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Pedagogia da mística: as experiências do MST∗

              Pedagogy of mystic: the experiences of the MST

                                                                       Claudemiro Godoy do NASCIMENTO**
                                                                                   Leila Chalub MARTINS***




              Resumo: Neste artigo, queremos refletir sobre a pedagogia da mística enquanto espi-
              ritualidade cristã presente no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST.
              Mística que também se faz nas práticas pedagógicas e educativas do MST por meio
              de suas educações formal e não-formal com o intuito de fortalecer as lutas sociais
              desencadeadas pelo coletivo do movimento em suas várias vertentes. Dessa forma,
              a mística no e do MST se constitui um aphantésis (em grego: encontro) com o Deus
              da Vida. Esse encontro insere os sujeitos históricos do movimento na vocação perma-
              nente para “Ser Mais”, ser gente que quer brilhar e sonhar com uma nova sociedade.
              Neste sentido, queremos provocar reações críticas para que se possa entender as
              praticas do MST como um ato de misticidade que acontece no cotidiano de suas lutas
              e resistências.
              Palavras-chave: Mística. Pedagogia. Movimento social. MST.


              Abstract: In this article, we want to reflect on the Mystical Pedagogy as a Christian
              spirituality in the Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST (Movement
              of the Landless Rural Workers). We also found this Mystic in pedagogical and teaching
              practices of the MST by formal and non-formal education with the aim of strengthening
              the social struggles triggered by the movement in its various ramifications. Thus, the
              mystic in and of the MST constituted an aphantésis (meeting in Greek) with the God
              of Life. This meeting inserts the historical subjects of the movement in the permanent
              vocation to “Be More”, be people who want to light and dream about a new society. In
              this sense, we want to provoke critical reactions in order to be possible to understand
              the practices of the MST as a mystic acting that happens in its daily struggles and re-
              sistances.
              Keywords: Mysticism. Pedagogy. Social movement. MST.


                                                                Recebido em: 13/06/2008. Aceito em: 24/09/2008.




∗
 Texto apresentado na Conferência Internacional Educação, Globalização e Cidadania em João Pessoa – PB, na Universidade Federal da
Paraíba – UFPB, no período de 19 a 22 de fevereiro de 2008.
∗∗
  Licenciado em Filosofia pela UCG. Graduado em Teologia pelo Instituto de Teologia Santa Úrsula. Mestre em Educação pela Unicamp. Dou-
torando em Educação pela UnB. Professor Assistente da Universidade Federal do Tocantins – UFT – Campus Universitário de Arraias – TO.
E-mail: claugnas@uft.edu.br
∗∗∗
      Doutora em Ciências Sociais pela Unicamp. Adjunta da Faculdade de Educação da UnB. E-mail: chalub@unb.br


                  Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
Antônio Marcos de Sousa SILVA


Introdução                                                              a mística enquanto ação pedagógica que ensina e
                                                                        dá forças para que os sem-terra possam construir
       Podemos começar esta reflexão com uma                             demandas e bandeiras de luta. E, por fim, anali-
analogia entre o texto do Evangelho de João 1, 14,                      samos como acontecem os momentos de mística
que afirma: “E a Palavra se fez homem e habitou                          e quais são os principais símbolos do MST, bem
entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória                      como sua importância para os camponeses.
do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade”.
Assim, por que não dizer também que a Palavra se
faz sem-terra e habita entre nós. Alguns contem-
plam as lutas e vitórias; outros, influenciados pela                     Mística-Espiritualidade: sinais da vida
elite burguesa dominante, os crucificam na calúnia,
                                                                               Como pensar, em comunhão e liberdade de
no desamor, na injustiça e na intolerância.
                                                                        espírito, a mística e a espiritualidade da libertação
      Nessa direção, queremos apresentar a pe-                          para o século XXI? Como continuar dando pas-
dagogia da mística a partir das experiências do                         sos concretos na busca da justiça social em tem-
MST e de seus atores coletivos que se fortalecem                        pos de retorno do moralismo e do tradicionalismo
pela espiritualidade1 para continuar a caminhada                        fundamentalista que ronda as atitudes e práticas
de lutas, de engajamentos e de busca constante                          religiosas? São questões que os cristãos e outras
por uma sociedade mais justa e solidária. Mística                       religiões devem buscar compreender. Por isso,
que se faz presente no dia-a-dia dos sem-terra que,                     queremos refletir a mística a partir da tradição cristã
espalhados pelo Brasil, unem-se numa comunhão                           que se encontra com maior enraizamento na cultu-
de esperança na luta pelos direitos sociais de Re-                      ra brasileira e nas ações pedagógicas do MST.
forma Agrária, de Educação, de Saúde, de Agricul-
                                                                               Antes de tudo, precisamos entender que
tura Familiar e, com isso, conseguem estremecer
                                                                        toda mística tem como sentido último a libertação
os palácios do poder constituído.
                                                                        das pessoas. A mística é uma adesão pessoal a
      Não pretendemos destacar outros aspectos                          um projeto de vida a ser vivido em comum por um
do MST que não seja a importância da mística en-                        grupo social, ou seja, por um determinado coletivo
quanto ação pedagógica que fortalece, encoraja,                         de pessoas. Os cristãos possuem sua mística. Na
estimula, ensina, cria e recria novas ações coleti-                     tradição cristã existem muitas formas de mística
vas por parte dos trabalhadores rurais. A mística                       nas diversas denominações. Os católicos, os an-
concretiza-se no momento em que os sem-terra se                         glicanos, os luteranos, os ortodoxos, os evangéli-
encontram com os três pilares que fundamentam                           cos enfim, cada um vive a sua mística/espirituali-
sua caminhada, a saber: o encontro com si mesmo,                        dade. E, ainda, no interior de cada denominação
com o outro e com Deus (BOFF, 1998).                                    religiosa existem grupos que vivem diferentemente
      Dividimos esta reflexão em três partes que                         o projeto místico.
se complementam, para que possamos entender                                    Nas primeiras comunidades cristãs, a mís-
toda a dinâmica na qual se insere a mística en-                         tica-espiritualidade cristã estava sendo vivida sob
quanto ação pedagógica no MST. Dessa forma, no                          a égide da perseguição do Império Romano e da
primeiro momento analisamos a mística enquan-                           perseguição de grupos extremistas do judaísmo.
to espiritualidade que liberta, tendo em vista que,                     Hoje, vive-se a mística-espiritualidade cristã da
em geral, os sem-terra são cristãos (católicos e                        libertação sob a égide do culto ao deus mercado
evangélicos). No segundo momento, refletir-se-á                          impulsionado pelo avanço do Império Neoliberal.
                                                                        Império que ronda o planeta como única via e que
                                                                        amplia seu território de fixação da doutrina e esti-
1
   A Mística, tal como é vivida pelos integrantes do MST, pode ser      mula a escravidão das consciências, principalmen-
entendida como parte do fenômeno religioso na sociedade contem-         te, das massas que são chamadas a se tornarem
porânea, particularmente no Brasil. Como outros movimentos, a
Mística apresenta significativa e crescente inserção na sociedade
                                                                        consumidoras desse mercado total.
nacional, por razões de natureza política, histórica e sociológica, e
dialoga, compatibilizando sua visão de mundo, com as religiões do
                                                                              Pensar a mística-espiritualidade fora e dis-
cristianismo. Para compreender o fenômeno religioso atual, ver Car-     tante das realidades humanas significa transformá-
valho (1991).                                                           la em ritualismo ou em falta de sinceridade com


110            Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
Pedagogia da mística: as experiências do MST


o projeto, ou seja, ela torna-se um espiritualismo            pode servir a dois senhores”.
desencarnado, sem compromisso com a caminha-
                                                                     A mística-espiritualidade é patrimônio de toda
da das comunidades, que devia ser caminhada em
                                                              a humanidade, de todos os povos da terra. Toda e
busca do que os cristãos chamam de Reino Defi-
                                                              qualquer pessoa é animada por uma mística-espi-
nitivo, local em que todos e todas podem vivenciar
                                                              ritualidade que a contagia na caminhada. Alguns
o “tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10).
                                                              são contagiados pelos valores do Evangelho, ou-
Alguém poderia perguntar: como saber qual deve
                                                              tros pela sedução do mercado neoliberal, outros
ser nossa mística-espiritualidade? Primeiro, abrir-
                                                              pela valorização da cultura perdida.
se ao clamor dos pobres e de todo o povo que cla-
ma por libertação; e, também, ao vento do Espírito                   Assim, a mística-espiritualidade não se refe-
que sopra e age onde quer. Além disso, torna-se               re somente às religiões. Ela é algo do próprio ser
necessário indignar-se com as realidades desu-                humano, que é um ser fundamentalmente espiri-
manizantes provocadas pelo sistema neoliberal no              tual-material3. Mas, toda mística-espiritualidade é
qual vivemos. Nesse sentido, afirma contundente-               também algo religioso. Existem místicas-espiritua-
mente Frei Betto:                                             lidades religiosas e não-religiosas. Para a tradição
                                                              cristã a mística-espiritualidade é, acima de tudo,
           Seqüestradas as utopias, aceitamos a loteria       religiosa. É nela que se faz a experiência com o
           das leis do mercado. Outrora, os pobres do
                                                              Deus da Vida. No entanto, não basta a religiosida-
           mundo podiam, ao menos, sonhar com um
                                                              de. É preciso e necessário que a religião esteja pro-
           sistema alternativo que devolvesse a todos o
           que é fruto do trabalho de todos. Porém, a elite   fundamente arraigada pela mística-espiritualidade,
           socialista – e, principalmente a capitalista2 –    ou seja, é preciso que haja autenticidade no segui-
           julgou que a democracia fosse direito burguês      mento ao projeto de Deus, ao Reino. Fácil seria se
           e a participação popular, ameaça ao centralis-     a mística-espiritualidade fosse entendida somente
           mo. Esticada ao extremo, a corda arrebentou        como sendo prática ritualista ou compromisso me-
           – na cabeça dos pobres, que agora só contam        cânico de ir à missa ou participar de algum evento
           com suas próprias e frágeis forças para se de-     religioso. Não, mística-espiritualidade é algo mais
           fender da supremacia do capital. (FREI BET-        comprometedor que engaja a pessoa humana na
           TO, 2001, p. 62).
                                                              luta pela vida, pelo Reino.

       Dessa forma, a mística-espiritualidade pode                     Em que consiste a experiência mística? É o
ser definida como sendo as motivações, os ideais,                       encontro da razão última da existência ou a
as utopias, a paixão pela qual se vive e se luta.                      possibilidade de dar à existência um sentido.
                                                                       É o sentido de voltar-se para o outro e para
Mística-espiritualidade é aquilo que contagia a
                                                                       os outros numa dinâmica que vai mais pessoal
caminhada. Os espiritualismos estão repletos de
                                                                       ao mais social e que pode ser descrita como
doutrinas, ritos, dogmas sem nenhuma paixão,                           experiência de Deus. Pode ser descrita tam-
ideais e vida. Falta-lhes o essencial da experiência                   bém como experiência permanente da paixão!
com o sagrado. A mística-espiritualidade possui a                      Quem já esteve apaixonado algum dia, sabe
liberdade de espírito. Os espiritualismos, ao con-                     que, na paixão, a presença do outro é mais for-
trário, fazem com que as pessoas vejam o mundo                         te que a presença de você em você mesmo.
de forma mecânica. Para os cristãos e as cristãs                       (FREI BETTO, 2001, p. 116)
de ontem e de hoje o importante é agir conforme
o espírito do Reino, tendo como eixo norteador a                    Pode-se viver a mística-espiritualidade em
mística-espiritualidade do seguimento à causa. Ou-            dois sentidos, a saber: a) de forma personalizada,
tros espíritos se afirmam na história, tais como: o            consciente e livre, que abranja todas as dimensões
espírito do romanismo, o espírito do capitalismo, o
espírito da lógica do mercado neoliberal, o espíri-
to do liberalismo, entre outros. Para o cristianismo          3
                                                                 Para o filósofo cristão Emmanuel Mounier (1976) a pessoa é
resta servir ao espírito do Evangelho, pois “não se           essencialmente matéria e espírito, corpo e alma, transcendente e
                                                              imanente. Na filosofia personalista de Mounier não há dicotomias e
                                                              dogmatismos platônicos; há convergência, integração e união daqui-
                                                              lo que historicamente foi posto como separado e divisível. É nessa
                                                              fonte que o MST, em sua mística da libertação, vai buscar inspira-
2
    Grifo nosso.                                              ções.


    Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>                       111
Antônio Marcos de Sousa SILVA


do ser do Homem (alma e corpo, pensamento e              uma profundidade pessoal, pelo reinocentrismo,
vontade, sexo e fantasia, palavra e ação, interio-       por uma espiritualidade do essencial e universal
ridade e comunicação, contemplação e luta, gra-          cristão, pela localização na realidade histórica dos
tuidade e compromisso), pois cada pessoa a vive          pobres, pela crítica, pela práxis e pela integridade
de forma única; b) de forma encarnada na história,       sem dicotomias e sem reducionismos (CASALDÁ-
hoje e aqui, na América Latina e nas comunidades,        LIGA, 1998, p. 14).
com suas dores e alegrias. Viver as duas dimen-
                                                               Assim, podemos definir a Mística-Espirituali-
sões da mística-espiritualidade abre caminhos para
                                                         dade da Libertação como cristológica, situada his-
se viver concretamente o que Dom Pedro Casal-
                                                         toricamente no social e nas comunidades cristãs,
dáliga e José Maria Vígil chamam de Espirituali-
                                                         na cruz da profecia e do conflito, na gratuidade e
dade da Libertação (CASALDÁLIGA; VÍGIL, 1995;
                                                         na exigência do Evangelho, na contemplação li-
CASALDÁLIGA, 1998).
                                                         bertadora e no anúncio incondicional do Reino, e
       A mística-espiritualidade não pode reprimir a     na denúncia do anti-Reino. Mística-Espiritualidade
realização pessoal e o vôo do Espírito. Isso seria       da Libertação que se enraíza nas culturas oprimi-
ir contra o Evangelho da Liberdade anunciado por         das da história, herdeira do sangue de muitos e
Jesus. O perigo dos espiritualismos é cair numa          muitas que tombaram doando a vida e o sangue
formação espiritual dispersiva, mutilada, dicotômi-      do martírio, profeticamente alternativa ao sistema
ca, unilateral e mecanicista. A vida do ser humano       de morte, na co-responsabilidade eclesial e, por
é importante nesse processo e ela pode ser en-           fim, com profundo espírito ecumênico e macro-
tendida como problemática (mistério), como um            ecumênico.
desafio (uma missão), como um espaço (graça). E
                                                               Esse é o sentido da mística-espiritualidade
assumir esse espaço requer atitudes, mediações,
                                                         para um determinado grupo social influenciado pela
com a finalidade de se atingir a opção fundamen-
                                                         Teologia da Libertação, que veremos adiante. O
tal na vida.
                                                         que nos interessa é que a mística, seja ela cristã ou
      Mística-espiritualidade é vida. Vida não se        não, é uma forma de adesão a um projeto de vida.
ensina, mas se experimenta. Assumir o seguimento         Por isso, em nossa concepção, a mística apresen-
significa viver uma mística-espiritualidade. Viver a      ta-se na forma de ação pedagógica que ensina os
mística-espiritualidade do seguimento a uma cau-         oprimidos a se organizarem na luta social.
sa significa, hoje, assumir as dores e angústias,
alegrias e festas do povo ao qual se pertence. Se
estivermos na América Latina, no Brasil, em Goi-
                                                         Mística enquanto práxis pedagógica: para
ás, numa comunidade eclesial específica, signifi-
                                                         além da escola
ca assumir o seguimento a Jesus nessa realidade
de vida. Ter-se-á, assim, a vivência concreta de
                                                                Mística é um sentimento que passeia delicado
uma mística-espiritualidade religiosa, cristã, latino-          e lento por dentro de nosso coração. Como se
americana e libertadora. Mística-espiritualidade                tivesse mãos, coloca o ânimo em cada pensa-
do “Povo Novo”, que, para o bispo profeta Pedro                 mento. Mexe no comportamento, no jeito de
Casaldáliga, possui as seguintes características:               andar, falar e sorrir; é a força que nos faz sentir,
lucidez crítica, a contemplação na caminhada, a                 prazer e arrependimento. (...) Quem tem místi-
liberdade dos pobres, a solidariedade fraterna, a               ca está sempre crescendo. A cada dia sente-se
cruz e a conflitividade, a insurreição evangélica                renascendo nas coisas que vai realizando. Seja
ou a Revolução da Boa-Nova e, por fim, a teimo-                  na base ou no comando, a mesma energia se
sa esperança pascal. (CASALDÁLIGA, 1998, p.                     manifesta, como a alegria em uma festa, insti-
                                                                ga quem está participando. (...) Mas a mística
13-14).
                                                                não é só bondade, às vezes serve-se da an-
     Tais características do Povo Novo apresen-                 siedade para angustiar o corpo inteiro. Como
tam-se às pessoas, hoje e aqui, na América Latina               uma chama no candeeiro que bebe o líquido
mundializada para todos os povos da Terra. Elas                 que está dentro, provoca todos os talentos e
não sobrevivem sem o fortalecimento da Místi-                   esgota as capacidades. Desafia as habilidades
                                                                para enfrentar certos apuros, nos cobra para
ca-Espiritualidade da Libertação, interpelada por


112         Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
Pedagogia da mística: as experiências do MST

         sermos mais maduros diante dos aconteci-                      pedagogia do Movimento:
         mentos. (BOGO, Ademar4. À Mística).
                                                                              “No momento da pesquisa em que eu estava no
                                                                              curso de Pedagogia da Terra, tive a oportunida-
       A práxis pedagógica pensada e construída
                                                                              de de participar da ocupação de um espaço do
para o meio urbano é aplicada pelo sistema oficial                             Centro de Formação Patativa do Assaré. Foi
de ensino ao meio rural sem que se faça qualquer                              uma atividade promovida pelo núcleo de base
adaptação, conforme já afirmou Neto (1999). Bus-                               da turma responsável pela mística naquele dia.
cando solução para esse problema, o MST afirma a                               A ocupação do espaço físico também aflorou o
suma importância da educação e da reforma agrá-                               sentimento de uma ocupação do latifúndio do
ria para libertar o trabalhador rural da condição de                          saber, do monopólio da construção do conheci-
explorado. É importante conhecer então como é a                               mento. Nesse momento, o Movimento ocupou
organização educacional e a formação do cidadão                               meu coração, fui contagiada com uma emoção
militante do Movimento, apresentando à sociedade                              e efervescência coletiva impressionantes, e
                                                                              pude constatar que a força que derruba as cer-
o MST que os meios de comunicação ainda não
                                                                              cas também forma as pessoas e as faz avan-
divulgaram por não fazer parte da ideologia noti-                             çar, porque cada um sente a força de todos
ciária do Brasil.                                                             multiplicada, o ecoar uníssono das palavras de
      Para se compreender o processo de forma-                                ordem revigora o ânimo coletivo.” (DUTERVIL,
ção pedagógica do MST é essencial que se per-                                 2005, p. 25).
ceba uma formação em movimento. O Movimento
circula, circulam os sujeitos que fazem o Movimen-                           Sabemos que não é recente a luta pela re-
to. (DUTERVIL, 2005). São redes de formação pe-                        forma agrária no Brasil. A inovação está na junção
dagógica em movimento.                                                 da luta pela redistribuição de terras e novas formas
                                                                       de organização cultural e educacional. Falamos de
      O depoimento da Professora Antonia, da                           uma reforma agrária com caráter socialista, que
escola do Assentamento Vila Diamante, no Mara-                         visa a uma sociedade igualitária, mais justa e inspi-
nhão, colhido por Dutervil (2005, p. 14), quando                       rada em outras lutas regionais. Por isso mesmo, o
esta fazia sua formação no curso de Pedagogia da                       MST se diferencia porque abrange todo o território
Terra, no Rio Grande do Norte, demonstra a força                       nacional com um propósito valorativo (axiológico),
do processo formativo do Movimento:                                    humano e social, na busca constante da conquis-
         “Eu me transformei, passei a ver o mundo de                   ta da terra por homens e mulheres preparados e
         uma forma diferente, deixei de ser acomodada,                 responsáveis para o trabalho coletivo, tendo como
         o magistério me fez crescer muito, eu era mui-                base dessa organização um novo processo edu-
         to agressiva, muito individualista, até porque                cativo e uma nova cultura política. Por isso, como
         a gente nasce nesse processo, não pensava                     foi demonstrado pelos depoimentos de Dutervil
         muito no coletivo, nas pessoas, na mudança,                   (2005), surge dessa experiência mística um novo
         não tinha muito esse sentido, mas quando eu                   comportamento humano e uma nova cultura polí-
         comecei a estudar no magistério de Veranópo-                  tica vai se desenhando nesse universo.
         lis (RS), porque lá no curso passei a participar
         das críticas e autocríticas, avaliações e aí eu                      As referências e preferências nos comporta-
         comecei a mudar, passei a ser mais humana,                           mentos humanos não são apenas herdadas,
         hoje eu posso dizer que eu sou totalmente di-                        mas, principalmente, aprendidas. A educação
         ferente, não sei se eu ia me adaptar de novo                         ganha destaque, não tanto por seus aspectos
         a dar aula fora da área do assentamento, já                          na área do ensino formal, mas pelos aspectos
         estou muito habituada”.                                              não-formais, do aprendizado gerado pela ex-
                                                                              periência cotidiana. Os indivíduos escolhem,
      A mesma autora relata como sentiu a força                               optam, posicionam-se, recusam-se, resistem
de uma ocupação, como estratégia formativa da                                 ou alavancam e impulsionam as ações sociais
                                                                              em que estão envolvidos, segundo a cultura
                                                                              que herdaram do passado e na qual estão en-
                                                                              volvidas no presente. (GOHN, 2001, p. 54).
4
  Ademar Bogo é poeta, filósofo e dirigente do MST. São livros seus:
Vigor da Mística, Lições da luta pela terra, Gerações, Arquitetos de
Sonhos. É considerado um dos ideólogos da mística sem terra.


    Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>                     113
Antônio Marcos de Sousa SILVA


       Visando à extinção da desigualdade so-             entre sujeito-objeto. Preferimos a categoria sujeito-
cial e à construção da dignidade humana, o MST            sujeito. O diálogo requer a tomada de atitude da-
compreende que é imprescindível transformar a             quele que fala e daquele que escuta, e vice-versa.
atual estrutura da propriedade rural, sendo que a         Assim, a conscientização acontece por meio do
utilização da terra pode ser familiar, associativa e      diálogo em comunhão do oprimido com o oprimi-
cooperativa. Reivindicando transformação social,          do, sobre suas situações de vida e de existência.
o MST traz em seus princípios básicos as seguin-          Conscientização significa passos concretos rumo à
tes questões: garantir trabalho para todos e todas;       libertação. Essa libertação é conquistada em con-
produzir alimentação farta, barata e de qualidade         junto, no coletivo, na comunidade, pois “ninguém
para a população brasileira; buscar justiça social e      liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho.
igualdade de direitos; difundir valores humanistas e      Os homens se libertam em comunhão”, confor-
socialistas; criar condições igualitárias de participa-   me afirmou Freire (1987, p. 52). Este é o encontro
ção da mulher na sociedade; preservar e recuperar         dos homens para sua real vocação de Ser Mais,
os recursos naturais; implementar a agroindústria         pois todos somos seres inconclusos, em processo
e a indústria como fator de desenvolvimento sus-          constante. Essa tarefa é impossível sem a peda-
tentável para o Brasil.                                   gogia da mística.
       O processo de ocupação em massa de ter-                   Daí a grande importância de repensarmos a
ras pelo MST é feito com a conscientização, or-           necessidade de um educador problematizador, que
ganização e preparação das famílias com meses             auxilie os educandos e educandas a realizarem a
de antecedência, pois o Movimento exige de seus           práxis (reflexão e ação para a transformação) a se-
militantes autoconfiança e autodisciplina que os           rem críticos, ativos. O diálogo deve sempre estar
tornem resistentes contra os ataques da elite ca-         voltado para a realidade e para o mundo do edu-
pitalista existente no chamado Brasil Rural, tão          cando, para que os debates – o que Paulo Freire
preconizado pelos meios de comunicação como               chama de “círculos de cultura” – possam ter senti-
sendo a salvação da “lavoura” para a economia             do. Sem a mística, esse diálogo deteriora-se.
agropecuária. Nesse sentido, o MST se inspira
                                                               As educadoras e os educadores do MST
nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), nos
                                                          assumem a mística não como um momento, mas
estudos bíblicos dos agentes de pastorais e em
                                                          como a própria vida na comunidade. É o que evi-
alguns líderes revolucionários que podem condu-
                                                          denciam os depoimentos a seguir, colhidos por
zir os trabalhadores rurais à consciência crítica da
                                                          Dutervil (2005, p. 31):
realidade e despertá-los para a luta em defesa da
classe trabalhadora.                                             “Eu e a Ecieude às vezes dizemos assim: Ah,
                                                                 nós estamos perdendo a mística, porque a
        Vivemos numa sociedade onde a divisão de                 mística para nós é o que alimenta os nossos
classes e os interesses estão evidenciados nas                   ideais, o nosso objetivo de mudança, é o que
correlações de forças que se formam no bojo das                  faz a gente ter uma utopia e através daquela
representações sociais. Assim, não se pode sim-                  mística a gente vai transmitindo para as pes-
plesmente fechar os olhos para o fato: a existência              soas nossa ideologia. Pois é, para mim mística
de oprimidos e opressores. A pedagogia do opri-                  é isso, ela faz parte do nosso dia a dia, não se
mido de Paulo Freire (1987), seus sonhos e suas                  resume só numa apresentação...”
utopias destinam-se a ajudar os oprimidos a se li-
                                                                 “Eu vou para a ocupação, para encontros, isso
bertarem da dominação exercida pelos opressores.
                                                                 fortalece, acho que é um espaço de fortaleci-
Por isso é imprescindível que os atores consigam                 mento da mística, eu, enquanto pessoa. A mís-
ter o direito de saber e dizer a “sua palavra” com               tica eleva nossa auto-estima, você vê que tem
criticidade, restaurando suas subjetividades, hu-                um sentido continuar vivendo. Eu digo: eu per-
manidade e liberdade, até então reprimidas pela                  tenço a esse grupo, eu quero continuar nessa
classe dominante hegemônica.                                     luta, porque é isso que eu acredito. Pertencer
                                                                 é ter crença.”
      O primeiro passo para se realizar a pedago-
gia do oprimido é o diálogo. O diálogo acontece
entre dois sujeitos ou na caracterização histórica              A dialogicidade é a essência da ação revo-
                                                          lucionária. O educador ou a educadora terá o su-

