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Pró-Reitoria de Ensino de Graduação
Coordenação do Curso de Direito
Conflitos fundiários e
REFORMA AGRÁRIA no brasil
Disciplina: DIREITO AGROAMBIENTAL
Professor: JOSÉ FARIAS DE SOUZA FILHO
Período: 9º - Turmas: A e B (DCJ 104) - Noturno - Semestre: 2015.2
João Pessoa, PB, novembro de 2015
Apesar de tantos programas, projetos e “criações governamentais inventivas”
para democratização do acesso e uso da terra no Brasil, mantém-se a elevada
concentração de terras e os conflitos por sua posse e uso.
O Brasil tem 5.498.505 imóveis rurais (que as estatísticas do IBGE chamam de
“estabelecimentos agropecuários”), ocupando mais de 605,287 milhões de hectare1.
Despois do assentamento de mais de 969 mil famílias em 9.277 projetos de
assentamentos da reforma agrária, distribuindo mais de 88,25 milhões de hectares2,
esperava-se que houvesse desconcentração de terras – pois este é um dos objetivos
fundamentais da reforma agrária –, mas ocorreu efeito contrário: desde 2010, as 130
mil grandes propriedades privadas expandiram sua área de ocupação de 238 milhões
para 244 milhões de hectares3.
1 INCRA. Estrutura Fundiária Brasileira. Acessado em 10.11.2015. Disponível em
http://www.incra.gov.br/media/politica_fundiaria/regularizacao_fundiaria/estatisitcas_cadastrais/imoveis_total_brasil.pdf
2 INCRA. Projetos de Reforma Agrária Conforme Fases de Implementação. Relatório 0227, de 16.07.2015. Acessado em 10.11.2015. Disponível em
http://www.incra.gov.br/sites/default/files/uploads/reforma-agraria/questao-agraria/reforma-agraria/projetos_criados-geral.pdf
3 FARAH, Tatiana. Concentração de terra cresce e latifúndios equivalem a quase três estados de Sergipe: Propriedades privadas no país saltaram
de 238 milhões para 244 milhões de hectares. São Paulo: O Globo, 09 jan, 2015. Acessado em 10.11.2015. Disponível em
http://oglobo.globo.com/brasil/concentracao-de-terra-cresce-latifundios-equivalem-quase-tres-estados-de-sergipe-15004053
A manutenção do elevado índice de concentração de terras no Brasil, medido
pelo índice de Gini4, apresentou o insignificante recuo de 0,836 para 0,820 em mais de
40 anos. Como consequência, tem aumentado a violência no campo, decorrente de
conflitos fundiários: em 2013, ocorreram 34 assassinatos; em 2014, 36 assassinatos5;
em 2015, somente até julho, foram registrados 23 homicídios por conflitos fundiários,
21 deles em apenas 2 estados da Amazônicos – Pará e Rondônia6.
Este trabalho não tem por objetivo discutir as causas da ineficácia da política
pública de reforma agrária, executada pelo INCRA, mas apresentar sua fundamentação
jurídica a partir do Estatuto da Terra.
4 Desenvolvido pelo matemático italiano Corrado Gini, o Coeficiente de Gini é um parâmetro internacional usado para medir a desigualdade de
distribuição de renda entre os países. Também é usado para medir a distribuição de recursos naturais, especialmente o solo. O resultado da
medição é denominado de Índice de Gini. O coeficiente varia entre 0 e 1, sendo que quanto mais próximo do zero menor é a desigualdade na
distribuição do recurso e, consequentemente, melhor a distribuição; quanto mais próximo do um, maior a concentração do recurso e pior é a
distribuição. O índice Gini é apresentado em pontos percentuais (coeficiente x 100).
5 CTP. Comissão Pastoral da Terra. Violência cresce no campo em 2014. Goiânia, GO: Assessoria de Comunicação da Secretaria Nacional, 2014.
Acessado em 10.11.2015. Disponível em http://www.cptnacional.org.br/index.php/downloads/finish/55-dados-2014/2410-release-violencia-cresce-
no-campo-em-2014-cpt-assessoria-de-comunicacao
6 CTP. Comissão Pastoral da Terra. CPT registra 23 mortes no campo somente no primeiro semestre de 2015. Goiânia, GO: Assessoria de
Comunicação Nacional, 2015. Acessado em 11.11.2015. Disponível em http://www.cptnacional.org.br/index.php/publicacoes-2/destaque/2740-cpt-
registra-23-mortes-no-campo-somente-no-primeiro-semestre-de-2015
O objeto do Estatuto da Terra é dicotômico: a execução da reforma
agrária e promoção da política agrícola.
Art. 1° Esta Lei regula os direitos e obrigações concernentes aos bens
imóveis rurais, para os fins de execução da Reforma Agrária e promoção da
Política Agrícola.
A Reforma Agrária é parte do objeto dicotômico do Estatuto da
Terra e visa promover melhor distribuição de terra, mediante
modificação do regime de sua posse e uso. É definida como
Art. 1º. Esta Lei regula...
§ 1°. Considera-se Reforma Agrária o conjunto de medidas que visem a
promover melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de
sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao
aumento de produtividade.
A Reforma Agrária visa promover melhor distribuição de terra,
mediante modificação do regime de sua posse e uso. Na Constituição da
República, encontra-se disciplinada nos Arts. 184-185 e 188-189, ex vi:
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma
agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa
indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real,
resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja
utilização será definida em lei.
§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.
§ 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma
agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação.
§ 3º Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito
sumário, para o processo judicial de desapropriação.
§ 4º O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim
como o montante de recursos para atender ao programa de reforma agrária no exercício.
§ 5º São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de
transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária.
Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária:
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu
proprietário não possua outra;
II - a propriedade produtiva.
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará
normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social.
Art. 188. A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com a
política agrícola e com o plano nacional de reforma agrária.
§ 1º A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com área
superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que por
interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do Congresso Nacional.
§ 2º Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as alienações ou as concessões
de terras públicas para fins de reforma agrária.
Art. 189. Os beneficiários da distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária
receberão títulos de domínio ou de concessão de uso, inegociáveis pelo prazo de dez
anos.
Parágrafo único. O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao
homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil, nos termos e
condições previstos em lei.
