O documento descreve as descobertas de pegadas e pistas de dinossauros e outros animais pré-históricos no Algarve, Portugal. Foram encontradas pegadas de terópodes, saurópodes, iguanodontianos e crocodilos datando do Cretácico e Jurássico. As descobertas destacam o potencial do geoturismo na região e a necessidade de mais proteção e divulgação destes sítios paleontológicos.
Algarve destino turístico privilegiado... até para dinossáurios!
1. Algarve, destino turístico privilegiado…
até para os dinossáurios!
Grupo de Paleontologia (GP)
Agrupamento Escolas Paço de Arcos - 2017
Tomás Alvim – 12º
Manuel Cabrita – 6º
Sofia Cruz -12º
2. O poder de atração que nos animais do passado exercem na população
tem-se centrado em visitas a jazidas com pistas de dinossáurios.
Aqui, as pessoas podem
observar as impressões reais,
deslocarem-se lado a lado com
as pistas dessas míticas
criaturas, recuando no tempo e
obtendo uma visão muito
aproximada desses animais e
dos seus comportamentos.
3. Mas o que dizer quando podemos juntar no mesmo local a praia, o sol, o
clima fantástico, uma água do mar excelente e as pegadas de dinossáurios?
O Algarve é um destino de
férias de parte significativa da
população portuguesa e de
grande número de
estrangeiros.
Praias e outros locais junto à costa têm
muito para oferecer – património
geológico e paleontológico.
Assim, podemos incrementar o
geoturismo, cativando mais visitantes
para a descoberta da ciência.
4. É o que acontece com as jazidas de
pegadas de vertebrados do Cretácico
inferior (Barremiano, cerca de 125
milhões de anos) localizadas nas
praias da Salema e da Santa, e da
Fóia do Carro, do Jurássico superior
(Portlandiano, cerca de 150 milhões de
anos ), a ocidente da cidade de Lagos.
5. Só em 1992 é que foram
descobertos os primeiros
elementos esqueléticos de
dinossáurios no Algarve –
algumas vértebras e dentes
encontrados na praia de Porto
de Mós (Cretácico inferior -
Aptiano, cerca de 110 milhões
de anos) - perto de Lagos, e
atribuídos a carnívoros (Santos
et al. 2000).
Terrinha descobriu os únicos elementos
esqueléticos de origem terópode encontrados
até hoje no Algarve.
O bloco, muito duro, inclui dentes e vértebras e
foi descoberto no extremo ocidental da praia de
Porto de Mós.
6. Em 1995, foram descobertas as primeiras pegadas de dinossáurios
terópodes num nível carbonatado a oriente da praia da Salema, por Coke
(Santos et al., 2000).
As dúvidas desapareceram – a região algarvia, pelo menos durante os
tempos iniciais do Cretácico, era povoada por dinossáurios carnívoros.
As pegadas tridáctilas têm impressões de dígitos esguios e longos, que terminam por
garras recurvadas. O comprimento médio é de 21,7 cm. Como a altura da anca se
aproximaria dos 85 cm (4 vezes o comprimento da pegada), a velocidade de
progressão é estimada em cerca de 4km/h.
7. Mas onde estavam as evidências dos herbívoros, o «menu» natural destes
predadores?
A partir de Janeiro de 1996, colegas do GP descobriram sucessivamente
outros níveis com pegadas.
Na zona oriental da praia da Salema, as primeiras pegadas de crocodilanos
Mesozóicos encontradas em Portugal.
8. Num estrato distinto na zona ocidental da praia da Salema encontraram a
primeira pista de iguanodontiano (ornitópode herbívoro) de Portugal.
Tínhamos já evidência de grandes herbívoros no Mesozóico algarvio.
Praia da Salema – em primeiro plano, a jazida com
pegadas de pequenos terópodes. Ao fundo,
assinalada pela seta, a localização da pista de
iguanodontiano.
9. Fotografia (atual) e esquema da pista de iguanodontiano (tal
como surgia em 1996).
10. O bípede, com cerca de 1,60 – 1,80m
de altura de anca (comprimento
médio das pegadas de 40 cm), deixou
uma pista «lenta» - deslocava-se a
uma velocidade rondando 1,8 km/h.
São pegadas tridáctilas com
comprimento e largura idênticos,
impressões de dígitos alargados,
terminando por uma espécie de casco
arredondado, simétricas e margem
posterior em forma de U. Apresentam
rotação interna.
A pista apresenta elevado ângulo de
passo – 171º.
11. Ainda em 1996, os
colegas do GP
descobriram uma nova
jazida na região oriental
da praia Santa (contígua à
praia da Salema), onde,
em dois níveis, surgem
várias pistas de
iguanodontianos,
integrando pegadas com
excecional preservação e
enormes pegadas de
origem ornitópode.
Mapa geral das pegadas e pistas
encontradas no nível "principal"
(inferior) da zona a oriente da praia
Santa.
Classes de dimensões das pegadas bem preservadas
(comprimento em cm).
Uma análise do quadro sugere que neste nível terão
passado, no mínimo, 8 indivíduos distintos.
Pegada de ornitópode
de pequenas dimensões.
12. A pegada 37, que integra a pista 4 e que foi produzida pelo pé
esquerdo, apresenta uma preservação excecional.
13. Uma das pegadas deve ter origem teropodiana,
apesar de ser uma pegada digitígrada.
