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O Tesouro 
de Eça de Queirós 
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CEP: 66060-902 
Belém – Pará 
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O Tesouro 
de Eça de Queirós 
CAPÍTULO I 
Os três irmãos de Medranhos, Rui, Guannes e Rostabal, eram então, em todo 
o Reino das Astúrias, os fidalgos mais famintos e os mais remendados. 
Nos paços de Medranhos, a que o vento da serra levara vidraça e telha, 
passavam eles as tardes desse inverno, engelhados nos seus pelotes de camelão, 
batendo as solas rotas sobre as lajes da cozinha, diante da vasta lareira negra, onde 
desde muito não estalava lume, nem fervia a panela de ferro. Ao escurecer 
devoravam uma côdea de pão negro, esfregada com alho. Depois, sem candeia, 
através do pátio, fendendo a neve, iam dormir à estrebaria, para aproveitar o calor 
das três éguas lazarentas que, esfaimadas como eles, roíam as traves da 
manjedoura. E a miséria tornara esses senhores mais bravios que lobos. 
Ora, na Primavera, por uma silenciosa manhã de domingo, andando todos os 
três na mata de Roquelanes a espiar pegadas de caça e a apanhar tortulhos entre 
os robles, enquanto as três éguas pastavam a relva nova de abril, os irmãos de 
Medranhos encontraram, por trás de uma mouta de espinheiros, numa cova de 
rocha, um velho cofre de ferro. Como se o resguardasse uma torre segura, 
conservava as suas três chaves nas suas três fechaduras. Sobre a tampa, mal 
decifrável através da ferrugem, corria um dístico em letras árabes. E dentro, até às 
bordas, estava cheio de dobrões de ouro! 
No terror e esplendor da emoção, os três senhores ficaram mais lívidos do 
que círios. Depois, mergulhando furiosametne as mãos no ouro, estalaram a rir, num 
riso de tão larga rajada, que as folhas tenras dos olmos, em roda, tremiam... E de 
novo recuaram, bruscamente se encararam, com os olhos a flamejar, numa 
desconfiança tão desabrida que Guannes e Rostabal apalpavam nos cintos os 
cabos das grandes facas. Então Rui, que era gordo e ruivo, e o mais avisado, 
ergueu os braços, como um árbitro, e começou por decidir que o tesouro, ou viesse 
de Deus ou do demônio, pertencia aos três, e entre eles se repartiria, rigidamente, 
pesando-se o ouro em balanças. Mas como poderiam carregar para Medranhos, 
para os cimos da serra, aquele cofre tão cheio? Nem convinha que saíssem da mata 
com o seu bem, antes de cerrar a escuridão. Por isso ele entendia que o mano 
Guannes, como mais leve, devia trotar para a vila vizinha de Retortilho, levando já 
ouro na bolsinha, a comprar três alforges de couro, três maquias de cevada, três 
empadões de carne e três botelhas de vinho. Vinho e carne eram para eles, que não 
comiam desde a véspera: a cevada era para as éguas. E assim refeitos, senhores e 
cavalgaduras, ensacariam o ouro nos alforges e subiriam para Medranhos, sob a 
segurança da noite sem Lua. 
Bem tramado! — gritou Rostabal, homem mais alto que um pinheiro, de longa 
guedelha e com uma barba que lhe caía desde os olhos raiados de sangue até à 
fivela do cinturão. 
Mas Guannes não se arredava do cofre, enrugado, desconfiado, puxando 
entre os dedos a pele negra do seu pescoço de grou. Por fim, brutalmente: 
Manos! O cofre tem três chaves... Eu quero fechar a minha fechadura e levar 
a minha chave! 
Também eu quero a minha, mil raios! — rugiu logo Rostabal.
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Rui sorriu. Decerto, decerto! A cada dono do ouro cabia uma das chaves que 
o guardavam. E cada um em silêncio, agachado ante o cofre, cerrou a sua 
fechadura com força. Imediatamente Guannes, desanuviado, saltou na égua, meteu 
pela vereda de olmos, a caminho de Retortilho, atirando aos ramos a sua cantiga 
costumada e dolente: 
3 
Olé! Olé! 
Sale la cruz de la iglesia, 
Vestida de negro luto... 
