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FERNAND BRAUDEL
Biografia Intelectual e a Gramática das Civilizações
O indivíduo na história e a historiografia
■ Por que a vida de um historiador é relevante para entendermos a historiografia?
■ Historiografia: conjunto de obras que compõem a produção histórica; diferentes
visões sobre a escrita da história; metodologias
- Historiadores (homens e mulheres de ‘carne e osso’)
- Grupos, linhas de trabalho ‘escolas’ teóricas
- Instituições produtoras; infraestrutura dessa produção
- Contextos históricos x interesse pelo passado
- Objetos da história
■ Autor x obra
■ Transmissão de ideias x relações sociais
História, uma disciplina
■ Século XIX – Positivismo – Auguste Comte; Leopold Von Ranke
■ Aproximação do conhecimento científico: método, busca pela verdade, imparcial.
■ Fato histórico + Documento Escrito + Grandes Homens
■ Construção das histórias nacionais
■ No Brasil:
Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (1838) + Regionais
Outras Instituições de Memória: Arquivo Público do Império, Academia Imperial de Belas
Artes...
História Nacional – Francisco Adolfo de Varnhagen; História geral do Brasil (1854),
Império/República
Positivismo – Exército; Nação; Pensamento Republicano
■ Ideia de progresso (civilização x barbárie)
História, uma disciplina
■ Circulação internacional das ideias: ordem; redes; interesses
“Acredita-se frequentemente que a vida intelectual é espontaneamente internacional. Nada é mais
falso. A vida intelectual é lugar, como todos os outros espaços sociais, de nacionalismos e
imperialismos, e os intelectuais veiculam, quase tanto quanto os outros, preconceitos, estereótipos,
ideias prontas, representações muito sumárias, muito elementares (...).”
Pierre Bourdieu. ‘Les conditions sociales de la circulation internationale des idées’. In: Actes de la recherche en sciences sociales.
2002/5 n.145, p. 3-8.
■ França x Brasil : instituições do Império; missões francesas; livros;
“A admiração pela França constituiu um traço marcante das elites brasileiras desde os primórdios
da independência, momento em que se tornou urgente dotar o jovem país de uma identidade capaz
de lhe assegurar feições próprias .”
Tania Regina de Luca e Laurent Vidal, ‘Introdução’. In: Tania Regina de Luca e Laurent Vidal (org.), Franceses no Brasil. Séculos XIX
– XX, São Paulo, Editora Unesp, 2009, p. 9.
- Livreiros Franceses: Pierre Plancher (1824); Baptiste Louis Garnier (1844); Anatole
Louis Garraux (1863);
- Importações até 1912 + 50% dos livros vinham da França; Portugal não representava
25% do setor.
História, uma disciplina
■ No século XIX outras correntes teóricas e filosóficas impactam sobre
a produção histórica, como o Marxismo.
- Luta de classes – motor da história
■ Institucionalmente, organizam-se grupos de historiadores
- Revistas acadêmicas = veículos de debate
■ Na França:
- Revue Historique (1876): Escola Metódica; Gabriel Monod; Charles
Seignobos;
- Revue de Synthèse Historique (1900): Centre International de
Synthèse; Henri Berr;
História, uma Disciplina
■ Annales d’histoire économique et sociale (1929)
■ Crítica à “História dos Grandes Homens” (positivista, factual,
pretensa objetividade)
“Mas a história não é relojoaria ou marcenaria. É o esforço para
conhecer melhor: por conseguinte é uma coisa em movimento.”
(Marc Bloch, Apologia da História, ou O Ofício do Historiador. Rio de Janeiro, Zahar, 2001. p. 48)
■ Debate com a sociologia
- Durkheim – acontecimentos: história aparente
■ Interdisciplinaridade
- Globalidade das ciências humanas
- Geohistória
■ História problema
“A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado.”
(Marc Bloch, Apologia da História, ou O Ofício do Historiador. Rio de Janeiro, Zahar, 2001. p. 48)
História, uma Disciplina
■ 1929: Annales d’histoire économique et sociale
- 1939: Annales d’Histoire Sociale
- 1944: Annales. Histoire, Sciences Sociale
- 1946: Annales. Économies, Sociétés, Civilisations
■ As três gerações
- Marc Bloch e Lucien Febvre (1929-1949)
- Fernand Braudel (1949-1968)
- Georges Duby, Jacques LeGoff, Emmanuel LeRoy Ladurie,
Michèle Perrot (1968-1989)
Lucien Febvre (1878-1956)
Marc Bloch (1886-1944)
Fernand Braudel (1902-1985)
Michelle Perrot (1928)
História, uma disciplina
“Em 1919, a hostilidade está de guarda e, oportunidade inaudita, tudo está por fazer ou por
refazer, ou por repensar, no plano conceitual e prático da história.”
