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Como Construir Paredes de Taipa
INTRODUÇÃO
Trazida no período colonial pelos portugueses, a "taipa de pilão" consistia em
utilizar uma mistura- de argila, areia e água para formar as paredes através do
seu apiloamento em camadas, dentro de uma grande forma de tábuas, já
com a espessura desejada, até formar uma massa coesa e compacta.
Difundiu-se em todo o Brasil, principalmente pelo movimento bandeirista, mas
caracterizou especialmente o Planalto Paulista e o interior, distantes dos
materiais usados no litoral (pedras, óleo de baleia) ou dos trazidos pela
metrópole.
O que iremos acompanhar aqui está baseado numa técnica aprimorada
dessa prática milenar, pelo arquiteto americano David Easton, na construção
de um protótipo habitacional (7x7m) em Pindamonhangaba, Vale do Paraíba
- SP.
RECOMENDAÇÕES INICIAIS
Para durar séculos, uma construção em terra crua tem de ter "um bom
chapéu e um bom par de botas", isto é: beirais largos e fundações acima do
piso.
Atuação da água na taipa sem proteção
Fonte: Revista PROJETO, n° 65
Adequação da técnica ao local de construção - considerar a facilidade de
obtenção de terra (do local ou de região próxima), Em locais com altos
índices pluviométricos, a drenagem deve estar bem dimensionada e com
beirais prote tores. A salinidade do litoral pode deteriorar a parede, devendo-
se protegê-Ia contra a infiltração desses grãos salinos.
Escolha do sítio - os principais parâmetros devem ser a possibilidade de boa
drenagem e um bom apoio para a fundação
1 2
1. Ideal: Terrenos naturalmente planos.
2. Não construir em baixadas.
3. Não construir em aterros.
Preparação das fundações (alicerces) - serve para distribuir igualmente o peso
das paredes no solo e impedir a capilaridade (fenômeno natural em que a
água pode subir do solo, infiltrando na base da parede), Deve ser do tipo
sapata corrida, ou seja, abaixo de toda a extensão da parede de taipa,
Conforme a disponibilidade de materiais, em ordem crescente de eficiência,
apresentamos três sugestões:
SEM CIMENTO: camadas de solo apiloado, rachão e brita compactadas.
CONCRETO CICLÓPICO: mistura de pedras e um concreto magro
1:3:6 (cimento, areia grossa, brita 3, com uma cinta de concreto
impermeabilizada com asfalto frio ou nata de vedacit).
DE CONCRETO ARMADO: com 3 barras de ferro 3/8. Pode-se também utilizar
blocos de concreto "U" preenchidos com concreto. Impermeabilizar.
Obs.: Estas dimensões são para um solo de bom apoio. Na dúvida. peça
sempre orientação técnica especializada.
SELEÇÃO E DOSAGEM DO SOLO
A boa qualidade da taipa depende, principalmente, de 2 etapas: a seleção /
dosagem do solo e a compactação.
Para a escolha do solo que irá compor a massa da taipa, é interessante pegar
amostras da região (para facilitar seu transporte) ou do próprio local, caso
haja esta disponibilidade. Ignorar a primeira camada de terra, cerca de 30
cm, que é aquela terra boa para horta e ruim para a taipa. Estas amostras
devem passar por um teste de granulometria que identificará as porcentagens
de areia, argila e silte que compõem o solo. A areia dá resistência. A argila dá
liga aos grãos. O silte não tem peso como a areia e não dá liga, só aumenta a
densidade do solo.
O melhor é fazer o teste em laboratório, mas existem alguns métodos
alternativos rápidos, como por exemplo, o teste do pote de vidro:
1. Colocar amostra até a metade e completar com água.
2. Agitar bem.
3. Esperar as partículas se assentarem e verificar a porcentagem das camadas.
As mais pesadas ficarão no fundo. A porcentagem ideal é de 30% de argila e
70% de areia. Caso não se encontre naturalmente estas condições, deve-se
acrescentar mais areia ou argila ao solo, até atingi-las. É importante revolver e
peneirar a mistura para uniformizá-la e eliminar raízes e pedriscos.