114         Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
Pedagogia da mística: as experiências do MST


cesso apenas quando basear-se no amor e na fé           não existem sonhos e utopias. Há na verdade, de
nos homens e mulheres em processo e, também,            maneira camuflada, a cultura do silêncio, ao se
na humildade. Essas atitudes farão surgir confian-       fazer com que as pessoas, desde crianças, sejam
ça entre os sujeitos do diálogo. O diálogo torna-se     proibidas de atuar em sua sociedade para real-
representação simbólica entre os sujeitos, daí sua      mente transformá-la. Assim, a educação se torna
misticidade pedagógica.                                 uma prática de dominação e não de liberdade. Por
                                                        isso, sem sonhos e utopias não há pedagogia da
      No entanto, quando se conscientizam de sua
                                                        mística. O sonho e a utopia são os fundamentos
condição oprimida, os oprimidos muitas vezes sen-
                                                        da pedagogia da mística existente no MST.
tem medo da liberdade e não se acham capazes
de assumi-la. Travam uma luta para serem eles                 Analisando todo esse conteúdo contido nos
mesmos ou serem duplos, para expulsarem ou              sonhos e nas utopias sempre bem-vindas da Pe-
não os opressores “dentro” de si. Outro problema        dagogia do Oprimido de Paulo Freire, observamos
aparece quando os oprimidos se tornam “novo ho-         que os educadores e educadoras devem ser agen-
mem” e passam a oprimir os outros. Nesse sentido,       tes de transformação e não simplesmente agentes
os opressores se utilizam de vários artifícios para     de mudança. Devem aguçar em nossos educan-
perpetuar sua dominação. Buscam, por exemplo,           dos e educandas, e na sociedade como um todo,
conquistar os oprimidos por passar uma visão de         o senso crítico e a importância de se unirem para
messianismo, dando-lhes pão e circo. Mas, essa          dizerem as suas palavras.
generosidade é falsa, pois quando aparentam
                                                               (...) é preciso, pois, que o povo se organize...
“salvar” uma ou duas pessoas, estão na realidade
                                                               Preciso de vossa união para que possa lutar
explorando e desumanizando dezenas delas. “O                   contra os sabotadores, para que não fique
que eles querem é salvar a si mesmos. É salvar                 prisioneiro dos interesses dos especuladores
sua riqueza, seu poder, seu estilo de vida, com                e dos gananciosos em prejuízo dos interesses
que esmagam os demais”, como afirmou Paulo                      do povo. (FREIRE, 1987, p. 148).
Freire (1987).
      Os opressores invadem a cultura das pes-                 Pode-se fazer o mesmo no campo da educa-
soas e impõem a elas a sua visão de mundo para          ção por meio da mística, que possui em si mesma,
manipulá-las e as impedirem de pensar. Quando           como veremos adiante, uma ação pedagógica que
surgem os que não se sujeitam a tal opressão são        reivindica direitos de cidadania popular não-bur-
chamados de “rebeldes”, “violentos”, essa massa         guesa, reivindica o direito de sonhar e ter utopias.
de gente “cega”, “invejosa” e “selvagem”. Tudo isso     Isso será muito oportuno, pois os opressores não
é veiculado por outros meios de dominação, que          morreram e devem continuar sabendo que a socie-
são os meios de comunicação de massa. Assim,            dade não pode se alienar a eles, que todos e todas
os que já se tornaram alienados passam a pensar         estão conscientes das atitudes desumanizadoras a
como os opressores. Sabemos que:                        que se propõem para continuar conseguindo atingir
                                                        seus objetivos egoístas. Ainda será possível sonhar
       Para as elites dominadoras, esta rebeldia, que   e ter utopias em nossa sociedade atual? O MST
       é ameaça a elas, tem o seu remédio em mais       nos responde a partir da pedagogia da mística, que
       dominação – na repressão feita em nome, in-      fortalece os sujeitos em sua luta contra o dilúvio
       clusive, da liberdade e nos estabelecimentos
                                                        neoliberal, a iluminação racionalista e as práticas
       da ordem e da paz social. Paz social que, no
       fundo, não é outra senão a paz privada dos       fideístas de alienação religiosa.
       dominadores... As massas populares não têm
       que, autenticamente, “ad-mirar” o mundo, de-
       nunciá-lo, questioná-lo, transformá-lo para a
                                                        As místicas no MST: Aphantésis com o Deus
       sua humanização, mas adaptar-se à realidade
       que serve ao dominador. (FREIRE, 1987, p.
                                                        da Vida
       66; p. 123).
                                                               A necessidade de sonhar é intrínseca a cada
                                                               um de nós. E não é só isso: é também o desejo
      Nessa visão distorcida da educação não
                                                               de nos suplantar, de nos superar. O humano é
existe saber, criatividade e nem transformação,                um ser que não cabe em si mesmo. Daí que

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Antônio Marcos de Sousa SILVA

       a experiência mais profunda do ser humano é      teológicas, quer sejam socialistas”, e quer sejam
       aquela que o arranca de si mesmo em direção      capitalistas. Daí o ser humano ser coletivo e indi-
       a um outro – a experiência do amor. A isso a     vidual, individual e coletivo.
       tradição cristã chama “mística”. (FREI BETTO,
       2001, p. 115-116).                                      Por isso, Mounier (1976) é contrário a todas
                                                        as formas de niilismos e ceticismos que rondavam
       Passamos agora a discutir sobre a místi-         as mentes da primeira metade do século XX. É um
ca no MST enquanto ação que ensina e fortale-           crítico feroz do capitalismo que impulsiona a cultura
ce os atores na luta de cada dia. As místicas do        do individualismo, bem como do dogmatismo mar-
MST são um verdadeiro aphantésis com o Deus             xista que percebe o Homem como ser coletivista.
da Vida, segundo os próprios militantes do movi-        Tal crítica procede devido a seu pensamento filosó-
mento. Aphantésis em grego significa encontro,           fico mais amplo em relação ao dualismo existente
estar junto, encontrar-se numa mesma comunhão.          na história desde Platão até os existencialismos do
Daí a associação entre o encontro dos sem-terra,        século XX, que vai ser combatido pela revolução
camponeses em luta, em marcha, em resistência           personalista e comunitária e, para Gabriel Marcel,
constante numa verdadeira comunhão com aquele           pela revolução da esperança num mundo desigual
que chamam carinhosamente de Deus da Vida e             e inseguro para os pobres.
Mãe da Vida. Com isso, podemos perceber que o                  Esse pensamento do existencialismo cristão
próprio sujeito coletivo realiza uma dialogia entre     foi fundamental para a realização das transforma-
o imanente e o transcendente, entre o sagrado e         ções na Igreja Católica no século XX, que passa
o profano, entre Deus e o povo.                         a assumir com mais fidelidade a gênese das pri-
      Nesse sentido, o MST rompe com duas tradi-        meiras comunidades cristãs. Com isso, tivemos o
ções que realizam um dualismo entre as categorias       chamado aggiornamento eclesial, que possibili-
acima citadas. Na própria tradição cristã agostinia-    tou a abertura da Igreja ao mundo por meio da re-
na, na reforma protestante e no calvinismo temos o      alização do Concílio Ecumênico Vaticano II e das
dualismo entre mundo imanente e mundo transcen-         Conferências Episcopais Latino-Americanas, que
dente. Para as referidas tradições, o estado ima-       fundamentaram o surgimento de um movimento
nente do corpo, da carne, das mazelas humanas           interno denominado Teologia da Libertação. Seus
jamais poderá se associar ao estado transcendente       maiores expoentes são os teólogos Leonardo Boff,
de Deus, do divino, do santo. Daí nosso interes-        no Brasil, e Gustavo Gutiérrez, no Peru.
se em desvendar como o MST consegue reunir                    Em 1979, a Conferência Episcopal Latino-
aquilo que, historicamente, se encontra separado        Americana de Puebla já mencionava o rosto dos
pela tradição histórica da religião cristã que se faz   excluídos da sociedade da América Latina e que
presente no imaginário social brasileiro.               foram reafirmados pelo Documento de Santo Do-
      Essa associação pode ser explicada pela           mingo (SD, 178), em 1992. Os rostos dos excluídos
influência que o MST teve por parte da Teologia          foram assim denominados por serem
da Libertação impulsionada na América Latina                   (...) rostos desfigurados pela fome; rostos de-
nos anos 70 do século XX, que tem suas raízes                  siludidos por promessas políticas não cum-
no chamado existencialismo cristão europeu, com                pridas; rostos humilhados de quem têm sua
filósofos como Emmanuel Mounier (1967; 1976) e                  cultura desprezada; rostos aterrorizados pela
Gabriel Marcel (1966). Mounier é o filósofo da Pes-             violência diária e indiscriminada; rostos angus-
soa Humana. Sua obra mais conhecida é o Perso-                 tiados dos menores abandonados; rostos das
nalismo. Ao contrário do senso comum atribuído à               mulheres desrespeitadas e humilhadas; rostos
categoria personalismo, Mounier a entende como                 cansados dos migrantes sem acolhida digna;
                                                               rostos dos idosos que não têm o mínimo para
valorização da pessoa humana em todos os senti-
                                                               viver dignamente. E a lista poderia ser maior,
dos. Ele (1976, p. 15) afirma categoricamente que
                                                               de tanto que sofre nosso povo.
“a pessoa é antes de mais nada o não, a recusa
de aderir, a possibilidade de se opor, de duvidar,
                                                             O rosto imanente e bondoso de Deus está,
de resistir à vertigem mental e correlativamente a
                                                        certamente, no rosto humano dos pobres e opri-
todas as formas de afirmação coletiva quer sejam
                                                        midos por um sistema feroz alicerçado na lógica

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Pedagogia da mística: as experiências do MST


do capital. Daí a questão fundamental para com-                  sazonal. Todo este bloco social e histórico dos
preendermos a Teologia da Libertação, que, em                    oprimidos constitui o pobre como fenômeno
nossa concepção, se faz presente na Mística Li-                  social. (BOFF, 2001, p. 15).
bertadora do MST. Como ser gente, pessoa huma-
na, num mundo de miseráveis? É nesse cenário                     Trata-se de uma posição próxima da con-
que o MST recebe a influência da Teologia da Li-           cepção dada por Claus Offe (1984), ao criticar as
bertação, como o próprio dirigente do movimento,          estruturas do capitalismo. Segundo Offe, a indus-
Gilmar Mauro, destaca por meio das palavras da            trialização capitalista realizou processos de de-
socióloga Maria da Glória Gohn:                           sorganização e de mobilização da força do traba-
                                                          lho (trabalhadores) utilizando-se de determinados
       Sabemos que o movimento surgiu da articula-        mecanismos que produziram o efeito comum de
       ção de idéias da esquerda marxista com pres-       destruição “das condições de utilização da força
       supostos cristãos da Teologia da Libertação.
                                                          de trabalho”, o que atingiu de cheio determinados
       Segundo Gilmar Mauro, um dos principais di-
       rigentes a nível nacional do MST, o movimen-       indivíduos na sociedade. Esses indivíduos atingi-
       to teria trazido três “coisas boas” da Igreja. A   dos não conseguem mais, por meio da força do
       primeira: trabalhar com a simbologia, a mística    trabalho, as suas condições materiais de subsis-
       de trazer o futuro para o presente. A segunda:     tência. Trata-se de um velho problema já apontado
       o vínculo com as bases, o povo propriamente        no século XIX por Marx e Engels, sobre a questão
       dito. E a terceira: o espírito missionário. “Nós   da oferta e da procura.
       nos vemos como sacerdotes que estão cum-
       prindo uma missão política”. (GOHN, 2000, p.             A oferta para que haja mais força de traba-
       116).                                              lho é bem inferior à procura dos indivíduos que se
                                                          encontram à margem. Diante desse argumento,
      A mística no MST possui exatamente essa             Offe faz a distinção entre proletarização passiva
dimensão de fortalecer seus atores na caminhada           e proletarização ativa. A proletarização passiva
de luta social. Mas a questão é muito mais profun-        se evidencia a partir dessa destruição das formas
da. Por isso, na fala de Gilmar Mauro o que nos           de trabalho e de subsistência e faz parte do pro-
interessa é a primeira “coisa boa” da Igreja: exa-        cesso de industrialização. Trata-se de uma forma
tamente a simbologia da mística libertadora. Para         de “desapropriação”, pois é negada a determi-
compreendermos a pedagogia da mística existente           nados indivíduos a utilização da força de trabalho
no MST na atual fase, precisamos recorrer a alguns        para sua subsistência. Contudo, há uma transito-
conceitos próprios da Teologia da Libertação.             riedade permanente entre aqueles que se encon-
                                                          tram na condição de proletarização passiva para a
      A mística é antes de tudo iracúndia, indig-         proletarização ativa, já que constantemente estão
nação com a realidade desumana promovida pela             oferecendo sua força de trabalho no mercado.
lógica do capital. Portanto, a mística torna-se um
gesto de protesto ao estabelecido, à ordem ali-                 Nesse sentido, a Teologia da Libertação
cerçada na economia, na globalização, no indivi-          pode ser apresentada como uma ação que liberta
dualismo, na competição, na minimização do ser            na ação, por isso é contrária a toda forma de as-
humano e em sua coisificação e também, mesmo               sistencialismo e de reformismos. Além disso, um
que não pareça, no racionalismo burguês.                  segundo passo da Teologia da Libertação é a não
                                                          separação dualista entre fé e razão, pois se as se-
      A teologia da libertação utiliza a categoria        pararmos, a sociedade, ou os grupos sociais, ou o
pobre. Mas quem são os pobres para os teólogos            próprio indivíduo tendem a cair no fideísmo ou no
da libertação? O teólogo Clodovis Boff nos res-           racionalismo. Por isso, a reflexão da fé acontece
ponde:                                                    por meio da prática libertadora.
       (...) são os operários explorados dentro do sis-         Toda a mística realizada pelo MST é uma es-
       tema capitalista; são os subempregados, os         pécie de clamor dos pobres. Clamor não no sentido
       marginalizados do sistema produtivo – exér-        de mendicância ou aderência ao sistema, mas de
       cito de reserva sempre à mão para substituir
                                                          oposição ao estabelecido, ao pronto. É o manifesto
       os empregados – são os peões e posseiros do
       campo, bóias-frias, como mão de mão-de-obra        onde os sujeitos históricos são os pobres. Clamor


