SlideShare uma empresa Scribd logo
Sociedade 
Eleições 2014 
Afinal, quem são “os evangélicos”? 
por Ricardo Alexandre — publicado 07/09/2014 07:40, última modificação 09/09/2014 15:03 
De tanto que se falou sobre os evangélicos nas últimas semanas, nos jornais e nas redes 
sociais, talvez caiba uma pergunta: afinal, quem são “os evangélicos”? 
Homofóbicos, cortejados pela presidente, fundamentalistas. Massa de manobra de Silas 
Malafaia, conservadores, determinantes no segundo turno das eleições. De tanto que se falou 
sobre os evangélicos nas últimas semanas, nos jornais e nas redes sociais, talvez caiba uma 
pergunta: afinal, quem são “os evangélicos”? 
A resposta mais honesta não poderia ser mais frustrante: os evangélicos são qualquer pessoa, 
todo mundo, ou, mais especificamente, ninguém. São uma abstração, uma caricatura pintada a 
partir do que vemos zapeando pelos canais abertos misturado ao que lemos de bizarro nos 
tabloides da internet com o que nosso preconceito manda reforçar. Dizer que “o voto dos 
evangélicos decidirá a eleição” é tão estúpido quanto dizer a obviedade de que 22,2% dos 
brasileiros decidirão a eleição. Dizer que “os evangélicos são preconceituosos”, significa dizer 
que o ser humano é preconceituoso. É não dizer nada, na verdade. 
Acreditar que há uma hegemonia de pensamento, de comportamento ou de doutrina 
evangélica é, em parte, exatamente acreditar no que Silas Malafaia gosta de repetir, mas é, em 
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/afinal-quem-sao-201cos-evangelicos201d-2053.html?
parte, desconhecer a história. A diversidade de pensamento é a razão de existir da reforma 
protestante. E continuou sendo pelos séculos seguintes, quando as igrejas reformadas do 
século 16 deram origem ao movimento evangélico, aos pentecostais, e estes aos 
neopentecostais, todos microdivididos até o limite do possível, graças, novamente, à 
diversidade de pensamento – sobre forma de governo, vocação e pequenos e grandes pontos 
doutrinários. E boa parte dessas denominações não tem sequer organização central nem 
“presidência”, muito menos representantes possíveis, com as decisões sendo tomadas nas 
comunidades locais, por votação democrática. 
Assim como não existe “os evangélicos” também não existe “os pentecostais”, nem “os 
assembleianos”: dizer que Malafaia é o “papa da Marina Silva” como disse Leonardo Boff, 
apenas porque ambos são membros da Assembléia de Deus, é ignorar que, por trás dos 12,3 
milhões de membros detectados pelo IBGE, a denominação é rachada entre ministérios 
Belém, Madureira, Santos, Bom Retiro, Ipiranga, Perus e diversos outros, cada um com seu 
líder, sua politicagem e sua aplicação doutrinária. A Assembléia de Deus Vitória em Cristo de 
Malafaia, aliás, sequer pertence à Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. 
Ignorância parecida se manifesta em relação ao uso do termo “fundamentalista”, como 
sinônimo de “literalista”, aquele incapaz de metaforizar as verdades morais dos livros da 
Bíblia. A teologia cristã debate há dois mil anos sobre a observação, interpretação e aplicação 
dos escritos sagrados, quais são alegóricos e quais são históricos, quais são “poesias” e quais 
devem ser tomados ao pé da letra. O deputado Jean Wyllys, colunista da Carta Capital, do 
alto de alguma autoridade teológica presumida, já chegou à sua conclusão: o que não for 
leitura liberal, é fundamentalista e, portanto, uma ameaça às minorias oprimidas. (Liberalismo 
teológico é uma corrente do final do século 19 que propôs uma leitura crítica das escrituras, 
completamente alegorizada, negando sua autoridade sobrenatural, a existência dos milagres, e 
separando história e teologia). 
Só que isso simplesmente não é verdade. Dentro da multifacetação das igrejas de tradição 
evangélicas, há as chamadas “inclusivas”, mas há diversas igrejas históricas, tradicionais, 
teologicamente ortodoxas, que acreditam nos absolutos da “sola scriptura” da Reforma 
Protestante, mas que têm política acolhedora e amorosa com as minorias. Algumas criaram 
pastorais para tratar da questão homossexual, outras trabalham para integrá-los em seus 
quadros leigos; ou, ainda, como disse o pastor batista Ed René Kivitz, estão mais dispostos a 
aprender como tratar “uma pessoa que está diante de mim dizendo ter sido rejeitado pela 
família, pela igreja” do que discutir a literalidade dos textos do Velho Testamento. 
O panorama da questão pode ser melhor entendido em Entre a cruz e o arco-íris: A complexa 
