SlideShare uma empresa Scribd logo
Este axioma é verdadeiro?
        “A Encarnação do Verbo foi a maior profanação que aconteceu na
                                                            história...”
                                                                          José Fernando Vieira - 09/06/10

        Antes de abarcar o fato da Encarnação temos que definir o que é o profano. Aqui
entendemos de maneira grosseira e um tanto lógica que o profano é aquilo que está fora
do sagrado. Segundo Mondin: “o termo sagrado significa aquilo que pertence a uma
ordem de coisas separada, reservada, inviolável; que deve ser objeto de respeito
religioso da parte de um grupo de crentes, é o oposto do profano”. (Mondin, Quem é
Deus? p. 31).
       Outro aspecto interessante é o conceito filológico do termo que origina a palavra
sagrado. “Provém do latim sacer, que por sua vez vem do sancire, que quer dizer
conferir validade, realidade, fazer com que alguma coisa se torne real”. (Mondin, Quem
é Deus? p. 32).
       Portanto a primeira objeção ao axioma é que o ato de tornar profano, como já
nos é conhecido, é a capacidade de fazer com que algo esteja, ou permaneça fora da
esfera do sagrado; assim logicamente seria impossível Deus se manter fora de si
mesmo. Se o profano é o oposto do sagrado, dizemos erroneamente com a afirmação do
axioma em questão que: a Encarnação foi à maior perda do sagrado, a maior negação do
mesmo, a mais concludente negativa da essência divina. Assim se é fácil perceber que
Deus essencialmente não profere atos profanos, pois negaria sua essência benevolente,
fazendo algo que não é próprio seu.
        Agora analisemos o mistério objetivo da Encarnação:
        O mistério da Encarnação é a maneira diferenciada da qual distingue e
particulariza a inversão religiosa que o cristianismo realizou. Ao afirmar que Deus
assumiu um corpo, “No princípio já existia a Palavra e a Palavra se dirigia a Deus e a
Palavra era Deus” (JO 1; 1) nós afirmamos que não é mais o esforço humano que
caminha até o Transcendente, mas é o contrário; Deus é quem vêm ao encontro do
humano. Partimos então da vontade de Deus que se faz homem, a decisão é Dele, o
mistério pertence a Ele desde todos os tempos.1 Nós enquanto humanos seríamos
incapazes de pedir ou até de imaginar tamanha façanha. Tal é a ousadia de Deus que,
por tanto tempo o Israel foi preparado de maneira pedagógica implícita na história do
Antigo Testamento; tantos profetas, tantos reis, tantas pessoas que plantaram aquilo que
foi colhido posteriormente. “Felizes vossos olhos que vêem e vossos ouvidos que
ouvem. Eu vos asseguro que muitos profetas e justos ansiaram ver o que vós vedes, e
não viram, e ouvir o que vós ouvis, e não ouviram” (MT 13; 16-17). Assim Jesus


1
  O eterno Pai, por decisão inteiramente livre e insondável da sua bondade e sabedoria, criou o
universo, decretou elevar os homens à participação da sua vida divina e não nos abandonou (...). Aos
que acreditam em Cristo quis convocá-los na santa Igreja, a qual, já prefigurada desde a origem do
mundo e preparada admiravelmente na história do povo de Israel e na antiga aliança, e instituída “nos
últimos tempos”, foi manifestada pela efusão do Espírito, e será consumada em glória no fim dos
séculos. Então, como se lê nos santos Padres, todos os justos, a começar por Adão, “desde o justo Abel
até ao último eleito”, serão congregados na Igreja universal junto do Pai. (Lumen Gentium; par. 02; p.
102).
percebeu e colocou no coração dos seus apóstolos que eles são apenas parte da história
da salvação, a salvação não os pertence, mas eles estão inseridos nela.
       O que marca o mistério da Encarnação é a singularidade única do acontecimento
atemporal investido no tempo histórico humano. “Quando, porém, chegou à plenitude
do tempo, enviou Deus o seu filho, nascido de uma mulher, nascido sob a Lei, para
remir os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial” (Gl 4; 4-6).

        Na descida dos céus o Verbo de maneira mistérica “abandonou” os céus, deixou
o Pai só, e assumiu a condição humana. A partir de então seu relacionamento com o Pai
é semelhante a dos homens para com Deus, tendo em vista a distinção e perfeição única
de Jesus, que em sua normalidade não teve pecado, e por isso sua intensidade como Pai
era intrínseca.

