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INSTITUTO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA
        MATER ECCLESIAE
            – IFITEME –




       A PEDAGOGIA CAVANIS
E A FORMAÇÃO INTEGRAL DO HOMEM




         PONTA GROSSA
             2004
Ir. MÁRCIO CAMPOS DA SILVA, CSCh.




      A PEDAGOGIA CAVANIS
E A FORMAÇÃO INTEGRAL DO HOMEM



                 Monografia apresentada como requisito do
                 Curso de Filosofia, do Instituto de Filosofia e
                 Teologia Mater Ecclesiae - IFITEME.
                 Orientadora: Prof. Hilda L. Bilek




         PONTA GROSSA
             2004
Dedico este trabalho a todas as pessoas que acreditam que através da
           educação se projeta e constrói o futuro da humanidade; a todos que
   acreditam que a educação é meio de integração e promoção social; os que
        crêem que a possibilidade da existência humana na Terra depende da
           importância que se dá e prepara a educação das futuras gerações e
     finalizando dedico a todos Cavanis, sejam esses leigos ou religiosos que
   buscam a promoção dos jovens e crianças através de uma dedicação total,
buscando e utilizando-se de todos os meios possíveis para alcançar o objetivo
                           de um homem mais humano, justo, solidário e feliz.



                                  ii
AGRADECIMENTOS




Na certeza de que minhas palavras serão poucas, pobres e pequenas, para
expressar, tamanha e inesquecível gratidão a todos que de uma maneira
direta ou indireta me ajudaram na construção deste trabalho. Sinto que não
deveria citar nomes mesmo que alguns de maneira particular tenham se
tornado mais presentes nesse período fatigoso de pesquisas. Para não correr
o risco de me esquecer ao longo dos anos que seguirão farei alusão a alguns
que através dos tempos manterão vivas em minhas lembranças a recordação
de outros. Primeiramente agradeço à Deus que me conduz, agradeço as
dificuldades e limitações que enfrentei e que me ajudaram a reconhecer sua
presença e amor de Pai. Também não poderia esquecer de expressar minha
eterna gratidão a Congregação das Escolas de Caridade, que custeou meus
estudos e ao longo desses 10 anos vem sendo o instrumento e voz do
Criador em minha vida. Agradeço com afeto às Irmãs Cavanis residentes em
Ponta Grossa, que familiarmente me acolheram e a Irmã Tereza que muito
me ajudou nas traduções do italiano. A comunidade religiosa que convivi: Pe.
Vanderlei Pavan, Ir. Renato Rothen e Jean A. Bezerra, que pacientemente
acompanharam-me ao longo desse ano marcante em minha vida. Aos
funcionários e alunos da Casa do Menor Irmãos Cavanis que representaram a
motivação maior para o desenvolvimento dessa pesquisa. E finalmente aos
professores do Instituto de Filosofia e Teologia Mater Ecclesiae – IFITEME -
que me prepararam para esse momento decisivo e conclusivo em mais uma
etapa de minha vida, dentre esse agradeço minha orientadora de métodos,
professora Lea Tereza Abibe e minha orientadora de pesquisas, companheira
e amiga ao longo desses cinco anos a professora Hilda L. Bilek.

                                 iii
RESUMO




A pedagogia dos Cavanis entendida como meio de formação integral, atual e
humana do homem. Para entender e conhecer sua origem, busca fazer um resgate
histórico na vida de personagens que para os Irmãos Cavanis tiveram relevante
importância na estruturação de sua nova prática educativa. Esse resgate reflete
sobre a vida de São Felipe Néri, que em pleno período renascentista forma um
grupo de religiosos que exercitam seu carisma através de catequeses, pregações e
retiros para os cristãos em vista de vencerem ao paganismo. Surge assim a ordem
do horto ou os Oratorianos. Também apresenta a vida de São Camilo de Lelis que
contemporâneo a Felipe fez uma revolução no conceito de atendimento hospitalar,
seu forte caráter e espírito de liderança fizeram nascer na sociedade a Congregação
dos Camilianos, religiosos dedicados a tratar os doentes com dignidade e respeito
acreditando neles se fazer presente o próprio Cristo. Outro personagem marcante na
vida dos Cavanis foi o jovem São Luiz Gonzaga, que tendo nascido em uma família
nobre abandona as regalias de seu mundo para viver a simplicidade dos que
possuem a Deus e por ser um santo jovem tornou-se modelo e padroeiro da
juventude. Os Irmãos Cavanis recordavam também de São Francisco de Sales, com
ele aprenderam a confiar na providência divina. A lembrança deste também aparece
quando eles em 1808 iniciaram a tipografia, pois o Santo em sua época
evangelizava através de periódicos de sua autoria. A vida e o jeito de São José de
Calasanz é tão presente na vida e na obra dos dois manos tanto que se corre o risco
de confundi-las, sendo que os irmãos o elegeram como padroeiro de sua obra
educativa. Já, São Vicente de Paulo é tomado como modelo a ser seguido, a vida do
pai da caridade marcou tanto a vida dos dois a ponto de denominarem sua obra
como Congregação das Escolas de Caridade. De certa forma, os Irmãos Cavanis
são como um apanhado de cada um desses personagens históricos a ponto de
considerar-se um novo estilo de vida religiosa distinta das anteriores. Sua pedagogia
aconteceu de maneira natural e manteve-se ao longo dos séculos como atual e
renovadora. Assim a pesquisa se limitará em apresentar restritamente suas práticas
pedagógicas em meio aos jovens sem esquecer de contrapô-las a pensamentos e
reflexões contemporâneas. Tal reflexão fará menção a conceitos psicológicos,
sociais, morais e afetivos, indispensáveis na Pedagogia dos Cavanis. Analisa-se
ainda o conceito de educação para o século XXI, segundo o Relatório Delors para a
UNESCO, e confirma-se que a pedagogia iniciada pelos Cavanis a mais de 200
anos continua atual e sua aplicabilidade é válida para os dias de hoje.




                                         iv
RESUMO




La pedagogía de los Cavanis entendida como medio de formación integral, actual y
humana del hombre. Para entender y conocer su origen, busca hacer un rescate
histórico en la vida de personajes que para los hermanos Cavanis tuvieran relevante
importancia en la estructuración de su nueva practica educativa. Este rescate
reflexiona sobre la vida de San Felipe Neri que en pleno periodo renacentista forma
un grupo de religiosos que ejercitan su carisma a través de: catequesis prelaciones y
retiros para los cristianos, en vista de vencer el paganismo. Surge así la Orden de
huerto o los Oratorianos. Tambien presenta la vida de San Camilo de Lelis que
contemporáneo a Felipe hace una revolución en el concepto de atención hospitalar.
Su fuerte carácter y espíritu de lideranza hicieran nacer en la sociedad la
Congregación de los Camilianos, religiosos dedicados a tratar los enfermos con
dignidad y respeto acreditando en ellos la presencia del propio Cristo. Otro
personaje marchante en la vida de los Cavanis fue el joven San Luis Gonzaga, que
habiendo nacido en una familia noble abandona las regalías de su mundo para vivir
la simplicidad de los que poseen a Dios por ser un santo joven tornose modelo y
patrono de la juventud. Los Cavanis recordaban también la vida de San Francisco de
Sales, de esto aprendieran a confiar en la Divina providencia. El recuerdo del santo
también aparece cuando ellos en 1808 iniciaron la tipografía, pues el Santo en su
época evangelizaba a través de periódicos de su autoría. La vida y el modo de San
José de Calasanz está presente en la vida de los dos hermanos, tanto que se corre
el siego de confundidlas, siendo que los hermanos la eligieron como patrono de su
obra educativa. San Vicente de Paul es tomado como modelo a ser seguido, la vida
del padre de la caridad marco tanto la vida de los dos hermanos a punto de
denominar su obra como Congregación de las Escuelas de Caridad. De cierta forma,
los hermanos Cavanis san como un compendio de cada uno de estos personajes
históricos a punto de considerarse un nuevo estilo de vida religiosa distinta de las
anteriores. Su pedagogía aconteció de manera natural y mantuvo se a lo largo de los
siglos como actual y renovada. Así la investigacion se limitará en presentar
estrictamente sus prácticas pedagógicas en medio de los jóvenes sin olvidar de
contraponer pensamientos y reflexiones contemporáneas. Tal reflexión tendrá luces
a conceptos psicológicos, sociales, morales y afectivos, indispensables en la
pedagogía de los Cavanis. Analizase todavía el concepto de educación para el siglo
XXI, según el velatorio Delors para a UNESCO, y confirmase que la pedagogía
iniciada por los Cavanis a más de doscientos años continua actual y su aplicabilidad
es válida para los días actuales




                                         v
RIASSUNTO




La pedagogia dei Cavanis intesa come mezzo di formazione integrale, attuale e
umana dell’uomo. Per intendere e conoscere la sua origine si cerca di fare una
rivalutazione storica della vita dei personaggi che ebbero un rilievo importante nella
strutturazione della nuova pratica educativa dei fratelli Cavanis. Questa rivalutazione
ci riporta alla vita di San Filippo Neri che in pieno periodo rinascentista forma un
gruppo di religiosi che si esercitano nel loro carisma attraverso il catechismo,
prediche e ritiri per i cristiani per sconfiggere il paganesimo. Sorge cosí L’ordine
dell’Oratorio o degli Oratoriani. Anche appresenta la vita di San Camillo de Lellis,
contemporaneo di Filippo che fece uma rivoluzione negli ospedali, quanto al modo di
ricevere e trattare gli ammalati. Il suo forte carattere e spirito di lideranza fecero si
che nascesse la Congregazione dei Camilliani, religiosi dedicati a trattare gli
ammalati con dignitá e rispetto, credendo che in loro si fa presente il proprio Cristo.
Un altro personaggio marcante nella vita dei Cavanis fu il giovane San luigi Gonzaga
che, nato in una famiglia nobile, abbandona il benessere del mondo per vivere nella
semplicitá di quelli che possiedono Dio e, per essere un Santo giovane, divenne
modello e protettore della gioventú. I Fratelli Cavanis furono influenziati anche da
San Francesco di Sales; da lui impararono a confidare nella Providenza Divina. Il
ricordo di San Francesco di Sales appare anche quando i Cavanis, nel 1808,
iniziarono la tipografia pubblicando riviste e scritti del Santo. La vita, anzi, lo stile di
vita di San Giuseppe Calasanzio era cosi presente nella vita e nelle opere dei due
Fratelli, che quasi si corre il rischio di confonderla, tanto che lo elessero patrono
della loro opera educativa. Giá San Vincenzo di Paoli, scelto come modello da
essere imitato, e la sua vita fondata e guidata influí tanto nella vita dei due fratelli
che derono il nome alla loro opera di Congregazione delle Scuole di Caritá. Di certa
forma, i Fratelli Cavanis sono un poco di ciascuno di tutti questi personaggi storici a
tal punto di concepire un nuovo stile di vita religiosa differente dalle anteriori. La loro
pedagogia si formó e sviluppó naturalmente e si mantenne attuale e innovatrice
durante i secoli. Cosi la ricerca si limiterá a presentare strettamente la sua pratica
pedagogia in mezzo ai giovani senza dimenticare di contraporla al pensiero e
ideologia contemporanei. La dará alcuni cenni ai concelti psicologici, sociali, morali e
afettivi, indispensabili e inerenti alla Padagogia Cavanis. So oltre a questo sará
analizzato il concetto di educazione nel secolo XXI, secondo il relatorio Delors per
L’UNESCO, e si afferma che la pedagogia iniziata dai Cavanis da piú di 200 anni fa
continua attuale e la sua applicazione é valida per i nostri giorni.




