O documento discute a epistemologia dos pré-socráticos, abordando:
1) Os pré-socráticos eram considerados "físicos", preocupados com o estudo da natureza para entender o cosmos.
2) Figuras como Tales de Mileto, Anaximandro e Pitágoras desenvolveram teorias sobre os princípios materiais do universo e sua ordem.
3) Demócrito propôs que o universo é constituído por átomos e vazio, antecipando a física moderna.
3. Numa divisão feita posteriormente, o campo de
investigação dos filósofos gregos foi organizada em três
partes: Lógica, Ética e Física.
Lógica: estudo da linguagem e do significado
Ética: teoria moral e política. Compreendia ainda temas que, na
atualidade, se enquadrariam no domínio da sociologia e da
etnografia
Física: definida de maneira bastante abrangente, ocupava-se do
estudo da natureza e de todos os fenômenos do mundo natural.
4. “No âmbito dessa distinção tríplice posterior, os pré-
socráticos era considerados basicamente como ‘físicos’.
Existem partes de cunho ético e lógico em alguns de seus
trabalhos, mas a preocupação fundamental deles era a
física.
Aristóteles denomina-os physikoi, e sua atividade,
physiologia; eram ‘estudantes da natureza’, e seu campo
de interesse, o ‘estudo da natureza’. Para o leitor moderno,
isso poderá parecer mais aparentado à ciência do que à
filosofia – de fato, nosso moderno campo da física deriva
seu conteúdo, não menos que seu nome, da physikoi
grega.”
Jonathan Barnes “Filósofos pré-socr|ticos”
5. Características do pensamento pré-socrático:
- mundo é algo ordenado e perfeito
- seu desenvolvimento obedece determinadas leis
naturais
- deuses não interferem no mundo, seu desenvolvimento
e ordenação obedecem um critério natural e rigoroso que
pode ser conhecido pelos estudiosos da natureza
(physikoi)
natureza = phýsis
‘cientistas’ ou filósofos da natureza = physikoi
7. O raio e o trovão foram
explicados cientificamente, em
termos naturalistas, como os
efeitos da colisão de nuvens
A explicação mitológica do Zeus
poderoso que se irritava com o
comportamento humano e
deveria ser acalmado com
oferendas à sua honra foi
abandonada.
8. Tales de Mileto (624 – 546 a.C.)
- Com seus estudos de
movimento das estrela
previu um eclipse do Sol em 585
a.C.
- Considerou a água em suas
várias formas como princípio
material ou origem (arché) de
todas as coisas
9. Anaximandro (611 – 546 a.C.)
Infinito + quente/frio = atuam sobre os
elementos (terra, ar, fogo, água)
A quantidade dos elementos presente
nas coisas é o elemento que as
diferencia.
(Verão vs. Inverno)
Descrição do sistema celeste no qual a
Terra se manteria fixa no mesmo lugar,
no centro do universo. Ela dispensaria
uma sustentação pelo fato de estar
equidistante de cada parte do céu que
a circunda.
10. Pitágoras (570 – 495 a.C.)
Alma imortal – encarnação em
diversas criaturas
História do mundo é igualmente
infinita e cíclica
A matem|tica conteria a ‘chave’
da compreensão do universo:
uma fórmula dos ciclos segundo
os quais o mundo se move.
11. Heráclito de Éfeso (535 – 475 a.C.)
Primeira grande influência sobre
a filosofia de Platão
- Movimento eterno
“Tudo flui”
“A guerra é pai de todos, rei de
todos”
“N~o se pode entrar no mesmo
rio duas vezes”
12. Parmênides (530 – 460 a.C.)
Segunda grande influência de Platão
Imobilidade radical do ser em
oposiç~o ao ‘tudo flui’ de Her|clito
Princípio de Identidade: O ser é e não
pode não-ser
Ser é único, é imutável e imóvel
Todo movimento e mudança é ilusão
dos sentidos
A verdade é inteligível e não sensível
13. Filósofos pós-eleáticos: reação contra a posição de Parmênides
que, segundo eles, tornava a ciência e o conhecimento dos
fenômenos naturais algo impossível.
Empédocles (490 – 430 a.C.)
O universo se constitui de
quatro materiais básicos:
terra, ar, fogo e água, e eles
interagem entre si, misturam-
se, somam-se ou destroem-se
a partir de duas forças
opostas: o amor e o ódio.
Anaxágoras (500 – 428 a.C.)
Considerava que a força
geradora do cosmos era a
mente, ou seja, pela mente as
coisas todas teriam se
separado da massa
indiferenciada da qual todas
as coisas surgiram, e isso
porque a mente seria a única
substância capaz de permear e
mover todas as coisas.