Infraconstitucionalmente, a Reforma Agrária encontra-se regulada
na Lei nº 8.429, de 25 de fevereiro de 1993, que expressamente dispõe:
Art. 2º A propriedade rural que não cumprir a função social prevista no art. 9º é passível de
desapropriação, nos termos desta lei, respeitados os dispositivos constitucionais. (Regulamento)
§ 1º Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel
rural que não esteja cumprindo sua função social.
§ 2o Para os fins deste artigo, fica a União, através do órgão federal competente, autorizada a
ingressar no imóvel de propriedade particular para levantamento de dados e informações, mediante
prévia comunicação escrita ao proprietário, preposto ou seu representante. (Redação dada pela MP
nº 2.183-56, de 2001)
§ 3o Na ausência do proprietário, do preposto ou do representante, a comunicação será feita
mediante edital, a ser publicado, por três vezes consecutivas, em jornal de grande circulação na
capital do Estado de localização do imóvel. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001)
§ 4o Não será considerada, para os fins desta Lei, qualquer modificação, quanto ao domínio, à
dimensão e às condições de uso do imóvel, introduzida ou ocorrida até seis meses após a data da
comunicação para levantamento de dados e informações de que tratam os §§ 2o e 3o. (Incluído pela
MP nº 2.183-56, de 2001)
§ 5o No caso de fiscalização decorrente do exercício de poder de polícia, será dispensada a
comunicação de que tratam os §§ 2o e 3o. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001)
§ 6o O imóvel rural de domínio público ou particular objeto de esbulho possessório ou invasão
motivada por conflito agrário ou fundiário de caráter coletivo não será vistoriado, avaliado ou desapropriado
nos dois anos seguintes à sua desocupação, ou no dobro desse prazo, em caso de reincidência; e deverá ser
apurada a responsabilidade civil e administrativa de quem concorra com qualquer ato omissivo ou comissivo
que propicie o descumprimento dessas vedações. (Incluído pela MP nº 2.183-56, de 2001)
§ 7o Será excluído do Programa de Reforma Agrária do Governo Federal quem, já estando
beneficiado com lote em Projeto de Assentamento, ou sendo pretendente desse benefício na condição de
inscrito em processo de cadastramento e seleção de candidatos ao acesso à terra, for efetivamente
identificado como participante direto ou indireto em conflito fundiário que se caracterize por invasão ou
esbulho de imóvel rural de domínio público ou privado em fase de processo administrativo de vistoria ou
avaliação para fins de reforma agrária, ou que esteja sendo objeto de processo judicial de desapropriação em
vias de imissão de posse ao ente expropriante; e bem assim quem for efetivamente identificado como
participante de invasão de prédio público, de atos de ameaça, seqüestro ou manutenção de servidores
públicos e outros cidadãos em cárcere privado, ou de quaisquer outros atos de violência real ou pessoal
praticados em tais situações. (Incluído pela MP nº 2.183-56, de 2001)
§ 8o A entidade, a organização, a pessoa jurídica, o movimento ou a sociedade de fato que, de
qualquer forma, direta ou indiretamente, auxiliar, colaborar, incentivar, incitar, induzir ou participar de invasão
de imóveis rurais ou de bens públicos, ou em conflito agrário ou fundiário de caráter coletivo, não receberá, a
qualquer título, recursos públicos. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001)
§ 9o Se, na hipótese do § 8o, a transferência ou repasse dos recursos públicos já tiverem sido
autorizados, assistirá ao Poder Público o direito de retenção, bem assim o de rescisão do contrato, convênio
ou instrumento similar. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001)
Art. 2o-A. Na hipótese de fraude ou simulação de esbulho ou invasão, por parte
do proprietário ou legítimo possuidor do imóvel, para os fins dos §§ 6o e 7o do art. 2o, o
órgão executor do Programa Nacional de Reforma Agrária aplicará pena administrativa
de R$ 55.000,00 (cinqüenta e cinco mil reais) a R$ 535.000,00 (quinhentos e trinta e
cinco mil reais) e o cancelamento do cadastro do imóvel no Sistema Nacional de
Cadastro Rural, sem prejuízo das demais sanções penais e civis cabíveis. (Incluído
pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001)
Parágrafo único. Os valores a que se refere este artigo serão atualizados, a partir
de maio de 2000, no dia 1o de janeiro de cada ano, com base na variação acumulada
do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna - IGP-DI, da Fundação Getúlio
Vargas, no respectivo período. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001)
Art. 5º A desapropriação por interesse social, aplicável ao imóvel rural que não
cumpra sua função social, importa prévia e justa indenização em títulos da dívida
agrária.
§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.
§ 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de
reforma agrária, autoriza a União a propor ação de desapropriação.
§ 3º Os títulos da dívida agrária, que conterão cláusula assecuratória de
preservação de seu valor real, serão resgatáveis a partir do segundo ano de sua
emissão, em percentual proporcional ao prazo, observados os seguintes critérios:
I - do segundo ao décimo quinto ano, quando emitidos para indenização de
imóvel com área de até setenta módulos fiscais; (Redação dada pela Medida
Provisória nº 2.183-56, de 2001)
II - do segundo ao décimo oitavo ano, quando emitidos para indenização de
imóvel com área acima de setenta e até cento e cinqüenta módulos fiscais; e (Redação
dada pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001)
III - do segundo ao vigésimo ano, quando emitidos para indenização de imóvel
com área superior a cento e cinqüenta módulos fiscais. (Redação dada pela Medida
Provisória nº 2.183-56, de 2001)
§ 4o No caso de aquisição por compra e venda de imóveis rurais destinados à implantação de
projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agrária, nos termos desta Lei e da Lei no 4.504,
de 30 de novembro de 1964, e os decorrentes de acordo judicial, em audiência de conciliação, com o
objetivo de fixar a prévia e justa indenização, a ser celebrado com a União, bem como com os entes
federados, o pagamento será efetuado de forma escalonada em Títulos da Dívida Agrária - TDA,
resgatáveis em parcelas anuais, iguais e sucessivas, a partir do segundo ano de sua emissão,
observadas as seguintes condições: (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001)
I - imóveis com área de até três mil hectares, no prazo de cinco anos; (MP nº 2.183-56)
II - imóveis com área superior a três mil hectares: (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56)
a) o valor relativo aos primeiros três mil hectares, no prazo de cinco anos; (MP nº 2.183-56/2001)
b) o valor relativo à área superior a três mil e até dez mil hectares, em dez anos; (MP nº 2.183-56)
c) o valor relativo à área superior a dez mil hectares até quinze mil hectares, em quinze anos;
e (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001)
d) o valor da área que exceder quinze mil hectares, em vinte anos. (Incluído pela MP nº 2.183-56)
§ 5o Os prazos previstos no § 4o, quando iguais ou superiores a dez anos, poderão ser reduzidos
em cinco anos, desde que o proprietário concorde em receber o pagamento do valor das benfeitorias
úteis e necessárias integralmente em TDA. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001)
§ 6o Aceito pelo proprietário o pagamento das benfeitorias úteis e necessárias em TDA, os prazos
de resgates dos respectivos títulos serão fixados mantendo-se a mesma proporcionalidade estabelecida
para aqueles relativos ao valor da terra e suas acessões naturais. (Incluído pela MP nº 2.183-56/2001)
.
