O documento descreve um curso de extensão sobre design e fotografia realizado entre 30 de setembro e 31 de outubro de 2009 na Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Os alunos foram desafiados a encontrar e fotografar as "cidades invisíveis da natureza" usando a obra de Italo Calvino como inspiração, e desenvolveram projetos individuais que integraram fotografia e design de diferentes formas.
3. INDEX
As cidades invisiveis da natureza p. 5 3
Trechos da obra p. 9
Alunos
Catherine Moschem Cappellari p.15
Eliza Lodi dos Santos p.21
Emilio Rodigheri Martins p.27
Fernando Teixeira Rohde p.33
Flavia Regina Silva Gomes p.41
Gustavo Guinther Passaglia p.49
Jacqueline Rodriguez Duarte p.55
Juliana Cecilia Klering p.65
Oscar Daniel Devitta Gonzalez p.73
Taiana Fernandes de Oliveira José p.85
Virginia Denisse Fernandez Chiesa p.89
5. As cidades invisiveis da natureza
O curso de Design e Fotografia é o resultado da aproximação de duas áreas que 5
desde sempre colaboram entre si nos campos da arte e do mercado profissional.
Quando discutíamos a questão de como estruturar o curso, a primeira questão que se
apresentou dizia respeito à semântica. Precisávamos pinçar do conjunto de ideias que se
associam à fotografia e ao design aquilo que considerávamos mais relevante para definir
qual seria a contribuição de cada área. Focamos nas possibilidades da fotografia como
linguagem expressiva e na cultura e metodologia projetual do design.
O curso foi estruturado para ser de curta duração, 35 horas, o que nos permitiria abordar
conteúdos básicos da linguagem fotográfica como o funcionamento técnico da câmera
e as escolhas subjetivas do fotógrafo diante da realidade a ser fotografada. De outro
lado precisávamos aproximar os alunos, muitos dos quais não tinham formação alguma
na área, da “cultura de projeto” do design. Trabalhamos perseguindo uma ideia objetiva
daquilo que pode fazer o profissional de design, uma introdução ao ser designer.
Quando pensávamos qual a maneira melhor para integrar e aproximar a metodologia de
projeto do Design e a linguagem fotográfica vimos que precisávamos de um briefing, de
um tema, de um ponto de partida para a criação. A literatura e suas imagens fundadas
em palavras constituiu-se como um caminho sedutor. E logo veio à mente Italo Calvino,
um autor que cuja imaginação nos instiga. Mais especificamente “As cidades invisíveis”
uma obra globalmente reconhecida e repleta de imagens provocativas.
Como primeiro exercício fotográfico pautamos os alunos para encontrarem as cidades
invisíveis da natureza no microcosmo das cercanias da Escola de Design. Para o
6. desenvolvimento dos projetos nosso método partiu de uma leitura e desconstrução
dos textos de Calvino. Destacamos os principais substantivos e adjetivos para
que pudéssemos posteriormente reconfigurá-los em outras associações (sonho
encaracolado, idade incrustada, por exemplo) de modo a criar as característcas de
outras possíveis cidades imaginárias que se concretizariam nos projetos individuais.
Os alunos desenvolveram então seus diferentes projetos, alguns
mais comunicativos e outros realmente próximos à cultura do saber fazer de cada
um deles. A fotografia foi ser usada como ferramenta projetual, ajudando a criar
e documentar suas próprias cidades invisíveis. Essas cidades tomaram formas
diferenciadas: filme de animação, expositor de fotografias, móbiles, imagens digitais,
outdoors, colchas, portas e bolsas. Foram respostas muitos diferentes com níveis de
exploração da interface fotografia/design realmente criativos.
Prof. Fernando Bohrer Schmitt
Prof. Giulio Federico Palmitessa
6
9. Trechos da obra
As cidades e a memória - 1 9
Partindo dali e caminhando por três dias em direção ao levante, encontra-se Diomira,
cidade com sessenta cúpulas de prata, estátuas de bronze de todos os deuses, ruas
lajeadas de estanho, um teatro de cristal, um galo de ouro que canta todas as manhãs
no alto de uma torre. Todas essas belezas o viajante já conhece por tê-las visto em
outras cidades. Mas a peculiaridade desta é que quem chega numa noite de setembro,
quando os dias se tornam mais curtos e as lâmpadas multicoloridas se acendem juntas
nas portas das tabernas, e de um terraço ouve-se a voz de uma mulher que grita: uh!, é
levado a invejar aqueles que imaginam ter vivido uma noite igual a esta e que na ocasião
se sentiram felizes.
As cidades e a memória - 2
O homem que cavalga longamente por terrenos selváticos sente o desejo de uma
cidade. Finalmente, chega a Isidora, cidade onde os palácios têm escadas em caracol
incrustadas de caracóis marinhos, onde se fabricam à perfeição binóculos e violinos,
onde quando um estrangeiro está incerto entre duas mulheres sempre encontra
uma terceira, onde as brigas de galo se degeneram em lutas sanguinosas entre os
apostadores. Ele pensava em todas essas coisas quando desejava uma cidade. Isidora,
portanto, é a cidade de seus sonhos: com uma diferença. A cidade sonhada o possuía
jovem; em Isidora, chega em idade avançada. Na praça, há o murinho dos velhos
que vêem a juventude passar; ele está sentado ao lado deles. Os desejos agora são
recordações.