        Dizer que Deus se profanou ao se permitir encarnar é uma heresia no sentido
objetivo de sacralização. Diante do sagrado e do profano que aqui está subjacente num
dualismo de ordem estrutural comparado de maneira analógica entre a criatura e o
Criador; e expresso na “ekénosen” termo grego que significa “se esvaziou” ditada na
carta aos Filipenses, capítulo 2, vers. 7.2 O apóstolo faz uma colocação que evidência a
dupla natureza do Verbo; ele divino e humano completamente, sem ser confusamente,
mas perfeitamente e totalmente em si. Se for possível a razão penetrar tamanho
mistério, sinta-se a vontade. A questão central encontra-se como evidenciamos acima,
na objetividade da sacralização; do ato de tornar sagrado.
       Não é possível ao homem tornar Deus profano, pois se assim o fosse este seria
qualquer coisa, menos Deus. É Deus quem tem a força para sacralizar o nosso profano e
nos elevar a dignidade de filhos de Deus.
        Assim concluímos que a atuação da Encarnação não é a atitude de fazer uma
humilhação de Deus no âmbito imanente do humano, mas essencialmente e como
finalidade, é o resgate da dignidade humana ferida pelo pecado, e resgatada pelo amor
manifestado na pessoa de Jesus Cristo, assim sendo, não é simplesmente o Verbo que
desce ao homem, pois Deus na Trindade está em todo lugar, mas sim, a metamorfose do
humano em deus e sua elevação. Eis o mistério da Ascensão! Onde os céus se abrem
para a entrada da carne humana, mas já glorificada pelo Pai, através do Espírito Santo,
na pessoa do Cristo.




                                                                                      Referências:

                Lumen Gentium; par. 02; Documentos do concílio do Vaticano II. Paulus, SP 4° Ed. 2007.
                   MONDIN, Batista. Quem é Deus? Elementos de teologia filosófica. Paulus, SP. 1997.
                                       Sagrada Escritura; Traduções: CNBB, PEREGRINO, JERUSALÉM.




2
 Ele, existindo de forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma
de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano. (Fl 2; 6-7). A definição do termo se encontra no
rodapé explicativo da Bíblia do Peregrino.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Sesquicentenário de o evangelho segundo o espiritismo
Sesquicentenário de o evangelho segundo o espiritismoSesquicentenário de o evangelho segundo o espiritismo
Sesquicentenário de o evangelho segundo o espiritismoHelio Cruz
 
Resenha2
Resenha2Resenha2
Resenha2
Diego Gama
 
Revista conhecendo Deus
Revista   conhecendo DeusRevista   conhecendo Deus
Revista conhecendo Deus
Igreja CEIFA Nova Iguaçu
 
Introdução à Teologia Sistemática 1
Introdução à Teologia Sistemática 1Introdução à Teologia Sistemática 1
Introdução à Teologia Sistemática 1
Luciana Lisboa
 
Teologia sistemática, introdução
Teologia sistemática, introduçãoTeologia sistemática, introdução
Teologia sistemática, introdução
Gcom digital factory
 
A doutrina biblica da trindade benjamin breckinridge warfield
A doutrina biblica da trindade   benjamin breckinridge warfieldA doutrina biblica da trindade   benjamin breckinridge warfield
A doutrina biblica da trindade benjamin breckinridge warfieldRita de Cássia Souza Santos
 
Slide Teologia
Slide TeologiaSlide Teologia
Slide Teologiavalmarques
 
Introdução à Teologia Sistemática
Introdução à Teologia SistemáticaIntrodução à Teologia Sistemática
Introdução à Teologia Sistemática
Edson Melo
 
Teologia sistemática
Teologia sistemáticaTeologia sistemática
Teologia sistemática
Denis Pereira Raymundo
 
Aula de teologia 2
Aula de teologia 2Aula de teologia 2
Aula de teologia 2
Pastor Raimundo Silva
 
culto_cristão
culto_cristãoculto_cristão
culto_cristão
Mw M
 
6º Aula de Teologia - Doutrina de Deus - 1° bimestre
6º Aula de Teologia - Doutrina de Deus - 1° bimestre6º Aula de Teologia - Doutrina de Deus - 1° bimestre
6º Aula de Teologia - Doutrina de Deus - 1° bimestreJefferson Evangelista
 
