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Universidade Estadual de Londrina - UEL
Auditório do CESA - Centro de Estudos Sociais Aplicados.
Rodovia Celso Garcia Cid/PR 445, KM 380 - Campus
Universitário, Londrina - PR,
15/09/2011, das 8:00h às 12:00 e das 13:30 às 18h.
Prof. MsC. Claudio Pereira Sampaio
Profa. Dra. Suzana Barreto Martins
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Fernando Cacciolari Menezes
2176-4093
*O CONTEÚDO DOS ARTIGOS É DE INTEIRA E
EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES.
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 2
Moda e Sustentabilidade
Design de produto, gráfico,
inovação e sustentabilidade
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Moda e artesanato parceria possível para inovação
Profa. Dra. Ana Mery Sehbe De Carli
Transformando resíduo em benefício social - Banco de Vestuário
Profa. Gilda Eluísa De Ross
Modelo produtivo sustentável: aproveitamento de retraços têxteis
na região de Londrina
Lílian Lago, Profa. MsC. Ana Luisa Boavista Lustosa Cavalcante
Sustentabilidade no campo de estágio: a utilização de retalhos de renda
e o “novo luxo”
Larissa Avanço de Souza, Profa. MsC. Lucimar de Fátima Bilmaia Emidio
O Jeans e o Design para o Meio Ambiente: alguns caminhos para a
sustentabilidade na moda
Mariana Dias de Almeida, Profa. Dra. Mônica Moura
Design Brasileiro Contemporâneo e a Sustentabilidade: algumas
vertentes
Profa. Dra. Mônica Moura, Profa. Dra. Cyntia Malaguti
Mesa de centro em bambu laminado colado e fibra de coco
Bruno Perazelli Farias Ramos, Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira,
Ivaldo D. Valarelli
Design Sustentável com o Bambu
Camila Kiyomi Gondo, Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira
Desenvolvimento de mobiliários de bambu laminado colado sob
conceitos de Ecodesign
Hugo Hissashi Hayashi Hisamatsu, Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira
Desenvolvimento de mobiliário em bambu laminado sob os conceitos
de ecodesign
Mariana Lourenço, Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira
Sumário
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
6
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101
106
112
117
125
137
143
Design solidário, extensão e geração de renda
Sabrina Antunes Saboya, Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira
Vinicultura sustentável: Desenvolvendo objetos com resíduos de
videira
Desiree Fernanda Nascimento Rodrigues, Profa. Dra. Cleuza Bittencourt
Ribas Fornasier
Aspectos de sustentabilidade em embalagens de exportação
Prof. MsC. Claudio Pereira Sampaio, Esp. Aline Horie, Esp. Andressa Lohr
Lavanderia Ecotêxtil: proposta de sistema produto-serviço para
cuidado com as roupas em um campus universitário
Flora Moura Chaves, Timeni Andrade Gonçalves Pontes, Prof. MsC.
Claudio Pereira Sampaio, Profa. Dra. Suzana Barreto Martins
Energia gerada pelo próprio usuário: possível aplicação baseada no
FESS
Fabiano Burgo, Prof. Dr. Dalton Razera
As possíveis contribuições da antropologia para o desenvolvimento
de bens e serviços para a sustentabilidade
Esp. Mariana França Ordacowski, Prof. MsC. Claudio Pereira Sampaio
A colaboração no design de abrigos de emergência: relato de uma
pesquisa-ação
Carolina Daros, Ivana Marques da Rosa, Prof. Dr. Aguinaldo dos Santos,
Prof. Dr. Adriano Heemann
Uma experiência no ensino de design de sistemas orientados à
sustentabilidade
Profa. MsC. Jucelia S. Giacomini da Silva
Sumário
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
Design de produto, gráfico,
inovação e sustentabilidade
Novos caminhos do design
para a sustentabilidade
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Moda e Sustentabilidade
http://www.centerfabril.com.br/index.php/algodao-cru-2.html
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
6
Moda e artesanato parceria possível para inovação
Profa. Dra. Ana Mery Sehbe De Carli
Universidade de Caxias do Sul - UCS
sdecarli@terra.com.br
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 7
Introdução
	 O design de moda atual apresenta diversas parcerias
entre designers, artesãos e indústria, que têm apontado para
soluções inovadoras. Dentre elas podem ser citadas:
	 - Myrian Melo e Redley: a designer e artesã Myrian
Melo, de Minas Gerais, desenvolve criações de patchwork, quilt
e bordados para a moda; dá aulas e pesquisa sobre o tema,
desenvolvendo um trabalho autoral, que lhe abriu as portas
para a prestação de serviço de consultoria a vários segmentos.
A marca Redley, por sua vez, surgiu em 1985 com a primeira
coleção masculina e com o lançamento do clássico tênis-iate. Em
pouco mais de 5 anos, a Redley firmou seu estilo representando,
de forma autêntica e inovadora, o desejo de jovens na década
de 90. Hoje, a cultura de praia, as paisagens naturais, os esportes,
a praticidade e o conforto são elementos que inspiram a marca.
Em uma parceria acertada há algumas estações, Mello elabora
tecidos aplicando a técnica de patchwork e quilt, e a marca Redley
faz a modelagem, corta e monta as peças no tecido trabalhado,
com excelente resultado no quesito inovação.
	 - Helen Rödel e 2nd Floor: a designer e artesã Helen
Rödel destaca-se entre os designers de moda de sua geração,
pela utilização de técnicas manuais, como o crochê e o tricô.
Na semana de moda islandesa (2009), a estilista apresentou
uma coleção com a marca Rödel, iniciando sua caminhada com
moda autoral. Além de produzir suas próprias peças, Rödel tem
parceria com a 2nd Floor, marca jovem da Ellus. Na coleção
de inverno 2010 da 2nd Floor, para a São Paulo Fashion Week,
Rödel foi chamada para desenvolver um acessório de cabeça
em crochê, daí surgiram cabeças esculturais de animais como
coruja, raposa, morcego. Todas as peças foram feitas com lãs
nobres, como alpaca, ovelha e fios suaves de mohair e angorá.
As peças foram estruturadas com maleáveis armações metálicas,
que deram forma e permitiram a construção tridimensional.
Da própria Rödel ouvimos a importância da interação entre o
artesanato e o design de moda para a criação de peças originais:
Penso que as técnicas manuais são o passado, e agora são
o futuro. São artes tradicionais e de infinitas possibilidades
para qual eu oferto a minha visão. Essa fantástica
combinação de uma agulha, fios, mãos e mente presente
me encanta sobremaneira e meu esforço em renovar a
técnica é, além de realização pessoal e crença, uma vontade
sincera de que a técnica se mantenha viva carregando
consigo a mudança dos tempos. (RÖDEL, 2010)
	 Hoje Rödel faz parte do rol de designers que trabalham
os novos valores para a moda e, no ínicio de 2011, fez sua estreia
no Dragão Fashion Brasil. (USEFASHION, 2011).
	 - Coopa-Roca: é um projeto que busca integrar técnicas
artesanais valiosas, das artesãs da Favela da Rocinha (RJ), aos
processos industriais. Tetê Leal (2007), coordenadora executiva
da Coopa-Roca, diz que o impulso para a criação da cooperativa
foi identificar que grande parte das mulheres da Rocinha eram
provenientes do Nordeste e dominavam preciosas técnicas
artesanais; a seguir foi reconhecer que na moda existe um
campo enorme de oportunidades para ampliar o impacto do
artesanato associado aos produtos industriais. A Coopa-Roca
tem, aproximadamente, cem cooperativadas e desenvolve
projetos em moda, design e arte, com parceiros como: Osklen,
M. Officer, Irmãos Campana e outros. (DE CARLI, 2009, p.77).
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
8
A produção artesanal da região da Serra gaúcha tem um
saber-fazer especializado e de conhecimento ancestral
valioso, porém é apegada ao costume, à repetição. Os
produtos que estão à venda nas feiras normalmente estão
ligados às atividades domésticas e, apesar do primoroso
trabalho, não recebem a devida valorização no preço de
venda. As carências importantes para o artesanato da
região são: atualização, atenção às tendências da moda,
parcerias com a indústria e informações que atendam às
necessidades do mercado. (2010a)
	 A Universidade pode ser a mediadora de encontros
entre a potencialidade do fazer artesanal e os valores afetivos e
emocionais desejados pelo consumidor dos produtos de moda
atuais. Os empresários também precisam ser sensibilizados.
	 Em Caxias do Sul, segundo dados da Prefeitura Municipal,
existem 2000 artesãos e mais de 15 associações que promovem
o artesanato e outros serviços manuais, e 85 clubes de mães
cadastrados na Associação de Clubes de Mães de Caxias do
Sul (ACMCS), conforme informação da presidente Marlene
Panassolo, em 23 de agosto de 2011. Os dados referentes ao
artesanato reforçam aqueles em relação às indústrias do setor
têxtil e do vestuário, pois ambos são significativos. Os municípios
que compõem o Polo de Moda da Serra Gaúcha: Caxias do Sul,
Farroupilha, Flores da Cunha, Guaporé, Nova Petrópolis e Carlos
Barbosa, são economicamente importantes na região; dados
contabilizam 879 empresas atuantes no setor, oportunizando 5.761
postos de trabalho; na sua maioria, são fabricantes de artigos de
vestuário. (MINISTERIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2008).
	 Os números acima e as interações possíveis entre
artesanato e empresas de moda representam um potencial a
ser explorado. Na agenda da sustentabilidade, que ultrapassa
fronteiras, a moda, a política e a sociedade constituem juntas
O potencial do contexto geográfico e social
	 Com base na constatação de parcerias bem-sucedidas,
entre designers, artesãos e indústria, e sabendo que a região
da Serra gaúcha tem um artesanato muito rico, graças à sua
colonização, na maior parte italiana e alemã, iniciou-se, em 2010,
um projeto de pesquisa na Universidade de Caxias do Sul, que
visa à aproximação entre as vertentes criativas do artesanato,
delineando inovações para a moda, agora mais à vontade para
explorar sua identidade e suas raízes.
	 Depois de um vasto período de supervalorização daquilo
que é estrangeiro, daquilo que é internacional no campo da
moda, o segmento têxtil da região da Serra gaúcha também volta
os olhos para o “seu quintal”, promovendo hibridizações entre
tramas manuais trazidas pelos imigrantes europeus e cultivadas
por seus descendentes e novidades e tecnologias globais da
moda. Na atual globalização é importante que as empresas
adquiram o hábito da autorreflexão, buscando a compreensão
da sua presença no mercado onde atuam, aprofundando e
entendendo sua identidade geográfica afim de explicitá-la. A
empresas precisam expressar o espírito do lugar, isto é o genius
loci, um caráter ou uma personalidade (MORACE, 2007,p.17). O
momento é propício para projetos inovadores contando com
a abertura das empresas e a atualização da cultura das tramas,
que permaneceu na maior parte inalterada em suas aplicações.
Em casa poderemos aproveitar a lição da “estratégia do colibri”,
metáfora que Morace (2007,p.19) usa para falar da polinização
criativa entre as culturas, que tem sido uma constante nas
dinâmicas sociais contemporâneas.
	 De Carli, argumenta a favor de ações conjuntas entre o
curso de Design de Moda e os artesãos, apontando para soluções
criativas para o artesanato e para a moda:
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 9
um berçário para a economia solidária, que, segundo França
Filho (2001), traduz-se por uma florescência de práticas
socioeconômicas, visando propor, a partir de iniciativas locais,
serviços de um novo tipo, designados sob o termo de “serviços
solidários”. Outrora, esses serviços eram produzidos no seio
da esfera doméstica e, mais recentemente, envolvem a questão
da mediação social nos bairros, e estão vinculados à ideia de
melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente local. Da
descrição dessas práticas e experiências surge o conceito de
economia solidária:
São iniciativas locais portadoras de um caráter novo
relativo ao mesmo tempo, ao seu modo de funcionamento
e a sua finalidade. Estas experiências reúnem usuários,
profissionais e voluntários, preocupados em articular
criação de emprego e reforço da coesão social, ou
geração de atividades econômicas com fins de produção
do chamado liame social (ou dos laços sociais), ou
simplesmente geração de atividades econômicas com
finalidades sociais. (FRANÇA FILHO, 2001)
	 Economia solidária e sustentabilidade social andam lado
a lado, e alguns trabalhos realizados no Brasil, em diferentes
regiões, mostram como essas parcerias podem dar certo.
A designer Heloisa Crocco (2010, p.75-79) relata objetivos,
princípios e metodologia do Projeto Piracema, que busca
a aproximação entre o design e o artesanato, por meio de
um conjunto de ações, como: seminários teóricos, trabalhos
práticos e vivências criativas, que envolvem designers, artesãos
e estudantes. O objetivo é instrumentalizá-los para uma troca
de saberes, trazendo para o design o conhecimento da tradição
e, para o artesanato, sua ampliação como atividade sustentável.
Crocco diz que as principais preocupações do projeto incluem
o aperfeiçoamento da qualidade da produção artesanal, a
permanência da tradição e a melhoria das condições sociais dos
artesãos, promovendo a inserção competitiva do artesanato no
mercado, proporcionando o desenvolvimento sustentável da
atividade artesanal, pelo fortalecimento dos pequenos negócios.
Oficina de protótipos: moda vestuário e moda casa
	 ReconhecendoapotencialidadedaregiãodaSerragaúcha,
em desenvolver um trabalho conjunto com a Universidade de
Caxias do Sul, empresas privadas, Poder Público (municipal e
estadual) e elencando experiências de sucesso no Brasil e no
mundo dos projetos de economia solidária, surgiu a Oficina de
Protótipos: Moda Vestuário e Moda Casa, em 2010. A intenção
do Pró-Moda, sigla que identifica o projeto, é promover oficinas
integrando artesãos, designers, professores e acadêmicos do
curso de Design de Moda da UCS, para a criação de produtos de
moda casa e moda vestuário com valor agregado do artesanato.
	 O bom andamento do projeto deve-se à união de vários
segmentos da sociedade, na execução das metas propostas.
O primeiro apoiador foi a Secretaria da Ciência, Inovação e
Desenvolvimento Tecnológico (SCT) - RS, que aprovou o projeto
e integralizou apoio financeiro significativo para a compra dos
equipamentos necessários à confecção dos produtos. Outros
apoiadores são: o Polo de Moda da Serra Gaúcha, que, além
de facilitar o contato direto com as empresas, permite o acesso
aos resíduos têxteis do Banco do Vestuário. A Fundação de
Assistência Social (FAS), a Coordenadoria da Mulher e a Secretaria
do Desenvolvimento Econômico do Trabalho e Ação Social
colaboram na divulgação do projeto, na seleção dos artesãos,
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
10
bem como no primeiro encontro dos artesãos para a sensibilização
da proposta e para o trabalho em equipe. O Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), por sua vez,
disponibiliza um consultor para palestras sobre o empreendedor
individual e sobre a formação de associações e cooperativas, que
fortificam e representam a especialidade de grupos. As empresas
privadas fornecem a matéria-prima para os protótipos e ainda
participam do encontro de teor prático entre artesãos e designers.
A meta é desenvolver de oito a quinze peças de moda vestuário
e, a mesma quantidade de protótipos de moda casa no final de
cada oficina.
	 O objetivo geral da oficina é testar novas práticas para a
produção de moda, as quais priorizem a sustentabilidade social
e a inclusão, com vistas ao desenvolvimento de metodologias
para projetos de economia solidária. Apresenta ainda objetivos
específicos que são: a) implantar oficinas experimentais que
agreguem artesanato a produtos industriais de moda; b) reutilizar
resíduos têxteis em produtos reciclados criativos, integrando
artesãos e costureiras ao mercado de trabalho; c) proporcionar
aos alunos possibilidades de criação e desenvolvimento de
produtos de moda frente aos novos valores de sustentabilidade
econômica, ambiental e social; d) registrar o desenvolvimento
das oficinas, formando bases de dados e informações para
publicação de artigos sobre economia criativa.
	 Em atenção aos objetivos, foram desenvolvidas, até a
presente data três oficinas, duas em 2010 e uma no primeiro
semestre de 2011. A metodologia de desenvolvimento
utilizada e testada em três oportunidades tem demonstrado ser
compatível com os objetivos a serem alcançados. São quatorze
encontros, de três a quatro horas cada um, que acontecem
duas vezes por semana, quando são trabalhados os assuntos de
caráter teórico como: identidade cultural da região, composição
e aprimoramento estético, empreendedorismo, trabalho em
equipe, associativismo e cooperativismo. Para as atividades
práticas de desenvolvimento de protótipos utilizam-se as
referências do capítulo Gestão do design, de Treptow (2003, p.
91 a 201) e as do capítulo Projeto de moda de Jones (2005,
p.166 a 182). As etapas são: pesquisa de tendência, estado
da arte do artesanato na moda, visita para reconhecimento
das técnicas artesanais dos imigrantes (museus e mostras),
pesquisa e escolha do tema de coleção, materiais, cores, estudo
das especialidades artesanais dos oficineiros e sua utilização
nas propostas de produto, quadro de coleção, execução e
apresentação dos resultados em mostra ou desfile.
	 É necessário lembrar que a relação com o artesão em
oficinas e cursos não comporta imposições. O clima de troca
e respeito mútuo, reconhecendo os valores de cada um, é
condição básica para a interação. Algumas melhorias foram
realizadas da primeira para a segunda oficina, e da segunda para
a terceira, como a limitação na linha de produtos, diminuição no
número de modelos, de tecidos e cores serem trabalhados por
coleção. Considerando que o aprendizado da modelagem não
é o foco da oficina, a dedicação se volta para as características
estético-formais advindas da possibilidade de misturar as
tramas artesanais, os bordados e as aplicações aos tecidos ou
às malhas da produção industrial.
	 O cronograma das oficinas está descrito no quadro 1. A
sequência planejada das aulas teóricas busca dar informações
e conhecimentos básicos para o desenvolvimento de coleção,
valorizar as técnicas milenares do artesanato, compartilhar
saberes, incentivar o trabalho em equipe e, a partir do oitavo
encontro, a equipe e os oficineiros trabalham concentrados na
execução dos os protótipos.
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 11
Encontro Atividade
1°
Seminário: Dinâmica de integração e motivação
da equipe, apresentações e expectativas. Mostra
dos trabalhos individuais. Ministrante: psicóloga e
assistente social da FAS.
2°
Seminário: História e novos rumos do artesanato:
crochê, macramé, tricô, aplicações decorativas.
Ministrantes: bolsistas
4°
Seminário: Cultura e identidade da região.
Ministrante: pesquisadora do curso de Design de
Moda
Visita ao Museu Municipal ou ao acervo Documenta
com foco nos artesanatos dos imigrantes.
Monitoria: guia do museu.
5°
Palestra–Associativismo,cooperativismo.Empreendedor
individual. Ministrante: consultor do SEBRAE
6°
Oficina de aprimoramento estético: cor, forma,
textura, relevo, composição, harmonia. Tema de
coleção. Ministrante: professora de Artes Visuais
7°
Estudo e definição: tema de coleção, grupos de trabalho,
artesanatos, propostas de criação individual, cartela de
cores, combinações, padronagens. Equipe: designer,
professoradocursodemoda, bolsistas,técnicadecostura.
8°
Estudo e definição: tipo de produto e moldelagem,
materiais, cores, mix de produtos. Exercício:
desenho de croquis, e definição do quadro de
coleção. Equipe identificada no 7º encontro.
9°
Modelagem e corte de protótipos: moda casa.
Análise das propostas individuais. Elaboração da
ficha técnica. Equipe identificada no 7º encontro.
10°
Fabricação de protótipos: Moda casa. Avaliação dos
modelos em desenvolvimento. Equipe identificada
no 7º encontro.
11°
Modelagem e corte de protótipos: Moda vestuário.
Análise das propostas individuais. Elaboração da
ficha técnica. Equipe identificada no 7º encontro.
12°
Fabricação de protótipos. Moda Vestuário. Ficha
técnica.Avaliaçãodosmodelosemdesenvolvimento.
Equipe identificada no 7º encontro.
13°
Reunião interna de feedback; Apresentação interna
da coleção moda vestuário e moda casa. Avaliação.
Equipe identificada no 7º encontro.
14°
Reunião de planejamento e organização da
apresentação das coleções de moda casa e moda
vestuário e definição da entrega dos certificados.
Equipe identificada no 7º encontro.
Análise de resultados
	 Terminada a oficina, é importante reunir os artesãos para
avaliação. Do ponto de vista dos oficineiros, as manifestações
foram positivas em quase todos os aspectos. As vantagens
ressaltadas foram a experiência do trabalho em equipe e a troca
de conhecimento entre os colegas, os professores e as bolsistas.
Os artesãos foram unânimes a respeito da importância das aulas
teóricas e apontaram que alguns encontros, como identidade
regional, aprimoramento estético e processo criativo, poderiam
ser prolongados. Reclamaram da falta de tempo para a aula de
custo e formação de preço.
	 É importante também a avaliação dos professores
envolvidos e das bolsistas, que salientaram questões que
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
12
precisamserequacionadascomo:anecessidadede umacostureira
pilotista, que domine todas as operações de montagem dos
protótipos; presença dos professores envolvidos na parte prática
da oficina no primeiro dia de aula para as apresentações. Os
professores concordam com as sugestões dos oficineiros quanto
à necessidade de mais tempo para criação, assim como para
aula de custo e formação de preços. Quanto ao planejamento
da coleção, será necessário diminuir tipos de matérias-primas,
número de cores, reduzindo consequentemente os aviamentos,
e privilegiando o artesanato agregado ao protótipo. O tema
de coleção deverá ser mais específico, para que a unidade da
coleção seja visível. Quanto aos instrumentos de especificação,
será necessário elaborar uma ficha técnica simplificada e de fácil
entendimento para o artesão.
	 Um problema que preocupou, na oficina desenvolvida
de outubro a dezembro de 2010 foi a evasão: iniciaram quinze
artesãos e concluíram sete. Creditamos a desistência, em primeiro
lugar, à época próxima do Natal, que é um período de trabalho
intenso para o artesão; em segundo lugar à dificuldade do
artesão para o trabalho em equipe, reafirmando seu hábito para o
trabalho individual. Por esse motivo, acreditamos que o encontro
com a psicóloga e assistente social possa ser dividido em dois
momentos: no início da oficina e depois de transcorridos cinco
encontros, quando podem aflorar dificuldades de relacionamento.
Para solucionar a questão da evasão, foram realizadas entrevistas
individuais no momento da inscrição dos artesãos para a
terceira oficina (maio, 2011), buscando o comprometimento dos
candidatos em iniciar e terminar o curso. O empenho da equipe
do projeto em aprimorar a gestão da Oficina de protótipos é
visível tanto nas reuniões sistemáticas de avaliação, como nas
medidas corretivas que são prontamente adotadas.
