SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 20
Baixar para ler offline
DESCONSTRUINDO A TEOLOGIA: UMA
PROPOSTA METODOLÓGICA*
Fernando L. Canale**
1. Introdução
No começo do século XXI a teologia cristã tem se caracterizado por uma crescente
fragmentação de seus projetos teológicos. O espírito ecumênico e pós-moderno1
de nosso
tempo justifica, sustenta e favorece a proliferação de interpretações que vem ocorrendo desde
os dias da Reforma protestante. Paralelamente, o ecumenismo tem desenvolvido um espírito
de aceitação entre as muitas denominações cristãs que desvaloriza perigosamente o papel das
reflexões teológicas como instrumento necessário para a sobrevivência do cristianismo
fragmentado teologicamente.
Para superar o pós-modernismo, a tradição tornou-se o método. Cada teólogo trabalha dentro
de sua tradição. Desta forma a teologia se converteu em explicações e reformulações das
tradições recebidas.2
O papel proeminente que a tradição tem ocupado na construção da
teologia cristã não é novo. É conhecido a sua importância na construção da teologia Católica
Romana.3
Com menor destaque, mas de peso notável, é a esfera de influência que ela tem
sobre a teologia moderna4
e evangélica conservadora.5
A tradição tem sido considerada tão
importante, que o Catolicismo e o modernismo teológico a considera fonte de revelação.6
Infelizmente, o uso da tradição para superar o pós-modernismo7
oculta e reinstaura as
interpretações e conclusões estabelecidas com o uso da razão que o pós-modernismo nega.
Em outras palavras, ao mesmo tempo em que aceitam a crítica pós-modernista à razão
absoluta, aceitam as tradições que se formaram com o seu uso, constroem sobre uma
contradição metodológica. Os teólogos que persistem em construir a partir de tradição
particular, provavelmente não se tem dado conta que as tradições que tem recebido ocultam
em si um processo de construção que tem comprometido sua integridade intelectual e
religiosa.
Para superar o pós-modernismo e ao mesmo tempo a crescente crise de fragmentação que a
teologia cristã tem atravessado, só existe um caminho. A teologia cristã deve basear-se não
sobre a tradição e sim sobre a revelação bíblica.8
Mas, para construir sobre a revelação
bíblica, é necessário primeiro desconstruir vinte séculos de tradição.
A maioria dos teólogos cristãos pertence a comunidades religiosas cujas credenciais são
concebidas, desenvolvidas e transmitidas pela tradição. Não devemos nos surpreender quando
se confere a tradição o papel diretivo na interpretação da revelação cristã e da formulação de
suas doutrinas.9
Neste artigo proponho que é chegado o momento para desconstruir a teologia cristã. A
desconstrução como método crítico, deve dirigir-se às pressuposições hermenêuticas sobre as
quais se baseiam as diferentes linhas da tradição cristã. Isto levará necessariamente à
desconstrução de toda a tradição edificada sobre esse fundamento. Este processo é necessário
para podermos ter acesso ao conhecimento da revelação divina, que o grande sistema
teológico cristão tem obscurecido e esquecido durante muito tempo. Sem este processo
crítico, a teologia não poderá superar a fragmentação e o provincianismo teológico que a
aprisiona. Este trabalho explorará a estrutura formal e a tarefa de desconstruir que pode ser
aplicada a qualquer tradição, interpretação bíblica e doutrina.
Para alcançarmos nosso propósito, começaremos por reconhecer (1) que a teologia resulta de
um processo tradicional interpretativo. Logo em seguida trataremos de (2) descrever
brevemente a noção de desconstrução, e (3) o papel que os princípios hermenêuticos têm na
construção teológica. Na sequência descreveremos (4) a origem filosófica e (5) o conteúdo
dos princípios da teologia clássica. Depois consideraremos (6) a desconstrução filosófica da
ontologia clássica e (7) a alternativa hermenêutica fundamental que por meio da mesma se
levanta a teologia cristã. Então apresentaremos a (8) Bíblia como fundamento, (9) e a
independência hermenêutica da filosofia como metodologia, e (10) a relação Deus-tempo
como perspectiva macro hermenêutica para a desconstrução-construção da teologia cristã.
Concluiremos com uma referência ao (11) papel que desempenha a teologia bíblica na
desconstrução.
2. Teologia como tradição interpretativa
A desconstrução da teologia cristã necessita, ao menos em parte, entender o processo
interpretativo-construtivo que a originou. A Escritura reconhece a tradição como processo
comunicativo por meio do qual se transmitem as verdades reveladas por Deus (Jud 1-3; 1 C0
15:1-3). Este processo inclui a interpretação das verdades reveladas por Deus. Essa tradição
não inclui só a constituição do conhecimento teológico, mas a produção cognitiva de todo os
seres humanos. Como todo conhecimento humano, a teologia cristã é formada por meio de
um processo histórico que denominamos de tradição. Este processo pode ser descrito
fenomenologicamente.10
Aqui só necessitamos reconhecer algumas de suas diretrizes
fundamentais.
Formalmente a tradição é um fenômeno histórico cognitivo. Isto é, por tradição nos referimos
ao processo espaço-temporal através do qual se forma o conhecimento humano. Existem dois
níveis principais da tradição, a saber, o processo cognitivo e seu resultado. O primeiro é uma
atividade, o segundo uma interpretação que temos acesso através da escrita ou da fala.11
Enquanto a tradição como uma atividade ocorre no presente, como interpretação escrita ela
ocorreu no passado quando houve interpretação do texto do que ele queria comunicar.12
Sendo que toda a teologia é produto da tradição escrita e experienciada, é correto dizer, como
afirma o pós-modernismo, que todos pertencemos a uma tradição que nos envolve de forma
específica.13
O pertencer a uma tradição, no entanto, é apenas o ponto de partida para a
interpretação e isso não implica que o nosso conhecimento é limitado pela tradição se formos
abertos para as coisas em si e deixá-las falar. Assim, ocorrerá a revisão e substituição de
nossos preconceitos tradicionalmente recebidos.14
Em suma, a natureza da tradição como processo interpretativo envolve dois conceitos
fundamentais, os quais possibilitam a desconstrução da teologia cristã. Primeiro, conhecer é
interpretar. Em outras palavras, no começo do século XXI a razão intelectual do período
clássico (Aristóteles), e a razão pura do período moderno (Kant-Hegel), foram substituídas
por motivo de hermenêutica pós-moderna (Heidegger-Gadamer).15
Ou seja, a tradição cristã
tem interpretado a Bíblia e construido suas doutrinas assumindo ambas as interpretações da
razão e da ontologia [razão pura] nas quais ela tem se basado,16
é necessário perguntar se é
possível continuar interpretando o texto bíblico e construindo uma doutrina cristã sobre uma
tradição teológica eregida sobre um fundamento que se tem tornado hipotético, relativo,
suspeito e fragmentado. Infelizmente a maioria dos teólogos continua construindo suas
interpretações e doutrinas sobre uma posição filosófica truncada com problemas no campo
filosófico.17
Em segundo lugar, na teologia "o interpretar" é determinado com base no conceito de
revelação que assumimos, isto é, vamos sempre partir do conceito de revelação que temos. No
cristianismo "o conceito" está constituído por revelação de Deus na história as quais podemos
acessar nas páginas da Bíblia. Esta revelação e sua interpretação contida nas Escrituras
Sagradas é o fundamento cognitivo da teologia cristã por meio da qual encontramos um Deus
vivo. Toda interpretação teológica, inclusive a interpretação da revelação e inspiração, tem
origem neste fundamento. Esta base não pode ser reconstruída, mas a regra estabelece normas
pelas quais qualquer interpretação deve ser analisada, julgada e desconstruída, se necessário,
para permitir a formulação de interpretações alternativas em harmonia com o fundamento
bíblico. A este fundamento toda a tradição teológica deve prestar contas.
3. O que é a desconstrução?
Antes de explicar nossa proposta de desconstrução da teologia cristã é necessário nos
determos por um momento para esclarecer a noção de desconstrução. No final da década de
sessenta, Jacques Derrida, filósofo francês, nascido na Argélia, usou a palavra
"desconstrução" para se referir ao método crítico que ele estava aplicando ao estudo de textos
literários e filosóficos.18
Minha intenção não é descrever o pensamento de Derrida, mas usá-lo
como uma referência geral para retratar o sentido em que usaremos o termo "desconstrução"
neste artigo.
De acordo com o filósofo norte-americano John Caputo, a desconstrução popularizada pelo
pensamento de Derrida é textual, "transgressora" e messiânica. A análise crítica de Derrifa é
textual porque ele se concentra nos textos clássicos e utiliza ferramentas e procedimentos
linguísticos.19
É "transgressora"20
porque consiste em leituras de obras clássicas em
dissonância ou "transgressão" da leitura favorecida pelas tradições vigentes de interpretação.21
Finalmente, a desconstrução de Derrida é messiânica (tem um lado positivo) porque, devido à
influência de sua herança judaica, se abre para um futuro absoluto, que permite a reinvenção
da religião.22
É claro que se trata de uma religião baseada na fé (experiência) humana, e não
na revelação de Deus na história (Escritura).
O desconstrucionismo de Derrida, todavia, não é tão revolucionário como aplicou o filósofo
alemão Martin Heidegger à metafísica tradicional. Hans-Georg Gadamer descreveu a natureza
revolucionária do desconstrucionismo heideggeriano dizendo que, no começo do século XX,
Heidegger "desencadeou uma crítica do idealismo cultural" que destruiu "a tradição filosófica
dominante".23
"O bilhante esquema do Ser e tempo verdadeiramente significou uma
transformação que trouxe efeitos duradouros em quase todas as ciências".24
Heidegger não só
criticou, mas substitui o fundamento hermenêutico em que se baseou a tarefa intelectual da
filosofia e as ciências. Este é o tipo de desconstrução que é necessário no campo da teologia
cristã.
A desconstrução não é um fim em si mesmo, mas um instrumento para abrir o caminho a
uma nova construção. Isso está claro nos escritos de Derrida e Heidegger. Não deve ser
diferente no campo da teologia. Desconstrução é o procedimento necessário para abrir-se o
caminho através do emaranhado de ideias produzidas por séculos de construção teológica, de
volta para a base fornecida pela revelação divina. Em outras palavras, a desconstrução abre o
espaço necessário para a revelação bíblica que deve ser seriamente considerada como fonte do
trabalho teológico.
Em teologia a tarefa de desconstruir não é nova. A Reforma protestante é o exemplo clássico
de desconstrução na história do cristianismo. Os reformadores, no entanto, não
desconstruiram o fundamento hermenêutico sobre o qual a teologia clássica construiu o seu
sistema de salvação pelas obras. O desconstrucionismo portestante se dirigiu especialmente a
doutrina da salvação. Lutero efetivamente desconstruiu o sistema de salvação pelas obras
reinante no Catolicismo Romano. Descartou a salvação por meio das obras meritórias e
afirmou a justificação pela fé. Esta troca de paradígma foi possível porque a desconstrução do
sistema religioso vigente permitiou o descobrimento da verdade que estava oculta no texto
bíblico. Infelizmente, a compreenção teológica da verdade encontrada no texto bíblico foi
"construída" sobre o sistema hermenêutico clássico. Desta maneira, a contribuição positiva
dada pela Reforma, foi anuviada por uma hermenêutica obscurecida e distorcida do conteúdo
teológico da revelação bíblica.
Para entendermos a desconstrução que proponho neste artigo é necessário considerar o papel e
o conteúdo dos princípios hermenêuticos sobre os quais se construiu, e continua construindo-
se a teologia cristã.
4. Os princípios hermenêuticos
É necessário perguntarmos: o que desconstrói a desconstrução? A desconstrução desconstrói
as interpretações teológicas recebidas. Para poder desconstruir uma interpretação, primeiro
necessitamos conhecer a natureza do ato interpretativo, ou seja, responder a pergunta: o que é
interpretação? Esta pergunta tem sido estudada em detalhes pela hermenêutica filosófica,
disciplina filosófica de origem recente.25
Durante o século XX, Gadamer, entre outros, se
dedicou a estudar a interpretação como fenômeno do conhecimento humano.26
Aqui só
precisamos reconhecer que essa interpretação sempre depende dos pressupostos que usamos
para conhecer, estudar ou desenvolver um tema. Por isso é necessário nesta secção identificar
os princípios básicos da hermenêutica que sempre estão presentes na construção teológica.
Estes elementos que integram a hermenêutica teológica nós denominaremos "princípios",
porque eles são os que iniciam e condicionam toda atividade teológica. Embora estes
"princípios" podem também serem catalogados como "pressuposições", quando visto a partir
dos pensamentos e doutrinas que ajudaram a moldar, não devem ser confundidos com a
plenitude do condicionamento histórico que compõem a totalidade da experiência humana que
nós estimamos em nossa memória. Os princípios ou pressuposições macro hermenêuticos se
distinguem do resto de nossas pressuposições por sua generalidade ou universalidade. Este
recurso nos ajuda a identificar qual princípio se encontra no pensamento teológico, se a
revelação bíblica ou tradição teológica. Em síntese, os princípios hermenêuticos consistem
num conjunto de noções gerais intimamente relacionadas que por sua universalidade
condicionam o todo do pensamento telógico cristão.
Aceitamos o que consideramos óbvio. E é a partir daí que os teólogos geralmente assumem
uma interpretação da realidade a que se referem as suas teologias. Ao proceder desta maneira,
a maioria não percebe dois fatos básicos. O primeiro deles é que eles têm recebido,
inadvertidamente, o conhecimento através do processo de tradição focado na educação
formal, e, segundo, que o que foi recebido é uma das várias interpretações possíveis. Sendo
que a teologia se refere principalmente a Deus, aos seres humanos e ao relacionamento Deus-
criação, obviamente, cada teólogo tem ideias sobre estas realidades ao interpretar os textos
bíblicos e construir suas doutrinas. Além disso, os teólogos assumem uma interpretação do
processo cognitivo que permite a teologia humana como reflexão. A interpretação da
realidade inclui as noções de Ser, Deus, homem-mundo, e tudo mais. A interpretação do
conhecimento humano inclui epistemologia, hermenêutica, metodologia e a origem do
conhecimento teológico (revelação e inspiração).
5. A origem filosófica da hermenêutica teológica
Estas realidades são estudadas por uma série de disciplinas que tradicionalmente têm
pertencido ao fazer filosófico. Elas são a ontologia geral de onde se estuda o ser; as ontologias
regionais de onde se estuda Deus (teologia), o homem (antropologia), e o mundo
(cosmologia); a metafísica onde se estuda a realidade como um todo inter-relacionado; a
epistemologia, a hermenêutica filosófica e metodológica, onde se estudam os princípios
cognitivos encarregados da tarefa teológica; e finalmente, a doutrina da revelação e inspiração
onde se estuda a origem do conhecimento teológico, isto é, se considera que os homens têm
informações a respeito de Deus para desenvolver a atividade teológica.
A descrição dos princípios hermenêuticos esboçados no parágrafo anterior é o resultado claro
que a filosofia foi incumbida de estudar em detalhe, incluindo o desenvolvimento de
disciplinas especializadas para cada um em particular. Deste ponto em diante, a abertura dos
teólogos a filosofia não é forçada, mas facilitada pelos fatos descritos acima. Primeiro, a
teologia deve assumir as interpretações das realidades mencionadas e, segundo, que o estudo
técnico dessas realidades é a própria especialidade das diversas disciplinas filosóficas. No
entanto, o uso que os teólogos fazem da filosofia varia de acordo com o foco, disciplina e
nível de análise e tradição que cada um escolhe de acordo com sua personalidade, habilidades
e educação.
A maioria dos teólogos usam os recursos filosóficos de uma maneira intuitiva. Geralmente, os
teólogos protestantes e evangélicos procedem desta maneira. Os poucos que se dedicam a
reflexionar sobre o método teológico que empenham, tratam de minimizar a importância e o
alcance dos recursos filosóficos e científicos que introduzem a atividade teológica.
Caracterizam as contribuições da filosofia na teologia como "ocasionais", para facilitar a
proclamação do evangelho.27
Para evitar que a filosofia reine sobre a teologia, aconselha-se a
não adotar um sistema filosófico definido e também não se deve permitir que a filosofia
determine a reflexão teológica.28
A ideia de que metodologicamente a filosofia tem algo a
dizer, mas não devemos deixá-la dizer muito. Nos leva as seguintes indagações: Que pequena
contribuição à filosofia deve dar a teologia? Em que consiste esta "pequena" contribuição
dada ao teólogo na tarefa de explicar os conteúdos da fé cristã?29
Aparentemente esta função
parece inofensiva. Aliás, não devemos comunicar o evangelho em um contexto moderno
mesmo? Contudo, a função hermenêutica que a filosofia e a ciência desempenham na tradição
cristã se faz ocasionalmente visível. Por exemplo, Richard Rice, teólogo adventista norte-
americano, declara que "ao explicar os conteúdos da fé cristã, a teologia deve explorar suas
pressuposições básicas sobre a realidade, e para esta tarefa o uso de evidência pública é
essencial".30
Tomás de Aquino, um dos mais notáveis teólogos de todos os tempos, desenvolveu com
precisão o uso hermenêutico da filosofia sobre o qual construíu seu impressionante sistema
teológico, no pequeno livro O ente e a essência,31
e na primeira questão da Suma Teológica.32
Além disso, logo de início assinalou Aquino a importância fundamental desta atividade,
dizendo que "um pequeno erro no início pode levar a grandes erros na construção final".33
Infelizmente, a maioria dos teólogos não explicam com tanta precisão os princípios
hermenêuticos que assumem. Para descubrí-los, o investigador se vê obrigado literalmente a
"desenterrá-los" dentre os escritos teológicos produzidos por cada teólogo.
6. A hermenêutica da Teologia Clássica
A principal necessidade de desconstrução que estamos propondo se deve ao fato de que a
tradição cristã integrou ideias humanas que acabaram por substituir a revelação divina.
Antecipando este perigo, Paulo expressou seu desejo que nada enganasse os cristãos "com sua
filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo
e não segundo Cristo" (Col 2:8; RA). Cristo mesmo repreendeu os dirigentes da igreja porque
invalidavam a palavra de Deus mediante a tradição (Mc 7:13; Mt 15:1-3; RA). Apesar das
claras advertências de Cristo e do apóstolo Paulo, a tradição cristã logo começou a construir
sobre a base da filosofia grega. Infelizmente o que Paulo temia e Cristo condenou, começou a
moldar os princípios hermenêuticos utilizados para a construção da teologia cristã clássica.
Por isso, a convicção heideggeriana que a metafísica havia sido construída dentro de uma
dinâmica onto-teo-lógica se aplica também ao que ocorreu na área teológica.34
Em outras palavras, é um feito histórico onde a teologia cristã foi construída (interpretou e
formulou) e transmitida sob a hermenêutica da filosofia grega. Filosofia e ciência continuam,
consciente ou inconscientemente, determinando a hemenêutica a partir do qual os teólogos do
século XXI têm "reconstruido" à fragmentada teologia cristã.
Cedo em sua história, a teologia cristã começou a definir sua perspectiva hermenêutica
fundamental não a partir da revelação divina que encontramos no Antigo Testamento, se não a
partir da filosofia grega.35
Partindo desta perspectiva a maioria das tradições cristãs
construíram e continuam construindo seus estudos teológicos. Uma mistura entre filosofia e
ciência se formou em um nível tão primordial que hoje se apresenta claramente como
fundamento do cristianismo bíblico. Esto levou a convicção que a teologia tem uma
diversidade de fontes; se destacan a Bíblia, a tradição, a razão (filosofia, ciência e cultura) e a
experiência cristã. A diferença entre estudos teológicos (e as igrejas que patrocinam) se
originou na hermenêutica fundamental adotada, a fonte que a fundamenta e a noção de
revelação e inspiração que as justifica para seu uso teológico.
A influência da filosofia grega introduziu uma troca paradigmática no âmbito hermenêutico
fundamental. A convicção que a teologia platônica descreve a natureza da realidade,
completando desta maneira as Escrituras, levou a redefinição das noções de Deus e de
homem. Daí a construção onto-teo-lógica da qual Heidegger fala. Esta construção se aplica
não somente a metafísica, mas também a teologia cristã. Em outras palavras, a interpretação
da realidade produzida por Platão (ontos) determinou a interpretação de Deus como ser
atemporal (theo) e a interpretação da razão (logos).36
Também, a ontologia platônica introduz
a ideia da imortalidade da alma. E desta maneira as doutrinas platônicas acerca da natureza da
realidade divina e humana, determinaram, entre outras, a noção de Deus e a natureza humana
(a nível macro hermenêutico).37
Estas desenvolvem um papel decisivo na interpretação das
doutrinas cristãs (nível meso hermenêutico),38
e a interpretação do texto bíblico (nível micro
hermenêutico).39
Estes princípios macro hermenêuticos também determinam a interpretação,
formulação e aplicação do método teológico.40
A fundamentação filosófica e científica da macro hermenêutica teológica é responsável, em
grande parte, pela fragmentação da teologia moderna e pós-moderna. Sendo que a maioria dos
teólogos, consciente ou inconscientemente, derivam seus princípios hermenêuticos da
filosofia e das ciências, essas mudanças em si, necessariamente, exigem alterações na
hermenêutica teológica e a posterior reconstrução das doutrinas cristãs.
Os teólogos católicos e protestantes da ala liberal derivam conscientemente sua hermenêutica
e muitas de suas crenças de doutrinas filosóficas e científicas modernas e pós-modernas.
Simplesmente não podem aceitar os ensinamentos da Bíblia que não concordem com suas
preferências intelectuais e morais.41
Embora, em teoria estas tradições podem aplicar o
método desconstrutivo que estou sugerindo, na prática não farão. Depois de tudo, não tem
outra base onde construir do que nas vacilantes posições da ciência e filosofia
contemporâneas. Aqueles que assim procedem têm esquecido a conclusão do sermão do
monte, quando Cristo advertiu que "todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as
pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia" (Mt
7:26, RA).
Já a situação do protestantismo conservador é diferente. A maioria dos teólogos protestantes e
evangélicos conservadores ingenuamente creem que suas teologias estão baseadas nos
princípios hermenêuticos e doutrinários bíblicos. Teoricamente, se afirma a primazia da Bíblia
em suas funções hermenêuticas, doutrinárias e críticas. Todavia, a análise crítica das doutrinas
protestantes revela que o evangelicalismo conservador continua construindo suas doutrinas
sobre as bases macro e meso hermenêuticas clássicas. Quiçá a desconstrução da teologia
cristã seja apreciada por aqueles que intentam construir sua teologia em obediência ao
pensamento bíblico.
O fundamento hermenêutico que marca o período clássico da teologia continua com certas
modificações e adaptações, definindo a imensa maioria dos estudos teológicos modernos e
pós-modernos.42
Por essa razão, esta secção é limitada a delinear os elementos básicos do
sistema hermenêutico, que foi concebido e formulado no período clássico da teologia cristã.