Art. 6º Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente,
atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices
fixados pelo órgão federal competente
§ 1º O grau de utilização da terra, para efeito do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a
80% (oitenta por cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área
aproveitável total do imóvel.
§ 2º O grau de eficiência na exploração da terra deverá ser igual ou superior a 100% (cem por
cento), e será obtido de acordo com a seguinte sistemática:
I - para os produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos respectivos
índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião
Homogênea;
II - para a exploração pecuária, divide-se o número total de Unidades Animais (UA) do rebanho,
pelo índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião
Homogênea;
III - a soma dos resultados obtidos na forma dos incisos I e II deste artigo, dividida pela área
efetivamente utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau de eficiência na exploração.
§ 3º Considera-se efetivamente utilizadas:
I - as áreas plantadas com produtos vegetais;
II - as áreas de pastagens nativas e plantadas, observado o índice de lotação por zona de pecuária,
fixado pelo Poder Executivo;
.
Art. 7º Não será passível de desapropriação, para fins de reforma agrária, o imóvel que comprove
estar sendo objeto de implantação de projeto técnico que atenda aos seguintes requisitos:
I - seja elaborado por profissional legalmente habilitado e identificado;
II - esteja cumprindo o cronograma físico-financeiro originalmente previsto, não admitidas
prorrogações dos prazos;
III - preveja que, no mínimo, 80% (oitenta por cento) da área total aproveitável do imóvel seja
efetivamente utilizada em, no máximo, 3 (três) anos para as culturas anuais e 5 (cinco) anos para as
culturas permanentes;
IV - haja sido aprovado pelo órgão federal competente, na forma estabelecida em regulamento, no
mínimo seis meses antes da comunicação de que tratam os §§ 2o e 3o do art. 2o. (MP nº 2.183-56)
Parágrafo único. Os prazos previstos no inciso III deste artigo poderão ser prorrogados em até 50%
(cinqüenta por cento), desde que o projeto receba, anualmente, a aprovação do órgão competente para
fiscalização e tenha sua implantação iniciada no prazo de 6 (seis) meses, contado de sua aprovação.
Art. 8º Ter-se-á como racional e adequado o aproveitamento de imóvel rural, quando esteja
oficialmente destinado à execução de atividades de pesquisa e experimentação que objetivem o avanço
tecnológico da agricultura.
Parágrafo único. Para os fins deste artigo só serão consideradas as propriedades que tenham
destinados às atividades de pesquisa, no mínimo, 80% (oitenta por cento) da área total aproveitável do
imóvel, sendo consubstanciadas tais atividades em projeto:
I - adotado pelo Poder Público, se pertencente a entidade de administração direta ou indireta, ou a
empresa sob seu controle;
II - aprovado pelo Poder Público, se particular o imóvel.
Art. 9º A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,
segundo graus e critérios estabelecidos nesta lei, os seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
§ 1º Considera-se racional e adequado o aproveitamento que atinja os graus de utilização da
terra e de eficiência na exploração especificados nos §§ 1º a 7º do art. 6º desta lei.
§ 2º Considera-se adequada a utilização dos recursos naturais disponíveis quando a
exploração se faz respeitando a vocação natural da terra, de modo a manter o potencial produtivo da
propriedade.
§ 3º Considera-se preservação do meio ambiente a manutenção das características próprias do
meio natural e da qualidade dos recursos ambientais, na medida adequada à manutenção do
equilíbrio ecológico da propriedade e da saúde e qualidade de vida das comunidades vizinhas.
§ 4º A observância das disposições que regulam as relações de trabalho implica tanto o
respeito às leis trabalhistas e aos contratos coletivos de trabalho, como às disposições que
disciplinam os contratos de arrendamento e parceria rurais.
§ 5º A exploração que favorece o bem-estar dos proprietários e trabalhadores rurais é a que
objetiva o atendimento das necessidades básicas dos que trabalham a terra, observa as normas de
segurança do trabalho e não provoca conflitos e tensões sociais no imóvel.
§ 6º (Vetado.)
A desapropriação de imóvel rural por
interesse social, para fins de reforma agrária,
regulada pela Lei Comp nº 76, de 6.7.1993, é
feita por procedimento contraditório especial.
Tarefa (1,0): Apresentar um resumo da Lei,
que poderá ser usado na 3ª verificação de
aprendizagem.
A Política Agrícola, parte do objeto
dicotômico do Estatuto da Terra, também é
definida no art. 1º:
Art. 1º. Esta Lei regula...
§ 2º Entende-se por Política Agrícola o conjunto
de providências de amparo à propriedade da terra,
que se destinem a orientar, no interesse da
economia rural, as atividades agropecuárias, seja
no sentido de garantir-lhes o pleno emprego, seja
no de harmonizá-las com o processo de
industrialização do país.
Na Constituição da República, a Política
Agrícola está regida pelo art. 187:
Art. 187. A política agrícola será planejada e executada na forma da lei, com a participação efetiva
do setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como dos setores de
comercialização, de armazenamento e de transportes, levando em conta, especialmente:
I - os instrumentos creditícios e fiscais;
II - os preços compatíveis com os custos de produção e a garantia de comercialização;
III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia;
IV - a assistência técnica e extensão rural;
V - o seguro agrícola;
VI - o cooperativismo;
VII - a eletrificação rural e irrigação;
VIII - a habitação para o trabalhador rural.
§ 1º Incluem-se no planejamento agrícola as atividades agro-industriais, agropecuárias,
pesqueiras e florestais.