	 A apresentação para o público da coleção, em desfile
ou mostra, que ocorre após o encerramento da oficina, é um
momento muito importante, pois eleva a autoestima dos
artesãos. Os produtos são o resultado do esforço individual e
coletivo. Na primeira oficina o desfile foi realizado no Zarabatana
Café no Centro de Cultura Municipal Dr. Henrique Ordovás; o
segundo desfile aconteceu na Feria de Natal do Artesão Caxiense,
no Largo da Estação, junto a Secretaria de Cultura, e o terceiro
deverá acontecer no final de setembro. A entrega de certificados
também ocorre em evento especial no termino das oficinas.
	 Os resultados que atendem aos objetivos acima citados
foram parcialmente atingidos. O artesanato foi devidamente
valorizado como detalhe nos produtos de moda; resíduos
têxteis foram utilizados em alguns protótipos; os bolsistas
tiveram a oportunidade de crescimento acadêmico, profissional
e pessoal na participação em congressos, no desenvolvimento
das oficinas e na compreensão das relações de trabalho; relatos
de caso foram apresentados em eventos de moda como no
Colóquio de Moda de 2009 e 2010, e no IV Simpósio Nacional
de Moda e Tecnologia de 2011, e na revista eletrônica Redige,
do Senai Cetiqt/RJ, dando publicidade à Oficina de protótipos
de moda, como iniciativa de economia criativa.
	 As principais lições aprendidas foram: troca de
habilidades artesanais, troca de conhecimento e experiência,
enriquecimento pessoal e vivência do trabalho em equipe.
	 Pretende-se, até o encerramento do projeto em junho
de 2012, realizar mais duas oficinas.
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 13
Referências
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em: <www.usefahion.com.br>. categoria noticias nº 95744.
Entrevista: Helen Rödel, estilista. Acesso em: 18 abr. 2011.
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
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Transformando resíduo em benefício social
Banco de Vestuário
Profa. Gilda Eluísa De Ross
Universidade de Caixias do Sul - UCS
gerrossi@ucs.br / gercriacoes@yahoo.com.br
Resumo:
O Banco de Vestuário é parte integrante do Projeto dos Bancos
Sociais, instituído e coordenado pelo Conselho de Cidadania
da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul
(Fiergs). Com o propósito de TRANSFORMAR DESPERDÍCIO
EM BENEFÍCIO SOCIAL, o Banco de Vestuário foi criado com a
missão de identificar e recolher excedentes industriais: retalhos,
malhas e resíduos em geral e repassá-los principalmente a
Clubes de Mães, Grupos de Terceira Idade, Associações de
Bairros, Igrejas, Centros Comunitários, que já mantenham
serviços de corte e costura para suas comunidades. A sobra
de produção poderá então suprir a falta de agasalhos, roupas
de cama, colchas, cobertores, artesanatos e outros. A realidade
social que teremos daqui a algum tempo depende apenas do
que estamos fazendo hoje. Por isso, o Banco de Vestuário não
é uma ação isolada, mas uma estrutura organizada e preparada
para durar e fazer parte do nosso dia a dia.
Palavras-chave: Design sustentável, Ambiente social,
Concepção de artefatos.
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Introdução
	 A indústria têxtil e de confecções do Rio Grande do Sul é
formada por um conjunto de 9.384 empresas que geram 31.963
mil empregos no estado, segundo dados da Rais/Caged do MTE
para o ano de 2007 e faturam cerca de R$ 1,2 bilhão anualmente.
	 A cidade de Caxias do Sul, em termos de produção têxtil,
possui uma história que atravessa muitas décadas. Iniciando com
os imigrantes italianos que aqui começaram a vida ainda no final do
séc. XIX, tornando-se ainda mais expressiva no séc. XX. A indústria
de confecção, da produção artesanal, passou para a industrial,
organizando processos e respeitando os conceitos de qualidade
e exigência de produtos que pudessem ter o reconhecimento
nacional, seguindo assim a evolução de mercado.
	 Nas últimas décadas, o processo de industrialização e o
avanço tecnológico produziram, além de benefícios à sociedade,
efeitos colaterais, tais como: concentração de riquezas, desemprego,
alto nível de consumo de recursos naturais, grande produção de
resíduos, geralmente com destinação inadequada. Esses resíduos
constituem fonte de poluição e grande risco à saúde da população.
	 Qualentãoamelhorformadepreservaranaturezaeaomesmo
tempo aproveitar os resíduos aproveitáveis da indústria do vestuário?
	 Como consequência, foi criado o Banco de Vestuário, que
atuará como forma de preservação do meio ambiente e geração
de emprego e renda.
Desenvolvimento
	 A história da imigração é normalmente contada pelo viés da
agricultura, especialmente pelos parreirais, pela uva e pelo vinho, ou
da metalurgia, pela lamparina, pela caneca, pela enxada, enfim, pela
transformação do ferro em utensílios domésticos em ferramentas
para o trabalho. Se nossos imigrantes precisavam cultivar a terra
para produzir alimentos, necessitavam tanto quanto vestir-se.
	 Para resgatar um pouco nossa história, faz-se necessário
lembrar, mesmo que rapidamente, a fundação do primeiro
empreendimento fabril em1898, em nosso, hoje, Bairro
Galópolis a Cooperativa Tevere quando um grupo de operários
italianos, da região de Schio, em represália por uma greve teve
que escolher entre a prisão ou a partida para o Brasil. A escolha
recaiu no Brasil e aqui iniciaram a “Cooperativa Tevere”, anos
mais tarde adquirida por Hércules Galo, quando foram edificadas
construções nos moldes das vilas operárias da Inglaterra.
Hoje, após ser adquirida em épocas diferentes, por mais duas
empresas, em junho de 1999 retornou a forma jurídica inicial,
isto é, voltou a pertencer a um grupo de operários com o nome
de Cooperativa Textil Galópolis Ltda (Cootegal).
	 Matteo Gianella veio para Caxias do Sul por convite de
Hércules Galó e, aqui, após casar com Ermelinda Viero, realizou
seu sonho e fundou o Lanifício Gianella (1920). Era auxiliado
pela esposa que tingia e bordava as peças (carona e bacheiros)
comercializadas no armazém de Abramo Eberle.
	 A partir do desenvolvimento da cidade e região, cada
vez mais se torna presente a necessidade de gerenciar resíduos
gerados pela indústria. Nesse sentido, não é outro o objetivo do
projeto do que coletar resíduos da indústria têxtil e de confecção,
dando um encaminhamento adequado e de reaproveitamento
do mesmo e, como consequência, processar e produzir
produtos de alto valor agregado, contribuindo sobremaneira
para a inclusão social de classes menos favorecidas e na difusão
de conhecimentos capazes de contribuir para a capacitação de
mão de obra qualificada para o setor têxtil.
	 Aideiadequesepodeviverbemconsumindomenosrecursos,
e gerando um sentido de comunidade, se opõe completamente
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ao modelo que até agora tinha prevalecido na sociedade industrial.
Atualmente, sabe-se que nossos recursos são finitos e que devemos
prestar maior atenção ao tratamento de nossos resíduos.
	 Ante a crescente evidência dos problemas que gera nossa
forma de vida e produção atuais, a sociedade precisa repensar
seu modo de viver, redefinindo a arte de reinventar.
	 A roupa que foi moda em outra época é o meio perfeito
para criar uma nova peça. A gestão integrada de design pode
organizar uma confecção artesanal para levá-la à autogestão, em
comunidades carentes e, muitas vezes, sem instrução.
	 Os resíduos têxteis fazem parte do material que pode ser
reutilizado de diversas formas, como meio de gerar renda e, ao
mesmo tempo, preservar o meio ambiente.
	 ÉcomessefocoquesurgeoBancodeVestuário,omaisnovo
desafio social do município, que está em fase de desenvolvimento.
	 A ideia é transformar desperdícios gerados pelos setores
industriais, comerciais e de serviços em benefício social, promover
a sustentabilidade social e a conscientização ambiental, mediante
da correta separação de resíduos, apoiar o desenvolvimento de
recursos humanos com qualificações específicas adequadas à
cadeia têxtil, reaproveitar os resíduos (retalhos de peças, sobras de
peças, peças prontas, rebarbas de máquinas), diminuir o resíduo
têxtil, promover inclusão social pela capacitação da mão de obra,
proporcionar geração de emprego e renda pela capacitação,
atribuir valor agregado pela criação, recriação, transformação e
reutilização dos produtos, promover a sustentabilidade social
e conscientização ambiental mediante correta separação de
resíduos, identificar mercados potenciais de maior valor agregado,
para os produtos elaborados, a partir do Banco de Vestuário, apoiar
o design, a engenharia e o desenvolvimento de novos produtos,
apoiar a elaboração de um projeto de marketing regional para a
correta separação do resíduo e a destinação dos produtos têxteis e
identificar fornecedores de matéria-prima já existentes na cadeia.
	 Conforme interpretação dada em dicionários da língua
portuguesa, resíduos sólidos, gerados em qualquer ambiente,
são as sobras de algum processo qualquer e que ocupam
um determinado espaço, pelas suas características físicas de
possuírem forma rígida. Analisando melhor o conceito de
resíduo, há duas definições: a primeira, que resulta em sobras
sem proveito, e a segunda, que dá a noção de subproduto.
	 Segundo Leite (1997), gerenciar os resíduos de forma
integradaéarticularaçõesnormativas,operacionais,financeirase
de planejamento, que uma administração municipal desenvolve,
apoiada em critérios sanitários, ambientais e econômicos, para
coletar, tratar e dispor o lixo de uma cidade.
	 Para Tchobanoglous et al. (1993), o gerenciamento
integrado de resíduos é a expressão utilizada para todas as
atividades associadas ao manejo dos resíduos da sociedade.
	 A geração de resíduos sólidos industriais causa preocupações
mundiais.Otratamentoeadestinaçãodemodoaevitaranoseimpactos
ambientais é o objetivo de muitos estudos. O reaproveitamento
dos resíduos sólidos industriais é uma das alternativas utilizadas
para a diminuição e eliminação dos impactos ambientais negativos,
provocados pela destinação inadequada dos mesmos.
	 A garantia de promoções continuadas no setor dos
resíduos sólidos só ocorrerá com a existência de uma política de
gestão e com o compromisso de instituições sociais solidamente
firmadas para mantê-la. A participação da sociedade civil é
componente indispensável para isso.
Como transformar resíduos em renda
	 A questão da destinação correta dos resíduos gerados
pelas cidades trouxe à tona a necessidade de se promoverem
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ações,emespecialnaáreaderesíduossólidos,peloreconhecimento
de seu potencial de geração de trabalho e renda, sob a ótica da
preservação ambiental, reciclagem e inclusão social.
	 Este projeto se justifica primeiramente por tornar possível
a geração de renda às classes menos favorecidas; segundo,
porque capacita, e isso é uma maneira de inclusão social; terceiro,
porque, por meio da correta separação do resíduo, poder-se-
ão aproveitar os resíduos têxteis da região, evitando que sejam
colocados no lixo seletivo ou mesmo no orgânico.
	 OBancodeVestuárioéumórgãocentralizadordosresíduos
das indústrias têxteis com possibilidade de aproveitamento.
	 A ação já conta com parceiros, como a prefeitura de
Caxias do Sul, por meio do gabinete de sua Primeira Dama e da
Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), da Fundação
Caxias, da Fundação de Assistência Social (FAS), da Companhia
de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca), da UCS /Curso
Design de Moda/, do Senai e do Polo de Moda da Serra gaúcha.
	 Ao ser criado o Banco de Vestuário se está projetando
a realização dos sonhos de muitas pessoas, que esperam
transformar resíduos de forma criativa, mas que também sonham
com a oportunidade de gerar mais renda para si ou para suas
famílias. A partir da reutilização e do reaproveitado de resíduos
têxteis e de retalhos, podem-se fazer novos produtos com
novas características. Os requisitos para que os produtos sejam
sustentáveis é que eles sejam cíclicos, solares, seguros, eficazes e
socialmente responsáveis.
	 A primeira meta do Banco do Vestuário é utilizar a rede
existente, em Caxias do Sul, de Clubes de Mães; para isso, conta-
se com a parceria da Associação de Clubes de Mães de Caxias do
Sul (ACMCS).
	 A ACMCS, fundada em 8 de maio de 1975, é uma entidade
assistencial sem fins lucrativos e sem renda fixa. Atende a
aproximadamente 90 Clubes de Mães, localizados em bairros e
distritos de nossa cidade. Considerando que, aproximadamente,
3.000 mulheres donas de casa são associadas desses Clubes
de Mães e, sabendo de sua importância na orientação de
seus filhos, da influência exercida na família e da contribuição
financeira dada para o sustento da mesma, é preocupação
constante da ACMCS uma melhor qualificação pessoal e
funcional de suas associadas. A maior parte dos clubes é carente
e necessita de apoio para a execução de suas atividades. A
ACMCS está sempre atenta a novas oportunidades surgidas,
aos movimentos sociais, procurando integrar-se aos mesmos
quando são significativos e podem proporcionar aos Clubes
de Mães e às suas associadas orientação, instrução, formação
de mentalidade, que proporcione mudanças na difícil situação
econômica em que muitos (as) se encontram.
	 As parcerias com o Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (Senai) e com a Universidade de Caxias do Sul (UCS),
especialmente o curso de Tecnólogo em Design de Moda
vão capacitar associadas dos clubes, e também mulheres em
situação de vulnerabilidade social, dando a elas oportunidades
de maior inserção social. Por meio do Estúdio de Criação, que é
um espaço criado no Campus 8, voltado exclusivamente para as
áreas de design, arte, arquitetura e moda, essas criações devem
permitir que empresários da indústria tomem conhecimento
das pesquisas desenvolvidas. Tais contatos possibilitam que as
criações desenvolvidas no projeto sirvam de inspiração ou mesmo
protótipos para os produtos industriais. Além do mais deverá servir
como uma incubadora do Banco do Vestuário, criando protótipos
de produtos com alto valor agregado que serão elaborados pelos
Clubes de Mães e camadas menos favorecidas a sociedade.
	 Por meio da Coordenadoria da Mulher, da Secretaria
Municipal de Segurança e Proteção Social, se está buscando
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recursos para a criação, dentro do Banco de Vestuário, de cursos de costura industrial. O projeto tem como enfoque maior a capacitação
de mulheres que se encontram em estado de extrema pobreza, mulheres que trabalham em pequenas associações e, principalmente,
mulheres vítimas de violência, a fim de qualificá-las para atuarem em indústrias de confecção de Caxias do Sul e da região. A geração de
renda e o crescimento profissional poderão reforçar a importância das mulheres no cenário econômico, permitindo o aprofundamento
da sua autoestima. Além disso, buscar-se-á gerar ocupações produtivas, por intermédio de cooperativas ou micro empresas, com
orientações da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico.
	 O Conselho Gestor do Banco de Vestuário deverá ter um responsável em cada entidade parceira. O objetivo é definir políticas e
diretrizes do Banco de Vestuário e avaliar sua aplicação.
	 Segue abaixo o posicionamento estratégico de cada agente dentro do contexto estratégico de design e sustentabilidade:
Cada parceiro terá seu papel maior em sua espertise:
1. FUNDAÇÃO CAXIAS:
• Gestor administrativa e operacionalmente;
• Administrar toda a parte legal e fiscal;
• Responsabilizar-se pela movimentação e pelo acompanhamento
da entidade beneficiada.
2. FITEMASUL E SINDIVEST:
• Sensibilizar o meio empresarial para que haja participação
responsável no Banco de Vestuário;
• Incentivar as empresas para que ocorra a contratação de
pessoas capacitadas pelo Banco de Vestuário;
• Buscar máquinas e equipamentos;
• Indicar o gestor;
• Organizar a gestão técnica.
3. FAS, PREFEITURA E CODECA:
• Elaborar projetos para a alocação de recursos;
• Indicar pessoas e grupos sociais para capacitação e
fortalecimento dos grupos e das associações de bairros;
• Envidar esforços para a viabilização do espaço para o
funcionamento do Banco de Vestuário.
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4. UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL - UCS
No projeto será responsável por:
• Criar novos produtos;
• Desenvolver atividades de capacitação específica;
• Orientar a triagem.
5. SENAI:
No projeto será responsável por:
• Capacitar mão de obra: responsável pelo treinamento.
6. POLO DE MODA:
• Elaborar e viabilizar projetos para alocar recursos.
O Banco do Vestuário tem como estrutura o quadro a seguir:
Figura 1: Fluxograma do Banco de Vestuário
	 E, como conseqüência e resultado, pode-se concluir, que este
projeto busca soluções e alternativas que minimizem as implicações
ambientais que os resíduos fabris provocam ao meio ambiente.
Bem como, vai aliar o design, por meio de um projeto sustentável
ao ambiente social, com o ambiente de concepção de artefatos e
geração de emprego e renda nas comunidades carentes.
Referências
LEITE, W.C.A. Estudo da gestão de resíduos sólidos: uma proposta
de modelo tomando a unidade de gerenciamento de recursos
hídricos (UGRHI – 5) como referência. Tese (Doutorado), Escola
de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Carlos, 1997.
TCHOBANOGLOUS, G. THEISEN, H.; VIGIL, S.A. Integrated solid
waste management. Mc Graw Hill, 1993.
DAGNINO, RENATO PEIXOTO. Tecnologia social: ferramenta para
construir outra sociedade / Renato Dagnino; colaboradores
Bagattolli, Carolina ...(et al.). Campinas, SP.: IG/UNICAMP, 2009.
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
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Modelo produtivo sustentável: aproveitamento de
retraços têxteis na região de Londrina
Lílian Lago - Graduada em Design Gráfico
Universidade Estadual de Londrina - UEL
lago.lilian@gmail.com
Profa. MsC. Ana Luisa Boavista Lustosa Cavalcante
Universidade Estadual de Londrina - UEL
anaboavista@uel.br
Resumo:
Este trabalho tem a intenção de apresentar um modelo
produtivo que interligue as empresas confeccionistas e os
grupos artesanais de geração de renda para que os retraços
têxteis sejam insumos produtivos do trabalho artesanal. Para
tal, foi utilizado o método de pesquisa-ação, que contempla
o levantamento bibliográfico e a pesquisa social. O modelo
contempla a descrição das ações de dentro de cada ciclo de vida
e suas interconexões para que estes sejam mais sustentáveis
e interligados como engrenagens de uma mesma máquina. A
aplicação deste modelo pode integrar indústria, artesanato e
design por meio da sustentabilidade.
Palavras-chave: modelo produtivo, ciclo de vida do produto,
artesanato conceitual, retraços têxteis.
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 21
Introdução
	 Os problemas sociais e econômicos do Brasil refletem
diretamente nas condições de vida dos brasileiros próximos
à linha da pobreza ou abaixo dela. Muitos destes buscam no
artesanato uma fonte de geração de renda. Todavia, este não
atende às exigências de qualidade impostas pelo mercado e sofre
com a concorrência dos produtos manufaturados e importados,
em grande parte, vindos de países asiáticos.
	 Segundo Krucken (2009) e Ullmann (2007), o design surge
nestecontextocomoferramentaparadesenvolveraspotencialidades
de uma região e a comunidade que a habita, propondo estratégias
para a inserção da produção desta no mercado, favorecendo o
desenvolvimento sustentável do local e sua população.
	 Logo, o intuito deste projeto é apresentar um modelo
produtivo para geração de renda na região metropolitana de
Londrina a partir dos resíduos têxteis do setor do vestuário.
Revisão de Literatura
O Empoderamento:
	 SegundoCosta(2007)eHorochvskieMeirelles(2007),otermo
empoderamento tem origem no inglês, empowerment. Nasceu nos
anos60,comosmovimentosdedireitoscivisemproldopodernegro,
como busca pela valoração racial e a cidadania para os negros.
	 Costa (2007) traz como definição para empoderamento a
estrutura formal através da qual as pessoas e comunidades detêm
controle de suas próprias questões e alcançam o conhecimento
de suas capacidades de produção, criação e gestão. O
desenvolvimento do conceito de empoderamento tem como
participantes os desempoderados, que são os protagonistas do
processo, e os agentes externos, os coadjuvantes, tais como
ONGs, instituições e academias.
	 Assim, ressalta-se o trabalho de sensibilização necessário
tanto aos agentes externos, os empoderados, quanto aos
excluídos, os desempoderados, para alcançar a convergência e
desencadear o processo de empoderamento.
Figura 1: Os níveis de igualdade para o empoderamento
Fonte: STROMQUIST apud COSTA, 2007.
	 O Desenvolvimento sustentável
	 Cavalcanti (1994) em seu capítulo “Breve Introdução à
Economia da Sustentabilidade” define o termo “economia da
sustentabilidade” como
É uma forma de exprimir a noção de desenvolvimento
econômico como fenômeno cercado por certas limitações
físicas que ao homem não é dado elidir. [...] A economia
da sustentabilidade, assim, implica consideração do
requisito de que os conceitos e métodos usados na
ciência econômica devem levar em conta as restrições
que a dimensão ambiental impõe à sociedade. Do mesmo
modo, a sociedade deve estar de tal modo organizada
que sua troca de matéria e energia com a natureza não
viole certos postulados.(CAVALCANTI, 1994, p.7-8).
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
22
	 Entende-se então, que o uso dos recursos naturais deve
respeitar o limite de sustentação do ecossistema, assim, o
crescimento da economia depende diretamente do compromisso
com o meio ambiente.
	 Logo, um modelo econômico sustentável “tem que se basear
em fluxos que sejam fechados dentro da sociedade ou ajustados aos
ciclos naturais”. (ERIKSSON apud CAVALCANTI, 1994, p.8).
	 Panayotou (1994) afirma estarmos numa transição de
economias: saindo de uma economia baseada na ilusão de
recursos infindáveis, de aproveitamento máximo dos recursos
para uma “economia de uma futura nave espacial chamada Terra”.
(Boulding apud Panayotou, p.10).
	 Kazazian (2005) menciona a atual exigência de que todos,
igualmente, tenham suas necessidades sanadas por meio das
atividades e processos desempenhados pelo homem. Isto implica
de criatividade para projetar produtos e serviços que satisfaçam as
necessidades humanas com o menor uso de recursos e trabalho.
	 O design para sustentabilidade
	 Papanek (1984) afirma que o designer deve ser instruído,
já nas escolas, das consequências de seus projetos e produtos,
prospectando os cenários futuros partindo reflexão sobre a sua
ação no presente. Pois ele pode ser um grande poluidor pela
quantidade de lixo que consegue espalhar pelo mundo com
projetos mal pensados e desnecessários à sociedade.
	 Manzini e Vezzoli (2008) também apresentando o design
para sustentabilidade como alternativa para interferir no modelo
produtivo atual
Propor o desenvolvimento do design para a sustentabilidade
significa, portanto, promover a capacidade do sistema produtivo
de responder à procura social de bem-estar utilizando uma
quantidade de recursos ambientais drasticamente inferior aos
níveis atualmente praticados. […] Em definitivo, o design para
sustentabilidade pode ser reconhecido como uma espécie de
design estratégico, ou seja, o projeto de estratégias aplicadas
pelas empresas que se impuseram seriamente a prospectiva da
sustentabilidade ambiental. (p.23).