14. Demócrito (460 – 370 a.C.)
O que existe são os corpos que
ocupam espaço e se movem pelo
vazio. Entende-se por corpo a
partícula mínima e indivisível à qual
ele chama ‘|tomo’, e os corpos
visíveis seriam então um conjunto
desses átomos que se movimentam
no vazio. Nessa perspectiva, o
mundo surgiu pelo movimento dos
átomos que, em suas colisões e
diferentes agrupamentos foram
dando origem às coisas que existem.
15. O desafio cético
Como atitude filosófica, o ceticismo supõe a impossibilidade do
conhecimento porque em suas investigações o cético constata que
uma crença pode ser tomada por verdadeira da mesma forma que a
crença contrária.
A partir desse desafio, qualquer teoria que queira falar sobre o
conhecimento deve elaborar uma resposta aos desafios céticos.
16. Ceticismo antigo
• Nossas opiniões são meros conjuntos de crenças que são
aceitas na sociedade da qual fazemos parte e que têm
significado apenas no interior desse contexto específico. Não
dizem respeito, no entanto, a um conhecimento ou verdade.
• Para os céticos mais radicais (os pirrônicos), não apenas no
conhecimento não é possível, como nossas opiniões não
podem igualmente ser justificadas.
• Toda justificação recai em um trilema
1. Regressão ao infinito
2. Interrupção dogmática
3. Círculo vicioso (falácia)
19. 3. Círculo vicioso
Creio que x
Creio que x
por causa de
y
Creio que y
por causa de
z
Creio que z
por causa de
a
Creio em a
por causa de
x
20. Mas o ceticismo não é uma escola helenista, ou seja,
não é verdade que eles surgem apenas depois de
Sócrates, Platão e Aristóteles e de todo o período
clássico? Por que então estamos falando de ‘desafio
cético’ antes mesmo de falar sobre Platão?
Ceticismo como escola surgiu, de fato, no período helenista e
‘pessimista’ que se sucedeu ao auge da cultura grega do
período clássico, mas a postura cética foi sem dúvida inspirada
nos chamados ‘Sofistas’, que apesar de n~o se chamarem
‘céticos’, foram aqueles que primeiro duvidaram da existência
de uma verdade única e, portanto, do conhecimento
verdadeiro.
21. Os sofistas
Podemos dizer que, antes mesmo da escola do Ceticismo, o desafio cético já
surgia com os chamados sofistas, mais conhecidos como os grandes
‘inimigos’ de Platão.
=> Relativização da verdade
22. * A verdade não é única, mas relativa àquele que a enuncia, ou
seja, a verdade é relativa àquele que se coloca na posição de
sujeito do conhecimento.
* Conhecimento só tem valor ‘pr|tico’, nunca ‘teórico’, e toma-
se como verdade a opinião que tem o melhor efeito ou valor
na situação específica em que ela é enunciada.
23. “Estou com frio” – opinião de alguém acometido de febre num
contexto em que a temperatura é 37 ºC. Mas podemos dizer
que é ‘falso’ que ele sente frio embora eu esteja sentindo calor?
Qual opinião é a mais verdadeira?
24. Aquele que sente calor nas mesmas condições nas quais outra
pessoa sente frio, sente no entanto verdadeiramente calor, da
mesma forma que o outro sente verdadeiramente frio.
E assim vemos melhor o parentesco entre os céticos e os
sofistas:
- pode-se afirmar coisas
contrárias sobre o mesmo
objeto ou situação (céticos)
- o que é verdadeiro depende
de quem enuncia ou vivencia
a verdade (sofistas)
25. MAS:
Se do ponto de vista teórico os sofistas afirmam que todas as
opiniões são igualmente verdadeiras, do ponto de vista prático,
no entanto, as opiniões não se equivalem, e é precisamente por
isso que algumas opiniões chamadas ‘melhores’ prevalecem {s
‘piores’.
Artes valorizadas e ensinadas pelas
‘escolas’ sofistas:
Retórica
Oratória
=> Ideia de que a discussão e a
persuasão são importantes armas
políticas
26. Protágoras (491 – 400 a.C.)
“O homem é a medida de todas as
coisas”
A única universalidade possível é a
de todo princípio é sempre
relativo.
As opiniões mudam, são variadas,
contraditórias, por isso não
podemos falar em algo ‘essencial’
ou ‘imut|vel’.
27. Qual era, portanto, o grande incômodo que os
sofistas despertavam em Platão?
Enquanto investigação da arte do bem agir e da
postura ética, a filosofia platônica é dependente de
um valor estabelecido e passível de ser
conhecimento do que é o BEM (o Sol na alegoria da
Caverna) para que as boas ações sejam aquelas
conformes ao Bem supremo. Sem isso, o valor das
ações é igualmente relativizado e não podemos
falar em uma reflexão propriamente ética.
