempo. Isso se reflete inclusive nos conceitos que prevalecem e nas suas traduções, que passam a valer como vocabulário básico e fundamental da filosofia e das ciências. Teoria da Escravidão: Aristóteles é um dos poucos filósofos da Antigüidade que se colocou explicitamente o problema da legitimidade da escravidão e desenvolveu uma doutrina sobre o tema, em particular no Livro I da Política.[1] Para justificar a escravidão – que era a base do sistema econômico e social do seu tempo - Aristóteles recorre à distinção entre “escravo por lei” e “escravo por natureza”. Na sua época, havia críticos da escravidão que afirmavam que ela havia sido introduzida pela força e pela violência, que não podem ser o fundamento do justo. Aristóteles produz várias tentativas de definição do escravo natural, nem sempre satisfatórias e convincentes, que encontram a sua justificação principal na afirmação de que existe uma distinção entre quem é por natureza escravo e, portanto, destinado a obedecer e quem é por natureza livre e, portanto, destinado a comandar: Comandar e ser comandado (árchein kai árchesthai) estão entre as condições
  • 15. não somente necessárias, mas também convenientes; e certos seres, desde o nascimento (ek genetés), são diferenciados