                                             vi
SUMÁRIO



RESUMO.................................................................................................................... iv
RESUMO..................................................................................................................... v
RIASSUNTO .............................................................................................................. vi
INTRODUÇÃO ............................................................................................................1
CAPÍTULO I PRINCÍPIOS ILUMINADORES ..............................................................4
CONSIDERAÇÕES INICIAIS......................................................................................4
1 SÃO FELIPE NERI ................................................................................................5
2 SÃO CAMILO DE LELLIS.....................................................................................9
3 SÃO LUIS GONZAGA.........................................................................................18
4 SÃO FRANCISCO DE SALES ............................................................................22
5 SÃO JOSÉ DE CALAZANS ................................................................................26
6 SÃO VICENTE DE PAULO .................................................................................31
7 IRMÃOS CAVANIS .............................................................................................34
7.1 TEMPERAMENTOS DIFERENTES ..................................................................41
CAPÍTULO II PILARES PEDAGÓGICOS.................................................................43
APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA ........................................................................43
1 O EDUCADOR CAVANIS ...................................................................................45
2 EDUCAÇÃO GRATUITA.....................................................................................45
3 AMOR PATERNO AOS JOVENS .......................................................................48
4 O MÉTODO .........................................................................................................49
4.1 VIGILÂNCIA CONTÍNUA ..................................................................................49
4.2 CONGREGAÇÃO MARIANA ............................................................................50
4.3 CATEQUESE ....................................................................................................51
4.4 HORTO (RECREIO)..........................................................................................51
4.5 ORATÓRIO .......................................................................................................53
4.5.1 Exercícios Espirituais......................................................................................53
5 INSTITUTO FEMININO........................................................................................54
6 PROFISSIONALIZAÇÃO ....................................................................................54
7 A PERFEITA INSTRUÇÃO DOS JOVENS .........................................................54
8 DISCIPLINA.........................................................................................................55
CAPÍTULO III A PEDAGOGIA CAVANIS E A EDUCAÇÃO CONTÊMPORANEA ..58
CONSIDERAÇÕES INICIAIS....................................................................................58
1 APRENDER A CONHECER E A PENSAR .........................................................59
2 APRENDER A FAZER ........................................................................................61
3 APRENDER A CONVIVER..................................................................................63
4 APRENDER A SER .............................................................................................64
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................66
REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS ...........................................................................68
ANEXOS ...................................................................................................................69




                                                            vii
INTRODUÇÃO


                                           “A educação é um trabalho que exige a ocupação
                                                 da pessoa o tempo todo (…), os operários,
                                                portanto devem ser bem treinados para este
                                                 ministério; livres de outras ocupações para
                                                               dedicar-se a ele inteiramente”.
                                                            (IRMÃOS CAVANIS 28/05/1814)


         Ao iniciar um trabalho de pesquisa acadêmica surgem diversas questões, o
grande desejo de responder essas dúvidas que povoam a mente humana e que ao
longo da história trouxeram à humanidade o que chama-se de futuro ou pós-
modernidade em busca de um desejo natural de realizar-se sonhos do passado que
de certa forma conduziram o homem ao desenvolvimento. Nem todo saber é
conhecido e nem tudo do que é conhecido é saber. Baseado nessa idéia encontram-
se velados na história da humanidade e de maneira particular na história da
educação, veneziana, dois personagens de relevante importância. Herdeiros de um
título de nobreza dois irmãos Antonio e Marcos, os condes Cavanis, constituíram um
marco em sua época. Num contexto de diversos conflitos político de governos
opressores e oprimidos e dentro do avassalador império napoleônico eles
permaneceram fiéis ao seu sonho de possibilitar vida digna de cultura, educação e
religião aos que delas não podiam desfrutar de forma plena, pelo simples fato de
terem nascidos menos afortunados.
         Essa pesquisa acadêmica quer ao mesmo tempo em que pretende refletir nos
ideais Cavanis ela o faz levando em conta a inserção do ser humano no contexto
atual.
         Para tanto será preciso questionar para compreender o que vem a ser
pedagogia.
         Quando um método de trabalho educativo pode ser considerado como
pedagógico?
         Qual é a pedagogia dos Cavanis?
Esse método tem aplicabilidade hoje? Quem pode aplicar a Pedagogia
Cavanis? E onde?
      A partir de uma peculiar intuição pedagógica os Irmãos Cavanis condensaram
em seu estilo próprio de interagir dentre os jovens princípios iluminadores de
personagens que deixaram marcas em sua época como: Felipe Néri, fundador da
ordem do horto; São Camilo de Lelis, que fundou uma congregação para ajudar e
confortar os doentes; São Luis Gonzaga, que os inspirou na pureza da mente e do
coração; São Francisco de Sales, exemplo de confiança na providência e exímio
escritor de temas espirituais; São José de Calasanz que foi um sacerdote espanhol
que oferecia educação às crianças pobres da periferia de Roma, o qual os Irmãos
Cavanis escolheram como padroeiro de sua obra educativa e São Vicente de Paulo,
fundador dos lazaristas e das Irmãs da Caridade, que escolheram como modelo a
ser seguido, assim os irmãos Cavanis apresentaram como paradigma de seu projeto
educativo o próprio Cristo.
      Assim este trabalho de pesquisa pretende apresentar os Irmãos Cavanis
como dois verdadeiros visionários, como dois homens que estiveram à frente de seu
tempo, sobretudo no campo da educação das crianças e dos jovens.
      Como ensinar, como formar sem estar aberto ao contorno geográfico e social
dos educandos? (FREIRE, 1996, p.137).
      Eles diziam que “Não adianta esperar por uma mudança na sociedade sem
cuidar como convém das crianças e dos jovens; é preciso usar os meios aptos para
conseguir o fim”. ad. tempora
      A metodologia utilizada nesse trabalho foi através de reflexão feita sobre as
cartas escritas pelos IRMÃOS CAVANIS sendo selecionadas as que mais dizem
respeito ao espírito e a finalidade de sua obra educativa como a pedagogia
desenvolvida. Também foram analisado autores contemporâneos que refletem sobre
o tema pedagogia e educação. O trabalho inicia sua pesquisa sobre os princípios
iluminadores que inspiraram o desenvolvimento da pedagogia dos Cavanis. Para
tanto essa pesquisa direcionou-se sobre a vida de SÃO FELIPE NERI, SÃO
CAMILO DE LELIS,SÃO LUIZ GONZAGA, SÃO FRANCISCO DE SALES, SÃO
JOSÉ DE CALAZANS e SÃO VICENTE DE PAULO. Num segundo momento a
pesquisa direciona seu foco na possibilidade da FORMAÇÃO INTEGRAL DO
HOMEM através da teoria educacional desenvolvida e praticada pelos Cavanis ao




                                        2
longo de um período histórico de 200 anos. A pesquisa é concluída no século XXI,
refletindo a aplicabilidade e validade da Pedagogia Cavanis na pós-modernidade.
      A pedagogia Cavanis surge com o desejo de suprimir uma carência de afeto e
educação que vive as crianças e jovens do século XVII na cidade de Veneza.
Alvorece como luz educativa dentro do período iluminista e tem em seu interior
contribuições de saberes e valores históricos de sua época como a revolução
francesa em 1789 e o alvorecer do período moderno. E que ainda hoje faz-se
convidativo para uma intensa meditação. A centralidade dessa Pedagogia Cavanis
encontra-se no próprio homem
      Percebendo a atual escassez de material em português sobre a pedagogia
Cavanis bem como a sua origem, esse trabalho quer ser um instrumento prático e
acessível a todos, que possibilite conhecimento histórico e pedagógico para uma
melhor aplicabilidade dela hoje.




                                        3
1º CAPÍTULO




                            PRINCÍPIOS ILUMINADORES


                                          “A perfeição não consiste em fazer grandes coisas
                                            que nos fazem parecer grandes diante dos olhos
                                           dos homens, mas em ser grande diante dos olhos
                                             de Deus, fazendo tudo conforme sua Vontade”.
                                                         (Pe. ANTONIO CAVANIS 11/1843))


CONSIDERAÇÕES INICIAIS


      Entende-se por princípios iluminadores as fontes que inspiraram e motivaram
os irmãos Antonio Ângelo Maria Cavanis e Marcos Antônio Maria Cavanis a
desenvolverem uma obra educativa através da escola que a posteriori herdará o
nome de Congregação das Escolas de Caridade-Cavanis.
      Esses focos luminosos condensados na pedagogia Cavanis, constituíram o
que eles denominaram de formação integral do homem.
      Para tanto se torna necessário uma análise objetiva desses princípios que
inspiraram e motivaram os Irmãos Cavanis. Para desenvolver um paralelo entre:
Igreja, Estado, educação e sociedade e refletir sobre a vida de personagens que
para os Irmãos Cavanis tiveram com seu pensamento relevante importância na
história da educação de sua época.
      Essa análise histórica passará na ótica filosófica pelos períodos renascentista
abrangendo o século XV e XVI, contextualizando os personagens: Felipe Neri (1515
-1595), Camilo de Lelis (1550 – 1614), Luis Gonzaga (1560 – 1591) e na segunda
metade do século XVI adentrando o século XVII encontra-se Francisco de Sales
(1567 – 1622), José de Calazans (1556 – 1643), este escolhido pelos Irmãos
Cavanis como padroeiro da obra Cavanis e Vicente de Paulo (1580 – 1660),
popularmente conhecido como pai da caridade e que os Irmãos Cavanis
apresentavam aos congregados como modelo a ser seguido. (SANTA CRUZ, 1993,
p.50-51)
        Esse primeiro capítulo será finalizado com uma análise sobre os Irmãos
Cavanis, observando a centralidade de sua pedagogia e contextualizando-a na
filosofia e na história do período iluminista destacando o império napoleônico com a
revolução francesa e o pensamento histórico contemporâneo, iniciado por Emanuel
Kant.


1   SÃO FELIPE NERI


          São Felipe Neri, missionário e fundador da Congregação do Oratório, Nasceu
em 22 de julho de 1515 em Florença, Itália como Phillipe Romolo Neri. Filho do
tabelião Francisco Néri; estudou sob influência dos Dominicanos em São Marcos, no
Veneto e aos dezoito anos foi mandado para São Germano, a um seu parente sem
filhos, que se supunha ter um negócio florescente e do qual se esperava que o
ficasse     seu   herdeiro.   (THURSTON,H.J.;   ATTWATER,D.,1988,      p.237.)   Ele
abandonou os negócios em 1533, foi para Roma. Hospedou-se no salão da casa de
Galeotto Caccia, oficial da alfândega. Em troca da hospitalidade, dava aulas a dois
filhos do oficial. Ibid., p.238
        Estudou dois anos com profundidade a partir de 1533 teologia e filosofia. A
região onde residia se recuperava do saque de 1527. As escolhas e decisões da
Igreja eram controladas pelos Médici e os cardeais com raras exceções eram
príncipes de Estado, mais do que propriamente da Igreja. id.
        O entusiasmo pelos autores clássicos, estimulados pela Renascença
substituiu, aos poucos as idéias cristãs por idéias pagãs, fazendo baixar o padrão
moral e enfraquecendo a fé.
        Pairava nessa época do período renascentista, sob a influência do
pragmatismo, no clero romano uma indiferença e um abandono, deixando suas
igrejas cair em ruínas e não havia acompanhamento de seu rebanho, fato que
levava o povo ao semi-ateísmo. Reevangelizar Roma foi a obra da vida de Felipe, e
ele executou com êxito, merecendo receber posteriormente o título de apóstolo de
Roma. Em pleno clima de reforma e contra reforma, Felipe expressou a sua opinião
a respeitos “É possível restaurar as instituições com a santidade, e não restaurar a
santidade com as instituições”. (SGARBOSSA, M.; GIOVANNINI, L., 1983, p.165)



                                          5
Seu trabalho apostólico consistia em circular pelas ruas, esquinas, mercados
e praças de Sant’Angelo. Sua personalidade atraente acompanhava seu senso de
humor      que   facilmente   cativava   um   ouvinte.   Seus   conhecimentos   e   sua
espiritualidade ajudavam-no a dizer uma palavra no momento adequado com quem
conversava, quando não falava do amor de Deus ou de sua vida espiritual. Dessa
maneira, convencia muitos a abandonar seus maus costumes e a modificar suas
vidas.
         Felipe tinha uma saudação costumeira: “Bem, irmãos quando é que
começareis praticar o bem?”(loc. cit.) Assim ele conseguia levar muitos a cuidar dos
doentes nos hospitais e a visitar as Igrejas.
         O que sustentava essa vida em favor dos menos favorecidos e em defesa da
Igreja era a sua constante vida de oração. Retirava-se para a oração: “Se quisermos
nos dedicar inteiramente ao nosso próximo, não devemos reservar a nós mesmos
nem tempo nem espaço” SGARBOSSA, M.; GIOVANNINI, L., (1983, p.165). Assim
passava a noite ora no pórtico de alguma igreja, ora, nas catacumbas de São
Sebastião, junto a via Ápia.
         Em suas orações noturnas, em certa ocasião véspera de Pentecostes, em
1544, pedindo fervorosamente os dons do Espírito Santo, experimentou um êxtase
que dilatou seu coração apareceu-lhe um como globo de fogo que entrou pela boca
dilatou-lhe o peito. Imediatamente foi tomado de um paradoxismo de amor divino,
que rolou pelo chão, exclamando “basta, basta, Senhor, eu não posso mais
suportar!” op. cit, p.239
         Ao levantar-se sentiu-se mais recomposto, e assim quando pôs a mão sobre
o coração, percebeu um inchaço do tamanho do punho de um homem, o qual nem
no momento ou posteriormente lhe causou sofrimento. Mas, desde aquele momento
a qualquer emoção espiritual era facilmente surpreendido por violentas pulsações
que faziam todo o seu corpo tremer e algumas vezes sacudiam violentamente a
cadeira ou a cama onde se encontrava. Sentia também em suas consolações
espirituais calor no peito que o levava a desnudá-lo com o intuito de abrandar-lhe o
calor, assim, em suas orações pedia a Deus que amenizasse essas sensações,
caso contrário morreria de amor.
         Após sua morte descobriu-se que duas das costelas do santo, se haviam
partido e formavam um arco que aumentava o espaço normal para as batidas do
coração.