28. A resposta de Platão aos sofistas/
ao desafio cético do conhecimento:
Diálogo Teeteto Teeteto (o interlocutor de Sócrates) dá
três respostas à pergunta de Sócrates
“o que é o conhecimento?”
1. Conhecimento é sensação
2. Conhecimento é opinião verdadeira
3. Conhecimento é opinião verdadeira
justificada
29. 1ª resposta de Teeteto: ‘Conhecimento é sensaç~o’ uma vez
que, quando conhecemos, sabemos que conhecemos.
Sócrates imediatamente identifica a afirmação de Teeteto com
a tese de Prot|goras ‘o homem é a medida de todas as coisas’, e
isso porque aquilo que sentimos é tomado como aquilo que se
nos apresenta e que podemos, portanto conhecer.
Então:
- N~o podemos falar em ‘percepç~o falsa’: assim os estados de
loucura, de doença, de deficiência não podem ser tomados
como falsos ou anormais
- A consequência imediata é: não há efetivamente
conhecimento algum, pois o que há é apenas a percepção e a
sensação
30. Sócrates: se é apenas a sensação e a percepção que
importam, por que justamente o homem é que deve
ser a medida de todas as coisas e não, por exemplo,
o porco?
Já que não é razão que
coloca o homem em um
lugar privilegiado, por
que então o homem e
não outro animal
qualquer?
31. Outro argumento interessante contra a tese de que o
conhecimento é sensação
A um não-falante da língua alemã um sujeito alemão dirige a seguinte
frase:
Könnten Sie bitte leiser sprechen?
O não-falante teve exatamente a mesma
sensação sonora que um sujeito falante teve,
no entanto, para ele essa frase não significa
absolutamente nada.
Se, partindo da afirmação de que conhecimento é sensação,
tudo o que percebo é também conhecimento, como posso
chamar de conhecimento algo que não compreendo, embora
possa ouvir e ver? Desta forma, resta afirmar que ‘perceber
n~o é conhecer’.
32. ‘Autodestruição’ do argumento sofista
Se todas as opiniões são verdadeiras, a opinião segundo
a qual nem todas as opiniões são verdadeiras deve igual
e necessariamente ser verdadeira.
E isso pode ser também expresso pelo seguinte
silogismo:
Opinião de Protágoras = opinião dos outros é
verdadeira
(se) opinião dos outros = opinião de Protágoras é
falsa
LOGO: a opinião de Protágoras é falsa!
33. Teeteto então conclui a primeira parte com a seguinte
conclusão:
o conhecimento é outra coisa que a percepção.
2ª resposta de Teeteto: “Conhecimento é opinião verdadeira”, pois
uma vez refutada a tese do sensualismo ligada a Protágoras e à
sua tese do ‘homem medida de todas as coisas’, pode-se partir da
certeza de que existem opiniões falsas.
Então, se o conhecimento é equivalente à opinião
verdadeira, como explicar que existem opiniões falsas?
Ou, qual critério devemos utilizar para
diferencia-las?
34. A opinião falsa, responde Teeteto, ocorre quando dizemos
sobre algo aquilo que esse algo não é.
E por que fazemos isso? – Pergunta Sócrates
Porque é possível que tenhamos um conceito errado sobre
determinada coisa. Quantas vezes não imaginamos algo que
se mostra diferente de quando o conhecemos? Um livro, por
exemplo. Por isso devemos sempre nos limitar à esfera da
percepção e da experiência.
Se opinião falsa é fruto de um erro que impossibilita o
conhecimento, então o conhecimento é a opinião verdadeira.
35. Sócrates: opinião verdadeira (doxa) é diferente de conhecimento (episteme)
Exemplo:
Antônio é o médico que tratou a doença de Adalberto
Vicente é um amigo de Adalberto que observou seus sintomas e o tratamento com
o qual Antônio o curou.
Maria é uma amiga de Vicente que apresentou os mesmos sintomas de Adalberto.
Vicente sugeriu que ela adotasse o mesmo tratamento que Adalberto. Mas,
temerosa, ela resolveu chamar um médico. Este médico sugeriu o mesmo
tratamento que Vicente já havia sugerido.
A opinião de Vicente é evidentemente verdadeira. Mas ela pode ser comparada à
do médico?
VS.
36. O Vicente evidentemente não tem o
conhecimento das causas da doença de
Adalberto e sua opinião verdadeira é fruto de
uma experiência que, no entanto, não foi
suficiente para lhe garantir o conhecimento
das causas.
