O documento discute o desenvolvimento urbano desordenado no Brasil durante o século XX. A industrialização e modernização agrícola deslocaram trabalhadores rurais para as cidades, onde enfrentaram problemas de habitação e acesso a serviços básicos. Exemplos como a reforma urbana no Rio de Janeiro e a construção de Brasília ilustram como as políticas públicas por vezes agravaram os problemas sociais ao invés de resolvê-los.
Desenvolvimento urbano desordenado causou caos social
1. Desenvolvimento urbano desordenado
As contingências que levaram camponeses a disputar os espaços de despreparadas
cidades centrais urbanas acarretaram em caos e descontrole social durante toda a história
do Brasil no século XX. Os imigrantes, por exemplo, que estavam acostumados com os
sistemas de Parceria e Colonato (onde poderiam retirar sua subsistência parcial da própria
terra em que trabalhavam), tiveram que modificar seu tempo de trabalho no campo,
principalmente por conta dos serviços e pequenas indústrias que começavam a se
associar à agricultura de modo a aumentar sua produtividade. Seu espaço no campo
também ficou reduzido, pois as terras que antes serviam para seu sustento, mesmo não
sendo suas, agora cediam seus espaços para usinas e maquinários de beneficiamento de
produção. Sem falar na crescente introdução de maquinários que dispensavam o trabalho
braçal. A saída para esse camponês foi sua busca por terras "sem dono". Essas terras, na
verdade, já possuíam donos: O Estado (lei de terras de 1850). O posseiro então sofria
outra ameaça: os Grileiros. Grandes proprietários de terras se aproveitavam das posses
desses camponeses deslocados para tomar seus pequenos cultivos e anexá-los à grande
propriedade por meio de contratos falsos. A alternativa aos trabalhadores do campo
também surgia nas cidades. O crescente deslocamento dos investimentos do café nas
atividades industriais de pequeno porte (como fábricas de chapéus e etc...) fez com que as
cidades se tornassem importantes centros aglomeradores de mão de obra desqualificada
(os camponeses). Só que nas cidades, o trabalhador passou a ter que conviver com as
dificuldades de moradia e subsistência que o parco salário lhe impunha. As cidades, em
contrapartida, não foram modificadas para atender um contingente em seus serviços
básicos, tais como a educação, a saúde e o saneamento. Quando as cidades se
modificavam, na maioria dos casos, ela acabou por agravar os problemas sociais. O maior
exemplo foi a reforma do Rio de Janeiro no início do século XX e a derrubada das
habitações insalubres que permitiam ao trabalhador morar perto do trabalho. Desse caos
nasceram as favelas. Outro importante exemplo foi o da construção de Brasília. Para sanar
o problema dos contantes confrontos e contestações que essa massa desfavorecida cada
vez mais causava ao Estado, Juscelino Kubitschek formalizou a construção de uma nova
capital para fins de integração do interior, beneficiamento de empresas estrangeiras que o
apoiavam, além de um demagógico discurso de se construir uma cidade ideal sem
conflitos de classes. Dos anos 1940 até a década de 1970, um contingente enorme de
nordestinos, principalmente, fugiam de suas árias terras em busca de trabalho. Não
esquecendo de outras regiões que, devido aos problemas de acesso à terra e
empregabilidade precária também migraram para grandes centros contratadores de mão
de obra não especializada. Os candangos, que assim ficaram conhecidos os trabalhadores
da nova capital, não tiveram a chance de morar na cidade ideal de JK, gerando o processo
de formação das cidades satélites com extrema carência de atenção dos governos. Hoje
em dia a história não mudou muito. As grandes cidades ainda enfrentam problemas
crônicos de habitação (como Rio e São Paulo) além de carência total de prestação de
serviços públicos. Mesmo numa época, como a nossa, que a classe média tem crescido, o
2. caos urbano se traduz em novas formas, como os engarrafamentos constantes e falta de
perspectivas do graduado em nível superior.