CAPÍTULO II 
Na clareira, em frente à mouta que encobria o tesouro (e que os três tinham 
desbastado a cutiladas), um fio de água, brotando entre rochas, caía sobre uma 
vasta laje encravada, onde fazia como um tanque, claro e quieto, antes de se escoar 
para as relvas altas. E ao lado, na sombra de uma faia, jazia um velho pilar de 
granito, tombado e musgoso. Ali vieram sentar-se Rui e Rostabal, com os seus 
tremendos espadões entre os joelhos. As duas éguas tosavam a boa erva 
pintalgada de papoilas e botões de ouro. Pela ramaria andava um melro a assobiar. 
Um cheiro errante de violetas adoçava o ar luminoso. E Rostabal, olhando o sol, 
bocejava com fome. 
Então Rui, que tirara o sombrero e lhe cofiava as velhas plumas roxas, 
começou a considerar, na sua fala avisada e mansa, que Guannes, nessa manhã, 
não quisera descer com eles à mata de Roquelanes. E assim era a sorte ruim! Pois 
que se Guannes tivesse quedado em Medranhos, só eles dois teriam descoberto o 
cofre, e só entre eles dois se dividiria o ouro! Grande pena! Tanto mais que a parte 
de Guannes seria em breve dissipada, com rufiões, aos dados, pelas tavernas. 
Ah! Rostabal, Rostabal! Se Guannes, passando aqui sozinho, tivesse achado 
este ouro, não dividia conosco, Rostabal! 
O outro rosnou surdamente e com furor, dando um puxão às barbas negras: 
Não, mil raios! Guannes é sôfrego... Quando o ano passado, se te lembras, 
ganhou os cem ducados ao espadeiro de Fresno, nem me quis emprestar três para 
eu comprar um gibão novo! 
Vês tu! — gritou Rui, resplandecendo. 
Ambos se tinham erguido do pilar de granito, como levados pela mesma idéia, 
que os deslumbrava. E, através das suas largas passadas, as ervas altas silvavam. 
E para quê — prosseguia Rui. Para que serve todo o ouro que nos leva! Tu 
não o ouves, de noite, como tosse! Ao redor da palha em que dorme, todo o chão 
está negro do sangue que escarra! Não dura até às outras neves, Rostabal! Mas até 
lá terá dissipado os bons dobrões que deviam ser nossos, para levantarmos a nossa 
casa, e para tu teres ginetes, e armas, e trajes nobres, e o teu terço de solarengos, 
como compete a quem é, como tu, o mais velho dos de Medranhos... 
Pois que morra, e morra hoje! — bradou Rostabal. 
Queres! 
Vivamente, Rui agarrara o braço do irmão e apontava para a vereda de 
olmos, por onde Guannes partira cantando: 
Logo adiante, ao fim do trilho, há um sítio bom, nos silvados. E hás-de ser tu, 
Rostabal, que és o mais forte e o mais destro. Um golpe de ponta pelas costas. E é 
justiça de Deus que seja tu, que muitas vezes, nas tavernas, sem pudor, Guannes te 
tratava de cerdo e de torpe, por não saberes a letra nem os números.
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Malvado! 
Vem! 
Foram. Ambos se emboscaram por trás dum silvado, que dominava o atalho, 
estreito e pedregoso, como um leito de torrente. Rostabal, assolapado na vala, tinha 
já a espada nua. Um vento leve arrepiou na encosta as folhas dos álamos - e 
sentiram o repique leve dos sinos de Retortilho. Rui, coçando a barba, calculava as 
horas pelo sol, que já se inclinava para as serras. Um bando de corvos passou sobre 
eles, grasnando. E Rostabal, que lhes seguira o vôo, recomeçou a bocejar, com 
fome, pensando nos empadões e no vinho que o outro trazia nos alforges. 
Enfim! Alerta! Era, na vereda, a cantiga dolente e rouca, atirada aos ramos: 
Olé! Olé! 
Sale la cruz de la iglesia 
Toda vestida de negro... 
Rui murmurou: “Na ilharga! Mal que passe!” O chouto da égua bateu o 
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cascalho, uma pluma num sombrero vermelhejou por sobre a ponta das silvas. 
Rostabal rompeu de entre a sarça por uma brecha, atirou o braço, a longa 
espada; e toda a lâmina se embebeu molemente na ilharga de Guannes, quando ao 
rumor, bruscamente, ele se virara na sela. Com um surdo arranco, tombou de lado, 
sobre as pedras. Já Rui se arremessava aos freios da égua: Rostabal, caindo sobre 
Guannes, que arquejava, de novo lhe mergulhou a espada, agarrada pela folha 
como um punhal, no peito e na garganta. 