Esta descrição permitirá ao leitor apreciar (1) as continuidades e mudanças paradigmáticas
que tem tido lugar na teologia cristã a partir da idade moderna, e (2) a hegemonia do
fundamento hermenêutico clássico sobre as várias formas de tradição cristã que se
desenvolveram ao longo da história. Naturalmente, nós deixaremos o desenvolvimento destes
temas para outra oportunidade.
7. A desconstrução filosófica da ontologia clássica
No começo do século XXI já estamos acostumados a descrever nosso tempo como "pós-
moderno". Também estamos habituados a associar a pós-modernidade com o fim da razão
absoluta da modernidade. Ou seja, aceitamos como um fato que a razão não pode produzir
resultados absolutos que sejam universalmente válidos para todos os seres humanos de todos
os tempos. A razão pós-moderna é a razão histórica ou hermenêutica a que aludimos
indiretamente neste artigo quando falamos da natureza da interpretação (secção 4 acima).
Sobre esta base, a pós-modernidade se define como uma superação (em continuidade e
descontinuidade) da síntese filosófica moderna. O que a maioria não percebe é que a pós-
modernidade tem produzido uma mudança mais fundamental no paradigma intelectual do
ocidente desde os dias de Parmênides.
A natureza desta mudança tem sido articulada a seu nível mais profundo no nível ontológico,
por Heidegger. Aqui tentarei explicar esta mudança de forma simples e concisa. Ao fazê-lo,
meu propósito é mostrar que a teologia cristã não pode continuar construindo suas
interpretações sobre interpretações recebidas da tradicionalmente, sem se submeter o sistema
hermenêutico sobre o qual se tem trabalhado por quase dois mil anos a uma detalhada e
cuidadosa descontrução.
Heidegger desconstruiu não somente os fundamentos da filosofia moderna, mas os
fundamentos da filosofia clássica sobre os quais se construiu a filosofia moderna. Esse feito
guiou sua desconstrução do conceito de ser, o conceito mais geral de todos os conceitos de
acordo com Aristóteles.43
No seu livro, Ser e Tempo, Heidegger começa colocando em dúvida
que possuímos um entendimento apropriado de ser e afirma que a interpretação de tempo é
uma pressuposição necessária para entender o conceito de ser.44
Todavia, pelo o que sei,
nunca foi a intenção de Heidegger virar de cabeça para baixo dois mil e seiscentos anos de
tradição filosófica, no entanto, é exatamente o que podemos ver em suas declarações e nas
interpretações do ser que ele desenvolveu pacientemente e detalhadamente em sua longa
carreira filosófica.45
Ao adotar esta perspectiva implícita na obra tardia de Husserl,46
o
"fenômeno", que é o que nós recebemos através dos sentidos no fluxo histórico de nossa
consciência, passou a ter nível ontológico pela primeira vez na história da filosofia
ocidental.47
Heidegger compreendia a característica revolucionária de sua proposta desconstrutiva-
construtiva, isso fica claro quando lemos a seguinte citação:
Não estamos experimentando o alvorecer da transformação mais monstruosa pela qual
já tenha passado nosso planeta, o amanhecer de uma época da qual o mundo mesmo está
surpreso? Não enfrentamos o entardecer de uma noite que anucia outro amanhecer?
Devemos começar a caminhar em direção a região histórica do entardecer do planeta? Esta
terra do entadercer (ocidente) emergente? Cobrirá esta terra do entardecer tanto ao
Ocidente como ao Oriente e transporá o que é meramente Europeu chegará a se o lugar para
um novo destino histórico mais primordial?... Somos os que chegamos tarde? Mas, não
somos ao mesmo tempo precursores do novo amanhecer de uma época totalmente diferente?48
Como isso afeta a teologia cristã, a desconstrução da ontologia clássica que encontramos no
pensamento de Heidegger?
8. Alternativa hermenêutica fundamental
Recordando que a tradição teológica cristã em suas diversas manifestações tem construido
assumindo a ontologia clássica, devemos, no entanto, considerar o impacto que a revolução da
modernidade ontológica chefiada por Heidegger representa para a atividade teológica. Tal
como referi no início deste artigo, os teólogos de todas as tradições tentam superar o
relativismo da razão pós-moderna construindo sobre as bases sempre vacilantes das tradições
a que pertencem. O que este procedimento desconhece é a desconstrução ontológico sobre os
quais está assenta a interpretação historicista da razão pós-moderna. Na linguagem de
Heidegger, teólogos continuam esquecendo-se do ser, ou seja, o pressuposto hermenêutico
fundamental sobre o qual se tem construiu seus sistemas teológicos.
Consideremos brevemente os seguintes fatos. (1) Na ordem de importância dos princípios ou
pressuposições hemenêuticas não há pressuposição mais universal do que a noção geral do
ser.49
(2) Parmênides interpretou o ser como atemporal.50
(3) A filosofia ocidental selou sua
sorte ou direção hermenêutica quando Sócrates, Platão e Aristóteles adotaram a interpretação
atemporal do ser, originada em Parmênides.51
Dali em diante, tudo foi interpretado em
filosofia e teologia pela noção geral do ser, dentro da dinâmica onto-teo-lógica. (4)
Começando incipientemente com Justino, o Mártir, e continuando explicitamente com
Orígenes e Agostinho, a teologia cristã selou seu destino intelectual ao definir sua perspectiva
macro hermenêutica a partir das ideias ontológicas platônicas e aristotélicas. Assumindo
princípios hermenêutico derivados da ontologia clássica, Deus e homem foram concebidos
como realidades, não históricas.52
Esta decisão está por trás da tradição teológica cristã
clássica e moderna.53
(5) Heidegger interpreta convincentemente o ser de um modo totalmente
diferente da ontologia tradicional, que serve de base, à concepção teológica do Deus Cristão
até hoje. Em consequência, uma alternativa hemenêutica fundamental confronta filósofos e
teólogos. Afinal de contas, eles consideraram o ser, e por conseguinte a realidade como um
todo da perspectiva atemporal ou da perspectiva temporal? Infelizmente, a maioria dos
teólogos não conhece ainda, esta alternativa fundamental que lhes é apresentada e continuam
reconstruindo sobre a base macro hermenêutica clássica.
Infelizmente, sabemos que a razão humana não pode provar com certeza absoluta a alternativa
que devemos escolher. Na realidade, racionalmente falando, não há melhores razões para
escolher uma interpretação em vez de outra. Mas, temos de escolher, porque a eleição é
necessária para o funcionamento da razão e da construção do pensamento filosófico,
científico, religioso e teológico. Assim, o pós-modernismo não encontra uma outra base que
não seja na tradição. Se o fundamento é a tradição, então, não há pouco lugar na teologia para
desconstruir o sistema ontológica sobre a qual se baseia a tradição. Deste modo, a teologia
católica continua adaptando-se progressivamente às novas ideias teológicas, sem desfazer a
ontologia tradicional em que se baseia. Exemplos dessa tendência pode ser visto no projeto
teológico de Karl Rahner na Alemanha,54
e Avery Dulles nos Estados Unidos da america.55
Em geral acontece a mesma coisa com a teologia evangélica conservadora.
No entanto, o leitor não deve pensar que a desconstrução teológica é inexistente. Como já
mencionamos, o grande iniciador da desconstrução parece ter sido Lutero.56
Recentemente, o
pentecostal filósofo James K. A. Smith tem produzido uma desconstrução do pensamento
Agostiniano muito interessante, que ilustra em parte a necessidade de desconstrução profunda
do sistema macro hermenêutico.57
Também se pode distinguir a presença da desconstrução
como metodologia crítica na chamada teologia de "Deus aberto" (em inglês "open view of
God" ).58
O aspecto desconstrutivo deste enfoque teológico reflete-se no feroz debate que se
tem originado dentro da teologia evangélica norte-americana.59
No entanto, nenhum desses
exemplos de desconstrução é direcionado ao fundamento macro hermenêutico sobre o qual se
tem construído as tradições teológica cristã.
A crítica desconstrutiva na filosofia e teologia mostra que é possível desconstruir. Se as
tradições teológicas seriamente considerarem a alternativa hermenêutica fundamental que é a
interpretações do ser produzida por Parmênides e Heidegger, começariam a duvidar da macro
hermenêutica sobre a qual estão construindo. Ao gerar esta dúvida sobre a base macro
hermenêutica da tradição cristã e é este o papel fundamental que a alternativa Parmênides-
Heidegger desempenha na teologia. E a partir desta dúvida na tradição recebida pelos
teólogos começarem a construir a teologia cristã sobre uma base macro hermenêutica
derivada da revelação bíblica, produziriam uma revolução teológica tal qual nunca houve
desde os dias de nosso Senhor Jesus Cristo.
9. A Bíblia como fundamento para a desconstrução
Como metodologia crítica, a desconstrução ajuda-nos a voltar para o fundamento sobre o qual
a tradição pretende construir suas posições teológicas. No caso da filosofia, Heidegger utiliza
a desconstrução para alcançar "as mesmas coisas", e construir a partir delas.60
Desta forma, é
evidente que o pós-modernismo hermenêutico não promover um subjetivismo total como
popularmente supõe. Muito pelo contrário, é um convite a considerar seriamente as
verdadeiras bases existentes fora do assunto cognoscente,61
a partir dos quais se produz uma
nova construção.
A meta da desconstrução é, portanto, a nova construção que torna tudo mais fácil. Esta
construção, no entanto, não será possível se após a desconstrução não encontramos "as
mesmas coisas" sobre a qual edificar. Mas, quais são as "as mesmas coisas" em teologia?
James Smith parece sugerir que na teologia "as mesmas coisas" referir-se a Deus ou o
Espírito, como "a Palavra sem palavras".62
É claro que esta interpretação das "mesmas coisas"
surge da experiência pentecostais do autor.63
Em conformidade com Pentecostalismo e o
carismatismo contemporâneo, o crente diretamente experimentando a presença de Deus, "as
coisas em si". Esta noção é semelhante ao "evangelho" ou a experiência espiritual da
justificação pela fé como entendido Lutero.64
O recurso da presença de Deus como "Palavra sem palavras", certamente permite Smith
fundamentar a conclusão de que pretendia atingir, a saber, conseguir espaço na comunidade
teológica para a diferença de interpretações.65
No entanto, esta fundação não é suficiente para
uma nova construção teológica nem para pensar num novo princípio macro hermenêuticos da
teologia. Como resultado, a variedade de interpretações no bojo da comunidade que alcança
Smith terá de se basear, em longo prazo, sobre a hermenêutica tradicional.66
O
desconstrutivismo de Smith trabalha em analogia ao pensamento derridiano, ou seja, não se
aplica a desconstrução do fundamento ontológico da hermenêutica.
Do ponto de vista da origem do conhecimento teológico, "as mesmas coisas" não podem
referir-se a Bíblia como a revelação divina.67
Gadamer nos ensina que "as mesmas coisas" não
são só pessoas ou acontecimentos históricos mas também textos.68
Mesmo Smith parece
pressupor que a única revelação cognoscitiva e pública que temos para desenvolver o
pensamento teológico em termos pentecostal, é a revelação bíblica.69
Depois de tudo, a
desconstrução iniciada por Lutero foi possível exatamente devido a revelação bíblica. Da
mesma forma, sem a revelação bíblica a desconstrução dos princípios hermenêuticos da
teologia seria impossível.
10. Rumo à independência hermenêutica
Como temos visto, a desconstrução da teologia cristã é necessária devido à dependência
hermenêutica que teólogos têm adotado ao tomar emprestado da filosofia os princípios macro
hermenêuticos para entender a Deus, a natureza humana, o mundo, e todo o conhecimento
humano e a origem do saber teológico. E, a partir desses princípios, interpretar a Bíblia e
construir o pensamento dogmático. A desconstrução teológica deve reverter esta dependência.
Afirmam que a Escritura apresenta "as mesmas coisas" significa que ela irá guiar-nos tanto no
processo desconstrutivo como no processo construtivo. Esta afirmação é o primeiro passo de
desconstrução. De fato, para darmos este passo, substituímos a ordem onto-teo-lógico da
teologia clássica pela ordem onto-teo-lógica das Escrituras.70
Isto significa que não definimos
o conteúdo dos princípios da teologia macro hermenêutica a partir de uma ontologia, mas da
reflexão teológica. Assim como Heidegger começou seu estudo do ser de uma descrição do
fenômeno humano, e dali proceguiu com os entes e a metafísica, a teologia deve começar a
desconstrução considerando o fenômeno divino. Em outras palavras, não podemos começar
filosóficamente, mas teologicamente. Para fazer isso, nós devemos definir os princípios macro
hermenêuticos necessários para o seu funcionamento com base nas "mesmas coisas" que são
dadas especificamente como disciplina independente, ou seja, a partir do texto bíblico. Ao
fazê-lo, a teologia declara sua independência metodológica e hermenêutica da filosofia.
Isto exige uma reinterpretação radical da questão das fontes da teologia tradicionalmente
concebidas largamente do chamado "quadrilátero wesleyano".71
Não nos interessa a origem
histórica da ideia se não seu significado metodológico. Em geral a teologia cristã está
acostumada a construir usando toda fonte que lhe é útil. O quadrilátero simplesmente
classifica as fontes sobre as quais a teologia se baseia, sendo quatro tipos, a saber: a Bíblia, a
tradição, a razão e a experiência. Diferentes tradições utilizam as fontes com ênfases
diferentes. Em geral, os proponentes do quadrilátero dão preminência as Escrituras
outorgando-lhe um rol primário ou normativo que em nossos dias geralmente se expressa na
fórmula "prima Scriptura".72
Assim se dá um lugar privilegiado as Escrituras, e ao mesmo
tempo se reconhece que a teologia deve construir-se utilizando outras fontes que
complementam a Escritura para "entender" e "comunicar" sua mensagem de salvação.
Ao afirmar o princípio sola Scriptura, a desconstução que propomos deve aplicar-se ao
quadrilátero wesleyano a fim de explicar o novo papel que as Escrituras tem em relação com
as outras fontes tradicionalmente utilizadas. Este novo papel consiste na determinação dos
princípios hermenêuticos a partir dos quais se constroi a teologia cristã. O quadrilátero é
efetivamente desconstruído em dois níveis, fonte e recurso. A fonte se refere as "mesmas
coisas" provindas do texto bíblico caracterizado pelos princípios sola e tota Scriptura.73
Sob a
análise crítica dos princípios os recursos, incluem, entre outros, a tradição, as ciências, a
filosofia e a experiência. Esta função da Bíblia e dos recursos que permitem interpretar,
criticar e selecionar para uso teológico é conhecida como prima Scriptura. Prima Scriptura,
por outro lado, opera sob a guia hermanêutica do sola Scriptura e a guia doutrinal de tota
Scriptura.
Reconhecer simultaneamente que as Escrituras é a revelação específica de Deus e que nossos
princípios hermenêuticos para entender essa revelação devem basear-se nas interpretações
hipotéticas da natureza e da história produzida pela filosofia e ciência contemporâneas, não
traz resultados convincentes. Ainda mais, violenta o princípio científico básico que indica que
devemos desenvolver o nosso conhecimento científico por meio de observação cuidadosa das
próprias coisas. Se Deus revelou-se na Escritura especificamente, por que razão havemos nós
de recorrer a filosofia para determinar o princípio hermenêutico da teologia? Que isto se tenha
feito no passado ou continua a ser feito em nossos dias não justifica, ou seja, isso não
significa que é o caminho a percorrer, mas aquilo que deveria ser desconstruído. É muito mais
convincente definir os princípios macro hermêuticos da teologia à partir daquilo que é dado
como específica e detalhada revelação de Deus na Bíblia. Evidentemente, a desconstrução do
quadrilátero wesleyano requer a desconstrução da doutrina da revelação e inspiração, a qual
eu abordo em outro lugar.74
Mas para que a desconstrução da teologia cristã seja possível, não só necessitamos assegurar
um ponto de partida nas "mesmas coisas" reveladas por Deus nas Escrituras, e a
independência hermenêutica e metodológica da teologia, se não também assegurarmos uma
perspectiva hermenêutica fundamental que substitua a que desconstruiremos.
11. Deus e o tempo
A teologia cristã pode resolver a alternativa hermenêutica fundamental que apresentamos na
secção 8 deste artigo somente a partir do pensamento bíblico. Devemos continuar construindo
a teologia cristã da perspectiva hemenêutica atemporal derivada da ontologia grega? Ou
devemos construí-la na nova perspectiva temporal apresentada por Heidegger?
Felizmente, a crítica da razão tradicional tem mostrado que a razão pura não pode definir
absolutamente entre interpretações opostas. A razão pode distinguir entre posições corretas ou
incorretas a partir de dados apresentados. Por tanto, somente o que é dado à teologia pode
ajudar-nos a definir a perspectiva hemenêutica fundamental a seguir no processo
desconstrutivo-construtivo das tradições da teologia cristã. Somente a Bíblia pode decidir esta
questão para a teologia cristã. Este procedimento se baseia nos princípios metodológicos que
discutimos na secção 9 e 10.
A Bíblia é clara a respeito. Deus é apresentado não como ser atemporal se não como um ser
histórico compatível com o tempo e o espaço de sua criação. Um estudo fenomenológico do
texto clássico para o ser de Deus nas Escrituras, Êxodo 3, revela que o ser de Deus não é
atemporal se não temporal.75
Esta perspectiva está começando a ser reconhecida, discutida76
e
inclusive utilizada com propósitos mini desconstrutivos. Exemplo do último é a teoria do
"Deus aberto" que mencionamos na secção 8. Todavia, os proponentes desta teoria não têm
chegado a reconhecer o caráter revolucionário da concepção bíblica de Deus como um ser
temporal para a macro hemenêutica e para a desconstrução-construção da teologia cristã em
geral.
Em conjunto e dependendo da noção de Deus, a ideia do homem desempenha um papel
importante na hermenêutica teológica (ver secção 8). Com base na hermenêutica tradicional a
natureza humana é entendida como "alma" atemporal.77
Com base na concepção de Deus
temporária, a Bíblia entende natureza humana ou "alma" como um todo de natureza
temporária.78
A desconstrução da teologia cristã, então, porcede a partir da concepção bíblica do ser de
Deus (ontologia bíblica) como uma realidade temporal. Deus e o tempo é o ponto de partida e
ao mesmo tempo o primeiro aspecto para a desconstrução-construção da hermenêutica sobre a
qual se baseia a teologia cristã. O clareamento deste tema requer vários volumes. Aqui é
necessária apenas uma palavra de advertência. A "temporalidade" de Deus não deve ser
definida a partir dos princípios hermenêuticos da teologia tradicional, nem identificada com a
temporalidade humana, tampouco a partir de estudos filosóficos e científicos acerca da
temporalidade, se não a partir da revelação divina dada pela Bíblia como um todo.
Enquanto esta perspectiva não é desenvolvida, todavia, é possível entender e aplicar o
conceito de Deus como um ser temporal tal como apresentado e assumido na teologia do texto
bíblico. Isto não significa que devemos conceber a Deus como limitado pelo tempo da
criação, se não como "supratemporal" não no sentido que sua natureza é atemporal, e sim no
sentido de que seu ser e vida tem lugar na plenitude do tempo, da qual nosso tempo é somente
uma parte limitada. Certamente, que Deus sendo concebido assim, significa que tem a
capacidade de experimentar a sucessão temporal do passado, presente e futuro. Ou seja, sem
modificar seu ser ou sua constituição ontológica nem perder sua absoluta perfeição, a vida de
Deus é capaz de experimentar e fazer coisas novas não só "para nós" como para a divindade.
Este conceito é fundamental não só para entendermos a providência divina, como
corretamente argumenta a posição do Deus aberto, se não, que é muito mais importante, a
obra salvífica de Deus na história. Uma atividade similar deve ser feita a fim de entender a
historicidade da natureza humana a partir das Escrituras. Quando, a partir da concepção
bíblica de Deus e dos seres humanos como realidade histórica, se procede à desconstrução das
doutrinas cristãs, é surpreendente constatar que muito daquilo que a tradição nos ensina, por
exemplo, as doutrinas tais como justificação ou a inspiração das Escrituras, se baseiam na
interpretação das naturezas divina e da natureza humana como substâncias atemporais.79
Por motivos diferentes daqueles que motivaram a Heidegger para desconstruir a onto-teo-
logia da metafísica clássica e moderna, a desconstrução da teologia também é baseada na
concepção temporal da realidade. A grande diferença de Heidegger reside em que a teologia
não depende das suas categorias de análise, que se baseiam numa hipotética descrição da
ordem da criação, mas da revelação de Deus que a teologia cristã tem como sua área de
estudo. É a partir do estudo hermenêutico, área própria da teologia, deve descobrir, discutir,
desenvolver, implementar, criticar e ajustar o macro, meso e micro pressupostos
hermenêuticos que ela precisa para funcionar. Dentre eles os teólogos podem prolongar o
desconstrução-construção para qualquer disciplina, metodologia, interpretação, ensino e
aplicação produzida pela teologia cristã tradicional. Como resultado, não serão eliminadas as
doutrinas cristãs, mas será restaurada a compreensão teológica da mesma que encontramos
nas páginas das Escrituras Sagradas.
12. Desconstrução e teologia bíblica
Sob a orientação hermenêutica da filosofia grega, a teologia cristã foi construída em grande
parte como teologia sistemática. Embora as origens daquilo que hoje conhecemos como
teologia bíblica podem ser rastreadas até à Reforma Protestante do século XVI, só foi a partir
de meados do século XVIII que podemos discutir este assunto como uma disciplina
independente.80
O impulso desconstrutivo da teologia bíblica foi visto imediatamente pela sua
oposição às conclusões a que chegaram os teólogos sistemáticos.81
Os progressos feitos pela
teologia bíblica foram revolucionários em muitos aspectos, alguns deles, infelizmente, muito
negativo devido à sua dependência da macro hermenêutica clássica e moderna.
A desconstrução que propusemos neste artigo obviamente se relaciona intimamente com a
teologia bíblica. Antes de utilizar o texto bíblico reconstrutivamente, devemos desconstruir a
metodologia por meio da qual interpretamos. A metodologia amplamente aceita na disciplina
é conhecida como método histórico-crítico de interpretação bíblica.82
Se bem que esta
metodologia tem sido criticada pelos próprios membros desta disciplina, todavia é necessário
proceder com sua desconstrução e substituição a partir dos princípios macro hemenêuticos
que a sustentam.83
Em termos simples, esta metodologia não pode ser utilizada no projeto
desconstrutivo da teologia cristã que estamos propondo devido que a mesma trabalha a partir
do princípio macro hermenêutico clássico e moderno que devem ser desconstruídos. Como
resultado, a aplicação do método histórico-crítico produz-se a desconstrução e, por
conseguinte a destruição do pensamento bíblico.
Sobre a base de uma desconstrução-reconstrução da metodologia exegética, a teologia bíblica
se torna uma aliada insdispensável para a desconstrução-construção das doutrinas e práticas
cristãs. Felizmente, a concepção bíblica arrespeito da historicidade da natureza divina e
humana é tão clara, que é afirmada ainda pela leitura histórico-crítica do texto. A partir desta
perspectiva hermenêutica fundamental é possível desconstruir o método histórico-crítico e
construir outro para substituí-lo. Como no caso da compreensão de Deus e o tempo (secção
