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Margarida entrou em casa e viu sua
mãe, que estava sentada em uma
poltrona, folheando uma revista. Sem
dizer nada, dirigiu-se à cozinha. A mãe
a interpelou:
– Com quem você esteve?
– Com a Rosa e o Edu.
– Edu?
– É o irmão da Rosa – respondeu
distraidamente.
– Você nunca me falou desse Edu.
– Eu o conheci há pouco tempo.
– E o que faz o Edu?
– Ora, mamãe, que curiosidade!
Discurso Direto
   No plano formal, um enunciado em discurso direto é
    marcado, geralmente, pela presença de verbos do tipo
    dizer, afirmar, ponderar, sugerir, perguntar, indagar ou
    expressões sinônimas, que podem introduzi-lo, arrematá-
    lo ou nele se inserir:

   "E Alexandre abriu a torneira:
   - Meu pai, homem de boa família, possuía fortuna grossa,
    como não ignoram." (Graciliano Ramos)

    "Felizmente, ninguém tinha morrido - diziam em redor."
    (Cecília Meirelles)
   Quando falta um desses verbos introdutórios,
    cabe ao contexto e a recursos gráficos - tais como
    os dois pontos, as aspas, o travessão e a
    mudança de linha - a função de indicar a fala do
    personagem. É o que observamos neste passo:

   "Ao aviso da criada, a família tinha chegado à janela.
    Não avistaram o menino:
    - Joãozinho!
    Nada. Será que ele voou mesmo?"
Discurso Indireto
   “Sorri — pois o que tinha a temer? Dei as boas-vindas aos
    senhores. O grito, disse, fora meu, num sonho. O velho,
    mencionei, estava fora, no campo. Acompanhei minhas
    visitas por toda a casa. Incentivei-os a procurar — procurar
    bem. Levei-os, por fim, ao quarto dele. Mostrei-lhes seus
    tesouros, seguro, imperturbável. No entusiasmo de minha
    confiança, levei cadeiras para o quarto e convidei-os para
    ali descansarem de seus afazeres, enquanto eu mesmo,
    na louca audácia de um triunfo perfeito, instalei minha
    própria cadeira exatamente no ponto sob o qual repousava
    o cadáver da vítima.”

    (O coração delator – Edgar Allan Poe)
   Ao contrário do que observamos nos enunciados
    em discurso direto, o narrador incorpora ao seu
    próprio falar, uma informação do personagem,
    contentando-se em transmitir ao leitor o seu
    conteúdo, sem nenhum respeito à forma
    lingüística que teria sido realmente empregada.

   "Elisiário confessou que estava com sono."
   "O padre Lopes confessou que não imaginara a
    existência de tantos doudos no mundo e menos
    ainda o inexplicável de alguns casos."

   Fora preso pela manhã, logo ao erguer-se da
    cama, e, pelo cálculo aproximado do tempo, pois
    estava sem relógio e mesmo se o tivesse não
    poderia consultá-la à fraca luz da masmorra,
    imaginava podiam ser onze horas." (Lima Barreto)
"Que vontade de voar lhe veio agora! Correu outra vez com a
respiração presa. Já nem podia mais. Estava desanimado. Que pena!
Houve um momento em que esteve quase... quase!
Retirou as asas e estraçalhou-a. Só tinham beleza. Entretanto,
qualquer urubu... que raiva... " (Ana Maria Machado)

"D. Aurora sacudiu a cabeça e afastou o juízo temerário. Para que
estar catando defeitos no próximo? Eram todos irmãos. Irmãos."
(Graciliano Ramos)


"O matuto sentiu uma frialdade mortuária percorrendo-o ao longo da
espinha.
Era uma urutu, a terrível urutu do sertão, para a qual a mezinha
doméstica nem a dos campos possuíam salvação.
Perdido... completamente perdido..."
( H. de C. Ramos)
   Do exame dos enunciados em itálico comprova-
    se que o discurso indireto livre conserva toda a
    afetividade e a expressividade próprios do
    discurso direto, ao mesmo tempo que mantém
    as transposições de pronomes, verbos e
    advérbios típicos do discurso indireto. É, por
    conseguinte, um processo de reprodução de
    enunciados que combina as características dos
    dois anteriormente descritos.
   No plano formal, verifica-se que o emprego do
    discurso indireto livre "pressupõe duas condições: a
    absoluta liberdade sintática do escritor (fator
    gramatical) e a sua completa adesão à vida do
    personagem (fator estético) " (Nicola Vita In: Cultura
    Neolatina).