Então é que Teeteto nos dá sua 3ª definição de
conhecimento:
Conhecimento é opinião verdadeira
justificada
37. Platão (427 – 347 a.C.)
Tentativa de conciliar as duas
grandes tendências filosóficas
que o precederam:
- O imobilismo do ser de
Parmênides
- A filosofia do mobilismo
universal de Heráclito
=> Teoria das ideias ou
essências inteligíveis
38. Primeira navegação ou “Física” [estudo da natureza]:
deve seguir o caminho dos filósofos pré-socráticos, os
physikoi. Mas percebeu que as respostas permaneciam no
plano do sensível e, enquanto tal, não garantiam nenhuma
espécie de conhecimento:
“Enfim, para dizer tudo, não sei absolutamente como
qualquer coisa tem origem, desaparece ou existe
segundo esse procedimento metodológico.
Escolhi então outro método, pois de qualquer modo
este não me serve.”
Diálogo Fédon
39. Segunda navegação: transposição a uma nova
realidade na qual o raciocínio supera as sensações e
onde se capta o inteligível
ao invés do sensível.
40. Mundo inteligível ou ‘mundo das ideias’:
Domínio das chamadas ‘formas puras’ ou ‘ideias’, fôrmas
inteligíveis a partir das quais as coisas sensíveis existem.
Realidade transcendente que, devido à sua imutabilidade,
constância e perfeição é o fundamento da realidade sensível
41. O mobilismo de Heráclito que impossibi-
litava qualquer tipo de conhecimento => é
associado ao mundo sensível, no qual a total
compreensão da realidade se mostrava
impossível diante da diversidade de opinião
e da eterna mudança dos seres.
O imobilismo de Parmênides, por sua vez, seria a
descrição do mundo inteligível das formas puras
que não se corrompem. Essa é a única causa
possível do mundo sensível e imperfeito, já que a
verdadeira causa não pode sofrer alterações,
pois caso contrário não seria a verdadeira causa.
+
42. A metáfora da linha
Sensível Inteligível
IMAGENS
Ilusão
SERES VIVOS
Crença
CIÊNCIA
Entendimento
FILOSOFIA
Inteligência
Entendimento = razão dialógica, que percorre o caminho
até as Ideias ou Formas Puras.
Inteligência = razão intuitiva, que intui os princípios
primeiros e supremos, como o BEM (ou o SOL na alegoria
da Caverna).
43. Aristóteles (384 – 322 a.C.)
- Como Platão, pensa a ciência
como conhecimento
verdadeiro, construído a partir
do conhecimento das causas
- Tem por objetivo
compreender a natureza do
devir, da mudança e da
corrupção desfazendo os mal-
entendidos legados por Platão
- Crítica a ideia das formas
puras separadas das coisas
sensíveis e traz as ideias do
mundo inteligível novamente
para o mundo sensível e
terreno
44. “Mas a dificuldade mais grave que se poderia
levantar é a seguinte: que vantagem trazem as
Formas aos seres sensíveis, seja aos sensíveis
eternos, seja aos que estão sujeitos à geração e
à corrupção? De fato, com relação a esses seres,
as Formas não são causa nem de movimento
nem de alguma mudança.”
Aristóteles, Metafísica
Aristóteles tenta juntar os dois mundos separados de Platão
de forma a unir a intuição intelectual às coisas percebidas
pelos sentidos em uma unidade existencial.
45. Três distinções fundamentais da teoria aristotélica
1. Substância-essência-
acidente
2. Forma – Matéria
3. Ato – Potência
46. 1. Substância-Essência-Acidente
A Substância de algo é aquilo que faz com que esse algo seja o
ser específico que ele é e não outra coisa. Nesse sentido a
substância aristotélica é um princípio de individuação que, ao
contrário da ideia platônica, é constituinte do ser.
A metafísica de Aristóteles pode ser considerada uma busca
das substâncias das coisas, sejam elas sensíveis ou
suprassensíveis, ou seja, a substância pode ser a matéria, a
forma, ou o composto matéria-forma.
47. Substância:
- atributos essenciais => aqueles sem os quais uma
substância não seria o que é. Aristóteles diria que o atributo
essencial do ser humano é a racionalidade, e sem ela ele não
poderia ser considerado de fato um ser humano.
- atributos acidentais => aqueles que acrescentam
características às essenciais mas não alteram em nada a
substância ou sua essência. Assim, o homem racional pode ser
bonito, feio, alto, baixo, gordo, magro, etc. Nenhuma dessas
característica pode mudar o fato de que ele é um ser humano
e que é também racional.