	 Para auxiliar neste processo, surge a ecologia industrial,
“umsistemadeproduçãoedeconsumo,organizadodemaneiraa
aproximar-se do funcionamento do sistema natural combinando
os tecnociclos e os biociclos entre si”. (Ibidem, p.54).
Na prática, intenciona-se proporcionar sistemas que reduzam a
zero os seus inputs e outputs, sem criar acúmulos.
	 Para o design para sustentabilidade abordar todas as
implicações ambientais, econômicas e sociais da concepção de
produtos e serviços em todo o seu ciclo de vida, Manzini e Vezzoli
(2008) desenvolveram a metodologia do Lyfe Cycle Design.
Figura 2: Ciclo de Vida do Produto
	 Segundo a obra, as fases do ciclo de vida do produto de
caracterizam como:
• Pré-produção: aquisição de recursos, o transporte deles até o
Fonte: adaptado
de Manzini e
Vezzoli, 2008.
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 23
local da produção e sua transformação em materiais e energia.
•Produção:atransformaçãodosmateriaisemproduto,montagem
e acabamento.
•Distribuição:embalagem,transporteearmazenamentodoproduto.
• Uso: o uso/consumo ou o serviço prestado.
• Descarte: três opções - reutilização, por meio da recuperação
da funcionalidade do produto (na mesma função ou numa
diferente); reciclagem (compostagem ou incineração) em anel
fechado (os materiais são utilizados na confecção dos mesmos
produtos) e anel aberto (os materiais são utilizados em produtos
diferentes da sua origem); ou o descarte em lixos urbanos ou no
meio ambiente, uma alternativa incorreta.
	 Kazazian (2005) disserta sobre a roda de ecoconcepção, um
modelo de concepção orientada idealizado a partir do Life Cycle
Design de Manzini e Vezzoli (2008). A partir da implantação da
roda da ecoconcepção, as empresas podem visualizar, por exemplo,
pontos de intercâmbios de matérias-primas, que podem servir a elas
mesmas, ou a outras organizações parceiras em novos ciclos.
Figura 3: Roda de Ecoconcepção
	 Flusser (2007) discursa sobre o círculo que o homem
forma com a natureza – o homem se apropria da natureza,
transformando-a em cultura, que um dia irá se tornar lixo e
retornará a natureza. Este círculo prova o não-desaparecimento
da matéria e a sua transformação em algo novo, mesmo que
seja em lixo. Entende-se então, que
[...] as matérias-primas são extraídas da natureza, depois
transformadas em produtos acabados para abastecer
o mercado, produzindo resíduos que representam
sua única devolução para a biosfera. Daí um duplo
desequilíbrio: de um lado, o esgotamento dos recursos
naturais, de outro, um aumento crescente dos resíduos
provenientes do consumo, que são fontes de poluição.
(KAZAZIAN, 2005, p.51).
	 Para desmanchar este ciclo, que está prejudicando os
ecossistemas, a ecologia industrial busca soluções no conceito
de metabolismo industrial das organizações, para estabelecer
uma troca de fluxos, chegando próximo a um sistema fechado.
Figura 4: Solução de reutilização e de valorização do produto
Fonte: MANUAL
PROMISE DO PNUMA
1996 e O2 FRANCE
apud KAZAZIAN,
2005, p.37.
Fonte: O2 FRANCE
apud KAZAZIAN,
2005, p.54.
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
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	 Estes conceitos de ciclo de vida do produto, ecologia
industrial e metabolismo industrial no âmbito do design e
desenvolvimento sustentável que irão nortear o desenvolvimento
do modelo produtivo sustentável, objetivo deste trabalho.
	 O Capital Territorial e os Produtos Locais
	 Segundo Krucken (2009), o capital territorial contempla
características, nos níveis material e imaterial, que façam
referência a este território, e levando em conta sua história.
O capital proporciona recursos para que a comunidade local
produza a partir destes, interligando o produto, o território e a
sua forma de produção.
	 No contexto da globalização, principalmente a intensa
entrada de produtos importados da Ásia no Brasil também vem
a por empecilhos no desenvolvimento de produtos locais.
	 O APL do Vestuário de Londrina e região
O Sebrae (apud EMÍDIO, 2006, p.79) estima que existam 435
indústrias do vestuário de moda em Londrina e região. Londrina e
região produzem cerca de 11 milhões de peças por ano, gerando
em média 12 mil empregos e aproximadamente 70% das empresas
têm marca própria. (SIVEPAR apud EMÍDIO, 2006, p.80).
	 Entretanto, de acordo com Vezozzo, Correia e Leite (2004)
e Emídio (2006), o setor sofre carência de sistemas de gestão
(administrativa e de design de moda) para: desenvolver produtos,
definir estratégias, orientar o processo, regular o controle de
qualidade em todas as etapas, aumentar a produtividade e
a sua competitividade no mercado nacional. Reconhecer a
importância da gestão responsável do processo, da pesquisa e
do desenvolvimento, e da gestão do design de moda, são pontos
fundamentais para o início da mudança e da inserção destes
pontos no dia-a-dia da empresa.
Materiais e métodos
	 O método da pesquisa
	 A metodologia norteadora deste trabalho é a pesquisa-
ação. (THIOLLENT, 2004), considerada dinâmica por contemplar o
âmbito da pesquisa científica, com a investigação bibliográfica e a
pesquisa social, com o levantamento de dados e a transformação
da realidade dos participantes. Seus objetivos são práticos e
imediatos, buscando soluções correspondentes ou, ao menos,
“fazer progredir a consciência dos participantes no que diz
respeito à existência de soluções e de obstáculos.” (Ibidem, p.20).
	 EstavisãodeThiollent(2004)vaideencontroaopensamento
do “design para o mundo real”, de Victor Papanek (1984). Assim,
este trabalho será guiado por esta vertente de pensamento dos
pesquisadores social e ambientalmente engajados.
	 Pesquisas qualitativas
	 Pesquisa qualitativa com Pesquisadoras do
	 Departamento de Design da UEL
	 Esta amostra intencional de entrevistados conta com as
pesquisadoras prof.ª M.ª Lucimar de Fátima Bilmaia Emídio e prof.ª
M.ª Maria Celeste de Fátima Sanchez, do projeto de pesquisa da
UEL “Gestão Integrada e Cultura Organizacional do Design de
Moda” e participantes da governança do APL do Vestuário de
Londrina. O intuito destas entrevistas foi conhecer a dinâmica de
trabalho das empresas do arranjo produtivo local diante do tema
sustentabilidade e escoamento dos resíduos têxteis.
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 25
Pesquisa com empresas do APL do Vestuário de Londrina
	 O APL do Vestuário de Londrina e região, hoje, conta com
31 empresas cadastradas na região de Londrina e atuantes em
suas ações junto às ações do APL. Destas 31 empresas, cinco
responderam sobre o destino de seus resíduos têxteis por e-mail
e oito por telefone, totalizando 13 empresas entrevistadas, 42%
das empresas. O objetivo destas entrevistas foi saber sobre a
destinação dos retraços têxteis da produção.
	 Considerações sobre as pesquisas qualitativas
	 Percebe-se, tanto pela fala das pesquisadoras participantes
do APL do Vestuário, quanto pelas próprias empresas, que as
doações não são acompanhadas ou sistematizadas, elas possuem
cunho filantrópico. Elas são uma forma de escoamento deste
lixo, para as empresas, mas, que pode servir de insumo produtivo
para outros. Os destinos citados são reaproveitamento na própria
produção e doação para pessoas informais, instituições e projetos
sociais. Os empresários não se utilizam destas ações como fonte
de dedução de impostos, marketing sobre responsabilidade
socioambiental, ou postura de responsabilidade sócio-ambiental.
Estas ações não surtem um retorno na imagem empresa, pois
não são ações vistas pelo seu público, estão no anonimato.
	 Pesquisas quantitativas
	 Pesquisa quantitativa secundária com grupos
	 de geração de trabalho e renda
	 O projeto de pesquisa IDDS (Indicadores de design para
o desenvolvimento sustentável - formação de rede interativa de
reciclagem e reaproveitamento na produção artesanal de grupos
de geração de trabalho e renda) realizou uma pesquisa de campo
com o intuito de conhecer e mapear a produção artesanal local.
Neste trabalho, utilizou-se dos resultados parciais da pesquisa,
obtendo dados de 18 artesãos e grupos artesanais.
	 Considerações sobre as pesquisas quantitativas
	 Os resultados mostraram as dificuldades do trabalho
artesanal – divulgação, comercialização e aquisição de matéria-
prima questões que poderiam ser amenizadas com o auxílio do
design. Para melhorar este quadro, seria útil trazer aos artesãos
conhecimentos sobre plano de negócios, controle de qualidade,
gestão sustentável, inovação, novos materiais, novos processos
e tendências. E trabalhar, junto a eles, comunicação (identidade
visual, embalagem, veículos de comunicação), estratégias de
marketing e o desenvolvimento de novos produtos.
	 A questão ambiental abordada nas perguntas
mostrou o diminuto conhecimento sobre o assunto, sendo
o desenvolvimento sustentável um tópico a ser trabalhado
com empenho junto aos artesãos. É necessário integrar à
realidade do artesão conhecimentos sobre matérias-primas
(natural, renovável e biodegradável), processos de baixo
impacto ambiental, análise do ciclo de vida do produto,
consumo responsável, uso racional dos recursos naturais e
responsabilidade socioambiental.
	 As vantagens da doação para o empresariado
	 A doação responsável, além de vantajosa para o artesão
que está recebendo insumos para o seu trabalho, também pode
ser vantajosa para as empresas confeccionistas, a saber:
• Dedução de impostos: auxiliadas por um contador, as
empresas podem repassar seu retraços têxteis para instituições
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
26
organizadas que emitam uma declaração comprovante, e
concretizarem a dedução de impostos (CHIMENTI; 2008);
• Responsabilidade socioambiental, marketing responsável e
comunicação verde: manter uma postura ética, ambiental e
socialmente, e divulgar a comunidade ações responsáveis agrega
valor à imagem da empresa e consequentemente, ao seu produto
(SOUZA, DREHER E AMAL, 2007);
• Destino viável dos resíduos: diante da nova Lei Nacional de
Resíduos Sólidos, a confecção pode dar um destino coerente
para seus retraços doando-os para um grupo de geração de
renda (BRASIL, CONGRESS0 NACIONAL, 2010).
	 O Projeto Piloto
	 Para por em prática o modelo produtivo de aproveitamento
dos retraços têxteis, foi realizado um projeto piloto previsto no
projeto de pesquisa IDDS que desenvolveu uma linha de produtos
junto aos participantes do projeto Empreender do Instituto Milenia.
	 O projeto seguiu as etapas de: sensibilização: design e
mercado; caracterização dos resíduos de tecido e processos;
geração de ideias; implementação dos produtos e resultados.
O modelo produtivo
	 Partindo dos conhecimentos provenientes do ciclo de vida
do produto (MANZINI E VEZZOLI, 2008), da solução de reutilização
e de valorização do produto (O2 FRANCE apud KAZAZIAN, 2005,
p.54) e da roda de ecoconcepção (MANUAL PROMISE DO PNUMA,
1996 e O2 FRANCE apud KAZAZIAN, 2005, p.37), foi representado
o ciclo de vida ideal, dos produtos do vestuário (as confecções)
e dos produtos artesanais (os empreendimentos artesanais),
levando em conta os princípios da sustentabilidade para ambos.
	 Ciclo de vida dos produtos do vestuário
	 Pré-produção - Na compra de matéria-prima:
• Escolher tecidos, malhas e aviamentos de baixo impacto
ambiental e que exijam pouca lavagem. Tecidos e malhas que
não amassam tanto também são uma boa pedida.
• Buscar fornecedores na sua região evita o transporte por
longas distâncias.
• Pesquisar fornecedores sócio e ambientalmente responsáveis.
• Realizar compras maiores de matéria-prima num espaço
de tempo mais longo, ao invés de compras pequenas com
frequência. Irá baratear os custos com o transporte e conseguir
melhores condições de pagamento.
• Encaminhar as embalagens descartadas das matérias-primas
(caixasdepapelão,sacosplásticosetc)àscooperativasdereciclagem.
	 Produção - Na confecção das peças:
• Reduzir o desperdício de material e energia gastos no processo.
• Buscar processos de baixo impacto ambiental.
• Optar pela produção de peças versáteis, multiuso.
• Utilizar softwares especializados para o aproveitamento
inteligente do tecido.
• Dar um destino adequado aos resíduos da produção. Uma
alternativa é repassá-los a grupos artesanais que possam
aproveitar este material.
•Outramenoscomuméareciclagemdoretraçotêxtil-otecidopassará
pelas etapas de desmanche, limpeza, transformação em polímero,
fiação e tecimento, voltando a ser um tecido comum, porém reciclado.
• Proporcionar condições de saúde e bem-estar às costureiras,
como a ginástica laboral.
• Trabalhar com qualidade para ampliar a vida útil da peça.
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 27
	 Distribuição - No projeto da embalagem,
	 na comercialização e no transporte:
• Reduzir os materiais necessários à embalagem (caixas, sacos plásticos).
• Escolher embalagens de papel proveniente de madeira
certificada ou biopolímeros.
•Realizar compras de embalagens maiores num espaço de tempo
mais longo, ao invés de compras pequenas com frequência.
Irá baratear os custos com o transporte e conseguir melhores
condições de pagamento.
• Informatizar o sistema de transporte para otimizar seu
funcionamento e reduzir custos.
	 Uso - No uso das peças:
• Optar por lavagens com produtos de limpeza de baixo impacto
ambiental.
• Juntar uma quantidade razoável de roupas para lavá-las.
• Secar as peças ao ar livre, evitando o uso de secadoras elétricas.
• Juntar uma quantidade razoável de roupas passá-las a ferro.
• Seguir as instruções de uso para conservar o produto e manter
suas características e funções.
	 Descarte - O que fazer com a peça?
• Customização para dar uma cara nova a sua peça antiga.
• Upcycling, transformar sua peça em algo novo.
• Vender num brechó.
• Trocar em bazares.
• Doar para quem precisa.
Ciclo de vida dos produtos artesanais
Pré-produção - Na aquisição da matéria-prima:
•Optar por materiais de baixo impacto ambiental e de preferência,
provenientes da sua região.
• Buscar por doações de resíduos para utilizá-los como matéria-prima.
• Associar-se a outros artesãos para facilitar a negociação de
compra de materiais ou recebimento de doações.
• Encaminhar as embalagens descartadas das matérias-primas
(caixasdepapelão,sacosplásticosetc)àscooperativasdereciclagem.
Produção - Na confecção dos produtos:
•Reduzir o desperdício de material e energia gastos no processo.
• Buscar processos de baixo impacto ambiental.
• Optar pela produção de peças versáteis, multiuso.
• Dar um destino adequado aos resíduos da produção. Uma
alternativa é repassá-los a outros artesãos que possam
aproveitar este material.
• Respeitar a forma de trabalho de cada artesão, pois o trabalho
artesanal não é produção em série.
• Trabalhar com qualidade para ampliar a vida útil do produto.
	 Distribuição - No projeto da embalagem, na
comercialização e no transporte:
•Reduzirosmateriaisnecessáriosàembalagem(caixas,sacosplásticos).
• Escolher embalagens de papel proveniente de madeira
certificada ou biopolímeros.
• Tentar produzir suas próprias embalagens. Uma embalagem
de papel reciclado artesanalmente irá agregar valor ao seu
produto artesanal.
• Pensar estrategicamente os pontos de venda para facilitar o
transporte da sua produção até lá.
	 Uso - No uso das peças:
• Optar por lavagens com produtos de limpeza de baixo impacto
ambiental.
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
28
• Produtos artesanais costumam ter um alto valor emocional
associado pelo seu modo de fazer e o seu caráter de produto
único, por isso, é interessante seguir as instruções de uso para
conservar o produto e manter suas características e funções.
Descarte - O que fazer com o produto?
• Customização para dar uma cara nova ao seu produto antigo.
• Upcycling, transformar seu produto em algo novo.
• Vender num brechó.
• Trocar em bazares.
• Doar para quem precisa.
	 A etapa de pré-produção, tanto do ciclo de vida dos
produtos de moda quanto dos artesanais, produz resíduos, as
embalagens da matéria-prima, que devem ser encaminhados
às cooperativas de reciclagem para a reciclagem do papel e do
plástico. Esta ação sai destes ciclos de vida para dar origem a
outros ciclos, os ciclos de vida do papel e do plástico.
	 A etapa de produção dos produtos de moda também
produz resíduos, os retraços têxteis, que podem seguir para
dar origem a um novo ciclo, o ciclo do produto artesanal. Se a
empresa precisar de orientações para encaminhar estes retraços,
ela pode contar com instituições como prefeituras, lares, casas de
amparo, ONGs, institutos, e até, projetos de pesquisa e extensão
das universidades. A doação pode render à empresa, por meio da
emissão de nota comprovante da doação, dedução de impostos,
meios de trabalho com marketing responsável e comunicação
verdeparadivulgarsuaposturasocioambientalmenteresponsável,
e também, destinar de forma mais inteligente seus resíduos,
visando, além da obediência a nova Lei dos resíduos sólidos, a
consciência do não desperdício de matéria-prima de qualidade.
	 A produção artesanal também gera seus resíduos que
devem ser cuidados tanto quanto os resíduos da produção
industrial. Podem ser doados para servir de insumo a outras
formas de produção, evitando assim o descarte de um insumo
em potencial.
	 O design pode ser um aditivo ao ciclo de vida do
artesanato, assim como foi proposto na hipótese deste trabalho.
Na fase de pré-produção, ele auxilia com a pesquisa de mercado
e tendências, o desenvolvimento de novos produtos e a difusão
dos conhecimentos sobre sustentabilidade, mercado, gestão
e metodologias de desenvolvimento de novos produtos. E na
fase de distribuição, contribui com os projetos de identidade
visual, embalagem, ponto de venda e material de divulgação.
5 Discussão e Conclusão
A indústria do vestuário, o design (representado pela
universidade) e os grupos de geração de renda conseguem
formar um círculo produtivo, baseado no metabolismo
industrial, transformando o resíduo de um em insumo de outro.
	 O produto artesanal urbano de hoje, o “industrianato”, não
possui um alto valor agregado e tem baixa competitividade no
mercado. O design entra nesta cadeia produtiva e propõe novos
parâmetros: novos públicos, métodos de criação, formas de
comunicação e estratégias de mercado, trazendo para os artesãos
uma alternativa ao industrianato, o artesanato conceitual.
	 A indústria precisa se mostrar mais engajada diante da
sua comunidade. Iniciativas como as das confecções vistas neste
trabalho, devem ser propagadas, e não mais encaradas como
filantropia esporádica. Devem ser vistas como estratégias, tanto
de comunicação sobre a responsabilidade socioambiental e
formação de rede de relacionamentos, como uma destinação
correta, e acima de tudo, consciente e limpa, dos seus resíduos.
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 29
	 O artesão, apesar da sua herança cultural de trabalhar muitas
vezes sozinho, estando nos centros urbanos, precisa se articular em
grupos para obter representatividade e alcançar vantagens. Um
artesão teria mais dificuldades em obter contato com uma confecção
para receber seus retraços do que uma associação, cooperativa ou
grupo, como o Empreender, auxiliado pelo Instituto Milenia, o que
lhes proporciona ainda melhores condições, como o suporte para a
produção, vendas em feiras e divulgação.
	 Entretanto, o artesão não pode depender desta doação
de insumos, pois não há contrato que a regulamente e a intenção
é gerar renda e trazer a independência financeira ao artesão. A
primeira doação deve ser encarada como talvez a última, e o
artesão precisa organizar seus lucros para investir em matéria-
prima, caso a doação não se repita.
	 Por fim, este trabalho mostra que é possível se utilizar
dos conhecimentos do design e do desenvolvimento sustentável
para, ao mesmo tempo, destinar corretamente os retraços têxteis
das indústrias do vestuário de Londrina e reaproveitar estes
insumos na produção artesanal para a geração de renda.
Referências
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EMÍDIO, Lucimar de Fátima Bilmaia. A gestão de design como
ferramenta estratégica para MPEs do vestuário de moda: um
estudodecasonaregiãodeLondrina.2006.Dissertação(Mestrado
em Desenho Industrial) – Universidade Estadual Paulista, Bauru.
Livros, e material não publicados
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Ed Saraiva, 2008.
FLUSSER, Vilém. O mundo codificado. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
KAZAZIAN, Thierry (Org.). Haverá a Idade das Coisas Leves:
design e desenvolvimento sustentável. São Paulo: SENAC, 2005.
KRUCKEN, Lia. Design e território: valorização de identidades e
produtos locais. São Paulo: Studio Nobel, 2009.
MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. Desenvolvimento de Produtos
Sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais.
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Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
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Caderno Setorial Indústria. 2004. Disponível em: <http://www
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 31
Sustentabilidade no campo de estágio: a utilização
de retalhos de renda e o ‘novo luxo’
Larissa Avanço de Souza - Graduada em Design de Moda
Universidade Estadual de Londrina - UEL
larissaavanco@gmail.com
Profa. MsC. Lucimar de Fátima Bilmaia Emidio
Universidade Estadual de Londrina - UEL
lucimar@uel.br
Resumo
Este artigo ressalta a importância da conscientização ecológica
e de ações sustentáveis por parte das empresas de confecção
do vestuário de moda. Apresenta as considerações do novo
consumidor em relação ao luxo, aqui relacionado aos produtos
do segmento de moda festa. Mostra um estudo de caso,
realizado em uma empresa de confecção do referido segmento
que tem buscado propor a criação de valores guiados pela
sustentabilidade, a partir da customização de retalhos de renda.
Busca no uso de retalhos um diferencial sustentável para os
processos de criação de vestidos de festa.
Palavras-chave: sustentabilidade, novo luxo, customização.
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
32
Introdução
	 As considerações sobre a definição de moda convergem
para um mesmo limiar conceitual. Envolver o corpo, protegê-lo e,
principalmente, fazer com que o usuário se comunique por meio
de seu vestuário são as principais funções de uma roupa e, ainda
que existam diferentes funções para tal produto, a comunicação
é a síntese do produto de moda. Assim sendo, segundo Silva
(2001) a moda transpõe para o mundo uma mensagem de seu
interlocutor, ela exprime pensamentos e consolida-se como signo.
	 Segundo Schulte e Lopes (2008), a roupa expressa
características do indivíduo e do contexto social, portanto,
considerando também os pensamentos de Melo e Valença (2009)
pode-se entender que, na sociedade contemporânea, as escolhas
de consumo dos indivíduos se apresentam como símbolo de
status e, no caso da moda festa, a função estética se torna ainda
mais relevante e o consumo se faz pelo desejo de exclusividade
nas comemorações e nas apresentações públicas.