Conseguida a mistura ideal, deve-se umedecê-la na véspera do uso. Fazer a
verificação da umidade apertando um punhado de terra e deixá-lo cair de 1
m de altura: se o punhado de terra não se partir, está muito úmido; se esfarelar
está muito seco; se partir em alguns pedaços, está bom. Proteger a mistura da
chuva, em caso de armazenagem
VOLUME DE TERRA NECESSÁRIO
m2 de parede x espessura da parede x 1,60 = volume de terra necessário [m3]
MATERIAIS PARA A FORMA E COMPACTAÇÃO
Para paredes de uma casa térrea, com pé-direito de 2,75 m e espessura de
0,45 m, podem ser utilizados os seguintes materiais:
Placas de compensado laterais feitas de chapas padrão de compensado de
20mm. O ideal é do tipo naval resinado. Caso não seja possível, basta untar a
parte interna com óleo diesel. São 2 placas com h=I,60m e com h=1,l5.
2 placas de compensado finas para fechar a caixa das fôrmas e espaçadores
(usados nas "quinas" das casa, quando não tivermos uma das placas finais.
Garante a espessura de 45 cm das paredes).Serrar as medidas ao lado: 16
tábuas laterais (estrutura de caixa da forma que servirá como andaime) 0,12 x
0,06 x 2,80m; 16 canos de ferro galvanizado 3/4 "rosqueados em um dos lados,
comp.= 1,0m; 16 conjuntos de presilhas para encaixar nos canos de ferro e
comprimir as pranchas.
OBS: As formas para este caso foram as mais simples possíveis. Havendo
possibilidade, pode-se sofisticá-las para melhorar seus acabamentos: chanfros,
formas especiais para as quinas, para as janelas etc.
PASSOS PARA EXECUÇÃO DA CASA
1. Montagem da forma
- Montar as placas finais e laterais.
- Colocar os canos de ferro.
- Montar as tábuas laterais (andaimes) e prendê-las com as presilhas.
- Verificar e acertar os prumos.
PLACAS FINAIS
PLACAS LATERAIS
CORTE: detalhe da forma.
- PRIMEIRA FASE DE COMPACTAÇÃO
- TÁBUAS QUE SERVIRÃO COMO ANDAIMES PARA MONTAR SEGUNDA FASE.
- SEGUNDA FASE DE COMPACTAÇÃO
2. Compactação
- A cada 15 cm de mistura jogada na forma, compacta-se até sentir o som
mais pesado. Mais 15 cm e compacta-se novamente até concluir a "1" fase"
(placa de 1,60 m). Quando faltar cerca de 20 cm, montar a "2" fase" (placa de
1,15 m) e compactar até o topo.
Mecanizado : Pode-se jogar até 10 latas (181)= 20 a 30 cm de altura da mistura
por vez.
Manual: Joga-se cerca de 5 latas (181)= 15 cm de altura da mistura e
compacta até sentir um som mais "pesado".
Importante: compactar bem as bordas, depois o meio. É uma das fases mais
importantes do processo. Mal compactado, a parede não terá coesão
suficiente e poderá desmoronar.
3. Desmontagem das formas
- Pode ser feito assim que terminar de compactar.
- Soltar as presilhas, puxar os canos de ferro, retirar as tábuas laterais e placas
laterais e finais.
ACIMA: vista panorâmica da casa
ABAIXO: desmontagem de forma e parede pronta
COLOCAÇÃO DE PORTAS E JANELAS
Os fechamentos até a altura dos caixilhos e acima destes podem ser feitos
com tijolos. A amarração com as paredes é feita através de um rasgo na taipa
com machadinha. A argamassa de assentamento pode ser a seguinte: IO
partes da mistura de terra mais I parte de cimento, e água suficiente para
formar uma pasta, deixando-a descansar de um dia para o outro.
Perfurar e pregar os montantes nas laterais das da taipa para melhor
acabamento, este fechamento deve coincidir com o frechal da cobertura.
Detalhe: arremate da janela com uma mistura mais arenosa de terra.
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS E ELÉTRICAS
Lembrar que o que dá resistência e estabilidade à parede é a compacidade
de sua massa. Tudo o que vier a alterar essa estabilidade deve ser evitado.