As pistas 1 e 2
apresentam a mesma
direção e sentido de
progressão -
representam a
passagem de grandes
ornitópodes
(comprimento médio
das pegadas de 46 e
50,5 cm), caminhando
lado a lado,
evidenciando
comportamento
gregário.
14. A pista 6, formada
pegadas
consecutivas com
comprimento médio
de 35 cm, apresenta
a maior razão entre
os comprimentos da
passada e pegada, o
que se traduz numa
estimativa de uma
maior velocidade de
deslocação - cerca de
5,7 km/h, para uma
passada de 2,37 m.
15. Na “pista” 7 surge a pegada 56 com comprimento de 79 cm. Todas as
características desta impressão do pé direito, sugerem a passagem de um
ornitópode Hadrossaurídeo.
Podemos inferir que o
animal teria uma altura
de anca entre 3,2 e 4 m,
para um peso total
ultrapassando as 9
toneladas e um
comprimento total
superior a 12 m!
16. Em 2002, os nossos colegas colocaram à vista novas pegadas nos mesmos 2
níveis, mas no lado ocidental da praia Santa, onde surgem pegadas de
terópodes, de ornitópodes e as primeiras pegadas de saurópodes Cretácicos
do Algarve.
As setas a branco indicam a localização das pegadas encontradas nos dois níveis a
ocidente da praia Santa.
Ao fundo, assinalada pela seta a negro, encontra-se a jazida da praia da Fóia do
Carro, descoberta em 1995 por Maria Ramalho e onde se encontram pistas de
saurópodes do Jurássico final.
17. Fotografia e esquema de um par de pegadas de pés de saurópode que ocorre com
uma pegada de terópode.
Pegada de terópode.
Pegadas de ornitópodes.
18. Fotografia e coluna litoestratigráfica da região ocidental da praia
Santa. Estão assinalados os dois níveis com pegadas.
19. Estes ambientes sedimentares confinados (Santos et al, 2013) eram
frequentados por faunas muito diversificadas de vertebrados. Como todos
estes níveis terão sido depositados num curto intervalo de tempo, revelam
faunas quase sincrónicas, permitindo obter censos de predadores / presas .
E, sem um único osso, vamos atualizando estes censos com base nas mais
recentes descobertas e construímos censos de biomassa, que podem dar
informações úteis sobre os estilos de vida desses vertebrados Cretácicos.
Censo do número de diferentes tipos de pistas / pegadas para 9 níveis das jazidas da
Salema e da Santa (A). Assumindo que os teropódes e o crocodiliano eram
predadores, a relação herbívoros / carnívoros é de cerca de 75% para 25%. Em
termos de biomassa, a disparidade real seria ainda superior (B) (censos atualizados
em 2017).
A B
20. Em 2017, descobrimos novos
níveis com pegadas.
Par mão –pé de saurópode.
Pegada de ornitópode.
Pegada de terópode.
21. Chegando à praia da Fóia do Carro, 2 km para ocidente da praia Santa, temos
3 níveis do Jurássico final com pegadas. Apresentam uma grande dinoturbação
produzida pela passagem de vários saurópodes.
Em Janeiro de 2017, com uma temperatura formidável.
22. O acesso a estas jazidas é relativamente fácil, podendo ser realizado pela
praia em maré baixa; em alternativa, pode-se optar por seguir os trilhos já
abertos pelo topo das arribas, que permitem um contato direto com a flora
selvagem e vistas deslumbrantes.
23. Sugerimos que estão reunidas as condições para que o geoturismo nestas
praias seja incrementado, o que foi comprovado em vários anos de atividades
desenvolvidas no âmbito do Geologia no Verão e dinamizadas pelos colegas
do GP.
24. Principais dificuldades: carência de guias especializados e de elementos
interpretativos, desconhecimento destes recursos paleontológicos pelas
autoridades e empresários, défice de proteção ambiental, falta de estudos
para o desenvolvimento do turismo.
Estas jazidas encontram-se dentro dos limites do Parque Natural do
Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, entidade que tem obrigações legais
no campo da divulgação e conservação deste património.
25. Agradecimentos:
Agradecemos à Direção do Agrupamento de Escolas de Paço de Arcos o apoio financeiro;
Ao Ciência Viva e ao Programa “Geologia no Verão”;
E especialmente aos antigos colegas do Grupo de Paleontologia que descobriram a grande maioria dos icnótopos
referidos neste projeto.
Nota – todas as fotografias, esquemas, gráficos e desenhos incluídos neste trabalho são da autoria do Grupo de
Paleontologia.
26.
27. • Referências
• Foster 1990
• Santos, V.F., Dantas, P., Moratalla, J.J., Terrinha, P., Coke, C., Agostinho, M., Galopim
de Carvalho, A.M., 2000. Primeiros vestígios de dinossáurios na Orla Mesozóica
Algarvia. In Diez, J.B., Balbino, A.C. (Eds), Libro de Resúmenes del I Congreso
Ibérico de Paleontologia / XVI Jornadas de la Sociedad Espanola de Paleontologia,
Évora, Portugal, 12-14 de Outubro de 2000, 22-23.
• Santos, V.F., Callapez, M.P., Rodrigues, N.P.C., 2013. Dinosaur footprints from the
Lower Cretaceous of the Algarve Basin (Portugal): New data on the ornithopod
palaecology and paleobiogeography of the Iberian Peninsula. Cretaceous Research
40, 158–169.
• Lockley, M. 1990
• Thulborn 1990