Teologia sistemática 1 teontologia e pneumatologia
Teologia sistemática 1   teontologia e pneumatologiaTeologia sistemática 1   teontologia e pneumatologia
Teologia sistemática 1 teontologia e pneumatologiaJoao Ricardo
 
A bíblia contém paradoxo
A bíblia contém paradoxoA bíblia contém paradoxo
A bíblia contém paradoxo
ssuser615052
 
A presença amorosa de jesus em nossas vidas 11
A presença amorosa de jesus em nossas vidas 11A presença amorosa de jesus em nossas vidas 11
A presença amorosa de jesus em nossas vidas 11
Fatoze
 
O que é a religião?
O que é a religião?O que é a religião?
O que é a religião?
Universidade Católica Portuguesa
 
A importância da teologia hoje
A importância da teologia hojeA importância da teologia hoje
A importância da teologia hoje
PatriciaBasilio3
 
Teologia sistematica
Teologia sistematicaTeologia sistematica
Teologia sistematica
Paulo Roberto Silva
 

Mais procurados (20)

Teologia
Teologia Teologia
Teologia
 
Sesquicentenário de o evangelho segundo o espiritismo
Sesquicentenário de o evangelho segundo o espiritismoSesquicentenário de o evangelho segundo o espiritismo
Sesquicentenário de o evangelho segundo o espiritismo
 
Resenha2
Resenha2Resenha2
Resenha2
 
Revista conhecendo Deus
Revista   conhecendo DeusRevista   conhecendo Deus
Revista conhecendo Deus
 
Apostila de teologia sistemática
Apostila de teologia sistemáticaApostila de teologia sistemática
Apostila de teologia sistemática
 
Introdução à Teologia Sistemática 1
Introdução à Teologia Sistemática 1Introdução à Teologia Sistemática 1
Introdução à Teologia Sistemática 1
 
Teologia sistemática, introdução
Teologia sistemática, introduçãoTeologia sistemática, introdução
Teologia sistemática, introdução
 
A doutrina biblica da trindade benjamin breckinridge warfield
A doutrina biblica da trindade   benjamin breckinridge warfieldA doutrina biblica da trindade   benjamin breckinridge warfield
A doutrina biblica da trindade benjamin breckinridge warfield
 
Slide Teologia
Slide TeologiaSlide Teologia
Slide Teologia
 
Introdução à Teologia Sistemática
Introdução à Teologia SistemáticaIntrodução à Teologia Sistemática
Introdução à Teologia Sistemática
 
Teologia sistemática
Teologia sistemáticaTeologia sistemática
Teologia sistemática
 
Aula de teologia 2
Aula de teologia 2Aula de teologia 2
Aula de teologia 2
 
culto_cristão
culto_cristãoculto_cristão
culto_cristão
 
6º Aula de Teologia - Doutrina de Deus - 1° bimestre
6º Aula de Teologia - Doutrina de Deus - 1° bimestre6º Aula de Teologia - Doutrina de Deus - 1° bimestre
6º Aula de Teologia - Doutrina de Deus - 1° bimestre
 
Teologia sistemática 1 teontologia e pneumatologia
Teologia sistemática 1   teontologia e pneumatologiaTeologia sistemática 1   teontologia e pneumatologia
Teologia sistemática 1 teontologia e pneumatologia
 
A bíblia contém paradoxo
A bíblia contém paradoxoA bíblia contém paradoxo
A bíblia contém paradoxo
 
A presença amorosa de jesus em nossas vidas 11
A presença amorosa de jesus em nossas vidas 11A presença amorosa de jesus em nossas vidas 11
A presença amorosa de jesus em nossas vidas 11
 
O que é a religião?
O que é a religião?O que é a religião?
O que é a religião?
 