(Fernand Braudel, Escritos Sobre a História. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 24)
“Os Annales começaram como uma revista de seita herética. [...] Depois da guerra,
contudo, a revista transformou-se no órgão oficial de uma igreja ortodoxa. Sob a liderança
de Febvre os revolucionários intelectuais souberam conquistar o establishment histórico
francês. O herdeiro desse poder seria Fernand Braudel.”
(Peter Burke, p. 43)
■ Experiência das Guerras Mundiais e das Crises do Século XX;
■ Humanidade em questão / Crise da ideia de progresso;
■ Temporalidade histórica;
■ Modelos de sociedade em disputa;
■ Legitimidade da disciplina;
Fernand Braudel: história e
historiografia
■ Trajetória intelectual
- Interesses e relações pessoais
- Condição Social
- Acasos e contingências da história
- Carreira e instituições
- Lugares de formação
- Lugares de poder
■ Concepção e repercussão de uma obra
Fernand Braudel: história e
historiografia
■ Nasceu em Luméville-en-Ornois (1902) e faleceu em Cluses (1985)
- Historiador de origem camponesa; lembranças militares; fronteira com a Alemanha;
■ Cresceu no Subúrbio de Paris, Mériel;
■ 1923-1932 – Professor de História em Constantina e Argel;
- Historiador tradicional; aprendiz; viagens pelo Norte da África e Alemanha (conscrição)
- Pesquisas para sua tese – objeto o Mediterrâneo
■ 1932-1935 – Professor nos liceus Pasteur, Condorcet e Henri-IV em Paris
- Conheceu Lucien Febvre
■ 1935-1937 – Veio para o Brasil “missão francesa” que funda Universidade de São Paulo
■ 1937-1938 – Retorno a Paris como docente na École Pratique des Hautes Études (EPHE)
- Contato com o movimento dos Annales
- Acaso (?!): no navio encontrou Lucien Febvre que voltava da Argentina
Fernand Braudel: história e
historiografia
■ 1939-1940 – Convocado para lutar na Segunda Guerra Mundial
- Capturado como pelos alemães; prisioneiro e Mogúncia e Lubek
- Redação de sua tese;
■ 1947 – Ajuda a fundar a VI Section da EPHE (Economia e às Ciências
Sociais)
■ 1949 – Eleito para o Collège de France
■ 1962 – Fundou a Fondation Maison des Sciences de l’Homme
(FMSH)
- Gramática das Civilizações escrito em 1963;
■ Se aposentou em 1968, mas teve grande influência até sua morte
■ 1983 – Eleito para ingressar no Institut de France
Fernand Braudel: história e
historiografia
■ Interdisciplinariedade e Geohistória
- Crise na Geografia: descritiva, sem seres humanos, sem problemas,
sem contradições
- O espaço varia por si mesmo?
- Determinismo (Friedrich Ratzel) X Possibilismo (Vidal de la Blache)
- Espaço é a coordenada histórica fundamental da vida social
- Não existe fato que não ocupe um lugar no espaço
- Relações/interações: homem e o meio, partindo das sociedades
- Papel do clima e da geologia
- Fato geográfico é apenas uma das malhas da cadeia
(multicausalidade)
“Verdadeiramente, a geo-história é a história que o meio impôs aos homens, com sua
constância (caso mais frequente) ou com suas ligeiras variações quando estas chegam
a provocar consequências humanas. Quantas modificações, entretanto, permanecem
despercebidas, negligenciáveis mesmo, por conta do frágil e curto alcance dos
homens. Sim, decerto, mas a geo-história também é a história do homem em luta com
seu espaço, batalhando contra ele ao longo de sua dura vida de dificuldades e
esforços, conseguindo vencê-lo e, de preferência, suportá-lo, ao custo de um trabalho
que é preciso sempre renovar. A geo-história é o estudo de uma dupla ligação: da
natureza ao homem e do homem à natureza, o estudo de uma ação e de uma reação
misturadas, confundidas, recomeçados sem fim na realidade de cada dia.”
