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"Comunicação, poder e democracia”
Discurso de Manuel Castells na Praça da Catalunha
      em Barcelona, em 26 de Maio de 2011
O direito à estupidez é um direito humano fundamental, e deve ser respeitado.
Os partidos com chances reais de chegar ao poder
   igualaram-se ao aderirem a um “pensamento
único” que nunca ousa tocar os lucros do sistema
 financeiro. A esquerda mais radical parece, como
tantas vezes, incapaz de dialogar com as maiorias.
Quando há uma necessidade real, sentida em muitas sociedades,
  basta que a luta por ela comece a se expressar em alguma parte
para que se difunda um sentimento de que “nós também podemos”.
O importante é que muitas pessoas, em todo o mundo,
não aceitam a fatalidade da crise e pensam que podem fazer algo .
As relações de poder são essenciais em todas as sociedades e através da História.
                      São, aliás, as relações essenciais nas nossas sociedades,
     porque quem tem poder constrói as instituições em função de seus interesses e valores.
As instituições em que vivemos são, cada vez mais, simples expressões destas relações de poder.
Felizmente há sempre, nas sociedades, não apenas poder mas, também, contrapoder.
         Se existe uma lei social geral certamente válida, é a que sustenta:
              onde quer que haja dominação, haverá resistência a ela.
O controle da informação e da comunicação foi sempre a forma fundamental de exercício do
   poder. O controle dos governos, das grandes empresas mediáticas é a forma essencial.
                E por isso a política transformou-se, hoje, em algo mediático.
        O que não existe nos meios, não chega aos cidadãos e, portanto, não existe.
O mais importante da política mediática não é tanto
  o que dizem os meios, mas o que eles ocultam:
 a ausência de mensagens, opiniões e alternativas.
Tudo o que se passou nos últimos anos e as revoluções árabes, toda essa experiência mostra
  que o processo muda a partir do momento em que é produzida alguma indignação por
  algum acto que já não se pode suportar. A partir dessa indignação organiza-se o debate.
De repente, as pessoas percebem que não estão sozinhas.
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O sistema passivo de comunicação e de democracia
  consiste em isolar as pessoas e agregá-las em função
dos que controlam os sistemas de poder nas instituições.
A sociedade está baseada na capacidade de instigar o medo nas pessoas, e na capacidade
 das pessoas em superar esse medo. Essa superação só pode ser feita em grupos, nunca
individualmente. É da superação do medo, através da reunião de indivíduos em grupos -
         mas sem deixar a sua individualidade - que começam a surgir críticas,
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Em todo o mundo, estamos vivendo uma crise muito
   séria e profunda da democracia. A democracia
representativa foi uma conquista histórica dos povos,
 que custou muito sangue, suor e lágrimas, contra os
despotismos que dominaram grande parte do mundo.
A partir do momento em que já se constituem instituições
democráticas, imediatamente formam-se partidos políticos, que definem as
    regras da participação política de acordo com os seus interesses e os
  interesses que representam. Fecham-se outras vias de representação e
                                assegura-se por
      lei eleitoral que apenas os partidos maioritários podem governar.
A democracia representativa é reduzida, a distância em relação aos cidadãos aumenta,
   e a classe política organiza-se como classe própria, como trabalho profissional.
       Já não importa qual ideologia o político segue, ou se é corrupto ou não.
    Eles podem dizer: “a política sou eu, a política é o partido e o partido sou eu”.
Qualquer tipo de intervenção política tem que passar por essa instância
estrutural dos partidos. Em consequência, quando há corrupção, há impunidade.
   Quando há erros graves na condução de políticas sobre a crise económica,
       não se responsabiliza ninguém por tais erros e pelas consequências
                       que produziram sobre os cidadãos.
Só quando chegam as eleições os políticos pagam por seus erros.
Mas o eleitor deve escolher entre dois menus da mesma cozinha.
     Porque as leis eleitorais foram construídas para que os
      partidos maioritários continuem sendo maioritários.
Dois terços dos cidadãos do mundo acreditam
       que não são governados democraticamente.
    As pessoas dizem que vivem em uma democracia,
porém ela não é democrática. E isso é considerado normal.
Quando as coisas vão “mais ou menos”, tudo continua igual.
Os estudos mostram que 75% das pessoas votam contra alguma coisa, e não a favor.
As mensagens na propaganda política são, na maioria das vezes,
negativas, pois os profissionais de marketing político sabem que
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  que uma mensagem positiva. Portanto, todos atacam todos,
  e assim todos os políticos afundam na opinião das pessoas.
É necessário que a ideia de uma reconstrução da democracia
                        esteja nas ruas, aqui e no mundo.
Aqueles que representam a democracia hoje não podem fazer essa reconstrução,
  pois ela vai contra seus interesses como grupo profissional e grupo político.
        É o sistema que bloqueia essa reconstrução, e não os indivíduos.
Esses sistemas têm interesses poderosos, relacionados ao poder político, económico,
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   E a mudança social inicia com as mentes: o que muitas pessoas estão fazendo,
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                           pensar diferente e pensar juntas.
A possibilidade de eleger pessoas não filiadas em partidos é básica.
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A violência provável do poder deve ter como resposta a não-violência das pessoas.
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Discurso de Manuel Castells na Praça da Catalunha

  • 1. "Comunicação, poder e democracia” Discurso de Manuel Castells na Praça da Catalunha em Barcelona, em 26 de Maio de 2011
  • 2. O direito à estupidez é um direito humano fundamental, e deve ser respeitado.
  • 3. Os partidos com chances reais de chegar ao poder igualaram-se ao aderirem a um “pensamento único” que nunca ousa tocar os lucros do sistema financeiro. A esquerda mais radical parece, como tantas vezes, incapaz de dialogar com as maiorias.