48. 2. Forma-Matéria
O problema das transformações e mudanças dos seres ainda
não foi resolvido com os conceitos de essência e acidente, e
então Aristóteles recorre às noções de forma e matéria:
Matéria: princípio indeterminado de que o mundo físico é
composto e que faz com que ele esteja sempre em
transformação.
Forma: aquilo que ‘enforma’ a matéria, que a define. É o
princípio inteligível, a essência comum aos indivíduos da mesma
espécie.
49. Exemplo da estátua
A matéria nesse caso é o
mármore de que a estátua foi
feita.
A forma, no entanto, é a ideia
da perfeição humana que
Michelangelo realiza em Davi.
50. 3. Ato-potência
As noções de matéria e forma só dão conta do problema do
devir e da mudança se analisados juntamente com os conceitos
de ato e potência.
Potência = ausência de perfeição de um ser que é no entanto
capaz de possuí-la. Potência é aquilo que existe como
possibilidade para um ser, mas ainda não como atualidade.
Assim, a semente de carvalho possui a árvore de carvalho em
potência, mas não em ato.
Ato = aquilo que existe atualmente na coisa, a potência que já
foi realizada. No exemplo do carvalho, a semente passaria de
potência ao ato quando finalmente fizesse brotar e crescer a
árvore de carvalho.
Assim o movimento é, para Aristóteles, justamente a
passagem do ato à potência, ou potência que se atualiza.
51. Ato-Potência e Forma-Matéria
A matéria (no exemplo da escultura, o Mármore) é aquilo que
existe atualmente e que traz consigo a potencialidade de
receber uma forma (Davi). Uma vez realizada a escultura, o
antigo bloco de mármore será agora Davi em ato, mas
continuará sendo em potência uma infinidade de outras coisas.
Temos três consequências fundamentais dessa estrutura do
conhecimento:
1. Há conhecimento tanto do sensível quanto do inteligível
2. As noções de forma e potência estão na base da ética
aristotélica
3. Deus é concebido como puro ato, ou seja, como perfeição à
qual nada pode ser acrescentada.
52. Os dois tipos de conhecimento em Aristóteles
1. Conhecimento sensível
2. Conhecimento inteligível
Ao fazer a experiência de diversas coisas das quais temos o
conhecimento sensível, nossa alma sensitiva representa esses
estímulos recebidos dos sentidos na memória e, pelo intelecto,
podemos abstrair as características acidentais para buscar
aquilo que há de comum na essência de cada coisa. Esse é o
conhecimento inteligível porque ele lida com conceitos
universais abstraídos da experiência das coisas sensíveis.
53. As noções de forma e potência na base da ética aristotélica
Se a forma do ser humano é a sua racionalidade, e se o fim
último da vida humana, enquanto humana, é a busca pela
felicidade, então a felicidade existe no homem enquanto
potência que deve ser atualizada à medida em que o homem
age virtuosamente, i.e., em concordância com a sua
racionalidade. A vida eudaimônica, podemos concluir, é a
atualizaç~o (a realizaç~o da potência) da forma ‘humana’ na
matéria que é o humano individual.
54. Deus é concebido como puro ato, ou seja, como perfeição à
qual nada pode ser acrescentada.
Tudo que se move tem como causa motriz o movimento de algo anterior a
ele, que por sua vez tem de ter outra causa motriz anterior e assim por
diante. Qual é a causa do movimento (e, consequentemente, da
atualização) de todos os seres?
Aristóteles reconhece que é preciso que exista algo que seja o precursor
absoluto de todo o movimento existente. Este, por sua vez, será
necessariamente imóvel, pois caso contrário, algo anterior a ele deverá
ser responsabilizado por seu movimento. Mas postular o primeiro motor
como um Primeiro Motor Imóvel se equivale a considerar que todas as
suas possibilidades, diferentemente de existirem, já se encontram
efetivadas, ou seja, que ele seja o próprio ato plenamente realizado em
todas as suas potências.
55. A necessidade da lógica
Ciência = conhecimento das causas, ou seja, do ‘por que’ das coisas
A ciência é verdade demonstrada
O instrumento usado para a demonstração é o silogismo científico, que é um
raciocínio composto de premissas, no mínimo duas, uma denominada ‘maior’
e outra ‘menor’, e por uma conclus~o que é inferida dessas premissas.
As premissas devem ser indemonstráveis ou devem derivar de premissas
indemonstr|veis. Assim, quando afirmamos que ‘todo homem é mortal’ n~o
precisamos demonstrar o fato de que homens são mortais porque isso se
baseia em nossa experiência de que nunca houve um homem que não fosse
mortal. Se um homem se provar imortal, então essa frase não poderá mais
ser uma premissa, e os silogismos nela baseados serão todos falsos.
Os princípios são indemonstráveis porque são a razão da demonstração de
determinadas conclusões.