11), a desconstrução do método histórico-crítico requer um estudo sério e detalhado.
13. Conclusão
Penso que as ideias apresentadas neste artigo são suficientes para concluir que uma
descosntrução da teologia cristã é necessária e que sua construção a partir das "mesmas
coisas" dadas a teologia como revelação especial de Deus é possível.
Se bem que a tarefa de desconstrutiva tem antecedentes na tradição cristã, notavelmente na
obra de Lutero e nas tradições que, como os anabatistas [reforma radical], trataram de
restaurar o cristianismo do Novo Testamento, é claro que nunca se tem tratado de reconstruí-
la a partir da desconstrução dos fundamentos hermenêuticos que a sustentam. Se uma missão
tal tem produzido resultados importantes na área filosófica, é lógico esperar que resultados
similares se produzam na área da teologia.
A desconstrução da teologia cristã é necessária porque em sua construção esqueceu-se da
interpretação histórica de Deus, do homem, do mundo, da totalidade, e do conhecimento, e da
origem do conhecimento teológico que encontramos nas Escrituras. Este esquecimento,
perpetuado pela institucionalização do cristianismo em uma variedade de denominações,
levou em grande parte, a uma crise de fragmentação cada vez maior e a irrelevância que o
Cristianismo sofre na época moderna. Esta lacuna deve ser substituída por uma nova atitude
de abertura ao pensamento revelado por Deus nas Escrituras. A construção que gerou esta
atitude obediente deve, evidentemente, ser sujeito às mesmas críticas que a gerou para
garantir que o mesmo fato não se repita pela segunda vez.
Como temos sugerido, a tarefa de desconstrução deve começar no nível macro hermenêutico,
e dali partiu para todos os níveis, metodologias, tradições, exegese, doutrinas, ensinamentos,
práticas e teólogos cristãos. Desta forma, estaremos construindo sobre a rocha da palavra que
recebemos na Sagrada Escritura (Antigo e Novo Testamentos) como nos ordenou nosso
Senhor Jesus Cristo (Mt 7: 24).
__________________________________________________________________________
*Artigo publicado pela primeira vez na revista: DavarLogos: Revista Bíblico-Teológica, Entre
Ríos: Argentina, Editora: Universidad Adventista del Plata, v. 1, n. 1, p. 3-26, 2002. Tradução
para o português: Régerson Molitor da Silva – molitor7@hotmail.com
**Fernando L. Canale, professor de Teologia e Filosofia da Andrews University, Michigan,
EUA.
1
Jean-François Lyotard, The Postmodern Condition: A Report on Knowledge (trad. Geoff
Bennington y Brian Massumi; 10 vols.; Minneapolis: University of Minnesota Press, 1979),
10:xxiii, introduce la noción de posmodernidad de la siguiente manera: “The word is in
current use on the American continent among sociologists and critics; it designates the state of
our culture following the transformations which, since the end of the nineteenth century, have
altered the game rules for science, literature, and the arts”.
2
Delwin Brown, Boundaries of our Habitations: Tradition and Theological Construction
(New York: State University of New York Press, 1994), y Kwabena Donkor, Tradition as a
Viable Option for Protestant Theology: The Vicentian Method of Thomas C. Oden (Ann
Arbor: UMI, 2001).
3
Jean-Georges Boeglin, La question de la tradition dans la théologie catholique
contemporaine (Paris: Éditions du Cerf, 1998); Avery Dulles, The Craft of Theology: From
Symbol to System (New York: Crossroad, 1992), y Carlos Alfredo Steger, Apostolic
Succession in the Writings of Yves Congar and Oscar Cullmann (AUSDDS 20; Berrien
Springs: Andrews University Press, 1995), 144-65.
4
Ernst Troeltsch, The Christian Faith (trad. Garrett E. Paul; Minneapolis: Fortress, 1991), 40.
5
Alister McGrath, “Engaging the Great Tradition: Evangelical Theology and the Role of
Tradition”, en Evangelical Futures: A Conversation on Theological Method (ed. John G.
Stackhouse, Jr.; Grand Rapids: Baker, 2000), 139-58, y Norman L. Geisler, Thomas Aquinas:
An Evangelical Appraisal (Grand Rapids: Baker, 1991).
6
Dulles, The Craft of Theology, 103-14; Troeltsch, The Christian Faith, 40.
7
Recientemente el teólogo metodista Thomas C. Oden ha recurrido explícitamente a la
tradición utilizada para superar el relativismo posmodernista, véase por ejemplo su After
Modernity–What?: Agenda For Theology (Grand Rapids: Zondervan, 1992), 60.
8
Fernando L. Canale, Back to Revelation-Inspiration: Searching for the Cognitive
Foundations of Christian Theology in a Postmodern World (Lanham: University Press of
America, 2001).
9
Que la tradición juega el papel hermenéutico determinante en el Catolicismo Romano y
protestantismo modernista no necesita explicación. Menos reconocido, es el rol hermenéutico
que la tradición ejerce en el protestantismo, aun en el evangelicalismo conservador. En el
catolicismo un grupo de teólogos intenta superar el secularismo, la indiferencia hacia la
teología y la postodernidad mediante un retorno a la tradición patrística. Este movimiento se
autodenomina “Ortodoxia Radical” (véase John Milbank et al., eds., Radical Orthodoxy: A
New Theology [London-New York: Routledge, 1999], 1-2). En el evangelicalismo el uso de la
tradición como recurso hermenéutico se nota, por ejemplo en el llamado a utilizar más
libremente la tradición que encontramos en el enfoque histórico de D. H. Williams, Retrieving
the Tradition and Renewing Evangelicalism: A Primer for Suspicious Protestants (Grand
Rapids: Eerdmans, 1999), y el proyecto teológico modernista de Stanley J. Grenz, Theology
for the Community of God (Nashville: Broadman & Holman, 1994), 16-20, y también Stanley
J. Grenz, Renewing the Center: Evangelical Theology in a Post-Theological Era (Grand
Rapids: Baker, 2000), 208-9.
10
Hans-Georg Gadamer, Truth and Method (trad. Joel Weinsheimer y Donald G. Marshall, 2a
edición rev.; New York: Continuum, 1989), 292-307, provee un análisis fenomenológico de la
tradición.
11
Alister McGrath, “Engaging the Great Tradition”, 141, identifica estos niveles como
“proceso” y “conjunto de doctrinas” (inglés: “body of teaching”).
12
Thomas C. Oden, The Living God (New York: HarperCollins, 1992), 337-8, reconoce estos
niveles a los cuales denomina “palabra recordada” y “palabra experimentada”.
13
Hans-Georg Gadamer, Truth and Method, 295.
14
Ibid., 266-7.
15
Aun Alister McGrath, “Engaging the Great Tradition”, 148, evangélico conservador de
origen inglés, reconoce este cambio paradigmático en el ámbito epistemológico como uno de
los pocos puntos de la posmodernidad con el cual está totalmente de acuerdo.
16
Fernando L. Canale, A Criticism of Theological Reason: Time and Timelessness as
Primordial Presuppositions (AUSDDS 10; Berrien Springs: Andrews University Press,
1983), capítulo 2.
17
El reciente proyecto teológico evangélico neo-liberal del teólogo americano Stanley J.
Grenz es un ejemplo de esta actitud. Grenz sigue de cerca al teólogo alemán Wolfhart
Pannenberg. En el clásico estilo liberal iniciado por Friedrich Schleiermacher, The Christian
Faith (trad. H. R. Mackintosh y J. S. Stewart; basada en la 2a edición alemana de 1830;
Edinburgh: T. & T. Clark, 1928), Grenz construye su Theology for the Community of God a
partir de una descripción de las creencias tradicionalmente sostenidas por la comunidad
cristiana. Un enfoque similar es adoptado por el teólogo Adventista del Séptimo Día Fritz
Guy, Thinking Theologically: Adventist Christianity and the Interpretation of Faith (Berrien
Springs: Andrews University Press, 1999), 225-52. La misma confianza en las contribuciones
hermenéuticas de la tradición se encuentra entre teólogos evangélicos conservadores que
siguen el ejemplo de los así llamados Reformadores “magisteriales” (Lutero, Zuinglio,
Calvino). Por ejemplo, véase Millard J. Erickson, Christian Theology (Grand Rapids: Baker,
1990), 258.
18
John D. Caputo, ed., Deconstruction in a Nutshell: A Conversation with Jacques Derrida
(New York: Fordham University Press, 1997), 77.
19
Esto resulta evidente cuando el ejemplo que Derrida y Caputo dan de la deconstrucción es
el análisis de un pasaje del Timeo, donde Derrida enfoca su atención en el receptáculo
espacial (Khôra) en el cual las copias sensibles producidas por el Demiurgo son engendradas.
Esto le permite distinguir entre el texto platónico y la filosofía platónica, y usar lo primero
para criticar lo segundo (ibid., 82-92). De esta forma el análisis textual se torna “transgresor”
de la tradición filosófica denominada “Platonismo”.
20
Ibid., 80-1.
21
La “transgresión” derridiana parece corresponder con lo que Thomas S. Kuhn identificó
como “anomalías” que no se ajustan a los criterios de interpretación de la “ciencia normal” o
paradigma de explicación científica reinante (Thomas S. Kuhn, The Structure of Scientific
Revolutions [2a edición; Chicago: University of Chicago Press, 1970], 52).
22
Ibid., 159.
23
Hans-Georg Gadamer, “The Phenomenological Movement”, en Philosophical
Hermeneutics (ed. David E. Linge; Los Angeles: University of California Press, 1976), 138.
24
Ibid., 138-9.
25
Para una introducción al concepto y surgimiento de la hermenéutica como disciplina
filosófica, véase Raúl Kerbs, “Sobre el desarrollo de la hermenéutica”, Analogía Filosófica 2
(1999): 3-33.
26
Menos conocida pero no menos importante es la obra del filósofo italiano Emilio Betti,
“Hermeneutics as the General Methodology of the Geisteswissenschaften”, en Contemporary
Hermeneutics: Hermeneutics as Method, Philosophy and Critique (ed. Josef Bleicher;
London-Boston: Routledge & Kegan Paul, 1980), e idem, Teoria Generale della
Interpretazione (Milano: Dott. A. Giuffre Editore, 1990). Para una introducción a la
hermenéutica filosófica, véase Josef Bleicher, Contemporary Hermeneutics: Hermeneutics as
Method, Philosophy and Critique (London-Boston: Routledge & Kegan Paul, 1980).
27
Clark H. Pinnock, Most Moved Mover: A Theology of God’s Openness (Grand Rapids:
Baker, 2001), 22-3.
28
Richard Rice, Reason and the Contours of Faith (Riverside: La Sierra University Press,
1991), 201.
29
Ibid., 198.
30
Ibid., 194.
31
Tomás de Aquino, On Being and Essence (trad. Armand Maurer; Toronto: Garden City
Press, 1949).
32
Tomás de Aquino, Summa Theologica (trad. Fathers of the English Dominican Province; 3
vols.; New York: Benzinger Brothers, 1947).
33
Tomás de Aquino, On Being and Essence, prólogo.
34
Martin Heidegger, “The Onto-theo-logical Constitution of Metaphysics”, en Identity and
Difference (ed. Joan Sambaugh; New York: Harper and Row, 1969), 54, 60.
35
Este procedimiento teológico no era desconocido. Filón de Alejandría, teólogo judío, ya lo
había usado para construir su interpretación del judaísmo. Que la filosofía, la ciencia y la
cultura determinan la perspectiva hermenéutica fundamental del cristianismo es ampliamente
aceptado, inclusive defendido por la gran mayoría de tradiciones teológicas. Para una
introducción técnica al papel que la filosofía juega en la teología y a las complicaciones que
nuevas corrientes teológicas representan para tradiciones construidas sobre otros
fundamentos, recomiendo Jack A. Bonsor, Athens and Jerusalem: The Role of Philosophy in
Theology (New York: Paulist, 1993).
36
En A Criticism of Theological Reason me dedico a estudiar y criticar la forma como esta
decisión hermenéutica del cristianismo temprano afectó la interpretación de la razón
teológica. Véase también Raúl Kerbs, “El problema fe-razón (1)”, Enfoques 12.1 (2000): 105-
25.
37
La nomenclatura “macro”, “meso” y “micro” hermenéutica que adopto en este artículo es
una adaptación de la seguida por Hans Küng cuando habla de macro, meso y micro
paradigmas (Hans Küng, Theology for the Third Millennium: An Ecumenical View [trad. Peter
Heinegg; New York: Doubleday, 1988], 134).
38
Kerbs explica cómo la hermenéutica filosófica moderna (macro hermenéutica) afecta la
interpretación del pensamiento e ideas teológicas en Paul Ricoeur. Véase Raúl Kerbs, “Una
interpretación sobre el origen de la articulación de la desmitologización (interna y externa) y
la restauración de los mitos en Paul Ricoeur”, Logos 29.86 (2001): 57-84.
39
Véase Raúl Kerbs, “Las parábolas bíblicas en la hermenéutica filosófica de Paul Ricoeur”,
Ideas y Valores 113 (2000): 3-27. Véase cómo las presuposiciones macro hermenéuticas
afectan la interpretación de la doctrina del santuario, en Fernando L. Canale, “Philosophical
Foundations and the Biblical Sanctuary”, AUSS 36.2 (1998): 183-206.
40
Fernando L. Canale, “Interdisciplinary Method in Christian Theology? In Search of a
Working Proposal”, Neue Zeitschrift für Systematische Theologie und Religionsphilosophie
43.3 (2001): 366-89.
41
Gary Dorrien, The Remaking of Evangelical Theology (Louisville: Westminster John Knox,
1998), 187.
42
Ejemplos de la influencia que la ontología clásica tiene sobre un amplio espectro de
teólogos y filósofos contemporáneos puede notarse en Orrin F. Summerell, ed., The Otherness
of God (Charlottesville: University of Virginia Press, 1998), 1. En el prefacio, introduciendo
la obra de 15 autores, Semmerell afirma que los ensayos sobre el tema general de la alteridad
de Dios (trascendencia) muestran que “its conceptual lineage extends back to Plato and
Aristotle, while its Judeo-Christian religious heritage resonates throughout its reception in
Neoplatonism with its sundry Medieval and Renaissance expressions, negative theology,
Reformation thought, German idealism, dialectical theology, and most recently,
deconstructivist thought”.
43
Aristóteles, Metafísica, XI, 3.
44
Martin Heidegger, Being and Time (trad. John Macquarrie y Edward Robinson; New York:
Harper and Collins, 1962), 1.
45
Heidegger prefirió caracterizar la perspectiva tradicional basada en la atemporalidad
parmenideana como equivocada, sino eufemísticamente como un “olvido” de consecuencias
fatales. Esto le permitió considerarse como un “continuador” de la tradición filosófica
occidental y argumentar que su interpretación del ser es la correcta cuando se la compara con
la clásica. De esta manera, Heidegger parece querer poner la interpretación del ser más allá
del relativismo intrínseco al enfoque hermenéutico que él propulsó al comienzo del siglo XX.
46
Véase especialmente Edmund Husserl, The Crisis of European Sciences and
Transcendental Phenomenology: An Introduction to Phenomenological Philosophy
(Evanston: Northwestern University Press, 1970).
47
Jean Paul Sartre, El Ser y la Nada: Ensayo de Ontología Fenomenológica (trad. Miguel
Angel Virasoro; 3 vols.; Buenos Aires: Ibero-Americana, 1961), I, 11; véase también
Heidegger, Being and Time, Introducción, II, §7, A; 51-5.
48
Martin Heidegger, “The Anaximander Fragment”, en Early Greek Thinking (San Francisco:
Harper & Row, 1975), 17.
49
Aristóteles, Metafísica, XI, 3.
50
Parménides, fragmentos, 7-8, en Kathleen Freeman, Ancilla to the Pre-Socratic
Philosophers: A Complete Translation of the Fragments in Diels, “Fragmente der
Vorsokratiker” (Oxford: Basil Blackwell, 1948).
51
Platón, Timaeus, 37.d-38.c.
52
En los siguientes libros se encuentra la noción clásica de acuerdo con la cual Dios es
atemporal. Nelson Pike, God and Timelessness (Studies in Ethics and the Philosophy of
Religion; London: Routledge & Kegan Paul, 1970); Anthony John Patrick Kenny, The God of
the Philosophers (New York: Oxford University Press, 1979); y Paul Helm, Eternal God: A
Study of God Without Time (New York: Oxford University Press, 1988).
53
Agustín, The Confession (Oak Harbor: Logos Research Systems, 1996), XIII, 29-30.
54
Bonsor, Athens and Jerusalem, 83-97, provee una introducción muy valiosa al pensamiento
de Rahner desarrollada precisamente desde el ángulo de su fundamentación filosófica.
55
La posición macro hermenéutica de Dulles puede apreciarse con más claridad en su obra
metodológica The Craft of Theology.
56
La deconstrucción de Lutero parece haber influenciado directamente la deconstrucción
heideggeriana (James K. A. Smith, The Fall of Interpretation: Philosophical Foundations for
a Creational Hermeneutic [Downers Grove: InterVarsity, 2000], 109-10).
57
Ibid., 133-48. Sin embargo, Smith no llega a mencionar la necesidad de deconstruir el
fundamento ontoteológico de la teología.
58
Richard Rice, God’s Foreknowledge and Man’s Free Will (Minneapolis: Bethany House,
1985); idem, “Divine Foreknowledge and Free-Will Theism”, en The Grace of God and the
Will of Man: A Case for Arminianism (ed. Clark Pinnock; Grand Rapids: Zondervan, 1989),
121-39; Clark Pinnock et al., eds., The Openness of God: A Biblical Challenge to the
Traditional Understanding of God (Downers Grove: InterVarsity, 1994); idem, Most Moved
Mover: A Theology of God’s Openness (Grand Rapids: Baker, 2001); John E. Sanders, The
God Who Risks: A Theology of Providence (Downers Grove: InterVarsity, 1998); Gregory A.
Boyd, God at War: The Bible and Spiritual Conflict (Downers Grove: InterVarsity, 1997);
idem, The God of the Possible: A Biblical Introduction to the Open View of God (Grand
Rapids: Baker, 2000); e idem, Satan and the Problem of Evil: Constructing a Trinitarian
Warfare Theodicy (Downers Grove: InterVarsity, 2001).
59
La naturaleza deconstructiva del sistema reinante del movimiento ha determinado que un
sector del evangelicalismo considere la “idea de un Dios abierto completamente inaceptable,
subversiva y amenazante”. Quienes pertenecían al sector tradicionalista “no recibieron con
alegría una iniciativa que desafiaba el pensamiento conservador de la Reforma y que cayó
como una bomba en el campo teológico. Para quienes trabajaban con las presuposiciones
convencionales que encontramos en Agustín, Tomás de Aquino, Lutero y Calvino, el modelo
era demasiado radical e imposible de aceptar. Al romper con una cantidad de ideas
tradicionales, levantaba una bandera roja en sus caras” (Pinnock, Most Moved Mover: A
Theology of God’s Openness, xi).
60
Being and Time, II, §7, 49-50.
61
James Smith argumenta este punto convincentemente con la ayuda de Heidegger, Gadamer
y Dooyeweerd (véase Smith, The Fall of Interpretation, 169-75).
62
Ibid., 180.
63
Ibid., 9, 183-4.
64
Martin Luther, Luther’s Works. Vol. 35: Word and Sacrament I (ed. Jaroslav Jan Pelikan,
Hilton C. Oswald y Helmut T. Lehmann; Philadelphia: Fortress, 1999), 119-23. “According
to Luther’s understanding, the Word of God is not simply to be equated with the written text
of the Scriptures, for it goes much deeper than historical description or moral precept. Rather,
it is a uniquely life-imparting power, a message communicated by men in whom the
Scriptures had become alive” (E. Theodore Bachmann, “Introduction to Word and
Sacrament”, en Luther’s Works, 35:1-2).
65
Ibid., 9, 183-4.
66
Parecería que Smith utiliza la metodología deconstructiva al nivel textual y dentro de la
tradición, acercándose así más a Derrida que a Heidegger (ibid., 30).
67
Véase Canale, Back to Revelation-Inspiration, capítulo 1
68
Gadamer, Truth and Method, 267.
69
Smith, The Fall of Interpretation, 180.
70
Para una presentación más detallada de este cambio metodológico fundamental, véase
Canale, A Criticism of Theological Reason, 285-97.
71
Albert C. Outler, The Wesleyan Theological Heritage. Collected Essays of Albert C. Outler
(ed. Thomas C. Oden y Leicester R. Longden; Grand Rapids: Zondervan, 1991), 21-37.
72
Desgraciadamente, esta tendencia está siendo aceptada por teólogos adventistas. Como
ejemplo, véase Woodrow W. Whidden, “Sola Scriptura, Inerrantist Fundamentalism and the
Wesleyan Quadrilateral: Is “No creed but the Bible” a Workable Solution?”, AUSS 35.2
(1997): 211-26.
73
Tota Sriptura designa a toda la Biblia, Antiguo y Nuevo Testamentos, como la revelación
divina (“las cosas mismas”) sobre la cual la teología cristiana debe construir.
74
Canale, Back to Revelation-Inspiration.
75
Para una discusión en detalle de este texto, véase Canale, A Criticism of Theological
Reason, capítulo 3.
76
Ejemplo de reflexión reciente y creciente sobre este tema puede observarse en la
publicación de las siguientes obras: John J. O’Donnell, Trinity and Temporality: The
Christian Doctrine of God in the Light of Process Theology and the Theology of Hope
(Oxford: Oxford University Press, 1983); William Hasker, God, Time, and Knowledge
(Cornell Studies in the Philosophy of Religion; Ithaca: Cornell University Press, 1989);
William J. Hill, Search for the Absent God: Tradition and Modernity in Religious
Understanding (New York: Crossroad, 1992); Gregory Ganssle, ed., God and Time: Four
Views (Downers Grove: Inter-Varsity, 2001); y William Lane Craig, Time and Eternity:
Exploring God’s Relationship to Time (Wheaton: Crossway Books, 2001). Ninguno de estos
estudios, sin embargo, estudia el tema de la temporalidad divina a partir de la revelación
bíblica sino a partir de la especulación filosófica-teológica humana.
77
La temporalidad de Dios y del alma son diferentes en la hermenéutica clásica. Mientras que
Dios tiene perfecta atemporalidad, el alma sólo participa de ella en un grado menor ajustado a
su grado de perfección ontológica.
78
Véase Oscar Cullmann, Immortality of the Soul or Resurrection of the Dead? The Witness
of the New Testament (New York: Macmillan, 1958); y Samuele Bacchiocchi, Immortality or
Resurrection? A Biblical Study on Human Nature and Destiny (Berrien Springs: Biblical
Perspectives, 1997).
79
Esto continúa presente en interpretaciones antropológicas inspiradas en el “monismo”
aristotélico.
80
G. Ebeling, Word and Faith (trad. James W. Leitch; Philadelphia: Fortress, 1963), 87,
rastrea el origen de la teología bíblica a la publicación de Gedanken von der Beschaffenheit
und dem Vorzug der biblischdogmatischen Theologie vor der alten und neuen scholastischen
[Reflexiones sobre la naturaleza de la teología bíblica dogmática y a su superioridad sobre el
escolasticismo antiguo y reciente] (1758), por Anton Friedrich Büsching. Gerhard Hasel
sugiere una fecha más temprana para la independencia de la teología bíblica de la teología
dogmática. “As early as 1745 ‘Biblical theology’ is clearly separated from dogmatic
(systematic) theology and the former is conceived of as being the foundation of the latter”
(Gerhard F. Hasel, Old Testament Theology: Basic Issues in the Current Debate [edición rev.;
Grand Rapids: Eerdmans, 1975], 18).
81
De acuerdo con Ebeling, Word and Faith, 87, la teología bíblica se convirtió en “a rival of
the prevailing dogmatics [scholastic theology]”. Con la presentación metodológica de Johann
Philipp Gabler en 1787, la teología bíblica “set itself up as a completely independent study,
namely, as a critical historical discipline alongside dogmatics” (ibid., 88). Véase también
Anthony C. Thiselton, “Biblical Theology and Hermeneutics”, en The Modern Theologians:
An Introduction to Christian Theology in the Twentieth Century (ed. David F. Ford;
Cambridge: Blackwell, 1997), 520.
82
La mejor introducción al método histórico-crítico desde el punto de vista metodológico que
conozco es la siguiente: Stephen Haynes McKenzie, ed., To Each Its Own Meaning: An
Introduction to Biblical Criticisms and their Application (Louisville: Westminster John Knox
Press, 1999). El método histórico crítico ha sido criticado, por ejemplo, en las siguientes
obras: Gerhard Maier, The End of the Historical Critical Method (trad. Edwin W. Leverenz y
Rudolph F. Norden; St. Louis: Concordia, 1977); Eta Linnemann, Historical Criticism of the
Bible: Methodology or Ideology (trad. Robert W. Yarbrough; Grand Rapids: Baker, 1990); y
su más reciente, idem, Biblical Criticism on Trial: How Scientific is “Scientific Theology”
(Grand Rapids: Kregel, 2001).
83
Para ver que todo método necesariamente incluya principios macro hermenéuticos para su
funcionamiento, véase Canale, “Interdisciplinary Method in Christian Theology?”