   "Quincas Borba calou-se de exausto, e sentou-se
    ofegante. Rubião acudiu, levando-lhe água e pedindo
    que se deitasse para descansar; mas o enfermo após
    alguns minutos, respondeu que não era nada. Perdera o
    costume de fazer discursos é o que era."
   “Saltou pela traseira mesmo, sem pagar, os demais passageiros
    o olhavam, espantados, o trocador não teve tempo de protestar.
    Atirou-se num táxi que se deteve ante seus gestos frenéticos, foi
    direto à minha casa:

    — Você tem que me ajudar a sair dessa.

    Amigo é para essas coisas, mas não me dou por bom
    conselheiro em tais questões. Mal consigo eu próprio sair das
    minhas: a emenda em geral é pior do que o soneto. Ainda assim,
    tão logo ele me contou o que havia acontecido, ocorreu-me dizer
    que, se saída houvesse, ele teria que abrir mão de uma — com
    as duas é que não poderia ficar. Qual delas preferia?”

    (O golpe do comendador – Fernando Sabino)
    
   a) Evitando, por um lado, o acúmulo de quês,
    ocorrente no discurso indireto, e, por outro lado, os
    cortes das oposições dialogadas peculiares ao
    discurso direto, o discurso indireto livre permite
    uma narrativa mais fluente, de ritmo e tom mais
    artisticamente elaborados;

   b) O elo psíquico que se estabelece entre o narrador
    e personagem neste molde frásico torna-o o preferido
    dos escritores memorialistas, em suas páginas de
    monólogo interior;

   c) Finalmente, cumpre ressaltar que o discurso
    indireto livre nem sempre aparece isolado em
    meio da narração. Sua "riqueza expressiva
    aumenta quando ele se relaciona, dentro do
    mesmo parágrafo, com os discursos direto e
    indireto puro", pois o emprego conjunto faz que
    para o enunciado confluam, "numa soma total, as
    características de três estilos diferentes entre si".
   Celso Cunha in Gramática da Língua Portuguesa,
    2ª edição, MEC-FENAME.