Fernand Braudel: história e
historiografia
Fernand Braudel: história e
historiografia
■ Temporalidades
- Estrutura / Longa Duração / Secular
- Conjuntura / Tempo médio / Décadas, Meio Século
- Evento/ Tempo Curto / Datas Pontuais, Viradas na relação de forças
■ Continuidades e Rupturas
■ História problema articula essas dimensões
■ Questões se dirigem ao que é mais profundo e, por vezes, imperceptível
■ História totalizante: mentalidades, modos de produção, processos revolucionários...
Fernand Braudel: história e
historiografia
■ O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico à Época de Filipe II
- Parte I: A Influência do Meio
- Parte II: Destinos Coletivos e Movimentos de Conjunto
- Parte III: Os Fatos, A Política e Os Homens
“Todavia, sem o cativeiro, eu seguramente teria escrito outro livro. (...) Sim, contemplei,
cara a cara, durante anos, longe de mim no espaço e no tempo, o Mediterrâneo. (...)
Abaixo o acontecimento, sobretudo o acontecimento contrariante! Eu precisava
acreditar que a história e o destino se escreviam em muito maior profundidade.”
(Fernand Braudel, Escritos Sobre a História. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 12)
Onde fica a história do livro?
■ O livro se situa na encruzilhada de duas questões centrais para a
historiografia francesa
- A reforma do ensino de 1957 – Pesquisa x Ensino Básico
- Consolidação institucional da Nova História
■ Lugar de Fernand Braudel nas instituições e como figura proeminente dos
Annales
■ Estrutura
- I Gramática das Civilizações ( Conceito; Diferenças; Continuidades)
- II Sociedades Não Europeias (Islã; Extremo Oriente; África Negra)
- III Sociedades Europeias (Europa; América; A Outra Europa)
Gramática das Civilizações
■ Civilização – uso entre os séculos XVI e XVIII
- Derivada de "civilizado" e "civilizar"
- Jurisprudência que designa o ato de tornar civil um processo criminal;
■ O sentido moderno de "passagem ao estado civilizado" aparece em 1752 sob a pena de
Turgot, em texto que não é publicado;
■ Ela aparece impressa no Traité de la population (1756) de Mirabeu;
■ No novo sentido, civilização se opõe à barbárie: povos civilizados e povos selvagens,
primitivos ou bárbaros;
■ Sentido de universalidade; expressa os costumes e os valores característicos de um
povo, de uma nação civilizada
Gramática das Civilizações
■ Civilização - Civilizações
- Atravessa o século XIX, acompanhando a ideia de progresso
- Positivismo – História
- Nações, padrão ocidental, europeu
■ Hierarquização entre povos / nações
“Com efeito, o emprego do plural corresponde ao desaparecimento de um certo conceito, ao
apagamento progressivo da ideia, própria do século XVIII, de uma civilização que se confunde com o
progresso em si e que seria reservada a alguns povos privilegiados, ou até mesmo a alguns grupos
humanos, à elite. O século XX felizmente se livrou de um certo número de julgamentos de valor e não
saberia, na verdade, definir – em nome de quais critérios? – a melhor das civilizações.” (p. 37)
■ Marco fundamental – II Guerra / Nazifascismo
■ Instituições internacionais /Comunidade Acadêmica
- Projetos Unesco
Gramática das Civilizações
■ Civilização muitas vezes é confundida com cultura, mas é preciso distingui-las
(civilização abrange valores morais e materiais)
■ Braudel: a palavra civilização designa sociedades modernas em oposição às
culturas primitivas (hierarquias)
■ A humanidade, as sociedades, caminham em ritmos diferenciados
"No singular, civilização não seria hoje, antes de mais nada, o bem comum partilhado,
desigualmente aliás, por todas as civilizações, "aquilo que o homem não esquece mais"? O fogo,
a escrita, o cálculo, a domesticação das plantas e dos animais já não se ligam a nenhuma origem
particular; converteram-se nos bens coletivos da civilização." (p. 29)
Gramática das Civilizações
■ As civilizações são espaços...
■ Localizam-se em um mapa; suas realidades dependem das restrições ou vantagens (dadas
ou adquiridas) dessa localização
■ Mas, existem as marcas do trabalho contínuo do ser humano: ao transformar a natureza, o
ser humano se transforma:
■ Espaços geográficos são marcados pelo movimento, pela circulação
■ Assim, esses espaços geográficos são permeáveis: cada civilização exporta e recebe bens
culturais
“O palco em que se representam essas peças de teatro intermináveis [agricultura, criação, alimentos, habitações,
vestuário, comunicações, indústria] comanda em parte seu desenvolvimento, explica suas particularidades; os homens
passam, mas ele permanece bastante inalterado. [...] O meio ao mesmo tempo natural e fabricado pelo homem não
aprisiona tudo de antemão num determinismo estreito. O meio não explica tudo embora represente grande papel, na
forma de vantagens dadas ou adquiridas. [...] as respostas do homem não cessam, ao mesmo tempo, de libertá-lo do
meio que o cerca e de sujeitá-lo às soluções que ele imaginou. Ele sai de um determinismo para recair em outro.” (p.