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Aulas de Disciplina: "História do Ateísmo"
Aulas de Disciplina: "História do Ateísmo"Aulas de Disciplina: "História do Ateísmo"
Aulas de Disciplina: "História do Ateísmo"Jerbialdo
 
Inteligência coletiva, espiritualidade e renovação do laço social
Inteligência coletiva, espiritualidade e renovação do laço socialInteligência coletiva, espiritualidade e renovação do laço social
Inteligência coletiva, espiritualidade e renovação do laço socialFrancisco Machado
 
Huberto Rohden - Catecismo da Filosofia
Huberto Rohden - Catecismo da FilosofiaHuberto Rohden - Catecismo da Filosofia
Huberto Rohden - Catecismo da Filosofiauniversalismo-7
 
História da teologia
História da teologiaHistória da teologia
História da teologiaugleybson
 
Teologia Contemporânea - Aspectos
Teologia Contemporânea - AspectosTeologia Contemporânea - Aspectos
Teologia Contemporânea - AspectosGcom digital factory
 
A religião no pensamento lacanino (revista)
A religião no pensamento lacanino (revista)A religião no pensamento lacanino (revista)
A religião no pensamento lacanino (revista)didaque
 
Sambini, leo fernando. 2001
Sambini, leo fernando. 2001Sambini, leo fernando. 2001
Sambini, leo fernando. 2001INFISTA
 
( Espiritismo) # - astrid sayegh - a importância da bíblia para a doutrina ...
( Espiritismo)   # - astrid sayegh - a importância da bíblia para a doutrina ...( Espiritismo)   # - astrid sayegh - a importância da bíblia para a doutrina ...
( Espiritismo) # - astrid sayegh - a importância da bíblia para a doutrina ...Instituto de Psicobiofísica Rama Schain
 
( Espiritismo) # - astrid sayegh - a importancia da biblia para a doutrina ...
( Espiritismo)   # - astrid sayegh - a importancia da biblia para a doutrina ...( Espiritismo)   # - astrid sayegh - a importancia da biblia para a doutrina ...
( Espiritismo) # - astrid sayegh - a importancia da biblia para a doutrina ...Instituto de Psicobiofísica Rama Schain
 
Artigos espíritas a importância da bíblia para a doutrina espírita
Artigos espíritas   a importância da bíblia para a doutrina espíritaArtigos espíritas   a importância da bíblia para a doutrina espírita
Artigos espíritas a importância da bíblia para a doutrina espíritaLux Ana Lopes
 

Mais procurados (19)

Conhecimento Religioso
Conhecimento ReligiosoConhecimento Religioso
Conhecimento Religioso
 
01. Fazer Teologia
01. Fazer Teologia01. Fazer Teologia
01. Fazer Teologia
 
1.1. que e_teologia_sistematica
1.1. que e_teologia_sistematica1.1. que e_teologia_sistematica
1.1. que e_teologia_sistematica
 
# Ivan r franzolim - dicas para estudar o evangelho - [ espiritismo]
#   Ivan r franzolim - dicas para estudar o evangelho - [ espiritismo]#   Ivan r franzolim - dicas para estudar o evangelho - [ espiritismo]
# Ivan r franzolim - dicas para estudar o evangelho - [ espiritismo]
 
Aulas de Disciplina: "História do Ateísmo"
Aulas de Disciplina: "História do Ateísmo"Aulas de Disciplina: "História do Ateísmo"
Aulas de Disciplina: "História do Ateísmo"
 
Inteligência coletiva, espiritualidade e renovação do laço social
Inteligência coletiva, espiritualidade e renovação do laço socialInteligência coletiva, espiritualidade e renovação do laço social
Inteligência coletiva, espiritualidade e renovação do laço social
 
Sabedoria antiga
Sabedoria antigaSabedoria antiga
Sabedoria antiga
 
Huberto Rohden - Catecismo da Filosofia
Huberto Rohden - Catecismo da FilosofiaHuberto Rohden - Catecismo da Filosofia
Huberto Rohden - Catecismo da Filosofia
 
História da teologia
História da teologiaHistória da teologia
História da teologia
 
Teologia Contemporânea - Aspectos
Teologia Contemporânea - AspectosTeologia Contemporânea - Aspectos
Teologia Contemporânea - Aspectos
 
Teo biblica sayão
Teo biblica sayãoTeo biblica sayão
Teo biblica sayão
 
17
1717
17
 
A religião no pensamento lacanino (revista)
A religião no pensamento lacanino (revista)A religião no pensamento lacanino (revista)
A religião no pensamento lacanino (revista)
 
Sambini, leo fernando. 2001
Sambini, leo fernando. 2001Sambini, leo fernando. 2001
Sambini, leo fernando. 2001
 
( Espiritismo) # - astrid sayegh - a importância da bíblia para a doutrina ...
( Espiritismo)   # - astrid sayegh - a importância da bíblia para a doutrina ...( Espiritismo)   # - astrid sayegh - a importância da bíblia para a doutrina ...
( Espiritismo) # - astrid sayegh - a importância da bíblia para a doutrina ...
 
( Espiritismo) # - astrid sayegh - a importancia da biblia para a doutrina ...
( Espiritismo)   # - astrid sayegh - a importancia da biblia para a doutrina ...( Espiritismo)   # - astrid sayegh - a importancia da biblia para a doutrina ...
( Espiritismo) # - astrid sayegh - a importancia da biblia para a doutrina ...
 
Artigos espíritas a importância da bíblia para a doutrina espírita
Artigos espíritas   a importância da bíblia para a doutrina espíritaArtigos espíritas   a importância da bíblia para a doutrina espírita
Artigos espíritas a importância da bíblia para a doutrina espírita
 
O protestantismo e os valores éticos
O protestantismo e os valores éticosO protestantismo e os valores éticos
O protestantismo e os valores éticos
 
Sala de visitas da teologia
Sala de visitas da teologiaSala de visitas da teologia
Sala de visitas da teologia
 

Semelhante a Desconstruindo a Teologia Cristã

sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
ssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssreprografians
 
Tomás Nsunda Lelo, Fasciculo de teologia contemporanea
Tomás Nsunda Lelo, Fasciculo de teologia contemporaneaTomás Nsunda Lelo, Fasciculo de teologia contemporanea
Tomás Nsunda Lelo, Fasciculo de teologia contemporaneaLELO
 
_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdf
_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdf_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdf
_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdfARTVALE
 
Hermenêutica dos textos religiosos
Hermenêutica dos textos religiososHermenêutica dos textos religiosos
Hermenêutica dos textos religiososJoão Pereira
 
O processo de elaboracao da teologia
O processo de elaboracao da teologiaO processo de elaboracao da teologia
O processo de elaboracao da teologiaAfonso Murad (FAJE)
 
Plano de aula o problema da fé e da razão
Plano de aula o problema da fé e da razãoPlano de aula o problema da fé e da razão
Plano de aula o problema da fé e da razãoAntonio Marcelo Campos
 
Aula- Teologia Sistemática/Bibliologia - Instituto Bíblico de Tirano
Aula- Teologia Sistemática/Bibliologia - Instituto Bíblico de TiranoAula- Teologia Sistemática/Bibliologia - Instituto Bíblico de Tirano
Aula- Teologia Sistemática/Bibliologia - Instituto Bíblico de TiranoRomulo Andalécio
 
07 ist - teologia fundamental
07  ist - teologia fundamental07  ist - teologia fundamental
07 ist - teologia fundamentalLéo Mendonça
 
Teologia Contemporanea
Teologia ContemporaneaTeologia Contemporanea
Teologia ContemporaneaCarlos Alves
 
Platonismo e cristianismo: Irreconciabilidade radical ou elementos comuns?
Platonismo e cristianismo: Irreconciabilidade radical ou elementos comuns?Platonismo e cristianismo: Irreconciabilidade radical ou elementos comuns?
Platonismo e cristianismo: Irreconciabilidade radical ou elementos comuns?Pr. Régerson Molitor
 
Texto 1 introducao-a_teologia_da_missao
Texto 1 introducao-a_teologia_da_missaoTexto 1 introducao-a_teologia_da_missao
Texto 1 introducao-a_teologia_da_missaoVinicio Pacifico
 
Introdução à Patrística
Introdução à PatrísticaIntrodução à Patrística
Introdução à PatrísticaCursoDeFerias
 
Trabalho de paul tillich. marcos antonio
Trabalho de paul tillich.   marcos antonioTrabalho de paul tillich.   marcos antonio
Trabalho de paul tillich. marcos antoniomarcos coutinho
 
A história, a relevância social e o desenvolvimento da teologia.pdf
A história, a relevância social 
 e o desenvolvimento da teologia.pdfA história, a relevância social 
 e o desenvolvimento da teologia.pdf
A história, a relevância social e o desenvolvimento da teologia.pdfLeandroFernandes17198
 
éTica Aula006
éTica Aula006éTica Aula006
éTica Aula006Luiz
 
Filosofia e fé cristã - trecho
Filosofia e fé cristã - trechoFilosofia e fé cristã - trecho
Filosofia e fé cristã - trechoPublica Livros
 
Psicoterapias elementos para uma reflexão filosofica carlos drawin
Psicoterapias elementos para uma reflexão filosofica    carlos  drawinPsicoterapias elementos para uma reflexão filosofica    carlos  drawin
Psicoterapias elementos para uma reflexão filosofica carlos drawinMarcos Silvabh
 

Semelhante a Desconstruindo a Teologia Cristã (20)

sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
ssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
 
Tomás Nsunda Lelo, Fasciculo de teologia contemporanea
Tomás Nsunda Lelo, Fasciculo de teologia contemporaneaTomás Nsunda Lelo, Fasciculo de teologia contemporanea
Tomás Nsunda Lelo, Fasciculo de teologia contemporanea
 
_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdf
_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdf_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdf
_Apostila_Modulo_424_Apostila_INTRODUÇÃO A TEOLOGIA.pdf
 
Hermenêutica dos textos religiosos
Hermenêutica dos textos religiososHermenêutica dos textos religiosos
Hermenêutica dos textos religiosos
 
O processo de elaboracao da teologia
O processo de elaboracao da teologiaO processo de elaboracao da teologia
O processo de elaboracao da teologia
 
Plano de aula o problema da fé e da razão
Plano de aula o problema da fé e da razãoPlano de aula o problema da fé e da razão
Plano de aula o problema da fé e da razão
 
Aula- Teologia Sistemática/Bibliologia - Instituto Bíblico de Tirano
Aula- Teologia Sistemática/Bibliologia - Instituto Bíblico de TiranoAula- Teologia Sistemática/Bibliologia - Instituto Bíblico de Tirano
Aula- Teologia Sistemática/Bibliologia - Instituto Bíblico de Tirano
 
FILOSOFIA DA RELIGIAO
FILOSOFIA DA RELIGIAOFILOSOFIA DA RELIGIAO
FILOSOFIA DA RELIGIAO
 
07 ist - teologia fundamental
07  ist - teologia fundamental07  ist - teologia fundamental
07 ist - teologia fundamental
 
Teologia Contemporanea
Teologia ContemporaneaTeologia Contemporanea
Teologia Contemporanea
 
Platonismo e cristianismo: Irreconciabilidade radical ou elementos comuns?
Platonismo e cristianismo: Irreconciabilidade radical ou elementos comuns?Platonismo e cristianismo: Irreconciabilidade radical ou elementos comuns?
Platonismo e cristianismo: Irreconciabilidade radical ou elementos comuns?
 