§ 2º Serão compatibilizadas as ações de política agrícola e de reforma agrária.
Infraconstitucionalmente, Política Agrícola
está regulada pela Lei nº 8.171, de 17.01.1991:
Art. 1° Esta lei fixa os fundamentos, define os objetivos e as competências institucionais, prevê os recursos e estabelece as
ações e instrumentos da política agrícola, relativamente às atividades agropecuárias, agroindustriais e de planejamento das
atividades pesqueira e florestal.
Parágrafo único. Para os efeitos desta lei, entende-se por atividade agrícola a produção, o processamento e a
comercialização dos produtos, subprodutos e derivados, serviços e insumos agrícolas, pecuários, pesqueiros e florestais.
Art. 2° A política fundamenta-se nos seguintes pressupostos:
I - a atividade agrícola compreende processos físicos, químicos e biológicos, onde os recursos naturais envolvidos devem
ser utilizados e gerenciados, subordinando-se às normas e princípios de interesse público, de forma que seja cumprida a função
social e econômica da propriedade;
II - o setor agrícola é constituído por segmentos como: produção, insumos, agroindústria, comércio, abastecimento e afins,
os quais respondem diferenciadamente às políticas públicas e às forças de mercado;
III - como atividade econômica, a agricultura deve proporcionar, aos que a ela se dediquem, rentabilidade compatível com a
de outros setores da economia;
IV - o adequado abastecimento alimentar é condição básica para garantir a tranqüilidade social, a ordem pública e o
processo de desenvolvimento econômico-social;
V - a produção agrícola ocorre em estabelecimentos rurais heterogêneos quanto à estrutura fundiária, condições
edafoclimáticas, disponibilidade de infra-estrutura, capacidade empresarial, níveis tecnológicos e condições sociais, econômicas e
culturais;
VI - o processo de desenvolvimento agrícola deve proporcionar ao homem do campo o acesso aos serviços essenciais:
saúde, educação, segurança pública, transporte, eletrificação, comunicação, habitação, saneamento, lazer e outros benefícios
sociais.
Art. 3° São objetivos da política agrícola:
I - na forma como dispõe o art. 174 da Constituição, o Estado exercerá função de planejamento, que será determinante para
o setor público e indicativo para o setor privado, destinado a promover, regular, fiscalizar, controlar, avaliar atividade e suprir
necessidades, visando assegurar o incremento da produção e da produtividade agrícolas, a regularidade do abastecimento
interno, especialmente alimentar, e a redução das disparidades regionais;
II - sistematizar a atuação do Estado para que os diversos segmentos intervenientes da agricultura possam planejar suas
ações e investimentos numa perspectiva de médio e longo prazos, reduzindo as incertezas do setor;
III - eliminar as distorções que afetam o desempenho das funções econômica e social da agricultura;
IV - proteger o meio ambiente, garantir o seu uso racional e estimular a recuperação dos recursos naturais;
V - (Vetado);
VI - promover a descentralização da execução dos serviços públicos de apoio ao setor rural, visando a complementariedade
de ações com Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios, cabendo a estes assumir suas responsabilidades na execução
da política agrícola, adequando os diversos instrumentos às suas necessidades e realidades;
VII - compatibilizar as ações da política agrícola com as de reforma agrária, assegurando aos beneficiários o apoio à sua
integração ao sistema produtivo;
VIII - promover e estimular o desenvolvimento da ciência e da tecnologia agrícola pública e privada, em especial aquelas
voltadas para a utilização dos fatores de produção internos;
IX - possibilitar a participação efetiva de todos os segmentos atuantes no setor rural, na definição dos rumos da agricultura
brasileira;
X - prestar apoio institucional ao produtor rural, com prioridade de atendimento ao pequeno produtor e sua família;
XI - estimular o processo de agroindustrialização junto às respectivas áreas de produção;
XII - (Vetado);
XIII – promover a saúde animal e a sanidade vegetal; (Inciso incluído pela Lei nº 10.298, de 30.10.2001)
XIV – promover a idoneidade dos insumos e serviços empregados na agricultura; (incluído pela Lei nº 10.298/2001)
XV – assegurar a qualidade dos produtos de origem agropecuária, seus derivados e resíduos de valor econômico; (Idem)
XVI – promover a concorrência leal entre os agentes que atuam nos setores e a proteção destes em relação a práticas
desleais e a riscos de doenças e pragas exóticas no País; (Inciso incluído pela Lei nº 10.298, de 30.10.2001)
XVII – melhorar a renda e a qualidade de vida no meio rural. (Inciso incluído pela Lei nº 10.298, de 30.10.2001)
Art. 4° As ações e instrumentos de política agrícola referem-se a:
I - planejamento agrícola;
II - pesquisa agrícola tecnológica;
III - assistência técnica e extensão rural;
IV - proteção do meio ambiente, conservação e recuperação dos recursos naturais;
V - defesa da agropecuária;
VI - informação agrícola;
VII - produção, comercialização, abastecimento e armazenagem;
VIII - associativismo e cooperativismo;
IX - formação profissional e educação rural;
X - investimentos públicos e privados;
XI - crédito rural;
XII - garantia da atividade agropecuária;
XIII - seguro agrícola;
XIV - tributação e incentivos fiscais;
XV - irrigação e drenagem;
XVI - habitação rural;
XVII - eletrificação rural;
XVIII - mecanização agrícola;
XIX - crédito fundiário.
Parágrafo único. Os instrumentos de política agrícola deverão orientar-se pelos planos
plurianuais. (Incluído pela Lei nº 10.246, de 2 de julho de 2001)
QUESTÕES SOBRE
REFORMA AGRÁRIA
1) A quem compete desapropriar para fins de reforma agrária?
2) Quais as formalidades legais para desapropriação de imóvel rural para fins de
reforma agrária?
3) A quem compete promover a ação judicial de desapropriação de imóvel rural para
fins de reforma agrária?
4) A quem compete julgar a ação de desapropriação de imóvel rural para fins de reforma
agrária e qual o rito estabelecido em lei?
5) Que formalidade legal é prevista em lei para a entrega de lotes de projeto de
assentamento de reforma agrária aos beneficiários?
6) Como é pago o imóvel rural desapropriado por interesse social para fins de reforma
agrária?
7) As ações de política agrícola devem ser compatibilizadas com as de reforma agrária?