                                              6
Estudante em Roma abandona os estudos vendendo os livros para dedicar-se
totalmente a atividades beneficentes. Após três anos passou a organizar uma ordem
de Irmãos Leigos. No ano de 1548, com o auxílio de seu confessor, o padre
Persiano Rosa, que vivia em San Girolano della Carita, Felipe devotado ao seu
apostolado fundou uma comunidade, a "Confraria da Mais Santa Trindade" para
exercícios espirituais na Igreja de San Salvatore in Campo para orarem juntos,
cuidarem dos doentes e peregrinos que vinham para Roma, também recolheram
consigo meninos turbulentos dos subúrbios romanos e os educavam divertindo-os. A
quem se queixava do barulho respondia: “Contanto que não pratiquem o mal, ficaria
satisfeito até se me quebrassem paus na cabeça”. (SGARBOSSA, M ; GIOVANNINI,
L., 1983, p.165). Ficou muito conhecido pela sua bondade e simpatia.
      Ele popularizou a devoção das 40 horas em Roma, devoção essa que ainda
hoje é muito comum, consiste em dois dias de adoração ao Santíssimo Sacramento
que pode ser feita em preparação ou após a festa de Corpus Christi. Essa obra
desenvolveu-se até o ponto de tornar-se o hospital de Santa Trinitá dei Pellegrini. Ao
completar 34 anos, Felipe Néri já havia realizado obras religiosas de atendimento
aos pobres, peregrinos e crianças, grupos de orações que permanecem até a
atualidade. Embora em sua humildade o fizesse evitar o pensamento de tornar-se
padre, submetido ao desejo de seu confessor no dia vinte e três de maio de 1551, foi
ordenado, com trinta e seis anos. Já desde antes do despontar da manhã até o meio
dia e muitas vezes de novo a tarde ele atendia uma multidão de penitentes de todas
as idades e condições. De acordo com THURSTON,H.J.; ATTWATER,D loc. cit., ele
tinha a capacidade de ler o pensamento dos que o recorriam, realizando assim
conversões. Visando ao bem dos penitentes, ele costumava realizar conferências
informais e discussões, seguidas depois de visita as comunidades.
      Néri tinha o hábito de ler em voz alta a vida dos mártires e missionários.
Meditando sobre o relato da vida e morte de São Francisco Xavier, impressionou-se
de tal maneira a ponto de oferecer-se como voluntário para trabalhar nas missões no
estrangeiro. Mas, um cisterciense que ele consultou garantiu-lhe que Roma era a
sua Índia, e Felipe acatou a orientação. Para ajudar os mais necessitados não
hesitava em pedir esmolas nas estradas. Um dia um indivíduo sentindo-se
importunado, deu-lhe um soco. Ao que Felipe respondeu: “Este é para mim? Agora
me dê algum dinheiro para meus meninos”. op. cit.




                                          7
Felipe Néri auxiliado por outros sacerdotes dirigia conferências na Igreja de
San Girolano e para acomodar os que o assistiam, construiu-se uma grande sala
sobre a nave da Igreja. Esse grupo recebeu o nome de oratorianos, porque eles
tocavam um sininho para convocar os fiéis às orações em seu oratório. Mas os
verdadeiros fundamentos da Congregação desse nome só foram lançados anos
depois, quando Felipe apresentou cinco de seus jovens discípulos para a ordenação
sacerdotal, entre os quais se achava César Barônio, e os mandou servir a Igreja de
San Girolano.
      Felipe compôs algumas regras simples de vida. Eles participavam de uma
mesa comum e de exercícios espirituais sob sua obediência, mas, proibiu-lhes que
se vinculassem a esse estado, pelos votos, os seus bens materiais, caso
possuíssem algum.
      Outros vieram juntar-se a eles e sua organização e obra se desenvolveram
rapidamente, justamente pelo fato de encontrarem oposição e até mesmo
perseguição por parte de setores da Igreja. Contudo em 1575, a nova sociedade
obteve aprovação formal do Papa Gregório XIII, que lhe doou a Igreja de Sant Maria
em Vallicella. As regras de sua Constituição foram aprovadas pelo Papa Paulo V em
1612. A Congregação do Oratório se espalhou por toda a Europa e América do Sul.
O Papa Gregório XIV tentou fazer dele um cardeal, mas Filipe recusou.
      Felipe era um homem de saúde delicada e tinha a capacidade de predizer
acontecimentos, vivia em contato com o sobrenatural e ao recitar o Ofício e celebrar
a Missa por diversas vezes caía em êxtase. Pessoas que conviveram com ele
testemunharam que, Felipe irradiava uma luz celeste. Depois dos 75 anos de idade
limitou sua atividade ao confessionário e a direção espiritual. SGARBOSSA, M.;
GIOVANNINI, L., (1983, p.165)
      Em 1577 a Congregação do Oratório mudou-se para a Igreja de Sant Maria
em Vallicella, somente em 1584 é que Néri passou a morar em Vallicella atendendo
pedido expresso do Papa. O povo romano tinha por ele veneração, e nos últimos
anos de sua vida, todo o colégio cardinalício recorria a ele, buscando conselhos e
revigoramento espiritual e tão grande era a sua fama que os estrangeiros vindos
para Roma desejavam ser apresentados a ele. id.
      Respeitado e amado em Roma foi um conselheiro de Papas, Reis, Bispos,
Cardeais e igualmente confessor e conselheiro de leigos e do povo mais simples de
Roma .



                                         8
Foi em seu quarto, que ele confirmou seu apostolado quando a idade
avançada e as enfermidades crescentes o impediram de circular livremente. Ricos e
pobres visitavam seus aposentos e para todos dava um conselho adequado a suas
necessidades particulares.
       Dois anos antes de morrer ele conseguiu demitir-se do cargo de superior em
favor do seu discípulo Barônio. Obteve também permissão de celebrar a missa
diariamente em um pequeno oratório unido a seu quarto.
       Na festa de Corpus Christi , dia 25 de maio de 1595, Felipe apresentou-se
radiante de felicidade que beirava a exultação, e seu médico lhe disse que não o via
assim a dez anos . Durante todo o dia ouviu confissões e recebeu visitas, como de
costume e ao meio dia disse: “Ao cabo de tudo, devemos morrer” segundo o relato
de seus congregados, citado por (THURSTON,H.J.; ATTWATER,D, 1988, p.241.)
       Por volta da meia noite sofreu um ataque de hemorragia que os padres foram
chamados. Era evidente que estava para morrer assim Barônio que lia as orações
da encomendação, pedia a ele que dissesse uma palavra de despedida, ou pelo
menos abençoasse seus filhos. Embora Felipe não conseguisse mais falar, levantou
a mão e expirou enquanto abençoava. Ele estava com oitenta anos. Seu corpo foi
sepultado na Igreja nova de Vallicella onde os oratorianos servem até os dias de
hoje. Ibid., p.241
       Foi beatificado em 1615 pelo Papa Paulo V, e canonizado em 1622 pelo Papa
Gregório XV . Seu símbolo na liturgia da Igreja é um lírio e um anjo com um livro.
       Sua imagem está entalhada em um santuário na Casa Matriz da Igreja de
Santa Maria, em Vallicella . A mais famosa pintura dele foi feita por Guido Reni, que
serviu de base para as subseqüentes apresentações de suas fotos-pintura.
       Sua festa é celebrada no dia 26 de maio.


2   SÃO CAMILO DE LELLIS


       No ano santo de 1550, os peregrinos de diversas partes do mundo afluíam a
Roma e o concílio de Trento recomeçava as suas sessões sob o Pontificado de Júlio
III. Em Bucchianico celebrava-se a festa do padroeiro do lugar, Santo Urbano, em 25
de maio. Camila sempre mui devota foi logo cedo à Missa chamada Messa picola,
porque não podia, como estava, assistir à missa solene da grande festa. Enquanto
adorava Jesus Hóstia, no instante da consagração, como Isabel, a Mãe do Batista,



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sentiu que o filho exultava de alegria no ventre materno. Voltou depressa para casa.
Percebeu que a hora chegava. Uma amiga aconselhou-a a recorrer a São Francisco
e descer até a estrebaria, onde também nascera Jesus         em Belém, e o Santo
Patriarca em Assis. Camila naquela angústia assim o fez, e gemendo de dor
estendeu-se sobre a palha, o feno dos animais, e ali nasceu a criança. A notícia
correu célere. O milagre andava de boca em boca. A velha Dona Camila era mãe
aos sessenta anos! Afluiu muita gente à casa “De Lellis”. A pobre mãe não cabia em
si de tão feliz, porém, sentia-se ruborizada com aquele parto em idade tão avançada.
Mas essa piedosa mãe não viveu muitos anos mais. Em 1563, com quase 73 anos
de idade, expirou santamente. O pai, agora comandante da fortaleza de Pescara,
poucas vezes vinha a Bucchianico, e o filho fora entregue aos cuidados de
estranhos. (BRANDÃO 1978, p.13-15)
      Camilo aproveitando da liberdade e em más companhias aprendeu a jogar. A
família que o adotou o colocou em uma escola onde tirou proveito, pois não obstante
as vadiações e peraltices era inteligentíssimo. Tinha boa memória, recitava muito
bem e gozava de grande prestígio entre os colegas de classe. Aos dezessete anos
resolveu se alistar entre os venezianos que em 1567 andavam assalariando na
guerra contra os turcos. Camilo lutou ao lado do pai junto dos habitantes de Veneza
contra os turcos, mas logo após a morte do pai que ocorreu nas vizinhanças do
Santuário de Loreto, no castelo de São Lupo, Camilo contraiu uma doença incomoda
e repulsiva, que posteriormente denominou de a primeira misericórdia, era uma
chaga no peito do pé direito, que não a tratou bem e após ter infeccionado tornou-se
profunda e incurável. Ibid, p.17
      Um dia sentado à beira do caminho, Camilo viu passar dois padres da Ordem
Franciscana. A modéstia dos religiosos o impressionou. Chegou mesmo a fazer o
voto de entrar para um convento franciscano. Dirigiu-se para Áquila e foi bater à
porta do convento de São Bernadino. Expôs ao guardião o padre Frei Paulo
Loretano, seu tio materno, todas as suas desgraças e o desejo de se converter e
fazer penitência. O tio franciscano o ouviu comovido, mas não o quis receber.
Camilo descansou ali alguns dias, tratou-se um pouco e resolveu partir para Roma,
chagando lá procurou um hospital para curar-se.
      Em 1569, foi internado no hospital da San Giacomo (São Tiago) em Roma
para doentes incuráveis, ficando lá como paciente serviçal. Passado nove meses, foi
demitido, entre outros motivos por causa de suas reclamações, pois o rapaz não



                                        10
tinha juízo. Era cabeça quente, brigava com os enfermos por qualquer ninharia,
discutia com os enfermeiros, e perdia o tempo no jogo. Assim a diretoria do hospital
o dispensou do serviço como incorrigível e inepto para o ofício de enfermeiro. id.
      Voltou para o serviço ativo na guerra contra os turcos. Camilo referia-se
como um grande pecador, seu maior vício era o da jogatina que constantemente o
levava à penúria e a vergonha. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p.172)
      No verão de 1571, Camilo foi transferido para a guarnição da Ilha de Corfú.
Local que se travaria a histórica batalha de Lepanto. Ocorrera terrível epidemia a
qual Camilo contraiu e tendo ficado gravemente doente recebeu a unção dos
enfermos, melhorou sensivelmente. No ano seguinte, em 1572, alistou-se de novo
no exército e partiu para a luta. Quase perdeu a vida no combate dos turcos em
Castelnuovo. Em março de 1573, restabeleceu a paz, Camilo se põe a serviço da
Espanha. Após naufrágio junto à Ilha de Capri, chegou a Nápoles. Em outubro de
1574, devido ao vício da jogatina, apostou sua camisa e perdendo foi obrigado à
humilhação de tirá-la em praça pública. Assim chegou ao extremo da miséria.
(BRANDÃO 1978, p.19-20)
      No dia 15 de agosto de 1582, festa da Assunção da Virgem Maria, Camilo
velava os doentes e enquanto isso meditava que era triste ver tantos doentes
abandonados, sem assistência material e espiritual, entregue às vezes em mãos de
mercenários. Como remediar tantos males? Sente assim em seu coração a pulsão
de instituir uma companhia de homens piedosos que aceitassem generosamente a
missão de socorrer aos enfermos, sem esperarem recompensa ou paga, e o
fizessem com a ternura de Mãe. Essa companhia teria como distintivo uma cruz
vermelha ou outro distintivo qualquer. Essa foi a primeira inspiração que sentiu em
seu coração.
      Camilo convicto dessa inspiração dispõe-se a convidar alguns amigos, entre
eles estava o Pe. Francisco Profeta da Sicília, capelão de São Giacomo, homem de
grande ciência e virtude, Bernardino Norcino di Amatrice, Cruzio Lodi, Ludovico
Altobelli e Benigno Sauri, que trabalhavam no hospital. As palavras de Camilo e a
sua maneira de apresentar suas motivações entusiasmaram esses companheiros
que tomaram o amigo como seu mestre e guia. Assim dentro do hospital prepararam
um espaço que continha um altar e um crucifixo para suas orações em comum e em
momentos livres lá se encontravam para combinar como levarem adiante essa obra.