32-33)
Gramática das Civilizações
■ As civilizações são sociedades...
- A sociedade nunca pode ser separada da civilização (e reciprocamente)
- - Sociedade (pode se referir a culturas primitivas) X Civilização (sociedades
hierarquizadas)
“[...] as culturas primitivas seriam o fruto de sociedades igualitárias, nas quais as relações entre grupos
são reguladas de uma vez por todas e se repetem, ao passo que as civilizações se assentariam em
sociedades de relações hierarquizadas, com fortes diferenças entre os grupos, portanto, com tensões
variáveis, conflitos sociais, lutas políticas e uma perpétua evolução. [...] No entanto, as civilizações, as
sociedades mais brilhantes supõem, dentro de seus próprios limites, culturas, sociedades elementares;
veja o diálogo sempre importante entre as cidades e o campo. (...) no plano da duração, a civilização
transpõe, implica espaços cronológicos muito mais vastos que uma dada realidade social. A civilização
muda muito mais lentamente do que as sociedades que ela porta ou determina.” (p. 38-39)
Gramática das Civilizações
■ As civilizações são economias...
“Toda sociedade, toda civilização depende de dados econômicos, tecnológicos, biológicos, demográficos.
As condições materiais e biológicas pesam incessantemente sobre o destino das civilizações. Aumento ou
diminuição do número de pessoas, saúde ou decadência física, surto ou recuo econômico e técnico
repercutem através do edifício cultural e social.” (p. 39)
“[...] as desigualdades do acesso à civilização, que a vida econômica criou entre as diferentes classes
sociais, também foram por ela criadas entre os diferentes países do mundo. Grande parte do mundo
constitui o que uma ensaísta chamou de “proletariado exterior”, o que a linguagem corrente denomina
Terceiro Mundo, enorme massa de homens para quem o acesso ao mínimo vital se coloca antes do
próprio acesso à civilização – que não raro lhes é desconhecida – de seu próprio país. Ou a humanidade
trabalhará para superar esses desníveis gigantescos, ou a e as civilizações correrão o risco de soçobrar.”
(p. 42)
Gramática das Civilizações
■ As civilizações são mentalidades coletivas...
“Em cada época, certa representação do mundo e das coisas, uma mentalidade coletiva dominante anima,
penetra a massa inteira da sociedade. Essa mentalidade que dita as atitudes, orienta as opções, arraiga os
preconceitos, inclina os movimentos de uma sociedade, é eminentemente um fato de civilização. Muito mais
ainda que os acidentes ou as circunstâncias históricas e sociais de uma época, ela é o fruto de heranças
remotas, de crenças, medos, inquietações antigas, não raro quase inconscientes, na verdade o fruto de uma
intensa contaminação cujos germes se perdem no passado e se transmitem através de gerações e gerações
de homens. As reações de uma sociedade aos acontecimentos da hora, às pressões que eles exercem, às
decisões que exigem dela, obedecem menos à lógica, ou mesmo ao interesse egoísta, do que a esse
mandamento não formulado, frequentemente informulável e que brota do inconsciente coletivo.” (p. 42)
Gramática das Civilizações
Civilização
Livro
Civilizações
Economias
Espaços Mentalidades Coletivas
Sociedades
História
« A Europa é uma península Asiática »
« Os sete mares do mundo »
“Essas diferenças de todas
as naturezas dizem
respeito aos homens, aos
alimentos, aos apetites ou
mesmo à variável
antiguidade da civilização
local.”