Texto 1 introducao-a_teologia_da_missao
Texto 1 introducao-a_teologia_da_missaoTexto 1 introducao-a_teologia_da_missao
Texto 1 introducao-a_teologia_da_missao
 
Introdução à Patrística
Introdução à PatrísticaIntrodução à Patrística
Introdução à Patrística
 
Trabalho de paul tillich. marcos antonio
Trabalho de paul tillich.   marcos antonioTrabalho de paul tillich.   marcos antonio
Trabalho de paul tillich. marcos antonio
 
A história, a relevância social e o desenvolvimento da teologia.pdf
A história, a relevância social 
 e o desenvolvimento da teologia.pdfA história, a relevância social 
 e o desenvolvimento da teologia.pdf
A história, a relevância social e o desenvolvimento da teologia.pdf
 
Pré-projeto de Mestrado
Pré-projeto de MestradoPré-projeto de Mestrado
Pré-projeto de Mestrado
 
éTica Aula006
éTica Aula006éTica Aula006
éTica Aula006
 
Catecismo heidelberg
Catecismo heidelbergCatecismo heidelberg
Catecismo heidelberg
 
Filosofia e fé cristã - trecho
Filosofia e fé cristã - trechoFilosofia e fé cristã - trecho
Filosofia e fé cristã - trecho
 
Psicoterapias elementos para uma reflexão filosofica carlos drawin
Psicoterapias elementos para uma reflexão filosofica    carlos  drawinPsicoterapias elementos para uma reflexão filosofica    carlos  drawin
Psicoterapias elementos para uma reflexão filosofica carlos drawin
 

Mais de Pr. Régerson Molitor

Borobio dionisio-ministerio-sacerdotal-ministerios-laicales-scan
Borobio dionisio-ministerio-sacerdotal-ministerios-laicales-scanBorobio dionisio-ministerio-sacerdotal-ministerios-laicales-scan
Borobio dionisio-ministerio-sacerdotal-ministerios-laicales-scanPr. Régerson Molitor
 
Resumo dos 10 mandamentos - John Gill
Resumo dos 10 mandamentos - John GillResumo dos 10 mandamentos - John Gill
Resumo dos 10 mandamentos - John GillPr. Régerson Molitor
 
A perpetuidade da Lei Deus - C. H. Spurgeon
A perpetuidade da Lei Deus - C. H. SpurgeonA perpetuidade da Lei Deus - C. H. Spurgeon
A perpetuidade da Lei Deus - C. H. SpurgeonPr. Régerson Molitor
 
Macropressuposição e a Hermenêutica Bíblica
Macropressuposição e a Hermenêutica BíblicaMacropressuposição e a Hermenêutica Bíblica
Macropressuposição e a Hermenêutica BíblicaPr. Régerson Molitor
 
As bem-aventuranças do Sermão do Monte
As bem-aventuranças do Sermão do MonteAs bem-aventuranças do Sermão do Monte
As bem-aventuranças do Sermão do MontePr. Régerson Molitor
 

Mais de Pr. Régerson Molitor (7)

Revista multiplic +
Revista multiplic +Revista multiplic +
Revista multiplic +
 
Borobio dionisio-ministerio-sacerdotal-ministerios-laicales-scan
Borobio dionisio-ministerio-sacerdotal-ministerios-laicales-scanBorobio dionisio-ministerio-sacerdotal-ministerios-laicales-scan
Borobio dionisio-ministerio-sacerdotal-ministerios-laicales-scan
 
Paulo a Lei e a Nova Aliança
Paulo a Lei e a Nova AliançaPaulo a Lei e a Nova Aliança
Paulo a Lei e a Nova Aliança
 
Resumo dos 10 mandamentos - John Gill
Resumo dos 10 mandamentos - John GillResumo dos 10 mandamentos - John Gill
Resumo dos 10 mandamentos - John Gill
 
A perpetuidade da Lei Deus - C. H. Spurgeon
A perpetuidade da Lei Deus - C. H. SpurgeonA perpetuidade da Lei Deus - C. H. Spurgeon
A perpetuidade da Lei Deus - C. H. Spurgeon
 
Macropressuposição e a Hermenêutica Bíblica
Macropressuposição e a Hermenêutica BíblicaMacropressuposição e a Hermenêutica Bíblica
Macropressuposição e a Hermenêutica Bíblica
 
As bem-aventuranças do Sermão do Monte
As bem-aventuranças do Sermão do MonteAs bem-aventuranças do Sermão do Monte
As bem-aventuranças do Sermão do Monte
 

Último

Material sobre o jubileu e o seu significado
Material sobre o jubileu e o seu significadoMaterial sobre o jubileu e o seu significado
Material sobre o jubileu e o seu significadofreivalentimpesente
 
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 199ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19PIB Penha
 
Oração dos Fiéis Festa da Palavra Catequese
Oração dos  Fiéis Festa da Palavra CatequeseOração dos  Fiéis Festa da Palavra Catequese
Oração dos Fiéis Festa da Palavra Catequeseanamdp2004
 
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos vinicius
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos viniciusTaoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos vinicius
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos viniciusVini Master
 
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).natzarimdonorte
 
ARMAGEDOM! O QUE REALMENTE?.............
ARMAGEDOM! O QUE REALMENTE?.............ARMAGEDOM! O QUE REALMENTE?.............
ARMAGEDOM! O QUE REALMENTE?.............Nelson Pereira
 
GÊNESIS A-2.pptx ESTUDO INTEGRADO DE CAPITULO 1 E
GÊNESIS A-2.pptx ESTUDO INTEGRADO DE CAPITULO 1 EGÊNESIS A-2.pptx ESTUDO INTEGRADO DE CAPITULO 1 E
GÊNESIS A-2.pptx ESTUDO INTEGRADO DE CAPITULO 1 EMicheleRosa39
 
O SELO DO ALTÍSSIMO E A MARCA DA BESTA .
O SELO DO ALTÍSSIMO E A MARCA DA BESTA .O SELO DO ALTÍSSIMO E A MARCA DA BESTA .
O SELO DO ALTÍSSIMO E A MARCA DA BESTA .natzarimdonorte
 
AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdf
AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdfAS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdf
AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdfnatzarimdonorte
 
Série: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo Dia
Série: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo DiaSérie: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo Dia
Série: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo DiaDenisRocha28
 

Último (12)

Material sobre o jubileu e o seu significado
Material sobre o jubileu e o seu significadoMaterial sobre o jubileu e o seu significado
Material sobre o jubileu e o seu significado
 
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 199ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
 
Mediunidade e Obsessão - Doutrina Espírita
Mediunidade e Obsessão - Doutrina EspíritaMediunidade e Obsessão - Doutrina Espírita
Mediunidade e Obsessão - Doutrina Espírita
 
Oração dos Fiéis Festa da Palavra Catequese
Oração dos  Fiéis Festa da Palavra CatequeseOração dos  Fiéis Festa da Palavra Catequese
Oração dos Fiéis Festa da Palavra Catequese
 
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos vinicius
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos viniciusTaoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos vinicius
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos vinicius
 
Fluido Cósmico Universal e Perispírito.ppt
Fluido Cósmico Universal e Perispírito.pptFluido Cósmico Universal e Perispírito.ppt
Fluido Cósmico Universal e Perispírito.ppt
 
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).
 
ARMAGEDOM! O QUE REALMENTE?.............
ARMAGEDOM! O QUE REALMENTE?.............ARMAGEDOM! O QUE REALMENTE?.............
ARMAGEDOM! O QUE REALMENTE?.............
 
GÊNESIS A-2.pptx ESTUDO INTEGRADO DE CAPITULO 1 E
GÊNESIS A-2.pptx ESTUDO INTEGRADO DE CAPITULO 1 EGÊNESIS A-2.pptx ESTUDO INTEGRADO DE CAPITULO 1 E
GÊNESIS A-2.pptx ESTUDO INTEGRADO DE CAPITULO 1 E
 
O SELO DO ALTÍSSIMO E A MARCA DA BESTA .
O SELO DO ALTÍSSIMO E A MARCA DA BESTA .O SELO DO ALTÍSSIMO E A MARCA DA BESTA .
O SELO DO ALTÍSSIMO E A MARCA DA BESTA .
 
AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdf
AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdfAS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdf
AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdf
 
Série: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo Dia
Série: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo DiaSérie: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo Dia
Série: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo Dia
 