                                          11
O fundador sentia também o desejo de congregar a esse grupo, sacerdotes
seculares, que fossem piedosos para o serviço dos enfermos, principalmente para
lhes ministrarem os sacramentos como a Unção dos enfermos e o Viático
prontamente quando necessário e, além disso, que realmente tivessem verdadeiro
amor e afeto para com os agonizantes. Camilo pensava que assim poderia salvar
muitas almas e conceder-lhes atendimento digno, para que se sentissem
verdadeiramente amados e que não se encontravam sós.
      Camilo retornou os estudos, aos trinta e dois anos, com dois sacerdotes, e
andava com a gramática latina por toda parte, no mesmo ano de 1582 passou a
freqüentar aulas no Colégio Romano onde se encontravam célebres teólogos e
sábios da Companhia de Jesus como São Roberto Belarmino, Vasquez e Suarez,
filósofo da contra reforma.
      O programa dos estudos constava de gramática, retórica e humanidades. O
curso filosófico de três anos e o teológico de quatro anos. Nesse ano da matrícula
ele entrou no curso inferior onde estavam os que apenas sabiam ler e escrever e
aprendiam rudimentos de latim. Era uma turma com meninos de 12 e 13 anos de
idade. A criançada o ridicularizava e repetia: Tarde venisti! Tarde tarde venisti! Um
dia o mestre Pe. Cornélio Ciprioto, ao ver a gozação disse aos meninos: “Este
homem que é objeto de vossa zombaria, há de fazer grandes coisas na Igreja de
Deus!” Sendo assim cessaram-se as zombarias e começaram a admirar a virtude e
a boa vontade do aluno de trinta e dois anos.
      Os padres Jesuítas empenharam-se para vê-lo adiantado na instituição. No
ano de 1583 julgaram suficientemente instruído para receber as ordens menores.
(BRANDÃO, 1978, p.38)
      No dia 2 de fevereiro de 1583, Ele se reveste do hábito clerical e recebe a
Tonsura. Nos três domingos seguintes recebeu as ordens menores das mãos do
vice-regente de Roma, Tomás Goldwell, bispo de São Asaph, último bispo exilado da
antiga hierarquia inglesa. (THURSTON; ATTWATER, 1989 p.174)
      Para receber as ordens maiores, diaconato e presbiterado encontrou nova
dificuldade onde o candidato que não fosse religioso professo deveria ter um
patrimônio ou título equivalente que assegurasse a honesta sustentação. Camilo era
pobre e os honorários que recebia como mordomo de São Giacomo, dispensava em
favor dos pobres.




                                         12
Numa tarde de dezembro de 1583, encontra um senhor ilustre, nobre romano,
Fermo Calvi, que apenas o conhecia de vista. Trocando conversas chegaram às
dificuldades que Camilo se encontrava para ser ordenado. O senhor generoso e
dotado de enorme fortuna, de imediato ofereceu a quantia necessária para tal
empréstimo e posteriormente veio a ser um grande benfeitor da obra, terminando
seus dias no seio da família camiliana.
      Sábado, 26 de maio de 1584, na oitava de pentecostes, Camilo foi ordenado
sacerdote. Após esta graça quis entrar em retiro, no silêncio e na oração, a fim de se
preparar melhor para subir ao altar. Passou duas semanas recolhido, orando e
fazendo penitência recebeu apenas a visita de São Felipe Néri, seu diretor espiritual.
No domingo, 10 de junho do mesmo ano, terceiro domingo de pentecostes, celebrou
a primeira missa na capela de Santa Maria Porta Padadisi.
      Seu benfeitor Fermo Calvi ofereceu-lhe um cálice, um missal, três casulas e
outros paramentos.
      Padre Camilo ainda freqüentava as aulas e estas ocuparam cinco horas por
dia, continuava na direção do hospital e fora nomeado capelão de uma Igrejinha de
nossa senhora, Maria Donnina dei Miracole. (BRANDÃO, 1978, p.41)
      A atividade do novo sacerdote era intensa, pois estudos, direção do hospital e
a capelinha lhe absorviam o dia todo e parte das noites.
      A Companhia dos enfermeiros foi iniciada em 15 de setembro de 1584, no
referido santuário da Virgem, sendo três os primeiros camilianos: Cruzio Lodi,
Bernadino Norcino e o Padre Francisco Profeta a quem Camilo deu o hábito clerical.
Estabeleceram um regulamento a ser observado, e foram trabalhar no hospital do
Espírito Santo onde assistiam os doentes com tanto afeto e cuidado que se tornava
visível a todos quantos os observavam que eles consideravam como se fosse o
próprio Cristo aquele que estava ali deitado, doente ou ferido, em seus membros.
(THURSTON; ATTWATER, 1989, p.173). Os três companheiros desligaram-se dos
compromissos de São Giacomo.
      A primeira grande tribulação foi quando São Felipe Néri deixa de ser diretor
espiritual de Camilo a única segurança que Camilo encontra é no seu crucifixo que
sentia lhe dizer “caminha avante, pois a obra é minha” (BRANDÃO 1978, p.44)
      A segunda grande prova veio de uma enfermidade que abateu Camilo e
Cruzio, devido a umidade vinda do Tibre, e a vida pobre e sem conforto em
Madonnina. Camilo conforta o amigo com essas palavras: “Esta enfermidade, vem



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do Senhor, e fomos favorecidos com esta visita de Deus, afim de que aprendamos
com a nossa própria doença, e nos tornemos mestres na escola do sofrimento para
nos tornarmos mais fervorosos e compassivos em socorrer o próximo enfermo”.
Ibid., p. 45
       Devido a umidade e insalubridade da casa, Camilo e seus companheiros
precisavam mudar-se de Madonnina e confiando na providência alugaram uma outra
casa que exigia cinqüenta escudos anuais e um semestre adiantado; ajudados por
Pompeo Baratelli outro amigo e benfeitor estabeleceram-se na Via Delle Bottegere
Oscure, em janeiro de 1585. Este era um ambiente melhor, mais saudável e central.
Puseram-se a trabalhar em dois hospitais o de São Giacomo e o do Espírito Santo,
Camilo preferiu trabalhar onde exerciaeria os trabalhos mais humildes, trataria dos
repugnantes, os mais imundos, os mais grosseiros e difíceis. Sofria dolorosas
humilhações. O hospital não era muito organizado, mas ocorriam graves abusos,
como o de levarem doentes ainda vivos para o necrotério. (BRANDÃO 1978, p.47)
       Camilo acolhia em sua companhia quantos manifestassem vocação.
Entretanto fazia-os passar duras provações e os experimentava rigorosamente per
ignem et águam provas de água e fogo nos hospitais e no trabalho. Nem todos
perseveraram e resistiam às provas. id.
       Os religiosos camilianos destacaram-se no seu apostolado, pois atendiam
também os enfermos no seu domicílio, trabalho esse que trouxe maior prestígio à
Companhia dos enfermeiros. O nome camilianos não era aceito por Camilo e sua
humildade, assim preferiu denominá-los de Ministros dos Enfermos, no entanto as
pessoas mais comumente os denominavam padres da boa morte ou do bem morrer.
       A regra religiosa dessa Congregação escrita pelo fundador compreende duas
partes: a primeira estabelecia as práticas para a observância dos conselhos
evangélicos, a consagração total de suas vidas a Deus expressada através dos
votos de pobreza, castidade e obediência e a segunda a assistência aos enfermos.
       Logo no início a congregação sofre com a perda de um confrade, Bernardino
Norcino, homem de oração e penitência que veio a falecer no dia 16 de agosto de
1585. O seu corpo foi sepultado na Igreja do Gesú dos padres jesuítas da
Companhia de Jesus. Ibid., p.49)
       A nova comunidade crescia de maneira expressiva e se via a necessidade de
uma habitação maior. Na festa de Santa Madalena Camilo visitou seu santuário e
contemplou com amargura os estragos e a pobreza da Igreja em ruínas. Sentiu o



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desejo de adquiri-la. O velho templo pertencia a um nobre senhor amigo de Camilo
que não hesitou em lhe conceder o santuário, restando a Camilo o encargo de
quase reconstruí-lo. As autoridades atendendo aos benefícios que os ministros
prestavam ao povo deram trezentos escudos para a reforma. E assim essa se tornou
a casa mãe da ordem.
       No ano de 1585, morre o Papa Gregório XIII e o conclave elegeu para seu
sucessor Sisto V, que foi um reformador enérgico e decidido. Camilo teve receio de
pedir a aprovação da nova ordem sem um bom protetor. Tendo encontrado o
Cardeal Vicente Lauro, Bispo de Mondovi, e homem de grande influência junto ao
Santo Padre e de valor, pediu-lhe a aprovação da ordem sem rodeios, mas com
simplicidade foi logo advogando o que queria. O Cardeal simpatizando-se com
Camilo e informou-se da idoneidade do instituto, pediu as constituições e sem
demora apresentou-se ao Papa Sisto V, com os documentos e advogou a causa da
nova Ordem. O cardeal admirou-se da sabedoria da regra, escrita por um homem
sem cultura. Tanto elogiou e defendeu que foi nomeado protetor da obra.
(BRANDÃO 1978, p.51)
       O Breve de 18 de maio de 1586 aprovou a nova Congregação Religiosa,
concedendo aos ministros dos enfermos a licença de professarem os votos de
pobreza, castidade, obediência e o serviço aos enfermos, mesmo os empestados. O
Padre Camilo fora eleito o primeiro superior.
       Em 1588, Camilo e mais seis companheiros fundaram uma comunidade em
Nápoles. Nesse mesmo ano ocorreu que algumas galeras, tinham a tripulação
infectada pela peste e foram proibidas de atracarem no porto. Desse modo, os
ministros da saúde, novo nome atribuído a Camilo e seus companheiros em
Nápoles, subiram a bordo e lá davam assistência aos doentes. Numa dessas
ocasiões, dois dos seus membros morreram por causa da peste, sendo os primeiros
mártires da caridade dessa instituição. O fundador demonstrou o mesmo espírito de
caridade em Roma, quando uma febre provocada pela peste eliminou um grande
número de habitantes em outra época quando essa cidade foi visitada por uma
violenta carestia.
       Em 22 de setembro de 1591, o Papa Gregório XIV assinou uma bula que
elevou a congregação à condição de Ordem Religiosa para o serviço perpétuo aos
doentes. No dia 15 do mês seguinte morre o Papa e os dois Pontífices que o
sucederam não admitiam a aprovação de novas Ordens. Fato esse da providência



