1. A língua portuguesa evoluiu a partir do latim falado na Península Ibérica, sendo influenciada por povos como os celtas, fenícios e árabes. 2. Portugal tornou-se independente no século XII, desenvolvendo sua própria língua a partir do dialeto galaico-português. 3. A língua portuguesa passou por fases pré-histórica, proto-histórica e histórica, sendo a primeira obra totalmente em português datada do século XII.
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I. ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA
A língua portuguesa está intimamente relacionada com os acontecimentos históricos que
se sucederam na Península Ibérica.
Pouco se sabe acerca dos povos que teriam habitado o solo peninsular antes da
chegada dos romanos (séc. III a. C.). De entre esses faz-se referência aos iberos,
aos celtas, aos fenícios, aos gregos e aos cartagineses.
A Península Hispânica fora habitada, em tempos muito remotos, pelos Iberos, povo
agrícola e pacífico. Por volta do século VI antes de Cristo, este território fora invadido pelos
Celtas, um povo turbulento e guerreiro. E a prolongada permanência provocou o cruzamento
entre estes dois povos, dando origem à denominação de Celtiberos.
Depois, os Fenícios, os Gregos e os Cartagineses estabeleceram colónias comerciais
em vários pontos da Península.
Como estes últimos pretendiam apoderar-se de todo o solo peninsular, os Celtiberos
pediram socorro aos Romanos.
ROMANIZAÇÃO DA PENÍNSULA IBÉRICA
É assim que os Romanos invadem a Península, no século III antes de Cristo, com o
intuito de travar a expansão dos Cartagineses, dado que estes constituíam uma séria
ameaça ao domínio do mundo mediterrâneo pretendido por Roma.
Vencidos os Cartagineses, os Romanos acabaram por dominar toda a Península, tanto
no aspecto político-militar quanto no aspecto cultural, nomeadamente no que respeita à
língua. A civilização latina foi-se impondo através da abertura de escolas, da construção de
estradas e de templos, pela incrementação do comércio, pelo serviço de correio, etc.
Consequentemente, a sua língua, o Latim tornou-se indispensável e obrigatório, suplantando
os idiomas já existentes.
Mas como é fácil prever, o Latim dos soldados romanos não era o mesmo dos escritores.
Era o Latim usado pelo povo, chamado Latim Vulgar.
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Já o povo peninsular se encontrava totalmente romanizado, quando, no século V da era
cristã, a Península voltara a ser invadida e assolada, desta vez pelo povos bárbaros
germanos (alanos, suevos, vândalos, visigodos), gente essencialmente guerreira e de
cultura inferior à alcançada ao longo do processo de romanização. Daí que os bárbaros,
apesar de vencedores, acabassem por adoptar a civilização e a língua latinas. Mas isto não
impediu a dissolução da unidade política do império, uma vez que os bárbaros, baseados no
pressuposto de que a instrução fragilizava o espírito bélico dos soldados, decretaram o
encerramento das escolas.
Se este facto motivou o enfraquecimento da nobreza romana, somar-se-lhe-ia entretanto
um outro que a condenaria ao seu desaparecimento: as letras latinas, preservadas e
cultivadas no silêncio dos mosteiros, viriam a ser proibidas por um cristianismo radical e
exacerbadamente purificador, por as considerar contaminadas pelo espírito pagão.
TRANSFORMAÇÃO DO LATIM VULGAR EM DIALECTO
À queda e fragmentação do Império Romano sucede-se a supressão dos elementos
unificadores do idioma. Isto é, o Latim Vulgar, já substancialmente modificado pela ação do
substrato linguístico peninsular, perde progressivamente terreno e desenvolve-se
diferentemente em cada região. Isto equivalerá a dizer que o Latim vulgar se dialetou,
sobretudo devido à invasão bárbaro-germânica.
Chegados ao século VII, os árabes, vindos do Norte de África, invadiram a Península.
Como a sua cultura era superior à que o povo peninsular possuía, eles tentaram impor a sua
língua como oficial. Porém, os habitantes da Península, sentindo as enormes oposições de
raça, de língua e de religião que os separavam do povo vencedor, não aceitaram a sua
civilização e continuaram a falar o "romance" (o Latim Vulgar, contaminado por diversos
substratos). No entanto, algumas povoações acabaram por receber diretamente a influência
dos árabes, formando uma espécie de comunidades mistas, denominadas "moçárabes",
mas mantendo independência quanto ao culto religioso.
Por estas razões se compreende que o povo árabe, cultural e civilizacionalmente
superior, não tenha tido, ao longo dos mais de sete séculos de ocupação peninsular
(expulsos em 1492, por Fernando de Aragão e Isabel de Castela), uma forte influência no
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tocante à língua portuguesa. A maioria dos vocábulos que o nosso idioma absorveu desse
povo caracterizam-se pelo prefixo AL, que corresponde ao artigo definido árabe, como
documentam os seguintes
exemplos: álgebra, algibeira, álcool, alcatifa, alface, algarismo, alfazema, alcachofra, almofa
da, alfinete, algema, algodão, alqueire, etc.
II. O DESPERTAR DA EMANCIPAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA
O processo de expulsão do povo árabe da Península foi longo e penoso. Nos finais do
século XI, sob a bandeira de D. Afonso VI, rei de Leão e Castela, muitos fidalgos acorreram
em auxílio do monarca para libertar o reino da presença do infiel. Entre eles destaca-se D.
Henrique, conde de Borgonha, que, pelos serviços à coroa e à causa cristã, recebera em
casamento a filha do rei, D. Tareja, e, por dote, o governo do Condado Portucalense, um
pequeno território situado na costa ocidental da Península, entre os rios Douro e Minho.