A chave! — gritou Rui. 
E arrancada a chave do cofre ao seio do morto, ambos largaram pela vereda 
— Rostabal adiante, fugindo, com a pluma do sombrero quebrada e torta, a espada 
ainda nua entalada sob o braço, todo encolhido, arrepiado com o sabor de sangue 
que lhe espirrara para a boca; Rui, atrás, puxando desesperadamente os freios da 
égua, que, de patas fincadas no chão pedregoso, arreganhando a longa dentuça 
amarela, não queria deixar o seu amo assim estirado, abandonado, ao comprido das 
sebes. 
Teve de lhe espicaçar as ancas lazarentas com a ponta da espada: e foi 
correndo sobre ela, de lâmina alta, como se perseguisse um mouro, que 
desembocou na clareira onde o sol já não dourava as folhas. Rostabal arremessara 
para a relva o sombrero e a espada; e debruçado sobre a laje escavada em tanque, 
de mangas arregaçadas, lavava, ruidosamente, a face e as barbas. 
A égua, quieta, recomeçou a pastar, carregada com os alforjes novos que 
Guannes comprara em Retortilho. Do mais largo, abarrotado, surdiam dois gargalos 
de garrafas. Então Rui tirou, lentamente, do cinto, a sua larga navalha. Sem um 
rumor na selva espessa, deslizou até Rostabal, que resfolgava, com as longas 
barbas pingando. E serenamente, como se pregasse uma estaca num canteiro, 
enterrou a folha toda no largo dorso dobrado, certeira sobre o coração. 
Rostabal caiu sobre o tanque, sem um gemido, com a face na água, os 
longos cabelos flutuando na água. A sua velha escarcela de couro ficara entalada 
sob a coxa. Para tirar de dentro a terceira chave do cofre, Rui solevou o corpo — e 
um sangue mais grosso jorrou, escorreu pela borda do tanque, fumegando. 
CAPÍTULO III 
Agora eram dele, só dele, as três chaves do cofre!... e Rui, alargando os 
braços, respirou deliciosamente. Mal a noite descesse, com o ouro metido nos
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alforges, guiando a fila das éguas pelos trilhos da serra, subiria a Medranhos e 
enterraria na adega o seu tesouro! E quando ali na fonte, e além rente aos silvados, 
só restassem, sob as neves de dezembro, alguns ossos sem nome, ele seria o 
magnífico senhor de Medranhos, e na capela nova do solar renascido mandaria 
dizer missas ricas pelos seus dois irmãos mortos... Mortos, como? Como devem 
morrer os Medranhos — a pelejar contra o Turco! 
Abriu as três fechaduras, apanhou um punhado de dobrões, que fez retinir 
sobre as pedras. Que puro ouro, de fino quilate! E era o seu ouro! Depois de 
examinar a capacidade dos alforges — e encontrando as duas garrafas de vinho, e 
um gordo capão assado, sentiu uma imensa fome. Desde a véspera só comera uma 
lasca de peixe seco. E há quanto tempo não provava capão! 
Com que delícia se sentou na relva, com as penas abertas, e entre elas a ave 
loura, que rescendia, e o vinho cor de âmbar! Ah! Guannes fora bom mordomo - 
nem esquecera azeitonas. Mas por que trouxera ele, para três convivas, só duas 
garrafas? Rasgou uma asa do capão: devorava a grandes dentadas. A tarde descia, 
pensativa e doce, com nuvenzinhas cor-de-rosa. Para além, na vereda, um bando 
de corvos grasnava. As éguas fartas dormitavam, com o focinho pendido. E a fonte 
cantava, lavando o morto. 
Rui ergueu à luz a garrafa de vinho. Com aquela cor velha e quente, não teria 
custado menos de três maravedis. E pondo o gargalo à boca, bebeu em sorvos 
lentos, que lhe faziam ondular o pescoço peludo. Oh vinho bendito, que tão 
prontamente aquecia o sangue! Atirou a garrafa vazia — destapou outra. Mas, como 
era avisado, não bebeu porque a jornada para a serra, com o tesouro, requeria 
firmeza e acerto. Estendido sobre o cotovelo, descansando, pensava em Medranhos 
coberto de telha nova, nas altas chamas da lareira por noites de neve, e o seu leito 
com brocados, onde teria sempre mulheres. 