Desconstruindo a Teologia Cristã

  • 1. DESCONSTRUINDO A TEOLOGIA: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA* Fernando L. Canale** 1. Introdução No começo do século XXI a teologia cristã tem se caracterizado por uma crescente fragmentação de seus projetos teológicos. O espírito ecumênico e pós-moderno1 de nosso tempo justifica, sustenta e favorece a proliferação de interpretações que vem ocorrendo desde os dias da Reforma protestante. Paralelamente, o ecumenismo tem desenvolvido um espírito de aceitação entre as muitas denominações cristãs que desvaloriza perigosamente o papel das reflexões teológicas como instrumento necessário para a sobrevivência do cristianismo fragmentado teologicamente. Para superar o pós-modernismo, a tradição tornou-se o método. Cada teólogo trabalha dentro de sua tradição. Desta forma a teologia se converteu em explicações e reformulações das tradições recebidas.2 O papel proeminente que a tradição tem ocupado na construção da teologia cristã não é novo. É conhecido a sua importância na construção da teologia Católica Romana.3 Com menor destaque, mas de peso notável, é a esfera de influência que ela tem sobre a teologia moderna4 e evangélica conservadora.5 A tradição tem sido considerada tão importante, que o Catolicismo e o modernismo teológico a considera fonte de revelação.6 Infelizmente, o uso da tradição para superar o pós-modernismo7 oculta e reinstaura as interpretações e conclusões estabelecidas com o uso da razão que o pós-modernismo nega. Em outras palavras, ao mesmo tempo em que aceitam a crítica pós-modernista à razão absoluta, aceitam as tradições que se formaram com o seu uso, constroem sobre uma contradição metodológica. Os teólogos que persistem em construir a partir de tradição particular, provavelmente não se tem dado conta que as tradições que tem recebido ocultam em si um processo de construção que tem comprometido sua integridade intelectual e religiosa. Para superar o pós-modernismo e ao mesmo tempo a crescente crise de fragmentação que a teologia cristã tem atravessado, só existe um caminho. A teologia cristã deve basear-se não sobre a tradição e sim sobre a revelação bíblica.8 Mas, para construir sobre a revelação bíblica, é necessário primeiro desconstruir vinte séculos de tradição. A maioria dos teólogos cristãos pertence a comunidades religiosas cujas credenciais são concebidas, desenvolvidas e transmitidas pela tradição. Não devemos nos surpreender quando se confere a tradição o papel diretivo na interpretação da revelação cristã e da formulação de suas doutrinas.9 Neste artigo proponho que é chegado o momento para desconstruir a teologia cristã. A desconstrução como método crítico, deve dirigir-se às pressuposições hermenêuticas sobre as quais se baseiam as diferentes linhas da tradição cristã. Isto levará necessariamente à desconstrução de toda a tradição edificada sobre esse fundamento. Este processo é necessário para podermos ter acesso ao conhecimento da revelação divina, que o grande sistema teológico cristão tem obscurecido e esquecido durante muito tempo. Sem este processo crítico, a teologia não poderá superar a fragmentação e o provincianismo teológico que a
  • 2. aprisiona. Este trabalho explorará a estrutura formal e a tarefa de desconstruir que pode ser aplicada a qualquer tradição, interpretação bíblica e doutrina. Para alcançarmos nosso propósito, começaremos por reconhecer (1) que a teologia resulta de um processo tradicional interpretativo. Logo em seguida trataremos de (2) descrever brevemente a noção de desconstrução, e (3) o papel que os princípios hermenêuticos têm na construção teológica. Na sequência descreveremos (4) a origem filosófica e (5) o conteúdo dos princípios da teologia clássica. Depois consideraremos (6) a desconstrução filosófica da ontologia clássica e (7) a alternativa hermenêutica fundamental que por meio da mesma se levanta a teologia cristã. Então apresentaremos a (8) Bíblia como fundamento, (9) e a independência hermenêutica da filosofia como metodologia, e (10) a relação Deus-tempo como perspectiva macro hermenêutica para a desconstrução-construção da teologia cristã. Concluiremos com uma referência ao (11) papel que desempenha a teologia bíblica na desconstrução. 2. Teologia como tradição interpretativa A desconstrução da teologia cristã necessita, ao menos em parte, entender o processo interpretativo-construtivo que a originou. A Escritura reconhece a tradição como processo comunicativo por meio do qual se transmitem as verdades reveladas por Deus (Jud 1-3; 1 C0 15:1-3). Este processo inclui a interpretação das verdades reveladas por Deus. Essa tradição não inclui só a constituição do conhecimento teológico, mas a produção cognitiva de todo os seres humanos. Como todo conhecimento humano, a teologia cristã é formada por meio de um processo histórico que denominamos de tradição. Este processo pode ser descrito fenomenologicamente.10 Aqui só necessitamos reconhecer algumas de suas diretrizes fundamentais. Formalmente a tradição é um fenômeno histórico cognitivo. Isto é, por tradição nos referimos ao processo espaço-temporal através do qual se forma o conhecimento humano. Existem dois níveis principais da tradição, a saber, o processo cognitivo e seu resultado. O primeiro é uma atividade, o segundo uma interpretação que temos acesso através da escrita ou da fala.11 Enquanto a tradição como uma atividade ocorre no presente, como interpretação escrita ela ocorreu no passado quando houve interpretação do texto do que ele queria comunicar.12 Sendo que toda a teologia é produto da tradição escrita e experienciada, é correto dizer, como afirma o pós-modernismo, que todos pertencemos a uma tradição que nos envolve de forma específica.13 O pertencer a uma tradição, no entanto, é apenas o ponto de partida para a interpretação e isso não implica que o nosso conhecimento é limitado pela tradição se formos abertos para as coisas em si e deixá-las falar. Assim, ocorrerá a revisão e substituição de nossos preconceitos tradicionalmente recebidos.14 Em suma, a natureza da tradição como processo interpretativo envolve dois conceitos fundamentais, os quais possibilitam a desconstrução da teologia cristã. Primeiro, conhecer é interpretar. Em outras palavras, no começo do século XXI a razão intelectual do período clássico (Aristóteles), e a razão pura do período moderno (Kant-Hegel), foram substituídas por motivo de hermenêutica pós-moderna (Heidegger-Gadamer).15 Ou seja, a tradição cristã tem interpretado a Bíblia e construido suas doutrinas assumindo ambas as interpretações da razão e da ontologia [razão pura] nas quais ela tem se basado,16 é necessário perguntar se é possível continuar interpretando o texto bíblico e construindo uma doutrina cristã sobre uma tradição teológica eregida sobre um fundamento que se tem tornado hipotético, relativo,
  • 3. suspeito e fragmentado. Infelizmente a maioria dos teólogos continua construindo suas interpretações e doutrinas sobre uma posição filosófica truncada com problemas no campo filosófico.17 Em segundo lugar, na teologia "o interpretar" é determinado com base no conceito de revelação que assumimos, isto é, vamos sempre partir do conceito de revelação que temos. No cristianismo "o conceito" está constituído por revelação de Deus na história as quais podemos acessar nas páginas da Bíblia. Esta revelação e sua interpretação contida nas Escrituras Sagradas é o fundamento cognitivo da teologia cristã por meio da qual encontramos um Deus vivo. Toda interpretação teológica, inclusive a interpretação da revelação e inspiração, tem origem neste fundamento. Esta base não pode ser reconstruída, mas a regra estabelece normas pelas quais qualquer interpretação deve ser analisada, julgada e desconstruída, se necessário, para permitir a formulação de interpretações alternativas em harmonia com o fundamento bíblico. A este fundamento toda a tradição teológica deve prestar contas. 3. O que é a desconstrução? Antes de explicar nossa proposta de desconstrução da teologia cristã é necessário nos determos por um momento para esclarecer a noção de desconstrução. No final da década de sessenta, Jacques Derrida, filósofo francês, nascido na Argélia, usou a palavra "desconstrução" para se referir ao método crítico que ele estava aplicando ao estudo de textos literários e filosóficos.18 Minha intenção não é descrever o pensamento de Derrida, mas usá-lo como uma referência geral para retratar o sentido em que usaremos o termo "desconstrução" neste artigo. De acordo com o filósofo norte-americano John Caputo, a desconstrução popularizada pelo pensamento de Derrida é textual, "transgressora" e messiânica. A análise crítica de Derrifa é textual porque ele se concentra nos textos clássicos e utiliza ferramentas e procedimentos linguísticos.19 É "transgressora"20 porque consiste em leituras de obras clássicas em dissonância ou "transgressão" da leitura favorecida pelas tradições vigentes de interpretação.21 Finalmente, a desconstrução de Derrida é messiânica (tem um lado positivo) porque, devido à influência de sua herança judaica, se abre para um futuro absoluto, que permite a reinvenção da religião.22 É claro que se trata de uma religião baseada na fé (experiência) humana, e não na revelação de Deus na história (Escritura). O desconstrucionismo de Derrida, todavia, não é tão revolucionário como aplicou o filósofo alemão Martin Heidegger à metafísica tradicional. Hans-Georg Gadamer descreveu a natureza revolucionária do desconstrucionismo heideggeriano dizendo que, no começo do século XX, Heidegger "desencadeou uma crítica do idealismo cultural" que destruiu "a tradição filosófica dominante".23 "O bilhante esquema do Ser e tempo verdadeiramente significou uma transformação que trouxe efeitos duradouros em quase todas as ciências".24 Heidegger não só criticou, mas substitui o fundamento hermenêutico em que se baseou a tarefa intelectual da filosofia e as ciências. Este é o tipo de desconstrução que é necessário no campo da teologia cristã. A desconstrução não é um fim em si mesmo, mas um instrumento para abrir o caminho a uma nova construção. Isso está claro nos escritos de Derrida e Heidegger. Não deve ser diferente no campo da teologia. Desconstrução é o procedimento necessário para abrir-se o caminho através do emaranhado de ideias produzidas por séculos de construção teológica, de volta para a base fornecida pela revelação divina. Em outras palavras, a desconstrução abre o
  • 4. espaço necessário para a revelação bíblica que deve ser seriamente considerada como fonte do trabalho teológico. Em teologia a tarefa de desconstruir não é nova. A Reforma protestante é o exemplo clássico de desconstrução na história do cristianismo. Os reformadores, no entanto, não desconstruiram o fundamento hermenêutico sobre o qual a teologia clássica construiu o seu sistema de salvação pelas obras. O desconstrucionismo portestante se dirigiu especialmente a doutrina da salvação. Lutero efetivamente desconstruiu o sistema de salvação pelas obras reinante no Catolicismo Romano. Descartou a salvação por meio das obras meritórias e afirmou a justificação pela fé. Esta troca de paradígma foi possível porque a desconstrução do sistema religioso vigente permitiou o descobrimento da verdade que estava oculta no texto bíblico. Infelizmente, a compreenção teológica da verdade encontrada no texto bíblico foi "construída" sobre o sistema hermenêutico clássico. Desta maneira, a contribuição positiva dada pela Reforma, foi anuviada por uma hermenêutica obscurecida e distorcida do conteúdo teológico da revelação bíblica. Para entendermos a desconstrução que proponho neste artigo é necessário considerar o papel e o conteúdo dos princípios hermenêuticos sobre os quais se construiu, e continua construindo- se a teologia cristã. 4. Os princípios hermenêuticos É necessário perguntarmos: o que desconstrói a desconstrução? A desconstrução desconstrói as interpretações teológicas recebidas. Para poder desconstruir uma interpretação, primeiro necessitamos conhecer a natureza do ato interpretativo, ou seja, responder a pergunta: o que é interpretação? Esta pergunta tem sido estudada em detalhes pela hermenêutica filosófica, disciplina filosófica de origem recente.25 Durante o século XX, Gadamer, entre outros, se dedicou a estudar a interpretação como fenômeno do conhecimento humano.26 Aqui só precisamos reconhecer que essa interpretação sempre depende dos pressupostos que usamos para conhecer, estudar ou desenvolver um tema. Por isso é necessário nesta secção identificar os princípios básicos da hermenêutica que sempre estão presentes na construção teológica. Estes elementos que integram a hermenêutica teológica nós denominaremos "princípios", porque eles são os que iniciam e condicionam toda atividade teológica. Embora estes "princípios" podem também serem catalogados como "pressuposições", quando visto a partir dos pensamentos e doutrinas que ajudaram a moldar, não devem ser confundidos com a plenitude do condicionamento histórico que compõem a totalidade da experiência humana que nós estimamos em nossa memória. Os princípios ou pressuposições macro hermenêuticos se distinguem do resto de nossas pressuposições por sua generalidade ou universalidade. Este recurso nos ajuda a identificar qual princípio se encontra no pensamento teológico, se a revelação bíblica ou tradição teológica. Em síntese, os princípios hermenêuticos consistem num conjunto de noções gerais intimamente relacionadas que por sua universalidade condicionam o todo do pensamento telógico cristão. Aceitamos o que consideramos óbvio. E é a partir daí que os teólogos geralmente assumem uma interpretação da realidade a que se referem as suas teologias. Ao proceder desta maneira, a maioria não percebe dois fatos básicos. O primeiro deles é que eles têm recebido, inadvertidamente, o conhecimento através do processo de tradição focado na educação formal, e, segundo, que o que foi recebido é uma das várias interpretações possíveis. Sendo que a teologia se refere principalmente a Deus, aos seres humanos e ao relacionamento Deus-
  • 5. criação, obviamente, cada teólogo tem ideias sobre estas realidades ao interpretar os textos bíblicos e construir suas doutrinas. Além disso, os teólogos assumem uma interpretação do processo cognitivo que permite a teologia humana como reflexão. A interpretação da realidade inclui as noções de Ser, Deus, homem-mundo, e tudo mais. A interpretação do conhecimento humano inclui epistemologia, hermenêutica, metodologia e a origem do conhecimento teológico (revelação e inspiração). 5. A origem filosófica da hermenêutica teológica Estas realidades são estudadas por uma série de disciplinas que tradicionalmente têm pertencido ao fazer filosófico. Elas são a ontologia geral de onde se estuda o ser; as ontologias regionais de onde se estuda Deus (teologia), o homem (antropologia), e o mundo (cosmologia); a metafísica onde se estuda a realidade como um todo inter-relacionado; a epistemologia, a hermenêutica filosófica e metodológica, onde se estudam os princípios cognitivos encarregados da tarefa teológica; e finalmente, a doutrina da revelação e inspiração onde se estuda a origem do conhecimento teológico, isto é, se considera que os homens têm informações a respeito de Deus para desenvolver a atividade teológica. A descrição dos princípios hermenêuticos esboçados no parágrafo anterior é o resultado claro que a filosofia foi incumbida de estudar em detalhe, incluindo o desenvolvimento de disciplinas especializadas para cada um em particular. Deste ponto em diante, a abertura dos teólogos a filosofia não é forçada, mas facilitada pelos fatos descritos acima. Primeiro, a teologia deve assumir as interpretações das realidades mencionadas e, segundo, que o estudo técnico dessas realidades é a própria especialidade das diversas disciplinas filosóficas. No entanto, o uso que os teólogos fazem da filosofia varia de acordo com o foco, disciplina e nível de análise e tradição que cada um escolhe de acordo com sua personalidade, habilidades e educação. A maioria dos teólogos usam os recursos filosóficos de uma maneira intuitiva. Geralmente, os teólogos protestantes e evangélicos procedem desta maneira. Os poucos que se dedicam a reflexionar sobre o método teológico que empenham, tratam de minimizar a importância e o alcance dos recursos filosóficos e científicos que introduzem a atividade teológica. Caracterizam as contribuições da filosofia na teologia como "ocasionais", para facilitar a proclamação do evangelho.27 Para evitar que a filosofia reine sobre a teologia, aconselha-se a não adotar um sistema filosófico definido e também não se deve permitir que a filosofia determine a reflexão teológica.28 A ideia de que metodologicamente a filosofia tem algo a dizer, mas não devemos deixá-la dizer muito. Nos leva as seguintes indagações: Que pequena contribuição à filosofia deve dar a teologia? Em que consiste esta "pequena" contribuição dada ao teólogo na tarefa de explicar os conteúdos da fé cristã?29 Aparentemente esta função parece inofensiva. Aliás, não devemos comunicar o evangelho em um contexto moderno mesmo? Contudo, a função hermenêutica que a filosofia e a ciência desempenham na tradição cristã se faz ocasionalmente visível. Por exemplo, Richard Rice, teólogo adventista norte- americano, declara que "ao explicar os conteúdos da fé cristã, a teologia deve explorar suas pressuposições básicas sobre a realidade, e para esta tarefa o uso de evidência pública é essencial".30 Tomás de Aquino, um dos mais notáveis teólogos de todos os tempos, desenvolveu com precisão o uso hermenêutico da filosofia sobre o qual construíu seu impressionante sistema teológico, no pequeno livro O ente e a essência,31 e na primeira questão da Suma Teológica.32 Além disso, logo de início assinalou Aquino a importância fundamental desta atividade,
  • 6. dizendo que "um pequeno erro no início pode levar a grandes erros na construção final".33 Infelizmente, a maioria dos teólogos não explicam com tanta precisão os princípios hermenêuticos que assumem. Para descubrí-los, o investigador se vê obrigado literalmente a "desenterrá-los" dentre os escritos teológicos produzidos por cada teólogo. 6. A hermenêutica da Teologia Clássica A principal necessidade de desconstrução que estamos propondo se deve ao fato de que a tradição cristã integrou ideias humanas que acabaram por substituir a revelação divina. Antecipando este perigo, Paulo expressou seu desejo que nada enganasse os cristãos "com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo" (Col 2:8; RA). Cristo mesmo repreendeu os dirigentes da igreja porque invalidavam a palavra de Deus mediante a tradição (Mc 7:13; Mt 15:1-3; RA). Apesar das claras advertências de Cristo e do apóstolo Paulo, a tradição cristã logo começou a construir sobre a base da filosofia grega. Infelizmente o que Paulo temia e Cristo condenou, começou a moldar os princípios hermenêuticos utilizados para a construção da teologia cristã clássica. Por isso, a convicção heideggeriana que a metafísica havia sido construída dentro de uma dinâmica onto-teo-lógica se aplica também ao que ocorreu na área teológica.34 Em outras palavras, é um feito histórico onde a teologia cristã foi construída (interpretou e formulou) e transmitida sob a hermenêutica da filosofia grega. Filosofia e ciência continuam, consciente ou inconscientemente, determinando a hemenêutica a partir do qual os teólogos do século XXI têm "reconstruido" à fragmentada teologia cristã. Cedo em sua história, a teologia cristã começou a definir sua perspectiva hermenêutica fundamental não a partir da revelação divina que encontramos no Antigo Testamento, se não a partir da filosofia grega.35 Partindo desta perspectiva a maioria das tradições cristãs construíram e continuam construindo seus estudos teológicos. Uma mistura entre filosofia e ciência se formou em um nível tão primordial que hoje se apresenta claramente como fundamento do cristianismo bíblico. Esto levou a convicção que a teologia tem uma diversidade de fontes; se destacan a Bíblia, a tradição, a razão (filosofia, ciência e cultura) e a experiência cristã. A diferença entre estudos teológicos (e as igrejas que patrocinam) se originou na hermenêutica fundamental adotada, a fonte que a fundamenta e a noção de revelação e inspiração que as justifica para seu uso teológico. A influência da filosofia grega introduziu uma troca paradigmática no âmbito hermenêutico fundamental. A convicção que a teologia platônica descreve a natureza da realidade, completando desta maneira as Escrituras, levou a redefinição das noções de Deus e de homem. Daí a construção onto-teo-lógica da qual Heidegger fala. Esta construção se aplica não somente a metafísica, mas também a teologia cristã. Em outras palavras, a interpretação da realidade produzida por Platão (ontos) determinou a interpretação de Deus como ser atemporal (theo) e a interpretação da razão (logos).36 Também, a ontologia platônica introduz a ideia da imortalidade da alma. E desta maneira as doutrinas platônicas acerca da natureza da realidade divina e humana, determinaram, entre outras, a noção de Deus e a natureza humana (a nível macro hermenêutico).37 Estas desenvolvem um papel decisivo na interpretação das doutrinas cristãs (nível meso hermenêutico),38 e a interpretação do texto bíblico (nível micro hermenêutico).39 Estes princípios macro hermenêuticos também determinam a interpretação, formulação e aplicação do método teológico.40
  • 7. A fundamentação filosófica e científica da macro hermenêutica teológica é responsável, em grande parte, pela fragmentação da teologia moderna e pós-moderna. Sendo que a maioria dos teólogos, consciente ou inconscientemente, derivam seus princípios hermenêuticos da filosofia e das ciências, essas mudanças em si, necessariamente, exigem alterações na hermenêutica teológica e a posterior reconstrução das doutrinas cristãs. Os teólogos católicos e protestantes da ala liberal derivam conscientemente sua hermenêutica e muitas de suas crenças de doutrinas filosóficas e científicas modernas e pós-modernas. Simplesmente não podem aceitar os ensinamentos da Bíblia que não concordem com suas preferências intelectuais e morais.41 Embora, em teoria estas tradições podem aplicar o método desconstrutivo que estou sugerindo, na prática não farão. Depois de tudo, não tem outra base onde construir do que nas vacilantes posições da ciência e filosofia contemporâneas. Aqueles que assim procedem têm esquecido a conclusão do sermão do monte, quando Cristo advertiu que "todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia" (Mt 7:26, RA). Já a situação do protestantismo conservador é diferente. A maioria dos teólogos protestantes e evangélicos conservadores ingenuamente creem que suas teologias estão baseadas nos princípios hermenêuticos e doutrinários bíblicos. Teoricamente, se afirma a primazia da Bíblia em suas funções hermenêuticas, doutrinárias e críticas. Todavia, a análise crítica das doutrinas protestantes revela que o evangelicalismo conservador continua construindo suas doutrinas sobre as bases macro e meso hermenêuticas clássicas. Quiçá a desconstrução da teologia cristã seja apreciada por aqueles que intentam construir sua teologia em obediência ao pensamento bíblico. O fundamento hermenêutico que marca o período clássico da teologia continua com certas modificações e adaptações, definindo a imensa maioria dos estudos teológicos modernos e pós-modernos.42 Por essa razão, esta secção é limitada a delinear os elementos básicos do sistema hermenêutico, que foi concebido e formulado no período clássico da teologia cristã. Esta descrição permitirá ao leitor apreciar (1) as continuidades e mudanças paradigmáticas que tem tido lugar na teologia cristã a partir da idade moderna, e (2) a hegemonia do fundamento hermenêutico clássico sobre as várias formas de tradição cristã que se desenvolveram ao longo da história. Naturalmente, nós deixaremos o desenvolvimento destes temas para outra oportunidade. 7. A desconstrução filosófica da ontologia clássica No começo do século XXI já estamos acostumados a descrever nosso tempo como "pós- moderno". Também estamos habituados a associar a pós-modernidade com o fim da razão absoluta da modernidade. Ou seja, aceitamos como um fato que a razão não pode produzir resultados absolutos que sejam universalmente válidos para todos os seres humanos de todos os tempos. A razão pós-moderna é a razão histórica ou hermenêutica a que aludimos indiretamente neste artigo quando falamos da natureza da interpretação (secção 4 acima). Sobre esta base, a pós-modernidade se define como uma superação (em continuidade e descontinuidade) da síntese filosófica moderna. O que a maioria não percebe é que a pós- modernidade tem produzido uma mudança mais fundamental no paradigma intelectual do ocidente desde os dias de Parmênides.