relação dos cristãos com a Homoafetividade (de Marília de Camargo César, da Editora 
Autêntica), livro que tive a honra de editar. Nele, o pastor batista e sociólogo americano Tony 
Campolo, ex-conselheiro do presidente Bill Clinton, diz: “Se você vai dizer à comunidade 
homossexual que em nome de Jesus você a ama (...) não teria que lutar por políticas públicas 
que demonstrem que você as ama? Pode haver amor sem justiça? Eu luto pela justiça em 
favor de gays e lésbicas, porque em nome de Jesus Cristo eu os amo.” Campolo, entretanto, 
faz distinção entre direitos e casamento: “O governo não deve se envolver nem declarar, de 
forma alguma, o que é casamento, quem pode ou não se casar”, ele disse. “Governo existe 
para garantir os direitos das pessoas. Casamento é um sacramento da igreja – governos não 
devem decidir quem deve ou não receber esse sacramento.” Campolo acredita que esta será a 
visão dominante entre cristãos americanos “em cinco ou seis anos”. 
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/afinal-quem-sao-201cos-evangelicos201d-2053.html?
Entre os evangélicos brasileiros, há quem pense desde já como Campolo – distinguindo união 
civil de casamento. Há quem pense de forma ainda mais radical: que a união civil, com 
implicações patrimoniais e status de família, deveria valer não apenas para casais 
homossexuais, mas para irmãos, primos ou quem quer que se entenda como família. Há quem 
defenda o acolhimento dos gays nas igrejas, mas que se reserve o celibato para eles. Quem, 
embora sabendo que mais da metade das famílias brasileiras já não são no formato pai-mãe-filhos, 
ainda luta para restabelecer esse padrão idealizado. Há, sim, quem acredite que o seu 
conjunto de doutrinas e o seu modo de vida são fundamentais. Há aqueles ainda que, enquanto 
discutimos aqui, estão mais preocupados se a melhor tradução do grego é a João Ferreira de 
Almeida ou a Nova Versão Internacional. E há quem acorde diariamente acreditando ser o 
porta-voz do “povo de Deus”, pague espaço em redes de televisão para multiplicar esse delírio 
(mas, a julgar pelo 1% de intenção de voto do Pastor Everaldo, somente ativistas gays e 
jornalistas desmotivados acreditam nesse discurso). Esses são “os evangélicos”. 
Na fatídica sexta-feira em que o PSB divulgou seu programa de governo, enquanto Malafaia 
gritava no Twitter em CAPSLOCK furibundo, o pastor presbiteriano Marcos Botelho, postou: 
“Marina, que bom que vc recebeu os líderes do movimento LGBTs, receba as reivindicações 
com a tua coerência e discernimento de sempre e um compromisso com o estado laico que é 
sua bandeira. Vamos colocar uma pedra em cima dessa polarização ridícula entre gays e 
evangélicos que só da IBOPE para líderes políticos e pastores oportunistas.” 
Botelho não representa “os evangélicos” porque não existe “os evangélicos”. Mas Marcos 
Botelho existe e é evangélico. Assim como existe William Lane Craig, o filósofo que convida 
periodicamente Richard Dawkins para um debate público, do qual este sempre se esquiva; 
existe o geneticista Francis Collins vencendo o William Award da Sociedade Americana de 
Genética Humana; existe o presidente Jimmy Carter, dando aula na escola bíblica no domingo 
e sendo entrevistado para a capa da Rolling Stone por Hunter Thompson na segunda-feira; 
existe o pastor congregacional inglês John Harvard tirando dinheiro do próprio bolso para 
fundar uma universidade “para a glória de Deus” nos Estados Unidos que leva seu sobrenome 
até hoje; existe o pastor batista Martin Luther King como o maior ativista de todos os tempos; 
existe o jovem paulista Marco Gomes, o “melhor profissional de marketing do mundo”, 
pedindo licença para “falar uma coisa sobre os evangélicos”. E existe o Feliciano, o Edir 
Macedo, a Aline Barros, o Thalles Roberto, o Silas Malafaia e o mercado gospel. Como existe 
bancada evangélica, mas existem os que lutaram pela “separação entre igreja e estado” na 
constituição, e existem os que acreditam que levar Jesus Cristo para a política é trabalhar não 
para si, mas para os menos favorecidos. 
Existe o amor e existe a justiça, como existe o preconceito, o dogmatismo, o engano, o medo, 
a vaidade e a corrupção. Não porque somos evangélicos, mas porque somos humanos. 
* Ricardo Alexandre é jornalista e escritor, radialista e blogueiro, Prêmio Jabuti 2010, ex-diretor 
de redação das revistas Bizz, Época São Paulo e Trip. E é membro da Igreja Batista 
Água Viva em Vinhedo, interior de São Paulo. 
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/afinal-quem-sao-201cos-evangelicos201d-2053.html?