De repente, tomado de uma ansiedade, teve pressa de carregar os alforges. 
Já entre os troncos a sombra se adensava. Puxou uma das éguas para junto do 
cofre, ergueu a tampa, tomou um punhado de ouro... mas oscilou, largando os 
dobrões que retilintaram no chão, e levou as duas mãos aflitas ao peito. Que é, D. 
Rui! Raios de Deus! era um lume, um lume vivo, que se lhe acendera dentro, lhe 
subia até às goelas. Já rasgara o gibão, atirava os passos incertos e, a arquejar, 
com a língua pendente, limpava as grossas bagas dum suor horrendo que o 
regelava como neve. Oh Virgem Mãe! Outra vez o lume, mais forte, que alastrava, o 
roía! Gritou: 
Socorro! Além! Guannes! Rostabal! 
Os seus braços torcidos batiam o ar desesperadamente. E a chama dentro 
5 
galgava — sentia os ossos a estalarem como as traves duma casa em fogo. 
Cambaleou até à fonte para apagar aquela labareda, tropeçou sobre 
Rostabal; e foi com o joelho fincado no morto, arranhando a rocha, que ele, entre 
uivos, procurava o fio de água, que recebia sobre os olhos, pelos cabelos. Mas a 
água mais o queimava, como se fosse um metal derretido. Recuou, caiu para cima 
da relva que arrancava aos punhados, e que mordia, mordendo os dedos, para lhe 
sugar a frescura. Ainda se ergueu, com uma baba densa a escorrer-lhe nas barbas: 
e de repente, esbugalhando pavorosamente os olhos, berrou como se 
compreendesse enfim a traição, todo o horror: 
É veneno! 
Oh! D. Rui, o avisado, era veneno! Porque Guannes, apenas chegara a 
Retortilho, mesmo antes de comprar os alforges, correra cantando a uma viela, por
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detrás da catedral, a comprar ao velho droguista judeu o veneno que, misturado ao 
vinho, o tornaria a ele, a ele somente, dono de todo o tesouro. 
Anoiteceu. Dois corvos de entre o bando que grasnava, além nos silvados, já 
tinham pousado sobre o corpo de Guannes. A fonte, cantando, lavava o outro morto. 
Meio enterrada na erva, toda a face de Rui se tornara negra. Uma estrelinha 
tremeluzia no céu. 
6 
O tesouro ainda lá está, na mata de Roquelanes. 
FIM

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Eca de-queiros-o-tesouro

  • 1. www.nead.unama.br 1 Universidade da Amazônia O Tesouro de Eça de Queirós NEAD – NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Av. Alcindo Cacela, 287 – Umarizal CEP: 66060-902 Belém – Pará Fones: (91) 4009-3196 /4009-3197 www.nead.unama.br E-mail: nead@unama.br n e a d N ú c l e o d e Ed u c a ç ã o a D i s t â n c i a
  • 2. www.nead.unama.br 2 O Tesouro de Eça de Queirós CAPÍTULO I Os três irmãos de Medranhos, Rui, Guannes e Rostabal, eram então, em todo o Reino das Astúrias, os fidalgos mais famintos e os mais remendados. Nos paços de Medranhos, a que o vento da serra levara vidraça e telha, passavam eles as tardes desse inverno, engelhados nos seus pelotes de camelão, batendo as solas rotas sobre as lajes da cozinha, diante da vasta lareira negra, onde desde muito não estalava lume, nem fervia a panela de ferro. Ao escurecer devoravam uma côdea de pão negro, esfregada com alho. Depois, sem candeia, através do pátio, fendendo a neve, iam dormir à estrebaria, para aproveitar o calor das três éguas lazarentas que, esfaimadas como eles, roíam as traves da manjedoura. E a miséria tornara esses senhores mais bravios que lobos. Ora, na Primavera, por uma silenciosa manhã de domingo, andando todos os três na mata de Roquelanes a espiar pegadas de caça e a apanhar tortulhos entre os robles, enquanto as três éguas pastavam a relva nova de abril, os irmãos de Medranhos encontraram, por trás de uma mouta de espinheiros, numa cova de rocha, um velho cofre de ferro. Como se o resguardasse uma torre segura, conservava as suas três chaves nas suas três fechaduras. Sobre a tampa, mal decifrável através da ferrugem, corria um dístico em letras árabes. E dentro, até às bordas, estava cheio de dobrões de ouro! No terror e esplendor da emoção, os três senhores ficaram mais lívidos do que círios. Depois, mergulhando furiosametne as mãos no ouro, estalaram a rir, num riso de tão larga rajada, que as folhas tenras dos olmos, em roda, tremiam... E de novo recuaram, bruscamente se encararam, com os olhos a flamejar, numa desconfiança tão desabrida que Guannes e Rostabal apalpavam nos cintos os cabos das grandes facas. Então Rui, que era gordo e ruivo, e o