Por que?
8) Quais as duas diferenças fundamentais entre política de reforma agrária e política de
colonização?
9) Imóvel rural invadido pode ser vistoriado e desapropriado para fins de reforma
agrária? Explique.
José Farias de Souza Filho
Promotor de Justiça de Defesa do Meio Ambiente na Capital da Paraíba
Professor de Direito no Centro Universitário de João Pessoa
Doutor em Psicologia Social (UFPB, 2014)
Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UFPB, 2010)
Especialista em Direito (UFPB, 1983).
Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais (UFPB, 1982).
Pró-Reitoria de Ensino de Graduação
Coordenação do Curso de Direito
Conflitos fundiários e
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Conflitos fundiários e reforma agrária no Brasil

  • 1. Pró-Reitoria de Ensino de Graduação Coordenação do Curso de Direito Conflitos fundiários e REFORMA AGRÁRIA no brasil Disciplina: DIREITO AGROAMBIENTAL Professor: JOSÉ FARIAS DE SOUZA FILHO Período: 9º - Turmas: A e B (DCJ 104) - Noturno - Semestre: 2015.2 João Pessoa, PB, novembro de 2015
  • 2. Apesar de tantos programas, projetos e “criações governamentais inventivas” para democratização do acesso e uso da terra no Brasil, mantém-se a elevada concentração de terras e os conflitos por sua posse e uso. O Brasil tem 5.498.505 imóveis rurais (que as estatísticas do IBGE chamam de “estabelecimentos agropecuários”), ocupando mais de 605,287 milhões de hectare1. Despois do assentamento de mais de 969 mil famílias em 9.277 projetos de assentamentos da reforma agrária, distribuindo mais de 88,25 milhões de hectares2, esperava-se que houvesse desconcentração de terras – pois este é um dos objetivos fundamentais da reforma agrária –, mas ocorreu efeito contrário: desde 2010, as 130 mil grandes propriedades privadas expandiram sua área de ocupação de 238 milhões para 244 milhões de hectares3. 1 INCRA. Estrutura Fundiária Brasileira. Acessado em 10.11.2015. Disponível em http://www.incra.gov.br/media/politica_fundiaria/regularizacao_fundiaria/estatisitcas_cadastrais/imoveis_total_brasil.pdf 2 INCRA. Projetos de Reforma Agrária Conforme Fases de Implementação. Relatório 0227, de 16.07.2015. Acessado em 10.11.2015. Disponível em http://www.incra.gov.br/sites/default/files/uploads/reforma-agraria/questao-agraria/reforma-agraria/projetos_criados-geral.pdf 3 FARAH, Tatiana. Concentração de terra cresce e latifúndios equivalem a quase três estados de Sergipe: Propriedades privadas no país saltaram de 238 milhões para 244 milhões de hectares. São Paulo: O Globo, 09 jan, 2015. Acessado em 10.11.2015. Disponível em http://oglobo.globo.com/brasil/concentracao-de-terra-cresce-latifundios-equivalem-quase-tres-estados-de-sergipe-15004053
  • 3. A manutenção do elevado índice de concentração de terras no Brasil, medido pelo índice de Gini4, apresentou o insignificante recuo de 0,836 para 0,820 em mais de 40 anos. Como consequência, tem aumentado a violência no campo, decorrente de conflitos fundiários: em 2013, ocorreram 34 assassinatos; em 2014, 36 assassinatos5; em 2015, somente até julho, foram registrados 23 homicídios por conflitos fundiários, 21 deles em apenas 2 estados da Amazônicos – Pará e Rondônia6. Este trabalho não tem por objetivo discutir as causas da ineficácia da política pública de reforma agrária, executada pelo INCRA, mas apresentar sua fundamentação jurídica a partir do Estatuto da Terra. 4 Desenvolvido pelo matemático italiano Corrado Gini, o Coeficiente de Gini é um parâmetro internacional usado para medir a desigualdade de distribuição de renda entre os países. Também é usado para medir a distribuição de recursos naturais, especialmente o solo. O resultado da medição é denominado de Índice de Gini. O coeficiente varia entre 0 e 1, sendo que quanto mais próximo do zero menor é a desigualdade na distribuição do recurso e, consequentemente, melhor a distribuição; quanto mais próximo do um, maior a concentração do recurso e pior é a distribuição. O índice Gini é apresentado em pontos percentuais (coeficiente x 100). 5 CTP. Comissão Pastoral da Terra. Violência cresce no campo em 2014. Goiânia, GO: Assessoria de Comunicação da Secretaria Nacional, 2014. Acessado em 10.11.2015. Disponível em http://www.cptnacional.org.br/index.php/downloads/finish/55-dados-2014/2410-release-violencia-cresce- no-campo-em-2014-cpt-assessoria-de-comunicacao 6 CTP. Comissão Pastoral da Terra. CPT registra 23 mortes no campo somente no primeiro semestre de 2015. Goiânia, GO: Assessoria de Comunicação Nacional, 2015. Acessado em 11.11.2015. Disponível em http://www.cptnacional.org.br/index.php/publicacoes-2/destaque/2740-cpt- registra-23-mortes-no-campo-somente-no-primeiro-semestre-de-2015
  • 4. O objeto do Estatuto da Terra é dicotômico: a execução da reforma agrária e promoção da política agrícola. Art. 1° Esta Lei regula os direitos e obrigações concernentes aos bens imóveis rurais, para os fins de execução da Reforma Agrária e promoção da Política Agrícola. A Reforma Agrária é parte do objeto dicotômico do Estatuto da Terra e visa promover melhor distribuição de terra, mediante modificação do regime de sua posse e uso. É definida como Art. 1º. Esta Lei regula... § 1°. Considera-se Reforma Agrária o conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento de produtividade.
  • 5. A Reforma Agrária visa promover melhor distribuição de terra, mediante modificação do regime de sua posse e uso. Na Constituição da República, encontra-se disciplinada nos Arts. 184-185 e 188-189, ex vi: Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. § 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. § 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação. § 3º Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação. § 4º O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o montante de recursos para atender ao programa de reforma agrária no exercício. § 5º São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária.