“Istmos” de circulação
privilegiada ligam o Norte
ao Sul (istmo russo, istmo
alemão, istmo francês)
« Existe oposição entre leste e oeste, norte e sul »
A – B = Espanha/França
ao Mar Cáspio (Rússia)
C – D = Países Bálticos
(Estônia, Letônia e
Lituânia) aos Montes
Urais, na Rússia
“A Europa é, em parte
essencial, navios,
comboios, vitórias sobre a
imensidade das águas
salgadas.” (p. 286)
« Estes contrastes (…) decorrem de causas geográficas »
O Oeste olha
para Roma, o
Leste olha para
Constantinopla
(Istambul)
« Estes contrastes (…) decorrem de causas históricas »

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  • 1. FERNAND BRAUDEL Biografia Intelectual e a Gramática das Civilizações
  • 2. O indivíduo na história e a historiografia ■ Por que a vida de um historiador é relevante para entendermos a historiografia? ■ Historiografia: conjunto de obras que compõem a produção histórica; diferentes visões sobre a escrita da história; metodologias - Historiadores (homens e mulheres de ‘carne e osso’) - Grupos, linhas de trabalho ‘escolas’ teóricas - Instituições produtoras; infraestrutura dessa produção - Contextos históricos x interesse pelo passado - Objetos da história ■ Autor x obra ■ Transmissão de ideias x relações sociais
  • 3. História, uma disciplina ■ Século XIX – Positivismo – Auguste Comte; Leopold Von Ranke ■ Aproximação do conhecimento científico: método, busca pela verdade, imparcial. ■ Fato histórico + Documento Escrito + Grandes Homens ■ Construção das histórias nacionais ■ No Brasil: Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (1838) + Regionais Outras Instituições de Memória: Arquivo Público do Império, Academia Imperial de Belas Artes... História Nacional – Francisco Adolfo de Varnhagen; História geral do Brasil (1854), Império/República Positivismo – Exército; Nação; Pensamento Republicano ■ Ideia de progresso (civilização x barbárie)
  • 4. História, uma disciplina ■ Circulação internacional das ideias: ordem; redes; interesses “Acredita-se frequentemente que a vida intelectual é espontaneamente internacional. Nada é mais falso. A vida intelectual é lugar, como todos os outros espaços sociais, de nacionalismos e imperialismos, e os intelectuais veiculam, quase tanto quanto os outros, preconceitos, estereótipos, ideias prontas, representações muito sumárias, muito elementares (...).” Pierre Bourdieu. ‘Les conditions sociales de la circulation internationale des idées’. In: Actes de la recherche en sciences sociales. 2002/5 n.145, p. 3-8. ■ França x Brasil : instituições do Império; missões francesas; livros; “A admiração pela França constituiu um traço marcante das elites brasileiras desde os primórdios da independência, momento em que se tornou urgente dotar o jovem país de uma identidade capaz de lhe assegurar feições próprias .” Tania Regina de Luca e Laurent Vidal, ‘Introdução’. In: Tania Regina de Luca e Laurent Vidal (org.), Franceses no Brasil. Séculos XIX – XX, São Paulo, Editora Unesp, 2009, p. 9. - Livreiros Franceses: Pierre Plancher (1824); Baptiste Louis Garnier (1844); Anatole Louis Garraux (1863); - Importações até 1912 + 50% dos livros vinham da França; Portugal não representava 25% do setor.
  • 5. História, uma disciplina ■ No século XIX outras correntes teóricas e filosóficas impactam sobre a produção histórica, como o Marxismo. - Luta de classes – motor da história ■ Institucionalmente, organizam-se grupos de historiadores - Revistas acadêmicas = veículos de debate ■ Na França: - Revue Historique (1876): Escola Metódica; Gabriel Monod; Charles Seignobos; - Revue de Synthèse Historique (1900): Centre International de Synthèse; Henri Berr;
  • 6. História, uma Disciplina ■ Annales d’histoire économique et sociale (1929) ■ Crítica à “História dos Grandes Homens” (positivista, factual, pretensa objetividade) “Mas a história não é relojoaria ou marcenaria. É o esforço para conhecer melhor: por conseguinte é uma coisa em movimento.” (Marc Bloch, Apologia da História, ou O Ofício do Historiador. Rio de Janeiro, Zahar, 2001. p. 48) ■ Debate com a sociologia - Durkheim – acontecimentos: história aparente ■ Interdisciplinaridade - Globalidade das ciências humanas - Geohistória ■ História problema “A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado.” (Marc Bloch, Apologia da História, ou O Ofício do Historiador. Rio de Janeiro, Zahar, 2001. p. 48)