mais avisado, ergueu os braços, como um árbitro, e começou por decidir que o tesouro, ou viesse de Deus ou do demônio, pertencia aos três, e entre eles se repartiria, rigidamente, pesando-se o ouro em balanças. Mas como poderiam carregar para Medranhos, para os cimos da serra, aquele cofre tão cheio? Nem convinha que saíssem da mata com o seu bem, antes de cerrar a escuridão. Por isso ele entendia que o mano Guannes, como mais leve, devia trotar para a vila vizinha de Retortilho, levando já ouro na bolsinha, a comprar três alforges de couro, três maquias de cevada, três empadões de carne e três botelhas de vinho. Vinho e carne eram para eles, que não comiam desde a véspera: a cevada era para as éguas. E assim refeitos, senhores e cavalgaduras, ensacariam o ouro nos alforges e subiriam para Medranhos, sob a segurança da noite sem Lua. Bem tramado! — gritou Rostabal, homem mais alto que um pinheiro, de longa guedelha e com uma barba que lhe caía desde os olhos raiados de sangue até à fivela do cinturão. Mas Guannes não se arredava do cofre, enrugado, desconfiado, puxando entre os dedos a pele negra do seu pescoço de grou. Por fim, brutalmente: Manos! O cofre tem três chaves... Eu quero fechar a minha fechadura e levar a minha chave! Também eu quero a minha, mil raios! — rugiu logo Rostabal.
  • 3. www.nead.unama.br Rui sorriu. Decerto, decerto! A cada dono do ouro cabia uma das chaves que o guardavam. E cada um em silêncio, agachado ante o cofre, cerrou a sua fechadura com força. Imediatamente Guannes, desanuviado, saltou na égua, meteu pela vereda de olmos, a caminho de Retortilho, atirando aos ramos a sua cantiga costumada e dolente: 3 Olé! Olé! Sale la cruz de la iglesia, Vestida de negro luto... CAPÍTULO II Na clareira, em frente à mouta que encobria o tesouro (e que os três tinham desbastado a cutiladas), um fio de água, brotando entre rochas, caía sobre uma vasta laje encravada, onde fazia como um tanque, claro e quieto, antes de se escoar para as relvas altas. E ao lado, na sombra de uma faia, jazia um velho pilar de granito, tombado e musgoso. Ali vieram sentar-se Rui e Rostabal, com os seus tremendos espadões entre os joelhos. As duas éguas tosavam a boa erva pintalgada de papoilas e botões de ouro. Pela ramaria andava um melro a assobiar. Um cheiro errante de violetas adoçava o ar luminoso. E Rostabal, olhando o sol, bocejava com fome. Então Rui, que tirara o sombrero e lhe cofiava as velhas plumas roxas, começou a considerar, na sua fala avisada e mansa, que Guannes, nessa manhã, não quisera descer com eles à mata de Roquelanes. E assim era a sorte ruim! Pois que se Guannes tivesse quedado em Medranhos, só eles dois teriam descoberto o cofre, e só entre eles dois se dividiria o ouro! Grande pena! Tanto mais que a parte de Guannes seria em breve dissipada, com rufiões, aos dados, pelas tavernas. Ah! Rostabal, Rostabal! Se Guannes, passando aqui sozinho, tivesse achado este ouro, não dividia conosco, Rostabal! O outro rosnou surdamente e com furor, dando um puxão às barbas negras: Não, mil raios! Guannes é sôfrego... Quando o ano passado, se te lembras, ganhou os cem ducados ao espadeiro de Fresno, nem me quis emprestar três para eu comprar um gibão novo! Vês tu! — gritou Rui, resplandecendo. Ambos se tinham erguido do pilar de granito, como levados pela mesma idéia, que os deslumbrava. E, através das suas largas passadas, as ervas altas silvavam. E para quê — prosseguia Rui. Para que serve todo o ouro que nos leva! Tu não o ouves, de noite, como tosse! Ao redor da palha em que dorme, todo o chão está negro do sangue que escarra! Não dura até às outras neves, Rostabal! Mas até lá terá dissipado os bons dobrões que deviam ser nossos, para levantarmos a nossa casa, e para tu teres ginetes, e armas, e trajes nobres, e o teu terço de solarengos, como compete a quem é, como tu, o mais velho dos de Medranhos... Pois que morra, e morra hoje! — bradou Rostabal. Queres! Vivamente, Rui agarrara o braço do irmão e apontava para a vereda de olmos, por onde Guannes partira cantando: Logo adiante, ao fim do trilho, há um sítio bom, nos silvados. E hás-de ser tu, Rostabal, que és o mais forte e o mais destro. Um golpe de ponta pelas costas. E é justiça de Deus que seja tu, que muitas vezes, nas tavernas, sem pudor, Guannes te tratava de cerdo e de torpe, por não saberes a letra nem os números.