	 A necessidade psicológica do consumidor torna a compra
de uma roupa de festa, geralmente uma vestimenta de pouco
uso, ainda mais significativa. A importância da ocasião em que
será utilizado o produto proporciona memórias e sentimentos
únicos aos clientes, que buscarão peças também únicas e
exclusivas para seus momentos festivos. Características estas que
segundo Passini, Schemes e Araujo (2009), na roupa de festa,
são simbolizadas pela estética do produto, que se diferencia da
roupa casual pela utilização de tecidos de alta qualidade e alto
valor, por diferença de comprimento (grande parte dos modelos
são longos), por maior utilização de mão de obra qualificada e
maior número de processos de construção, levando em conta o
fino acabamento e a sofisticação do produto.
	 Como diz Valente (2008), no decorrer das mudanças
sócio-contemporâneas o conceito de moda atrelou-se mais
fortemente à individualidade do consumidor. Analisando
outra vertente da sociedade atual, onde a industrialização e a
tecnologia imperam, há indivíduos que almejam algo que os
diferencie do massificado. Apoiados em valores e modos de
vida pessoais tais indivíduos buscam atingir esse diferencial,
levando em consideração a valorização do trabalho humano e
de questões sustentáveis.
	 No contexto de uso de roupas de festa, onde tal produto
será utilizado para uma comemoração especial e significativa,
Valente (2008) enfatiza que a escolha adequada envolve, além
da funcionalidade, questões emocionais nas quais a busca por
exclusividade passa a ser fator decisivo na compra. Ainda de
acordocomaautora,aculturacontemporâneadoluxoreordenou
novos conceitos, como a individualização, a emocionalização, a
democratização e a preocupação social, que fazem com que o
produto consumido passe a ser sinônimo de identidade.
	 Esse novo conceito proposto retoma o pensamento
do filosofo francês Lipovetsky (2007) sobre a Sociedade do
Hiperconsumo: ‘Quando as pessoas compram objetos para
viver melhor, mais que para exibir; quando os objetos ao invés
de funcionarem necessariamente como símbolos de status,
funcionam mais como um serviço à pessoa. Naturalmente, as
satisfações sociais de diferenciação permanecem, mas são uma
das motivações dentre muitas outras. ’
	 Reitera-se assim o pensamento analisado por Valente (2008)
no qual as “transformações e valorizações do que é raro alteraram as
percepções da população e a noção de pertencimento dos cidadãos.”.
	 Este novo cenário das concepções de moda e,
principalmente, de consumo compõe o que atualmente é
denominado por diversos autores como “luxo plural”, em que
cada consumidor tem sua própria definição ou interpretação
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 33
do que pode ser considerado luxo. Definição esta que agrega
valores mais pessoais e íntimos, buscando produtos que, além
de satisfazerem necessidades de consumo propriamente ditas,
alcancem valores emocionais que se interligam diretamente às
concepções ideológicas individuais e estejam em concordância
com questões sócio-ambientais.
	 Para Manzini e Vezzoli (2008) as questões sociais e
ambientais são constituídas a partir de cenários específicos e
formam o alicerce para o desenvolvimento sustentável. Assim,
o objetivo deste trabalho é apresentar uma reflexão sobre
a sustentabilidade a partir de um estudo de caso que mostra
no uso de retalhos de renda um diferencial sustentável para os
processos de criação de vestidos de festa.
Produtos de luxo e sustentabilidade
	 No decorrer das mudanças sócio-contemporâneas o
conceito de moda atrelou-se mais fortemente à individualidade
do consumidor. Apoiados em valores e modos de vida pessoais,
tais indivíduos consideram importante a valorização do trabalho
humano e as questões de sustentabilidade.
	 A cultura contemporânea do luxo reordenou novos
conceitos e sua comunicação não se dá mais apenas pelo caro,
mas também pela criatividade e originalidade das peças. Tendo
em vista essa nova postura do consumidor, a empresa abordada
no item 3, (citada neste trabalho) busca se adequar ao novo
paradigma estabelecido, propondo a criação de valores guiados
também pela sustentabilidade.
	 O contexto da produção da empresa analisada está
inserido no conceito em que Zanella, Balbinot e Pereira (2000)
definem como Hand Made ou ‘feito à mão’, que caracteriza o
vestuário se não da alta costura, do artesanato do novo luxo.
Busca, no uso de retalhos, um diferencial sustentável para os
processos de criação de vestidos de festa.
	 Levando em consideração que o consumidor atual
direciona suas necessidades para além da estética, atrelando
valores mais subjetivos às suas noções de luxo, é indispensável
considerar inúmeras questões, acreditando, como diz Melo e
Valença (2010), que a comunicação do luxo não se dá apenas
pelo caro e raro, mas também pela criatividade e originalidade.
	 É visível uma nova perspectiva sobre o consumo,
desligando-se das idéias de exacerbação e ostentação e
voltando-se cada vez mais para valores relacionados às
questões intrínsecas ao consumidor. “O cenário descrito até
aqui propôs sublinhar a complexidade dos sentidos do luxo
contemporâneo, quando se sofistica o cruzamento de diversos
aspectos na configuração de novos valores, dentre eles o sócio-
ambiental.” (VALENTE, 2008).
	 Tendo em vista essa nova postura do consumidor, as
empresas buscam se adequar ao novo paradigma estabelecido,
propondo a criação de um novo mercado baseado em tal
postura. Pensa-se então a importância de estratégias de
venda que busquem agregar não apenas valores materiais aos
produtos, mas também uma concepção de estilo de vida.
	 Visando estreitar as relações com seus consumidores, as
marcas se adequam às mudanças de abordagem, principalmente
às questões de consciência sócio-ambientais. É estabelecido então
uma nova diretriz para as empresas do setor: desenvolver produtos
guiados pela sustentabilidade que se relacionem com seus
consumidores diretamente, sem desvincular seu referencial de luxo.
	 Nesse contexto, o referencial simbólico é consolidado
como valor subjetivo e enaltecido pelo pensamento previsto
no comportamento de consumo preocupado com as questões
ambientais. Percebendo então uma mudança na cultura e no
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
34
comportamento dos consumidores, visualiza-se uma aceitação
dessa nova vertente de produtos sustentáveis.
	 Dentrodessecontexto,o“novoluxo”encontra-seestruturado
em novos valores, o que faz com que as marcas se adéquem a isso,
direcionando corretamente sua produção e se comprometendo
com as questões ambientais em seu processo produtivo.
Soluções sustentáveis a partir do uso de retalhos de
renda: um estudo de caso
	 O setor de vestuário e confecção apresenta grandes
desafios à sustentabilidade, pois produz uma série de impactos
ao meio ambiente. Entendendo este fato como um desafio, a
empresa Esperanza Moda Feminina percebeu, no uso de retalhos
de renda, uma alternativa para estimular a conscientização por
meio de seu carro-chefe: a moda festa.
	 A empresa Esperanza Moda Feminina está instalada na
cidade de Londrina, estado do Paraná, reconhecido pólo de
confecção. Trata-se de uma empresa que trabalha principalmente
com o segmento moda festa, atendendo a duas linhas de público:
feminino teen e feminino adulto. A empresa possui atendimento
direto ao público através de vendas prêt-à-porter e sob medida.
	 Sua estrutura na forma de ateliê conta com 21 funcionários
nos seguintes departamentos: criação de produto, modelagem,
corte, costura, customização, arremate, passadoria e vendas.
Trata-se de um tipo de confecção que, por conta de sua
flexibilidade no ritmo de produção, busca soluções sustentáveis
no modo de produzir: o uso de retalhos tornou-se um desafio e
um fator de extrema importância para os processos de criação
de vestidos de festa.
A empresa se preocupa em sempre oferecer produtos exclusivos,
com bordados, tingimentos e customizações únicas. A
sofisticação no acabamento dos produtos e a utilização de
retalhos dos mais variados tipos de materiais, em especial a
renda, agregam valor ao produto.
	 A utilização de retalhos é vista como uma estratégia
de novo luxo, voltada para questões de sustentabilidade e
diminuição de custos, sendo esta uma variável competitiva no
mercado do segmento de roupas de festa. Trata-se, além de
uma solução, de uma manifestação criativa na customização,
que ao ser executada apropria-se não somente do sentido
de adaptação e personalização, mas também de questões
sustentáveis de valorização simbólica do produto, propiciando
um produto singular e exclusivo.
	 Nota-se na empresa uma valorização de determinados
materiais, sendo a renda o principal deles, por ser um tecido
versátil e pouco efêmero ao considerar sua utilização no
segmento moda festa. Ainda que em outros contextos não seja
bem aplicada, neste, ela determina grande valor agregado.
	 O significado da palavra renda aparece como ‘... tecido
de malhas abertas e contextura geral delicada, cujos fios (de
linho, algodão, seda, entre outros) trabalhados à mão ou à
máquina, entrelaçam-se formando desenhos e que é usado para
guarnecer ou confeccionar peças de vestuário, alfaias, roupas,
roupa de cama e mesa, etc.’ (ZANELLA, BALBINOT e PEREIRA,
apud FERREIRA, 1986).
	 Devido a sua utilização quase que constante nos produtos
da empresa, determinou-se de forma empírica sua aplicação de
diversas maneiras. Além de utilizá-la no produto como um todo, o
uso parcial da renda recortada em seus desenhos pode ser aplicada
como fino acabamento ao produto, conforme mostra a Figura 1:
Figura 1: processo artesanal de aplicação da renda
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 35
Fonte: Empresa Esperanza Moda Feminina (2011).
	 Detectou-se, portanto, que o processo artesanal de
aplicação da renda insere-se facilmente ao processo de design
do produto, com o intuito de atribuir processo à atividade,
buscando atingir resultados mais singulares e diferenciados.
	 Sua aplicação parcial envolve a execução de recortes em
partes específicas da renda, criando retalhos constituídos de
arabescos que ampliam o valor agregado no tecido. Essa nova
modalidade propõe imprimir novos desenhos e sentidos para o
corte nas rendas, elegendo signos que definem o que é proposto
no contexto atual de criação. Partindo deste pensamento, é
possível atribuir diversos resultados de desenhos, de uma mesma
padronagem de renda, como mostrado anteriormente na Figura 1.
	 Essa utilização parcial da renda vislumbra um trabalho
criativo com retalhos, que resulta em um produto final com caráter
exclusivo, que além de sustentável gera uma nova metodologia
para a criação na customização de vestidos moda festa. As
mais variadas maneiras de cortar a mesma renda mostram a
atemporalidade desse tecido, que dentro de uma confecção
pode ser usado em coleções das mais variadas referências.
Considerações finais
	 Os danos ambientais decorrentes das atuais atividades
industriais produtivas exigem um repensar urgente dos métodos
de produção e de consumo, a fim de garantir um meio ambiente
propício às futuras gerações. Para alcançar a sustentabilidade
é necessário, segundo Vezzoli (2008), uma nova maneira de
conceber produtos e serviços: o design sustentável é o ato de
produzir produtos, serviços e sistemas com um baixo impacto
ambiental e uma alta qualidade social, também buscando
soluções mais viáveis economicamente.
	 Difundir os conceitos da sustentabilidade, bem como
incentivar a prática de ações com enfoque sustentável, não é
uma tarefa fácil à nova geração de profissionais ingressantes no
mercado de trabalho. No entanto, salienta-se que a atividade
de estágio, que viabilizou a realização deste estudo na empresa
Esperanza Moda Feminina, possibilitou também evidenciar que
a empresa de moda pode, através de seu produto e de seu
processo, promover novas soluções sustentáveis para produção
e para o consumo. Além disso, salienta-se que a importância do
estágio não se resume à integração do aluno ao mercado de
trabalho ou ao aprimoramento de suas habilidades no âmbito
profissional. Trata-se também de um aspecto relevante na
formação da pessoa. Segundo Buriolla (1995), “é o lócus onde a
identidade profissional do aluno é gerada, construída e referida;
volta-se para o desenvolvimento de uma ação vivenciada,
reflexiva e crítica e, por isso, deve ser planejado gradativamente
e sistematicamente.”
	 E válido salientar que considerando o envolvimento
afetivo do consumidor contemporâneo com os produtos e os
novos olhares sobre práticas exercidas na empresa abordada foi
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
36
possível perceber, a partir do estudo de caso apresentado, uma
saída para atender questões de sustentabilidade e personalização
no desenvolvimento de produtos de luxo. A intenção de atribuir
processo à customização de retalhos de renda almeja agregar
valor real e simbólico aos produtos, buscando aproximar ainda
mais o novo consumidor e o novo luxo, resultando assim, em
uma estratégia competitiva de mercado que agrega atributos de
consciência sócio-ambiental.
Referências
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Lipovetsky, G. 2007. Felicidade paradoxal: ensaio sobre a
sociedade de hiperconsumo. São Paulo: Companhia das letras
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Rui Spohr, um ícone da moda gaúcha.
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desafio para a moda. In: Moda palavra, 2, 8/12, pp. 30 - 42.
Valente, S. B. M. 2009. A Cauda Longa do Luxo: A Internet como
Mercado (de Nicho). In: Intercom – Sociedade Brasileira de
Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XI Congresso de
Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste. Brasília
Valente, S. B. M. 2008. Hiperconsumo, responsabilidade social
e novas estratégias comunicacionais: caminhos para um luxo
sustentável? In: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação. XXXI Congresso Brasileiro
de Ciências da Comunicação. Natal
Zanella, A. V; Balbinot, G. & Pereira, R. S. 2000. A renda que
enreda: Analisando o processo de constituir-se rendeira. In:
Educação & Sociedade, 71, 7.
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 37
O Jeans e o Design para o Meio Ambiente: alguns
caminhos para a sustentabilidade na moda.
Mariana Dias de Almeida - Mestranda em Design - UNESP Bauru
mari.ddalmeida@gmail.com
Profa. Dra. Mônica Moura - UNESP Bauru
monicamoura.design@gmail.com
Resumo:
O presente trabalho se propõe a averiguar o ciclo de vida do
jeans no desenvolvimento de produtos de moda, observando
quais são os processos e propostas empregadas que visam o
desenvolvimento sustentável. Por sua vez, o design de moda é
avaliado a partir das problemáticas provenientes do caráter de
efemeridade, da rapidez e agilidade, presentes na indústria e no
mercado da moda e são analisados como esses geram e quais
são os resultados nos impactos ambientais e sociais. Nesse
percurso, toma-se o jeans desde sua gênese até o descarte sob a
ótica do design para o meio ambiente (Design for Environment),
associado a análise de alguns casos exemplares que buscam
soluções sustentáveis para o emprego do jeans. Dessa forma,
esse artigo pretende colaborar com os profissionais envolvidos,
tanto na área de design quanto no mercado de moda, na busca
de soluções viáveis e sustentáveis no emprego do jeans.
Palavras-chave: Design de moda, Design para o meio ambiente,
sustentabilidade
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
38
Introdução
	 O produto de moda passou por grandes alterações
nas últimas décadas. A começar pela inserção do design, o
emprego da fase projetual à moda trouxe novas discussões
sobre o desenvolvimento do produto e sua relação com os
indivíduos e o meio em que está inserido, porém algumas
implicações têm caracterizado a moda por suas problemáticas,
como a efemeridade, rapidez da produção e a obsolescência
perceptiva. Assim, uma questão que se tornou pertinente nos
últimos anos, vem propondo uma alteração dos paradigmas, que
é a sustentabilidade, a qual tem sido discutida amplamente no
campo do design, encontrando fortes ecos no design de moda,
porém, ainda existem muitos problemas e dialéticas a serem
discutidos e resolvidos.
	 O conceito de Design para meio ambiente (Design for
environment), propõe novos meios de reflexão nos processos do
projeto e suas observações no produto. Um dos pontos desse
conceito é o ciclo de vida do produto empregado na moda. No
caso deste trabalho, tenderemos para o jeanswear, produto de
moda amplamente utilizado por vários indivíduos, e que também
tem apresentado sua inclinação para a sustentabilidade.
	
Moda e sustentabilidade
	 O design de moda contemporâneo vem ofertando
novas proposições de produto em decorrência de algumas
novas realidades e valores. Uma dessas novas propostas é a
sustentabilidade, que foi assimilada à moda através dos produtos
ecologicamente corretos, com os quais nos deparamos através
dos mais diversos tipos de apelos conscientizadores.
	 A adoção pela moda do termo sustentável implica
alterar paradigmas que, por tempos, têm-na caracterizado.
Efemeridade, rapidez e agilidade são parâmetros que permeiam
o processo de desenvolvimento do produto, norteando os
designers, que, por vezes, procuram responder aos anseios
do seu público alvo, desenvolvendo produtos que atendam
aos desejos mais implícitos de seu consumidor, instigando-o a
consumir a cada lançamento uma nova peça de vestuário.
	 Outra problemática dos produtos de moda é a
obsolescência perceptiva, sobre a qual Martins afirma: ‘O sistema
moda impõem um ritmo de obsolescência programada muito
rápido em que os produtos de moda são descartados muito
antes do fim da sua vida potencial’ (2010, p. 81). A minimização
de utilização do produto acarreta em impactos ao ambiente.
	 Diante dessa perspectiva, a sustentabilidade, inserida
na moda, surge como uma nova postura de se desenvolver
produtos, alguns pesquisadores como Proctor e Dougherty
tratam este tema como algo que perdurará e evoluirá ao longo
do tempo introduzidas em nossas vidas e na transformação da
indústria.
	 E como se tornou tendência abordá-la se acredita que esse
conceito fique descrente A compilação moda e sustentabilidade
ainda tem o crédito da dúvida, pois crê-se em propósitos
envolvidos pelo apelo no marketing como afirma Carli:
Assim, as empresas têm dado a visibilidade possível ao
seu engajamento com os valores da sustentabilidade,
buscando a simpatia dos seus consumidores. Ações
marqueteiras, promessas que não podem ser cumpridas
e verniz de fachada podem vingar por um tempo, mas
não se sustentam no longo prazo. (2010, p.45)
Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 39
	 Para que então a orientação para a eficiência dos produtos
de moda seja fidedigna à sustentabilidade, há de se promover
as pesquisas acadêmicas e a conscientização das empresas, do
qual para Parode, Remus e Visoná (2010), surge agora um novo
padrão em que para se estar inserido, deve-se ter uma mudança
de postura e adotar a preocupação com o ambiente e com a
sociedade, postura que a moda uniu a si, os autores completam:
A moda, pode-se dizer, é um dos principais agentes de
criação desse novo padrão, que hoje é seguido por
empresas de todos os setores da economia, porém essa
faz surgir um grande contrassenso. Como já discutido
anteriormente, a moda é estimuladora da efemeridade, da
significação dos objetos e da troca rápida desses signos
para se manter atualizada na sociedade etc. Por outro
lado, a moda está buscando soluções mais sustentáveis
e ecorresponsáveis para produzir seus produtos, o que,
na prática, significa uma espécie de economia de signos
(PARODE; REMUS; VISONÁ, 2010, p.72)
	 Assim, surge uma forma de desenvolver produtos de
moda, que começarão a ser cada vez mais medidos pelas ações
que interferem nos sistemas naturais, cujo foco é o impacto que
as roupas provocam, seja pelo seu processo fabril , seja pelo
simples uso diário. A mudança de paradigmas na moda deve
acontecer no todo, ou seja, pequenas mudanças como alteração
de matéria-prima do qual é feito o produto não é suficiente para
afirmá-lo como sustentável, há a necessidade de mudanças na
fase projetual, no processo de fabricação, no tempo de vida do
produto e no designer, pois, dele sairá o pensamento do projeto.
Sustentabilidade
	 A sustentabilidade, no campo do design e na área do
design de moda, levou a uma série de reflexões e mudanças,
entre elas, a modificação de parâmetros para a criação de novos
produtos. Parafraseando Medeiros et. al:
“Foi com o surgimento do conceito de Desenvolvimento
Sustentável, nos anos 80, que uma nova base aparece para
quebrar os valores radicais ambientais em voga desde
então, propondo um novo modo de produção e consumo
onde o desenvolvimento industrial pode e deve conviver
pacificamente com a natureza.” (2010, p.456)
	 Segundo Manzini e Vezzoli (2008), o design sustentável
compreende atividades que relacionam o tecnicamente possível
com o ecologicamente necessário, a partir do desenvolvimento
de novas propostas favoráveis às questões sociais e culturais,
fato que se configura como objetivo-alvo, isto é, a serem
atingidos por meio do desenvolvimento dos mesmos e não
apenas e simplesmente um caminho a ser seguido.
	 Para que um projeto seja sustentável, algumas
considerações devem ser levadas em consideração, tais como:
• Uso de recursos renováveis;
• Otimização dos recursos não renováveis;
• O não acumulo de lixo que o ecossistema não reutilize;
• Possibilidade de que todo indivíduo possa usufruir do espaço
ambiental.