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significa compreender que existem necessidades          completo da tradição marxista ortodoxa e do ca-
vitais não satisfeitas aos seres humanos. O que        pitalismo. Na verdade, assim como a Teologia da
importa é a aprendizagem da escuta do clamor           Libertação, o MST utiliza o marxismo como media-
dos pobres. Segundo Assmann (1990: p. 13), “a          ção sociológica para compreender a sociedade e
estrutura da escuta da fé (e também das opções         o próprio homem, mas sem dogmatizá-la.
políticas) e a organização da esperança, pessoal
                                                             A mística no MST acontece para fortalecer as
e coletiva, embasam-se, mais que tudo, em for-
                                                       pessoas na caminhada, para fazer todos se sen-
mas testemunhais de comunicação”. A mística no
                                                       tirem bem na participação. A marcha é uma mís-
MST é uma forma testemunhal de comunicação,
                                                       tica do MST. É uma simbologia que caracteriza o
de dialogia.
                                                       povo em movimento. Só participa da marcha quem
       A pedagogia da mística no MST é um espaço       está bem consigo mesmo, com o outro (a comuni-
de aprendizagem da escuta ao clamor que brota          dade dos marcheiros) e com Deus, que caminha
do silêncio de muitos, excluídos de ser gente, de      junto com o povo sofrido. A fase do acampamento
serem pessoas humanas dentro desse sistema             demonstra também um período de mística liber-
voraz baseado nas relações de produção capita-         tadora. Para o sem-terra do MST é um momento
listas. Para o MST, existe uma realidade clamoro-      de sacrifício, de renúncia, mas de caminhada em
sa, realidade de seres negados em sua existência,      busca da Páscoa (outra simbologia cristã). Da cruz
que são os pobres, aqueles que escondem atrás          à Páscoa. Para se alcançar a Páscoa precisa-se
do clamor desejado um profundo silêncio, sufoca-       carregar a cruz, mas a cruz já é Páscoa. Ambas
do e destruído. Pobres são os que des-vivem sua        estão intrinsecamente ligadas. Cruz na Páscoa,
existência, como nos deixa perceber o educador         Páscoa na Cruz.
Hugo Assmann (1990, p. 15) em seu questiona-
                                                              Nesse sentido, discordamos de Fernandes
mento: “(...) o clamor dos pobres não reclama de
                                                       (1999), que vê na mística uma espécie de “alimen-
nós uma abertura muito mais radical à transcen-
                                                       to ideológico”. Não se pode reduzir a mística a um
dência no interior da história, capaz de deixar-se
                                                       fator ideológico do movimento. Ela é, antes de tudo,
desafiar pela alteridade do pobre mergulhado em
                                                       alimento da unidade, da esperança, da solidarieda-
seu silêncio?”
                                                       de, da compaixão com os outros sem-terra, sem-
       O tema clamor dos pobres está intrinseca-       casas, sem-empregos, sem humanidade.
mente ligado a outros, como bem atesta Hugo As-
                                                              A mística só tem sentido se faz parte da tua
smann: “(...) opção pelos pobres, os pobres como
                                                              vida. Não podemos ter momentos exclusivos
“lugar teológico”, o potencial evangelizador dos              para ela, como os Congressos ou Encontros
pobres, a experiência de Deus na e desde a fé dos             Nacionais ou Estaduais. Temos de praticá-la
pobres, o Deus dos pobres, a Igreja dos pobres, e             em todos os eventos que aglutinem pesso-
outros temas afins...” (ASSMANN, 1990, p. 32). E               as, já que é uma forma de manifestação co-
para nossa concepção, o clamor dos pobres está li-            letiva de um sentimento. Queremos que esse
gado à pedagogia da mística. Jung Mo Sung (1989)              sentimento aflore em direção a um ideal, que
diz que se trata de uma luta constante contra a ido-          não seja apenas uma obrigação. Ninguém se
latria do capital e a morte dos pobres. Para isso,            emociona porque recebe ordem para se emo-
torna-se necessário estabelecer outro paradigma,              cionar; se emociona porque foi motivado em
                                                              função de alguma coisa. Também não é uma
que apresente a vida aos pobres a partir da fé num
                                                              distração metafísica ou idealista, em que todos
Deus que se torna parceiro da causa libertadora.              iremos juntos para o paraíso. (STÉDILE, 1999,
É o aphantésis entre o sagrado que se faz profano             p. 130-131).
e o profano que se sacraliza.
      Segundo João Pedro Stédile (1999), a mís-               Para o MST não existe contradição entre
tica serve ao movimento que se organiza na luta        religiosidade e pensamento ideológico marxista.
social para compor a unidade de seus militantes.       É possível ir à missa e ser revolucionário. Segun-
Ele deixa claro que nem a esquerda nem a direita       do Stédile (1999: p. 131), “não existe contradição
possuem essa dimensão da mística, o que deter-         nenhuma nisso. Ao contrário: a nossa base usa a
mina nossa tese de que o MST se distingue por          fé religiosa que tem para alimentar a sua luta, que


118        Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
Pedagogia da mística: as experiências do MST


é uma luta de esquerda, que é uma luta contra o                Este é o nosso país, esta é a nossa bandeira
Estado e contra o capital”. Mas se a mística é uma             / é por amor a esta Pátria Brasil que a gente
forma simbólica de sentir-se bem na luta, quais                segue em fileira... Queremos que abrace esta
são os símbolos que se caracterizam enquanto                   terra por ela quem sente paixão, quem põe
                                                               com carinho a semente pra alimentar a Nação.
mística para o MST? O próprio João Pedro Stédi-
                                                               A ordem é ninguém passar fome, progresso é
le nos responde:                                               o povo feliz. A Reforma agrária é volta do agri-
                                                               cultor à raiz... (Zé Pinto, cantor popular do
       A bandeira, o hino, as palavras de ordem, as            MST).
       ferramentas de trabalho, os frutos do trabalho
       no campo etc. Eles aparecem, também, de
       muitas formas: no uso do boné, nas faixas, nas
       músicas etc. As músicas são um símbolo muito     Considerações Finais
       importante. O próprio Jornal Sem Terra para o
       MST, já é mais do que um meio de comuni-                Como dizia o poeta Gonzaguinha, a mística
       cação. É um símbolo. O militante se identifica,   é isto:
       tem afinidade, gosta dele. (STÉDILE, 1999, p.
       132).                                             quando a atitude de viver é uma extensão do coração,
                                                         é muito mais que um prazer, é toda carga de emoção,
                                                         que era um encontro com o sonho, que só pintava no
       Na mística do MST, o símbolo materializa                                 horizonte,
o ideal de luta promovida pelo movimento. Numa              e de repente diz presente, sorri e beija a fronte,
discussão interessante acerca das pedagogias do                        e abraça e arrebata a gente,
movimento, Gentili e McCowan (2003) reafirmam                       (...) Não há palavra que explique,
a capacidade que o MST tem de criar novas pe-                      Ah! Eu me ofereço esse momento,
                                                                  que não tem paga e nem tem preço,
dagogias. Pena que dentre elas, os autores aci-
                                                                       essa magia eu já conheço...
ma não apresentaram a pedagogia da mística.                      é bom dizer: viver valeu! Amar valeu!
No nosso entendimento, todas as pedagogias do
movimento - pedagogia da luta social, pedagogia               Para finalizar esta reflexão afirmamos que a
da organização coletiva, pedagogia da terra, pe-        mística no MST e todas suas ações pedagógicas
dagogia do trabalho e da produção, pedagogia            que tornam os sem-terra sujeitos coletivos podem
da cultura, pedagogia da escolha, pedagogia da          ser análogas ao que afirmavam Marx e Engels em
história e pedagogia da alternância - apresentam        1848, a saber:
em seu interior a pedagogia da mística. Gentili e              Um fantasma ronda a Europa – o fantasma do
McCowan (2003, p. 127) destacam a existência da                comunismo. Para persegui-lo se unem numa
pedagogia da cultura e dentro dela a pedagogia do              santa aliança todas as potências da velha Eu-
gesto, a pedagogia do símbolo e a pedagogia do                 ropa: o papa e o czar, Guizot e Metternich, os
exemplo. Concordamos, mas queremos ampliar                     radicais da França e os policiais da Alemanha.
essa concepção; e afirmamos que, nas experiên-                  (MARX e ENGELS, 2001, p. 49).
cias do MST, a pedagogia da mística se encontra
presente em todas as outras pedagogias constru-                Poderíamos dizer hoje que um fantasma ron-
ídas por esse Movimento.                                da o Brasil – o fantasma do MST. Para persegui-lo
                                                        se unem numa santa aliança todas as potências
       Dessa forma, acreditamos que os gestos, as
                                                        do velho coronelismo rural: os latifundiários, gran-
danças, as rezas, os clamores, as marchas, a ban-
                                                        des fazendeiros, empresários do agronegócio e
deira, o hino, as músicas e canções do movimento,
                                                        do hidronegócio, a UDR, a bancada ruralista no
os encantos e cantos, enfim, todos os símbolos do
                                                        Congresso Nacional e a Mídia defensora dos ide-
MST convergem para a construção de uma verda-
                                                        ais elitistas, representada pela revista Veja e pe-
deira ação pedagógica, que se estabelece numa
                                                        las Organizações Globo. Mas se esquecem de um
dimensão de afrontamento ao sistema capitalista
                                                        fator fundamental presente no MST e em todos os
e suas produções ideológicas. Daí acreditarmos
                                                        movimentos sociais do campo: Deus está com os
que a canção possui realmente a mística da liber-
                                                        Sem-Terra na luta e a luta se faz com os Sem-Terra.
tação:
                                                        É nesta esperança que o MST continua construin-

 Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>           119
Antônio Marcos de Sousa SILVA


do caminhos de cidadanização popular contra a ci-     CARVALHO, José Jorge de. Características do fenô-
dadanização burguesa, a partir de uma sociedade       meno religioso na sociedade contemporânea. Bra-
baseada nos valores comunitários.                     sília: UnB, 1991. Coleção Cadernos de Antropologia,
                                                      n.114.
      Sem dúvida, reconhecemos a existência do
                                                      CASALDÁLIGA, Pedro. Nossa espiritualidade. São
caráter educativo na pedagogia da mística viven-
                                                      Paulo: Paulus, 1998.
ciada pelo MST no Brasil e entendemos que ela
é um instrumento essencial na formação política       CASALDÁLIGA, Pedro; VÍGIL, José Maria. Espiritua-
dos atores sociais que são seus próprios militan-     lidade da libertação. Petrópolis: Vozes, 1995.
tes. A mística se apresenta enquanto celebração       CELAM. Conclusões da Conferência de Santo Do-
que possui uma intencionalidade consciente, o que     mingo. São Paulo: Paulinas, 1992.
permite um processo que mobiliza, educa e politiza    CERIOLI, Paulo Ricardo; CALDART, Roseli. Como
os sujeitos em ação. Isso concretiza duas questões    fazemos a escola de educação fundamental.. São
fundamentais ao movimento: a identidade coletivo-     Paulo: MST, 1999. Caderno de Educação n. 9
cultural e a unidade na diversidade ideológica dos
                                                      DUTERVIL, Camila. Mística sem terra: o co-mover da
atores sociais. Por isso, Cerioli e Caldart (1999,    formação em movimento. Monografia de Graduação
p. 23) não hesitaram em afirmar que a “a mística       do Departamento de Antropologia da Universidade de
é a alma de um povo. A mística do MST é a alma        Brasília, UnB, 2005.
do sujeito coletivo Sem Terra que se revela como
                                                      FREI BETTO. Cotidiano e mistério. São Paulo: Olho
uma paixão, que nos ajuda a ‘sacudir a poeira e
                                                      d’água, 2001.
dar a volta por cima’. (...) A mística é a alma da
identidade Sem Terra”.                                FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Ja-
                                                      neiro: Paz e Terra, 1987.
      Assim, não temos dúvida de que a mística é
                                                      GENTILI, Pablo; McCOWAN, Tristan. Reinventar a
celebrada para se buscar o vinho novo nos odres
                                                      escola pública: política educacional para um novo
velhos do sistema capitalista no qual estamos
                                                      Brasil. Petrópolis: Vozes, 2003.
emersos. Daí a profunda radicalidade pedagógica
da mística enquanto ação que protagoniza seus         GOHN, Maria da Glória. Mídia, terceiro setor e MST:
atores sociais a anunciar um novo modo de vida,       impactos sobre o futuro das cidades e do campo. Pe-
                                                      trópolis: Vozes, 2000.
ou seja, “(...) em vez de anunciar a desordem pro-
vocada pela exclusão como a ordem estabelecida,       ______. Educação não-formal e cultura política. 2.
e educar para a domesticação, é possível subverter    ed. São Paulo: Cortez, 2001.
a desordem e reinventar a ordem, a partir de va-      JUNG MO SUNG. A idolatria do capital e a morte
lores verdadeira e radicalmente humanistas, que       dos pobres. São Paulo: Edições Paulinas, 1989.
tenham a vida como um bem muito mais impor-
                                                      MARCEL, Gabriel. Revolução da esperança. São
tante do que qualquer propriedade”. (CERIOLI;         Paulo: José Olympio, 1966.
CALDART, 1999, p. 7).
                                                      MARX, K.; ENGELS, F. O manifesto do partido co-
                                                      munista. Rio de Janeiro: Garamond, 2001.
                                                      MOUNIER, Emmanuel. O Personalismo. 4. ed. Lis-
Referências                                           boa: Martins Fontes, 1976.
                                                      ______. Manifesto ao serviço do personalismo. Lis-
ASSMANN, Hugo. Clamor dos pobres e racionalida-       boa: Livraria Morais, 1967.
de econômica. São Paulo: Edições Paulinas, 1990.      NETO, Luiz Bezerra. Sem terra: aprende e ensina.
BOFF, Clodovis. Como fazer teologia da libertação.    Campinas: Autores Associados, 1999.
8. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.                       OFFE, Claus; LENHARDT, Gero. Problemas estru-
BOFF, Leonardo. O destino do homem e do mundo.        turais do estado capitalista. Rio de Janeiro: Tempo
8. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.                       Brasileiro, 1984.