A importância da teologia hoje
A importância da teologia hojeA importância da teologia hoje
A importância da teologia hoje
 
Teologia sistematica
Teologia sistematicaTeologia sistematica
Teologia sistematica
 

Destaque

O papel da Igreja Católica na convergência digital
O papel da Igreja Católica na convergência digitalO papel da Igreja Católica na convergência digital
O papel da Igreja Católica na convergência digitalumvelhodaesquina
 
Relação entre bem e mal no pensamento de tomás de aquino pdf
Relação entre bem e mal no pensamento de tomás de aquino pdfRelação entre bem e mal no pensamento de tomás de aquino pdf
Relação entre bem e mal no pensamento de tomás de aquino pdfumvelhodaesquina
 
Slide7 atividades circenses
Slide7 atividades circensesSlide7 atividades circenses
Slide7 atividades circensesjotapeoliveira
 
Relação entre fé e razão
Relação entre fé e razãoRelação entre fé e razão
Relação entre fé e razãoumvelhodaesquina
 
O conhecimento de Deus segundo Tomás de Aquino
O conhecimento de Deus segundo Tomás de AquinoO conhecimento de Deus segundo Tomás de Aquino
O conhecimento de Deus segundo Tomás de Aquinoumvelhodaesquina
 

Destaque (7)

Vocação
VocaçãoVocação
Vocação
 
O papel da Igreja Católica na convergência digital
O papel da Igreja Católica na convergência digitalO papel da Igreja Católica na convergência digital
O papel da Igreja Católica na convergência digital
 
Confissão de um traidor
Confissão de um traidorConfissão de um traidor
Confissão de um traidor
 
Relação entre bem e mal no pensamento de tomás de aquino pdf
Relação entre bem e mal no pensamento de tomás de aquino pdfRelação entre bem e mal no pensamento de tomás de aquino pdf
Relação entre bem e mal no pensamento de tomás de aquino pdf
 
Slide7 atividades circenses
Slide7 atividades circensesSlide7 atividades circenses
Slide7 atividades circenses
 
Relação entre fé e razão
Relação entre fé e razãoRelação entre fé e razão
Relação entre fé e razão
 
O conhecimento de Deus segundo Tomás de Aquino
O conhecimento de Deus segundo Tomás de AquinoO conhecimento de Deus segundo Tomás de Aquino
O conhecimento de Deus segundo Tomás de Aquino
 

Semelhante a Encarnação do verbo foi a maior profanação que aconteceu na história

Teologia do Antigo Testamento aula 2 Pr Jonas
Teologia do Antigo Testamento aula 2 Pr JonasTeologia do Antigo Testamento aula 2 Pr Jonas
Teologia do Antigo Testamento aula 2 Pr JonasJose Ventura
 
Teo do n t slide do dia 27 de janeiro
Teo do n t slide do dia 27 de janeiroTeo do n t slide do dia 27 de janeiro
Teo do n t slide do dia 27 de janeiroJose Ventura
 
INSPIRAÇÃO DIVINA E AUTORIDADE DA BÍBLIA
INSPIRAÇÃO DIVINA E AUTORIDADE DA BÍBLIAINSPIRAÇÃO DIVINA E AUTORIDADE DA BÍBLIA
INSPIRAÇÃO DIVINA E AUTORIDADE DA BÍBLIA
Pr Neto
 
A Natureza da Pessoa de Cristo John Owen
A Natureza da Pessoa de Cristo   John OwenA Natureza da Pessoa de Cristo   John Owen
A Natureza da Pessoa de Cristo John Owen
Silvio Dutra
 
Jeová, Jesus, E. Santo
Jeová, Jesus, E. SantoJeová, Jesus, E. Santo
Jeová, Jesus, E. Santojb1955
 
Aula de Cristologia - A Pessoa de Cristo
Aula de Cristologia - A Pessoa de CristoAula de Cristologia - A Pessoa de Cristo
Aula de Cristologia - A Pessoa de Cristo
Samuel A. Nunes
 
Fé versus dúvida
Fé versus dúvidaFé versus dúvida
Fé versus dúvida
Instituto Teológico Gamaliel
 
4- A igreja primitiva.pptx
4- A igreja primitiva.pptx4- A igreja primitiva.pptx
4- A igreja primitiva.pptx
PIB Penha - SP
 
Panorama do AT - Revelação Progressiva
Panorama do AT - Revelação ProgressivaPanorama do AT - Revelação Progressiva
Panorama do AT - Revelação Progressiva
Ricardo Gondim
 
Elementos fundamentais de cristologia frei oton
Elementos fundamentais de cristologia   frei otonElementos fundamentais de cristologia   frei oton
Elementos fundamentais de cristologia frei otonZé Vitor Rabelo
 