  • 8. A natureza desta mudança tem sido articulada a seu nível mais profundo no nível ontológico, por Heidegger. Aqui tentarei explicar esta mudança de forma simples e concisa. Ao fazê-lo, meu propósito é mostrar que a teologia cristã não pode continuar construindo suas interpretações sobre interpretações recebidas da tradicionalmente, sem se submeter o sistema hermenêutico sobre o qual se tem trabalhado por quase dois mil anos a uma detalhada e cuidadosa descontrução. Heidegger desconstruiu não somente os fundamentos da filosofia moderna, mas os fundamentos da filosofia clássica sobre os quais se construiu a filosofia moderna. Esse feito guiou sua desconstrução do conceito de ser, o conceito mais geral de todos os conceitos de acordo com Aristóteles.43 No seu livro, Ser e Tempo, Heidegger começa colocando em dúvida que possuímos um entendimento apropriado de ser e afirma que a interpretação de tempo é uma pressuposição necessária para entender o conceito de ser.44 Todavia, pelo o que sei, nunca foi a intenção de Heidegger virar de cabeça para baixo dois mil e seiscentos anos de tradição filosófica, no entanto, é exatamente o que podemos ver em suas declarações e nas interpretações do ser que ele desenvolveu pacientemente e detalhadamente em sua longa carreira filosófica.45 Ao adotar esta perspectiva implícita na obra tardia de Husserl,46 o "fenômeno", que é o que nós recebemos através dos sentidos no fluxo histórico de nossa consciência, passou a ter nível ontológico pela primeira vez na história da filosofia ocidental.47 Heidegger compreendia a característica revolucionária de sua proposta desconstrutiva- construtiva, isso fica claro quando lemos a seguinte citação: Não estamos experimentando o alvorecer da transformação mais monstruosa pela qual já tenha passado nosso planeta, o amanhecer de uma época da qual o mundo mesmo está surpreso? Não enfrentamos o entardecer de uma noite que anucia outro amanhecer? Devemos começar a caminhar em direção a região histórica do entardecer do planeta? Esta terra do entadercer (ocidente) emergente? Cobrirá esta terra do entardecer tanto ao Ocidente como ao Oriente e transporá o que é meramente Europeu chegará a se o lugar para um novo destino histórico mais primordial?... Somos os que chegamos tarde? Mas, não somos ao mesmo tempo precursores do novo amanhecer de uma época totalmente diferente?48 Como isso afeta a teologia cristã, a desconstrução da ontologia clássica que encontramos no pensamento de Heidegger? 8. Alternativa hermenêutica fundamental Recordando que a tradição teológica cristã em suas diversas manifestações tem construido assumindo a ontologia clássica, devemos, no entanto, considerar o impacto que a revolução da modernidade ontológica chefiada por Heidegger representa para a atividade teológica. Tal como referi no início deste artigo, os teólogos de todas as tradições tentam superar o relativismo da razão pós-moderna construindo sobre as bases sempre vacilantes das tradições a que pertencem. O que este procedimento desconhece é a desconstrução ontológico sobre os quais está assenta a interpretação historicista da razão pós-moderna. Na linguagem de Heidegger, teólogos continuam esquecendo-se do ser, ou seja, o pressuposto hermenêutico fundamental sobre o qual se tem construiu seus sistemas teológicos. Consideremos brevemente os seguintes fatos. (1) Na ordem de importância dos princípios ou pressuposições hemenêuticas não há pressuposição mais universal do que a noção geral do
  • 9. ser.49 (2) Parmênides interpretou o ser como atemporal.50 (3) A filosofia ocidental selou sua sorte ou direção hermenêutica quando Sócrates, Platão e Aristóteles adotaram a interpretação atemporal do ser, originada em Parmênides.51 Dali em diante, tudo foi interpretado em filosofia e teologia pela noção geral do ser, dentro da dinâmica onto-teo-lógica. (4) Começando incipientemente com Justino, o Mártir, e continuando explicitamente com Orígenes e Agostinho, a teologia cristã selou seu destino intelectual ao definir sua perspectiva macro hermenêutica a partir das ideias ontológicas platônicas e aristotélicas. Assumindo princípios hermenêutico derivados da ontologia clássica, Deus e homem foram concebidos como realidades, não históricas.52 Esta decisão está por trás da tradição teológica cristã clássica e moderna.53 (5) Heidegger interpreta convincentemente o ser de um modo totalmente diferente da ontologia tradicional, que serve de base, à concepção teológica do Deus Cristão até hoje. Em consequência, uma alternativa hemenêutica fundamental confronta filósofos e teólogos. Afinal de contas, eles consideraram o ser, e por conseguinte a realidade como um todo da perspectiva atemporal ou da perspectiva temporal? Infelizmente, a maioria dos teólogos não conhece ainda, esta alternativa fundamental que lhes é apresentada e continuam reconstruindo sobre a base macro hermenêutica clássica. Infelizmente, sabemos que a razão humana não pode provar com certeza absoluta a alternativa que devemos escolher. Na realidade, racionalmente falando, não há melhores razões para escolher uma interpretação em vez de outra. Mas, temos de escolher, porque a eleição é necessária para o funcionamento da razão e da construção do pensamento filosófico, científico, religioso e teológico. Assim, o pós-modernismo não encontra uma outra base que não seja na tradição. Se o fundamento é a tradição, então, não há pouco lugar na teologia para desconstruir o sistema ontológica sobre a qual se baseia a tradição. Deste modo, a teologia católica continua adaptando-se progressivamente às novas ideias teológicas, sem desfazer a ontologia tradicional em que se baseia. Exemplos dessa tendência pode ser visto no projeto teológico de Karl Rahner na Alemanha,54 e Avery Dulles nos Estados Unidos da america.55 Em geral acontece a mesma coisa com a teologia evangélica conservadora. No entanto, o leitor não deve pensar que a desconstrução teológica é inexistente. Como já mencionamos, o grande iniciador da desconstrução parece ter sido Lutero.56 Recentemente, o pentecostal filósofo James K. A. Smith tem produzido uma desconstrução do pensamento Agostiniano muito interessante, que ilustra em parte a necessidade de desconstrução profunda do sistema macro hermenêutico.57 Também se pode distinguir a presença da desconstrução como metodologia crítica na chamada teologia de "Deus aberto" (em inglês "open view of God" ).58 O aspecto desconstrutivo deste enfoque teológico reflete-se no feroz debate que se tem originado dentro da teologia evangélica norte-americana.59 No entanto, nenhum desses exemplos de desconstrução é direcionado ao fundamento macro hermenêutico sobre o qual se tem construído as tradições teológica cristã. A crítica desconstrutiva na filosofia e teologia mostra que é possível desconstruir. Se as tradições teológicas seriamente considerarem a alternativa hermenêutica fundamental que é a interpretações do ser produzida por Parmênides e Heidegger, começariam a duvidar da macro hermenêutica sobre a qual estão construindo. Ao gerar esta dúvida sobre a base macro hermenêutica da tradição cristã e é este o papel fundamental que a alternativa Parmênides- Heidegger desempenha na teologia. E a partir desta dúvida na tradição recebida pelos teólogos começarem a construir a teologia cristã sobre uma base macro hermenêutica derivada da revelação bíblica, produziriam uma revolução teológica tal qual nunca houve desde os dias de nosso Senhor Jesus Cristo.
  • 10. 9. A Bíblia como fundamento para a desconstrução Como metodologia crítica, a desconstrução ajuda-nos a voltar para o fundamento sobre o qual a tradição pretende construir suas posições teológicas. No caso da filosofia, Heidegger utiliza a desconstrução para alcançar "as mesmas coisas", e construir a partir delas.60 Desta forma, é evidente que o pós-modernismo hermenêutico não promover um subjetivismo total como popularmente supõe. Muito pelo contrário, é um convite a considerar seriamente as verdadeiras bases existentes fora do assunto cognoscente,61 a partir dos quais se produz uma nova construção. A meta da desconstrução é, portanto, a nova construção que torna tudo mais fácil. Esta construção, no entanto, não será possível se após a desconstrução não encontramos "as mesmas coisas" sobre a qual edificar. Mas, quais são as "as mesmas coisas" em teologia? James Smith parece sugerir que na teologia "as mesmas coisas" referir-se a Deus ou o Espírito, como "a Palavra sem palavras".62 É claro que esta interpretação das "mesmas coisas" surge da experiência pentecostais do autor.63 Em conformidade com Pentecostalismo e o carismatismo contemporâneo, o crente diretamente experimentando a presença de Deus, "as coisas em si". Esta noção é semelhante ao "evangelho" ou a experiência espiritual da justificação pela fé como entendido Lutero.64 O recurso da presença de Deus como "Palavra sem palavras", certamente permite Smith fundamentar a conclusão de que pretendia atingir, a saber, conseguir espaço na comunidade teológica para a diferença de interpretações.65 No entanto, esta fundação não é suficiente para uma nova construção teológica nem para pensar num novo princípio macro hermenêuticos da teologia. Como resultado, a variedade de interpretações no bojo da comunidade que alcança Smith terá de se basear, em longo prazo, sobre a hermenêutica tradicional.66 O desconstrutivismo de Smith trabalha em analogia ao pensamento derridiano, ou seja, não se aplica a desconstrução do fundamento ontológico da hermenêutica. Do ponto de vista da origem do conhecimento teológico, "as mesmas coisas" não podem referir-se a Bíblia como a revelação divina.67 Gadamer nos ensina que "as mesmas coisas" não são só pessoas ou acontecimentos históricos mas também textos.68 Mesmo Smith parece pressupor que a única revelação cognoscitiva e pública que temos para desenvolver o pensamento teológico em termos pentecostal, é a revelação bíblica.69 Depois de tudo, a desconstrução iniciada por Lutero foi possível exatamente devido a revelação bíblica. Da mesma forma, sem a revelação bíblica a desconstrução dos princípios hermenêuticos da teologia seria impossível. 10. Rumo à independência hermenêutica Como temos visto, a desconstrução da teologia cristã é necessária devido à dependência hermenêutica que teólogos têm adotado ao tomar emprestado da filosofia os princípios macro hermenêuticos para entender a Deus, a natureza humana, o mundo, e todo o conhecimento humano e a origem do saber teológico. E, a partir desses princípios, interpretar a Bíblia e construir o pensamento dogmático. A desconstrução teológica deve reverter esta dependência. Afirmam que a Escritura apresenta "as mesmas coisas" significa que ela irá guiar-nos tanto no processo desconstrutivo como no processo construtivo. Esta afirmação é o primeiro passo de desconstrução. De fato, para darmos este passo, substituímos a ordem onto-teo-lógico da
  • 11. teologia clássica pela ordem onto-teo-lógica das Escrituras.70 Isto significa que não definimos o conteúdo dos princípios da teologia macro hermenêutica a partir de uma ontologia, mas da reflexão teológica. Assim como Heidegger começou seu estudo do ser de uma descrição do fenômeno humano, e dali proceguiu com os entes e a metafísica, a teologia deve começar a desconstrução considerando o fenômeno divino. Em outras palavras, não podemos começar filosóficamente, mas teologicamente. Para fazer isso, nós devemos definir os princípios macro hermenêuticos necessários para o seu funcionamento com base nas "mesmas coisas" que são dadas especificamente como disciplina independente, ou seja, a partir do texto bíblico. Ao fazê-lo, a teologia declara sua independência metodológica e hermenêutica da filosofia. Isto exige uma reinterpretação radical da questão das fontes da teologia tradicionalmente concebidas largamente do chamado "quadrilátero wesleyano".71 Não nos interessa a origem histórica da ideia se não seu significado metodológico. Em geral a teologia cristã está acostumada a construir usando toda fonte que lhe é útil. O quadrilátero simplesmente classifica as fontes sobre as quais a teologia se baseia, sendo quatro tipos, a saber: a Bíblia, a tradição, a razão e a experiência. Diferentes tradições utilizam as fontes com ênfases diferentes. Em geral, os proponentes do quadrilátero dão preminência as Escrituras outorgando-lhe um rol primário ou normativo que em nossos dias geralmente se expressa na fórmula "prima Scriptura".72 Assim se dá um lugar privilegiado as Escrituras, e ao mesmo tempo se reconhece que a teologia deve construir-se utilizando outras fontes que complementam a Escritura para "entender" e "comunicar" sua mensagem de salvação. Ao afirmar o princípio sola Scriptura, a desconstução que propomos deve aplicar-se ao quadrilátero wesleyano a fim de explicar o novo papel que as Escrituras tem em relação com as outras fontes tradicionalmente utilizadas. Este novo papel consiste na determinação dos princípios hermenêuticos a partir dos quais se constroi a teologia cristã. O quadrilátero é efetivamente desconstruído em dois níveis, fonte e recurso. A fonte se refere as "mesmas coisas" provindas do texto bíblico caracterizado pelos princípios sola e tota Scriptura.73 Sob a análise crítica dos princípios os recursos, incluem, entre outros, a tradição, as ciências, a filosofia e a experiência. Esta função da Bíblia e dos recursos que permitem interpretar, criticar e selecionar para uso teológico é conhecida como prima Scriptura. Prima Scriptura, por outro lado, opera sob a guia hermanêutica do sola Scriptura e a guia doutrinal de tota Scriptura. Reconhecer simultaneamente que as Escrituras é a revelação específica de Deus e que nossos princípios hermenêuticos para entender essa revelação devem basear-se nas interpretações hipotéticas da natureza e da história produzida pela filosofia e ciência contemporâneas, não traz resultados convincentes. Ainda mais, violenta o princípio científico básico que indica que devemos desenvolver o nosso conhecimento científico por meio de observação cuidadosa das próprias coisas. Se Deus revelou-se na Escritura especificamente, por que razão havemos nós de recorrer a filosofia para determinar o princípio hermenêutico da teologia? Que isto se tenha feito no passado ou continua a ser feito em nossos dias não justifica, ou seja, isso não significa que é o caminho a percorrer, mas aquilo que deveria ser desconstruído. É muito mais convincente definir os princípios macro hermêuticos da teologia à partir daquilo que é dado como específica e detalhada revelação de Deus na Bíblia. Evidentemente, a desconstrução do quadrilátero wesleyano requer a desconstrução da doutrina da revelação e inspiração, a qual eu abordo em outro lugar.74 Mas para que a desconstrução da teologia cristã seja possível, não só necessitamos assegurar um ponto de partida nas "mesmas coisas" reveladas por Deus nas Escrituras, e a
  • 12. independência hermenêutica e metodológica da teologia, se não também assegurarmos uma perspectiva hermenêutica fundamental que substitua a que desconstruiremos. 11. Deus e o tempo A teologia cristã pode resolver a alternativa hermenêutica fundamental que apresentamos na secção 8 deste artigo somente a partir do pensamento bíblico. Devemos continuar construindo a teologia cristã da perspectiva hemenêutica atemporal derivada da ontologia grega? Ou devemos construí-la na nova perspectiva temporal apresentada por Heidegger? Felizmente, a crítica da razão tradicional tem mostrado que a razão pura não pode definir absolutamente entre interpretações opostas. A razão pode distinguir entre posições corretas ou incorretas a partir de dados apresentados. Por tanto, somente o que é dado à teologia pode ajudar-nos a definir a perspectiva hemenêutica fundamental a seguir no processo desconstrutivo-construtivo das tradições da teologia cristã. Somente a Bíblia pode decidir esta questão para a teologia cristã. Este procedimento se baseia nos princípios metodológicos que discutimos na secção 9 e 10. A Bíblia é clara a respeito. Deus é apresentado não como ser atemporal se não como um ser histórico compatível com o tempo e o espaço de sua criação. Um estudo fenomenológico do texto clássico para o ser de Deus nas Escrituras, Êxodo 3, revela que o ser de Deus não é atemporal se não temporal.75 Esta perspectiva está começando a ser reconhecida, discutida76 e inclusive utilizada com propósitos mini desconstrutivos. Exemplo do último é a teoria do "Deus aberto" que mencionamos na secção 8. Todavia, os proponentes desta teoria não têm chegado a reconhecer o caráter revolucionário da concepção bíblica de Deus como um ser temporal para a macro hemenêutica e para a desconstrução-construção da teologia cristã em geral. Em conjunto e dependendo da noção de Deus, a ideia do homem desempenha um papel importante na hermenêutica teológica (ver secção 8). Com base na hermenêutica tradicional a natureza humana é entendida como "alma" atemporal.77 Com base na concepção de Deus temporária, a Bíblia entende natureza humana ou "alma" como um todo de natureza temporária.78 A desconstrução da teologia cristã, então, porcede a partir da concepção bíblica do ser de Deus (ontologia bíblica) como uma realidade temporal. Deus e o tempo é o ponto de partida e ao mesmo tempo o primeiro aspecto para a desconstrução-construção da hermenêutica sobre a qual se baseia a teologia cristã. O clareamento deste tema requer vários volumes. Aqui é necessária apenas uma palavra de advertência. A "temporalidade" de Deus não deve ser definida a partir dos princípios hermenêuticos da teologia tradicional, nem identificada com a temporalidade humana, tampouco a partir de estudos filosóficos e científicos acerca da temporalidade, se não a partir da revelação divina dada pela Bíblia como um todo. Enquanto esta perspectiva não é desenvolvida, todavia, é possível entender e aplicar o conceito de Deus como um ser temporal tal como apresentado e assumido na teologia do texto bíblico. Isto não significa que devemos conceber a Deus como limitado pelo tempo da criação, se não como "supratemporal" não no sentido que sua natureza é atemporal, e sim no sentido de que seu ser e vida tem lugar na plenitude do tempo, da qual nosso tempo é somente uma parte limitada. Certamente, que Deus sendo concebido assim, significa que tem a capacidade de experimentar a sucessão temporal do passado, presente e futuro. Ou seja, sem
  • 13. modificar seu ser ou sua constituição ontológica nem perder sua absoluta perfeição, a vida de Deus é capaz de experimentar e fazer coisas novas não só "para nós" como para a divindade. Este conceito é fundamental não só para entendermos a providência divina, como corretamente argumenta a posição do Deus aberto, se não, que é muito mais importante, a obra salvífica de Deus na história. Uma atividade similar deve ser feita a fim de entender a historicidade da natureza humana a partir das Escrituras. Quando, a partir da concepção bíblica de Deus e dos seres humanos como realidade histórica, se procede à desconstrução das doutrinas cristãs, é surpreendente constatar que muito daquilo que a tradição nos ensina, por exemplo, as doutrinas tais como justificação ou a inspiração das Escrituras, se baseiam na interpretação das naturezas divina e da natureza humana como substâncias atemporais.79 Por motivos diferentes daqueles que motivaram a Heidegger para desconstruir a onto-teo- logia da metafísica clássica e moderna, a desconstrução da teologia também é baseada na concepção temporal da realidade. A grande diferença de Heidegger reside em que a teologia não depende das suas categorias de análise, que se baseiam numa hipotética descrição da ordem da criação, mas da revelação de Deus que a teologia cristã tem como sua área de estudo. É a partir do estudo hermenêutico, área própria da teologia, deve descobrir, discutir, desenvolver, implementar, criticar e ajustar o macro, meso e micro pressupostos hermenêuticos que ela precisa para funcionar. Dentre eles os teólogos podem prolongar o desconstrução-construção para qualquer disciplina, metodologia, interpretação, ensino e aplicação produzida pela teologia cristã tradicional. Como resultado, não serão eliminadas as doutrinas cristãs, mas será restaurada a compreensão teológica da mesma que encontramos nas páginas das Escrituras Sagradas. 12. Desconstrução e teologia bíblica Sob a orientação hermenêutica da filosofia grega, a teologia cristã foi construída em grande parte como teologia sistemática. Embora as origens daquilo que hoje conhecemos como teologia bíblica podem ser rastreadas até à Reforma Protestante do século XVI, só foi a partir de meados do século XVIII que podemos discutir este assunto como uma disciplina independente.80 O impulso desconstrutivo da teologia bíblica foi visto imediatamente pela sua oposição às conclusões a que chegaram os teólogos sistemáticos.81 Os progressos feitos pela teologia bíblica foram revolucionários em muitos aspectos, alguns deles, infelizmente, muito negativo devido à sua dependência da macro hermenêutica clássica e moderna. A desconstrução que propusemos neste artigo obviamente se relaciona intimamente com a teologia bíblica. Antes de utilizar o texto bíblico reconstrutivamente, devemos desconstruir a metodologia por meio da qual interpretamos. A metodologia amplamente aceita na disciplina é conhecida como método histórico-crítico de interpretação bíblica.82 Se bem que esta metodologia tem sido criticada pelos próprios membros desta disciplina, todavia é necessário proceder com sua desconstrução e substituição a partir dos princípios macro hemenêuticos que a sustentam.83 Em termos simples, esta metodologia não pode ser utilizada no projeto desconstrutivo da teologia cristã que estamos propondo devido que a mesma trabalha a partir do princípio macro hermenêutico clássico e moderno que devem ser desconstruídos. Como resultado, a aplicação do método histórico-crítico produz-se a desconstrução e, por conseguinte a destruição do pensamento bíblico. Sobre a base de uma desconstrução-reconstrução da metodologia exegética, a teologia bíblica se torna uma aliada insdispensável para a desconstrução-construção das doutrinas e práticas cristãs. Felizmente, a concepção bíblica arrespeito da historicidade da natureza divina e