	 Reconhecer os impactos gerados no ambiente é mais
um ponto favorável, pois, saber que o planeta é finito indica
que devemos nos conscientizar sobre os atos nocivos causados
por nós. E, sobretudo, ter consciência de que o consumo
Design, artesanato e moda sustentável
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Design, artesanato e moda sustentável

  • 1. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 2
  • 2. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 6 Local: Data: Comissão Organizadora: Site: Contato: Organização e Edição: Projeto Gráfico: ISSN: Universidade Estadual de Londrina - UEL Auditório do CESA - Centro de Estudos Sociais Aplicados. Rodovia Celso Garcia Cid/PR 445, KM 380 - Campus Universitário, Londrina - PR, 15/09/2011, das 8:00h às 12:00 e das 13:30 às 18h. Prof. MsC. Claudio Pereira Sampaio Profa. Dra. Suzana Barreto Martins www.sites.google.com/site/progsuel/eventos/3ospds (43) 3371-4479 Prof. MsC. Claudio Pereira Sampaio Fernando Cacciolari Menezes 2176-4093 *O CONTEÚDO DOS ARTIGOS É DE INTEIRA E EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
  • 3. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 2 Moda e Sustentabilidade Design de produto, gráfico, inovação e sustentabilidade 6 14 20 31 37 46 62 67 73 83 Moda e artesanato parceria possível para inovação Profa. Dra. Ana Mery Sehbe De Carli Transformando resíduo em benefício social - Banco de Vestuário Profa. Gilda Eluísa De Ross Modelo produtivo sustentável: aproveitamento de retraços têxteis na região de Londrina Lílian Lago, Profa. MsC. Ana Luisa Boavista Lustosa Cavalcante Sustentabilidade no campo de estágio: a utilização de retalhos de renda e o “novo luxo” Larissa Avanço de Souza, Profa. MsC. Lucimar de Fátima Bilmaia Emidio O Jeans e o Design para o Meio Ambiente: alguns caminhos para a sustentabilidade na moda Mariana Dias de Almeida, Profa. Dra. Mônica Moura Design Brasileiro Contemporâneo e a Sustentabilidade: algumas vertentes Profa. Dra. Mônica Moura, Profa. Dra. Cyntia Malaguti Mesa de centro em bambu laminado colado e fibra de coco Bruno Perazelli Farias Ramos, Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira, Ivaldo D. Valarelli Design Sustentável com o Bambu Camila Kiyomi Gondo, Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira Desenvolvimento de mobiliários de bambu laminado colado sob conceitos de Ecodesign Hugo Hissashi Hayashi Hisamatsu, Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira Desenvolvimento de mobiliário em bambu laminado sob os conceitos de ecodesign Mariana Lourenço, Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira Sumário Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável
  • 4. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 6 94 101 106 112 117 125 137 143 Design solidário, extensão e geração de renda Sabrina Antunes Saboya, Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira Vinicultura sustentável: Desenvolvendo objetos com resíduos de videira Desiree Fernanda Nascimento Rodrigues, Profa. Dra. Cleuza Bittencourt Ribas Fornasier Aspectos de sustentabilidade em embalagens de exportação Prof. MsC. Claudio Pereira Sampaio, Esp. Aline Horie, Esp. Andressa Lohr Lavanderia Ecotêxtil: proposta de sistema produto-serviço para cuidado com as roupas em um campus universitário Flora Moura Chaves, Timeni Andrade Gonçalves Pontes, Prof. MsC. Claudio Pereira Sampaio, Profa. Dra. Suzana Barreto Martins Energia gerada pelo próprio usuário: possível aplicação baseada no FESS Fabiano Burgo, Prof. Dr. Dalton Razera As possíveis contribuições da antropologia para o desenvolvimento de bens e serviços para a sustentabilidade Esp. Mariana França Ordacowski, Prof. MsC. Claudio Pereira Sampaio A colaboração no design de abrigos de emergência: relato de uma pesquisa-ação Carolina Daros, Ivana Marques da Rosa, Prof. Dr. Aguinaldo dos Santos, Prof. Dr. Adriano Heemann Uma experiência no ensino de design de sistemas orientados à sustentabilidade Profa. MsC. Jucelia S. Giacomini da Silva Sumário Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável Design de produto, gráfico, inovação e sustentabilidade Novos caminhos do design para a sustentabilidade
  • 5. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 2 Moda e Sustentabilidade http://www.centerfabril.com.br/index.php/algodao-cru-2.html
  • 6. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 6 Moda e artesanato parceria possível para inovação Profa. Dra. Ana Mery Sehbe De Carli Universidade de Caxias do Sul - UCS sdecarli@terra.com.br
  • 7. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 7 Introdução O design de moda atual apresenta diversas parcerias entre designers, artesãos e indústria, que têm apontado para soluções inovadoras. Dentre elas podem ser citadas: - Myrian Melo e Redley: a designer e artesã Myrian Melo, de Minas Gerais, desenvolve criações de patchwork, quilt e bordados para a moda; dá aulas e pesquisa sobre o tema, desenvolvendo um trabalho autoral, que lhe abriu as portas para a prestação de serviço de consultoria a vários segmentos. A marca Redley, por sua vez, surgiu em 1985 com a primeira coleção masculina e com o lançamento do clássico tênis-iate. Em pouco mais de 5 anos, a Redley firmou seu estilo representando, de forma autêntica e inovadora, o desejo de jovens na década de 90. Hoje, a cultura de praia, as paisagens naturais, os esportes, a praticidade e o conforto são elementos que inspiram a marca. Em uma parceria acertada há algumas estações, Mello elabora tecidos aplicando a técnica de patchwork e quilt, e a marca Redley faz a modelagem, corta e monta as peças no tecido trabalhado, com excelente resultado no quesito inovação. - Helen Rödel e 2nd Floor: a designer e artesã Helen Rödel destaca-se entre os designers de moda de sua geração, pela utilização de técnicas manuais, como o crochê e o tricô. Na semana de moda islandesa (2009), a estilista apresentou uma coleção com a marca Rödel, iniciando sua caminhada com moda autoral. Além de produzir suas próprias peças, Rödel tem parceria com a 2nd Floor, marca jovem da Ellus. Na coleção de inverno 2010 da 2nd Floor, para a São Paulo Fashion Week, Rödel foi chamada para desenvolver um acessório de cabeça em crochê, daí surgiram cabeças esculturais de animais como coruja, raposa, morcego. Todas as peças foram feitas com lãs nobres, como alpaca, ovelha e fios suaves de mohair e angorá. As peças foram estruturadas com maleáveis armações metálicas, que deram forma e permitiram a construção tridimensional. Da própria Rödel ouvimos a importância da interação entre o artesanato e o design de moda para a criação de peças originais: Penso que as técnicas manuais são o passado, e agora são o futuro. São artes tradicionais e de infinitas possibilidades para qual eu oferto a minha visão. Essa fantástica combinação de uma agulha, fios, mãos e mente presente me encanta sobremaneira e meu esforço em renovar a técnica é, além de realização pessoal e crença, uma vontade sincera de que a técnica se mantenha viva carregando consigo a mudança dos tempos. (RÖDEL, 2010) Hoje Rödel faz parte do rol de designers que trabalham os novos valores para a moda e, no ínicio de 2011, fez sua estreia no Dragão Fashion Brasil. (USEFASHION, 2011). - Coopa-Roca: é um projeto que busca integrar técnicas artesanais valiosas, das artesãs da Favela da Rocinha (RJ), aos processos industriais. Tetê Leal (2007), coordenadora executiva da Coopa-Roca, diz que o impulso para a criação da cooperativa foi identificar que grande parte das mulheres da Rocinha eram provenientes do Nordeste e dominavam preciosas técnicas artesanais; a seguir foi reconhecer que na moda existe um campo enorme de oportunidades para ampliar o impacto do artesanato associado aos produtos industriais. A Coopa-Roca tem, aproximadamente, cem cooperativadas e desenvolve projetos em moda, design e arte, com parceiros como: Osklen, M. Officer, Irmãos Campana e outros. (DE CARLI, 2009, p.77).
  • 8. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 8 A produção artesanal da região da Serra gaúcha tem um saber-fazer especializado e de conhecimento ancestral valioso, porém é apegada ao costume, à repetição. Os produtos que estão à venda nas feiras normalmente estão ligados às atividades domésticas e, apesar do primoroso trabalho, não recebem a devida valorização no preço de venda. As carências importantes para o artesanato da região são: atualização, atenção às tendências da moda, parcerias com a indústria e informações que atendam às necessidades do mercado. (2010a) A Universidade pode ser a mediadora de encontros entre a potencialidade do fazer artesanal e os valores afetivos e emocionais desejados pelo consumidor dos produtos de moda atuais. Os empresários também precisam ser sensibilizados. Em Caxias do Sul, segundo dados da Prefeitura Municipal, existem 2000 artesãos e mais de 15 associações que promovem o artesanato e outros serviços manuais, e 85 clubes de mães cadastrados na Associação de Clubes de Mães de Caxias do Sul (ACMCS), conforme informação da presidente Marlene Panassolo, em 23 de agosto de 2011. Os dados referentes ao artesanato reforçam aqueles em relação às indústrias do setor têxtil e do vestuário, pois ambos são significativos. Os municípios que compõem o Polo de Moda da Serra Gaúcha: Caxias do Sul, Farroupilha, Flores da Cunha, Guaporé, Nova Petrópolis e Carlos Barbosa, são economicamente importantes na região; dados contabilizam 879 empresas atuantes no setor, oportunizando 5.761 postos de trabalho; na sua maioria, são fabricantes de artigos de vestuário. (MINISTERIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2008). Os números acima e as interações possíveis entre artesanato e empresas de moda representam um potencial a ser explorado. Na agenda da sustentabilidade, que ultrapassa fronteiras, a moda, a política e a sociedade constituem juntas O potencial do contexto geográfico e social Com base na constatação de parcerias bem-sucedidas, entre designers, artesãos e indústria, e sabendo que a região da Serra gaúcha tem um artesanato muito rico, graças à sua colonização, na maior parte italiana e alemã, iniciou-se, em 2010, um projeto de pesquisa na Universidade de Caxias do Sul, que visa à aproximação entre as vertentes criativas do artesanato, delineando inovações para a moda, agora mais à vontade para explorar sua identidade e suas raízes. Depois de um vasto período de supervalorização daquilo que é estrangeiro, daquilo que é internacional no campo da moda, o segmento têxtil da região da Serra gaúcha também volta os olhos para o “seu quintal”, promovendo hibridizações entre tramas manuais trazidas pelos imigrantes europeus e cultivadas por seus descendentes e novidades e tecnologias globais da moda. Na atual globalização é importante que as empresas adquiram o hábito da autorreflexão, buscando a compreensão da sua presença no mercado onde atuam, aprofundando e entendendo sua identidade geográfica afim de explicitá-la. A empresas precisam expressar o espírito do lugar, isto é o genius loci, um caráter ou uma personalidade (MORACE, 2007,p.17). O momento é propício para projetos inovadores contando com a abertura das empresas e a atualização da cultura das tramas, que permaneceu na maior parte inalterada em suas aplicações. Em casa poderemos aproveitar a lição da “estratégia do colibri”, metáfora que Morace (2007,p.19) usa para falar da polinização criativa entre as culturas, que tem sido uma constante nas dinâmicas sociais contemporâneas. De Carli, argumenta a favor de ações conjuntas entre o curso de Design de Moda e os artesãos, apontando para soluções criativas para o artesanato e para a moda:
  • 9. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 9 um berçário para a economia solidária, que, segundo França Filho (2001), traduz-se por uma florescência de práticas socioeconômicas, visando propor, a partir de iniciativas locais, serviços de um novo tipo, designados sob o termo de “serviços solidários”. Outrora, esses serviços eram produzidos no seio da esfera doméstica e, mais recentemente, envolvem a questão da mediação social nos bairros, e estão vinculados à ideia de melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente local. Da descrição dessas práticas e experiências surge o conceito de economia solidária: São iniciativas locais portadoras de um caráter novo relativo ao mesmo tempo, ao seu modo de funcionamento e a sua finalidade. Estas experiências reúnem usuários, profissionais e voluntários, preocupados em articular criação de emprego e reforço da coesão social, ou geração de atividades econômicas com fins de produção do chamado liame social (ou dos laços sociais), ou simplesmente geração de atividades econômicas com finalidades sociais. (FRANÇA FILHO, 2001) Economia solidária e sustentabilidade social andam lado a lado, e alguns trabalhos realizados no Brasil, em diferentes regiões, mostram como essas parcerias podem dar certo. A designer Heloisa Crocco (2010, p.75-79) relata objetivos, princípios e metodologia do Projeto Piracema, que busca a aproximação entre o design e o artesanato, por meio de um conjunto de ações, como: seminários teóricos, trabalhos práticos e vivências criativas, que envolvem designers, artesãos e estudantes. O objetivo é instrumentalizá-los para uma troca de saberes, trazendo para o design o conhecimento da tradição e, para o artesanato, sua ampliação como atividade sustentável. Crocco diz que as principais preocupações do projeto incluem o aperfeiçoamento da qualidade da produção artesanal, a permanência da tradição e a melhoria das condições sociais dos artesãos, promovendo a inserção competitiva do artesanato no mercado, proporcionando o desenvolvimento sustentável da atividade artesanal, pelo fortalecimento dos pequenos negócios. Oficina de protótipos: moda vestuário e moda casa ReconhecendoapotencialidadedaregiãodaSerragaúcha, em desenvolver um trabalho conjunto com a Universidade de Caxias do Sul, empresas privadas, Poder Público (municipal e estadual) e elencando experiências de sucesso no Brasil e no mundo dos projetos de economia solidária, surgiu a Oficina de Protótipos: Moda Vestuário e Moda Casa, em 2010. A intenção do Pró-Moda, sigla que identifica o projeto, é promover oficinas integrando artesãos, designers, professores e acadêmicos do curso de Design de Moda da UCS, para a criação de produtos de moda casa e moda vestuário com valor agregado do artesanato. O bom andamento do projeto deve-se à união de vários segmentos da sociedade, na execução das metas propostas. O primeiro apoiador foi a Secretaria da Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico (SCT) - RS, que aprovou o projeto e integralizou apoio financeiro significativo para a compra dos equipamentos necessários à confecção dos produtos. Outros apoiadores são: o Polo de Moda da Serra Gaúcha, que, além de facilitar o contato direto com as empresas, permite o acesso aos resíduos têxteis do Banco do Vestuário. A Fundação de Assistência Social (FAS), a Coordenadoria da Mulher e a Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Trabalho e Ação Social colaboram na divulgação do projeto, na seleção dos artesãos,
  • 10. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 10 bem como no primeiro encontro dos artesãos para a sensibilização da proposta e para o trabalho em equipe. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), por sua vez, disponibiliza um consultor para palestras sobre o empreendedor individual e sobre a formação de associações e cooperativas, que fortificam e representam a especialidade de grupos. As empresas privadas fornecem a matéria-prima para os protótipos e ainda participam do encontro de teor prático entre artesãos e designers. A meta é desenvolver de oito a quinze peças de moda vestuário e, a mesma quantidade de protótipos de moda casa no final de cada oficina. O objetivo geral da oficina é testar novas práticas para a produção de moda, as quais priorizem a sustentabilidade social e a inclusão, com vistas ao desenvolvimento de metodologias para projetos de economia solidária. Apresenta ainda objetivos específicos que são: a) implantar oficinas experimentais que agreguem artesanato a produtos industriais de moda; b) reutilizar resíduos têxteis em produtos reciclados criativos, integrando artesãos e costureiras ao mercado de trabalho; c) proporcionar aos alunos possibilidades de criação e desenvolvimento de produtos de moda frente aos novos valores de sustentabilidade econômica, ambiental e social; d) registrar o desenvolvimento das oficinas, formando bases de dados e informações para publicação de artigos sobre economia criativa. Em atenção aos objetivos, foram desenvolvidas, até a presente data três oficinas, duas em 2010 e uma no primeiro semestre de 2011. A metodologia de desenvolvimento utilizada e testada em três oportunidades tem demonstrado ser compatível com os objetivos a serem alcançados. São quatorze encontros, de três a quatro horas cada um, que acontecem duas vezes por semana, quando são trabalhados os assuntos de caráter teórico como: identidade cultural da região, composição e aprimoramento estético, empreendedorismo, trabalho em equipe, associativismo e cooperativismo. Para as atividades práticas de desenvolvimento de protótipos utilizam-se as referências do capítulo Gestão do design, de Treptow (2003, p. 91 a 201) e as do capítulo Projeto de moda de Jones (2005, p.166 a 182). As etapas são: pesquisa de tendência, estado da arte do artesanato na moda, visita para reconhecimento das técnicas artesanais dos imigrantes (museus e mostras), pesquisa e escolha do tema de coleção, materiais, cores, estudo das especialidades artesanais dos oficineiros e sua utilização nas propostas de produto, quadro de coleção, execução e apresentação dos resultados em mostra ou desfile. É necessário lembrar que a relação com o artesão em oficinas e cursos não comporta imposições. O clima de troca e respeito mútuo, reconhecendo os valores de cada um, é condição básica para a interação. Algumas melhorias foram realizadas da primeira para a segunda oficina, e da segunda para a terceira, como a limitação na linha de produtos, diminuição no número de modelos, de tecidos e cores serem trabalhados por coleção. Considerando que o aprendizado da modelagem não é o foco da oficina, a dedicação se volta para as características estético-formais advindas da possibilidade de misturar as tramas artesanais, os bordados e as aplicações aos tecidos ou às malhas da produção industrial. O cronograma das oficinas está descrito no quadro 1. A sequência planejada das aulas teóricas busca dar informações e conhecimentos básicos para o desenvolvimento de coleção, valorizar as técnicas milenares do artesanato, compartilhar saberes, incentivar o trabalho em equipe e, a partir do oitavo encontro, a equipe e os oficineiros trabalham concentrados na execução dos os protótipos.
  • 11. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 11 Encontro Atividade 1° Seminário: Dinâmica de integração e motivação da equipe, apresentações e expectativas. Mostra dos trabalhos individuais. Ministrante: psicóloga e assistente social da FAS. 2° Seminário: História e novos rumos do artesanato: crochê, macramé, tricô, aplicações decorativas. Ministrantes: bolsistas 4° Seminário: Cultura e identidade da região. Ministrante: pesquisadora do curso de Design de Moda Visita ao Museu Municipal ou ao acervo Documenta com foco nos artesanatos dos imigrantes. Monitoria: guia do museu. 5° Palestra–Associativismo,cooperativismo.Empreendedor individual. Ministrante: consultor do SEBRAE 6° Oficina de aprimoramento estético: cor, forma, textura, relevo, composição, harmonia. Tema de coleção. Ministrante: professora de Artes Visuais 7° Estudo e definição: tema de coleção, grupos de trabalho, artesanatos, propostas de criação individual, cartela de cores, combinações, padronagens. Equipe: designer, professoradocursodemoda, bolsistas,técnicadecostura. 8° Estudo e definição: tipo de produto e moldelagem, materiais, cores, mix de produtos. Exercício: desenho de croquis, e definição do quadro de coleção. Equipe identificada no 7º encontro. 9° Modelagem e corte de protótipos: moda casa. Análise das propostas individuais. Elaboração da ficha técnica. Equipe identificada no 7º encontro. 10° Fabricação de protótipos: Moda casa. Avaliação dos modelos em desenvolvimento. Equipe identificada no 7º encontro. 11° Modelagem e corte de protótipos: Moda vestuário. Análise das propostas individuais. Elaboração da ficha técnica. Equipe identificada no 7º encontro. 12° Fabricação de protótipos. Moda Vestuário. Ficha técnica.Avaliaçãodosmodelosemdesenvolvimento. Equipe identificada no 7º encontro. 13° Reunião interna de feedback; Apresentação interna da coleção moda vestuário e moda casa. Avaliação. Equipe identificada no 7º encontro. 14° Reunião de planejamento e organização da apresentação das coleções de moda casa e moda vestuário e definição da entrega dos certificados. Equipe identificada no 7º encontro. Análise de resultados Terminada a oficina, é importante reunir os artesãos para avaliação. Do ponto de vista dos oficineiros, as manifestações foram positivas em quase todos os aspectos. As vantagens ressaltadas foram a experiência do trabalho em equipe e a troca de conhecimento entre os colegas, os professores e as bolsistas. Os artesãos foram unânimes a respeito da importância das aulas teóricas e apontaram que alguns encontros, como identidade regional, aprimoramento estético e processo criativo, poderiam ser prolongados. Reclamaram da falta de tempo para a aula de custo e formação de preço. É importante também a avaliação dos professores envolvidos e das bolsistas, que salientaram questões que
  • 12. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 12 precisamserequacionadascomo:anecessidadede umacostureira pilotista, que domine todas as operações de montagem dos protótipos; presença dos professores envolvidos na parte prática da oficina no primeiro dia de aula para as apresentações. Os professores concordam com as sugestões dos oficineiros quanto à necessidade de mais tempo para criação, assim como para aula de custo e formação de preços. Quanto ao planejamento da coleção, será necessário diminuir tipos de matérias-primas, número de cores, reduzindo consequentemente os aviamentos, e privilegiando o artesanato agregado ao protótipo. O tema de coleção deverá ser mais específico, para que a unidade da coleção seja visível. Quanto aos instrumentos de especificação, será necessário elaborar uma ficha técnica simplificada e de fácil entendimento para o artesão. Um problema que preocupou, na oficina desenvolvida de outubro a dezembro de 2010 foi a evasão: iniciaram quinze artesãos e concluíram sete. Creditamos a desistência, em primeiro lugar, à época próxima do Natal, que é um período de trabalho intenso para o artesão; em segundo lugar à dificuldade do artesão para o trabalho em equipe, reafirmando seu hábito para o trabalho individual. Por esse motivo, acreditamos que o encontro com a psicóloga e assistente social possa ser dividido em dois momentos: no início da oficina e depois de transcorridos cinco encontros, quando podem aflorar dificuldades de relacionamento. Para solucionar a questão da evasão, foram realizadas entrevistas individuais no momento da inscrição dos artesãos para a terceira oficina (maio, 2011), buscando o comprometimento dos candidatos em iniciar e terminar o curso. O empenho da equipe do projeto em aprimorar a gestão da Oficina de protótipos é visível tanto nas reuniões sistemáticas de avaliação, como nas medidas corretivas que são prontamente adotadas. A apresentação para o público da coleção, em desfile ou mostra, que ocorre após o encerramento da oficina, é um momento muito importante, pois eleva a autoestima dos artesãos. Os produtos são o resultado do esforço individual e coletivo. Na primeira oficina o desfile foi realizado no Zarabatana Café no Centro de Cultura Municipal Dr. Henrique Ordovás; o segundo desfile aconteceu na Feria de Natal do Artesão Caxiense, no Largo da Estação, junto a Secretaria de Cultura, e o terceiro deverá acontecer no final de setembro. A entrega de certificados também ocorre em evento especial no termino das oficinas. Os resultados que atendem aos objetivos acima citados foram parcialmente atingidos. O artesanato foi devidamente valorizado como detalhe nos produtos de moda; resíduos têxteis foram utilizados em alguns protótipos; os bolsistas tiveram a oportunidade de crescimento acadêmico, profissional e pessoal na participação em congressos, no desenvolvimento das oficinas e na compreensão das relações de trabalho; relatos de caso foram apresentados em eventos de moda como no Colóquio de Moda de 2009 e 2010, e no IV Simpósio Nacional de Moda e Tecnologia de 2011, e na revista eletrônica Redige, do Senai Cetiqt/RJ, dando publicidade à Oficina de protótipos de moda, como iniciativa de economia criativa. As principais lições aprendidas foram: troca de habilidades artesanais, troca de conhecimento e experiência, enriquecimento pessoal e vivência do trabalho em equipe. Pretende-se, até o encerramento do projeto em junho de 2012, realizar mais duas oficinas.