Elementos fundamentais de cristologia frei oton
Elementos fundamentais de cristologia   frei otonElementos fundamentais de cristologia   frei oton
Elementos fundamentais de cristologia frei otonZé Vitor Rabelo
 
Elementos fundamentais de cristologia frei oton
Elementos fundamentais de cristologia   frei otonElementos fundamentais de cristologia   frei oton
Elementos fundamentais de cristologia frei otonZé Vitor Rabelo
 
Apostasia, Fidelidade e Diligência no Ministério - Lição 05 - 3ºTrimestre de ...
Apostasia, Fidelidade e Diligência no Ministério - Lição 05 - 3ºTrimestre de ...Apostasia, Fidelidade e Diligência no Ministério - Lição 05 - 3ºTrimestre de ...
Apostasia, Fidelidade e Diligência no Ministério - Lição 05 - 3ºTrimestre de ...
Pr. Andre Luiz
 
1 pedro 1.17 2.3 - uma vida para além da religião - 06-11-2016
1 pedro 1.17 2.3 - uma vida para além da religião - 06-11-20161 pedro 1.17 2.3 - uma vida para além da religião - 06-11-2016
1 pedro 1.17 2.3 - uma vida para além da religião - 06-11-2016
Cleiton Tenório
 
As glórias do evangelho
As glórias do evangelhoAs glórias do evangelho
As glórias do evangelho
Jose Emerson Barbosa da Silva
 
Contra o arianismo moderno
Contra o arianismo modernoContra o arianismo moderno
Contra o arianismo modernoWillian Orlandi
 
Trindade Deus Jesus E. santo
Trindade Deus Jesus E. santoTrindade Deus Jesus E. santo
Trindade Deus Jesus E. santojb1955
 
E.b.d adultos 3ºtrimestre 2017 lição 04
E.b.d   adultos 3ºtrimestre 2017 lição 04E.b.d   adultos 3ºtrimestre 2017 lição 04
E.b.d adultos 3ºtrimestre 2017 lição 04
Joel Silva
 
O Senhor e Salvador Jesus Cristo.
O Senhor e Salvador Jesus Cristo.O Senhor e Salvador Jesus Cristo.
O Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Márcio Martins
 

Semelhante a Encarnação do verbo foi a maior profanação que aconteceu na história (20)

Teologia do Antigo Testamento aula 2 Pr Jonas
Teologia do Antigo Testamento aula 2 Pr JonasTeologia do Antigo Testamento aula 2 Pr Jonas
Teologia do Antigo Testamento aula 2 Pr Jonas
 
Teo do n t slide do dia 27 de janeiro
Teo do n t slide do dia 27 de janeiroTeo do n t slide do dia 27 de janeiro
Teo do n t slide do dia 27 de janeiro
 
INSPIRAÇÃO DIVINA E AUTORIDADE DA BÍBLIA
INSPIRAÇÃO DIVINA E AUTORIDADE DA BÍBLIAINSPIRAÇÃO DIVINA E AUTORIDADE DA BÍBLIA
INSPIRAÇÃO DIVINA E AUTORIDADE DA BÍBLIA
 
A Natureza da Pessoa de Cristo John Owen
A Natureza da Pessoa de Cristo   John OwenA Natureza da Pessoa de Cristo   John Owen
A Natureza da Pessoa de Cristo John Owen
 
Jeová, Jesus, E. Santo
Jeová, Jesus, E. SantoJeová, Jesus, E. Santo
Jeová, Jesus, E. Santo
 
Aula de Cristologia - A Pessoa de Cristo
Aula de Cristologia - A Pessoa de CristoAula de Cristologia - A Pessoa de Cristo
Aula de Cristologia - A Pessoa de Cristo
 
Fé versus dúvida
Fé versus dúvidaFé versus dúvida
Fé versus dúvida
 
4- A igreja primitiva.pptx
4- A igreja primitiva.pptx4- A igreja primitiva.pptx
4- A igreja primitiva.pptx
 
Panorama do AT - Revelação Progressiva
Panorama do AT - Revelação ProgressivaPanorama do AT - Revelação Progressiva
Panorama do AT - Revelação Progressiva
 
01b paroquia imaculada
01b paroquia imaculada01b paroquia imaculada
01b paroquia imaculada
 