                                          15
que proporcionou a Camilo uma alegria imensa. Ele reuniu na capela todos os
religiosos e colocando sobre o altar o documento papal entre lágrimas rezou: Dou-
vos graças, meu senhor, em nome de todos estes filhos, que formei pelas entranhas
de vossa piedade, porque vos dignastes consolar-me inspirando ao Santo Padre o
nosso Papa Gregório, a estabilidade desta plantinha, cultivada não por mim, mas
pela vossa mão poderosa. (BRANDÃO 1978, p.63)
      Mais tarde em 1595 e 1601, alguns de seus religiosos foram enviados junto
às tropas que estavam lutando na Hungria e na Croácia, formando assim a primeira
assistência ambulatorial junto às tropas militares de que se tem registro. A cruz
vermelha só veio a ser criada por Henry Dunant em 1859, após ele ter assistido a
sangrenta Batalha de Solferino, que foi travada no norte da Itália, entre o exército
imperial austríaco e as forças aliadas da França e da Sardenha e da qual resultaram
40 mil vítimas mortais. Henry Dunant rapidamente reuniu mulheres das aldeias mais
próximas para que prestassem auxílio humanitário às vítimas da guerra.
(THURSTON; ATTWATER, 1989, p.173)
      O trabalho de caridade dos ministros dos enfermos destaca-se não apenas na
assistência imediata aos enfermos, mas também no respeito e paciência junto aos
doentes. Certa vez estava o fundador servindo um doente no hospital do Espírito
Santo quando o Monsenhor e Comendador chefe da obra mandou chamá-lo, Camilo
assim respondeu ao enviado: Diga ao Monsenhor, que estou ocupado com Jesus
Cristo, e quando terminar esta obra de caridade estarei às ordens de sua excelência.
      Quanto a paciência essa era uma grande virtude de Camilo quando a
ingratidão era o seu cálice do dia dia. Para animar seus filhos espirituais na
paciência para com os enfermos ele lhes dizia: Coragem vençam todas as
ingratidões e maus tratos dos enfermos! Eu mesmo já recebi socos, bofetadas e
insultos de toda espécie. E me foram motivo de grande alegria... Os enfermos não
só podem me dar ordens, como também me insultar. São meus verdadeiros e
legítimos patrões. Outrora dizia: Servir ao doente é servir a Jesus Cristo e não
merecemos tanta honra. op. cit., p.74-75
      As regras para servir aos doentes de São Camilo constituem um verdadeiro
manual de administração hospitalar. Ali se encontram normas e rotinas, ditadas pela
sua intuição, que são recomendadas pela administração científica de hoje. A regra
orienta que para ajudarem os que sofrem e, sobretudo os agonizantes é necessário
uma boa instrução e conhecimento das coisas espirituais. Desde a infância Camilo



                                           16
teve grande devoção a Nossa Senhora. Aprendeu a amá-la com a mãe. Em 2 de
fevereiro de 1575, na festa da Purificação, ele pobre pecador se converte para
sempre. Em 15 de agosto de 1582 em Madonnina dei Miracoli nasce a obra
Camiliana. Na oitava da Natividade, os primeiros camilianos vestem o hábito e na
festa da Imaculada Conceição, 8 de dezembro de 1591, Camilo e vinte e cinco
companheiros pronunciam os votos solenes. Por esses acontecimentos Nossa
Senhora foi chamada Rainha dos Ministros dos Enfermos.
       Camilo teve cinco misericórdias, assim chamava as cinco fontes de
padecimentos de sua vida heróica. A primeira misericórdia, era a chaga do pé que
no espaço de quarenta anos lhe roia as carnes como se fosse um cancro, feria os
músculos e tendões e tocava os ossos. Não produzia febre e nunca fechava. A
segunda misericórdia era uma hérnia inguinal que o fez sofrer durante trinta e oito
anos, e segundo o uso do tempo obrigaram-lhe os médicos a trazer uma cinta de
ferro incômoda. A terceira eram dois calos na planta dos pés, doloridos e enormes
Camilo tinha a impressão de pisar sobre espinho. A quarta misericórdia eram as
freqüentes cólicas renais que sofreu durante dez anos e em 1606 o levaram às
portas da morte. A quinta misericórdia era uma falta de apetite permanente que o fez
perder o gosto por todo alimento nos últimos meses de vida. E o homem que
segundo o testemunho dos médicos deveria ter passado longos anos de cama e sob
tratamento, foi um prodígio de atividade e modelo dos enfermeiros. (BRANDÃO
1978, p.86)
       O santo deixou a direção canônica da Ordem em 1607. Mas tomou parte no
capítulo geral de Roma, em 1613. Depois do capítulo geral, com o novo superior
geral, visitava as casas, dando a todos as últimas exortações.
       Em Gênova, ficou doente beirando o fim; recuperou-se a ponto de poder
concluir as visitas aos hospitais, porém logo recaiu, sendo desenganado.
       Recebeu os últimos sacramentos das mãos do Cardeal Ginnasi, e ao receber
a extrema-unção fez uma exortação comovente aos irmãos.
       Expirou em 14 de julho de 1614, aos sessenta e quatro anos de idade.
       Foi canonizado em 1746, sendo juntamente com São João de Deus declarado
padroeiro dos doentes pelo Papa Leão XIII, e das associações de enfermeiros e dos
encarregados da enfermagem pelo Papa Pio XI. (THURSTON; ATTWATER, 1989,
p.174 v. VII)




                                         17
3   SÃO LUIS GONZAGA


      São Luís Gonzaga nasceu em Castiglione, Itália, a 9 de março de 1586, filho
primogênito de D. Fernando Gonzaga, príncipe do Império, e de D. Marta Tana
Santena.
      A dinastia dos Gonzaga, uma das mais ilustres de toda a Itália, com domínios
de Mântua a Bréscia, e de Ferrara à fronteira da Lombardia, ao longo dos anos
acumulara riquezas, altos cargos eclesiásticos e principados em sua aristocrática
linhagem. Fernando, Marquês de Castiglione e Príncipe do Sacro Império,
conhecera Marta na corte da Espanha, onde ela era dama da Rainha Isabel de
França. Esta soberana, auxiliada por seu esposo, o grande Felipe II, estimando a
virtude e as qualidades morais de Dona Marta, a escolhera para sua dama de honra.
Se o Marquês tinha no sangue o espírito combativo e militar de seus ancestrais, a
Marquesa completava o espírito guerreiro do marido com uma profunda piedade. E
Luís recebeu a influência dos dois. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p. 212)
      Desde muito pequeno, gostava de ouvir, falar e pensar em Deus. Teve assim,
quase desde o berço, um dom muito elevado de oração. Unido a essa feliz
propensão de seu caráter e à sua piedade precoce, podia-se perceber nele o
espírito guerreiro do sangue ancestral. Assim é que o Marquês deu-lhe uma
pequena armadura, elmo, espadinha e um pequeno arcabuz de verdade quando
tinha apenas quatro anos, que levou ao acampamento de Casalmaggiiore, onde
deveria passar em revista as tropas cerca de três mil soldados que estavam sendo
treinados para a guerra do rei espanhol contra Túnis. Um dia Luís, disparando seu
arcabuz, chamuscou o rosto. O pai então o proibiu de utilizar pólvora. Mas ele,
travesso e valente, noutro dia, na hora do repouso após o almoço, conseguiu
escapar à vigilância de seu tutor, aproximar-se de um canhão e acender-lhe o pavio.
O acampamento todo foi despertado com o estrondo, e encontraram o pequeno
príncipe estirado ao solo, vítima do coice que recebeu da possante arma. Luís
gostava de estar junto aos tércios espanhóis tomava parte nas paradas marchando
à frente de um pelotão, com uma lança ao ombro imitando seu passo marcial. No
contato com os soldados aprendeu o uso das armas e palavras de baixo calão que
alguns deles falavam. Voltando para casa seu tutor chamou-lhe a atenção, dizendo-
lhe que aquela linguagem não era somente vulgar, mas lamentavelmente blasfeme.
Embora o menino de cinco anos não entendesse seu sentido, foi tomado de



                                        18
vergonha e tristeza, chorou amargamente essa involuntária falta, que nunca deixou
de lamentar como uma das mais graves de sua vida. E disse que a partir desse
episódio teve início sua conversão. loc. cit
      Desde então, essa criança começou um processo de sério afervoramento
espiritual. Segundo o parecer de outro Santo, São Roberto Belarmino, Doutor da
Igreja e futuro confessor do primogênito do Marquês de Castiglione. Para São
Roberto Belarmino: “na idade de sete anos é que Luís começou a conhecer mais a
Deus, desprezar o mundo e empreender uma vida de perfeição. Ele mesmo com
freqüência me repetia que o sétimo ano de sua idade marcava a data da sua
conversão”. id.
      Aos oito anos o pai levou-o com seu irmão Rodolfo à Florença, para viverem
na corte do Grão-duque da Toscana Francisco de Médicis, afim de melhorar Rodolfo
e Luís o latim e aprender a falar o italiano puro da Toscana, isso se deu em 1577.
Obrigados pela etiqueta, deveriam aparecer com freqüência na corte grão-ducal. Ele
se via mergulhado no que descreveu como “uma sociedade da fraude, do punhal, do
veneno e da mais luxúria”. Em decorrência disso despertou dentro de si um zelo
intenso pela virtude da castidade. Aumentou então seus atos de devoção à
Santíssima Virgem, de tal modo que fez, aos nove anos de idade, voto de castidade
perpétua. Ibid., p. 212-213
      Quando tinha 10 anos, numa ausência do pai, recebeu certo dia em
Castiglione o Cardeal-Arcebispo de Milão, São Carlos Borromeu. Esse ficou
encantado com sua pureza e santidade, tendo declarado “que jamais encontrara
jovem que em tal idade atingisse tão elevada perfeição”. Ele mesmo administrou-lhe
a Primeira Comunhão, aconselhando-o a praticar a comunhão freqüente e a leitura
do Catecismo Romano. Após dois anos em Florença o pai os levou para a corte do
duque de Mantua, que o havia nomeado recentemente como governador de
Monserrate, em 1579, quando Luis estava com onze anos e oito meses. op. cit.
      Sua infância transcorreu de castelo em castelo, de corte em corte, de festa
em festa, mantendo, contudo, sempre o coração ancorado em Deus. Provou, assim,
que era perfeitamente possível cultivar a santidade em meio aos esplendores da
nobreza. Com efeito, aos 12 anos já atingira alta contemplação. Para isso lhe fora de
muita ajuda um livro de São Pedro Canísio, apóstolo da Alemanha. A meditação
contínua tornou-se para ele quase uma segunda natureza e por isso tinha um
domínio total de si mesmo. Vivendo em plena época do Renascimento, estudou as



                                           19
línguas clássicas, chegando a escrever elegantemente em latim. Foi nessa língua
que fez um discurso de saudação ao monarca espanhol Felipe II quando suas armas
foram vitoriosas em Portugal. Espírito alerta, perspicaz e sério, triunfou facilmente
nos estudos. Ele aliava nobreza, cultura, inteligência e a santidade.
      Como primeiro passo para uma futura atividade missionária, ele começou a
dar aulas de catecismo aos meninos pobres de Castilione, durante as férias de
verão. Em Casale-Monferrato, onde passou o inverno, freqüentava as igrejas dos
capuchinhos e barnabitas. Também praticou as austeridades de um monge,
jejuando três dias na semana a pão e água, açoitando-se e se levantando à meia-
noite para rezar ajoelhado sobre o pavimento de pedra de um quarto em que não
permitia que se acendesse fogo, por mais rigoroso que fosse o inverno.
(THURSTON; ATTWATER, 1989, p. 213)
      Em 1581, Dom Ferrante foi chamado para acompanhar a imperatriz Maria da
Áustria em sua viagem da Boêmia à Espanha. Sua família o acompanhou, e ao
chegarem à Espanha, Luis e Rodolfo seu irmão foram designados para pajens de
Dom Diego, Príncipe das Astúrias. Embora servisse o príncipe e partilhando de seus
estudos, Luis jamais omitiu ou reduziu suas devoções. Impôs-se a si mesmo a tarefa
diária de fazer uma hora de meditação, sem distração, o que lhe exigia várias horas
de concentração contínua. Na corte de um dos mais poderosos soberanos da Terra,
afirma-se no coração de Luís o desejo de apartar-se do mundo e dedicar-se
totalmente a Deus. Estava decidido a tornar-se jesuíta. Tendo cumprido já os 16
anos, decidiu falar sobre isso com seu pai. O marquês, que encantado com as
qualidades do filho sonhava com um brilhante futuro para ele e respondeu sem
rodeios um não e furioso ameaçou de mandar açoitá-lo. id.
      Para convencê-lo disso, enviou-o de volta à Itália, com missão junto a vários
príncipes.   Esperava    que,   em    meio     aristocracia   da   Itália   renascentista,
desaparecesse no filho o desejo de fazer-se religioso. Luís cumpriu com tanto êxito
as várias tarefas, que o pai mais se firmou no desejo de tê-lo como seu sucessor.
      Mas, graças a interferência de amigos o marquês cedeu a ponto de dar-lhe
permissão relutante e provisória, como príncipe do Sacro-Império, obtido a
permissão do Imperador, pôde abdicar de todos seus direitos dinásticos em favor de
seu irmão Rodolfo, e assim entrar no noviciado de Sant’Andrea da Companhia de
Jesus no dia 25 de novembro de 1585 em Roma, com 18 anos incompletos. Seis
meses depois morre Dom Ferrante, a partir do momento que o filho o deixou para