  • 13. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 13 Referências CROCCO,Heloisa.ProjetoPiracema.In:DECARLI,A.M.S.eMANFREDINI, M.L. (Org.). Moda em sintonia. Caxias do Sul, RS: EDUCS, 2010. DALPRA,Patrícia(Org.).DNABrasil.SãoPaulo:EstaçãodasLetraseCores,2009. DE CARLI, Ana Mery Sehbe. Sustentabilidade: uma prática no ensino de moda. Revista: DobraS, Barueri, SP: Estação das Letras e Cores, V. 3, nº 6, junho 2009. Novos valores e novas práticas para o design de moda: parcerias artesanato/indústria. In: COLOQUIO DE MODA, GT – Moda e Sustentabilidade. São Paulo: Fapesp, Universidade Anhembi Morumbi, 2010a. Moda no terceiro milênio: novas realidades novos valores. In: DE CARLI, A.M.S.; MANFREDINI, M.L. (Org.). Moda em sintonia. Caxias do Sul: Educs, 2010b. FRANÇAFILHO,GerautoCarvalhode.Novosarranjosorganizacionais possíveis?: o fenômeno da economia solidária em questão. Revista: Organizações & sociedade. v.8, nº20, 2001. Disponível em: <www. revistaoes.ufba.br>. Acesso em: 22 abr. 2011. JONES, Sue Jenkyn. Fashion design. São Paulo: Cosac Naify, 2005. LEAL, Tetê. Visão que constrói. Agenda Sudameris, Concepção: Thymus Branding e Scriba Comunicação coorporativa, 2007. MELO, Myriam. Belo Horizonte, ago. 2009. Disponível em: <http:// myrianmelo.blogspot.com/2009/08/patchwork-para-verao- 2010-redley.html>. Acesso em: 20 abr. 2011. MELO, Myriam. Belo Horizonte, jan. 2009. Disponível em: <http:// myrianmelo.blogspot.com/2009/01/inverno-2009-redley-tem- patchwork.html>. Acesso em: 22 ago. 2011. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO (MTE). 23 ago 2011. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/ ecosolidaria_oque.asp>. Acesso em: 23 ago. 2011. MORACE, Francesco. A globalização e o futuro brasileiro. In: Cetiqt. IPTM – Instituto de Prospecção Tecnológica e Mercadológica. Globalização da economia têxtil e da confecção brasileira: empresários, governo e academia unidos pelo futuro do setor. Rio de Janeiro: Senai/Cetiqt, 2007. PREFEITURA MUNICIPAL DE CAXIAS DO SUL. Disponível em: <www.caxias.rs.gov.br/desenv_economico/programas. php?codigo=9>. Acesso em: 22 ago. 2011. RÖDEL, Helen. Porto Alegre, março 2011. Disponível em: <http:// www.helenrodel.com.br/info/sobre-a-estilista/>. Acesso em: 17 abr. 2011. Porto Alegre, jan. 2010. SPFW. Máscaras de animais em crochet para 2nd floor. Disponível em: <http://www.helenrodel.com.br/ projetos/2nd-floor-inverno-2010/>. Acesso em: 15 abr. 2011. SEBRAE. Porto Alegre, 23 mar. 2005. Designers e artesãos usam tema mala de garupa. Disponívwel em: <www.sebrae-rs.com. br/central-noticias/memorias/designers-artesaos-usam-tema- mala-garupa/2955107.aspx>. Acesso em: 22 abr. 2011 TREPTOW, Doris. Inventando moda: planejamento de coleção. Brusque, SC: D. Treptow, 2003 USEFASHION. Novo Hamburgo, 15 abr. 2011. Disponível em: <www.usefahion.com.br>. categoria noticias nº 95744. Entrevista: Helen Rödel, estilista. Acesso em: 18 abr. 2011.
  • 14. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 14 Transformando resíduo em benefício social Banco de Vestuário Profa. Gilda Eluísa De Ross Universidade de Caixias do Sul - UCS gerrossi@ucs.br / gercriacoes@yahoo.com.br Resumo: O Banco de Vestuário é parte integrante do Projeto dos Bancos Sociais, instituído e coordenado pelo Conselho de Cidadania da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). Com o propósito de TRANSFORMAR DESPERDÍCIO EM BENEFÍCIO SOCIAL, o Banco de Vestuário foi criado com a missão de identificar e recolher excedentes industriais: retalhos, malhas e resíduos em geral e repassá-los principalmente a Clubes de Mães, Grupos de Terceira Idade, Associações de Bairros, Igrejas, Centros Comunitários, que já mantenham serviços de corte e costura para suas comunidades. A sobra de produção poderá então suprir a falta de agasalhos, roupas de cama, colchas, cobertores, artesanatos e outros. A realidade social que teremos daqui a algum tempo depende apenas do que estamos fazendo hoje. Por isso, o Banco de Vestuário não é uma ação isolada, mas uma estrutura organizada e preparada para durar e fazer parte do nosso dia a dia. Palavras-chave: Design sustentável, Ambiente social, Concepção de artefatos.
  • 15. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 15 Introdução A indústria têxtil e de confecções do Rio Grande do Sul é formada por um conjunto de 9.384 empresas que geram 31.963 mil empregos no estado, segundo dados da Rais/Caged do MTE para o ano de 2007 e faturam cerca de R$ 1,2 bilhão anualmente. A cidade de Caxias do Sul, em termos de produção têxtil, possui uma história que atravessa muitas décadas. Iniciando com os imigrantes italianos que aqui começaram a vida ainda no final do séc. XIX, tornando-se ainda mais expressiva no séc. XX. A indústria de confecção, da produção artesanal, passou para a industrial, organizando processos e respeitando os conceitos de qualidade e exigência de produtos que pudessem ter o reconhecimento nacional, seguindo assim a evolução de mercado. Nas últimas décadas, o processo de industrialização e o avanço tecnológico produziram, além de benefícios à sociedade, efeitos colaterais, tais como: concentração de riquezas, desemprego, alto nível de consumo de recursos naturais, grande produção de resíduos, geralmente com destinação inadequada. Esses resíduos constituem fonte de poluição e grande risco à saúde da população. Qualentãoamelhorformadepreservaranaturezaeaomesmo tempo aproveitar os resíduos aproveitáveis da indústria do vestuário? Como consequência, foi criado o Banco de Vestuário, que atuará como forma de preservação do meio ambiente e geração de emprego e renda. Desenvolvimento A história da imigração é normalmente contada pelo viés da agricultura, especialmente pelos parreirais, pela uva e pelo vinho, ou da metalurgia, pela lamparina, pela caneca, pela enxada, enfim, pela transformação do ferro em utensílios domésticos em ferramentas para o trabalho. Se nossos imigrantes precisavam cultivar a terra para produzir alimentos, necessitavam tanto quanto vestir-se. Para resgatar um pouco nossa história, faz-se necessário lembrar, mesmo que rapidamente, a fundação do primeiro empreendimento fabril em1898, em nosso, hoje, Bairro Galópolis a Cooperativa Tevere quando um grupo de operários italianos, da região de Schio, em represália por uma greve teve que escolher entre a prisão ou a partida para o Brasil. A escolha recaiu no Brasil e aqui iniciaram a “Cooperativa Tevere”, anos mais tarde adquirida por Hércules Galo, quando foram edificadas construções nos moldes das vilas operárias da Inglaterra. Hoje, após ser adquirida em épocas diferentes, por mais duas empresas, em junho de 1999 retornou a forma jurídica inicial, isto é, voltou a pertencer a um grupo de operários com o nome de Cooperativa Textil Galópolis Ltda (Cootegal). Matteo Gianella veio para Caxias do Sul por convite de Hércules Galó e, aqui, após casar com Ermelinda Viero, realizou seu sonho e fundou o Lanifício Gianella (1920). Era auxiliado pela esposa que tingia e bordava as peças (carona e bacheiros) comercializadas no armazém de Abramo Eberle. A partir do desenvolvimento da cidade e região, cada vez mais se torna presente a necessidade de gerenciar resíduos gerados pela indústria. Nesse sentido, não é outro o objetivo do projeto do que coletar resíduos da indústria têxtil e de confecção, dando um encaminhamento adequado e de reaproveitamento do mesmo e, como consequência, processar e produzir produtos de alto valor agregado, contribuindo sobremaneira para a inclusão social de classes menos favorecidas e na difusão de conhecimentos capazes de contribuir para a capacitação de mão de obra qualificada para o setor têxtil. Aideiadequesepodeviverbemconsumindomenosrecursos, e gerando um sentido de comunidade, se opõe completamente
  • 16. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 16 ao modelo que até agora tinha prevalecido na sociedade industrial. Atualmente, sabe-se que nossos recursos são finitos e que devemos prestar maior atenção ao tratamento de nossos resíduos. Ante a crescente evidência dos problemas que gera nossa forma de vida e produção atuais, a sociedade precisa repensar seu modo de viver, redefinindo a arte de reinventar. A roupa que foi moda em outra época é o meio perfeito para criar uma nova peça. A gestão integrada de design pode organizar uma confecção artesanal para levá-la à autogestão, em comunidades carentes e, muitas vezes, sem instrução. Os resíduos têxteis fazem parte do material que pode ser reutilizado de diversas formas, como meio de gerar renda e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente. ÉcomessefocoquesurgeoBancodeVestuário,omaisnovo desafio social do município, que está em fase de desenvolvimento. A ideia é transformar desperdícios gerados pelos setores industriais, comerciais e de serviços em benefício social, promover a sustentabilidade social e a conscientização ambiental, mediante da correta separação de resíduos, apoiar o desenvolvimento de recursos humanos com qualificações específicas adequadas à cadeia têxtil, reaproveitar os resíduos (retalhos de peças, sobras de peças, peças prontas, rebarbas de máquinas), diminuir o resíduo têxtil, promover inclusão social pela capacitação da mão de obra, proporcionar geração de emprego e renda pela capacitação, atribuir valor agregado pela criação, recriação, transformação e reutilização dos produtos, promover a sustentabilidade social e conscientização ambiental mediante correta separação de resíduos, identificar mercados potenciais de maior valor agregado, para os produtos elaborados, a partir do Banco de Vestuário, apoiar o design, a engenharia e o desenvolvimento de novos produtos, apoiar a elaboração de um projeto de marketing regional para a correta separação do resíduo e a destinação dos produtos têxteis e identificar fornecedores de matéria-prima já existentes na cadeia. Conforme interpretação dada em dicionários da língua portuguesa, resíduos sólidos, gerados em qualquer ambiente, são as sobras de algum processo qualquer e que ocupam um determinado espaço, pelas suas características físicas de possuírem forma rígida. Analisando melhor o conceito de resíduo, há duas definições: a primeira, que resulta em sobras sem proveito, e a segunda, que dá a noção de subproduto. Segundo Leite (1997), gerenciar os resíduos de forma integradaéarticularaçõesnormativas,operacionais,financeirase de planejamento, que uma administração municipal desenvolve, apoiada em critérios sanitários, ambientais e econômicos, para coletar, tratar e dispor o lixo de uma cidade. Para Tchobanoglous et al. (1993), o gerenciamento integrado de resíduos é a expressão utilizada para todas as atividades associadas ao manejo dos resíduos da sociedade. A geração de resíduos sólidos industriais causa preocupações mundiais.Otratamentoeadestinaçãodemodoaevitaranoseimpactos ambientais é o objetivo de muitos estudos. O reaproveitamento dos resíduos sólidos industriais é uma das alternativas utilizadas para a diminuição e eliminação dos impactos ambientais negativos, provocados pela destinação inadequada dos mesmos. A garantia de promoções continuadas no setor dos resíduos sólidos só ocorrerá com a existência de uma política de gestão e com o compromisso de instituições sociais solidamente firmadas para mantê-la. A participação da sociedade civil é componente indispensável para isso. Como transformar resíduos em renda A questão da destinação correta dos resíduos gerados pelas cidades trouxe à tona a necessidade de se promoverem
  • 17. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 17 ações,emespecialnaáreaderesíduossólidos,peloreconhecimento de seu potencial de geração de trabalho e renda, sob a ótica da preservação ambiental, reciclagem e inclusão social. Este projeto se justifica primeiramente por tornar possível a geração de renda às classes menos favorecidas; segundo, porque capacita, e isso é uma maneira de inclusão social; terceiro, porque, por meio da correta separação do resíduo, poder-se- ão aproveitar os resíduos têxteis da região, evitando que sejam colocados no lixo seletivo ou mesmo no orgânico. OBancodeVestuárioéumórgãocentralizadordosresíduos das indústrias têxteis com possibilidade de aproveitamento. A ação já conta com parceiros, como a prefeitura de Caxias do Sul, por meio do gabinete de sua Primeira Dama e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), da Fundação Caxias, da Fundação de Assistência Social (FAS), da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca), da UCS /Curso Design de Moda/, do Senai e do Polo de Moda da Serra gaúcha. Ao ser criado o Banco de Vestuário se está projetando a realização dos sonhos de muitas pessoas, que esperam transformar resíduos de forma criativa, mas que também sonham com a oportunidade de gerar mais renda para si ou para suas famílias. A partir da reutilização e do reaproveitado de resíduos têxteis e de retalhos, podem-se fazer novos produtos com novas características. Os requisitos para que os produtos sejam sustentáveis é que eles sejam cíclicos, solares, seguros, eficazes e socialmente responsáveis. A primeira meta do Banco do Vestuário é utilizar a rede existente, em Caxias do Sul, de Clubes de Mães; para isso, conta- se com a parceria da Associação de Clubes de Mães de Caxias do Sul (ACMCS). A ACMCS, fundada em 8 de maio de 1975, é uma entidade assistencial sem fins lucrativos e sem renda fixa. Atende a aproximadamente 90 Clubes de Mães, localizados em bairros e distritos de nossa cidade. Considerando que, aproximadamente, 3.000 mulheres donas de casa são associadas desses Clubes de Mães e, sabendo de sua importância na orientação de seus filhos, da influência exercida na família e da contribuição financeira dada para o sustento da mesma, é preocupação constante da ACMCS uma melhor qualificação pessoal e funcional de suas associadas. A maior parte dos clubes é carente e necessita de apoio para a execução de suas atividades. A ACMCS está sempre atenta a novas oportunidades surgidas, aos movimentos sociais, procurando integrar-se aos mesmos quando são significativos e podem proporcionar aos Clubes de Mães e às suas associadas orientação, instrução, formação de mentalidade, que proporcione mudanças na difícil situação econômica em que muitos (as) se encontram. As parcerias com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e com a Universidade de Caxias do Sul (UCS), especialmente o curso de Tecnólogo em Design de Moda vão capacitar associadas dos clubes, e também mulheres em situação de vulnerabilidade social, dando a elas oportunidades de maior inserção social. Por meio do Estúdio de Criação, que é um espaço criado no Campus 8, voltado exclusivamente para as áreas de design, arte, arquitetura e moda, essas criações devem permitir que empresários da indústria tomem conhecimento das pesquisas desenvolvidas. Tais contatos possibilitam que as criações desenvolvidas no projeto sirvam de inspiração ou mesmo protótipos para os produtos industriais. Além do mais deverá servir como uma incubadora do Banco do Vestuário, criando protótipos de produtos com alto valor agregado que serão elaborados pelos Clubes de Mães e camadas menos favorecidas a sociedade. Por meio da Coordenadoria da Mulher, da Secretaria Municipal de Segurança e Proteção Social, se está buscando
  • 18. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 18 recursos para a criação, dentro do Banco de Vestuário, de cursos de costura industrial. O projeto tem como enfoque maior a capacitação de mulheres que se encontram em estado de extrema pobreza, mulheres que trabalham em pequenas associações e, principalmente, mulheres vítimas de violência, a fim de qualificá-las para atuarem em indústrias de confecção de Caxias do Sul e da região. A geração de renda e o crescimento profissional poderão reforçar a importância das mulheres no cenário econômico, permitindo o aprofundamento da sua autoestima. Além disso, buscar-se-á gerar ocupações produtivas, por intermédio de cooperativas ou micro empresas, com orientações da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico. O Conselho Gestor do Banco de Vestuário deverá ter um responsável em cada entidade parceira. O objetivo é definir políticas e diretrizes do Banco de Vestuário e avaliar sua aplicação. Segue abaixo o posicionamento estratégico de cada agente dentro do contexto estratégico de design e sustentabilidade: Cada parceiro terá seu papel maior em sua espertise: 1. FUNDAÇÃO CAXIAS: • Gestor administrativa e operacionalmente; • Administrar toda a parte legal e fiscal; • Responsabilizar-se pela movimentação e pelo acompanhamento da entidade beneficiada. 2. FITEMASUL E SINDIVEST: • Sensibilizar o meio empresarial para que haja participação responsável no Banco de Vestuário; • Incentivar as empresas para que ocorra a contratação de pessoas capacitadas pelo Banco de Vestuário; • Buscar máquinas e equipamentos; • Indicar o gestor; • Organizar a gestão técnica. 3. FAS, PREFEITURA E CODECA: • Elaborar projetos para a alocação de recursos; • Indicar pessoas e grupos sociais para capacitação e fortalecimento dos grupos e das associações de bairros; • Envidar esforços para a viabilização do espaço para o funcionamento do Banco de Vestuário.
  • 19. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 19 4. UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL - UCS No projeto será responsável por: • Criar novos produtos; • Desenvolver atividades de capacitação específica; • Orientar a triagem. 5. SENAI: No projeto será responsável por: • Capacitar mão de obra: responsável pelo treinamento. 6. POLO DE MODA: • Elaborar e viabilizar projetos para alocar recursos. O Banco do Vestuário tem como estrutura o quadro a seguir: Figura 1: Fluxograma do Banco de Vestuário E, como conseqüência e resultado, pode-se concluir, que este projeto busca soluções e alternativas que minimizem as implicações ambientais que os resíduos fabris provocam ao meio ambiente. Bem como, vai aliar o design, por meio de um projeto sustentável ao ambiente social, com o ambiente de concepção de artefatos e geração de emprego e renda nas comunidades carentes. Referências LEITE, W.C.A. Estudo da gestão de resíduos sólidos: uma proposta de modelo tomando a unidade de gerenciamento de recursos hídricos (UGRHI – 5) como referência. Tese (Doutorado), Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Carlos, 1997. TCHOBANOGLOUS, G. THEISEN, H.; VIGIL, S.A. Integrated solid waste management. Mc Graw Hill, 1993. DAGNINO, RENATO PEIXOTO. Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade / Renato Dagnino; colaboradores Bagattolli, Carolina ...(et al.). Campinas, SP.: IG/UNICAMP, 2009.
  • 20. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 20 Modelo produtivo sustentável: aproveitamento de retraços têxteis na região de Londrina Lílian Lago - Graduada em Design Gráfico Universidade Estadual de Londrina - UEL lago.lilian@gmail.com Profa. MsC. Ana Luisa Boavista Lustosa Cavalcante Universidade Estadual de Londrina - UEL anaboavista@uel.br Resumo: Este trabalho tem a intenção de apresentar um modelo produtivo que interligue as empresas confeccionistas e os grupos artesanais de geração de renda para que os retraços têxteis sejam insumos produtivos do trabalho artesanal. Para tal, foi utilizado o método de pesquisa-ação, que contempla o levantamento bibliográfico e a pesquisa social. O modelo contempla a descrição das ações de dentro de cada ciclo de vida e suas interconexões para que estes sejam mais sustentáveis e interligados como engrenagens de uma mesma máquina. A aplicação deste modelo pode integrar indústria, artesanato e design por meio da sustentabilidade. Palavras-chave: modelo produtivo, ciclo de vida do produto, artesanato conceitual, retraços têxteis.
  • 21. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 21 Introdução Os problemas sociais e econômicos do Brasil refletem diretamente nas condições de vida dos brasileiros próximos à linha da pobreza ou abaixo dela. Muitos destes buscam no artesanato uma fonte de geração de renda. Todavia, este não atende às exigências de qualidade impostas pelo mercado e sofre com a concorrência dos produtos manufaturados e importados, em grande parte, vindos de países asiáticos. Segundo Krucken (2009) e Ullmann (2007), o design surge nestecontextocomoferramentaparadesenvolveraspotencialidades de uma região e a comunidade que a habita, propondo estratégias para a inserção da produção desta no mercado, favorecendo o desenvolvimento sustentável do local e sua população. Logo, o intuito deste projeto é apresentar um modelo produtivo para geração de renda na região metropolitana de Londrina a partir dos resíduos têxteis do setor do vestuário. Revisão de Literatura O Empoderamento: SegundoCosta(2007)eHorochvskieMeirelles(2007),otermo empoderamento tem origem no inglês, empowerment. Nasceu nos anos60,comosmovimentosdedireitoscivisemproldopodernegro, como busca pela valoração racial e a cidadania para os negros. Costa (2007) traz como definição para empoderamento a estrutura formal através da qual as pessoas e comunidades detêm controle de suas próprias questões e alcançam o conhecimento de suas capacidades de produção, criação e gestão. O desenvolvimento do conceito de empoderamento tem como participantes os desempoderados, que são os protagonistas do processo, e os agentes externos, os coadjuvantes, tais como ONGs, instituições e academias. Assim, ressalta-se o trabalho de sensibilização necessário tanto aos agentes externos, os empoderados, quanto aos excluídos, os desempoderados, para alcançar a convergência e desencadear o processo de empoderamento. Figura 1: Os níveis de igualdade para o empoderamento Fonte: STROMQUIST apud COSTA, 2007. O Desenvolvimento sustentável Cavalcanti (1994) em seu capítulo “Breve Introdução à Economia da Sustentabilidade” define o termo “economia da sustentabilidade” como É uma forma de exprimir a noção de desenvolvimento econômico como fenômeno cercado por certas limitações físicas que ao homem não é dado elidir. [...] A economia da sustentabilidade, assim, implica consideração do requisito de que os conceitos e métodos usados na ciência econômica devem levar em conta as restrições que a dimensão ambiental impõe à sociedade. Do mesmo modo, a sociedade deve estar de tal modo organizada que sua troca de matéria e energia com a natureza não viole certos postulados.(CAVALCANTI, 1994, p.7-8).
  • 22. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 22 Entende-se então, que o uso dos recursos naturais deve respeitar o limite de sustentação do ecossistema, assim, o crescimento da economia depende diretamente do compromisso com o meio ambiente. Logo, um modelo econômico sustentável “tem que se basear em fluxos que sejam fechados dentro da sociedade ou ajustados aos ciclos naturais”. (ERIKSSON apud CAVALCANTI, 1994, p.8). Panayotou (1994) afirma estarmos numa transição de economias: saindo de uma economia baseada na ilusão de recursos infindáveis, de aproveitamento máximo dos recursos para uma “economia de uma futura nave espacial chamada Terra”. (Boulding apud Panayotou, p.10). Kazazian (2005) menciona a atual exigência de que todos, igualmente, tenham suas necessidades sanadas por meio das atividades e processos desempenhados pelo homem. Isto implica de criatividade para projetar produtos e serviços que satisfaçam as necessidades humanas com o menor uso de recursos e trabalho. O design para sustentabilidade Papanek (1984) afirma que o designer deve ser instruído, já nas escolas, das consequências de seus projetos e produtos, prospectando os cenários futuros partindo reflexão sobre a sua ação no presente. Pois ele pode ser um grande poluidor pela quantidade de lixo que consegue espalhar pelo mundo com projetos mal pensados e desnecessários à sociedade. Manzini e Vezzoli (2008) também apresentando o design para sustentabilidade como alternativa para interferir no modelo produtivo atual Propor o desenvolvimento do design para a sustentabilidade significa, portanto, promover a capacidade do sistema produtivo de responder à procura social de bem-estar utilizando uma quantidade de recursos ambientais drasticamente inferior aos níveis atualmente praticados. […] Em definitivo, o design para sustentabilidade pode ser reconhecido como uma espécie de design estratégico, ou seja, o projeto de estratégias aplicadas pelas empresas que se impuseram seriamente a prospectiva da sustentabilidade ambiental. (p.23). Para auxiliar neste processo, surge a ecologia industrial, “umsistemadeproduçãoedeconsumo,organizadodemaneiraa aproximar-se do funcionamento do sistema natural combinando os tecnociclos e os biociclos entre si”. (Ibidem, p.54). Na prática, intenciona-se proporcionar sistemas que reduzam a zero os seus inputs e outputs, sem criar acúmulos. Para o design para sustentabilidade abordar todas as implicações ambientais, econômicas e sociais da concepção de produtos e serviços em todo o seu ciclo de vida, Manzini e Vezzoli (2008) desenvolveram a metodologia do Lyfe Cycle Design. Figura 2: Ciclo de Vida do Produto Segundo a obra, as fases do ciclo de vida do produto de caracterizam como: • Pré-produção: aquisição de recursos, o transporte deles até o Fonte: adaptado de Manzini e Vezzoli, 2008.