BOGO, Ademar. A vez dos valores.. São Paulo: MST,     STÉDILE, João Pedro; FERNANDES, Bernardo Man-
1998. Caderno de Formação n. 26                       çano. Brava gente: a trajetória do MST e a luta pela
                                                      terra no Brasil. São Paulo: Perseu Abramo, 1999.


120        Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>

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  • 1. Pedagogia da mística: as experiências do MST∗ Pedagogy of mystic: the experiences of the MST Claudemiro Godoy do NASCIMENTO** Leila Chalub MARTINS*** Resumo: Neste artigo, queremos refletir sobre a pedagogia da mística enquanto espi- ritualidade cristã presente no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. Mística que também se faz nas práticas pedagógicas e educativas do MST por meio de suas educações formal e não-formal com o intuito de fortalecer as lutas sociais desencadeadas pelo coletivo do movimento em suas várias vertentes. Dessa forma, a mística no e do MST se constitui um aphantésis (em grego: encontro) com o Deus da Vida. Esse encontro insere os sujeitos históricos do movimento na vocação perma- nente para “Ser Mais”, ser gente que quer brilhar e sonhar com uma nova sociedade. Neste sentido, queremos provocar reações críticas para que se possa entender as praticas do MST como um ato de misticidade que acontece no cotidiano de suas lutas e resistências. Palavras-chave: Mística. Pedagogia. Movimento social. MST. Abstract: In this article, we want to reflect on the Mystical Pedagogy as a Christian spirituality in the Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST (Movement of the Landless Rural Workers). We also found this Mystic in pedagogical and teaching practices of the MST by formal and non-formal education with the aim of strengthening the social struggles triggered by the movement in its various ramifications. Thus, the mystic in and of the MST constituted an aphantésis (meeting in Greek) with the God of Life. This meeting inserts the historical subjects of the movement in the permanent vocation to “Be More”, be people who want to light and dream about a new society. In this sense, we want to provoke critical reactions in order to be possible to understand the practices of the MST as a mystic acting that happens in its daily struggles and re- sistances. Keywords: Mysticism. Pedagogy. Social movement. MST. Recebido em: 13/06/2008. Aceito em: 24/09/2008. ∗ Texto apresentado na Conferência Internacional Educação, Globalização e Cidadania em João Pessoa – PB, na Universidade Federal da Paraíba – UFPB, no período de 19 a 22 de fevereiro de 2008. ∗∗ Licenciado em Filosofia pela UCG. Graduado em Teologia pelo Instituto de Teologia Santa Úrsula. Mestre em Educação pela Unicamp. Dou- torando em Educação pela UnB. Professor Assistente da Universidade Federal do Tocantins – UFT – Campus Universitário de Arraias – TO. E-mail: claugnas@uft.edu.br ∗∗∗ Doutora em Ciências Sociais pela Unicamp. Adjunta da Faculdade de Educação da UnB. E-mail: chalub@unb.br Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
  • 2. Antônio Marcos de Sousa SILVA Introdução a mística enquanto ação pedagógica que ensina e dá forças para que os sem-terra possam construir Podemos começar esta reflexão com uma demandas e bandeiras de luta. E, por fim, anali- analogia entre o texto do Evangelho de João 1, 14, samos como acontecem os momentos de mística que afirma: “E a Palavra se fez homem e habitou e quais são os principais símbolos do MST, bem entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória como sua importância para os camponeses. do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade”. Assim, por que não dizer também que a Palavra se faz sem-terra e habita entre nós. Alguns contem- plam as lutas e vitórias; outros, influenciados pela Mística-Espiritualidade: sinais da vida elite burguesa dominante, os crucificam na calúnia, Como pensar, em comunhão e liberdade de no desamor, na injustiça e na intolerância. espírito, a mística e a espiritualidade da libertação Nessa direção, queremos apresentar a pe- para o século XXI? Como continuar dando pas- dagogia da mística a partir das experiências do sos concretos na busca da justiça social em tem- MST e de seus atores coletivos que se fortalecem pos de retorno do moralismo e do tradicionalismo pela espiritualidade1 para continuar a caminhada fundamentalista que ronda as atitudes e práticas de lutas, de engajamentos e de busca constante religiosas? São questões que os cristãos e outras por uma sociedade mais justa e solidária. Mística religiões devem buscar compreender. Por isso, que se faz presente no dia-a-dia dos sem-terra que, queremos refletir a mística a partir da tradição cristã espalhados pelo Brasil, unem-se numa comunhão que se encontra com maior enraizamento na cultu- de esperança na luta pelos direitos sociais de Re- ra brasileira e nas ações pedagógicas do MST. forma Agrária, de Educação, de Saúde, de Agricul- Antes de tudo, precisamos entender que tura Familiar e, com isso, conseguem estremecer toda mística tem como sentido último a libertação os palácios do poder constituído. das pessoas. A mística é uma adesão pessoal a Não pretendemos destacar outros aspectos um projeto de vida a ser vivido em comum por um do MST que não seja a importância da mística en- grupo social, ou seja, por um determinado coletivo quanto ação pedagógica que fortalece, encoraja, de pessoas. Os cristãos possuem sua mística. Na estimula, ensina, cria e recria novas ações coleti- tradição cristã existem muitas formas de mística vas por parte dos trabalhadores rurais. A mística nas diversas denominações. Os católicos, os an- concretiza-se no momento em que os sem-terra se glicanos, os luteranos, os ortodoxos, os evangéli- encontram com os três pilares que fundamentam cos enfim, cada um vive a sua mística/espirituali- sua caminhada, a saber: o encontro com si mesmo, dade. E, ainda, no interior de cada denominação com o outro e com Deus (BOFF, 1998). religiosa existem grupos que vivem diferentemente Dividimos esta reflexão em três partes que o projeto místico. se complementam, para que possamos entender Nas primeiras comunidades cristãs, a mís- toda a dinâmica na qual se insere a mística en- tica-espiritualidade cristã estava sendo vivida sob quanto ação pedagógica no MST. Dessa forma, no a égide da perseguição do Império Romano e da primeiro momento analisamos a mística enquan- perseguição de grupos extremistas do judaísmo. to espiritualidade que liberta, tendo em vista que, Hoje, vive-se a mística-espiritualidade cristã da em geral, os sem-terra são cristãos (católicos e libertação sob a égide do culto ao deus mercado evangélicos). No segundo momento, refletir-se-á impulsionado pelo avanço do Império Neoliberal. Império que ronda o planeta como única via e que amplia seu território de fixação da doutrina e esti- 1 A Mística, tal como é vivida pelos integrantes do MST, pode ser mula a escravidão das consciências, principalmen- entendida como parte do fenômeno religioso na sociedade contem- te, das massas que são chamadas a se tornarem porânea, particularmente no Brasil. Como outros movimentos, a Mística apresenta significativa e crescente inserção na sociedade consumidoras desse mercado total. nacional, por razões de natureza política, histórica e sociológica, e dialoga, compatibilizando sua visão de mundo, com as religiões do Pensar a mística-espiritualidade fora e dis- cristianismo. Para compreender o fenômeno religioso atual, ver Car- tante das realidades humanas significa transformá- valho (1991). la em ritualismo ou em falta de sinceridade com 110 Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
  • 3. Pedagogia da mística: as experiências do MST o projeto, ou seja, ela torna-se um espiritualismo pode servir a dois senhores”. desencarnado, sem compromisso com a caminha- A mística-espiritualidade é patrimônio de toda da das comunidades, que devia ser caminhada em a humanidade, de todos os povos da terra. Toda e busca do que os cristãos chamam de Reino Defi- qualquer pessoa é animada por uma mística-espi- nitivo, local em que todos e todas podem vivenciar ritualidade que a contagia na caminhada. Alguns o “tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10). são contagiados pelos valores do Evangelho, ou- Alguém poderia perguntar: como saber qual deve tros pela sedução do mercado neoliberal, outros ser nossa mística-espiritualidade? Primeiro, abrir- pela valorização da cultura perdida. se ao clamor dos pobres e de todo o povo que cla- ma por libertação; e, também, ao vento do Espírito Assim, a mística-espiritualidade não se refe- que sopra e age onde quer. Além disso, torna-se re somente às religiões. Ela é algo do próprio ser necessário indignar-se com as realidades desu- humano, que é um ser fundamentalmente espiri- manizantes provocadas pelo sistema neoliberal no tual-material3. Mas, toda mística-espiritualidade é qual vivemos. Nesse sentido, afirma contundente- também algo religioso. Existem místicas-espiritua- mente Frei Betto: lidades religiosas e não-religiosas. Para a tradição cristã a mística-espiritualidade é, acima de tudo, Seqüestradas as utopias, aceitamos a loteria religiosa. É nela que se faz a experiência com o das leis do mercado. Outrora, os pobres do Deus da Vida. No entanto, não basta a religiosida- mundo podiam, ao menos, sonhar com um de. É preciso e necessário que a religião esteja pro- sistema alternativo que devolvesse a todos o que é fruto do trabalho de todos. Porém, a elite fundamente arraigada pela mística-espiritualidade, socialista – e, principalmente a capitalista2 – ou seja, é preciso que haja autenticidade no segui- julgou que a democracia fosse direito burguês mento ao projeto de Deus, ao Reino. Fácil seria se e a participação popular, ameaça ao centralis- a mística-espiritualidade fosse entendida somente mo. Esticada ao extremo, a corda arrebentou como sendo prática ritualista ou compromisso me- – na cabeça dos pobres, que agora só contam cânico de ir à missa ou participar de algum evento com suas próprias e frágeis forças para se de- religioso. Não, mística-espiritualidade é algo mais fender da supremacia do capital. (FREI BET- comprometedor que engaja a pessoa humana na TO, 2001, p. 62). luta pela vida, pelo Reino. Dessa forma, a mística-espiritualidade pode Em que consiste a experiência mística? É o ser definida como sendo as motivações, os ideais, encontro da razão última da existência ou a as utopias, a paixão pela qual se vive e se luta. possibilidade de dar à existência um sentido. É o sentido de voltar-se para o outro e para Mística-espiritualidade é aquilo que contagia a os outros numa dinâmica que vai mais pessoal caminhada. Os espiritualismos estão repletos de ao mais social e que pode ser descrita como doutrinas, ritos, dogmas sem nenhuma paixão, experiência de Deus. Pode ser descrita tam- ideais e vida. Falta-lhes o essencial da experiência bém como experiência permanente da paixão! com o sagrado. A mística-espiritualidade possui a Quem já esteve apaixonado algum dia, sabe liberdade de espírito. Os espiritualismos, ao con- que, na paixão, a presença do outro é mais for- trário, fazem com que as pessoas vejam o mundo te que a presença de você em você mesmo. de forma mecânica. Para os cristãos e as cristãs (FREI BETTO, 2001, p. 116) de ontem e de hoje o importante é agir conforme o espírito do Reino, tendo como eixo norteador a Pode-se viver a mística-espiritualidade em mística-espiritualidade do seguimento à causa. Ou- dois sentidos, a saber: a) de forma personalizada, tros espíritos se afirmam na história, tais como: o consciente e livre, que abranja todas as dimensões espírito do romanismo, o espírito do capitalismo, o espírito da lógica do mercado neoliberal, o espíri- to do liberalismo, entre outros. Para o cristianismo 3 Para o filósofo cristão Emmanuel Mounier (1976) a pessoa é resta servir ao espírito do Evangelho, pois “não se essencialmente matéria e espírito, corpo e alma, transcendente e imanente. Na filosofia personalista de Mounier não há dicotomias e dogmatismos platônicos; há convergência, integração e união daqui- lo que historicamente foi posto como separado e divisível. É nessa fonte que o MST, em sua mística da libertação, vai buscar inspira- 2 Grifo nosso. ções. Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 111