  • 4. Quando há uma necessidade real, sentida em muitas sociedades, basta que a luta por ela comece a se expressar em alguma parte para que se difunda um sentimento de que “nós também podemos”.
  • 5. O importante é que muitas pessoas, em todo o mundo, não aceitam a fatalidade da crise e pensam que podem fazer algo .
  • 6. As relações de poder são essenciais em todas as sociedades e através da História. São, aliás, as relações essenciais nas nossas sociedades, porque quem tem poder constrói as instituições em função de seus interesses e valores. As instituições em que vivemos são, cada vez mais, simples expressões destas relações de poder.
  • 7. Felizmente há sempre, nas sociedades, não apenas poder mas, também, contrapoder. Se existe uma lei social geral certamente válida, é a que sustenta: onde quer que haja dominação, haverá resistência a ela.
  • 8. O controle da informação e da comunicação foi sempre a forma fundamental de exercício do poder. O controle dos governos, das grandes empresas mediáticas é a forma essencial. E por isso a política transformou-se, hoje, em algo mediático. O que não existe nos meios, não chega aos cidadãos e, portanto, não existe.
  • 9. O mais importante da política mediática não é tanto o que dizem os meios, mas o que eles ocultam: a ausência de mensagens, opiniões e alternativas.
  • 10. Tudo o que se passou nos últimos anos e as revoluções árabes, toda essa experiência mostra que o processo muda a partir do momento em que é produzida alguma indignação por algum acto que já não se pode suportar. A partir dessa indignação organiza-se o debate.
  • 11. De repente, as pessoas percebem que não estão sozinhas. O que sentem, o que pensam, outros também sentem e pensam. E quando não estão sozinhas, as pessoas são mais fortes.
  • 12. O sistema passivo de comunicação e de democracia consiste em isolar as pessoas e agregá-las em função dos que controlam os sistemas de poder nas instituições.
  • 13. A sociedade está baseada na capacidade de instigar o medo nas pessoas, e na capacidade das pessoas em superar esse medo. Essa superação só pode ser feita em grupos, nunca individualmente. É da superação do medo, através da reunião de indivíduos em grupos - mas sem deixar a sua individualidade - que começam a surgir críticas, alternativas e debates sobre que outras formas de vida são possíveis.
  • 14. Em todo o mundo, estamos vivendo uma crise muito séria e profunda da democracia. A democracia representativa foi uma conquista histórica dos povos, que custou muito sangue, suor e lágrimas, contra os despotismos que dominaram grande parte do mundo.
  • 15. A partir do momento em que já se constituem instituições democráticas, imediatamente formam-se partidos políticos, que definem as regras da participação política de acordo com os seus interesses e os interesses que representam. Fecham-se outras vias de representação e assegura-se por lei eleitoral que apenas os partidos maioritários podem governar.
  • 16. A democracia representativa é reduzida, a distância em relação aos cidadãos aumenta, e a classe política organiza-se como classe própria, como trabalho profissional. Já não importa qual ideologia o político segue, ou se é corrupto ou não. Eles podem dizer: “a política sou eu, a política é o partido e o partido sou eu”.
  • 17. Qualquer tipo de intervenção política tem que passar por essa instância estrutural dos partidos. Em consequência, quando há corrupção, há impunidade. Quando há erros graves na condução de políticas sobre a crise económica, não se responsabiliza ninguém por tais erros e pelas consequências que produziram sobre os cidadãos.
  • 18. Só quando chegam as eleições os políticos pagam por seus erros. Mas o eleitor deve escolher entre dois menus da mesma cozinha. Porque as leis eleitorais foram construídas para que os partidos maioritários continuem sendo maioritários.
  • 19. Dois terços dos cidadãos do mundo acreditam que não são governados democraticamente. As pessoas dizem que vivem em uma democracia, porém ela não é democrática. E isso é considerado normal.
  • 20. Quando as coisas vão “mais ou menos”, tudo continua igual. Os estudos mostram que 75% das pessoas votam contra alguma coisa, e não a favor.
  • 21. As mensagens na propaganda política são, na maioria das vezes, negativas, pois os profissionais de marketing político sabem que uma mensagem negativa tem cinco vezes mais impacto que uma mensagem positiva. Portanto, todos atacam todos, e assim todos os políticos afundam na opinião das pessoas.
  • 22. É necessário que a ideia de uma reconstrução da democracia esteja nas ruas, aqui e no mundo. Aqueles que representam a democracia hoje não podem fazer essa reconstrução, pois ela vai contra seus interesses como grupo profissional e grupo político. É o sistema que bloqueia essa reconstrução, e não os indivíduos.
  • 23. Esses sistemas têm interesses poderosos, relacionados ao poder político, económico, cultural, tecnológico. Se não houver uma pressão social, não haverá mudança. E a mudança social inicia com as mentes: o que muitas pessoas estão fazendo, aqui e em outros lugares, é mudar a forma de pensar de si mesmas e das demais, pensar diferente e pensar juntas.
  • 24. A possibilidade de eleger pessoas não filiadas em partidos é básica. Um dos maiores escândalos da democracia é que se vote apenas em um partido. Infelizmente, ninguém diz nada sobre isso, tudo continua igual, porque os que podem mudar são aqueles que se beneficiam desse sistema.
  • 25. Mas há algo mais importante. É a criação de novas formas de democracia. Uma democracia futura não sairá de documentos. Sairá de práticas colectivas. O resultado disso será a substituição da democracia dos partidos pela democracia das pessoas.
  • 26. A violência provável do poder deve ter como resposta a não-violência das pessoas. E para isso é preciso muita coragem, porque responder à violência com violência é uma reacção de medo.
  • 27. Medrosos do mundo inteiro, uni-vos pela rede, pois só assim podem perder o medo.