  • 23. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 23 local da produção e sua transformação em materiais e energia. •Produção:atransformaçãodosmateriaisemproduto,montagem e acabamento. •Distribuição:embalagem,transporteearmazenamentodoproduto. • Uso: o uso/consumo ou o serviço prestado. • Descarte: três opções - reutilização, por meio da recuperação da funcionalidade do produto (na mesma função ou numa diferente); reciclagem (compostagem ou incineração) em anel fechado (os materiais são utilizados na confecção dos mesmos produtos) e anel aberto (os materiais são utilizados em produtos diferentes da sua origem); ou o descarte em lixos urbanos ou no meio ambiente, uma alternativa incorreta. Kazazian (2005) disserta sobre a roda de ecoconcepção, um modelo de concepção orientada idealizado a partir do Life Cycle Design de Manzini e Vezzoli (2008). A partir da implantação da roda da ecoconcepção, as empresas podem visualizar, por exemplo, pontos de intercâmbios de matérias-primas, que podem servir a elas mesmas, ou a outras organizações parceiras em novos ciclos. Figura 3: Roda de Ecoconcepção Flusser (2007) discursa sobre o círculo que o homem forma com a natureza – o homem se apropria da natureza, transformando-a em cultura, que um dia irá se tornar lixo e retornará a natureza. Este círculo prova o não-desaparecimento da matéria e a sua transformação em algo novo, mesmo que seja em lixo. Entende-se então, que [...] as matérias-primas são extraídas da natureza, depois transformadas em produtos acabados para abastecer o mercado, produzindo resíduos que representam sua única devolução para a biosfera. Daí um duplo desequilíbrio: de um lado, o esgotamento dos recursos naturais, de outro, um aumento crescente dos resíduos provenientes do consumo, que são fontes de poluição. (KAZAZIAN, 2005, p.51). Para desmanchar este ciclo, que está prejudicando os ecossistemas, a ecologia industrial busca soluções no conceito de metabolismo industrial das organizações, para estabelecer uma troca de fluxos, chegando próximo a um sistema fechado. Figura 4: Solução de reutilização e de valorização do produto Fonte: MANUAL PROMISE DO PNUMA 1996 e O2 FRANCE apud KAZAZIAN, 2005, p.37. Fonte: O2 FRANCE apud KAZAZIAN, 2005, p.54.
  • 24. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 24 Estes conceitos de ciclo de vida do produto, ecologia industrial e metabolismo industrial no âmbito do design e desenvolvimento sustentável que irão nortear o desenvolvimento do modelo produtivo sustentável, objetivo deste trabalho. O Capital Territorial e os Produtos Locais Segundo Krucken (2009), o capital territorial contempla características, nos níveis material e imaterial, que façam referência a este território, e levando em conta sua história. O capital proporciona recursos para que a comunidade local produza a partir destes, interligando o produto, o território e a sua forma de produção. No contexto da globalização, principalmente a intensa entrada de produtos importados da Ásia no Brasil também vem a por empecilhos no desenvolvimento de produtos locais. O APL do Vestuário de Londrina e região O Sebrae (apud EMÍDIO, 2006, p.79) estima que existam 435 indústrias do vestuário de moda em Londrina e região. Londrina e região produzem cerca de 11 milhões de peças por ano, gerando em média 12 mil empregos e aproximadamente 70% das empresas têm marca própria. (SIVEPAR apud EMÍDIO, 2006, p.80). Entretanto, de acordo com Vezozzo, Correia e Leite (2004) e Emídio (2006), o setor sofre carência de sistemas de gestão (administrativa e de design de moda) para: desenvolver produtos, definir estratégias, orientar o processo, regular o controle de qualidade em todas as etapas, aumentar a produtividade e a sua competitividade no mercado nacional. Reconhecer a importância da gestão responsável do processo, da pesquisa e do desenvolvimento, e da gestão do design de moda, são pontos fundamentais para o início da mudança e da inserção destes pontos no dia-a-dia da empresa. Materiais e métodos O método da pesquisa A metodologia norteadora deste trabalho é a pesquisa- ação. (THIOLLENT, 2004), considerada dinâmica por contemplar o âmbito da pesquisa científica, com a investigação bibliográfica e a pesquisa social, com o levantamento de dados e a transformação da realidade dos participantes. Seus objetivos são práticos e imediatos, buscando soluções correspondentes ou, ao menos, “fazer progredir a consciência dos participantes no que diz respeito à existência de soluções e de obstáculos.” (Ibidem, p.20). EstavisãodeThiollent(2004)vaideencontroaopensamento do “design para o mundo real”, de Victor Papanek (1984). Assim, este trabalho será guiado por esta vertente de pensamento dos pesquisadores social e ambientalmente engajados. Pesquisas qualitativas Pesquisa qualitativa com Pesquisadoras do Departamento de Design da UEL Esta amostra intencional de entrevistados conta com as pesquisadoras prof.ª M.ª Lucimar de Fátima Bilmaia Emídio e prof.ª M.ª Maria Celeste de Fátima Sanchez, do projeto de pesquisa da UEL “Gestão Integrada e Cultura Organizacional do Design de Moda” e participantes da governança do APL do Vestuário de Londrina. O intuito destas entrevistas foi conhecer a dinâmica de trabalho das empresas do arranjo produtivo local diante do tema sustentabilidade e escoamento dos resíduos têxteis.
  • 25. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 25 Pesquisa com empresas do APL do Vestuário de Londrina O APL do Vestuário de Londrina e região, hoje, conta com 31 empresas cadastradas na região de Londrina e atuantes em suas ações junto às ações do APL. Destas 31 empresas, cinco responderam sobre o destino de seus resíduos têxteis por e-mail e oito por telefone, totalizando 13 empresas entrevistadas, 42% das empresas. O objetivo destas entrevistas foi saber sobre a destinação dos retraços têxteis da produção. Considerações sobre as pesquisas qualitativas Percebe-se, tanto pela fala das pesquisadoras participantes do APL do Vestuário, quanto pelas próprias empresas, que as doações não são acompanhadas ou sistematizadas, elas possuem cunho filantrópico. Elas são uma forma de escoamento deste lixo, para as empresas, mas, que pode servir de insumo produtivo para outros. Os destinos citados são reaproveitamento na própria produção e doação para pessoas informais, instituições e projetos sociais. Os empresários não se utilizam destas ações como fonte de dedução de impostos, marketing sobre responsabilidade socioambiental, ou postura de responsabilidade sócio-ambiental. Estas ações não surtem um retorno na imagem empresa, pois não são ações vistas pelo seu público, estão no anonimato. Pesquisas quantitativas Pesquisa quantitativa secundária com grupos de geração de trabalho e renda O projeto de pesquisa IDDS (Indicadores de design para o desenvolvimento sustentável - formação de rede interativa de reciclagem e reaproveitamento na produção artesanal de grupos de geração de trabalho e renda) realizou uma pesquisa de campo com o intuito de conhecer e mapear a produção artesanal local. Neste trabalho, utilizou-se dos resultados parciais da pesquisa, obtendo dados de 18 artesãos e grupos artesanais. Considerações sobre as pesquisas quantitativas Os resultados mostraram as dificuldades do trabalho artesanal – divulgação, comercialização e aquisição de matéria- prima questões que poderiam ser amenizadas com o auxílio do design. Para melhorar este quadro, seria útil trazer aos artesãos conhecimentos sobre plano de negócios, controle de qualidade, gestão sustentável, inovação, novos materiais, novos processos e tendências. E trabalhar, junto a eles, comunicação (identidade visual, embalagem, veículos de comunicação), estratégias de marketing e o desenvolvimento de novos produtos. A questão ambiental abordada nas perguntas mostrou o diminuto conhecimento sobre o assunto, sendo o desenvolvimento sustentável um tópico a ser trabalhado com empenho junto aos artesãos. É necessário integrar à realidade do artesão conhecimentos sobre matérias-primas (natural, renovável e biodegradável), processos de baixo impacto ambiental, análise do ciclo de vida do produto, consumo responsável, uso racional dos recursos naturais e responsabilidade socioambiental. As vantagens da doação para o empresariado A doação responsável, além de vantajosa para o artesão que está recebendo insumos para o seu trabalho, também pode ser vantajosa para as empresas confeccionistas, a saber: • Dedução de impostos: auxiliadas por um contador, as empresas podem repassar seu retraços têxteis para instituições
  • 26. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 26 organizadas que emitam uma declaração comprovante, e concretizarem a dedução de impostos (CHIMENTI; 2008); • Responsabilidade socioambiental, marketing responsável e comunicação verde: manter uma postura ética, ambiental e socialmente, e divulgar a comunidade ações responsáveis agrega valor à imagem da empresa e consequentemente, ao seu produto (SOUZA, DREHER E AMAL, 2007); • Destino viável dos resíduos: diante da nova Lei Nacional de Resíduos Sólidos, a confecção pode dar um destino coerente para seus retraços doando-os para um grupo de geração de renda (BRASIL, CONGRESS0 NACIONAL, 2010). O Projeto Piloto Para por em prática o modelo produtivo de aproveitamento dos retraços têxteis, foi realizado um projeto piloto previsto no projeto de pesquisa IDDS que desenvolveu uma linha de produtos junto aos participantes do projeto Empreender do Instituto Milenia. O projeto seguiu as etapas de: sensibilização: design e mercado; caracterização dos resíduos de tecido e processos; geração de ideias; implementação dos produtos e resultados. O modelo produtivo Partindo dos conhecimentos provenientes do ciclo de vida do produto (MANZINI E VEZZOLI, 2008), da solução de reutilização e de valorização do produto (O2 FRANCE apud KAZAZIAN, 2005, p.54) e da roda de ecoconcepção (MANUAL PROMISE DO PNUMA, 1996 e O2 FRANCE apud KAZAZIAN, 2005, p.37), foi representado o ciclo de vida ideal, dos produtos do vestuário (as confecções) e dos produtos artesanais (os empreendimentos artesanais), levando em conta os princípios da sustentabilidade para ambos. Ciclo de vida dos produtos do vestuário Pré-produção - Na compra de matéria-prima: • Escolher tecidos, malhas e aviamentos de baixo impacto ambiental e que exijam pouca lavagem. Tecidos e malhas que não amassam tanto também são uma boa pedida. • Buscar fornecedores na sua região evita o transporte por longas distâncias. • Pesquisar fornecedores sócio e ambientalmente responsáveis. • Realizar compras maiores de matéria-prima num espaço de tempo mais longo, ao invés de compras pequenas com frequência. Irá baratear os custos com o transporte e conseguir melhores condições de pagamento. • Encaminhar as embalagens descartadas das matérias-primas (caixasdepapelão,sacosplásticosetc)àscooperativasdereciclagem. Produção - Na confecção das peças: • Reduzir o desperdício de material e energia gastos no processo. • Buscar processos de baixo impacto ambiental. • Optar pela produção de peças versáteis, multiuso. • Utilizar softwares especializados para o aproveitamento inteligente do tecido. • Dar um destino adequado aos resíduos da produção. Uma alternativa é repassá-los a grupos artesanais que possam aproveitar este material. •Outramenoscomuméareciclagemdoretraçotêxtil-otecidopassará pelas etapas de desmanche, limpeza, transformação em polímero, fiação e tecimento, voltando a ser um tecido comum, porém reciclado. • Proporcionar condições de saúde e bem-estar às costureiras, como a ginástica laboral. • Trabalhar com qualidade para ampliar a vida útil da peça.
  • 27. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 27 Distribuição - No projeto da embalagem, na comercialização e no transporte: • Reduzir os materiais necessários à embalagem (caixas, sacos plásticos). • Escolher embalagens de papel proveniente de madeira certificada ou biopolímeros. •Realizar compras de embalagens maiores num espaço de tempo mais longo, ao invés de compras pequenas com frequência. Irá baratear os custos com o transporte e conseguir melhores condições de pagamento. • Informatizar o sistema de transporte para otimizar seu funcionamento e reduzir custos. Uso - No uso das peças: • Optar por lavagens com produtos de limpeza de baixo impacto ambiental. • Juntar uma quantidade razoável de roupas para lavá-las. • Secar as peças ao ar livre, evitando o uso de secadoras elétricas. • Juntar uma quantidade razoável de roupas passá-las a ferro. • Seguir as instruções de uso para conservar o produto e manter suas características e funções. Descarte - O que fazer com a peça? • Customização para dar uma cara nova a sua peça antiga. • Upcycling, transformar sua peça em algo novo. • Vender num brechó. • Trocar em bazares. • Doar para quem precisa. Ciclo de vida dos produtos artesanais Pré-produção - Na aquisição da matéria-prima: •Optar por materiais de baixo impacto ambiental e de preferência, provenientes da sua região. • Buscar por doações de resíduos para utilizá-los como matéria-prima. • Associar-se a outros artesãos para facilitar a negociação de compra de materiais ou recebimento de doações. • Encaminhar as embalagens descartadas das matérias-primas (caixasdepapelão,sacosplásticosetc)àscooperativasdereciclagem. Produção - Na confecção dos produtos: •Reduzir o desperdício de material e energia gastos no processo. • Buscar processos de baixo impacto ambiental. • Optar pela produção de peças versáteis, multiuso. • Dar um destino adequado aos resíduos da produção. Uma alternativa é repassá-los a outros artesãos que possam aproveitar este material. • Respeitar a forma de trabalho de cada artesão, pois o trabalho artesanal não é produção em série. • Trabalhar com qualidade para ampliar a vida útil do produto. Distribuição - No projeto da embalagem, na comercialização e no transporte: •Reduzirosmateriaisnecessáriosàembalagem(caixas,sacosplásticos). • Escolher embalagens de papel proveniente de madeira certificada ou biopolímeros. • Tentar produzir suas próprias embalagens. Uma embalagem de papel reciclado artesanalmente irá agregar valor ao seu produto artesanal. • Pensar estrategicamente os pontos de venda para facilitar o transporte da sua produção até lá. Uso - No uso das peças: • Optar por lavagens com produtos de limpeza de baixo impacto ambiental.
  • 28. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 28 • Produtos artesanais costumam ter um alto valor emocional associado pelo seu modo de fazer e o seu caráter de produto único, por isso, é interessante seguir as instruções de uso para conservar o produto e manter suas características e funções. Descarte - O que fazer com o produto? • Customização para dar uma cara nova ao seu produto antigo. • Upcycling, transformar seu produto em algo novo. • Vender num brechó. • Trocar em bazares. • Doar para quem precisa. A etapa de pré-produção, tanto do ciclo de vida dos produtos de moda quanto dos artesanais, produz resíduos, as embalagens da matéria-prima, que devem ser encaminhados às cooperativas de reciclagem para a reciclagem do papel e do plástico. Esta ação sai destes ciclos de vida para dar origem a outros ciclos, os ciclos de vida do papel e do plástico. A etapa de produção dos produtos de moda também produz resíduos, os retraços têxteis, que podem seguir para dar origem a um novo ciclo, o ciclo do produto artesanal. Se a empresa precisar de orientações para encaminhar estes retraços, ela pode contar com instituições como prefeituras, lares, casas de amparo, ONGs, institutos, e até, projetos de pesquisa e extensão das universidades. A doação pode render à empresa, por meio da emissão de nota comprovante da doação, dedução de impostos, meios de trabalho com marketing responsável e comunicação verdeparadivulgarsuaposturasocioambientalmenteresponsável, e também, destinar de forma mais inteligente seus resíduos, visando, além da obediência a nova Lei dos resíduos sólidos, a consciência do não desperdício de matéria-prima de qualidade. A produção artesanal também gera seus resíduos que devem ser cuidados tanto quanto os resíduos da produção industrial. Podem ser doados para servir de insumo a outras formas de produção, evitando assim o descarte de um insumo em potencial. O design pode ser um aditivo ao ciclo de vida do artesanato, assim como foi proposto na hipótese deste trabalho. Na fase de pré-produção, ele auxilia com a pesquisa de mercado e tendências, o desenvolvimento de novos produtos e a difusão dos conhecimentos sobre sustentabilidade, mercado, gestão e metodologias de desenvolvimento de novos produtos. E na fase de distribuição, contribui com os projetos de identidade visual, embalagem, ponto de venda e material de divulgação. 5 Discussão e Conclusão A indústria do vestuário, o design (representado pela universidade) e os grupos de geração de renda conseguem formar um círculo produtivo, baseado no metabolismo industrial, transformando o resíduo de um em insumo de outro. O produto artesanal urbano de hoje, o “industrianato”, não possui um alto valor agregado e tem baixa competitividade no mercado. O design entra nesta cadeia produtiva e propõe novos parâmetros: novos públicos, métodos de criação, formas de comunicação e estratégias de mercado, trazendo para os artesãos uma alternativa ao industrianato, o artesanato conceitual. A indústria precisa se mostrar mais engajada diante da sua comunidade. Iniciativas como as das confecções vistas neste trabalho, devem ser propagadas, e não mais encaradas como filantropia esporádica. Devem ser vistas como estratégias, tanto de comunicação sobre a responsabilidade socioambiental e formação de rede de relacionamentos, como uma destinação correta, e acima de tudo, consciente e limpa, dos seus resíduos.
  • 29. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 29 O artesão, apesar da sua herança cultural de trabalhar muitas vezes sozinho, estando nos centros urbanos, precisa se articular em grupos para obter representatividade e alcançar vantagens. Um artesão teria mais dificuldades em obter contato com uma confecção para receber seus retraços do que uma associação, cooperativa ou grupo, como o Empreender, auxiliado pelo Instituto Milenia, o que lhes proporciona ainda melhores condições, como o suporte para a produção, vendas em feiras e divulgação. Entretanto, o artesão não pode depender desta doação de insumos, pois não há contrato que a regulamente e a intenção é gerar renda e trazer a independência financeira ao artesão. A primeira doação deve ser encarada como talvez a última, e o artesão precisa organizar seus lucros para investir em matéria- prima, caso a doação não se repita. Por fim, este trabalho mostra que é possível se utilizar dos conhecimentos do design e do desenvolvimento sustentável para, ao mesmo tempo, destinar corretamente os retraços têxteis das indústrias do vestuário de Londrina e reaproveitar estes insumos na produção artesanal para a geração de renda. Referências Artigos em revistas acadêmicas/capítulos de livros EMÍDIO, Lucimar de Fátima Bilmaia. A gestão de design como ferramenta estratégica para MPEs do vestuário de moda: um estudodecasonaregiãodeLondrina.2006.Dissertação(Mestrado em Desenho Industrial) – Universidade Estadual Paulista, Bauru. Livros, e material não publicados CHIMENTI, Ricardo Cunha. Direito Tributário. 12. ed. São Paulo: Ed Saraiva, 2008. FLUSSER, Vilém. O mundo codificado. São Paulo: Cosac Naify, 2007. KAZAZIAN, Thierry (Org.). Haverá a Idade das Coisas Leves: design e desenvolvimento sustentável. São Paulo: SENAC, 2005. KRUCKEN, Lia. Design e território: valorização de identidades e produtos locais. São Paulo: Studio Nobel, 2009. MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Edusp, 2008. PANAYOTOU, Theodore. Mercados verdes: a economia do desenvolvimento alternativo. Rio de Janeiro: Nórdica, 1994. PAPANEK, Victor. Design for the real world: human ecologogy and social change. 2. ed. London: Thames and Hudson, 1984. THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2004. Textos publicados na internet BRASIL, Congresso Nacional. Projeto de Lei - Institui a Política NacionaldeResíduosSólidosedáoutrasprovidências.Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/501911.pdf>. Acesso em: 19 jul 2010. CAVALCANTI, Clóvis. Breve Introdução à Economia da Sustentabilidade. In: Desenvolvimento e Natureza: estudos para uma sociedade sustentável. Recife: Instituto de Pesquisas Sociais, Fundação Joaquim Nabuco, Ministério de Educação, 1994. p. 7-13. Disponível em: <http://sala.clacso.org.ar/gsdl/ cgi-bin/library?e=d-000-00---0inpso--00-0-0--0prompt-10---
  • 30. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 30 4------0-0l--1-es-50---20-help---00031-001-1-0utfZz-8-10&cl =CL1&d=HASH010103134252faf0bf147f95&gc=1>. Acesso em 14 nov 2008. COSTA, Ana Alice. Gênero, Poder e Empoderamento das Mulheres. Disponível em: <http://www.agende.org.br/docs/File/ dados_pesquisas/feminismo/Empoderamento%20-%20Ana%20 Alice.pdf >. Acesso em 11 dez 2009. HOROCHOVSKI, Rodrigo R.; MEIRELLES, Giselle. Problematizando o conceito de empoderamento. In: Seminário Nacional Movimentos Sociais, Participação e Democracia, n.2, 2007, Florianópolis. Anais... Florianópolis: UFSC, 2007. p.485-506. Disponível em: <http://www.sociologia.ufsc.br/npms/rodrigo_ horochovski_meirelles.pdf>. Acesso em:18 abr 2010. SOUZA, Vanessa S. Fraga de; DREHER, Marialva Tomio; AMAL, Mohamed. A influência da responsabilidade sócio-ambiental no processo de internacionalização: o caso da Electro Aço ALTONA. Revista de Ciências da Administração, Santa Maria de Jetibá (ES), v.9, n.19, set/dez. 2007. Disponível em: <http://www. farese.edu.br/artigos/charles/A%20 INFLUÊNCIA%20DA%20 RESPONSABILIDADE%20SÓCIO-AMBIENTAL.pdf>. Acesso em: 24 maio 2010. ULLMANN, Christian. Para um design solidário e sustentável. Disponível em: <http://www.designemdia.com.br/opiniao/read. php?id=35>. Acesso em: 11 dez 2009. VEZOZZO, Charles; CORREIA, Euclides N.; LEITE, Marcos A. Netto. Caderno Setorial Indústria. 2004. Disponível em: <http://www
  • 31. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 31 Sustentabilidade no campo de estágio: a utilização de retalhos de renda e o ‘novo luxo’ Larissa Avanço de Souza - Graduada em Design de Moda Universidade Estadual de Londrina - UEL larissaavanco@gmail.com Profa. MsC. Lucimar de Fátima Bilmaia Emidio Universidade Estadual de Londrina - UEL lucimar@uel.br Resumo Este artigo ressalta a importância da conscientização ecológica e de ações sustentáveis por parte das empresas de confecção do vestuário de moda. Apresenta as considerações do novo consumidor em relação ao luxo, aqui relacionado aos produtos do segmento de moda festa. Mostra um estudo de caso, realizado em uma empresa de confecção do referido segmento que tem buscado propor a criação de valores guiados pela sustentabilidade, a partir da customização de retalhos de renda. Busca no uso de retalhos um diferencial sustentável para os processos de criação de vestidos de festa. Palavras-chave: sustentabilidade, novo luxo, customização.