                                          20
ingressar nos jesuítas, seu pai, que levara uma vida muito voltada às coisas do
mundo, preparou-se tão bem para a morte, que atribuiu esses sentimentos às
orações do filho. O marques reformara a sua maneira de viver. Pouco depois do seu
falecimento, Luís teve que ir a Castiglione resolver uma áspera disputa entre seu
irmão Rodolfo e seu tio, a propósito de terras. Sua mãe, que o venerava muito, e
com sentimentos de verdadeira nobreza, recebeu-o de joelhos. (THURSTON;
ATTWATER, 1989, p. 214)
      Dentro do noviciado jesuíta, Luís continuou a ser motivo de edificação para
todos. Por causa da saúde fraca seus superiores tiveram que moderar a seu fervor
religioso e pôr limites às suas grandes penitências: Para ele, era uma alegria sair
pelas ruas de Roma, com um saco às costas, pedindo esmolas para o convento. Era
também enviado a ajudar na cozinha e na limpeza da casa. Não sentia repugnância
em fazer atos tão humildes, pois tinha diante dos olhos a Jesus Cristo humilhado
pelos pecados dos homens, e a recompensa eterna que Ele dá àqueles que se
rebaixa por amor a Deus. Visitava os doentes e os encarcerados. Mesmo nessas
ocasiões, mantinha seu recolhimento em Deus e cumpria seus atos de devoção.
Dizia que “aquele que não é homem de oração não chegará jamais a um alto grau
de santidade nem triunfará jamais sobre si mesmo; e toda a preguiça e falta de
mortificação que se vê em almas religiosas procedem da negligência na meditação,
que é o meio mais curto e eficaz para se adquirir as virtudes”. Ficou proibido de
rezar ou meditar fora dos períodos estabelecidos. id.
      Uma de suas devoções especiais era a Via Sacra, a qual tornou-se objeto
contínuo de suas meditações. Tinha também especial devoção à Virgem, aos Santos
Anjos, especialmente a seu Anjo da Guarda, e escreveu um estudo sobre eles. O
Santíssimo Sacramento era objeto de suas afeições. Passava horas diante do
sacrário em adoração. Quando estava hospedado no colégio da Companhia, em
Milão, teve a revelação de que em breve morreria.
      Em 1591, os jesuítas abriram um hospital em Roma, para cuidar dos
empestados numa terrível epidemia, no qual o próprio geral e muitos membros da
ordem prestaram serviço. Luis foi incluído entre eles, e se encarregou de instruir e
animar os pacientes lavava-os, arrumava-lhes a cama e executava, com zelo, os
ofícios mais humildes do hospital. No contato com os empestados Luis contraiu da
peste e passou a sentir uma febre persistente que em três meses o reduziu a um
estado de grande fraqueza. Em uma oração recebeu a premunição de que morreria



                                         21
na oitava de Corpus Christi, nos dias subseqüentes ele recitava o Te Deum em ação
de graças. Por volta da meia noite, entre 20 e 21 de junho de 1591, com os olhos
fixos no crucifixo e com o nome de Jesus nos lábios morreu. Contava vinte e três
anos e oito meses de idade. Suas relíquias repousam atualmente no altar da capela
Lancellotti da Igreja de Santo Inácio em Roma. Luis foi canonizado em 1726.
(THURSTON; ATTWATER, 1989, p. 215 v. VI)


4   SÃO FRANCISCO DE SALES


      Os anos convulsionados na França, depois da Reforma Protestante séc XVI,
formaram o pano de fundo da vida de Francisco de Sales.
      Ele nasceu no dia 21 de agosto de 1567no castelo de Sales, no reino da
Sabóia, situado entre a França, Itália e Suíça.
      Foi batizado com o nome de Francisco Boaventura. Teve como padroeiro de
sua vida Francisco de Assis.
      Sua mãe assumiu a sua educação ajudada pelo padre Diagi. Com oito anos
entra para o colégio de Annecy, aos 14 anos seu pai o manda para a grande
Universidade de Paris, antes estava na universidade de Navarro, para os filhos de
nobres. Aos 18 anos passa por uma terrível crise, a de ter perdido a graça de Deus,
fez o pedido de estudar no Colégio de Clermont dos Jesuítas, em Paris.
      Destacou-se em retórica e filosofia e estudou com empenho teologia e com
24 anos doutorou-se na Universidade de Pádua, em Direito Canônico e Civil.
      Seu pai esperava que ele se casasse e a noiva destinada a ele era uma
jovem herdeira, vizinha da família, mas para satisfazer o pai, tomou aulas de
equitação, dança e esgrima. Fez voto perpétuo de castidade, e colocou-se sob a
proteção de Maria.
      Seu pai era um homem de caráter forte e achava que seus filhos deviam
considerar sua vontade expressa como coisa definitiva. Francisco foi indicado para
prepósito do capítulo de Genebra pelo Côn. Luís de Sales, e isso poderia abrandar a
posição do pai.
      Ajudado por Claud de Granier, bispo de Genebra, mas sem consultar
ninguém da família, recorreu ao papa, de quem dependia a nomeação, e em
seguida vieram às cartas de Roma instituindo Francisco preposto do capítulo. Ele
surpreendeu-se, e só com relutância foi que aceitou a inesperada honra, esperando



                                          22
com isso obter do pai consentimento para a sua ordenação. Francisco pôs a veste
eclesiástica no mesmo dia em que seu pai lhe deu consentimento, e seis meses
depois, a 18 de dezembro de 1593, foi ordenado padre.
          Serviu os pobres com amor e zelo, e no confessionário dedicou-se aos mais
pobres e humildes com especial predileção.
          Seu estilo era tão simples que encantava os ouvintes, e mesmo sendo um
erudito, evitava encher seus sermões de citações gregas e latinas. (THURSTON;
ATTWATER, 1984, p. 248-249)
          Devido a hostilidades armadas e invasões do protestantismo, a situação
religiosa do povo de Chablais, na orla Sul do lago de Genebra, ficou lamentável,
assim o Duque de Sabóia solicitou ao bispo de Granier que enviasse missionários
que fossem capazes de reconduzir seus súditos para a Igreja.
          O bispo fez uma primeira tentativa infrutífera e logo o padre foi forçado a
retirar-se. Ciente da gravidade da tarefa, Luis oferece-se com essas palavras: Meu
senhor, se me julgas capaz de cumprir, manda-me ir. Estou pronto para partir, e
ficaria feliz em ser escolhido. O bispo aceitou imediatamente.
          Mas seu pai considerava que aquilo era o mesmo que condenar Francisco à
morte. Ajoelhando-se aos pés do bispo, exclamou: Meu senhor, eu entreguei meu
filho mais velho, esperança da minha casa, da minha velhice, da minha vida, para
dedicar-se ao serviço da Igreja como confessor, mas não posso dá-lo para ser
mártir!
          O bispo tentou influenciar o pai que lhe respondeu: Eu não quero resistir a
vontade de Deus, mas não tenciono ser assassino de meu filho! Eu não posso
concordar com este risco de vida! Possa Deus fazer o que for do seu agrado, mas
em relação a este empreendimento, nunca haverá sanção de minha parte!
          Assim Francisco teve a decepção de iniciar o seu trabalho sem a benção do
seu pai. Era 14 de setembro de 1594, dia da Santa Cruz, quando viajando a pé e
acompanhado apenas de seu primo, o Côn. Luís de Sales, partiram para
reconquistar Chablais. Ficaram hospedados no castelo de Allinges, a seis ou sete
milhas de Thonom, onde deviam retornar todas as noites, pois ali o governador da
província havia se estabelecido com a guarnição.
          Em Thonom, o que restou da população católica eram 20 indivíduos
dispersos, e muito amedrontados com a violência para se declararem abertamente.
          A esses Francisco exortou a terem coragem e perseverança.



                                           23
Os   missionários   pregavam   diariamente   em      Thonom,   estendendo-se
gradualmente aos povoados vizinhos da região. A volta para Allinges era perigosa e
ainda o inverno. Francisco converteu uma família de calvinistas que lhe prestou
socorro, quando numa noite voltando para Allinges, escapou do ataque de lobos
passando a noite sobre uma árvore. No dia seguinte essa família o acolheu e
prestou socorro em sua choupana, reanimando-o com comida e aquecimento, ao
agradecer o visitante falou palavras de esclarecimento e caridade levando todos
posteriormente a conversão. (THURSTON; ATTWATER, 1984, p. 250 v. I)
          Seu pai continuamente enviava-lhe cartas ora ordenando, ora implorando pela
sua volta. E o filho respondia que sem a aceitação do bispo ele não tinha direito de
largar seu posto. Francisco em meio a tantas dificuldades escreveu: “Nós estamos
apenas começando. Vou prosseguir com toda coragem, e espero em Deus contra
toda esperança humana”. id.
          Procurando novos meios de atingir o coração e a mente do povo, começou a
escrever, em cada momento livre, folhetos que copiados a mão expunha o
ensinamento da Igreja em oposição aos erros do Calvinismo. Os seus escritos dessa
época foram publicados com o título Controvérsias e a Defesa do Estandarte da
Santa Cruz. Os folhetos silenciosamente faziam o seu trabalho e as conversões
tornaram-se cada vez mais freqüentes com os católicos procurando a reconciliação
com a Igreja. Ao finalizar o seu apostolado de missionário, ele tinha persuadido
cerca de 72 mil Calvinistas a voltar para a Igreja Católica.
          Após quatro anos o bispo de Granier em visita a missão, onde foi bem
acolhido e pode administrar a confirmação. A fé e o culto foram restabelecidos na
província e Francisco recebeu o nome de apóstolo de Chablais. Dom Granier o
convidou para seu auxiliar e sucessor. Foi para Roma, onde o papa Clemente VIII,
desejava que ele fosse examinado em sua presença. Reuniu-se uma assembléia
que se fizeram presentes além do papa, Barônio, Belarmino, o Cardeal Frederico
Borromeu, primo do São Carlos Borromeu, e outros sábios teólogos e homens de
grande inteligência.
          Sua nomeação foi confirmada e ele foi ordenado bispo de Genebra em 1602,
mas residia em Annecy (agora situada na França), já que Genebra estava sob o
domínio dos Calvinistas e ficou fechada para ele. Gozava de favores do rei Henrique
IV. id.




                                           24
Sua diocese tornou-se conhecida na Europa por motivo de sua organização
eficiente, seu clero zeloso e os leigos bem esclarecidos. A sua fama, como diretor
espiritual e escritor aumentaram. Convenceram-no que se reunisse, organizasse e
expandisse suas muitas cartas sobre assuntos espirituais e as publicasse. E foi o
que ele fez em 1609, com o título Introdução à Vida Devota. Essa se tornou a sua
obra mais famosa e, ainda hoje, é uma obra clássica que se encontra nas livrarias
no mundo inteiro. Mas o seu projeto especial foi o escrito do Tratado do Amor de
Deus, fruto de anos de oração e trabalho que continua sendo publicado hoje. Ele
queria escrever também uma obra paralela ao Tratado, ou seja, sobre o amor ao
próximo, mas a sua morte no dia 28 de dezembro de 1622, aos 55 anos de idade, o
impossibilitou. Além das obras mencionadas acima, suas cartas, pregações e
palestras ocupam cerca de 30 volumes. O valor permanente e a popularidade dos
seus escritos levaram a Igreja a conceder-lhe o título de Padroeiro de Escritores
Católicos. (THURSTON; ATTWATER, 1984, p. 251-252 v. I)
      Francisco aceitou em sua casa um jovem com dificuldade de audição e criou
uma linguagem de símbolos para possibilitar a comunicação. Essa obra de caridade
conduziu a Igreja a dar-lhe um outro título, ou seja, o de Padroeiro dos de Difícil
Audição. http://oblatosamlat.cybermeme.net/intpg2.html (11/09/2004)
      Ele colaborou com Santa Francisca de Chantal na fundação da ordem
religiosa das Irmãs da Visitação de Santa Maria, conhecidas pela simplicidade da
sua regra e tradições e por sua abertura especial a viúvas. Uns 250 anos mais tarde,
através da persistência de uma dessas irmãs, a Madre Maria de Sales Chappuis,
que um sacerdote de Troyes, na França, Luís Brisson, fundou os Oblatos de São
Francisco de Sales, uma comunidade de sacerdotes e irmãos, dedicados à vida e
divulgação do espírito e dos ensinamentos de São Francisco de Sales. Padre
Brisson fundou também uma comunidade de irmãs com o mesmo nome, Oblatas de
São Francisco de Sales. id.
      O espírito e a fama de Francisco e a influência dos seus escritos se
estenderam rapidamente depois de sua morte. A Igreja o declarou santo
formalmente em 1665 e deu-lhe o título excepcional de Doutor da Igreja em 1867.
Sua festa a Igreja celebra no dia 24 de janeiro. (THURSTON; ATTWATER, 1984, p.
251-252 v. I)