Portanto, no caso de embutir as instalações elétricas, deve-se prever todas as
possibilidades de ampliações ou deixá-las aparentes. As instalações hidráulicas
não devem ser embutidas, pois não há possibilidade de manutenção, uma vez
que a parede de taipa é autoportante. Paredes hidráulicas podem ser em
alvenaria comum ou outro sistema que permita fácil manutenção.
COBERTURA E REVESTIMENTOS
- Como já dissemos, para a correta conservação da parede de taipa, deve-se
protegê-la com "botas e chapéu de abas largas", ou seja, alicerces que
garantam que a água não suba e coberturas com largos beirais, o mínimo
necessário para evitar que a chuva trazida pelo vento atinja as paredes de
maneira muito forte.
- Da mesma forma, a drenagem do entorno da construção deve ser bem
pensada para evitar infiltrações indesejáveis, principalmente, nas regiões de
altos índices pluviométricos.
- Numerar a estrutura da cobertura no chão, ao lado da casa, para adiantar
sua montagem assim que as paredes estiverem prontas, pois é importante que
estas não tomem chuva. As tábuas utilizadas nas formas podem ser
reaproveitadas para a cobertura.
Cobrir a casa o mais rápido possível, caso não seja possível, proteger as
paredes com lona.
- O revestimento pode ser feito com uma argamassa de terra (1 de cal; 4 de
areia; 2 de terra) que permite o "respiro" da parede e "acusa" logo qualquer
infiltração que tenha ocorrido. A argamassa de cimento, apesar de ser mais
impermeável, tem coeficiente de expansão diferente da terra e pode
descolar com o tempo, além de "camuflar", inicialmente, infiltrações.
Obs: os insetos instalam-se em ambientes que propiciam seu desenvolvimento.
Portanto, é importante manter sempre a assepsia da construção. Boa limpeza
e frequente manutenção para evitar frestas e "buracos" por onde os insetos
entram e se desenvolvem.
Acima: a casa sem o revestimento
Abaixo: chapiscar a argamassa de terra na parede umedecida e desempená-
la. Depois pode fazer uma caiação na cor desejada (no nosso caso, branco).
ESTRA TÉGIA DE CONSTRUÇÃO
- Para melhor rendimento do trabalho, construa as paredes dos cantos e,
depois, as internas, para acertar o alinhamento.
- Deixar os vãos para portas e janelas.
- A largura desses módulos de parede (formas) é variável. Construa todas as
paredes com a maior forma, depois serre-as, transformando-as em um módulo
menor, fechando os vãos.
Portanto, projete a obra com os tamanhos convenientes.
- Amarração das paredes é no sistema macho-fêmea, que pode ser feita
anexando uma tábua de madeira (4 x 10 cm) em uma das placas finais para
formar o encaixe "fêmea"; ou, como no caso do protótipo, simplificadamente
abrir um "rasgo" na lateral da parede.
DETALHE: arremate da quina feita com rasgo de machadinha. Havendo
condições, o ideal é fazer uma forma exclusiva para as quinas.
Arremate da quina feita com rasgo de machadinha.
Havendo condições, o ideal é fazer uma forma exclusiva para as quinas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A nossa experiência em construção de terra crua está apenas no início e
esperamos contar com apoio e a iniciativa de outros para podermos
desenvolver e aprimorar essa tecnologia.
Abandonada há aproximadamente 150 anos, essa técnica é vista hoje como
uma alternativa para a construção civil. Importante- é levantar o assunto,
pesquisar, trabalhar e fazer novas experiências junto com outras técnicas
praticadas atualmente.
Botar a mão na massa, na terra, e levantar paredes, foi para nós mais que um
exercício de aprendizado. É uma nova perspectiva que se abre, com pés na
terra e olhando para o futuro, de uma construção mais racional, mais simples e
mais humana.
"Os arquitetos nos anos 90 devem preocupar-se em criar moradias através do
uso inteligente das reservas do planeta."
EASTON, David.