  • 14. humana é tão clara, que é afirmada ainda pela leitura histórico-crítica do texto. A partir desta perspectiva hermenêutica fundamental é possível desconstruir o método histórico-crítico e construir outro para substituí-lo. Como no caso da compreensão de Deus e o tempo (secção 11), a desconstrução do método histórico-crítico requer um estudo sério e detalhado. 13. Conclusão Penso que as ideias apresentadas neste artigo são suficientes para concluir que uma descosntrução da teologia cristã é necessária e que sua construção a partir das "mesmas coisas" dadas a teologia como revelação especial de Deus é possível. Se bem que a tarefa de desconstrutiva tem antecedentes na tradição cristã, notavelmente na obra de Lutero e nas tradições que, como os anabatistas [reforma radical], trataram de restaurar o cristianismo do Novo Testamento, é claro que nunca se tem tratado de reconstruí- la a partir da desconstrução dos fundamentos hermenêuticos que a sustentam. Se uma missão tal tem produzido resultados importantes na área filosófica, é lógico esperar que resultados similares se produzam na área da teologia. A desconstrução da teologia cristã é necessária porque em sua construção esqueceu-se da interpretação histórica de Deus, do homem, do mundo, da totalidade, e do conhecimento, e da origem do conhecimento teológico que encontramos nas Escrituras. Este esquecimento, perpetuado pela institucionalização do cristianismo em uma variedade de denominações, levou em grande parte, a uma crise de fragmentação cada vez maior e a irrelevância que o Cristianismo sofre na época moderna. Esta lacuna deve ser substituída por uma nova atitude de abertura ao pensamento revelado por Deus nas Escrituras. A construção que gerou esta atitude obediente deve, evidentemente, ser sujeito às mesmas críticas que a gerou para garantir que o mesmo fato não se repita pela segunda vez. Como temos sugerido, a tarefa de desconstrução deve começar no nível macro hermenêutico, e dali partiu para todos os níveis, metodologias, tradições, exegese, doutrinas, ensinamentos, práticas e teólogos cristãos. Desta forma, estaremos construindo sobre a rocha da palavra que recebemos na Sagrada Escritura (Antigo e Novo Testamentos) como nos ordenou nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 7: 24). __________________________________________________________________________ *Artigo publicado pela primeira vez na revista: DavarLogos: Revista Bíblico-Teológica, Entre Ríos: Argentina, Editora: Universidad Adventista del Plata, v. 1, n. 1, p. 3-26, 2002. Tradução para o português: Régerson Molitor da Silva – molitor7@hotmail.com **Fernando L. Canale, professor de Teologia e Filosofia da Andrews University, Michigan, EUA. 1 Jean-François Lyotard, The Postmodern Condition: A Report on Knowledge (trad. Geoff Bennington y Brian Massumi; 10 vols.; Minneapolis: University of Minnesota Press, 1979), 10:xxiii, introduce la noción de posmodernidad de la siguiente manera: “The word is in current use on the American continent among sociologists and critics; it designates the state of our culture following the transformations which, since the end of the nineteenth century, have altered the game rules for science, literature, and the arts”. 2 Delwin Brown, Boundaries of our Habitations: Tradition and Theological Construction (New York: State University of New York Press, 1994), y Kwabena Donkor, Tradition as a
  • 15. Viable Option for Protestant Theology: The Vicentian Method of Thomas C. Oden (Ann Arbor: UMI, 2001). 3 Jean-Georges Boeglin, La question de la tradition dans la théologie catholique contemporaine (Paris: Éditions du Cerf, 1998); Avery Dulles, The Craft of Theology: From Symbol to System (New York: Crossroad, 1992), y Carlos Alfredo Steger, Apostolic Succession in the Writings of Yves Congar and Oscar Cullmann (AUSDDS 20; Berrien Springs: Andrews University Press, 1995), 144-65. 4 Ernst Troeltsch, The Christian Faith (trad. Garrett E. Paul; Minneapolis: Fortress, 1991), 40. 5 Alister McGrath, “Engaging the Great Tradition: Evangelical Theology and the Role of Tradition”, en Evangelical Futures: A Conversation on Theological Method (ed. John G. Stackhouse, Jr.; Grand Rapids: Baker, 2000), 139-58, y Norman L. Geisler, Thomas Aquinas: An Evangelical Appraisal (Grand Rapids: Baker, 1991). 6 Dulles, The Craft of Theology, 103-14; Troeltsch, The Christian Faith, 40. 7 Recientemente el teólogo metodista Thomas C. Oden ha recurrido explícitamente a la tradición utilizada para superar el relativismo posmodernista, véase por ejemplo su After Modernity–What?: Agenda For Theology (Grand Rapids: Zondervan, 1992), 60. 8 Fernando L. Canale, Back to Revelation-Inspiration: Searching for the Cognitive Foundations of Christian Theology in a Postmodern World (Lanham: University Press of America, 2001). 9 Que la tradición juega el papel hermenéutico determinante en el Catolicismo Romano y protestantismo modernista no necesita explicación. Menos reconocido, es el rol hermenéutico que la tradición ejerce en el protestantismo, aun en el evangelicalismo conservador. En el catolicismo un grupo de teólogos intenta superar el secularismo, la indiferencia hacia la teología y la postodernidad mediante un retorno a la tradición patrística. Este movimiento se autodenomina “Ortodoxia Radical” (véase John Milbank et al., eds., Radical Orthodoxy: A New Theology [London-New York: Routledge, 1999], 1-2). En el evangelicalismo el uso de la tradición como recurso hermenéutico se nota, por ejemplo en el llamado a utilizar más libremente la tradición que encontramos en el enfoque histórico de D. H. Williams, Retrieving the Tradition and Renewing Evangelicalism: A Primer for Suspicious Protestants (Grand Rapids: Eerdmans, 1999), y el proyecto teológico modernista de Stanley J. Grenz, Theology for the Community of God (Nashville: Broadman & Holman, 1994), 16-20, y también Stanley J. Grenz, Renewing the Center: Evangelical Theology in a Post-Theological Era (Grand Rapids: Baker, 2000), 208-9. 10 Hans-Georg Gadamer, Truth and Method (trad. Joel Weinsheimer y Donald G. Marshall, 2a edición rev.; New York: Continuum, 1989), 292-307, provee un análisis fenomenológico de la tradición. 11 Alister McGrath, “Engaging the Great Tradition”, 141, identifica estos niveles como “proceso” y “conjunto de doctrinas” (inglés: “body of teaching”). 12 Thomas C. Oden, The Living God (New York: HarperCollins, 1992), 337-8, reconoce estos niveles a los cuales denomina “palabra recordada” y “palabra experimentada”. 13 Hans-Georg Gadamer, Truth and Method, 295. 14 Ibid., 266-7. 15 Aun Alister McGrath, “Engaging the Great Tradition”, 148, evangélico conservador de origen inglés, reconoce este cambio paradigmático en el ámbito epistemológico como uno de los pocos puntos de la posmodernidad con el cual está totalmente de acuerdo. 16 Fernando L. Canale, A Criticism of Theological Reason: Time and Timelessness as Primordial Presuppositions (AUSDDS 10; Berrien Springs: Andrews University Press, 1983), capítulo 2. 17 El reciente proyecto teológico evangélico neo-liberal del teólogo americano Stanley J. Grenz es un ejemplo de esta actitud. Grenz sigue de cerca al teólogo alemán Wolfhart
  • 16. Pannenberg. En el clásico estilo liberal iniciado por Friedrich Schleiermacher, The Christian Faith (trad. H. R. Mackintosh y J. S. Stewart; basada en la 2a edición alemana de 1830; Edinburgh: T. & T. Clark, 1928), Grenz construye su Theology for the Community of God a partir de una descripción de las creencias tradicionalmente sostenidas por la comunidad cristiana. Un enfoque similar es adoptado por el teólogo Adventista del Séptimo Día Fritz Guy, Thinking Theologically: Adventist Christianity and the Interpretation of Faith (Berrien Springs: Andrews University Press, 1999), 225-52. La misma confianza en las contribuciones hermenéuticas de la tradición se encuentra entre teólogos evangélicos conservadores que siguen el ejemplo de los así llamados Reformadores “magisteriales” (Lutero, Zuinglio, Calvino). Por ejemplo, véase Millard J. Erickson, Christian Theology (Grand Rapids: Baker, 1990), 258. 18 John D. Caputo, ed., Deconstruction in a Nutshell: A Conversation with Jacques Derrida (New York: Fordham University Press, 1997), 77. 19 Esto resulta evidente cuando el ejemplo que Derrida y Caputo dan de la deconstrucción es el análisis de un pasaje del Timeo, donde Derrida enfoca su atención en el receptáculo espacial (Khôra) en el cual las copias sensibles producidas por el Demiurgo son engendradas. Esto le permite distinguir entre el texto platónico y la filosofía platónica, y usar lo primero para criticar lo segundo (ibid., 82-92). De esta forma el análisis textual se torna “transgresor” de la tradición filosófica denominada “Platonismo”. 20 Ibid., 80-1. 21 La “transgresión” derridiana parece corresponder con lo que Thomas S. Kuhn identificó como “anomalías” que no se ajustan a los criterios de interpretación de la “ciencia normal” o paradigma de explicación científica reinante (Thomas S. Kuhn, The Structure of Scientific Revolutions [2a edición; Chicago: University of Chicago Press, 1970], 52). 22 Ibid., 159. 23 Hans-Georg Gadamer, “The Phenomenological Movement”, en Philosophical Hermeneutics (ed. David E. Linge; Los Angeles: University of California Press, 1976), 138. 24 Ibid., 138-9. 25 Para una introducción al concepto y surgimiento de la hermenéutica como disciplina filosófica, véase Raúl Kerbs, “Sobre el desarrollo de la hermenéutica”, Analogía Filosófica 2 (1999): 3-33. 26 Menos conocida pero no menos importante es la obra del filósofo italiano Emilio Betti, “Hermeneutics as the General Methodology of the Geisteswissenschaften”, en Contemporary Hermeneutics: Hermeneutics as Method, Philosophy and Critique (ed. Josef Bleicher; London-Boston: Routledge & Kegan Paul, 1980), e idem, Teoria Generale della Interpretazione (Milano: Dott. A. Giuffre Editore, 1990). Para una introducción a la hermenéutica filosófica, véase Josef Bleicher, Contemporary Hermeneutics: Hermeneutics as Method, Philosophy and Critique (London-Boston: Routledge & Kegan Paul, 1980). 27 Clark H. Pinnock, Most Moved Mover: A Theology of God’s Openness (Grand Rapids: Baker, 2001), 22-3. 28 Richard Rice, Reason and the Contours of Faith (Riverside: La Sierra University Press, 1991), 201. 29 Ibid., 198. 30 Ibid., 194. 31 Tomás de Aquino, On Being and Essence (trad. Armand Maurer; Toronto: Garden City Press, 1949). 32 Tomás de Aquino, Summa Theologica (trad. Fathers of the English Dominican Province; 3 vols.; New York: Benzinger Brothers, 1947). 33 Tomás de Aquino, On Being and Essence, prólogo.
  • 17. 34 Martin Heidegger, “The Onto-theo-logical Constitution of Metaphysics”, en Identity and Difference (ed. Joan Sambaugh; New York: Harper and Row, 1969), 54, 60. 35 Este procedimiento teológico no era desconocido. Filón de Alejandría, teólogo judío, ya lo había usado para construir su interpretación del judaísmo. Que la filosofía, la ciencia y la cultura determinan la perspectiva hermenéutica fundamental del cristianismo es ampliamente aceptado, inclusive defendido por la gran mayoría de tradiciones teológicas. Para una introducción técnica al papel que la filosofía juega en la teología y a las complicaciones que nuevas corrientes teológicas representan para tradiciones construidas sobre otros fundamentos, recomiendo Jack A. Bonsor, Athens and Jerusalem: The Role of Philosophy in Theology (New York: Paulist, 1993). 36 En A Criticism of Theological Reason me dedico a estudiar y criticar la forma como esta decisión hermenéutica del cristianismo temprano afectó la interpretación de la razón teológica. Véase también Raúl Kerbs, “El problema fe-razón (1)”, Enfoques 12.1 (2000): 105- 25. 37 La nomenclatura “macro”, “meso” y “micro” hermenéutica que adopto en este artículo es una adaptación de la seguida por Hans Küng cuando habla de macro, meso y micro paradigmas (Hans Küng, Theology for the Third Millennium: An Ecumenical View [trad. Peter Heinegg; New York: Doubleday, 1988], 134). 38 Kerbs explica cómo la hermenéutica filosófica moderna (macro hermenéutica) afecta la interpretación del pensamiento e ideas teológicas en Paul Ricoeur. Véase Raúl Kerbs, “Una interpretación sobre el origen de la articulación de la desmitologización (interna y externa) y la restauración de los mitos en Paul Ricoeur”, Logos 29.86 (2001): 57-84. 39 Véase Raúl Kerbs, “Las parábolas bíblicas en la hermenéutica filosófica de Paul Ricoeur”, Ideas y Valores 113 (2000): 3-27. Véase cómo las presuposiciones macro hermenéuticas afectan la interpretación de la doctrina del santuario, en Fernando L. Canale, “Philosophical Foundations and the Biblical Sanctuary”, AUSS 36.2 (1998): 183-206. 40 Fernando L. Canale, “Interdisciplinary Method in Christian Theology? In Search of a Working Proposal”, Neue Zeitschrift für Systematische Theologie und Religionsphilosophie 43.3 (2001): 366-89. 41 Gary Dorrien, The Remaking of Evangelical Theology (Louisville: Westminster John Knox, 1998), 187. 42 Ejemplos de la influencia que la ontología clásica tiene sobre un amplio espectro de teólogos y filósofos contemporáneos puede notarse en Orrin F. Summerell, ed., The Otherness of God (Charlottesville: University of Virginia Press, 1998), 1. En el prefacio, introduciendo la obra de 15 autores, Semmerell afirma que los ensayos sobre el tema general de la alteridad de Dios (trascendencia) muestran que “its conceptual lineage extends back to Plato and Aristotle, while its Judeo-Christian religious heritage resonates throughout its reception in Neoplatonism with its sundry Medieval and Renaissance expressions, negative theology, Reformation thought, German idealism, dialectical theology, and most recently, deconstructivist thought”. 43 Aristóteles, Metafísica, XI, 3. 44 Martin Heidegger, Being and Time (trad. John Macquarrie y Edward Robinson; New York: Harper and Collins, 1962), 1. 45 Heidegger prefirió caracterizar la perspectiva tradicional basada en la atemporalidad parmenideana como equivocada, sino eufemísticamente como un “olvido” de consecuencias fatales. Esto le permitió considerarse como un “continuador” de la tradición filosófica occidental y argumentar que su interpretación del ser es la correcta cuando se la compara con la clásica. De esta manera, Heidegger parece querer poner la interpretación del ser más allá del relativismo intrínseco al enfoque hermenéutico que él propulsó al comienzo del siglo XX. 46 Véase especialmente Edmund Husserl, The Crisis of European Sciences and
  • 18. Transcendental Phenomenology: An Introduction to Phenomenological Philosophy (Evanston: Northwestern University Press, 1970). 47 Jean Paul Sartre, El Ser y la Nada: Ensayo de Ontología Fenomenológica (trad. Miguel Angel Virasoro; 3 vols.; Buenos Aires: Ibero-Americana, 1961), I, 11; véase también Heidegger, Being and Time, Introducción, II, §7, A; 51-5. 48 Martin Heidegger, “The Anaximander Fragment”, en Early Greek Thinking (San Francisco: Harper & Row, 1975), 17. 49 Aristóteles, Metafísica, XI, 3. 50 Parménides, fragmentos, 7-8, en Kathleen Freeman, Ancilla to the Pre-Socratic Philosophers: A Complete Translation of the Fragments in Diels, “Fragmente der Vorsokratiker” (Oxford: Basil Blackwell, 1948). 51 Platón, Timaeus, 37.d-38.c. 52 En los siguientes libros se encuentra la noción clásica de acuerdo con la cual Dios es atemporal. Nelson Pike, God and Timelessness (Studies in Ethics and the Philosophy of Religion; London: Routledge & Kegan Paul, 1970); Anthony John Patrick Kenny, The God of the Philosophers (New York: Oxford University Press, 1979); y Paul Helm, Eternal God: A Study of God Without Time (New York: Oxford University Press, 1988). 53 Agustín, The Confession (Oak Harbor: Logos Research Systems, 1996), XIII, 29-30. 54 Bonsor, Athens and Jerusalem, 83-97, provee una introducción muy valiosa al pensamiento de Rahner desarrollada precisamente desde el ángulo de su fundamentación filosófica. 55 La posición macro hermenéutica de Dulles puede apreciarse con más claridad en su obra metodológica The Craft of Theology. 56 La deconstrucción de Lutero parece haber influenciado directamente la deconstrucción heideggeriana (James K. A. Smith, The Fall of Interpretation: Philosophical Foundations for a Creational Hermeneutic [Downers Grove: InterVarsity, 2000], 109-10). 57 Ibid., 133-48. Sin embargo, Smith no llega a mencionar la necesidad de deconstruir el fundamento ontoteológico de la teología. 58 Richard Rice, God’s Foreknowledge and Man’s Free Will (Minneapolis: Bethany House, 1985); idem, “Divine Foreknowledge and Free-Will Theism”, en The Grace of God and the Will of Man: A Case for Arminianism (ed. Clark Pinnock; Grand Rapids: Zondervan, 1989), 121-39; Clark Pinnock et al., eds., The Openness of God: A Biblical Challenge to the Traditional Understanding of God (Downers Grove: InterVarsity, 1994); idem, Most Moved Mover: A Theology of God’s Openness (Grand Rapids: Baker, 2001); John E. Sanders, The God Who Risks: A Theology of Providence (Downers Grove: InterVarsity, 1998); Gregory A. Boyd, God at War: The Bible and Spiritual Conflict (Downers Grove: InterVarsity, 1997); idem, The God of the Possible: A Biblical Introduction to the Open View of God (Grand Rapids: Baker, 2000); e idem, Satan and the Problem of Evil: Constructing a Trinitarian Warfare Theodicy (Downers Grove: InterVarsity, 2001). 59 La naturaleza deconstructiva del sistema reinante del movimiento ha determinado que un sector del evangelicalismo considere la “idea de un Dios abierto completamente inaceptable, subversiva y amenazante”. Quienes pertenecían al sector tradicionalista “no recibieron con alegría una iniciativa que desafiaba el pensamiento conservador de la Reforma y que cayó como una bomba en el campo teológico. Para quienes trabajaban con las presuposiciones convencionales que encontramos en Agustín, Tomás de Aquino, Lutero y Calvino, el modelo era demasiado radical e imposible de aceptar. Al romper con una cantidad de ideas tradicionales, levantaba una bandera roja en sus caras” (Pinnock, Most Moved Mover: A Theology of God’s Openness, xi). 60 Being and Time, II, §7, 49-50. 61 James Smith argumenta este punto convincentemente con la ayuda de Heidegger, Gadamer y Dooyeweerd (véase Smith, The Fall of Interpretation, 169-75).
  • 19. 62 Ibid., 180. 63 Ibid., 9, 183-4. 64 Martin Luther, Luther’s Works. Vol. 35: Word and Sacrament I (ed. Jaroslav Jan Pelikan, Hilton C. Oswald y Helmut T. Lehmann; Philadelphia: Fortress, 1999), 119-23. “According to Luther’s understanding, the Word of God is not simply to be equated with the written text of the Scriptures, for it goes much deeper than historical description or moral precept. Rather, it is a uniquely life-imparting power, a message communicated by men in whom the Scriptures had become alive” (E. Theodore Bachmann, “Introduction to Word and Sacrament”, en Luther’s Works, 35:1-2). 65 Ibid., 9, 183-4. 66 Parecería que Smith utiliza la metodología deconstructiva al nivel textual y dentro de la tradición, acercándose así más a Derrida que a Heidegger (ibid., 30). 67 Véase Canale, Back to Revelation-Inspiration, capítulo 1 68 Gadamer, Truth and Method, 267. 69 Smith, The Fall of Interpretation, 180. 70 Para una presentación más detallada de este cambio metodológico fundamental, véase Canale, A Criticism of Theological Reason, 285-97. 71 Albert C. Outler, The Wesleyan Theological Heritage. Collected Essays of Albert C. Outler (ed. Thomas C. Oden y Leicester R. Longden; Grand Rapids: Zondervan, 1991), 21-37. 72 Desgraciadamente, esta tendencia está siendo aceptada por teólogos adventistas. Como ejemplo, véase Woodrow W. Whidden, “Sola Scriptura, Inerrantist Fundamentalism and the Wesleyan Quadrilateral: Is “No creed but the Bible” a Workable Solution?”, AUSS 35.2 (1997): 211-26. 73 Tota Sriptura designa a toda la Biblia, Antiguo y Nuevo Testamentos, como la revelación divina (“las cosas mismas”) sobre la cual la teología cristiana debe construir. 74 Canale, Back to Revelation-Inspiration. 75 Para una discusión en detalle de este texto, véase Canale, A Criticism of Theological Reason, capítulo 3. 76 Ejemplo de reflexión reciente y creciente sobre este tema puede observarse en la publicación de las siguientes obras: John J. O’Donnell, Trinity and Temporality: The Christian Doctrine of God in the Light of Process Theology and the Theology of Hope (Oxford: Oxford University Press, 1983); William Hasker, God, Time, and Knowledge (Cornell Studies in the Philosophy of Religion; Ithaca: Cornell University Press, 1989); William J. Hill, Search for the Absent God: Tradition and Modernity in Religious Understanding (New York: Crossroad, 1992); Gregory Ganssle, ed., God and Time: Four Views (Downers Grove: Inter-Varsity, 2001); y William Lane Craig, Time and Eternity: Exploring God’s Relationship to Time (Wheaton: Crossway Books, 2001). Ninguno de estos estudios, sin embargo, estudia el tema de la temporalidad divina a partir de la revelación bíblica sino a partir de la especulación filosófica-teológica humana. 77 La temporalidad de Dios y del alma son diferentes en la hermenéutica clásica. Mientras que Dios tiene perfecta atemporalidad, el alma sólo participa de ella en un grado menor ajustado a su grado de perfección ontológica. 78 Véase Oscar Cullmann, Immortality of the Soul or Resurrection of the Dead? The Witness of the New Testament (New York: Macmillan, 1958); y Samuele Bacchiocchi, Immortality or Resurrection? A Biblical Study on Human Nature and Destiny (Berrien Springs: Biblical Perspectives, 1997). 79 Esto continúa presente en interpretaciones antropológicas inspiradas en el “monismo” aristotélico. 80 G. Ebeling, Word and Faith (trad. James W. Leitch; Philadelphia: Fortress, 1963), 87, rastrea el origen de la teología bíblica a la publicación de Gedanken von der Beschaffenheit
  • 20. und dem Vorzug der biblischdogmatischen Theologie vor der alten und neuen scholastischen [Reflexiones sobre la naturaleza de la teología bíblica dogmática y a su superioridad sobre el escolasticismo antiguo y reciente] (1758), por Anton Friedrich Büsching. Gerhard Hasel sugiere una fecha más temprana para la independencia de la teología bíblica de la teología dogmática. “As early as 1745 ‘Biblical theology’ is clearly separated from dogmatic (systematic) theology and the former is conceived of as being the foundation of the latter” (Gerhard F. Hasel, Old Testament Theology: Basic Issues in the Current Debate [edición rev.; Grand Rapids: Eerdmans, 1975], 18). 81 De acuerdo con Ebeling, Word and Faith, 87, la teología bíblica se convirtió en “a rival of the prevailing dogmatics [scholastic theology]”. Con la presentación metodológica de Johann Philipp Gabler en 1787, la teología bíblica “set itself up as a completely independent study, namely, as a critical historical discipline alongside dogmatics” (ibid., 88). Véase también Anthony C. Thiselton, “Biblical Theology and Hermeneutics”, en The Modern Theologians: An Introduction to Christian Theology in the Twentieth Century (ed. David F. Ford; Cambridge: Blackwell, 1997), 520. 82 La mejor introducción al método histórico-crítico desde el punto de vista metodológico que conozco es la siguiente: Stephen Haynes McKenzie, ed., To Each Its Own Meaning: An Introduction to Biblical Criticisms and their Application (Louisville: Westminster John Knox Press, 1999). El método histórico crítico ha sido criticado, por ejemplo, en las siguientes obras: Gerhard Maier, The End of the Historical Critical Method (trad. Edwin W. Leverenz y Rudolph F. Norden; St. Louis: Concordia, 1977); Eta Linnemann, Historical Criticism of the Bible: Methodology or Ideology (trad. Robert W. Yarbrough; Grand Rapids: Baker, 1990); y su más reciente, idem, Biblical Criticism on Trial: How Scientific is “Scientific Theology” (Grand Rapids: Kregel, 2001). 83 Para ver que todo método necesariamente incluya principios macro hermenéuticos para su funcionamiento, véase Canale, “Interdisciplinary Method in Christian Theology?”