  • 4. www.nead.unama.br Malvado! Vem! Foram. Ambos se emboscaram por trás dum silvado, que dominava o atalho, estreito e pedregoso, como um leito de torrente. Rostabal, assolapado na vala, tinha já a espada nua. Um vento leve arrepiou na encosta as folhas dos álamos - e sentiram o repique leve dos sinos de Retortilho. Rui, coçando a barba, calculava as horas pelo sol, que já se inclinava para as serras. Um bando de corvos passou sobre eles, grasnando. E Rostabal, que lhes seguira o vôo, recomeçou a bocejar, com fome, pensando nos empadões e no vinho que o outro trazia nos alforges. Enfim! Alerta! Era, na vereda, a cantiga dolente e rouca, atirada aos ramos: Olé! Olé! Sale la cruz de la iglesia Toda vestida de negro... Rui murmurou: “Na ilharga! Mal que passe!” O chouto da égua bateu o 4 cascalho, uma pluma num sombrero vermelhejou por sobre a ponta das silvas. Rostabal rompeu de entre a sarça por uma brecha, atirou o braço, a longa espada; e toda a lâmina se embebeu molemente na ilharga de Guannes, quando ao rumor, bruscamente, ele se virara na sela. Com um surdo arranco, tombou de lado, sobre as pedras. Já Rui se arremessava aos freios da égua: Rostabal, caindo sobre Guannes, que arquejava, de novo lhe mergulhou a espada, agarrada pela folha como um punhal, no peito e na garganta. A chave! — gritou Rui. E arrancada a chave do cofre ao seio do morto, ambos largaram pela vereda — Rostabal adiante, fugindo, com a pluma do sombrero quebrada e torta, a espada ainda nua entalada sob o braço, todo encolhido, arrepiado com o sabor de sangue que lhe espirrara para a boca; Rui, atrás, puxando desesperadamente os freios da égua, que, de patas fincadas no chão pedregoso, arreganhando a longa dentuça amarela, não queria deixar o seu amo assim estirado, abandonado, ao comprido das sebes. Teve de lhe espicaçar as ancas lazarentas com a ponta da espada: e foi correndo sobre ela, de lâmina alta, como se perseguisse um mouro, que desembocou na clareira onde o sol já não dourava as folhas. Rostabal arremessara para a relva o sombrero e a espada; e debruçado sobre a laje escavada em tanque, de mangas arregaçadas, lavava, ruidosamente, a face e as barbas. A égua, quieta, recomeçou a pastar, carregada com os alforjes novos que Guannes comprara em Retortilho. Do mais largo, abarrotado, surdiam dois gargalos de garrafas. Então Rui tirou, lentamente, do cinto, a sua larga navalha. Sem um rumor na selva espessa, deslizou até Rostabal, que resfolgava, com as longas barbas pingando. E serenamente, como se pregasse uma estaca num canteiro, enterrou a folha toda no largo dorso dobrado, certeira sobre o coração. Rostabal caiu sobre o tanque, sem um gemido, com a face na água, os longos cabelos flutuando na água. A sua velha escarcela de couro ficara entalada sob a coxa. Para tirar de dentro a terceira chave do cofre, Rui solevou o corpo — e um sangue mais grosso jorrou, escorreu pela borda do tanque, fumegando. CAPÍTULO III Agora eram dele, só dele, as três chaves do cofre!... e Rui, alargando os braços, respirou deliciosamente. Mal a noite descesse, com o ouro metido nos