Elementos fundamentais de cristologia frei oton
Elementos fundamentais de cristologia   frei otonElementos fundamentais de cristologia   frei oton
Elementos fundamentais de cristologia frei oton
 
Elementos fundamentais de cristologia frei oton
Elementos fundamentais de cristologia   frei otonElementos fundamentais de cristologia   frei oton
Elementos fundamentais de cristologia frei oton
 
Elementos fundamentais de cristologia frei oton
Elementos fundamentais de cristologia   frei otonElementos fundamentais de cristologia   frei oton
Elementos fundamentais de cristologia frei oton
 
Apostasia, Fidelidade e Diligência no Ministério - Lição 05 - 3ºTrimestre de ...
Apostasia, Fidelidade e Diligência no Ministério - Lição 05 - 3ºTrimestre de ...Apostasia, Fidelidade e Diligência no Ministério - Lição 05 - 3ºTrimestre de ...
Apostasia, Fidelidade e Diligência no Ministério - Lição 05 - 3ºTrimestre de ...
 
1 pedro 1.17 2.3 - uma vida para além da religião - 06-11-2016
1 pedro 1.17 2.3 - uma vida para além da religião - 06-11-20161 pedro 1.17 2.3 - uma vida para além da religião - 06-11-2016
1 pedro 1.17 2.3 - uma vida para além da religião - 06-11-2016
 
As glórias do evangelho
As glórias do evangelhoAs glórias do evangelho
As glórias do evangelho
 
Contra o arianismo moderno
Contra o arianismo modernoContra o arianismo moderno
Contra o arianismo moderno
 
Trindade Deus Jesus E. santo
Trindade Deus Jesus E. santoTrindade Deus Jesus E. santo
Trindade Deus Jesus E. santo
 
E.b.d adultos 3ºtrimestre 2017 lição 04
E.b.d   adultos 3ºtrimestre 2017 lição 04E.b.d   adultos 3ºtrimestre 2017 lição 04
E.b.d adultos 3ºtrimestre 2017 lição 04
 
O Senhor e Salvador Jesus Cristo.
O Senhor e Salvador Jesus Cristo.O Senhor e Salvador Jesus Cristo.
O Senhor e Salvador Jesus Cristo.
 