D. Afonso Henriques, filho do conde D. Henrique, continuou a luta contra os mouros,
pretendendo transformar o reino de Leão e Castela num estado independente. De entre os
inúmeros combates, ganhou particular importância a batalha de Ourique, em 1139, quer pela
vitória alcançada sobre os árabes, quer também pelo facto de os soldados, antes de se
iniciar o combate, terem aclamado D. Afonso Henriques de rei de Portugal. Mas só em 1143
seria reconhecida a independência do Condado Portucalense e D. Afonso Henriques
proclamado rei. E daqui nasceria Portugal.
Nessa região, onde fora fundada a monarquia portuguesa, falava-se um dialecto
denominado galaico-português, expressão linguística comum à Galiza e Portugal. Mas, à
medida que Portugal alargava os seus domínios para Sul, ia absorvendo os falares
(ou romances) que aí existiam e, consequentemente, ia-se diferenciando do galego, até se
constituírem como línguas independentes: o galego acabou por ser absorvido pela unidade
castelhana, e o português, continuando a sua evolução, tornar-se-ia a língua de uma nação.
III. FASES DE EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Segundo Leite de Vasconcelos, há a considerar na evolução da língua portuguesa três
fases: pré-histórica, proto-histórica e histórica.
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__ Fase Pré-Histórica: começa com as origens da língua e vai até ao século IX. Entre o
século V e o século IX temos o que geralmente se denomina romance lusitânico. Ao longo
deste período encontramos somente documentação em Latim Vulgar.
__ Fase Proto-histórica: estende-se do século IX ao século XIII. Nesta fase encontram-
se já, nos documentos redigidos em Latim Bárbaro (o Latim dos notários e tabeliães da
Idade Média), palavras e expressões originárias dos romances locais, entre os quais aquele
que dera origem ao Português. Donde se deduz que a língua já era falada, mas não escrita.
__ Fase Histórica: inicia-se no século XII e estende-se até aos nossos dias. Esta fase
compreende dois períodos:
1. Período do Português Arcaico: vai do século XII ao século XV.
O primeiro texto inteiramente redigido em português data do século XII. Pensou-se
durante muito tempo tratar-se da Cantiga da Guarvaya, também chamada "Cantiga da
Ribeirinha", porque dedicada a D. Maria Paes Ribeiro, a «Ribeirinha», amante de D. Sancho
I:
"No mundo non me sei parelha,
mentre me for' como me uay
ca ia moiro por uos e ay!
mha senhor branca e uermelha,
queredes que uos retraya
quando uos eu ui en saya!
Mao dia me leuantei,
que uos enton non ui fea!
E, mha senhor, des aquel di' ay!
me foi a mi muyn mal,
e uos, filha de don Paay
Moniz, e ben uus semelha
d' auer eu por uos guaruaya
pois eu, mha senhor, d' alfaya
nunca de uos ouue nem ei
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ualia d' üa correa." (colocámos o ü por não dispormos de meios para
grafar u com til.)
Cancioneiro da Ajuda
[VOCABULÁRIO: parelha = semelhante, igual; mentre = enquanto, entrementes; ca = p
ois, porque; moiro = morro; queredes = quereis; retraya =retrate, evoque; que uos enton
non ui fea = que então vos vi linda (por litote); mi = mim; semelha =
parece; guaruaya = manto escarlate próprio dos reis.]
Porém, o tempo veio provar que o autor desta composição, Paio Soares de Taveirós, se
situa no segundo terço do século XIII e não no século XII, como Carolina Micaëlis havia
suposto, ao considerar esta cantiga como escrita em 1189 ou 1198.
Para já, tudo parece indiciar que a a Notícia de Torto (antes de 1211?) e o Testamento
de Afonso II (1214) serão os mais antigos documentos não literários escritos em Português.
Quanto às composições de carácter literário, pensa-se que João Soares de Paiva, a quem
se deve uma cantiga de maldizer, segundo López Aydillo datada de 1196, terá sido o
primeiro poeta a escrever em idioma português.
A partir dessa altura, aparecem outros textos de poesia e, mais tarde, surgem os
primeiros textos em prosa.
As poesias reunidas nos "Cancioneiros" e as "Crónicas" de Fernão Lopes, Gomes Eanes
de Zurara e Rui de Pina são textos que documentam este período arcaico.
Em 1290, D. Dinis, o rei 'Trovador', torna obrigatório o uso da língua portuguesa e funda,
em Coimbra, a primeira Universidade.
2. Período do Português Moderno: do século XVI até aos nossos dias.
Por influência dos humanistas do Renascimento, o século XV ficou marcado por um
aperfeiçoamento e enriquecimento linguísticos. Ao mesmo tempo que se procurava, ao nível
das artes e das Letras, imitar os modelos latinos, tentava-se igualmente aproximar a Língua
Portuguesa da língua-mãe. Como a coroar esse processo, aparece, em 1572, a obra de Luís
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de Camões, «Os Lusíadas», marco histórico do nosso idioma e monumento literário e
linguístico.
É neste mesmo século que surgem as primeiras tentativas de gramaticalização da
língua. Fernão de Oliveira edita, em 1536, a primeira Gramática da língua portuguesa,
intitulada «Gramatica da Lingoagem Portugueza». Em 1540, João de Barros escreve, com
o mesmo título, a segunda gramática da língua portuguesa.
A partir do século XV, através da expansão marítima, os portugueses descobrem novas
terras e a elas levam a sua língua, estendendo deste modo o espaço geográfico em que a
Língua Portuguesa serve, com mais ou menos alterações relativamente à do povo que a
divulgou, de língua de comunicação em várias nações do mundo.