  • 6. Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva. Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social. Art. 188. A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com a política agrícola e com o plano nacional de reforma agrária. § 1º A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do Congresso Nacional. § 2º Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as alienações ou as concessões de terras públicas para fins de reforma agrária. Art. 189. Os beneficiários da distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária receberão títulos de domínio ou de concessão de uso, inegociáveis pelo prazo de dez anos. Parágrafo único. O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil, nos termos e condições previstos em lei.
  • 7. Infraconstitucionalmente, a Reforma Agrária encontra-se regulada na Lei nº 8.429, de 25 de fevereiro de 1993, que expressamente dispõe: Art. 2º A propriedade rural que não cumprir a função social prevista no art. 9º é passível de desapropriação, nos termos desta lei, respeitados os dispositivos constitucionais. (Regulamento) § 1º Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social. § 2o Para os fins deste artigo, fica a União, através do órgão federal competente, autorizada a ingressar no imóvel de propriedade particular para levantamento de dados e informações, mediante prévia comunicação escrita ao proprietário, preposto ou seu representante. (Redação dada pela MP nº 2.183-56, de 2001) § 3o Na ausência do proprietário, do preposto ou do representante, a comunicação será feita mediante edital, a ser publicado, por três vezes consecutivas, em jornal de grande circulação na capital do Estado de localização do imóvel. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001) § 4o Não será considerada, para os fins desta Lei, qualquer modificação, quanto ao domínio, à dimensão e às condições de uso do imóvel, introduzida ou ocorrida até seis meses após a data da comunicação para levantamento de dados e informações de que tratam os §§ 2o e 3o. (Incluído pela MP nº 2.183-56, de 2001) § 5o No caso de fiscalização decorrente do exercício de poder de polícia, será dispensada a comunicação de que tratam os §§ 2o e 3o. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001)
  • 8. § 6o O imóvel rural de domínio público ou particular objeto de esbulho possessório ou invasão motivada por conflito agrário ou fundiário de caráter coletivo não será vistoriado, avaliado ou desapropriado nos dois anos seguintes à sua desocupação, ou no dobro desse prazo, em caso de reincidência; e deverá ser apurada a responsabilidade civil e administrativa de quem concorra com qualquer ato omissivo ou comissivo que propicie o descumprimento dessas vedações. (Incluído pela MP nº 2.183-56, de 2001) § 7o Será excluído do Programa de Reforma Agrária do Governo Federal quem, já estando beneficiado com lote em Projeto de Assentamento, ou sendo pretendente desse benefício na condição de inscrito em processo de cadastramento e seleção de candidatos ao acesso à terra, for efetivamente identificado como participante direto ou indireto em conflito fundiário que se caracterize por invasão ou esbulho de imóvel rural de domínio público ou privado em fase de processo administrativo de vistoria ou avaliação para fins de reforma agrária, ou que esteja sendo objeto de processo judicial de desapropriação em vias de imissão de posse ao ente expropriante; e bem assim quem for efetivamente identificado como participante de invasão de prédio público, de atos de ameaça, seqüestro ou manutenção de servidores públicos e outros cidadãos em cárcere privado, ou de quaisquer outros atos de violência real ou pessoal praticados em tais situações. (Incluído pela MP nº 2.183-56, de 2001) § 8o A entidade, a organização, a pessoa jurídica, o movimento ou a sociedade de fato que, de qualquer forma, direta ou indiretamente, auxiliar, colaborar, incentivar, incitar, induzir ou participar de invasão de imóveis rurais ou de bens públicos, ou em conflito agrário ou fundiário de caráter coletivo, não receberá, a qualquer título, recursos públicos. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001) § 9o Se, na hipótese do § 8o, a transferência ou repasse dos recursos públicos já tiverem sido autorizados, assistirá ao Poder Público o direito de retenção, bem assim o de rescisão do contrato, convênio ou instrumento similar. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001)
  • 9. Art. 2o-A. Na hipótese de fraude ou simulação de esbulho ou invasão, por parte do proprietário ou legítimo possuidor do imóvel, para os fins dos §§ 6o e 7o do art. 2o, o órgão executor do Programa Nacional de Reforma Agrária aplicará pena administrativa de R$ 55.000,00 (cinqüenta e cinco mil reais) a R$ 535.000,00 (quinhentos e trinta e cinco mil reais) e o cancelamento do cadastro do imóvel no Sistema Nacional de Cadastro Rural, sem prejuízo das demais sanções penais e civis cabíveis. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001) Parágrafo único. Os valores a que se refere este artigo serão atualizados, a partir de maio de 2000, no dia 1o de janeiro de cada ano, com base na variação acumulada do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna - IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas, no respectivo período. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001)
  • 10. Art. 5º A desapropriação por interesse social, aplicável ao imóvel rural que não cumpra sua função social, importa prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária. § 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. § 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor ação de desapropriação. § 3º Os títulos da dívida agrária, que conterão cláusula assecuratória de preservação de seu valor real, serão resgatáveis a partir do segundo ano de sua emissão, em percentual proporcional ao prazo, observados os seguintes critérios: I - do segundo ao décimo quinto ano, quando emitidos para indenização de imóvel com área de até setenta módulos fiscais; (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001) II - do segundo ao décimo oitavo ano, quando emitidos para indenização de imóvel com área acima de setenta e até cento e cinqüenta módulos fiscais; e (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001) III - do segundo ao vigésimo ano, quando emitidos para indenização de imóvel com área superior a cento e cinqüenta módulos fiscais. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001)