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

A cnbb em união estável com o príncipe das trevas
A cnbb em união estável com o príncipe das trevasA cnbb em união estável com o príncipe das trevas
A cnbb em união estável com o príncipe das trevas
Isabel Silva
 
Igreja e Cultura/Sociedade
Igreja e Cultura/SociedadeIgreja e Cultura/Sociedade
Igreja e Cultura/Sociedade
Nayara Santana Naves
 
Intolerância religiosa
Intolerância religiosaIntolerância religiosa
Intolerância religiosa
João Mendonça
 
Lendo a bíblia hoje
Lendo a bíblia hojeLendo a bíblia hoje
Lendo a bíblia hoje
Kaio Felipe
 
Mapa da Intolerância Religiosa
Mapa da Intolerância ReligiosaMapa da Intolerância Religiosa
Mapa da Intolerância Religiosa
Thiago Brito
 
capelania Escola Makiense.pdf
capelania Escola Makiense.pdfcapelania Escola Makiense.pdf
capelania Escola Makiense.pdf
WalderRodrigues1
 
Família em Perigo! - Ideologia de gênero (Revista Gospel)
Família em Perigo! - Ideologia de gênero (Revista Gospel)Família em Perigo! - Ideologia de gênero (Revista Gospel)
Família em Perigo! - Ideologia de gênero (Revista Gospel)
Carlos Silva
 
Estudo em Gálatas parte 1
Estudo em Gálatas parte 1Estudo em Gálatas parte 1
Estudo em Gálatas parte 1
Dókimos Aprovado
 
Bimba kids teen - 17-11-2013
Bimba kids teen - 17-11-2013Bimba kids teen - 17-11-2013
Bimba kids teen - 17-11-2013
Regina Lissone
 
Guia de luta contra a intolerância religiosa e racismo
Guia de luta contra a intolerância religiosa e racismoGuia de luta contra a intolerância religiosa e racismo
Guia de luta contra a intolerância religiosa e racismo
pascoal reload
 
O Povo da Bíblia (sermão)
O Povo da Bíblia (sermão)O Povo da Bíblia (sermão)
O Povo da Bíblia (sermão)
Álvaro José Marques do Rêgo
 
Apostila estudo sobre sociedade
Apostila   estudo sobre sociedadeApostila   estudo sobre sociedade
Apostila estudo sobre sociedade
João Batista Pastor
 
Intolerancia religiosa em salvador da bahia
Intolerancia religiosa em salvador da bahiaIntolerancia religiosa em salvador da bahia
Intolerancia religiosa em salvador da bahia
Igor Bulhões
 
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...
ParoquiaDeSaoPedro
 
Uma breve análise da inserção do protestantismo no brasil
Uma breve análise da inserção do protestantismo no brasilUma breve análise da inserção do protestantismo no brasil
Uma breve análise da inserção do protestantismo no brasil
Paulo Dias Nogueira
 
Do meu velho_bau_metodista
Do meu velho_bau_metodistaDo meu velho_bau_metodista
Do meu velho_bau_metodista
Paulo Dias Nogueira
 
A historia secreta dos jesuitas edmond paris
A historia secreta dos jesuitas edmond parisA historia secreta dos jesuitas edmond paris
A historia secreta dos jesuitas edmond paris
REFORMADOR PROTESTANTE
 
A história secreta dos jesuítas edmond paris
A história secreta dos jesuítas   edmond parisA história secreta dos jesuítas   edmond paris
A história secreta dos jesuítas edmond paris
V.X. Carmo
 
A historia secreta dos jesuitas edmond paris
A historia secreta dos jesuitas   edmond parisA historia secreta dos jesuitas   edmond paris
A historia secreta dos jesuitas edmond paris
Walter Santos
 

Mais procurados (19)

A cnbb em união estável com o príncipe das trevas
A cnbb em união estável com o príncipe das trevasA cnbb em união estável com o príncipe das trevas
A cnbb em união estável com o príncipe das trevas
 
Igreja e Cultura/Sociedade
Igreja e Cultura/SociedadeIgreja e Cultura/Sociedade
Igreja e Cultura/Sociedade
 
Intolerância religiosa
Intolerância religiosaIntolerância religiosa
Intolerância religiosa
 
Lendo a bíblia hoje
Lendo a bíblia hojeLendo a bíblia hoje
Lendo a bíblia hoje
 
Mapa da Intolerância Religiosa
Mapa da Intolerância ReligiosaMapa da Intolerância Religiosa
Mapa da Intolerância Religiosa
 
capelania Escola Makiense.pdf
capelania Escola Makiense.pdfcapelania Escola Makiense.pdf
capelania Escola Makiense.pdf
 
Família em Perigo! - Ideologia de gênero (Revista Gospel)
Família em Perigo! - Ideologia de gênero (Revista Gospel)Família em Perigo! - Ideologia de gênero (Revista Gospel)
Família em Perigo! - Ideologia de gênero (Revista Gospel)
 
Estudo em Gálatas parte 1
Estudo em Gálatas parte 1Estudo em Gálatas parte 1
Estudo em Gálatas parte 1
 
Bimba kids teen - 17-11-2013
Bimba kids teen - 17-11-2013Bimba kids teen - 17-11-2013
Bimba kids teen - 17-11-2013
 
Guia de luta contra a intolerância religiosa e racismo
Guia de luta contra a intolerância religiosa e racismoGuia de luta contra a intolerância religiosa e racismo
Guia de luta contra a intolerância religiosa e racismo
 
O Povo da Bíblia (sermão)
O Povo da Bíblia (sermão)O Povo da Bíblia (sermão)
O Povo da Bíblia (sermão)
 
Apostila estudo sobre sociedade
Apostila   estudo sobre sociedadeApostila   estudo sobre sociedade
Apostila estudo sobre sociedade
 
Intolerancia religiosa em salvador da bahia
Intolerancia religiosa em salvador da bahiaIntolerancia religiosa em salvador da bahia
Intolerancia religiosa em salvador da bahia
 
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...
 