  • 4. Antônio Marcos de Sousa SILVA do ser do Homem (alma e corpo, pensamento e uma profundidade pessoal, pelo reinocentrismo, vontade, sexo e fantasia, palavra e ação, interio- por uma espiritualidade do essencial e universal ridade e comunicação, contemplação e luta, gra- cristão, pela localização na realidade histórica dos tuidade e compromisso), pois cada pessoa a vive pobres, pela crítica, pela práxis e pela integridade de forma única; b) de forma encarnada na história, sem dicotomias e sem reducionismos (CASALDÁ- hoje e aqui, na América Latina e nas comunidades, LIGA, 1998, p. 14). com suas dores e alegrias. Viver as duas dimen- Assim, podemos definir a Mística-Espirituali- sões da mística-espiritualidade abre caminhos para dade da Libertação como cristológica, situada his- se viver concretamente o que Dom Pedro Casal- toricamente no social e nas comunidades cristãs, dáliga e José Maria Vígil chamam de Espirituali- na cruz da profecia e do conflito, na gratuidade e dade da Libertação (CASALDÁLIGA; VÍGIL, 1995; na exigência do Evangelho, na contemplação li- CASALDÁLIGA, 1998). bertadora e no anúncio incondicional do Reino, e A mística-espiritualidade não pode reprimir a na denúncia do anti-Reino. Mística-Espiritualidade realização pessoal e o vôo do Espírito. Isso seria da Libertação que se enraíza nas culturas oprimi- ir contra o Evangelho da Liberdade anunciado por das da história, herdeira do sangue de muitos e Jesus. O perigo dos espiritualismos é cair numa muitas que tombaram doando a vida e o sangue formação espiritual dispersiva, mutilada, dicotômi- do martírio, profeticamente alternativa ao sistema ca, unilateral e mecanicista. A vida do ser humano de morte, na co-responsabilidade eclesial e, por é importante nesse processo e ela pode ser en- fim, com profundo espírito ecumênico e macro- tendida como problemática (mistério), como um ecumênico. desafio (uma missão), como um espaço (graça). E Esse é o sentido da mística-espiritualidade assumir esse espaço requer atitudes, mediações, para um determinado grupo social influenciado pela com a finalidade de se atingir a opção fundamen- Teologia da Libertação, que veremos adiante. O tal na vida. que nos interessa é que a mística, seja ela cristã ou Mística-espiritualidade é vida. Vida não se não, é uma forma de adesão a um projeto de vida. ensina, mas se experimenta. Assumir o seguimento Por isso, em nossa concepção, a mística apresen- significa viver uma mística-espiritualidade. Viver a ta-se na forma de ação pedagógica que ensina os mística-espiritualidade do seguimento a uma cau- oprimidos a se organizarem na luta social. sa significa, hoje, assumir as dores e angústias, alegrias e festas do povo ao qual se pertence. Se estivermos na América Latina, no Brasil, em Goi- Mística enquanto práxis pedagógica: para ás, numa comunidade eclesial específica, signifi- além da escola ca assumir o seguimento a Jesus nessa realidade de vida. Ter-se-á, assim, a vivência concreta de Mística é um sentimento que passeia delicado uma mística-espiritualidade religiosa, cristã, latino- e lento por dentro de nosso coração. Como se americana e libertadora. Mística-espiritualidade tivesse mãos, coloca o ânimo em cada pensa- do “Povo Novo”, que, para o bispo profeta Pedro mento. Mexe no comportamento, no jeito de Casaldáliga, possui as seguintes características: andar, falar e sorrir; é a força que nos faz sentir, lucidez crítica, a contemplação na caminhada, a prazer e arrependimento. (...) Quem tem místi- liberdade dos pobres, a solidariedade fraterna, a ca está sempre crescendo. A cada dia sente-se cruz e a conflitividade, a insurreição evangélica renascendo nas coisas que vai realizando. Seja ou a Revolução da Boa-Nova e, por fim, a teimo- na base ou no comando, a mesma energia se sa esperança pascal. (CASALDÁLIGA, 1998, p. manifesta, como a alegria em uma festa, insti- ga quem está participando. (...) Mas a mística 13-14). não é só bondade, às vezes serve-se da an- Tais características do Povo Novo apresen- siedade para angustiar o corpo inteiro. Como tam-se às pessoas, hoje e aqui, na América Latina uma chama no candeeiro que bebe o líquido mundializada para todos os povos da Terra. Elas que está dentro, provoca todos os talentos e não sobrevivem sem o fortalecimento da Místi- esgota as capacidades. Desafia as habilidades para enfrentar certos apuros, nos cobra para ca-Espiritualidade da Libertação, interpelada por 112 Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
  • 5. Pedagogia da mística: as experiências do MST sermos mais maduros diante dos aconteci- pedagogia do Movimento: mentos. (BOGO, Ademar4. À Mística). “No momento da pesquisa em que eu estava no curso de Pedagogia da Terra, tive a oportunida- A práxis pedagógica pensada e construída de de participar da ocupação de um espaço do para o meio urbano é aplicada pelo sistema oficial Centro de Formação Patativa do Assaré. Foi de ensino ao meio rural sem que se faça qualquer uma atividade promovida pelo núcleo de base adaptação, conforme já afirmou Neto (1999). Bus- da turma responsável pela mística naquele dia. cando solução para esse problema, o MST afirma a A ocupação do espaço físico também aflorou o suma importância da educação e da reforma agrá- sentimento de uma ocupação do latifúndio do ria para libertar o trabalhador rural da condição de saber, do monopólio da construção do conheci- explorado. É importante conhecer então como é a mento. Nesse momento, o Movimento ocupou organização educacional e a formação do cidadão meu coração, fui contagiada com uma emoção militante do Movimento, apresentando à sociedade e efervescência coletiva impressionantes, e pude constatar que a força que derruba as cer- o MST que os meios de comunicação ainda não cas também forma as pessoas e as faz avan- divulgaram por não fazer parte da ideologia noti- çar, porque cada um sente a força de todos ciária do Brasil. multiplicada, o ecoar uníssono das palavras de Para se compreender o processo de forma- ordem revigora o ânimo coletivo.” (DUTERVIL, ção pedagógica do MST é essencial que se per- 2005, p. 25). ceba uma formação em movimento. O Movimento circula, circulam os sujeitos que fazem o Movimen- Sabemos que não é recente a luta pela re- to. (DUTERVIL, 2005). São redes de formação pe- forma agrária no Brasil. A inovação está na junção dagógica em movimento. da luta pela redistribuição de terras e novas formas de organização cultural e educacional. Falamos de O depoimento da Professora Antonia, da uma reforma agrária com caráter socialista, que escola do Assentamento Vila Diamante, no Mara- visa a uma sociedade igualitária, mais justa e inspi- nhão, colhido por Dutervil (2005, p. 14), quando rada em outras lutas regionais. Por isso mesmo, o esta fazia sua formação no curso de Pedagogia da MST se diferencia porque abrange todo o território Terra, no Rio Grande do Norte, demonstra a força nacional com um propósito valorativo (axiológico), do processo formativo do Movimento: humano e social, na busca constante da conquis- “Eu me transformei, passei a ver o mundo de ta da terra por homens e mulheres preparados e uma forma diferente, deixei de ser acomodada, responsáveis para o trabalho coletivo, tendo como o magistério me fez crescer muito, eu era mui- base dessa organização um novo processo edu- to agressiva, muito individualista, até porque cativo e uma nova cultura política. Por isso, como a gente nasce nesse processo, não pensava foi demonstrado pelos depoimentos de Dutervil muito no coletivo, nas pessoas, na mudança, (2005), surge dessa experiência mística um novo não tinha muito esse sentido, mas quando eu comportamento humano e uma nova cultura polí- comecei a estudar no magistério de Veranópo- tica vai se desenhando nesse universo. lis (RS), porque lá no curso passei a participar das críticas e autocríticas, avaliações e aí eu As referências e preferências nos comporta- comecei a mudar, passei a ser mais humana, mentos humanos não são apenas herdadas, hoje eu posso dizer que eu sou totalmente di- mas, principalmente, aprendidas. A educação ferente, não sei se eu ia me adaptar de novo ganha destaque, não tanto por seus aspectos a dar aula fora da área do assentamento, já na área do ensino formal, mas pelos aspectos estou muito habituada”. não-formais, do aprendizado gerado pela ex- periência cotidiana. Os indivíduos escolhem, A mesma autora relata como sentiu a força optam, posicionam-se, recusam-se, resistem de uma ocupação, como estratégia formativa da ou alavancam e impulsionam as ações sociais em que estão envolvidos, segundo a cultura que herdaram do passado e na qual estão en- volvidas no presente. (GOHN, 2001, p. 54). 4 Ademar Bogo é poeta, filósofo e dirigente do MST. São livros seus: Vigor da Mística, Lições da luta pela terra, Gerações, Arquitetos de Sonhos. É considerado um dos ideólogos da mística sem terra. Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 113
  • 6. Antônio Marcos de Sousa SILVA Visando à extinção da desigualdade so- entre sujeito-objeto. Preferimos a categoria sujeito- cial e à construção da dignidade humana, o MST sujeito. O diálogo requer a tomada de atitude da- compreende que é imprescindível transformar a quele que fala e daquele que escuta, e vice-versa. atual estrutura da propriedade rural, sendo que a Assim, a conscientização acontece por meio do utilização da terra pode ser familiar, associativa e diálogo em comunhão do oprimido com o oprimi- cooperativa. Reivindicando transformação social, do, sobre suas situações de vida e de existência. o MST traz em seus princípios básicos as seguin- Conscientização significa passos concretos rumo à tes questões: garantir trabalho para todos e todas; libertação. Essa libertação é conquistada em con- produzir alimentação farta, barata e de qualidade junto, no coletivo, na comunidade, pois “ninguém para a população brasileira; buscar justiça social e liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho. igualdade de direitos; difundir valores humanistas e Os homens se libertam em comunhão”, confor- socialistas; criar condições igualitárias de participa- me afirmou Freire (1987, p. 52). Este é o encontro ção da mulher na sociedade; preservar e recuperar dos homens para sua real vocação de Ser Mais, os recursos naturais; implementar a agroindústria pois todos somos seres inconclusos, em processo e a indústria como fator de desenvolvimento sus- constante. Essa tarefa é impossível sem a peda- tentável para o Brasil. gogia da mística. O processo de ocupação em massa de ter- Daí a grande importância de repensarmos a ras pelo MST é feito com a conscientização, or- necessidade de um educador problematizador, que ganização e preparação das famílias com meses auxilie os educandos e educandas a realizarem a de antecedência, pois o Movimento exige de seus práxis (reflexão e ação para a transformação) a se- militantes autoconfiança e autodisciplina que os rem críticos, ativos. O diálogo deve sempre estar tornem resistentes contra os ataques da elite ca- voltado para a realidade e para o mundo do edu- pitalista existente no chamado Brasil Rural, tão cando, para que os debates – o que Paulo Freire preconizado pelos meios de comunicação como chama de “círculos de cultura” – possam ter senti- sendo a salvação da “lavoura” para a economia do. Sem a mística, esse diálogo deteriora-se. agropecuária. Nesse sentido, o MST se inspira As educadoras e os educadores do MST nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), nos assumem a mística não como um momento, mas estudos bíblicos dos agentes de pastorais e em como a própria vida na comunidade. É o que evi- alguns líderes revolucionários que podem condu- denciam os depoimentos a seguir, colhidos por zir os trabalhadores rurais à consciência crítica da Dutervil (2005, p. 31): realidade e despertá-los para a luta em defesa da classe trabalhadora. “Eu e a Ecieude às vezes dizemos assim: Ah, nós estamos perdendo a mística, porque a Vivemos numa sociedade onde a divisão de mística para nós é o que alimenta os nossos classes e os interesses estão evidenciados nas ideais, o nosso objetivo de mudança, é o que correlações de forças que se formam no bojo das faz a gente ter uma utopia e através daquela representações sociais. Assim, não se pode sim- mística a gente vai transmitindo para as pes- plesmente fechar os olhos para o fato: a existência soas nossa ideologia. Pois é, para mim mística de oprimidos e opressores. A pedagogia do opri- é isso, ela faz parte do nosso dia a dia, não se mido de Paulo Freire (1987), seus sonhos e suas resume só numa apresentação...” utopias destinam-se a ajudar os oprimidos a se li- “Eu vou para a ocupação, para encontros, isso bertarem da dominação exercida pelos opressores. fortalece, acho que é um espaço de fortaleci- Por isso é imprescindível que os atores consigam mento da mística, eu, enquanto pessoa. A mís- ter o direito de saber e dizer a “sua palavra” com tica eleva nossa auto-estima, você vê que tem criticidade, restaurando suas subjetividades, hu- um sentido continuar vivendo. Eu digo: eu per- manidade e liberdade, até então reprimidas pela tenço a esse grupo, eu quero continuar nessa classe dominante hegemônica. luta, porque é isso que eu acredito. Pertencer é ter crença.” O primeiro passo para se realizar a pedago- gia do oprimido é o diálogo. O diálogo acontece entre dois sujeitos ou na caracterização histórica A dialogicidade é a essência da ação revo- lucionária. O educador ou a educadora terá o su- 114 Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