  • 32. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 32 Introdução As considerações sobre a definição de moda convergem para um mesmo limiar conceitual. Envolver o corpo, protegê-lo e, principalmente, fazer com que o usuário se comunique por meio de seu vestuário são as principais funções de uma roupa e, ainda que existam diferentes funções para tal produto, a comunicação é a síntese do produto de moda. Assim sendo, segundo Silva (2001) a moda transpõe para o mundo uma mensagem de seu interlocutor, ela exprime pensamentos e consolida-se como signo. Segundo Schulte e Lopes (2008), a roupa expressa características do indivíduo e do contexto social, portanto, considerando também os pensamentos de Melo e Valença (2009) pode-se entender que, na sociedade contemporânea, as escolhas de consumo dos indivíduos se apresentam como símbolo de status e, no caso da moda festa, a função estética se torna ainda mais relevante e o consumo se faz pelo desejo de exclusividade nas comemorações e nas apresentações públicas. A necessidade psicológica do consumidor torna a compra de uma roupa de festa, geralmente uma vestimenta de pouco uso, ainda mais significativa. A importância da ocasião em que será utilizado o produto proporciona memórias e sentimentos únicos aos clientes, que buscarão peças também únicas e exclusivas para seus momentos festivos. Características estas que segundo Passini, Schemes e Araujo (2009), na roupa de festa, são simbolizadas pela estética do produto, que se diferencia da roupa casual pela utilização de tecidos de alta qualidade e alto valor, por diferença de comprimento (grande parte dos modelos são longos), por maior utilização de mão de obra qualificada e maior número de processos de construção, levando em conta o fino acabamento e a sofisticação do produto. Como diz Valente (2008), no decorrer das mudanças sócio-contemporâneas o conceito de moda atrelou-se mais fortemente à individualidade do consumidor. Analisando outra vertente da sociedade atual, onde a industrialização e a tecnologia imperam, há indivíduos que almejam algo que os diferencie do massificado. Apoiados em valores e modos de vida pessoais tais indivíduos buscam atingir esse diferencial, levando em consideração a valorização do trabalho humano e de questões sustentáveis. No contexto de uso de roupas de festa, onde tal produto será utilizado para uma comemoração especial e significativa, Valente (2008) enfatiza que a escolha adequada envolve, além da funcionalidade, questões emocionais nas quais a busca por exclusividade passa a ser fator decisivo na compra. Ainda de acordocomaautora,aculturacontemporâneadoluxoreordenou novos conceitos, como a individualização, a emocionalização, a democratização e a preocupação social, que fazem com que o produto consumido passe a ser sinônimo de identidade. Esse novo conceito proposto retoma o pensamento do filosofo francês Lipovetsky (2007) sobre a Sociedade do Hiperconsumo: ‘Quando as pessoas compram objetos para viver melhor, mais que para exibir; quando os objetos ao invés de funcionarem necessariamente como símbolos de status, funcionam mais como um serviço à pessoa. Naturalmente, as satisfações sociais de diferenciação permanecem, mas são uma das motivações dentre muitas outras. ’ Reitera-se assim o pensamento analisado por Valente (2008) no qual as “transformações e valorizações do que é raro alteraram as percepções da população e a noção de pertencimento dos cidadãos.”. Este novo cenário das concepções de moda e, principalmente, de consumo compõe o que atualmente é denominado por diversos autores como “luxo plural”, em que cada consumidor tem sua própria definição ou interpretação
  • 33. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 33 do que pode ser considerado luxo. Definição esta que agrega valores mais pessoais e íntimos, buscando produtos que, além de satisfazerem necessidades de consumo propriamente ditas, alcancem valores emocionais que se interligam diretamente às concepções ideológicas individuais e estejam em concordância com questões sócio-ambientais. Para Manzini e Vezzoli (2008) as questões sociais e ambientais são constituídas a partir de cenários específicos e formam o alicerce para o desenvolvimento sustentável. Assim, o objetivo deste trabalho é apresentar uma reflexão sobre a sustentabilidade a partir de um estudo de caso que mostra no uso de retalhos de renda um diferencial sustentável para os processos de criação de vestidos de festa. Produtos de luxo e sustentabilidade No decorrer das mudanças sócio-contemporâneas o conceito de moda atrelou-se mais fortemente à individualidade do consumidor. Apoiados em valores e modos de vida pessoais, tais indivíduos consideram importante a valorização do trabalho humano e as questões de sustentabilidade. A cultura contemporânea do luxo reordenou novos conceitos e sua comunicação não se dá mais apenas pelo caro, mas também pela criatividade e originalidade das peças. Tendo em vista essa nova postura do consumidor, a empresa abordada no item 3, (citada neste trabalho) busca se adequar ao novo paradigma estabelecido, propondo a criação de valores guiados também pela sustentabilidade. O contexto da produção da empresa analisada está inserido no conceito em que Zanella, Balbinot e Pereira (2000) definem como Hand Made ou ‘feito à mão’, que caracteriza o vestuário se não da alta costura, do artesanato do novo luxo. Busca, no uso de retalhos, um diferencial sustentável para os processos de criação de vestidos de festa. Levando em consideração que o consumidor atual direciona suas necessidades para além da estética, atrelando valores mais subjetivos às suas noções de luxo, é indispensável considerar inúmeras questões, acreditando, como diz Melo e Valença (2010), que a comunicação do luxo não se dá apenas pelo caro e raro, mas também pela criatividade e originalidade. É visível uma nova perspectiva sobre o consumo, desligando-se das idéias de exacerbação e ostentação e voltando-se cada vez mais para valores relacionados às questões intrínsecas ao consumidor. “O cenário descrito até aqui propôs sublinhar a complexidade dos sentidos do luxo contemporâneo, quando se sofistica o cruzamento de diversos aspectos na configuração de novos valores, dentre eles o sócio- ambiental.” (VALENTE, 2008). Tendo em vista essa nova postura do consumidor, as empresas buscam se adequar ao novo paradigma estabelecido, propondo a criação de um novo mercado baseado em tal postura. Pensa-se então a importância de estratégias de venda que busquem agregar não apenas valores materiais aos produtos, mas também uma concepção de estilo de vida. Visando estreitar as relações com seus consumidores, as marcas se adequam às mudanças de abordagem, principalmente às questões de consciência sócio-ambientais. É estabelecido então uma nova diretriz para as empresas do setor: desenvolver produtos guiados pela sustentabilidade que se relacionem com seus consumidores diretamente, sem desvincular seu referencial de luxo. Nesse contexto, o referencial simbólico é consolidado como valor subjetivo e enaltecido pelo pensamento previsto no comportamento de consumo preocupado com as questões ambientais. Percebendo então uma mudança na cultura e no
  • 34. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 34 comportamento dos consumidores, visualiza-se uma aceitação dessa nova vertente de produtos sustentáveis. Dentrodessecontexto,o“novoluxo”encontra-seestruturado em novos valores, o que faz com que as marcas se adéquem a isso, direcionando corretamente sua produção e se comprometendo com as questões ambientais em seu processo produtivo. Soluções sustentáveis a partir do uso de retalhos de renda: um estudo de caso O setor de vestuário e confecção apresenta grandes desafios à sustentabilidade, pois produz uma série de impactos ao meio ambiente. Entendendo este fato como um desafio, a empresa Esperanza Moda Feminina percebeu, no uso de retalhos de renda, uma alternativa para estimular a conscientização por meio de seu carro-chefe: a moda festa. A empresa Esperanza Moda Feminina está instalada na cidade de Londrina, estado do Paraná, reconhecido pólo de confecção. Trata-se de uma empresa que trabalha principalmente com o segmento moda festa, atendendo a duas linhas de público: feminino teen e feminino adulto. A empresa possui atendimento direto ao público através de vendas prêt-à-porter e sob medida. Sua estrutura na forma de ateliê conta com 21 funcionários nos seguintes departamentos: criação de produto, modelagem, corte, costura, customização, arremate, passadoria e vendas. Trata-se de um tipo de confecção que, por conta de sua flexibilidade no ritmo de produção, busca soluções sustentáveis no modo de produzir: o uso de retalhos tornou-se um desafio e um fator de extrema importância para os processos de criação de vestidos de festa. A empresa se preocupa em sempre oferecer produtos exclusivos, com bordados, tingimentos e customizações únicas. A sofisticação no acabamento dos produtos e a utilização de retalhos dos mais variados tipos de materiais, em especial a renda, agregam valor ao produto. A utilização de retalhos é vista como uma estratégia de novo luxo, voltada para questões de sustentabilidade e diminuição de custos, sendo esta uma variável competitiva no mercado do segmento de roupas de festa. Trata-se, além de uma solução, de uma manifestação criativa na customização, que ao ser executada apropria-se não somente do sentido de adaptação e personalização, mas também de questões sustentáveis de valorização simbólica do produto, propiciando um produto singular e exclusivo. Nota-se na empresa uma valorização de determinados materiais, sendo a renda o principal deles, por ser um tecido versátil e pouco efêmero ao considerar sua utilização no segmento moda festa. Ainda que em outros contextos não seja bem aplicada, neste, ela determina grande valor agregado. O significado da palavra renda aparece como ‘... tecido de malhas abertas e contextura geral delicada, cujos fios (de linho, algodão, seda, entre outros) trabalhados à mão ou à máquina, entrelaçam-se formando desenhos e que é usado para guarnecer ou confeccionar peças de vestuário, alfaias, roupas, roupa de cama e mesa, etc.’ (ZANELLA, BALBINOT e PEREIRA, apud FERREIRA, 1986). Devido a sua utilização quase que constante nos produtos da empresa, determinou-se de forma empírica sua aplicação de diversas maneiras. Além de utilizá-la no produto como um todo, o uso parcial da renda recortada em seus desenhos pode ser aplicada como fino acabamento ao produto, conforme mostra a Figura 1: Figura 1: processo artesanal de aplicação da renda
  • 35. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 35 Fonte: Empresa Esperanza Moda Feminina (2011). Detectou-se, portanto, que o processo artesanal de aplicação da renda insere-se facilmente ao processo de design do produto, com o intuito de atribuir processo à atividade, buscando atingir resultados mais singulares e diferenciados. Sua aplicação parcial envolve a execução de recortes em partes específicas da renda, criando retalhos constituídos de arabescos que ampliam o valor agregado no tecido. Essa nova modalidade propõe imprimir novos desenhos e sentidos para o corte nas rendas, elegendo signos que definem o que é proposto no contexto atual de criação. Partindo deste pensamento, é possível atribuir diversos resultados de desenhos, de uma mesma padronagem de renda, como mostrado anteriormente na Figura 1. Essa utilização parcial da renda vislumbra um trabalho criativo com retalhos, que resulta em um produto final com caráter exclusivo, que além de sustentável gera uma nova metodologia para a criação na customização de vestidos moda festa. As mais variadas maneiras de cortar a mesma renda mostram a atemporalidade desse tecido, que dentro de uma confecção pode ser usado em coleções das mais variadas referências. Considerações finais Os danos ambientais decorrentes das atuais atividades industriais produtivas exigem um repensar urgente dos métodos de produção e de consumo, a fim de garantir um meio ambiente propício às futuras gerações. Para alcançar a sustentabilidade é necessário, segundo Vezzoli (2008), uma nova maneira de conceber produtos e serviços: o design sustentável é o ato de produzir produtos, serviços e sistemas com um baixo impacto ambiental e uma alta qualidade social, também buscando soluções mais viáveis economicamente. Difundir os conceitos da sustentabilidade, bem como incentivar a prática de ações com enfoque sustentável, não é uma tarefa fácil à nova geração de profissionais ingressantes no mercado de trabalho. No entanto, salienta-se que a atividade de estágio, que viabilizou a realização deste estudo na empresa Esperanza Moda Feminina, possibilitou também evidenciar que a empresa de moda pode, através de seu produto e de seu processo, promover novas soluções sustentáveis para produção e para o consumo. Além disso, salienta-se que a importância do estágio não se resume à integração do aluno ao mercado de trabalho ou ao aprimoramento de suas habilidades no âmbito profissional. Trata-se também de um aspecto relevante na formação da pessoa. Segundo Buriolla (1995), “é o lócus onde a identidade profissional do aluno é gerada, construída e referida; volta-se para o desenvolvimento de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso, deve ser planejado gradativamente e sistematicamente.” E válido salientar que considerando o envolvimento afetivo do consumidor contemporâneo com os produtos e os novos olhares sobre práticas exercidas na empresa abordada foi
  • 36. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 36 possível perceber, a partir do estudo de caso apresentado, uma saída para atender questões de sustentabilidade e personalização no desenvolvimento de produtos de luxo. A intenção de atribuir processo à customização de retalhos de renda almeja agregar valor real e simbólico aos produtos, buscando aproximar ainda mais o novo consumidor e o novo luxo, resultando assim, em uma estratégia competitiva de mercado que agrega atributos de consciência sócio-ambiental. Referências Buriolla, M. A. F. 1995. O estágio supervisionado. São Paulo: Cortez. Lipovetsky, G. 2007. Felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. São Paulo: Companhia das letras Lipovetsky, G & Roux, E. 2005. O luxo eterno: da idade do sagrado ao tempo das marcas. São Paulo: Companhia das Letras Martins, Suzana B. & Castro, Marina Duarte. 2007. Moda sustentável: trajetória da criação, produção e comercialização. In: I Simpósio Brasileiro de Design Sustentável. Curitiba Melo, Marcela T. & VALENÇA, Lívia A. 2010. A inserção da renda artesanal filé no conceito de novo luxo. In: Encontro de ensino, pesquisa e extensão da faculdade SENAC. Passine, T. Schemes, C. Araujo, D. C. 2009. Alta costura nacional: Rui Spohr, um ícone da moda gaúcha. In Moda palavra, 4, 8/12, pp.62-79. Peixoto, N.B. 1988. ‘O olhar do estrangeiro’. In: NOVAES, Adauto (org.). O Olhar. São Paulo: Companhia das Letras Silva, S. 2001. Vestuário: comunicação e cultura. In: Líbero, IV, 4, 7/8, pp. 80-85 Schulte, N. K. & Lopes, L. 2008. Sustentabilidade ambiental: um desafio para a moda. In: Moda palavra, 2, 8/12, pp. 30 - 42. Valente, S. B. M. 2009. A Cauda Longa do Luxo: A Internet como Mercado (de Nicho). In: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste. Brasília Valente, S. B. M. 2008. Hiperconsumo, responsabilidade social e novas estratégias comunicacionais: caminhos para um luxo sustentável? In: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Natal Zanella, A. V; Balbinot, G. & Pereira, R. S. 2000. A renda que enreda: Analisando o processo de constituir-se rendeira. In: Educação & Sociedade, 71, 7.
  • 37. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 37 O Jeans e o Design para o Meio Ambiente: alguns caminhos para a sustentabilidade na moda. Mariana Dias de Almeida - Mestranda em Design - UNESP Bauru mari.ddalmeida@gmail.com Profa. Dra. Mônica Moura - UNESP Bauru monicamoura.design@gmail.com Resumo: O presente trabalho se propõe a averiguar o ciclo de vida do jeans no desenvolvimento de produtos de moda, observando quais são os processos e propostas empregadas que visam o desenvolvimento sustentável. Por sua vez, o design de moda é avaliado a partir das problemáticas provenientes do caráter de efemeridade, da rapidez e agilidade, presentes na indústria e no mercado da moda e são analisados como esses geram e quais são os resultados nos impactos ambientais e sociais. Nesse percurso, toma-se o jeans desde sua gênese até o descarte sob a ótica do design para o meio ambiente (Design for Environment), associado a análise de alguns casos exemplares que buscam soluções sustentáveis para o emprego do jeans. Dessa forma, esse artigo pretende colaborar com os profissionais envolvidos, tanto na área de design quanto no mercado de moda, na busca de soluções viáveis e sustentáveis no emprego do jeans. Palavras-chave: Design de moda, Design para o meio ambiente, sustentabilidade
  • 38. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 38 Introdução O produto de moda passou por grandes alterações nas últimas décadas. A começar pela inserção do design, o emprego da fase projetual à moda trouxe novas discussões sobre o desenvolvimento do produto e sua relação com os indivíduos e o meio em que está inserido, porém algumas implicações têm caracterizado a moda por suas problemáticas, como a efemeridade, rapidez da produção e a obsolescência perceptiva. Assim, uma questão que se tornou pertinente nos últimos anos, vem propondo uma alteração dos paradigmas, que é a sustentabilidade, a qual tem sido discutida amplamente no campo do design, encontrando fortes ecos no design de moda, porém, ainda existem muitos problemas e dialéticas a serem discutidos e resolvidos. O conceito de Design para meio ambiente (Design for environment), propõe novos meios de reflexão nos processos do projeto e suas observações no produto. Um dos pontos desse conceito é o ciclo de vida do produto empregado na moda. No caso deste trabalho, tenderemos para o jeanswear, produto de moda amplamente utilizado por vários indivíduos, e que também tem apresentado sua inclinação para a sustentabilidade. Moda e sustentabilidade O design de moda contemporâneo vem ofertando novas proposições de produto em decorrência de algumas novas realidades e valores. Uma dessas novas propostas é a sustentabilidade, que foi assimilada à moda através dos produtos ecologicamente corretos, com os quais nos deparamos através dos mais diversos tipos de apelos conscientizadores. A adoção pela moda do termo sustentável implica alterar paradigmas que, por tempos, têm-na caracterizado. Efemeridade, rapidez e agilidade são parâmetros que permeiam o processo de desenvolvimento do produto, norteando os designers, que, por vezes, procuram responder aos anseios do seu público alvo, desenvolvendo produtos que atendam aos desejos mais implícitos de seu consumidor, instigando-o a consumir a cada lançamento uma nova peça de vestuário. Outra problemática dos produtos de moda é a obsolescência perceptiva, sobre a qual Martins afirma: ‘O sistema moda impõem um ritmo de obsolescência programada muito rápido em que os produtos de moda são descartados muito antes do fim da sua vida potencial’ (2010, p. 81). A minimização de utilização do produto acarreta em impactos ao ambiente. Diante dessa perspectiva, a sustentabilidade, inserida na moda, surge como uma nova postura de se desenvolver produtos, alguns pesquisadores como Proctor e Dougherty tratam este tema como algo que perdurará e evoluirá ao longo do tempo introduzidas em nossas vidas e na transformação da indústria. E como se tornou tendência abordá-la se acredita que esse conceito fique descrente A compilação moda e sustentabilidade ainda tem o crédito da dúvida, pois crê-se em propósitos envolvidos pelo apelo no marketing como afirma Carli: Assim, as empresas têm dado a visibilidade possível ao seu engajamento com os valores da sustentabilidade, buscando a simpatia dos seus consumidores. Ações marqueteiras, promessas que não podem ser cumpridas e verniz de fachada podem vingar por um tempo, mas não se sustentam no longo prazo. (2010, p.45)
  • 39. Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 39 Para que então a orientação para a eficiência dos produtos de moda seja fidedigna à sustentabilidade, há de se promover as pesquisas acadêmicas e a conscientização das empresas, do qual para Parode, Remus e Visoná (2010), surge agora um novo padrão em que para se estar inserido, deve-se ter uma mudança de postura e adotar a preocupação com o ambiente e com a sociedade, postura que a moda uniu a si, os autores completam: A moda, pode-se dizer, é um dos principais agentes de criação desse novo padrão, que hoje é seguido por empresas de todos os setores da economia, porém essa faz surgir um grande contrassenso. Como já discutido anteriormente, a moda é estimuladora da efemeridade, da significação dos objetos e da troca rápida desses signos para se manter atualizada na sociedade etc. Por outro lado, a moda está buscando soluções mais sustentáveis e ecorresponsáveis para produzir seus produtos, o que, na prática, significa uma espécie de economia de signos (PARODE; REMUS; VISONÁ, 2010, p.72) Assim, surge uma forma de desenvolver produtos de moda, que começarão a ser cada vez mais medidos pelas ações que interferem nos sistemas naturais, cujo foco é o impacto que as roupas provocam, seja pelo seu processo fabril , seja pelo simples uso diário. A mudança de paradigmas na moda deve acontecer no todo, ou seja, pequenas mudanças como alteração de matéria-prima do qual é feito o produto não é suficiente para afirmá-lo como sustentável, há a necessidade de mudanças na fase projetual, no processo de fabricação, no tempo de vida do produto e no designer, pois, dele sairá o pensamento do projeto. Sustentabilidade A sustentabilidade, no campo do design e na área do design de moda, levou a uma série de reflexões e mudanças, entre elas, a modificação de parâmetros para a criação de novos produtos. Parafraseando Medeiros et. al: “Foi com o surgimento do conceito de Desenvolvimento Sustentável, nos anos 80, que uma nova base aparece para quebrar os valores radicais ambientais em voga desde então, propondo um novo modo de produção e consumo onde o desenvolvimento industrial pode e deve conviver pacificamente com a natureza.” (2010, p.456) Segundo Manzini e Vezzoli (2008), o design sustentável compreende atividades que relacionam o tecnicamente possível com o ecologicamente necessário, a partir do desenvolvimento de novas propostas favoráveis às questões sociais e culturais, fato que se configura como objetivo-alvo, isto é, a serem atingidos por meio do desenvolvimento dos mesmos e não apenas e simplesmente um caminho a ser seguido. Para que um projeto seja sustentável, algumas considerações devem ser levadas em consideração, tais como: • Uso de recursos renováveis; • Otimização dos recursos não renováveis; • O não acumulo de lixo que o ecossistema não reutilize; • Possibilidade de que todo indivíduo possa usufruir do espaço ambiental. Reconhecer os impactos gerados no ambiente é mais um ponto favorável, pois, saber que o planeta é finito indica que devemos nos conscientizar sobre os atos nocivos causados por nós. E, sobretudo, ter consciência de que o consumo