                                        25
5   SÃO JOSÉ DE CALAZANS


       Nasceu no Castelo de seu pai em Peralta de la Sal, diocese de Urgel, em
Aragão, Espanha, no ano de 1557(56), filho do casal Pedro Calasanz e Maria
Gaston.
       Aprendeu a ler e escrever com um tutor, e ao completar 11 anos, seus pais o
enviaram para estudar humanidades em Estadilha, com os padres trinitários, onde
permaneceu até os 14 anos.
       Continuou seus estudos na Universidade de Lérida, onde iniciou o seu
caminho de vida eclesiástica. Recebeu a tonsura no dia 17 de abril de 1575, das
mãos do Bispo de Urgel, na Igreja de Santo Cristo de Almatá, em Balaguer. Aos 21
anos doutorou-se em direito em Lérida.
       Estudou Teologia em Valência, lá foi contratado como secretário de uma
mulher da nobreza que quis induzi-lo a pecar com ela, assim resolveu terminar seus
estudos de Teologia em Alcalá.
       Os 42 anos de reinado de Felipe II, não foram para a Espanha um tempo de
paz.
       Pedro, o irmão mais velho de José, partiu para a guerra foi assassinado pelos
rebeldes em 1579.
       José terminara o segundo ano de Teologia e retornou a Peralta e passou um
ano completo lá. A morte do irmão herdeiro do sobrenome e de todos os bens
mudou os planos do pai que quis dissuadir José a abandonar a vocação sacerdotal
para fundar uma família.
       Pouco depois a morte do primogênito, morre a mãe.
       Após esses acontecimentos e a pressão do pai para que o único filho homem
que restara na família levasse adiante o seu sobrenome, deixaram José gravemente
doente. E o pai nessa ocasião fez uma promessa a Nossa Senhora, de que se o
filho restabelecesse a saúde poderia ser padre com a sua benção. E isso se deu no
dia 17 de outubro de 1582, quando José recebeu as ordens menores e recebeu
também o subdiaconato em Huesca pelas mãos do Bispo Dom Pedro Frago. E
finalmente no dia 17 de dezembro de 1583, foi ordenado sacerdote pelo seu Bispo
Frei Hugo Ambrosio de Moncada. Em 1585, José fazia parte dos Familiares, homens
de confiança do Bispo dominicano de Barbastro, Frei Felipe de Urries.
(TELLECHEA, 1996, p.3-8)



                                         26
José foi, secretário e Familiar do Bispo de Lérida, Dom Gaspar João da
Figueira, em Monzon, perto de Peralta.
      O Bispo fora nomeado visitador apostólico do Mosteiro de Montserrat e no dia
28 de outubro de 1585 ele chegou ao mosteiro com sua comitiva, do qual fazia parte
José de Calazans. No dia 13 de fevereiro de 1586, o Bispo visitador foi assassinado
em Montserrat, José volta para casa com o intuito de cuidar de seu pai, e ficou junto
dele até o dia de sua morte, no início de 1597.
      No dia 12 de fevereiro de 1587, José assume o cargo de secretário do
Cabido, corporação dos cônegos da catedral de Urgel e mestre de cerimônias. Neste
momento Urgel estava sem Bispo.
      No dia 12 de novembro de 1588, foi nomeado pároco de Claverol e Ortoneda,
duas aldeias perdidas entre as montanhas.
      No dia 28 de junho de 1589, foi nomeado assistente eclesiástico de Tremp, o
qual lhe possibilitou conhecer melhor a índole do povo.
      Sua vocação de educador foi sugerida pelo cônego Pedro Gervás, que junto
com o Bispo de Urgel, queriam fundar colégios, dirigidos por religiosos. José em
vista disso parte para Roma passando por Barcelona. O objetivo é conseguir o
canonicato, mas ficando a serviço da diocese.
      De Barcelona parte de navio para Itália, desembarca em Civita Vecchia,
concluindo sua viagem a pé como peregrino.
      Chega a Roma por volta de fevereiro de 1592, levando às congregações
romanas, cartas de recomendação do seu Bispo. Foi morar no Palácio do Cardeal
Marcantonio Colona que lhe confiou a educação dos seus sobrinhos, príncipes
Marcantonio e Felipo. Perto do Palácio Colona, estava a Igreja dos doze apóstolos,
cuja confraria tinha por objetivo socorrer pobres e doentes. José inscreveu-se nessa
confraria a passou a ajudar pobres e doentes.
      Em 1596(95), houve uma epidemia que assolou Roma. José destacou-se no
serviço dos enfermos na administração dos últimos sacramentos, e a ajudar enterrar
os mortos, sem perder de vista o desejo de instrução das crianças. A peste agravou-
se, gerando uma multidão de órfãos, viúvos e viúvas, e as crianças sem
acompanhamento, tornando-se marginais. José conclui que a única maneira de
reverter essa situação seria através da educação e assim busca ajuda para tal
tarefa. (TELLECHEA, 1996, p.8-15)




                                          27
José procurou ajuda junto ao Capitólio romano, sede das autoridades
municipais de Roma, não conseguiu o que esperava, tenta então ajuda junto aos
jesuítas e aos dominicanos que tinham colégios, mas nenhum dos dois quiseram se
envolver com escolas populares.
      Em abril de 1597, Calasanz se encontrou com o pároco de Santa Dorotéia o
padre Antonio Brandini e descobriu que anexa a essa Igreja, havia uma escola
paroquial que acolhia crianças que pagavam e outras gratuitamente. Teve então a
idéia de um projeto educativo, uma escola onde pudesse estudar gratuitamente
somente as crianças pobres, e ele se encarregaria de arcar com as despesas.
      Vieram muitas crianças, a metodologia consistia em além do catecismo,
esses aprendiam a ler, escrever, gramática e aritmética. Isto se deu em 1597. Assim
nasceu a primeira escola popular gratuita, nasciam as escolas pias.
      No ano de 1598 houve uma enchente no rio Tiber que atingiu a Igreja de
Santa Dorotéia e a escola, o número dos meninos, vindos dos os bairros da cidade
que crescia. Duas salas estavam ocupadas e José já tinha alugado uma casa
vizinha para escola.
      Em 1600, com a morte do padre Brandini, José toma a decisão de mudar-se
ao centro da cidade, pois estavam com um número de 500, meninos.
      Em 1601, mudou-se para o Palácio Vestri.
      Em 1602, Calasanz reuniu os seus companheiros em uma associação
religiosa que denominaram de Congregação das Escolas Pias. Nessas escolas
trabalhavam professores assalariados.
      Calasanz com freqüência acompanhava as crianças até suas casas, logo
após as aulas.
      O papa Clemente VIII tendo ouvido falar dessa obra de caridade, enviou dois
cardeais para visitá-la. O relatório dos cardeais foi tão positivo que o papa
responsabilizou-se pelo aluguel do palácio até a sua morte. E também deu ajudas
que permitiram manter a instituição, graças a essa ajuda o número dos alunos
chegou a passar de 700. Com tantos alunos José resolveu instalar um sino para
anunciar o início e o término das aulas, e sofreu um acidente onde quebrou uma
perna, que o deixou defeituoso para o resto de sua vida. (TELLECHEA 1996 p. 16-
27)




                                         28
Em 1605, a escola mudou-se para a casa que pertencia a Otávio Mannini, na
frente da Igreja de São Pantaleão, nesse novo estabelecimento acolheram mais de
700 crianças.
      Para tentar suprir as dívidas instalaram à frente do Palácio uma caixa para
coletas que comprovou a generosidade e a aceitação da escola nesse novo local.
      No início de 1612, compraram, com a ajuda de Cardeais, um outro edifício
próximo da Igreja de São Pantaleão, que o Papa Paulo V confiou aos padres
escolápios e sugeriu que a nova casa recebesse o nome de São Pantaleão, nessa
casa São José viveu mais 36 anos.
      Em 1617, surgiu na Igreja, a Congregação Paulina dos Pobres da Mãe de
Deus das Escolas Pias. No dia 25 de março o cardeal Giustiniani presidiu a
cerimônia na qual os primeiros escolápios vestiram o hábito religioso.
      Em 1619, os Cardeais utilizaram a casa dos escolápios como alojamento,
entre esses o cardeal Alexandre Ludovisi que posteriormente foi eleito Papa
Gregório XV, a quem José solicitou a aprovação das constituições e a elevação da
Congregação a Ordem Religiosa. José levou três meses para redigir as constituições
e no dia 18 de novembro de 1621 as Escolas Pias obtiveram o título de Ordem
Religiosa. (TELLECHEA 1996 p. 28-31)
      Os escolápios estenderam-se para Nápoles e Sicília, com professores,
noviços, padres tendo como superior padre Alacchi, que tinha plenos poderes para
fundar novas casas, de Nápoles a Santiago de Compostela, foram barrados apenas
em Veneza por uma epidemia de peste.
      Thomas Campanella, amigo de Calasanz, era filósofo acusado de rebelde e
herege, ficou hospedado na casa de Frascati e a pedido de José ministrou filosofia
aos congregados enquanto esteve lá.
      Em 1630, os escolápios estabeleceram-se em Florença, o superior foi o padre
Francisco Castelli, que estava acompanhado pelos padres Michelini e Seltimi,
amigos e discípulos de Galileu Galilei.
      Calasanz via com bons olhos o relacionamento de seus congregados com os
sábios florentinos, apesar dos processos e condenações que Galileu sofria do santo
ofício. Essa comunidade de Florença acolheu alunos de Galileu e padres cultos.
      Foi admitido um sacerdote de meia idade não muito culto de nome Mario
Sozzi, que a seu tempo fez a profissão. Durante anos esse demonstrou uma conduta




                                          29
obstinada e perversa, sendo um incômodo para os irmãos, mas conquistou
influencia e boa reputação junto ao Santo Ofício e ao Tribunal da Santa Inquisição.
          Em 1639, conseguiu para si a nomeação provincial dos clérigos regulares das
escolas pias da Toscana, com poderes extraordinários e independência em relação
ao superior geral. Dirigiu a província como quis e prejudicou como pode a reputação
de São José, junto às autoridades romanas e por fim o denunciou junto ao Santo
Ofício.
          O Papa Urbano VIII, enraivecido ordenou que José fosse preso. O Cardeal
Cesarini, como protetor da Instituição e querendo defender a José, ordenou que os
documentos e cartas do padre Mário fossem apreendidas, Os mesmos envolviam
alguns documentos do Santo Ofício.
          Monsenhor Albizzi, executa a prisão de Calasanz e seus companheiros,
exigindo que Calasanz entregasse os documentos que supostamente foram
roubados do padre Sozzi, por ocasião da investigação ordenada por Cesarini.
          Calasanz nada sabia e o Cardeal interveio em favor dos caluniados que foram
inocentados. (TELLECHEA 1996 p. 35-38)
          Padre Mário ficou ileso e continuou a tramar para conseguir controle de toda a
instituição, apresentou José como idoso e incapaz para essa responsabilidade.
          Conseguiu através de artifícios afastá-lo do cargo e maquinou para que fosse
designado um visitador apostólico favorável às suas próprias intenções. Esse
visitador e padre Mário apoderaram-se do supremo comando da instituição e José
submetido ao tratamento mais humilhante, insultuoso e injusto, enquanto a ordem
era reduzida a uma confusão e uma impotência total.
          No final de 1643, Mário veio a falecer, sendo substituído pelo padre Cherubini,
que continuou com a mesma política e José suportou com paciência e insistia que a
ordem obedecesse aos seus perseguidores, pois eles eram de fato autoridades. Até
mesmo defendeu Cherubini contra uma oposição violenta desencadeada por alguns
sacerdotes jovens indignados com a traição. THURSTON; ATTWATER, (1992, p.
234)
          Foi nomeado um representante do Papa para fiscalizar a Ordem. O resultado
foi um decreto assinado em 16 de março de 1646 pelo Papa Inocêncio X, reduzindo
a Ordem a Congregação de votos simples, sujeita ao Bispo diocesano. op. cit.