  • 7. Pedagogia da mística: as experiências do MST cesso apenas quando basear-se no amor e na fé não existem sonhos e utopias. Há na verdade, de nos homens e mulheres em processo e, também, maneira camuflada, a cultura do silêncio, ao se na humildade. Essas atitudes farão surgir confian- fazer com que as pessoas, desde crianças, sejam ça entre os sujeitos do diálogo. O diálogo torna-se proibidas de atuar em sua sociedade para real- representação simbólica entre os sujeitos, daí sua mente transformá-la. Assim, a educação se torna misticidade pedagógica. uma prática de dominação e não de liberdade. Por isso, sem sonhos e utopias não há pedagogia da No entanto, quando se conscientizam de sua mística. O sonho e a utopia são os fundamentos condição oprimida, os oprimidos muitas vezes sen- da pedagogia da mística existente no MST. tem medo da liberdade e não se acham capazes de assumi-la. Travam uma luta para serem eles Analisando todo esse conteúdo contido nos mesmos ou serem duplos, para expulsarem ou sonhos e nas utopias sempre bem-vindas da Pe- não os opressores “dentro” de si. Outro problema dagogia do Oprimido de Paulo Freire, observamos aparece quando os oprimidos se tornam “novo ho- que os educadores e educadoras devem ser agen- mem” e passam a oprimir os outros. Nesse sentido, tes de transformação e não simplesmente agentes os opressores se utilizam de vários artifícios para de mudança. Devem aguçar em nossos educan- perpetuar sua dominação. Buscam, por exemplo, dos e educandas, e na sociedade como um todo, conquistar os oprimidos por passar uma visão de o senso crítico e a importância de se unirem para messianismo, dando-lhes pão e circo. Mas, essa dizerem as suas palavras. generosidade é falsa, pois quando aparentam (...) é preciso, pois, que o povo se organize... “salvar” uma ou duas pessoas, estão na realidade Preciso de vossa união para que possa lutar explorando e desumanizando dezenas delas. “O contra os sabotadores, para que não fique que eles querem é salvar a si mesmos. É salvar prisioneiro dos interesses dos especuladores sua riqueza, seu poder, seu estilo de vida, com e dos gananciosos em prejuízo dos interesses que esmagam os demais”, como afirmou Paulo do povo. (FREIRE, 1987, p. 148). Freire (1987). Os opressores invadem a cultura das pes- Pode-se fazer o mesmo no campo da educa- soas e impõem a elas a sua visão de mundo para ção por meio da mística, que possui em si mesma, manipulá-las e as impedirem de pensar. Quando como veremos adiante, uma ação pedagógica que surgem os que não se sujeitam a tal opressão são reivindica direitos de cidadania popular não-bur- chamados de “rebeldes”, “violentos”, essa massa guesa, reivindica o direito de sonhar e ter utopias. de gente “cega”, “invejosa” e “selvagem”. Tudo isso Isso será muito oportuno, pois os opressores não é veiculado por outros meios de dominação, que morreram e devem continuar sabendo que a socie- são os meios de comunicação de massa. Assim, dade não pode se alienar a eles, que todos e todas os que já se tornaram alienados passam a pensar estão conscientes das atitudes desumanizadoras a como os opressores. Sabemos que: que se propõem para continuar conseguindo atingir seus objetivos egoístas. Ainda será possível sonhar Para as elites dominadoras, esta rebeldia, que e ter utopias em nossa sociedade atual? O MST é ameaça a elas, tem o seu remédio em mais nos responde a partir da pedagogia da mística, que dominação – na repressão feita em nome, in- fortalece os sujeitos em sua luta contra o dilúvio clusive, da liberdade e nos estabelecimentos neoliberal, a iluminação racionalista e as práticas da ordem e da paz social. Paz social que, no fundo, não é outra senão a paz privada dos fideístas de alienação religiosa. dominadores... As massas populares não têm que, autenticamente, “ad-mirar” o mundo, de- nunciá-lo, questioná-lo, transformá-lo para a As místicas no MST: Aphantésis com o Deus sua humanização, mas adaptar-se à realidade que serve ao dominador. (FREIRE, 1987, p. da Vida 66; p. 123). A necessidade de sonhar é intrínseca a cada um de nós. E não é só isso: é também o desejo Nessa visão distorcida da educação não de nos suplantar, de nos superar. O humano é existe saber, criatividade e nem transformação, um ser que não cabe em si mesmo. Daí que Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 115
  • 8. Antônio Marcos de Sousa SILVA a experiência mais profunda do ser humano é teológicas, quer sejam socialistas”, e quer sejam aquela que o arranca de si mesmo em direção capitalistas. Daí o ser humano ser coletivo e indi- a um outro – a experiência do amor. A isso a vidual, individual e coletivo. tradição cristã chama “mística”. (FREI BETTO, 2001, p. 115-116). Por isso, Mounier (1976) é contrário a todas as formas de niilismos e ceticismos que rondavam Passamos agora a discutir sobre a místi- as mentes da primeira metade do século XX. É um ca no MST enquanto ação que ensina e fortale- crítico feroz do capitalismo que impulsiona a cultura ce os atores na luta de cada dia. As místicas do do individualismo, bem como do dogmatismo mar- MST são um verdadeiro aphantésis com o Deus xista que percebe o Homem como ser coletivista. da Vida, segundo os próprios militantes do movi- Tal crítica procede devido a seu pensamento filosó- mento. Aphantésis em grego significa encontro, fico mais amplo em relação ao dualismo existente estar junto, encontrar-se numa mesma comunhão. na história desde Platão até os existencialismos do Daí a associação entre o encontro dos sem-terra, século XX, que vai ser combatido pela revolução camponeses em luta, em marcha, em resistência personalista e comunitária e, para Gabriel Marcel, constante numa verdadeira comunhão com aquele pela revolução da esperança num mundo desigual que chamam carinhosamente de Deus da Vida e e inseguro para os pobres. Mãe da Vida. Com isso, podemos perceber que o Esse pensamento do existencialismo cristão próprio sujeito coletivo realiza uma dialogia entre foi fundamental para a realização das transforma- o imanente e o transcendente, entre o sagrado e ções na Igreja Católica no século XX, que passa o profano, entre Deus e o povo. a assumir com mais fidelidade a gênese das pri- Nesse sentido, o MST rompe com duas tradi- meiras comunidades cristãs. Com isso, tivemos o ções que realizam um dualismo entre as categorias chamado aggiornamento eclesial, que possibili- acima citadas. Na própria tradição cristã agostinia- tou a abertura da Igreja ao mundo por meio da re- na, na reforma protestante e no calvinismo temos o alização do Concílio Ecumênico Vaticano II e das dualismo entre mundo imanente e mundo transcen- Conferências Episcopais Latino-Americanas, que dente. Para as referidas tradições, o estado ima- fundamentaram o surgimento de um movimento nente do corpo, da carne, das mazelas humanas interno denominado Teologia da Libertação. Seus jamais poderá se associar ao estado transcendente maiores expoentes são os teólogos Leonardo Boff, de Deus, do divino, do santo. Daí nosso interes- no Brasil, e Gustavo Gutiérrez, no Peru. se em desvendar como o MST consegue reunir Em 1979, a Conferência Episcopal Latino- aquilo que, historicamente, se encontra separado Americana de Puebla já mencionava o rosto dos pela tradição histórica da religião cristã que se faz excluídos da sociedade da América Latina e que presente no imaginário social brasileiro. foram reafirmados pelo Documento de Santo Do- Essa associação pode ser explicada pela mingo (SD, 178), em 1992. Os rostos dos excluídos influência que o MST teve por parte da Teologia foram assim denominados por serem da Libertação impulsionada na América Latina (...) rostos desfigurados pela fome; rostos de- nos anos 70 do século XX, que tem suas raízes siludidos por promessas políticas não cum- no chamado existencialismo cristão europeu, com pridas; rostos humilhados de quem têm sua filósofos como Emmanuel Mounier (1967; 1976) e cultura desprezada; rostos aterrorizados pela Gabriel Marcel (1966). Mounier é o filósofo da Pes- violência diária e indiscriminada; rostos angus- soa Humana. Sua obra mais conhecida é o Perso- tiados dos menores abandonados; rostos das nalismo. Ao contrário do senso comum atribuído à mulheres desrespeitadas e humilhadas; rostos categoria personalismo, Mounier a entende como cansados dos migrantes sem acolhida digna; rostos dos idosos que não têm o mínimo para valorização da pessoa humana em todos os senti- viver dignamente. E a lista poderia ser maior, dos. Ele (1976, p. 15) afirma categoricamente que de tanto que sofre nosso povo. “a pessoa é antes de mais nada o não, a recusa de aderir, a possibilidade de se opor, de duvidar, O rosto imanente e bondoso de Deus está, de resistir à vertigem mental e correlativamente a certamente, no rosto humano dos pobres e opri- todas as formas de afirmação coletiva quer sejam midos por um sistema feroz alicerçado na lógica 116 Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
  • 9. Pedagogia da mística: as experiências do MST do capital. Daí a questão fundamental para com- sazonal. Todo este bloco social e histórico dos preendermos a Teologia da Libertação, que, em oprimidos constitui o pobre como fenômeno nossa concepção, se faz presente na Mística Li- social. (BOFF, 2001, p. 15). bertadora do MST. Como ser gente, pessoa huma- na, num mundo de miseráveis? É nesse cenário Trata-se de uma posição próxima da con- que o MST recebe a influência da Teologia da Li- cepção dada por Claus Offe (1984), ao criticar as bertação, como o próprio dirigente do movimento, estruturas do capitalismo. Segundo Offe, a indus- Gilmar Mauro, destaca por meio das palavras da trialização capitalista realizou processos de de- socióloga Maria da Glória Gohn: sorganização e de mobilização da força do traba- lho (trabalhadores) utilizando-se de determinados Sabemos que o movimento surgiu da articula- mecanismos que produziram o efeito comum de ção de idéias da esquerda marxista com pres- destruição “das condições de utilização da força supostos cristãos da Teologia da Libertação. de trabalho”, o que atingiu de cheio determinados Segundo Gilmar Mauro, um dos principais di- rigentes a nível nacional do MST, o movimen- indivíduos na sociedade. Esses indivíduos atingi- to teria trazido três “coisas boas” da Igreja. A dos não conseguem mais, por meio da força do primeira: trabalhar com a simbologia, a mística trabalho, as suas condições materiais de subsis- de trazer o futuro para o presente. A segunda: tência. Trata-se de um velho problema já apontado o vínculo com as bases, o povo propriamente no século XIX por Marx e Engels, sobre a questão dito. E a terceira: o espírito missionário. “Nós da oferta e da procura. nos vemos como sacerdotes que estão cum- prindo uma missão política”. (GOHN, 2000, p. A oferta para que haja mais força de traba- 116). lho é bem inferior à procura dos indivíduos que se encontram à margem. Diante desse argumento, A mística no MST possui exatamente essa Offe faz a distinção entre proletarização passiva dimensão de fortalecer seus atores na caminhada e proletarização ativa. A proletarização passiva de luta social. Mas a questão é muito mais profun- se evidencia a partir dessa destruição das formas da. Por isso, na fala de Gilmar Mauro o que nos de trabalho e de subsistência e faz parte do pro- interessa é a primeira “coisa boa” da Igreja: exa- cesso de industrialização. Trata-se de uma forma tamente a simbologia da mística libertadora. Para de “desapropriação”, pois é negada a determi- compreendermos a pedagogia da mística existente nados indivíduos a utilização da força de trabalho no MST na atual fase, precisamos recorrer a alguns para sua subsistência. Contudo, há uma transito- conceitos próprios da Teologia da Libertação. riedade permanente entre aqueles que se encon- tram na condição de proletarização passiva para a A mística é antes de tudo iracúndia, indig- proletarização ativa, já que constantemente estão nação com a realidade desumana promovida pela oferecendo sua força de trabalho no mercado. lógica do capital. Portanto, a mística torna-se um gesto de protesto ao estabelecido, à ordem ali- Nesse sentido, a Teologia da Libertação cerçada na economia, na globalização, no indivi- pode ser apresentada como uma ação que liberta dualismo, na competição, na minimização do ser na ação, por isso é contrária a toda forma de as- humano e em sua coisificação e também, mesmo sistencialismo e de reformismos. Além disso, um que não pareça, no racionalismo burguês. segundo passo da Teologia da Libertação é a não separação dualista entre fé e razão, pois se as se- A teologia da libertação utiliza a categoria pararmos, a sociedade, ou os grupos sociais, ou o pobre. Mas quem são os pobres para os teólogos próprio indivíduo tendem a cair no fideísmo ou no da libertação? O teólogo Clodovis Boff nos res- racionalismo. Por isso, a reflexão da fé acontece ponde: por meio da prática libertadora. (...) são os operários explorados dentro do sis- Toda a mística realizada pelo MST é uma es- tema capitalista; são os subempregados, os pécie de clamor dos pobres. Clamor não no sentido marginalizados do sistema produtivo – exér- de mendicância ou aderência ao sistema, mas de cito de reserva sempre à mão para substituir oposição ao estabelecido, ao pronto. É o manifesto os empregados – são os peões e posseiros do campo, bóias-frias, como mão de mão-de-obra onde os sujeitos históricos são os pobres. Clamor Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 117