  • 11. § 4o No caso de aquisição por compra e venda de imóveis rurais destinados à implantação de projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agrária, nos termos desta Lei e da Lei no 4.504, de 30 de novembro de 1964, e os decorrentes de acordo judicial, em audiência de conciliação, com o objetivo de fixar a prévia e justa indenização, a ser celebrado com a União, bem como com os entes federados, o pagamento será efetuado de forma escalonada em Títulos da Dívida Agrária - TDA, resgatáveis em parcelas anuais, iguais e sucessivas, a partir do segundo ano de sua emissão, observadas as seguintes condições: (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001) I - imóveis com área de até três mil hectares, no prazo de cinco anos; (MP nº 2.183-56) II - imóveis com área superior a três mil hectares: (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56) a) o valor relativo aos primeiros três mil hectares, no prazo de cinco anos; (MP nº 2.183-56/2001) b) o valor relativo à área superior a três mil e até dez mil hectares, em dez anos; (MP nº 2.183-56) c) o valor relativo à área superior a dez mil hectares até quinze mil hectares, em quinze anos; e (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001) d) o valor da área que exceder quinze mil hectares, em vinte anos. (Incluído pela MP nº 2.183-56) § 5o Os prazos previstos no § 4o, quando iguais ou superiores a dez anos, poderão ser reduzidos em cinco anos, desde que o proprietário concorde em receber o pagamento do valor das benfeitorias úteis e necessárias integralmente em TDA. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001) § 6o Aceito pelo proprietário o pagamento das benfeitorias úteis e necessárias em TDA, os prazos de resgates dos respectivos títulos serão fixados mantendo-se a mesma proporcionalidade estabelecida para aqueles relativos ao valor da terra e suas acessões naturais. (Incluído pela MP nº 2.183-56/2001)
  • 12. . Art. 6º Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão federal competente § 1º O grau de utilização da terra, para efeito do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a 80% (oitenta por cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável total do imóvel. § 2º O grau de eficiência na exploração da terra deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento), e será obtido de acordo com a seguinte sistemática: I - para os produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos respectivos índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea; II - para a exploração pecuária, divide-se o número total de Unidades Animais (UA) do rebanho, pelo índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea; III - a soma dos resultados obtidos na forma dos incisos I e II deste artigo, dividida pela área efetivamente utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau de eficiência na exploração. § 3º Considera-se efetivamente utilizadas: I - as áreas plantadas com produtos vegetais; II - as áreas de pastagens nativas e plantadas, observado o índice de lotação por zona de pecuária, fixado pelo Poder Executivo;
  • 13. . Art. 7º Não será passível de desapropriação, para fins de reforma agrária, o imóvel que comprove estar sendo objeto de implantação de projeto técnico que atenda aos seguintes requisitos: I - seja elaborado por profissional legalmente habilitado e identificado; II - esteja cumprindo o cronograma físico-financeiro originalmente previsto, não admitidas prorrogações dos prazos; III - preveja que, no mínimo, 80% (oitenta por cento) da área total aproveitável do imóvel seja efetivamente utilizada em, no máximo, 3 (três) anos para as culturas anuais e 5 (cinco) anos para as culturas permanentes; IV - haja sido aprovado pelo órgão federal competente, na forma estabelecida em regulamento, no mínimo seis meses antes da comunicação de que tratam os §§ 2o e 3o do art. 2o. (MP nº 2.183-56) Parágrafo único. Os prazos previstos no inciso III deste artigo poderão ser prorrogados em até 50% (cinqüenta por cento), desde que o projeto receba, anualmente, a aprovação do órgão competente para fiscalização e tenha sua implantação iniciada no prazo de 6 (seis) meses, contado de sua aprovação. Art. 8º Ter-se-á como racional e adequado o aproveitamento de imóvel rural, quando esteja oficialmente destinado à execução de atividades de pesquisa e experimentação que objetivem o avanço tecnológico da agricultura. Parágrafo único. Para os fins deste artigo só serão consideradas as propriedades que tenham destinados às atividades de pesquisa, no mínimo, 80% (oitenta por cento) da área total aproveitável do imóvel, sendo consubstanciadas tais atividades em projeto: I - adotado pelo Poder Público, se pertencente a entidade de administração direta ou indireta, ou a empresa sob seu controle; II - aprovado pelo Poder Público, se particular o imóvel.
  • 14. Art. 9º A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo graus e critérios estabelecidos nesta lei, os seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. § 1º Considera-se racional e adequado o aproveitamento que atinja os graus de utilização da terra e de eficiência na exploração especificados nos §§ 1º a 7º do art. 6º desta lei. § 2º Considera-se adequada a utilização dos recursos naturais disponíveis quando a exploração se faz respeitando a vocação natural da terra, de modo a manter o potencial produtivo da propriedade. § 3º Considera-se preservação do meio ambiente a manutenção das características próprias do meio natural e da qualidade dos recursos ambientais, na medida adequada à manutenção do equilíbrio ecológico da propriedade e da saúde e qualidade de vida das comunidades vizinhas. § 4º A observância das disposições que regulam as relações de trabalho implica tanto o respeito às leis trabalhistas e aos contratos coletivos de trabalho, como às disposições que disciplinam os contratos de arrendamento e parceria rurais. § 5º A exploração que favorece o bem-estar dos proprietários e trabalhadores rurais é a que objetiva o atendimento das necessidades básicas dos que trabalham a terra, observa as normas de segurança do trabalho e não provoca conflitos e tensões sociais no imóvel. § 6º (Vetado.)
  • 15. A desapropriação de imóvel rural por interesse social, para fins de reforma agrária, regulada pela Lei Comp nº 76, de 6.7.1993, é feita por procedimento contraditório especial. Tarefa (1,0): Apresentar um resumo da Lei, que poderá ser usado na 3ª verificação de aprendizagem.
  • 16. A Política Agrícola, parte do objeto dicotômico do Estatuto da Terra, também é definida no art. 1º: Art. 1º. Esta Lei regula... § 2º Entende-se por Política Agrícola o conjunto de providências de amparo à propriedade da terra, que se destinem a orientar, no interesse da economia rural, as atividades agropecuárias, seja no sentido de garantir-lhes o pleno emprego, seja no de harmonizá-las com o processo de industrialização do país.
  • 17. Na Constituição da República, a Política Agrícola está regida pelo art. 187: Art. 187. A política agrícola será planejada e executada na forma da lei, com a participação efetiva do setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como dos setores de comercialização, de armazenamento e de transportes, levando em conta, especialmente: I - os instrumentos creditícios e fiscais; II - os preços compatíveis com os custos de produção e a garantia de comercialização; III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia; IV - a assistência técnica e extensão rural; V - o seguro agrícola; VI - o cooperativismo; VII - a eletrificação rural e irrigação; VIII - a habitação para o trabalhador rural. § 1º Incluem-se no planejamento agrícola as atividades agro-industriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais. § 2º Serão compatibilizadas as ações de política agrícola e de reforma agrária.