  • 7. História, uma Disciplina ■ 1929: Annales d’histoire économique et sociale - 1939: Annales d’Histoire Sociale - 1944: Annales. Histoire, Sciences Sociale - 1946: Annales. Économies, Sociétés, Civilisations ■ As três gerações - Marc Bloch e Lucien Febvre (1929-1949) - Fernand Braudel (1949-1968) - Georges Duby, Jacques LeGoff, Emmanuel LeRoy Ladurie, Michèle Perrot (1968-1989) Lucien Febvre (1878-1956) Marc Bloch (1886-1944) Fernand Braudel (1902-1985) Michelle Perrot (1928)
  • 8. História, uma disciplina “Em 1919, a hostilidade está de guarda e, oportunidade inaudita, tudo está por fazer ou por refazer, ou por repensar, no plano conceitual e prático da história.” (Fernand Braudel, Escritos Sobre a História. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 24) “Os Annales começaram como uma revista de seita herética. [...] Depois da guerra, contudo, a revista transformou-se no órgão oficial de uma igreja ortodoxa. Sob a liderança de Febvre os revolucionários intelectuais souberam conquistar o establishment histórico francês. O herdeiro desse poder seria Fernand Braudel.” (Peter Burke, p. 43) ■ Experiência das Guerras Mundiais e das Crises do Século XX; ■ Humanidade em questão / Crise da ideia de progresso; ■ Temporalidade histórica; ■ Modelos de sociedade em disputa; ■ Legitimidade da disciplina;
  • 9. Fernand Braudel: história e historiografia ■ Trajetória intelectual - Interesses e relações pessoais - Condição Social - Acasos e contingências da história - Carreira e instituições - Lugares de formação - Lugares de poder ■ Concepção e repercussão de uma obra
  • 10. Fernand Braudel: história e historiografia ■ Nasceu em Luméville-en-Ornois (1902) e faleceu em Cluses (1985) - Historiador de origem camponesa; lembranças militares; fronteira com a Alemanha; ■ Cresceu no Subúrbio de Paris, Mériel; ■ 1923-1932 – Professor de História em Constantina e Argel; - Historiador tradicional; aprendiz; viagens pelo Norte da África e Alemanha (conscrição) - Pesquisas para sua tese – objeto o Mediterrâneo ■ 1932-1935 – Professor nos liceus Pasteur, Condorcet e Henri-IV em Paris - Conheceu Lucien Febvre ■ 1935-1937 – Veio para o Brasil “missão francesa” que funda Universidade de São Paulo ■ 1937-1938 – Retorno a Paris como docente na École Pratique des Hautes Études (EPHE) - Contato com o movimento dos Annales - Acaso (?!): no navio encontrou Lucien Febvre que voltava da Argentina
  • 11. Fernand Braudel: história e historiografia ■ 1939-1940 – Convocado para lutar na Segunda Guerra Mundial - Capturado como pelos alemães; prisioneiro e Mogúncia e Lubek - Redação de sua tese; ■ 1947 – Ajuda a fundar a VI Section da EPHE (Economia e às Ciências Sociais) ■ 1949 – Eleito para o Collège de France ■ 1962 – Fundou a Fondation Maison des Sciences de l’Homme (FMSH) - Gramática das Civilizações escrito em 1963; ■ Se aposentou em 1968, mas teve grande influência até sua morte ■ 1983 – Eleito para ingressar no Institut de France
  • 12. Fernand Braudel: história e historiografia ■ Interdisciplinariedade e Geohistória - Crise na Geografia: descritiva, sem seres humanos, sem problemas, sem contradições - O espaço varia por si mesmo? - Determinismo (Friedrich Ratzel) X Possibilismo (Vidal de la Blache) - Espaço é a coordenada histórica fundamental da vida social - Não existe fato que não ocupe um lugar no espaço - Relações/interações: homem e o meio, partindo das sociedades - Papel do clima e da geologia - Fato geográfico é apenas uma das malhas da cadeia (multicausalidade)
  • 13. “Verdadeiramente, a geo-história é a história que o meio impôs aos homens, com sua constância (caso mais frequente) ou com suas ligeiras variações quando estas chegam a provocar consequências humanas. Quantas modificações, entretanto, permanecem despercebidas, negligenciáveis mesmo, por conta do frágil e curto alcance dos homens. Sim, decerto, mas a geo-história também é a história do homem em luta com seu espaço, batalhando contra ele ao longo de sua dura vida de dificuldades e esforços, conseguindo vencê-lo e, de preferência, suportá-lo, ao custo de um trabalho que é preciso sempre renovar. A geo-história é o estudo de uma dupla ligação: da natureza ao homem e do homem à natureza, o estudo de uma ação e de uma reação misturadas, confundidas, recomeçados sem fim na realidade de cada dia.” Fernand Braudel: história e historiografia
  • 14.