  • 10. Antônio Marcos de Sousa SILVA significa compreender que existem necessidades completo da tradição marxista ortodoxa e do ca- vitais não satisfeitas aos seres humanos. O que pitalismo. Na verdade, assim como a Teologia da importa é a aprendizagem da escuta do clamor Libertação, o MST utiliza o marxismo como media- dos pobres. Segundo Assmann (1990: p. 13), “a ção sociológica para compreender a sociedade e estrutura da escuta da fé (e também das opções o próprio homem, mas sem dogmatizá-la. políticas) e a organização da esperança, pessoal A mística no MST acontece para fortalecer as e coletiva, embasam-se, mais que tudo, em for- pessoas na caminhada, para fazer todos se sen- mas testemunhais de comunicação”. A mística no tirem bem na participação. A marcha é uma mís- MST é uma forma testemunhal de comunicação, tica do MST. É uma simbologia que caracteriza o de dialogia. povo em movimento. Só participa da marcha quem A pedagogia da mística no MST é um espaço está bem consigo mesmo, com o outro (a comuni- de aprendizagem da escuta ao clamor que brota dade dos marcheiros) e com Deus, que caminha do silêncio de muitos, excluídos de ser gente, de junto com o povo sofrido. A fase do acampamento serem pessoas humanas dentro desse sistema demonstra também um período de mística liber- voraz baseado nas relações de produção capita- tadora. Para o sem-terra do MST é um momento listas. Para o MST, existe uma realidade clamoro- de sacrifício, de renúncia, mas de caminhada em sa, realidade de seres negados em sua existência, busca da Páscoa (outra simbologia cristã). Da cruz que são os pobres, aqueles que escondem atrás à Páscoa. Para se alcançar a Páscoa precisa-se do clamor desejado um profundo silêncio, sufoca- carregar a cruz, mas a cruz já é Páscoa. Ambas do e destruído. Pobres são os que des-vivem sua estão intrinsecamente ligadas. Cruz na Páscoa, existência, como nos deixa perceber o educador Páscoa na Cruz. Hugo Assmann (1990, p. 15) em seu questiona- Nesse sentido, discordamos de Fernandes mento: “(...) o clamor dos pobres não reclama de (1999), que vê na mística uma espécie de “alimen- nós uma abertura muito mais radical à transcen- to ideológico”. Não se pode reduzir a mística a um dência no interior da história, capaz de deixar-se fator ideológico do movimento. Ela é, antes de tudo, desafiar pela alteridade do pobre mergulhado em alimento da unidade, da esperança, da solidarieda- seu silêncio?” de, da compaixão com os outros sem-terra, sem- O tema clamor dos pobres está intrinseca- casas, sem-empregos, sem humanidade. mente ligado a outros, como bem atesta Hugo As- A mística só tem sentido se faz parte da tua smann: “(...) opção pelos pobres, os pobres como vida. Não podemos ter momentos exclusivos “lugar teológico”, o potencial evangelizador dos para ela, como os Congressos ou Encontros pobres, a experiência de Deus na e desde a fé dos Nacionais ou Estaduais. Temos de praticá-la pobres, o Deus dos pobres, a Igreja dos pobres, e em todos os eventos que aglutinem pesso- outros temas afins...” (ASSMANN, 1990, p. 32). E as, já que é uma forma de manifestação co- para nossa concepção, o clamor dos pobres está li- letiva de um sentimento. Queremos que esse gado à pedagogia da mística. Jung Mo Sung (1989) sentimento aflore em direção a um ideal, que diz que se trata de uma luta constante contra a ido- não seja apenas uma obrigação. Ninguém se latria do capital e a morte dos pobres. Para isso, emociona porque recebe ordem para se emo- torna-se necessário estabelecer outro paradigma, cionar; se emociona porque foi motivado em função de alguma coisa. Também não é uma que apresente a vida aos pobres a partir da fé num distração metafísica ou idealista, em que todos Deus que se torna parceiro da causa libertadora. iremos juntos para o paraíso. (STÉDILE, 1999, É o aphantésis entre o sagrado que se faz profano p. 130-131). e o profano que se sacraliza. Segundo João Pedro Stédile (1999), a mís- Para o MST não existe contradição entre tica serve ao movimento que se organiza na luta religiosidade e pensamento ideológico marxista. social para compor a unidade de seus militantes. É possível ir à missa e ser revolucionário. Segun- Ele deixa claro que nem a esquerda nem a direita do Stédile (1999: p. 131), “não existe contradição possuem essa dimensão da mística, o que deter- nenhuma nisso. Ao contrário: a nossa base usa a mina nossa tese de que o MST se distingue por fé religiosa que tem para alimentar a sua luta, que 118 Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>
  • 11. Pedagogia da mística: as experiências do MST é uma luta de esquerda, que é uma luta contra o Este é o nosso país, esta é a nossa bandeira Estado e contra o capital”. Mas se a mística é uma / é por amor a esta Pátria Brasil que a gente forma simbólica de sentir-se bem na luta, quais segue em fileira... Queremos que abrace esta são os símbolos que se caracterizam enquanto terra por ela quem sente paixão, quem põe com carinho a semente pra alimentar a Nação. mística para o MST? O próprio João Pedro Stédi- A ordem é ninguém passar fome, progresso é le nos responde: o povo feliz. A Reforma agrária é volta do agri- cultor à raiz... (Zé Pinto, cantor popular do A bandeira, o hino, as palavras de ordem, as MST). ferramentas de trabalho, os frutos do trabalho no campo etc. Eles aparecem, também, de muitas formas: no uso do boné, nas faixas, nas músicas etc. As músicas são um símbolo muito Considerações Finais importante. O próprio Jornal Sem Terra para o MST, já é mais do que um meio de comuni- Como dizia o poeta Gonzaguinha, a mística cação. É um símbolo. O militante se identifica, é isto: tem afinidade, gosta dele. (STÉDILE, 1999, p. 132). quando a atitude de viver é uma extensão do coração, é muito mais que um prazer, é toda carga de emoção, que era um encontro com o sonho, que só pintava no Na mística do MST, o símbolo materializa horizonte, o ideal de luta promovida pelo movimento. Numa e de repente diz presente, sorri e beija a fronte, discussão interessante acerca das pedagogias do e abraça e arrebata a gente, movimento, Gentili e McCowan (2003) reafirmam (...) Não há palavra que explique, a capacidade que o MST tem de criar novas pe- Ah! Eu me ofereço esse momento, que não tem paga e nem tem preço, dagogias. Pena que dentre elas, os autores aci- essa magia eu já conheço... ma não apresentaram a pedagogia da mística. é bom dizer: viver valeu! Amar valeu! No nosso entendimento, todas as pedagogias do movimento - pedagogia da luta social, pedagogia Para finalizar esta reflexão afirmamos que a da organização coletiva, pedagogia da terra, pe- mística no MST e todas suas ações pedagógicas dagogia do trabalho e da produção, pedagogia que tornam os sem-terra sujeitos coletivos podem da cultura, pedagogia da escolha, pedagogia da ser análogas ao que afirmavam Marx e Engels em história e pedagogia da alternância - apresentam 1848, a saber: em seu interior a pedagogia da mística. Gentili e Um fantasma ronda a Europa – o fantasma do McCowan (2003, p. 127) destacam a existência da comunismo. Para persegui-lo se unem numa pedagogia da cultura e dentro dela a pedagogia do santa aliança todas as potências da velha Eu- gesto, a pedagogia do símbolo e a pedagogia do ropa: o papa e o czar, Guizot e Metternich, os exemplo. Concordamos, mas queremos ampliar radicais da França e os policiais da Alemanha. essa concepção; e afirmamos que, nas experiên- (MARX e ENGELS, 2001, p. 49). cias do MST, a pedagogia da mística se encontra presente em todas as outras pedagogias constru- Poderíamos dizer hoje que um fantasma ron- ídas por esse Movimento. da o Brasil – o fantasma do MST. Para persegui-lo se unem numa santa aliança todas as potências Dessa forma, acreditamos que os gestos, as do velho coronelismo rural: os latifundiários, gran- danças, as rezas, os clamores, as marchas, a ban- des fazendeiros, empresários do agronegócio e deira, o hino, as músicas e canções do movimento, do hidronegócio, a UDR, a bancada ruralista no os encantos e cantos, enfim, todos os símbolos do Congresso Nacional e a Mídia defensora dos ide- MST convergem para a construção de uma verda- ais elitistas, representada pela revista Veja e pe- deira ação pedagógica, que se estabelece numa las Organizações Globo. Mas se esquecem de um dimensão de afrontamento ao sistema capitalista fator fundamental presente no MST e em todos os e suas produções ideológicas. Daí acreditarmos movimentos sociais do campo: Deus está com os que a canção possui realmente a mística da liber- Sem-Terra na luta e a luta se faz com os Sem-Terra. tação: É nesta esperança que o MST continua construin- Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao> 119
  • 12. Antônio Marcos de Sousa SILVA do caminhos de cidadanização popular contra a ci- CARVALHO, José Jorge de. Características do fenô- dadanização burguesa, a partir de uma sociedade meno religioso na sociedade contemporânea. Bra- baseada nos valores comunitários. sília: UnB, 1991. Coleção Cadernos de Antropologia, n.114. Sem dúvida, reconhecemos a existência do CASALDÁLIGA, Pedro. Nossa espiritualidade. São caráter educativo na pedagogia da mística viven- Paulo: Paulus, 1998. ciada pelo MST no Brasil e entendemos que ela é um instrumento essencial na formação política CASALDÁLIGA, Pedro; VÍGIL, José Maria. Espiritua- dos atores sociais que são seus próprios militan- lidade da libertação. Petrópolis: Vozes, 1995. tes. A mística se apresenta enquanto celebração CELAM. Conclusões da Conferência de Santo Do- que possui uma intencionalidade consciente, o que mingo. São Paulo: Paulinas, 1992. permite um processo que mobiliza, educa e politiza CERIOLI, Paulo Ricardo; CALDART, Roseli. Como os sujeitos em ação. Isso concretiza duas questões fazemos a escola de educação fundamental.. São fundamentais ao movimento: a identidade coletivo- Paulo: MST, 1999. Caderno de Educação n. 9 cultural e a unidade na diversidade ideológica dos DUTERVIL, Camila. Mística sem terra: o co-mover da atores sociais. Por isso, Cerioli e Caldart (1999, formação em movimento. Monografia de Graduação p. 23) não hesitaram em afirmar que a “a mística do Departamento de Antropologia da Universidade de é a alma de um povo. A mística do MST é a alma Brasília, UnB, 2005. do sujeito coletivo Sem Terra que se revela como FREI BETTO. Cotidiano e mistério. São Paulo: Olho uma paixão, que nos ajuda a ‘sacudir a poeira e d’água, 2001. dar a volta por cima’. (...) A mística é a alma da identidade Sem Terra”. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Ja- neiro: Paz e Terra, 1987. Assim, não temos dúvida de que a mística é GENTILI, Pablo; McCOWAN, Tristan. Reinventar a celebrada para se buscar o vinho novo nos odres escola pública: política educacional para um novo velhos do sistema capitalista no qual estamos Brasil. Petrópolis: Vozes, 2003. emersos. Daí a profunda radicalidade pedagógica da mística enquanto ação que protagoniza seus GOHN, Maria da Glória. Mídia, terceiro setor e MST: atores sociais a anunciar um novo modo de vida, impactos sobre o futuro das cidades e do campo. Pe- trópolis: Vozes, 2000. ou seja, “(...) em vez de anunciar a desordem pro- vocada pela exclusão como a ordem estabelecida, ______. Educação não-formal e cultura política. 2. e educar para a domesticação, é possível subverter ed. São Paulo: Cortez, 2001. a desordem e reinventar a ordem, a partir de va- JUNG MO SUNG. A idolatria do capital e a morte lores verdadeira e radicalmente humanistas, que dos pobres. São Paulo: Edições Paulinas, 1989. tenham a vida como um bem muito mais impor- MARCEL, Gabriel. Revolução da esperança. São tante do que qualquer propriedade”. (CERIOLI; Paulo: José Olympio, 1966. CALDART, 1999, p. 7). MARX, K.; ENGELS, F. O manifesto do partido co- munista. Rio de Janeiro: Garamond, 2001. MOUNIER, Emmanuel. O Personalismo. 4. ed. Lis- Referências boa: Martins Fontes, 1976. ______. Manifesto ao serviço do personalismo. Lis- ASSMANN, Hugo. Clamor dos pobres e racionalida- boa: Livraria Morais, 1967. de econômica. São Paulo: Edições Paulinas, 1990. NETO, Luiz Bezerra. Sem terra: aprende e ensina. BOFF, Clodovis. Como fazer teologia da libertação. Campinas: Autores Associados, 1999. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2001. OFFE, Claus; LENHARDT, Gero. Problemas estru- BOFF, Leonardo. O destino do homem e do mundo. turais do estado capitalista. Rio de Janeiro: Tempo 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1998. Brasileiro, 1984. BOGO, Ademar. A vez dos valores.. São Paulo: MST, STÉDILE, João Pedro; FERNANDES, Bernardo Man- 1998. Caderno de Formação n. 26 çano. Brava gente: a trajetória do MST e a luta pela terra no Brasil. São Paulo: Perseu Abramo, 1999. 120 Emancipação, Ponta Grossa, 8(2): 109-120, 2008. Disponível em <http://www.uepg.br/emancipacao>