Uma breve análise da inserção do protestantismo no brasil
Uma breve análise da inserção do protestantismo no brasilUma breve análise da inserção do protestantismo no brasil
Uma breve análise da inserção do protestantismo no brasil
 
Do meu velho_bau_metodista
Do meu velho_bau_metodistaDo meu velho_bau_metodista
Do meu velho_bau_metodista
 
A historia secreta dos jesuitas edmond paris
A historia secreta dos jesuitas edmond parisA historia secreta dos jesuitas edmond paris
A historia secreta dos jesuitas edmond paris
 
A história secreta dos jesuítas edmond paris
A história secreta dos jesuítas   edmond parisA história secreta dos jesuítas   edmond paris
A história secreta dos jesuítas edmond paris
 
A historia secreta dos jesuitas edmond paris
A historia secreta dos jesuitas   edmond parisA historia secreta dos jesuitas   edmond paris
A historia secreta dos jesuitas edmond paris
 

Semelhante a Artigo // Afinal, quem são os evangélicos?

Niilismo eclesiástico
Niilismo eclesiásticoNiilismo eclesiástico
Niilismo eclesiástico
Samuel Lima
 
A evangelizaçao da política 2 ee
A evangelizaçao da política 2 eeA evangelizaçao da política 2 ee
A evangelizaçao da política 2 ee
Elisio Estanque
 
Questões
QuestõesQuestões
Questões
ricardo ruiz
 
23 combatendo o inimigo
23 combatendo o inimigo23 combatendo o inimigo
23 combatendo o inimigo
Diego Fortunatto
 
Da religião e de juventude
Da religião e de juventudeDa religião e de juventude
Da religião e de juventude
Observatório Juvenil do Vale UNISINOS
 
Identidade Batistas Brasileiros
Identidade Batistas BrasileirosIdentidade Batistas Brasileiros
Identidade Batistas Brasileiros
usr_isaltino
 
Os batistas, seus 400 anos e sua contribuição teológica para o mundo abibet,
Os batistas, seus 400 anos e sua contribuição teológica para o mundo abibet,Os batistas, seus 400 anos e sua contribuição teológica para o mundo abibet,
Os batistas, seus 400 anos e sua contribuição teológica para o mundo abibet,
Jairo Mielnik
 
SEM LENÇO E NEM DOCUMENTO
SEM LENÇO E NEM DOCUMENTOSEM LENÇO E NEM DOCUMENTO
SEM LENÇO E NEM DOCUMENTO
Caio César
 
Lendo a bíblia hoje kaio
Lendo a bíblia hoje kaioLendo a bíblia hoje kaio
Lendo a bíblia hoje kaio
Kaio Felipe
 
IRLA
 IRLA IRLA
Acao social crista
Acao social cristaAcao social crista
Acao social crista
Marcos Lino
 
08 ramificacoes cristas
08 ramificacoes cristas08 ramificacoes cristas
08 ramificacoes cristas
Luiza Dayana
 
Um Pouco De HistóRia Das Ce Bs No Brasil
Um Pouco De HistóRia Das Ce Bs No BrasilUm Pouco De HistóRia Das Ce Bs No Brasil
Um Pouco De HistóRia Das Ce Bs No Brasil
Pastoral da Juventude
 
antonio inacio ferraz-Congregaçáo Cristã do Brasil
antonio inacio ferraz-Congregaçáo Cristã do Brasilantonio inacio ferraz-Congregaçáo Cristã do Brasil
antonio inacio ferraz-Congregaçáo Cristã do Brasil
ANTONIO INACIO FERRAZ
 
500 Anos Depois De Lutero.
500 Anos Depois De Lutero.500 Anos Depois De Lutero.
500 Anos Depois De Lutero.
REFORMADOR PROTESTANTE
 
ConscientizaçãO Fé E PolíTica
ConscientizaçãO Fé E PolíTicaConscientizaçãO Fé E PolíTica
ConscientizaçãO Fé E PolíTica
Star_seven
 
A influencia do protestantismo na sociedade goianiense
A influencia do protestantismo na sociedade goianienseA influencia do protestantismo na sociedade goianiense
A influencia do protestantismo na sociedade goianiense
Iran Teixeira
 
TUDO SOBRE A IRLA
TUDO SOBRE A IRLATUDO SOBRE A IRLA
TUDO SOBRE A IRLA
ASD Remanescentes
 
Pastoral coletiva de 1890
Pastoral coletiva de 1890Pastoral coletiva de 1890
Pastoral coletiva de 1890
Vanildo Zugno
 
O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas
O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadasO protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas
O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas
Rosiane Mota
 

Semelhante a Artigo // Afinal, quem são os evangélicos? (20)

Niilismo eclesiástico
Niilismo eclesiásticoNiilismo eclesiástico
Niilismo eclesiástico
 
A evangelizaçao da política 2 ee
A evangelizaçao da política 2 eeA evangelizaçao da política 2 ee
A evangelizaçao da política 2 ee
 
Questões
QuestõesQuestões
Questões
 
23 combatendo o inimigo
23 combatendo o inimigo23 combatendo o inimigo
23 combatendo o inimigo
 