  • 5. www.nead.unama.br alforges, guiando a fila das éguas pelos trilhos da serra, subiria a Medranhos e enterraria na adega o seu tesouro! E quando ali na fonte, e além rente aos silvados, só restassem, sob as neves de dezembro, alguns ossos sem nome, ele seria o magnífico senhor de Medranhos, e na capela nova do solar renascido mandaria dizer missas ricas pelos seus dois irmãos mortos... Mortos, como? Como devem morrer os Medranhos — a pelejar contra o Turco! Abriu as três fechaduras, apanhou um punhado de dobrões, que fez retinir sobre as pedras. Que puro ouro, de fino quilate! E era o seu ouro! Depois de examinar a capacidade dos alforges — e encontrando as duas garrafas de vinho, e um gordo capão assado, sentiu uma imensa fome. Desde a véspera só comera uma lasca de peixe seco. E há quanto tempo não provava capão! Com que delícia se sentou na relva, com as penas abertas, e entre elas a ave loura, que rescendia, e o vinho cor de âmbar! Ah! Guannes fora bom mordomo - nem esquecera azeitonas. Mas por que trouxera ele, para três convivas, só duas garrafas? Rasgou uma asa do capão: devorava a grandes dentadas. A tarde descia, pensativa e doce, com nuvenzinhas cor-de-rosa. Para além, na vereda, um bando de corvos grasnava. As éguas fartas dormitavam, com o focinho pendido. E a fonte cantava, lavando o morto. Rui ergueu à luz a garrafa de vinho. Com aquela cor velha e quente, não teria custado menos de três maravedis. E pondo o gargalo à boca, bebeu em sorvos lentos, que lhe faziam ondular o pescoço peludo. Oh vinho bendito, que tão prontamente aquecia o sangue! Atirou a garrafa vazia — destapou outra. Mas, como era avisado, não bebeu porque a jornada para a serra, com o tesouro, requeria firmeza e acerto. Estendido sobre o cotovelo, descansando, pensava em Medranhos coberto de telha nova, nas altas chamas da lareira por noites de neve, e o seu leito com brocados, onde teria sempre mulheres. De repente, tomado de uma ansiedade, teve pressa de carregar os alforges. Já entre os troncos a sombra se adensava. Puxou uma das éguas para junto do cofre, ergueu a tampa, tomou um punhado de ouro... mas oscilou, largando os dobrões que retilintaram no chão, e levou as duas mãos aflitas ao peito. Que é, D. Rui! Raios de Deus! era um lume, um lume vivo, que se lhe acendera dentro, lhe subia até às goelas. Já rasgara o gibão, atirava os passos incertos e, a arquejar, com a língua pendente, limpava as grossas bagas dum suor horrendo que o regelava como neve. Oh Virgem Mãe! Outra vez o lume, mais forte, que alastrava, o roía! Gritou: Socorro! Além! Guannes! Rostabal! Os seus braços torcidos batiam o ar desesperadamente. E a chama dentro 5 galgava — sentia os ossos a estalarem como as traves duma casa em fogo. Cambaleou até à fonte para apagar aquela labareda, tropeçou sobre Rostabal; e foi com o joelho fincado no morto, arranhando a rocha, que ele, entre uivos, procurava o fio de água, que recebia sobre os olhos, pelos cabelos. Mas a água mais o queimava, como se fosse um metal derretido. Recuou, caiu para cima da relva que arrancava aos punhados, e que mordia, mordendo os dedos, para lhe sugar a frescura. Ainda se ergueu, com uma baba densa a escorrer-lhe nas barbas: e de repente, esbugalhando pavorosamente os olhos, berrou como se compreendesse enfim a traição, todo o horror: É veneno! Oh! D. Rui, o avisado, era veneno! Porque Guannes, apenas chegara a Retortilho, mesmo antes de comprar os alforges, correra cantando a uma viela, por
  • 6. www.nead.unama.br detrás da catedral, a comprar ao velho droguista judeu o veneno que, misturado ao vinho, o tornaria a ele, a ele somente, dono de todo o tesouro. Anoiteceu. Dois corvos de entre o bando que grasnava, além nos silvados, já tinham pousado sobre o corpo de Guannes. A fonte, cantando, lavava o outro morto. Meio enterrada na erva, toda a face de Rui se tornara negra. Uma estrelinha tremeluzia no céu. 6 O tesouro ainda lá está, na mata de Roquelanes. FIM