  • 15. Fernand Braudel: história e historiografia ■ Temporalidades - Estrutura / Longa Duração / Secular - Conjuntura / Tempo médio / Décadas, Meio Século - Evento/ Tempo Curto / Datas Pontuais, Viradas na relação de forças ■ Continuidades e Rupturas ■ História problema articula essas dimensões ■ Questões se dirigem ao que é mais profundo e, por vezes, imperceptível ■ História totalizante: mentalidades, modos de produção, processos revolucionários...
  • 16. Fernand Braudel: história e historiografia ■ O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico à Época de Filipe II - Parte I: A Influência do Meio - Parte II: Destinos Coletivos e Movimentos de Conjunto - Parte III: Os Fatos, A Política e Os Homens “Todavia, sem o cativeiro, eu seguramente teria escrito outro livro. (...) Sim, contemplei, cara a cara, durante anos, longe de mim no espaço e no tempo, o Mediterrâneo. (...) Abaixo o acontecimento, sobretudo o acontecimento contrariante! Eu precisava acreditar que a história e o destino se escreviam em muito maior profundidade.” (Fernand Braudel, Escritos Sobre a História. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 12)
  • 17. Onde fica a história do livro?
  • 18. ■ O livro se situa na encruzilhada de duas questões centrais para a historiografia francesa - A reforma do ensino de 1957 – Pesquisa x Ensino Básico - Consolidação institucional da Nova História ■ Lugar de Fernand Braudel nas instituições e como figura proeminente dos Annales ■ Estrutura - I Gramática das Civilizações ( Conceito; Diferenças; Continuidades) - II Sociedades Não Europeias (Islã; Extremo Oriente; África Negra) - III Sociedades Europeias (Europa; América; A Outra Europa) Gramática das Civilizações
  • 19. ■ Civilização – uso entre os séculos XVI e XVIII - Derivada de "civilizado" e "civilizar" - Jurisprudência que designa o ato de tornar civil um processo criminal; ■ O sentido moderno de "passagem ao estado civilizado" aparece em 1752 sob a pena de Turgot, em texto que não é publicado; ■ Ela aparece impressa no Traité de la population (1756) de Mirabeu; ■ No novo sentido, civilização se opõe à barbárie: povos civilizados e povos selvagens, primitivos ou bárbaros; ■ Sentido de universalidade; expressa os costumes e os valores característicos de um povo, de uma nação civilizada Gramática das Civilizações
  • 20. ■ Civilização - Civilizações - Atravessa o século XIX, acompanhando a ideia de progresso - Positivismo – História - Nações, padrão ocidental, europeu ■ Hierarquização entre povos / nações “Com efeito, o emprego do plural corresponde ao desaparecimento de um certo conceito, ao apagamento progressivo da ideia, própria do século XVIII, de uma civilização que se confunde com o progresso em si e que seria reservada a alguns povos privilegiados, ou até mesmo a alguns grupos humanos, à elite. O século XX felizmente se livrou de um certo número de julgamentos de valor e não saberia, na verdade, definir – em nome de quais critérios? – a melhor das civilizações.” (p. 37) ■ Marco fundamental – II Guerra / Nazifascismo ■ Instituições internacionais /Comunidade Acadêmica - Projetos Unesco Gramática das Civilizações
  • 21. ■ Civilização muitas vezes é confundida com cultura, mas é preciso distingui-las (civilização abrange valores morais e materiais) ■ Braudel: a palavra civilização designa sociedades modernas em oposição às culturas primitivas (hierarquias) ■ A humanidade, as sociedades, caminham em ritmos diferenciados "No singular, civilização não seria hoje, antes de mais nada, o bem comum partilhado, desigualmente aliás, por todas as civilizações, "aquilo que o homem não esquece mais"? O fogo, a escrita, o cálculo, a domesticação das plantas e dos animais já não se ligam a nenhuma origem particular; converteram-se nos bens coletivos da civilização." (p. 29) Gramática das Civilizações
  • 22. ■ As civilizações são espaços... ■ Localizam-se em um mapa; suas realidades dependem das restrições ou vantagens (dadas ou adquiridas) dessa localização ■ Mas, existem as marcas do trabalho contínuo do ser humano: ao transformar a natureza, o ser humano se transforma: ■ Espaços geográficos são marcados pelo movimento, pela circulação ■ Assim, esses espaços geográficos são permeáveis: cada civilização exporta e recebe bens culturais “O palco em que se representam essas peças de teatro intermináveis [agricultura, criação, alimentos, habitações, vestuário, comunicações, indústria] comanda em parte seu desenvolvimento, explica suas particularidades; os homens passam, mas ele permanece bastante inalterado. [...] O meio ao mesmo tempo natural e fabricado pelo homem não aprisiona tudo de antemão num determinismo estreito. O meio não explica tudo embora represente grande papel, na forma de vantagens dadas ou adquiridas. [...] as respostas do homem não cessam, ao mesmo tempo, de libertá-lo do meio que o cerca e de sujeitá-lo às soluções que ele imaginou. Ele sai de um determinismo para recair em outro.” (p. 32-33) Gramática das Civilizações