(Transcrição do folheto desenvolvido a partir do workshop sobre paredes de
taipa ministrado pelo arq° David Easton e equipe, para protótipo habitacional
em Pindamonhangaba, SP, outubro de 1994)

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Como construir paredes de taipa

  • 1. Como Construir Paredes de Taipa INTRODUÇÃO Trazida no período colonial pelos portugueses, a "taipa de pilão" consistia em utilizar uma mistura- de argila, areia e água para formar as paredes através do seu apiloamento em camadas, dentro de uma grande forma de tábuas, já com a espessura desejada, até formar uma massa coesa e compacta. Difundiu-se em todo o Brasil, principalmente pelo movimento bandeirista, mas caracterizou especialmente o Planalto Paulista e o interior, distantes dos materiais usados no litoral (pedras, óleo de baleia) ou dos trazidos pela metrópole. O que iremos acompanhar aqui está baseado numa técnica aprimorada dessa prática milenar, pelo arquiteto americano David Easton, na construção de um protótipo habitacional (7x7m) em Pindamonhangaba, Vale do Paraíba - SP. RECOMENDAÇÕES INICIAIS Para durar séculos, uma construção em terra crua tem de ter "um bom chapéu e um bom par de botas", isto é: beirais largos e fundações acima do piso.
  • 2. Atuação da água na taipa sem proteção Fonte: Revista PROJETO, n° 65 Adequação da técnica ao local de construção - considerar a facilidade de obtenção de terra (do local ou de região próxima), Em locais com altos índices pluviométricos, a drenagem deve estar bem dimensionada e com beirais prote tores. A salinidade do litoral pode deteriorar a parede, devendo- se protegê-Ia contra a infiltração desses grãos salinos. Escolha do sítio - os principais parâmetros devem ser a possibilidade de boa drenagem e um bom apoio para a fundação 1 2 1. Ideal: Terrenos naturalmente planos. 2. Não construir em baixadas. 3. Não construir em aterros. Preparação das fundações (alicerces) - serve para distribuir igualmente o peso das paredes no solo e impedir a capilaridade (fenômeno natural em que a água pode subir do solo, infiltrando na base da parede), Deve ser do tipo sapata corrida, ou seja, abaixo de toda a extensão da parede de taipa, Conforme a disponibilidade de materiais, em ordem crescente de eficiência, apresentamos três sugestões:
  • 3. SEM CIMENTO: camadas de solo apiloado, rachão e brita compactadas. CONCRETO CICLÓPICO: mistura de pedras e um concreto magro 1:3:6 (cimento, areia grossa, brita 3, com uma cinta de concreto impermeabilizada com asfalto frio ou nata de vedacit). DE CONCRETO ARMADO: com 3 barras de ferro 3/8. Pode-se também utilizar blocos de concreto "U" preenchidos com concreto. Impermeabilizar. Obs.: Estas dimensões são para um solo de bom apoio. Na dúvida. peça sempre orientação técnica especializada.
  • 4. SELEÇÃO E DOSAGEM DO SOLO A boa qualidade da taipa depende, principalmente, de 2 etapas: a seleção / dosagem do solo e a compactação. Para a escolha do solo que irá compor a massa da taipa, é interessante pegar amostras da região (para facilitar seu transporte) ou do próprio local, caso haja esta disponibilidade. Ignorar a primeira camada de terra, cerca de 30 cm, que é aquela terra boa para horta e ruim para a taipa. Estas amostras devem passar por um teste de granulometria que identificará as porcentagens de areia, argila e silte que compõem o solo. A areia dá resistência. A argila dá liga aos grãos. O silte não tem peso como a areia e não dá liga, só aumenta a densidade do solo. O melhor é fazer o teste em laboratório, mas existem alguns métodos alternativos rápidos, como por exemplo, o teste do pote de vidro: 1. Colocar amostra até a metade e completar com água. 