58. Ciência Medieval
- Modelo Aristotélico de
conhecimento
Ciência Moderna
- Contestação de diversos dogmas da Igreja Católica
- Protestantismo
- Descoberta científicas
- Galileu e o heliocentrismo
59. Cosmos Aristotélico:
Os espaços ordenados entre
os Céus . Mundo superior
dos céus, perfeito e finito,
fechado e acabado, do qual
o mundo da Terra era apenas
a parte inferior e corruptível,
mas enquanto tal ainda
parte do sistema, do
Cosmos.
Universo Infinito de Galileu:
- Onde estamos?
- Para onde vamos?
- Quem somos?
60. Alguns pensadores da época (dentre os quais principalmente
Montaigne) levaram adiante o clima de contestação e criaram
um novo clima de ceticismo, ora afirmando a incerteza do
conhecimento, ora concluindo que tudo se refere a costumes,
valores, superstições. As ideias nada seriam que meras
opiniões sem fundamento.
62. - Desconstrução do conceito fundamental da concepção
medieval de forma substancial, baseada na teoria aristotélica,
no qual a forma é ato constitutivo da substância ou ato pelo
qual a substância existe.
- Procedimento: Dúvida Hiperbólica
Consiste em colocar em suspensão todas as crenças de uma só
vez, a fim de buscar as bases seguras do conhecimento;
Tem por objetivo separar a parte indubitável do conhecimento
para salva-lo
- da fraqueza e debilidade dos nossos sentidos
- da autoridade dos pais e preceptores (referência às
escolas medievais)
63. Ao suspender tudo o que pode nos conduzir o erro, seremos
capazes de estabelecer os fundamentos firmes e incontestáveis
do conhecimento. Características da Dúvida hiperbólica:
1. distingue-se da dúvida vulgar pelo fato de ser fruto de uma
decisão, e não de uma experiência – postura ativa, dúvida como exercício;
2. é hiperbólica, ou seja, é sistemática/metódica e
generalizada/radical;
3. trata todas as coisas duvidosas como falsas.
64. => a dúvida recai sobre os princípios sobre os quais se apoiam nossas crenças
(alicerce cai e leva junto todo o edifício, ou seja, todas as crenças).
1º grau da dúvida: o erro dos sentidos - Os sentidos podem nos levar a julgar
como verdadeiro e real o que não passa de delírio, como acontece com os
loucos que de fato veem-se cobertos de ouro quando estão nus.
2º grau da dúvida: argumento do sonho - Se estende a todo o conhecimento
sensível e a seu conteúdo, pois não há quaisquer indícios nem marcas
indubitáveis capazes de distinguir o sono da vigília.
3º grau da dúvida: argumento que estende a dúvida ao valor objetivo das
essências matemáticas – O gênio Malígno
Uma vez que Deus é onipotente, é possível que ele nos engane. Ainda que
essa suposição pareça antinatural, ela tem valor apenas metodológico, uma
vez que a consideração da bondade de Deus por si só não é suficiente para
invalidá-la e, portanto, ela deve ser colocada igualmente em suspensão.
65. Conquista da primeira certeza
Seguindo o princípio do apoio de Arquimedes, Descartes vai
buscar aqui a primeira certeza, capaz de inaugura ar cadeia de
razões. Assim:
1. No ponto em que estou não poderia ter a certeza da existência
de algum Deus? Não, nada o exige;
2. Não posso evocar a certeza de minha existência como
indivíduo, como sujeito concreto? Não, nada o permite porque
pus em dúvida todas as coisas concretas que há no mundo.
3. Mas, aquém da minha existência concreta como indivíduo, há
algo capaz de resistir a toda dúvida e, igualmente, a toda ameaça
do gênio maligno?
66. Duvido, logo penso
Penso, logo sou
A proposição eu sou, eu existo é necessariamente verdadeira
todas as vezes que a enuncio ou que a concebo atualmente em
meu espírito. A natureza deste Eu-existente é apenas a de existir
atualmente enquanto pensa, duvida, sente, etc. E ela é verdadeira
ainda que exista um gênio maligno, pois só posso ser enganado
se sou alguma coisa.
67. Descartes admite que o espírito tem
ideias inatas, nascidas juntamente com
nossa mente, e essas ideias são as
únicas que nos fornecem certeza
absoluta, sobre a qual podemos
sustentar posteriormente as certezas
adventícias ou empíricas, ou seja, as
ideias que formamos a partir da
experiência e dependem da nossa
percepção sensível.
68. Contraposição à essa ideia:
John Locke (1632 – 1704)
Ideia da tábula rasa, ou de que nossa mente é como um papel
vazio no qual a experiência vai imprimindo marcas.