  • 23. ■ As civilizações são sociedades... - A sociedade nunca pode ser separada da civilização (e reciprocamente) - - Sociedade (pode se referir a culturas primitivas) X Civilização (sociedades hierarquizadas) “[...] as culturas primitivas seriam o fruto de sociedades igualitárias, nas quais as relações entre grupos são reguladas de uma vez por todas e se repetem, ao passo que as civilizações se assentariam em sociedades de relações hierarquizadas, com fortes diferenças entre os grupos, portanto, com tensões variáveis, conflitos sociais, lutas políticas e uma perpétua evolução. [...] No entanto, as civilizações, as sociedades mais brilhantes supõem, dentro de seus próprios limites, culturas, sociedades elementares; veja o diálogo sempre importante entre as cidades e o campo. (...) no plano da duração, a civilização transpõe, implica espaços cronológicos muito mais vastos que uma dada realidade social. A civilização muda muito mais lentamente do que as sociedades que ela porta ou determina.” (p. 38-39) Gramática das Civilizações
  • 24. ■ As civilizações são economias... “Toda sociedade, toda civilização depende de dados econômicos, tecnológicos, biológicos, demográficos. As condições materiais e biológicas pesam incessantemente sobre o destino das civilizações. Aumento ou diminuição do número de pessoas, saúde ou decadência física, surto ou recuo econômico e técnico repercutem através do edifício cultural e social.” (p. 39) “[...] as desigualdades do acesso à civilização, que a vida econômica criou entre as diferentes classes sociais, também foram por ela criadas entre os diferentes países do mundo. Grande parte do mundo constitui o que uma ensaísta chamou de “proletariado exterior”, o que a linguagem corrente denomina Terceiro Mundo, enorme massa de homens para quem o acesso ao mínimo vital se coloca antes do próprio acesso à civilização – que não raro lhes é desconhecida – de seu próprio país. Ou a humanidade trabalhará para superar esses desníveis gigantescos, ou a e as civilizações correrão o risco de soçobrar.” (p. 42) Gramática das Civilizações
  • 25. ■ As civilizações são mentalidades coletivas... “Em cada época, certa representação do mundo e das coisas, uma mentalidade coletiva dominante anima, penetra a massa inteira da sociedade. Essa mentalidade que dita as atitudes, orienta as opções, arraiga os preconceitos, inclina os movimentos de uma sociedade, é eminentemente um fato de civilização. Muito mais ainda que os acidentes ou as circunstâncias históricas e sociais de uma época, ela é o fruto de heranças remotas, de crenças, medos, inquietações antigas, não raro quase inconscientes, na verdade o fruto de uma intensa contaminação cujos germes se perdem no passado e se transmitem através de gerações e gerações de homens. As reações de uma sociedade aos acontecimentos da hora, às pressões que eles exercem, às decisões que exigem dela, obedecem menos à lógica, ou mesmo ao interesse egoísta, do que a esse mandamento não formulado, frequentemente informulável e que brota do inconsciente coletivo.” (p. 42) Gramática das Civilizações
  • 27. « A Europa é uma península Asiática »
  • 28. « Os sete mares do mundo »
  • 29. “Essas diferenças de todas as naturezas dizem respeito aos homens, aos alimentos, aos apetites ou mesmo à variável antiguidade da civilização local.” “Istmos” de circulação privilegiada ligam o Norte ao Sul (istmo russo, istmo alemão, istmo francês) « Existe oposição entre leste e oeste, norte e sul »
  • 30. A – B = Espanha/França ao Mar Cáspio (Rússia) C – D = Países Bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) aos Montes Urais, na Rússia “A Europa é, em parte essencial, navios, comboios, vitórias sobre a imensidade das águas salgadas.” (p. 286) « Estes contrastes (…) decorrem de causas geográficas »
  • 31. O Oeste olha para Roma, o Leste olha para Constantinopla (Istambul) « Estes contrastes (…) decorrem de causas históricas »