Da religião e de juventude
Da religião e de juventudeDa religião e de juventude
Da religião e de juventude
 
Identidade Batistas Brasileiros
Identidade Batistas BrasileirosIdentidade Batistas Brasileiros
Identidade Batistas Brasileiros
 
Os batistas, seus 400 anos e sua contribuição teológica para o mundo abibet,
Os batistas, seus 400 anos e sua contribuição teológica para o mundo abibet,Os batistas, seus 400 anos e sua contribuição teológica para o mundo abibet,
Os batistas, seus 400 anos e sua contribuição teológica para o mundo abibet,
 
SEM LENÇO E NEM DOCUMENTO
SEM LENÇO E NEM DOCUMENTOSEM LENÇO E NEM DOCUMENTO
SEM LENÇO E NEM DOCUMENTO
 
Lendo a bíblia hoje kaio
Lendo a bíblia hoje kaioLendo a bíblia hoje kaio
Lendo a bíblia hoje kaio
 
IRLA
 IRLA IRLA
IRLA
 
Acao social crista
Acao social cristaAcao social crista
Acao social crista
 
08 ramificacoes cristas
08 ramificacoes cristas08 ramificacoes cristas
08 ramificacoes cristas
 
Um Pouco De HistóRia Das Ce Bs No Brasil
Um Pouco De HistóRia Das Ce Bs No BrasilUm Pouco De HistóRia Das Ce Bs No Brasil
Um Pouco De HistóRia Das Ce Bs No Brasil
 
antonio inacio ferraz-Congregaçáo Cristã do Brasil
antonio inacio ferraz-Congregaçáo Cristã do Brasilantonio inacio ferraz-Congregaçáo Cristã do Brasil
antonio inacio ferraz-Congregaçáo Cristã do Brasil
 
500 Anos Depois De Lutero.
500 Anos Depois De Lutero.500 Anos Depois De Lutero.
500 Anos Depois De Lutero.
 
ConscientizaçãO Fé E PolíTica
ConscientizaçãO Fé E PolíTicaConscientizaçãO Fé E PolíTica
ConscientizaçãO Fé E PolíTica
 
A influencia do protestantismo na sociedade goianiense
A influencia do protestantismo na sociedade goianienseA influencia do protestantismo na sociedade goianiense
A influencia do protestantismo na sociedade goianiense
 
TUDO SOBRE A IRLA
TUDO SOBRE A IRLATUDO SOBRE A IRLA
TUDO SOBRE A IRLA
 
Pastoral coletiva de 1890
Pastoral coletiva de 1890Pastoral coletiva de 1890
Pastoral coletiva de 1890
 
O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas
O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadasO protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas
O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas
 

Mais de Samuel Lima

(Artigo) Jornalismo Investigativo, por Rivaldo Chinem
(Artigo) Jornalismo Investigativo, por Rivaldo Chinem(Artigo) Jornalismo Investigativo, por Rivaldo Chinem
(Artigo) Jornalismo Investigativo, por Rivaldo Chinem
Samuel Lima
 
(Artigo) Assessoria de Imprensa e o Content Marketing
(Artigo) Assessoria de Imprensa e o Content Marketing(Artigo) Assessoria de Imprensa e o Content Marketing
(Artigo) Assessoria de Imprensa e o Content Marketing
Samuel Lima
 
(Trabalho acadêmico) Jornal Folha de Veneza
(Trabalho acadêmico) Jornal Folha de Veneza(Trabalho acadêmico) Jornal Folha de Veneza
(Trabalho acadêmico) Jornal Folha de Veneza
Samuel Lima
 
(Artigo) Um novo tipo de propaganda: O marketing no Facebook
(Artigo) Um novo tipo de propaganda: O marketing no Facebook(Artigo) Um novo tipo de propaganda: O marketing no Facebook
(Artigo) Um novo tipo de propaganda: O marketing no Facebook
Samuel Lima
 
Artigo - Ciberinfância - Rivaldo Chinem
Artigo - Ciberinfância - Rivaldo ChinemArtigo - Ciberinfância - Rivaldo Chinem
Artigo - Ciberinfância - Rivaldo Chinem
Samuel Lima
 
(Artigo) no jornalismo mentira não tem vez eduardo tessler
(Artigo) no jornalismo mentira não tem vez   eduardo tessler(Artigo) no jornalismo mentira não tem vez   eduardo tessler
(Artigo) no jornalismo mentira não tem vez eduardo tessler
Samuel Lima
 
(Artigo) Limites Éticos, por Rivaldo Chinem
(Artigo) Limites Éticos, por Rivaldo Chinem(Artigo) Limites Éticos, por Rivaldo Chinem
(Artigo) Limites Éticos, por Rivaldo Chinem
Samuel Lima
 
Traducao intersemiotica em grafismos e cantos htamha e steromkwa
Traducao intersemiotica em grafismos e cantos htamha e steromkwaTraducao intersemiotica em grafismos e cantos htamha e steromkwa
Traducao intersemiotica em grafismos e cantos htamha e steromkwa
Samuel Lima
 
Se queiras, podes sair
Se queiras, podes sairSe queiras, podes sair
Se queiras, podes sair
Samuel Lima
 