Todas as ideias vêm da experiência
70. * Hume rejeita a posição de Locke de que todas as nossas ideias
vêm do exterior e da experiência. O exemplo mais comum é o
do conceito de causalidade. Como podemos adquirir esse
conceito do mundo sensível, considerando que ele não é uma
coisa ou outra mas a ligação (invisível) entre duas?
* Hume não concorda tampouco com Descartes e não acha que
o conceito de causalidade seja inato, ou seja, tenha nascido
juntamente com a nossa mente.
Como Hume entende, portanto, a origem das nossas ideias
‘abstratas’ e como o conhecimento delas é possível?
71. Todas as nossas operações mentais ou ideias têm sua origem
em impressões. As impressões podem ser uma representação
de algo que existe na realidade, mas pode ser também um
sentimento.
Assim, eliminar as ambiguidades de uma ideia ou ‘justificar’ uma
ideia é algo que só pode ser feito se traçarmos o caminho
inverso das operações mentais até encontrarmos a impressão
ou sentimento da qual a ideia é cópia.
Ideia de
causalidade
Experiência da
ligação causa-
efeito
Impressão de
que x segue-se
sempre a y
Impressão de
que x segue-se
sempre a y
Experiência da
ligação causa-
efeito
Impressão de
que x segue-se
sempre a y
73. Posição intermediária entre o Racionalismo (Descartes) e o
Empirismo (Locke e Hume)
O conhecimento começa com a experiência mas só pode se
tornar ‘conhecimento’ porque nosso aparato cognitivo é
capaz de elaborar conceitos independentemente da
experiência.
E mesmo para a experiência nosso aparato racional e
cognitivo é dotado de princípios que a organizam e as
tornam passíveis de serem percebidas.
1. Sensibilidade
2. Entendimento
3. Razão
Nosso aparato cognitivo se
divide em três momentos:
75. Os objetos são percebidos em conformação com os órgãos de
percepção do sujeito.
Sensibilidade
Conceitos da sensibilidade: espaço e tempo
=> d~o a forma ‘perceptível’ dos objetos. Se eles s~o
efetivamente assim, não temos como saber. Tudo o que temos é a
aparência das coisas (fenômeno), e não as coisas como elas são em-si.
Entendimento
conceitos que se aplicam ao material da sensibilidade
Conceitos do Entendimento: quantidade, qualidade, relação,
etc.
Razão
Seus conceitos se aplicam aos conceitos do Entendimento
apenas. Se se aplicarem ao material da sensibilidade, eles
serão a causa de muitos erros.
Conceitos da Razão: Liberdade, Imortalidade da Alma, Deus
76. O preço a pagar pela sistematização do conhecimento
kantiana:
[Oposição entre Fenômeno e Coisa-em-si]
Estruturas do connhecimento:
Espaço + Tempo
Conceitos do Entendimento
77. ?
O que acontece com a coisa-em-si?
Não podemos saber, pois toda informação que
recebemos do mundo já recebe uma configuração
específica ao ser humano, que é adequada à sua
racionalidade.
79. As principais correntes da epistemologia
contemporânea
Dentre os problemas centrais postos para
as teorias contemporâneas, destaca-se o
problema da justificação de crenças, uma
vez que, como já propusera Teeteto,
‘conhecimento é opini~o verdadeira
justificada’.
80. De acordo com essa definição de conhecimento temos então três
condições necessárias e (supostamente) suficientes para definir
uma crença como crença justificada e, portanto, como
conhecimento:
1. A verdade da proposição é conhecida;
2. Há uma crença do agente doxástico nessa proposição;
3. O agente doxástico está justificado ao crer na proposição.
CRENÇAS VERDADES
CONHECIMENTO
81. A partir da década de 70 duas principais correntes da
epistemologia são formadas:
1. Teorias Doxásticas
a.Fundacionismo
b. Coerentismo
2. Teorias Não-doxásticas
a. Internalismo
b.Externalismo
82. Teorias doxásticas
A justificação é uma função exclusiva do sistema de crenças e
opiniões (daí o nome: doxa significa ‘opini~o’ em grego) que
um sujeito S sustenta. A ideia é de que por estar
necessariamente amarrado em um sistema de crenças, quando
tentamos justificar uma determinada crença automaticamente
recorremos a uma segunda, e assim sucessivamente.
83. Fundacionismo
Há um forte apelo à ciência cognitiva, segundo a qual o
conhecimento tem como base os sentidos, as percepções, que
são a base da nossa relação com o mundo e que constituem as
nossas crenças mais primitivas
Crenças inferenciais
Crenças fundacionais
Básicas/simples
84. As crenças fundacionais ou básicas são formadas a partir da
nossa experiência e, tal como a proposiç~o “todo homem é
mortal”, elas s~o constatações feitas a partir do mundo
sensível que não podem ser refutadas.
