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NO RASTO DOS DINOSSÁURIOS NA REGIÃO DE
SESIMBRA - 1
Desde há pelo menos 3500 milhões de anos que o nosso planeta é povoado por seres vivos. As
provas da existência desses organismos são os vestígios que deixaram, os FÓSSEIS.
A PALEONTOLOGIA é a ciência que estuda a vida no passado, analisando tanto
SOMATOFÓSSEIS (vestígios diretos dos organismos), como ICNOFÓSSEIS (vestígios das suas
atividades) – rastos, tocas, ovos, coprólitos, gastrólitos, pegadas.
.
No topo da arriba que limita, a norte, a baia dos
lagosteiros surge uma camada de calcário
acastanhado (Hauteriviano, Cretácico inferior) em cuja
superfície se observam varias pegadas e pistas,
impressas há cerca de 125 milhões de anos e
produzidas pelos pés de dinossáurios bípedes.
A pista mais espetacular dispõe-se em 2 setores, um
com 14 pegadas e outro com 16.
As pegadas são subcirculares (comprimento e largura
médias de 64 e 61 cm), sem marcas de dígitos, sendo
impossível distinguir pegadas de mãos e de pés. Pelo
seu ângulo de passo médio – 154º, a pista não pode
ser atribuída a um quadrúpede.
A semelhança com outras pistas Cretácicas de
Portugal, sugere que o dinossáurio bípede que deixou
a pista pertenceria ao grupo dos herbívoros
iguanodontídeos.
A impressão de uma provável cauda de
dinossáurio foi sugerida originalmente por
Antunes T. (1976) para explicar uma
depressão alongada que se situa a cerca
de 3,5 m de um par de pegadas tridáctilas
colocadas lado a lado.
Várias características da depressão bem
como das pegadas, sugerem que, se não
for um artefacto preservacional, pode
representar a parte intermédia da cauda
de um sauropode que teria assentado em
solo lodoso.
Na região de Sesimbra conhecem-se pelo menos 5 jazidas com pegadas de
dinossáurios, cujo estudo permite saber muito sobre a sua paleobiologia.
Pegadas e pistas de dinossáurios preservam a evidência directa de comportamentos e
constituem a aproximação mais «real» que possuímos destes animais enquanto criaturas
vivas. Têm o potencial de serem utilizadas para constrangir hipóteses locomotoras,
revelando detalhes da dinâmica da progressão, postura, estruturas integumentares,
distribuição do peso, anatomia dos membros, dimensões, velocidade, ... . Como
estruturas biogénicas sedimentares, as pegadas revelam os locais preferidos pelos seus
autores (não apenas dinossáurios, mas vertebrados em geral), com um potencial
significativo para inferências paleoambientais e paleoecológicas, Constituem uma
ferramenta essencial relativamente à composição das antigas comunidades, interacções
presa/predador, correlação bioestratigráfica.
Encontram-se identificadas 38 pistas de
sauropodes (dinossáurios quadrúpedes herbívoros)
e 2 de terópodes (dinossáurios bípedes
carnívoros), num total de quase 700 pegadas.
Parte das pistas encontradas no nível 5 da jazida da
Pedra da Mua. Com excepção da pista 5, todas as
outras são consideradas completas, com impressões
sucessivas das mãos e pés .
A pista 3 indica um comportamento de coxeamento -
passadas alternadamente curtas e longas. A pista 5 é
dominada pelas impressões da mão de um dos lados
do corpo (modificado de Meyer e colegas 1994).
Pegada do pé esquerdo
da pista 2, com cerca de
65 cm de comprimento.
As 7 pistas, todas do tipo wide-guage, apresentam uma direcção de progressão para ESE (num arco compreendido
apenas entre 114 e 122º), revelando velocidade de progressão entre 3,4 e 5,0 km / h e constituem “a melhor evidência
disponível de pequenos brontossaurios viajando em grupo” e representam “a primeira evidência irresistível de
sauropodes gregários encontrada na Europa” (Lockley e colegas 1994). Segundo as estimativas de idade realizadas
por Lockley (1994), os autores das 7 pistas teriam provavelmente entre 1 e 2 anos de idade. O interespaçamento das 7
pistas apresenta alguma variação, com as pistas 3-7 bem juntas e as restantes mais afastadas.
Ocorrem várias pegadas tridáctilas, com
comprimento variando entre 28 e 32 cm, cuja
morfologia permite atribuir a dinossáurios
bípedes carnívoros.
Um deles deslocava-se relativamente
depressa – para uma passada média de
3,2m, o bípede alcançava cerca de 15 km/h.
A passada relativa (relação entre passada e
altura da anca, estimada como 4 x o
comprimento da pegada) é de 2,2, sugerindo
que o animal se deslocava a velocidade
intermédia entre marcha e correr (o chamado
«trote»).
Esquema de pista de teropode encontradas no nível 3 (modificado de
Lockley e colegas 1994). Foi sugerido que o autor desta pista
(pegadas com 42 cm de comprimento) progredia a cerca de 14 km/h,
mas a nossa observação permite inferir que falta uma pegada
correspondente ao pé esquerdo.

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