O documento discute a "porta dos fundos da história", por onde saem aqueles que não conseguem lidar com as mudanças da vida. Um político em particular, que tentou ditar os rumos de seu povo com mão de ferro, agora deve sair pela porta dos fundos como derrotado e esquecido. O novo governo que assume possui a oportunidade de não repetir os erros do passado e levar o estado para frente de forma positiva.
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ADRIANO CASTORINO
adrianocastorino@uft.edu.br
Eis a porta dos fundos da história,
nela jaz um caminhante que tentou
sair, não como agora, roto,
avacalhado, escamoteado
TENDÊNCIAS E IDEIAS
01/01/2015
Se queiras, podes sair
A porta dos fundos da história é por onde saem aqueles que não podem olhar a
alvorada que a roda da vida sempre nos traz. Todo dia é dia de nascer e morrer, é
fato, ainda assim, há tempos que alguns se tornaram esqueletos na narrativa
inexorável da vida. Mas ainda não partiram do meio de nós. Zanzam por ai, como quem
de soslaio nos espanta a cada ocaso que faz deitar o sol.
À porta dos fundos da história está agora um emblema de nossa tocantinense história.
Homem tolo, talvez. Imaginou-se tão imortalizado nos anais que contam o rosário de
nossa lida que com mão de ferro tentou ditar os rumos de um povo. Deu em fim, na
velhice. A velhice, dizem os sábios, é lugar de prudência e sabedoria. Para alguns,
não.
Ah, a porta dos fundos da história! Lugar sombrio e sem brilhos. Sem glórias, olvidado.
Para esse lugar caminha agora um dos homens que mais tentou ser grande, tão
grande que seu nome deveria ser motivo de deferência. Mas a história é matreira. Nem
os maiorais mandam em seu curso. O algoz também passa, como agora, sem que
ninguém dê por ele. Mas não era tão querido?
Eis a porta dos fundos da história, nela jaz um caminhante que tentou sair, não como
agora, roto, avacalhado, escamoteado. Esse caminhante quando deu seu último passo
de sua história se apresentou ao povo, na ocasião, como um ente querido. Se querido
pelo povo, urdiram os marqueteiros, será aclamado e, portanto sairá dessa longa
caminhada pelos braços do povo. Era o estado do herói, homem da criação, para enfim
ser o herói do estado, o seu mártir.
Nessa porta, a dos fundos da história, agora capota um emblema que se queria lenda.
Deixa na história um governo de opróbrio, de jeito nefasto e canhestro. No dia da
posse, terá um ser, que fora posto para terminar o mandato, também tão esquálido que
a sensação geral será de alívio. Ufa, parece que podemos voltar a sonhar. Mas se
foram quatro anos, é preciso pressa. Diante de tanto desleixo, só mesmo com uma boa
dose de otimismo para que o próximo governo consiga ao menos fazer o mínimo.
A porta dos fundos da história é um bom lugar para uma longa meditação. Não é
possível ser dono da história, não é possível determinar os acontecimentos. Os rumos
de um povo pode até ser atrasado, em algum tempo, mas há esperança como agora
que pode nos dá mais ânimo para correr dia e noite e recuperar o tempo perdido. Esse
governo que ai entra, mais uma vez, pela porta da frente na história tocantinense
pode, se quiser, não sucumbir à tentação de ser eterno. Se assim o for, sairá, como
entra agora, pelas portas da frente.
No dia da posse será um dia de passagem, um daqueles dias que a história se
desenha aos olhos de todos. Sai um governo que ao fim e ao cabo tirou à força pelo
viés judicial o governo que agora entra. O que sai pela porta dos fundos além de
atribuir a si o protagonismo da criação do estado, dizia ser o que melhor sabia
governar. Deixa um rastro de destruição, tanto moral quanto material. O que entra, saiu
acusado de tudo, foi expulso da política e, como um acaso da vida, volta justamente
para selar para o esquecimento tão malsucedido governo do criador do estado.
Adriano Castorino é professor, técnico em Assuntos Educacionais e Doutor em
Ciências Sociais/Antropologia
E-mail: adrianocastorino@uft.edu.br