2. Agitar bem. 3. Esperar as partículas se assentarem e verificar a porcentagem das camadas. As mais pesadas ficarão no fundo. A porcentagem ideal é de 30% de argila e 70% de areia. Caso não se encontre naturalmente estas condições, deve-se acrescentar mais areia ou argila ao solo, até atingi-las. É importante revolver e peneirar a mistura para uniformizá-la e eliminar raízes e pedriscos. Conseguida a mistura ideal, deve-se umedecê-la na véspera do uso. Fazer a verificação da umidade apertando um punhado de terra e deixá-lo cair de 1 m de altura: se o punhado de terra não se partir, está muito úmido; se esfarelar está muito seco; se partir em alguns pedaços, está bom. Proteger a mistura da chuva, em caso de armazenagem VOLUME DE TERRA NECESSÁRIO m2 de parede x espessura da parede x 1,60 = volume de terra necessário [m3] MATERIAIS PARA A FORMA E COMPACTAÇÃO Para paredes de uma casa térrea, com pé-direito de 2,75 m e espessura de
  • 5. 0,45 m, podem ser utilizados os seguintes materiais: Placas de compensado laterais feitas de chapas padrão de compensado de 20mm. O ideal é do tipo naval resinado. Caso não seja possível, basta untar a parte interna com óleo diesel. São 2 placas com h=I,60m e com h=1,l5. 2 placas de compensado finas para fechar a caixa das fôrmas e espaçadores (usados nas "quinas" das casa, quando não tivermos uma das placas finais. Garante a espessura de 45 cm das paredes).Serrar as medidas ao lado: 16 tábuas laterais (estrutura de caixa da forma que servirá como andaime) 0,12 x 0,06 x 2,80m; 16 canos de ferro galvanizado 3/4 "rosqueados em um dos lados, comp.= 1,0m; 16 conjuntos de presilhas para encaixar nos canos de ferro e comprimir as pranchas. OBS: As formas para este caso foram as mais simples possíveis. Havendo possibilidade, pode-se sofisticá-las para melhorar seus acabamentos: chanfros, formas especiais para as quinas, para as janelas etc. PASSOS PARA EXECUÇÃO DA CASA 1. Montagem da forma - Montar as placas finais e laterais. - Colocar os canos de ferro. - Montar as tábuas laterais (andaimes) e prendê-las com as presilhas. - Verificar e acertar os prumos.
  • 7. - PRIMEIRA FASE DE COMPACTAÇÃO - TÁBUAS QUE SERVIRÃO COMO ANDAIMES PARA MONTAR SEGUNDA FASE. - SEGUNDA FASE DE COMPACTAÇÃO
  • 8. 2. Compactação - A cada 15 cm de mistura jogada na forma, compacta-se até sentir o som mais pesado. Mais 15 cm e compacta-se novamente até concluir a "1" fase" (placa de 1,60 m). Quando faltar cerca de 20 cm, montar a "2" fase" (placa de 1,15 m) e compactar até o topo. Mecanizado : Pode-se jogar até 10 latas (181)= 20 a 30 cm de altura da mistura por vez. Manual: Joga-se cerca de 5 latas (181)= 15 cm de altura da mistura e compacta até sentir um som mais "pesado".
  • 9. Importante: compactar bem as bordas, depois o meio. É uma das fases mais importantes do processo. Mal compactado, a parede não terá coesão suficiente e poderá desmoronar. 3. Desmontagem das formas - Pode ser feito assim que terminar de compactar. - Soltar as presilhas, puxar os canos de ferro, retirar as tábuas laterais e placas laterais e finais. ACIMA: vista panorâmica da casa
  • 10. ABAIXO: desmontagem de forma e parede pronta COLOCAÇÃO DE PORTAS E JANELAS Os fechamentos até a altura dos caixilhos e acima destes podem ser feitos com tijolos. A amarração com as paredes é feita através de um rasgo na taipa com machadinha. A argamassa de assentamento pode ser a seguinte: IO partes da mistura de terra mais I parte de cimento, e água suficiente para formar uma pasta, deixando-a descansar de um dia para o outro. Perfurar e pregar os montantes nas laterais das da taipa para melhor acabamento, este fechamento deve coincidir com o frechal da cobertura.