(Artigo) Do coreto e a funerária ao Templo de Salomão
(Artigo) Do coreto e a funerária ao Templo de Salomão(Artigo) Do coreto e a funerária ao Templo de Salomão
(Artigo) Do coreto e a funerária ao Templo de Salomão
Samuel Lima
 
Declaração da Convenção Batista Brasileira
Declaração da Convenção Batista BrasileiraDeclaração da Convenção Batista Brasileira
Declaração da Convenção Batista Brasileira
Samuel Lima
 
Cartilhas da Unicef sobre gestação e primeira infância
Cartilhas da Unicef sobre gestação e primeira infânciaCartilhas da Unicef sobre gestação e primeira infância
Cartilhas da Unicef sobre gestação e primeira infância
Samuel Lima
 
Artigo - Palavras de Mudança - Jânio de Freitas
Artigo - Palavras de Mudança - Jânio de FreitasArtigo - Palavras de Mudança - Jânio de Freitas
Artigo - Palavras de Mudança - Jânio de Freitas
Samuel Lima
 
Reportagem Especial - Palmas Outros Olhares
Reportagem Especial - Palmas Outros OlharesReportagem Especial - Palmas Outros Olhares
Reportagem Especial - Palmas Outros Olhares
Samuel Lima
 
Espiritualidade versus profissionalismo
Espiritualidade versus profissionalismoEspiritualidade versus profissionalismo
Espiritualidade versus profissionalismo
Samuel Lima
 
Arte em papel, by Calvin Nicholls
Arte em papel, by Calvin NichollsArte em papel, by Calvin Nicholls
Arte em papel, by Calvin Nicholls
Samuel Lima
 
Aguias e papagaios
Aguias e papagaiosAguias e papagaios
Aguias e papagaios
Samuel Lima
 
Guilherme - 10 anos
Guilherme - 10 anosGuilherme - 10 anos
Guilherme - 10 anos
Samuel Lima
 
Direitos quilombolas
Direitos quilombolasDireitos quilombolas
Direitos quilombolas
Samuel Lima
 
Veiculos estranhos
Veiculos estranhosVeiculos estranhos
Veiculos estranhos
Samuel Lima
 

Mais de Samuel Lima (20)

(Artigo) Jornalismo Investigativo, por Rivaldo Chinem
(Artigo) Jornalismo Investigativo, por Rivaldo Chinem(Artigo) Jornalismo Investigativo, por Rivaldo Chinem
(Artigo) Jornalismo Investigativo, por Rivaldo Chinem
 
(Artigo) Assessoria de Imprensa e o Content Marketing
(Artigo) Assessoria de Imprensa e o Content Marketing(Artigo) Assessoria de Imprensa e o Content Marketing
(Artigo) Assessoria de Imprensa e o Content Marketing
 
(Trabalho acadêmico) Jornal Folha de Veneza
(Trabalho acadêmico) Jornal Folha de Veneza(Trabalho acadêmico) Jornal Folha de Veneza
(Trabalho acadêmico) Jornal Folha de Veneza
 
(Artigo) Um novo tipo de propaganda: O marketing no Facebook
(Artigo) Um novo tipo de propaganda: O marketing no Facebook(Artigo) Um novo tipo de propaganda: O marketing no Facebook
(Artigo) Um novo tipo de propaganda: O marketing no Facebook
 
Artigo - Ciberinfância - Rivaldo Chinem
Artigo - Ciberinfância - Rivaldo ChinemArtigo - Ciberinfância - Rivaldo Chinem
Artigo - Ciberinfância - Rivaldo Chinem
 
(Artigo) no jornalismo mentira não tem vez eduardo tessler
(Artigo) no jornalismo mentira não tem vez   eduardo tessler(Artigo) no jornalismo mentira não tem vez   eduardo tessler
(Artigo) no jornalismo mentira não tem vez eduardo tessler
 
(Artigo) Limites Éticos, por Rivaldo Chinem
(Artigo) Limites Éticos, por Rivaldo Chinem(Artigo) Limites Éticos, por Rivaldo Chinem
(Artigo) Limites Éticos, por Rivaldo Chinem
 
Traducao intersemiotica em grafismos e cantos htamha e steromkwa
Traducao intersemiotica em grafismos e cantos htamha e steromkwaTraducao intersemiotica em grafismos e cantos htamha e steromkwa
Traducao intersemiotica em grafismos e cantos htamha e steromkwa
 
Se queiras, podes sair
Se queiras, podes sairSe queiras, podes sair
Se queiras, podes sair
 
(Artigo) Do coreto e a funerária ao Templo de Salomão
(Artigo) Do coreto e a funerária ao Templo de Salomão(Artigo) Do coreto e a funerária ao Templo de Salomão
(Artigo) Do coreto e a funerária ao Templo de Salomão
 
Declaração da Convenção Batista Brasileira
Declaração da Convenção Batista BrasileiraDeclaração da Convenção Batista Brasileira
Declaração da Convenção Batista Brasileira
 
Cartilhas da Unicef sobre gestação e primeira infância
Cartilhas da Unicef sobre gestação e primeira infânciaCartilhas da Unicef sobre gestação e primeira infância
Cartilhas da Unicef sobre gestação e primeira infância
 