  • 18. Infraconstitucionalmente, Política Agrícola está regulada pela Lei nº 8.171, de 17.01.1991: Art. 1° Esta lei fixa os fundamentos, define os objetivos e as competências institucionais, prevê os recursos e estabelece as ações e instrumentos da política agrícola, relativamente às atividades agropecuárias, agroindustriais e de planejamento das atividades pesqueira e florestal. Parágrafo único. Para os efeitos desta lei, entende-se por atividade agrícola a produção, o processamento e a comercialização dos produtos, subprodutos e derivados, serviços e insumos agrícolas, pecuários, pesqueiros e florestais. Art. 2° A política fundamenta-se nos seguintes pressupostos: I - a atividade agrícola compreende processos físicos, químicos e biológicos, onde os recursos naturais envolvidos devem ser utilizados e gerenciados, subordinando-se às normas e princípios de interesse público, de forma que seja cumprida a função social e econômica da propriedade; II - o setor agrícola é constituído por segmentos como: produção, insumos, agroindústria, comércio, abastecimento e afins, os quais respondem diferenciadamente às políticas públicas e às forças de mercado; III - como atividade econômica, a agricultura deve proporcionar, aos que a ela se dediquem, rentabilidade compatível com a de outros setores da economia; IV - o adequado abastecimento alimentar é condição básica para garantir a tranqüilidade social, a ordem pública e o processo de desenvolvimento econômico-social; V - a produção agrícola ocorre em estabelecimentos rurais heterogêneos quanto à estrutura fundiária, condições edafoclimáticas, disponibilidade de infra-estrutura, capacidade empresarial, níveis tecnológicos e condições sociais, econômicas e culturais; VI - o processo de desenvolvimento agrícola deve proporcionar ao homem do campo o acesso aos serviços essenciais: saúde, educação, segurança pública, transporte, eletrificação, comunicação, habitação, saneamento, lazer e outros benefícios sociais.
  • 19. Art. 3° São objetivos da política agrícola: I - na forma como dispõe o art. 174 da Constituição, o Estado exercerá função de planejamento, que será determinante para o setor público e indicativo para o setor privado, destinado a promover, regular, fiscalizar, controlar, avaliar atividade e suprir necessidades, visando assegurar o incremento da produção e da produtividade agrícolas, a regularidade do abastecimento interno, especialmente alimentar, e a redução das disparidades regionais; II - sistematizar a atuação do Estado para que os diversos segmentos intervenientes da agricultura possam planejar suas ações e investimentos numa perspectiva de médio e longo prazos, reduzindo as incertezas do setor; III - eliminar as distorções que afetam o desempenho das funções econômica e social da agricultura; IV - proteger o meio ambiente, garantir o seu uso racional e estimular a recuperação dos recursos naturais; V - (Vetado); VI - promover a descentralização da execução dos serviços públicos de apoio ao setor rural, visando a complementariedade de ações com Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios, cabendo a estes assumir suas responsabilidades na execução da política agrícola, adequando os diversos instrumentos às suas necessidades e realidades; VII - compatibilizar as ações da política agrícola com as de reforma agrária, assegurando aos beneficiários o apoio à sua integração ao sistema produtivo; VIII - promover e estimular o desenvolvimento da ciência e da tecnologia agrícola pública e privada, em especial aquelas voltadas para a utilização dos fatores de produção internos; IX - possibilitar a participação efetiva de todos os segmentos atuantes no setor rural, na definição dos rumos da agricultura brasileira; X - prestar apoio institucional ao produtor rural, com prioridade de atendimento ao pequeno produtor e sua família; XI - estimular o processo de agroindustrialização junto às respectivas áreas de produção; XII - (Vetado); XIII – promover a saúde animal e a sanidade vegetal; (Inciso incluído pela Lei nº 10.298, de 30.10.2001) XIV – promover a idoneidade dos insumos e serviços empregados na agricultura; (incluído pela Lei nº 10.298/2001) XV – assegurar a qualidade dos produtos de origem agropecuária, seus derivados e resíduos de valor econômico; (Idem) XVI – promover a concorrência leal entre os agentes que atuam nos setores e a proteção destes em relação a práticas desleais e a riscos de doenças e pragas exóticas no País; (Inciso incluído pela Lei nº 10.298, de 30.10.2001) XVII – melhorar a renda e a qualidade de vida no meio rural. (Inciso incluído pela Lei nº 10.298, de 30.10.2001)
  • 20. Art. 4° As ações e instrumentos de política agrícola referem-se a: I - planejamento agrícola; II - pesquisa agrícola tecnológica; III - assistência técnica e extensão rural; IV - proteção do meio ambiente, conservação e recuperação dos recursos naturais; V - defesa da agropecuária; VI - informação agrícola; VII - produção, comercialização, abastecimento e armazenagem; VIII - associativismo e cooperativismo; IX - formação profissional e educação rural; X - investimentos públicos e privados; XI - crédito rural; XII - garantia da atividade agropecuária; XIII - seguro agrícola; XIV - tributação e incentivos fiscais; XV - irrigação e drenagem; XVI - habitação rural; XVII - eletrificação rural; XVIII - mecanização agrícola; XIX - crédito fundiário. Parágrafo único. Os instrumentos de política agrícola deverão orientar-se pelos planos plurianuais. (Incluído pela Lei nº 10.246, de 2 de julho de 2001)
  • 22. 1) A quem compete desapropriar para fins de reforma agrária? 2) Quais as formalidades legais para desapropriação de imóvel rural para fins de reforma agrária? 3) A quem compete promover a ação judicial de desapropriação de imóvel rural para fins de reforma agrária? 4) A quem compete julgar a ação de desapropriação de imóvel rural para fins de reforma agrária e qual o rito estabelecido em lei? 5) Que formalidade legal é prevista em lei para a entrega de lotes de projeto de assentamento de reforma agrária aos beneficiários? 6) Como é pago o imóvel rural desapropriado por interesse social para fins de reforma agrária? 7) As ações de política agrícola devem ser compatibilizadas com as de reforma agrária? Por que? 8) Quais as duas diferenças fundamentais entre política de reforma agrária e política de colonização? 9) Imóvel rural invadido pode ser vistoriado e desapropriado para fins de reforma agrária? Explique.
  • 23. José Farias de Souza Filho Promotor de Justiça de Defesa do Meio Ambiente na Capital da Paraíba Professor de Direito no Centro Universitário de João Pessoa Doutor em Psicologia Social (UFPB, 2014) Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UFPB, 2010) Especialista em Direito (UFPB, 1983). Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais (UFPB, 1982). Pró-Reitoria de Ensino de Graduação Coordenação do Curso de Direito Conflitos fundiários e REFORMA AGRÁRIA no brasil