   http://www.monica.com.br/comics/12trab/pag14.htm

   http://oficinaideiaseideais.blogspot.com/2008/09/discur

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  • 1. Margarida entrou em casa e viu sua mãe, que estava sentada em uma poltrona, folheando uma revista. Sem dizer nada, dirigiu-se à cozinha. A mãe a interpelou: – Com quem você esteve? – Com a Rosa e o Edu. – Edu? – É o irmão da Rosa – respondeu distraidamente. – Você nunca me falou desse Edu. – Eu o conheci há pouco tempo. – E o que faz o Edu? – Ora, mamãe, que curiosidade!
  • 3. No plano formal, um enunciado em discurso direto é marcado, geralmente, pela presença de verbos do tipo dizer, afirmar, ponderar, sugerir, perguntar, indagar ou expressões sinônimas, que podem introduzi-lo, arrematá- lo ou nele se inserir:  "E Alexandre abriu a torneira:  - Meu pai, homem de boa família, possuía fortuna grossa, como não ignoram." (Graciliano Ramos)  "Felizmente, ninguém tinha morrido - diziam em redor." (Cecília Meirelles)
  • 4. Quando falta um desses verbos introdutórios, cabe ao contexto e a recursos gráficos - tais como os dois pontos, as aspas, o travessão e a mudança de linha - a função de indicar a fala do personagem. É o que observamos neste passo:  "Ao aviso da criada, a família tinha chegado à janela. Não avistaram o menino: - Joãozinho! Nada. Será que ele voou mesmo?"
  • 6.
  • 7. “Sorri — pois o que tinha a temer? Dei as boas-vindas aos senhores. O grito, disse, fora meu, num sonho. O velho, mencionei, estava fora, no campo. Acompanhei minhas visitas por toda a casa. Incentivei-os a procurar — procurar bem. Levei-os, por fim, ao quarto dele. Mostrei-lhes seus tesouros, seguro, imperturbável. No entusiasmo de minha confiança, levei cadeiras para o quarto e convidei-os para ali descansarem de seus afazeres, enquanto eu mesmo, na louca audácia de um triunfo perfeito, instalei minha própria cadeira exatamente no ponto sob o qual repousava o cadáver da vítima.”  (O coração delator – Edgar Allan Poe)
  • 8. Ao contrário do que observamos nos enunciados em discurso direto, o narrador incorpora ao seu próprio falar, uma informação do personagem, contentando-se em transmitir ao leitor o seu conteúdo, sem nenhum respeito à forma lingüística que teria sido realmente empregada.  "Elisiário confessou que estava com sono."
  • 9. "O padre Lopes confessou que não imaginara a existência de tantos doudos no mundo e menos ainda o inexplicável de alguns casos."  Fora preso pela manhã, logo ao erguer-se da cama, e, pelo cálculo aproximado do tempo, pois estava sem relógio e mesmo se o tivesse não poderia consultá-la à fraca luz da masmorra, imaginava podiam ser onze horas." (Lima Barreto)
  • 10. "Que vontade de voar lhe veio agora! Correu outra vez com a respiração presa. Já nem podia mais. Estava desanimado. Que pena! Houve um momento em que esteve quase... quase! Retirou as asas e estraçalhou-a. Só tinham beleza. Entretanto, qualquer urubu... que raiva... " (Ana Maria Machado) "D. Aurora sacudiu a cabeça e afastou o juízo temerário. Para que estar catando defeitos no próximo? Eram todos irmãos. Irmãos." (Graciliano Ramos) "O matuto sentiu uma frialdade mortuária percorrendo-o ao longo da espinha. Era uma urutu, a terrível urutu do sertão, para a qual a mezinha doméstica nem a dos campos possuíam salvação. Perdido... completamente perdido..." ( H. de C. Ramos)
  • 11. Do exame dos enunciados em itálico comprova- se que o discurso indireto livre conserva toda a afetividade e a expressividade próprios do discurso direto, ao mesmo tempo que mantém as transposições de pronomes, verbos e advérbios típicos do discurso indireto. É, por conseguinte, um processo de reprodução de enunciados que combina as características dos dois anteriormente descritos.
  • 12. No plano formal, verifica-se que o emprego do discurso indireto livre "pressupõe duas condições: a absoluta liberdade sintática do escritor (fator gramatical) e a sua completa adesão à vida do personagem (fator estético) " (Nicola Vita In: Cultura Neolatina).  "Quincas Borba calou-se de exausto, e sentou-se ofegante. Rubião acudiu, levando-lhe água e pedindo que se deitasse para descansar; mas o enfermo após alguns minutos, respondeu que não era nada. Perdera o costume de fazer discursos é o que era."
  • 13. “Saltou pela traseira mesmo, sem pagar, os demais passageiros o olhavam, espantados, o trocador não teve tempo de protestar. Atirou-se num táxi que se deteve ante seus gestos frenéticos, foi direto à minha casa: — Você tem que me ajudar a sair dessa. Amigo é para essas coisas, mas não me dou por bom conselheiro em tais questões. Mal consigo eu próprio sair das minhas: a emenda em geral é pior do que o soneto. Ainda assim, tão logo ele me contou o que havia acontecido, ocorreu-me dizer que, se saída houvesse, ele teria que abrir mão de uma — com as duas é que não poderia ficar. Qual delas preferia?”  (O golpe do comendador – Fernando Sabino)   
  • 14. a) Evitando, por um lado, o acúmulo de quês, ocorrente no discurso indireto, e, por outro lado, os cortes das oposições dialogadas peculiares ao discurso direto, o discurso indireto livre permite uma narrativa mais fluente, de ritmo e tom mais artisticamente elaborados;  b) O elo psíquico que se estabelece entre o narrador e personagem neste molde frásico torna-o o preferido dos escritores memorialistas, em suas páginas de monólogo interior; 
  • 15. c) Finalmente, cumpre ressaltar que o discurso indireto livre nem sempre aparece isolado em meio da narração. Sua "riqueza expressiva aumenta quando ele se relaciona, dentro do mesmo parágrafo, com os discursos direto e indireto puro", pois o emprego conjunto faz que para o enunciado confluam, "numa soma total, as características de três estilos diferentes entre si".
  • 16. Celso Cunha in Gramática da Língua Portuguesa, 2ª edição, MEC-FENAME.  http://www.monica.com.br/comics/12trab/pag14.htm  http://oficinaideiaseideais.blogspot.com/2008/09/discur