Artigo - Palavras de Mudança - Jânio de Freitas
Artigo - Palavras de Mudança - Jânio de FreitasArtigo - Palavras de Mudança - Jânio de Freitas
Artigo - Palavras de Mudança - Jânio de Freitas
 
Reportagem Especial - Palmas Outros Olhares
Reportagem Especial - Palmas Outros OlharesReportagem Especial - Palmas Outros Olhares
Reportagem Especial - Palmas Outros Olhares
 
Espiritualidade versus profissionalismo
Espiritualidade versus profissionalismoEspiritualidade versus profissionalismo
Espiritualidade versus profissionalismo
 
Arte em papel, by Calvin Nicholls
Arte em papel, by Calvin NichollsArte em papel, by Calvin Nicholls
Arte em papel, by Calvin Nicholls
 
Aguias e papagaios
Aguias e papagaiosAguias e papagaios
Aguias e papagaios
 
Guilherme - 10 anos
Guilherme - 10 anosGuilherme - 10 anos
Guilherme - 10 anos
 
Direitos quilombolas
Direitos quilombolasDireitos quilombolas
Direitos quilombolas
 
Veiculos estranhos
Veiculos estranhosVeiculos estranhos
Veiculos estranhos
 

Artigo // Afinal, quem são os evangélicos?