Encarnação do verbo foi a maior profanação que aconteceu na história

  • 1. Este axioma é verdadeiro? “A Encarnação do Verbo foi a maior profanação que aconteceu na história...” José Fernando Vieira - 09/06/10 Antes de abarcar o fato da Encarnação temos que definir o que é o profano. Aqui entendemos de maneira grosseira e um tanto lógica que o profano é aquilo que está fora do sagrado. Segundo Mondin: “o termo sagrado significa aquilo que pertence a uma ordem de coisas separada, reservada, inviolável; que deve ser objeto de respeito religioso da parte de um grupo de crentes, é o oposto do profano”. (Mondin, Quem é Deus? p. 31). Outro aspecto interessante é o conceito filológico do termo que origina a palavra sagrado. “Provém do latim sacer, que por sua vez vem do sancire, que quer dizer conferir validade, realidade, fazer com que alguma coisa se torne real”. (Mondin, Quem é Deus? p. 32). Portanto a primeira objeção ao axioma é que o ato de tornar profano, como já nos é conhecido, é a capacidade de fazer com que algo esteja, ou permaneça fora da esfera do sagrado; assim logicamente seria impossível Deus se manter fora de si mesmo. Se o profano é o oposto do sagrado, dizemos erroneamente com a afirmação do axioma em questão que: a Encarnação foi à maior perda do sagrado, a maior negação do mesmo, a mais concludente negativa da essência divina. Assim se é fácil perceber que Deus essencialmente não profere atos profanos, pois negaria sua essência benevolente, fazendo algo que não é próprio seu. Agora analisemos o mistério objetivo da Encarnação: O mistério da Encarnação é a maneira diferenciada da qual distingue e particulariza a inversão religiosa que o cristianismo realizou. Ao afirmar que Deus assumiu um corpo, “No princípio já existia a Palavra e a Palavra se dirigia a Deus e a Palavra era Deus” (JO 1; 1) nós afirmamos que não é mais o esforço humano que caminha até o Transcendente, mas é o contrário; Deus é quem vêm ao encontro do humano. Partimos então da vontade de Deus que se faz homem, a decisão é Dele, o mistério pertence a Ele desde todos os tempos.1 Nós enquanto humanos seríamos incapazes de pedir ou até de imaginar tamanha façanha. Tal é a ousadia de Deus que, por tanto tempo o Israel foi preparado de maneira pedagógica implícita na história do Antigo Testamento; tantos profetas, tantos reis, tantas pessoas que plantaram aquilo que foi colhido posteriormente. “Felizes vossos olhos que vêem e vossos ouvidos que ouvem. Eu vos asseguro que muitos profetas e justos ansiaram ver o que vós vedes, e não viram, e ouvir o que vós ouvis, e não ouviram” (MT 13; 16-17). Assim Jesus 1 O eterno Pai, por decisão inteiramente livre e insondável da sua bondade e sabedoria, criou o universo, decretou elevar os homens à participação da sua vida divina e não nos abandonou (...). Aos que acreditam em Cristo quis convocá-los na santa Igreja, a qual, já prefigurada desde a origem do mundo e preparada admiravelmente na história do povo de Israel e na antiga aliança, e instituída “nos últimos tempos”, foi manifestada pela efusão do Espírito, e será consumada em glória no fim dos séculos. Então, como se lê nos santos Padres, todos os justos, a começar por Adão, “desde o justo Abel até ao último eleito”, serão congregados na Igreja universal junto do Pai. (Lumen Gentium; par. 02; p. 102).
  • 2. percebeu e colocou no coração dos seus apóstolos que eles são apenas parte da história da salvação, a salvação não os pertence, mas eles estão inseridos nela. O que marca o mistério da Encarnação é a singularidade única do acontecimento atemporal investido no tempo histórico humano. “Quando, porém, chegou à plenitude do tempo, enviou Deus o seu filho, nascido de uma mulher, nascido sob a Lei, para remir os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial” (Gl 4; 4-6). Na descida dos céus o Verbo de maneira mistérica “abandonou” os céus, deixou o Pai só, e assumiu a condição humana. A partir de então seu relacionamento com o Pai é semelhante a dos homens para com Deus, tendo em vista a distinção e perfeição única de Jesus, que em sua normalidade não teve pecado, e por isso sua intensidade como Pai era intrínseca. Dizer que Deus se profanou ao se permitir encarnar é uma heresia no sentido objetivo de sacralização. Diante do sagrado e do profano que aqui está subjacente num dualismo de ordem estrutural comparado de maneira analógica entre a criatura e o Criador; e expresso na “ekénosen” termo grego que significa “se esvaziou” ditada na carta aos Filipenses, capítulo 2, vers. 7.2 O apóstolo faz uma colocação que evidência a dupla natureza do Verbo; ele divino e humano completamente, sem ser confusamente, mas perfeitamente e totalmente em si. Se for possível a razão penetrar tamanho mistério, sinta-se a vontade. A questão central encontra-se como evidenciamos acima, na objetividade da sacralização; do ato de tornar sagrado. Não é possível ao homem tornar Deus profano, pois se assim o fosse este seria qualquer coisa, menos Deus. É Deus quem tem a força para sacralizar o nosso profano e nos elevar a dignidade de filhos de Deus. Assim concluímos que a atuação da Encarnação não é a atitude de fazer uma humilhação de Deus no âmbito imanente do humano, mas essencialmente e como finalidade, é o resgate da dignidade humana ferida pelo pecado, e resgatada pelo amor manifestado na pessoa de Jesus Cristo, assim sendo, não é simplesmente o Verbo que desce ao homem, pois Deus na Trindade está em todo lugar, mas sim, a metamorfose do humano em deus e sua elevação. Eis o mistério da Ascensão! Onde os céus se abrem para a entrada da carne humana, mas já glorificada pelo Pai, através do Espírito Santo, na pessoa do Cristo. Referências: Lumen Gentium; par. 02; Documentos do concílio do Vaticano II. Paulus, SP 4° Ed. 2007. MONDIN, Batista. Quem é Deus? Elementos de teologia filosófica. Paulus, SP. 1997. Sagrada Escritura; Traduções: CNBB, PEREGRINO, JERUSALÉM. 2 Ele, existindo de forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano. (Fl 2; 6-7). A definição do termo se encontra no rodapé explicativo da Bíblia do Peregrino.