  • 11. Detalhe: arremate da janela com uma mistura mais arenosa de terra. INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS E ELÉTRICAS Lembrar que o que dá resistência e estabilidade à parede é a compacidade de sua massa. Tudo o que vier a alterar essa estabilidade deve ser evitado. Portanto, no caso de embutir as instalações elétricas, deve-se prever todas as possibilidades de ampliações ou deixá-las aparentes. As instalações hidráulicas não devem ser embutidas, pois não há possibilidade de manutenção, uma vez que a parede de taipa é autoportante. Paredes hidráulicas podem ser em alvenaria comum ou outro sistema que permita fácil manutenção. COBERTURA E REVESTIMENTOS - Como já dissemos, para a correta conservação da parede de taipa, deve-se protegê-la com "botas e chapéu de abas largas", ou seja, alicerces que garantam que a água não suba e coberturas com largos beirais, o mínimo necessário para evitar que a chuva trazida pelo vento atinja as paredes de maneira muito forte. - Da mesma forma, a drenagem do entorno da construção deve ser bem pensada para evitar infiltrações indesejáveis, principalmente, nas regiões de altos índices pluviométricos.
  • 12. - Numerar a estrutura da cobertura no chão, ao lado da casa, para adiantar sua montagem assim que as paredes estiverem prontas, pois é importante que estas não tomem chuva. As tábuas utilizadas nas formas podem ser reaproveitadas para a cobertura. Cobrir a casa o mais rápido possível, caso não seja possível, proteger as paredes com lona. - O revestimento pode ser feito com uma argamassa de terra (1 de cal; 4 de areia; 2 de terra) que permite o "respiro" da parede e "acusa" logo qualquer infiltração que tenha ocorrido. A argamassa de cimento, apesar de ser mais impermeável, tem coeficiente de expansão diferente da terra e pode descolar com o tempo, além de "camuflar", inicialmente, infiltrações. Obs: os insetos instalam-se em ambientes que propiciam seu desenvolvimento. Portanto, é importante manter sempre a assepsia da construção. Boa limpeza e frequente manutenção para evitar frestas e "buracos" por onde os insetos entram e se desenvolvem.
  • 13. Acima: a casa sem o revestimento Abaixo: chapiscar a argamassa de terra na parede umedecida e desempená- la. Depois pode fazer uma caiação na cor desejada (no nosso caso, branco). ESTRA TÉGIA DE CONSTRUÇÃO - Para melhor rendimento do trabalho, construa as paredes dos cantos e, depois, as internas, para acertar o alinhamento. - Deixar os vãos para portas e janelas. - A largura desses módulos de parede (formas) é variável. Construa todas as paredes com a maior forma, depois serre-as, transformando-as em um módulo menor, fechando os vãos. Portanto, projete a obra com os tamanhos convenientes. - Amarração das paredes é no sistema macho-fêmea, que pode ser feita anexando uma tábua de madeira (4 x 10 cm) em uma das placas finais para
  • 14. formar o encaixe "fêmea"; ou, como no caso do protótipo, simplificadamente abrir um "rasgo" na lateral da parede. DETALHE: arremate da quina feita com rasgo de machadinha. Havendo condições, o ideal é fazer uma forma exclusiva para as quinas. Arremate da quina feita com rasgo de machadinha. Havendo condições, o ideal é fazer uma forma exclusiva para as quinas.
  • 15. CONSIDERAÇÕES FINAIS A nossa experiência em construção de terra crua está apenas no início e esperamos contar com apoio e a iniciativa de outros para podermos desenvolver e aprimorar essa tecnologia. Abandonada há aproximadamente 150 anos, essa técnica é vista hoje como uma alternativa para a construção civil. Importante- é levantar o assunto, pesquisar, trabalhar e fazer novas experiências junto com outras técnicas praticadas atualmente. Botar a mão na massa, na terra, e levantar paredes, foi para nós mais que um exercício de aprendizado. É uma nova perspectiva que se abre, com pés na terra e olhando para o futuro, de uma construção mais racional, mais simples e mais humana. "Os arquitetos nos anos 90 devem preocupar-se em criar moradias através do uso inteligente das reservas do planeta." EASTON, David. (Transcrição do folheto desenvolvido a partir do workshop sobre paredes de taipa ministrado pelo arq° David Easton e equipe, para protótipo habitacional em Pindamonhangaba, SP, outubro de 1994)