  • 1. Sociedade Eleições 2014 Afinal, quem são “os evangélicos”? por Ricardo Alexandre — publicado 07/09/2014 07:40, última modificação 09/09/2014 15:03 De tanto que se falou sobre os evangélicos nas últimas semanas, nos jornais e nas redes sociais, talvez caiba uma pergunta: afinal, quem são “os evangélicos”? Homofóbicos, cortejados pela presidente, fundamentalistas. Massa de manobra de Silas Malafaia, conservadores, determinantes no segundo turno das eleições. De tanto que se falou sobre os evangélicos nas últimas semanas, nos jornais e nas redes sociais, talvez caiba uma pergunta: afinal, quem são “os evangélicos”? A resposta mais honesta não poderia ser mais frustrante: os evangélicos são qualquer pessoa, todo mundo, ou, mais especificamente, ninguém. São uma abstração, uma caricatura pintada a partir do que vemos zapeando pelos canais abertos misturado ao que lemos de bizarro nos tabloides da internet com o que nosso preconceito manda reforçar. Dizer que “o voto dos evangélicos decidirá a eleição” é tão estúpido quanto dizer a obviedade de que 22,2% dos brasileiros decidirão a eleição. Dizer que “os evangélicos são preconceituosos”, significa dizer que o ser humano é preconceituoso. É não dizer nada, na verdade. Acreditar que há uma hegemonia de pensamento, de comportamento ou de doutrina evangélica é, em parte, exatamente acreditar no que Silas Malafaia gosta de repetir, mas é, em Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/afinal-quem-sao-201cos-evangelicos201d-2053.html?
  • 2. parte, desconhecer a história. A diversidade de pensamento é a razão de existir da reforma protestante. E continuou sendo pelos séculos seguintes, quando as igrejas reformadas do século 16 deram origem ao movimento evangélico, aos pentecostais, e estes aos neopentecostais, todos microdivididos até o limite do possível, graças, novamente, à diversidade de pensamento – sobre forma de governo, vocação e pequenos e grandes pontos doutrinários. E boa parte dessas denominações não tem sequer organização central nem “presidência”, muito menos representantes possíveis, com as decisões sendo tomadas nas comunidades locais, por votação democrática. Assim como não existe “os evangélicos” também não existe “os pentecostais”, nem “os assembleianos”: dizer que Malafaia é o “papa da Marina Silva” como disse Leonardo Boff, apenas porque ambos são membros da Assembléia de Deus, é ignorar que, por trás dos 12,3 milhões de membros detectados pelo IBGE, a denominação é rachada entre ministérios Belém, Madureira, Santos, Bom Retiro, Ipiranga, Perus e diversos outros, cada um com seu líder, sua politicagem e sua aplicação doutrinária. A Assembléia de Deus Vitória em Cristo de Malafaia, aliás, sequer pertence à Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Ignorância parecida se manifesta em relação ao uso do termo “fundamentalista”, como sinônimo de “literalista”, aquele incapaz de metaforizar as verdades morais dos livros da Bíblia. A teologia cristã debate há dois mil anos sobre a observação, interpretação e aplicação dos escritos sagrados, quais são alegóricos e quais são históricos, quais são “poesias” e quais devem ser tomados ao pé da letra. O deputado Jean Wyllys, colunista da Carta Capital, do alto de alguma autoridade teológica presumida, já chegou à sua conclusão: o que não for leitura liberal, é fundamentalista e, portanto, uma ameaça às minorias oprimidas. (Liberalismo teológico é uma corrente do final do século 19 que propôs uma leitura crítica das escrituras, completamente alegorizada, negando sua autoridade sobrenatural, a existência dos milagres, e separando história e teologia). Só que isso simplesmente não é verdade. Dentro da multifacetação das igrejas de tradição evangélicas, há as chamadas “inclusivas”, mas há diversas igrejas históricas, tradicionais, teologicamente ortodoxas, que acreditam nos absolutos da “sola scriptura” da Reforma Protestante, mas que têm política acolhedora e amorosa com as minorias. Algumas criaram pastorais para tratar da questão homossexual, outras trabalham para integrá-los em seus quadros leigos; ou, ainda, como disse o pastor batista Ed René Kivitz, estão mais dispostos a aprender como tratar “uma pessoa que está diante de mim dizendo ter sido rejeitado pela família, pela igreja” do que discutir a literalidade dos textos do Velho Testamento. O panorama da questão pode ser melhor entendido em Entre a cruz e o arco-íris: A complexa relação dos cristãos com a Homoafetividade (de Marília de Camargo César, da Editora Autêntica), livro que tive a honra de editar. Nele, o pastor batista e sociólogo americano Tony Campolo, ex-conselheiro do presidente Bill Clinton, diz: “Se você vai dizer à comunidade homossexual que em nome de Jesus você a ama (...) não teria que lutar por políticas públicas que demonstrem que você as ama? Pode haver amor sem justiça? Eu luto pela justiça em favor de gays e lésbicas, porque em nome de Jesus Cristo eu os amo.” Campolo, entretanto, faz distinção entre direitos e casamento: “O governo não deve se envolver nem declarar, de forma alguma, o que é casamento, quem pode ou não se casar”, ele disse. “Governo existe para garantir os direitos das pessoas. Casamento é um sacramento da igreja – governos não devem decidir quem deve ou não receber esse sacramento.” Campolo acredita que esta será a visão dominante entre cristãos americanos “em cinco ou seis anos”. Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/afinal-quem-sao-201cos-evangelicos201d-2053.html?
  • 3. Entre os evangélicos brasileiros, há quem pense desde já como Campolo – distinguindo união civil de casamento. Há quem pense de forma ainda mais radical: que a união civil, com implicações patrimoniais e status de família, deveria valer não apenas para casais homossexuais, mas para irmãos, primos ou quem quer que se entenda como família. Há quem defenda o acolhimento dos gays nas igrejas, mas que se reserve o celibato para eles. Quem, embora sabendo que mais da metade das famílias brasileiras já não são no formato pai-mãe-filhos, ainda luta para restabelecer esse padrão idealizado. Há, sim, quem acredite que o seu conjunto de doutrinas e o seu modo de vida são fundamentais. Há aqueles ainda que, enquanto discutimos aqui, estão mais preocupados se a melhor tradução do grego é a João Ferreira de Almeida ou a Nova Versão Internacional. E há quem acorde diariamente acreditando ser o porta-voz do “povo de Deus”, pague espaço em redes de televisão para multiplicar esse delírio (mas, a julgar pelo 1% de intenção de voto do Pastor Everaldo, somente ativistas gays e jornalistas desmotivados acreditam nesse discurso). Esses são “os evangélicos”. Na fatídica sexta-feira em que o PSB divulgou seu programa de governo, enquanto Malafaia gritava no Twitter em CAPSLOCK furibundo, o pastor presbiteriano Marcos Botelho, postou: “Marina, que bom que vc recebeu os líderes do movimento LGBTs, receba as reivindicações com a tua coerência e discernimento de sempre e um compromisso com o estado laico que é sua bandeira. Vamos colocar uma pedra em cima dessa polarização ridícula entre gays e evangélicos que só da IBOPE para líderes políticos e pastores oportunistas.” Botelho não representa “os evangélicos” porque não existe “os evangélicos”. Mas Marcos Botelho existe e é evangélico. Assim como existe William Lane Craig, o filósofo que convida periodicamente Richard Dawkins para um debate público, do qual este sempre se esquiva; existe o geneticista Francis Collins vencendo o William Award da Sociedade Americana de Genética Humana; existe o presidente Jimmy Carter, dando aula na escola bíblica no domingo e sendo entrevistado para a capa da Rolling Stone por Hunter Thompson na segunda-feira; existe o pastor congregacional inglês John Harvard tirando dinheiro do próprio bolso para fundar uma universidade “para a glória de Deus” nos Estados Unidos que leva seu sobrenome até hoje; existe o pastor batista Martin Luther King como o maior ativista de todos os tempos; existe o jovem paulista Marco Gomes, o “melhor profissional de marketing do mundo”, pedindo licença para “falar uma coisa sobre os evangélicos”. E existe o Feliciano, o Edir Macedo, a Aline Barros, o Thalles Roberto, o Silas Malafaia e o mercado gospel. Como existe bancada evangélica, mas existem os que lutaram pela “separação entre igreja e estado” na constituição, e existem os que acreditam que levar Jesus Cristo para a política é trabalhar não para si, mas para os menos favorecidos. Existe o amor e existe a justiça, como existe o preconceito, o dogmatismo, o engano, o medo, a vaidade e a corrupção. Não porque somos evangélicos, mas porque somos humanos. * Ricardo Alexandre é jornalista e escritor, radialista e blogueiro, Prêmio Jabuti 2010, ex-diretor de redação das revistas Bizz, Época São Paulo e Trip. E é membro da Igreja Batista Água Viva em Vinhedo, interior de São Paulo. Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/afinal-quem-sao-201cos-evangelicos201d-2053.html?