Crenças fundacionais
=> Privilégio Epistêmico
=> Serve de justificação para as crenças inferenciais
•Creio que x
Crença
inferencial 1
•Creio que x
por causa de y
Crença
inferencial 2 •Sabe-se que y
Crença
fundacional
85. Opositores do Fundacionismo colocam as
seguintes objeções:
1. O que significa essa ‘auto justificaç~o’ das crenças
simples e como ela de fato acontece (podemos
pensar aqui nos casos de doença, delírio, deficiência,
etc.)?
2. Como se dá a ascensão epistemológica das crenças
simples às complexas?
86. Coerentismo
O ponto de vista do sistema de crenças
encontrado no Fundacionismo é mantido.
Entretanto, para os Coerentistas não há uma
hierarquia de crenças que possa estabelecer
a base de todo um sistema de crenças, como
ocorre no Fundacionismo. Não há, portanto,
nenhuma possibilidade de apelar às crenças
simples e diretamente derivadas das
experiências.
87. Como, então, as crenças são justificadas no Coerentismo?
o Coerentismo aposta que a justificação de crenças é possível
se há uma conexão coerente entre elas. O apelo se dirige aqui
ao sistema de crenças como um todo e, nesse sentido, uma
crença é justificada não mais por uma crença mais básica mas
pela coerência que ela é capaz de estabelecer com o todo das
demais crenças constitutivas do sistema ao qual ela pertence.
As crenças se agrupam em
sistemas dentro dos quais
elas podem até mesmo
parecer mais ou menos
evidentes. Não no entanto
a concepção de crença
básica nem nada que não
necessite de justificação
88. O principal problema enfrentado pelas teorias
coerentistas é o questionamento acerca do que
conta como coerência no interior do sistema.
É preciso estabelecer um critério de coerência,
porque este não é um conceito livre de dificuldades.
89. Teoria não-doxásticas
São assim chamadas as teorias que defendem que outros
elementos além de crenças devem ser considerados numa
justificação possível para o conhecimento. Para os seus
representantes, portanto, o sistema de crenças por si só não é
capaz de justificar as crenças que o compõem. Duas são as
correntes principais:
- Internalismo
- Externalismo
90. Internalismo
Laurence BonJour
Assumem traços do fundacionismo ao adotar a ideia de
crenças básicas mas em geral rejeitam a ideia de que por si
só uma crença básica pode justificar todo um conjunto de
crenças inferenciais.
91. * Os internalistas diferenciam o ‘estado perceptivo’ da ‘crença
no estado perceptivo’. Isso significa que a sensaç~o de ver a
cor vermelha é diferente da preposiç~o ‘acredito que vejo a
cor vermelha’. No caso de um daltônico, essa proposiç~o tem
uma grande chance de ser falsa. Isso significa que, para
justificar uma crença, não é suficiente que essa crença esteja
fixada mas, ainda, é necessário que ela seja percebida como
‘crença fixada’ pelo agente dox|stico.
* Afirma-se então que as crenças básicas como a crença que p
ou a crença de que essa maçã é vermelha não são justificadas
por outras crenças mas por outros elementos não-doxásticos,
ou seja, não relacionados à crença ou à opinião, como a
evidência, a situação descrita, etc.
92. Externalismo
Rejeição da ideia de que a
mera crença ou estado
interno do sujeito seja
suficiente para justificar sua
opinião.
Banimento da questão da
justificação por crenças => o
conhecimento e a
justificação tornam-se
problemas externos ao
sujeito.
93. “Como responsabilizar alguém por crer ou deixar de crer
numa proposição qualquer se a justificação – ou a falta
dela –, não apenas lhe pode ser inacessível, mas é
francamente assumida como algo que nada tem a ver com
a subjetividade?”
(Júlio César Burdzinski - “Os problemas do fundacionismo
contempor}neo”).
Assim, se o exame das condições externas de
conhecimento leva à afirmação da verdade da proposição,
então a crença está justificada. Em caso negativo, a
justificação não é possível. A justificação é inteiramente
retirada do }mbito do sujeito e de seus ‘estados internos’ e
é colocada na configuração do mundo que atualmente se
apresenta.
94. Quine e a epistemologia naturalizada
Quine quer mostrar que o
problema do significado tem
predominância sobre o
problema da verdade. No caso
de proposições metafísicas,
não se pode dizer de sua
verdade, mas podemos julga-
las em termos de um
significado melhor ou mais
proveitoso, daí a vantagem em
relação ao problema da
verdade.