                                             30
Em julho de 1648, Calasanz sofreu um outro acidente. Tropeçou em frente ao
Palácio dos Medicis, machucou o pé e como a ferida não curava ficou
impossibilitado de sair de casa.
      Padre Cherubini ficou encarregado de redigir as novas constituições, porém
dentro de alguns meses ele fora acusado pelos auditores da Rota de má
administração do colégio Nazareno,do qual era reitor. Ele se afastou e caiu na
desgraça, mas no ano seguinte antes de morrer se reconciliou com José de
Calasanz, que o confortou em seus últimos momentos.
      Algum mês mais tarde, em 25 de agosto de 1648, faleceu o próprio José,
sendo enterrado na Igreja de São Pantaleão. Ele estava com 92 anos e foi
canonizado em 1767.
      O fracasso da Instituição de Calasanz foi apenas aparente, sendo ela
reconstituída por votos simples em 1656 e restaurada como Ordem religiosa em
1669. (THURSTON; ATTWATER, 1992, p. 235 v. VIII)
      Atualmente, os Clérigos Regulares das Escolas Pias, comumente conhecidos
por Piaristas ou Escolápios estão em várias partes do mundo como: Ásia, África, nas
Américas do Norte, Central e do Sul e na Europa.


6   SÃO VICENTE DE PAULO


      Natural de Pony, aldeia próxima a Dax, na Gasconha, França.
      Seus pais João de Paulo e Beltrana de Moras proprietários de um pequeno
sítio. Entre seis filhos Vicente era o terceiro de quatro meninos. (IBÁÑEZ, p. 38)
      O pai reconhecendo a vivacidade de Vicente e sua inteligência coloca-o aos
cuidados dos franciscanos reclusos, em Dax. Vicente conclui seus estudos na
Universidade de Tolosa, e no dia 23 de setembro de 1600 é ordenado sacerdote aos
20 anos, pelo bispo de Perigeux, Francisco de Bourdeilles, na capela de sua casa de
campo, hoje Château L’Evêque.
      Em 1608 entra pela primeira vez em Paris e mora com um amigo.
No ano de 1609 é acusado de roubar 400 escudos por esse seu amigo. Esse
magistrado persegue-o juridicamente, exigindo da autoridade eclesiástica que
publicasse contra Vicente, uma monitória que era um mandato da autoridade
eclesiástica, por solicitação de um juiz leigo, para que, sob pena de excomunhão, se
manifestasse àquele que, soubesse de determinado fato, geralmente de



                                          31
determinado crime (...). As monitórias eram lidas pelos párocos no momento da
prédica da missa dominical por três domingos consecutivos. Vicente foi caluniado
durante seis meses até que o verdadeiro ladrão confessou o roubo. (IBÁÑEZ, p,41)
       Ele foi em 1610, nomeado capelão da rainha Margarida, esposa repudiada de
Henrique IV. Cargo de baixa rentabilidade e de nenhum prestígio social em Valoi.
Ibid., p. 42
       Em 1612, foi nomeado ministro paroquial pela primeira vez em lichy, depois
de ter decidido não entrar na nova comunidade do Oratório de São Felipe Néri.
       Em Paris, Vicente adquiriu conhecimento com o sacerdote Pedro de Berulle,
superior da ordem do Oratório, mais tarde, Cardeal que tinha grande estima por
Vicente e que solicitou em 1613 que ele fosse tutor dos filhos de Felipi de Gondi,
conde de Joigny onde ficou até 1617. A senhora de o Gondi escolheu como seu
diretor espiritual e confessor. Ibid., p. 43
       Em 1617, no interior de Folleville, Vicente ao atender a confissão de um
camponês, percebeu quanto necessária se fazia a instrução das pessoas com
relação a esse sacramento, viu o estado espiritual deplorável em que se
encontravam as pessoas no interior da França. A senhora de Gondi insistiu a
Vicente que pregasse na Igreja de Folleville e que desse uma instrução completa ao
povo sobre a obrigação de arrepender-se e de confessar os pecados. Após essa
catequese, inúmeras pessoas vieram ao seu encontro, ao ponto que ele teve que
solicitar ajuda dos Jesuítas de Amiens para atender as confissões. (THURSTON;
ATTWATER, 1989, p.181)
       Auxiliado pelo padre Berulle, Vicente aos 38 anos deixa a residência da
condessa, em 1617 descobre que somente os pobres é que poderão traçar-lhe o
caminho para encontrar a Deus. Tornar-se pároco em Châtillon-les-Dombes, numa
paróquia em situação de miséria. Ali converteu o conde Rougemont e outros.
       No dia 23 de agosto de 1617, Vicente de Paulo reúne as pessoas mais
comprometidas da paróquia na ação caritativa e funda a primeira Confraria da
Caridade ou Conferência Vicentina, que quer dizer, uma organização cristã leiga,
sensível a todas as misérias dos pobres, e comprometida através de esforços para
remedia-las. (IBÁÑEZ, p. 53)
       Voltou a Paris, para exercer seu apostolado junto às galeras que estavam
confinadas na Conciergerie. Foi designado oficialmente capelão da penitenciária, da




                                               32
qual o conde de Gondi era general, nesse lugar em 1622 pregou missão para os
condenados.
      A senhora de Gondi persuadiu o marido a cooperar com ela na organização
de uma associação de missionários bem formados e zelosos, para dar assistência
aos vassalos e arrendatários no condado e aos habitantes do interior, em geral.
Apresentaram esse plano a seu irmão, que era arcebispo de Paris, e o mesmo
destinou o Collége de Bons Enfants, para abrigar a nova comunidade. Os membros
desta deveriam renunciar aos cargos eclesiásticos, dedicar-se às cidades menores e
as aldeias, e a se sustentarem de um fundo comum. São Vicente tomou posse
dessa em abril de 1625. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p.182)
      Em 1633, o prior dos cônegos regulares de São Vitor, doou à Instituição o
convento de São Lázaro, que foi transformado na casa mãe da Congregação. Com
base nesse nome, os padres da missão são conhecidos como lazaristas, porém as
vezes como vicentinos, segundo o seu fundador. id.
      Formaram uma Congregação de padres seculares, que se submetem a
quatro votos simples: pobreza, castidade, obediência e estabilidade. Dedicam-se a
missões, principalmente à população do campo. Atualmente, possuem colégios e
missões em todas as partes do mundo. Vicente em vida assistiu à fundação de vinte
e seis casas instaladas na França, no Piemonte, na Polônia e em outras partes,
inclusive em Madagascar. id.
      Ainda em 29 de novembro de 1633 Vicente de Paulo e Luísa de Marillac
fundaram a Companhia das Filhas da Caridade. (IBÁÑEZ, p. 53)
      Vicente buscava o alívio dos seus semelhantes em qualquer necessidade,
tanto espirituais como materiais. Assim organizou a primeira instituição de caridade
em Chântillon, para dar assistência as pessoas pobres e enfermas de cada paróquia
e dessas instituições, com a ajuda de Santa Luiza de Marillac, surgiu a Instituição
das Irmãs de Caridade, cujo convento é o quarto do doente, sua capela a Igreja
paroquial, seu claustro as ruas da cidade.
      Essas Instituições de caridade eram mantidas pelas senhoras ricas de Paris,
que Vicente organizou com o nome de Damas da Caridade, com a finalidade de
coletar fundos para dar assistência às suas obras.
      Conseguiu a fundação e a direção de diversos hospitais para enfermo,
crianças abandonadas e idosas e em Marselha o hospital dos sentenciados. Todas




                                         33
essas instituições ele organizou sob uma regulamentação comum. (THURSTON;
ATTWATER, 1989, p.183)
       Fez um esquema especial de exercícios espirituais para os que estavam para
receber as ordens sacras e um outro tipo para os que desejavam fazer uma
confissão geral. Prescreveu conferências eclesiásticas regulares sobre os deveres
do estado clerical, com a intenção de sanar o relaxamento e abuso s que via ao seu
redor. id.
       Durante as guerras da Lorena, Vicente arrecadou esmolas em Paris para
ajudar as vítimas da guerra. Enviou seus missionários aos pobres e doentes da
Polônia, Irlanda, Escócia, até as ilhas Hébridas e durante a sua vida, mais de 1 mil e
duzentos escravos cristãos foram libertados no norte da África. Foi chamado para
atender o rei Luiz XIII, quando estava a morte, e contava com os favores da rainha
regente, Ana da Áustria. A seu intermédio em 1652 as freiras beneditinas inglesas
de Ghent receberam permissão para abrir uma casa em Boulogne., id.
       Vicente pretendia que a humildade fosse a marca da sua congregação e essa
lição ele não cansava de repetir. Certa vez, apresentaram-se a ele dois candidatos
com uma vasta formação intelectual, ele recusou a ambos dizendo: “Vossas
aptidões vos elevam acima de nossa condição. Vossos talentos podem ser úteis em
algum outro lugar. Nossa maior ambição é ensinar aos ignorantes, levar os
pecadores ao arrependimento e semear o espírito do Evangelho da Caridade, da
humildade, da mansidão e da simplicidade nos corações dos cristãos”.
       E sustentava que uma pessoa, dentro do possível, nunca deveria falar de si
mesma ou de seus próprios problemas. Tal procedimento provinha do coração que
alimentava o orgulho e o amor próprio. Ibid., p.184
       Preocupou-se com o surto e a proliferação da heresia jansenista e se opôs
ativamente aos falsos mestres, e não permitia que ficasse na congregação
sacerdote que professassem suas próprias doutrinas.
       No fim de sua vida sofreu graves enfermidades. Faleceu no outono de 1660,
no dia 27 de setembro, sentado e sua cadeira com oitenta anos. id.


7   IRMÃOS CAVANIS


       A família Cavanis fazia parte da ordem dos secretários da República de
Veneza.



                                         34
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A pedagogia dos Cavanis e a formação integral do homem

  • 1. INSTITUTO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA MATER ECCLESIAE – IFITEME – A PEDAGOGIA CAVANIS E A FORMAÇÃO INTEGRAL DO HOMEM PONTA GROSSA 2004
  • 2. Ir. MÁRCIO CAMPOS DA SILVA, CSCh. A PEDAGOGIA CAVANIS E A FORMAÇÃO INTEGRAL DO HOMEM Monografia apresentada como requisito do Curso de Filosofia, do Instituto de Filosofia e Teologia Mater Ecclesiae - IFITEME. Orientadora: Prof. Hilda L. Bilek PONTA GROSSA 2004
  • 3. Dedico este trabalho a todas as pessoas que acreditam que através da educação se projeta e constrói o futuro da humanidade; a todos que acreditam que a educação é meio de integração e promoção social; os que crêem que a possibilidade da existência humana na Terra depende da importância que se dá e prepara a educação das futuras gerações e finalizando dedico a todos Cavanis, sejam esses leigos ou religiosos que buscam a promoção dos jovens e crianças através de uma dedicação total, buscando e utilizando-se de todos os meios possíveis para alcançar o objetivo de um homem mais humano, justo, solidário e feliz. ii
  • 4. AGRADECIMENTOS Na certeza de que minhas palavras serão poucas, pobres e pequenas, para expressar, tamanha e inesquecível gratidão a todos que de uma maneira direta ou indireta me ajudaram na construção deste trabalho. Sinto que não deveria citar nomes mesmo que alguns de maneira particular tenham se tornado mais presentes nesse período fatigoso de pesquisas. Para não correr o risco de me esquecer ao longo dos anos que seguirão farei alusão a alguns que através dos tempos manterão vivas em minhas lembranças a recordação de outros. Primeiramente agradeço à Deus que me conduz, agradeço as dificuldades e limitações que enfrentei e que me ajudaram a reconhecer sua presença e amor de Pai. Também não poderia esquecer de expressar minha eterna gratidão a Congregação das Escolas de Caridade, que custeou meus estudos e ao longo desses 10 anos vem sendo o instrumento e voz do Criador em minha vida. Agradeço com afeto às Irmãs Cavanis residentes em Ponta Grossa, que familiarmente me acolheram e a Irmã Tereza que muito me ajudou nas traduções do italiano. A comunidade religiosa que convivi: Pe. Vanderlei Pavan, Ir. Renato Rothen e Jean A. Bezerra, que pacientemente acompanharam-me ao longo desse ano marcante em minha vida. Aos funcionários e alunos da Casa do Menor Irmãos Cavanis que representaram a motivação maior para o desenvolvimento dessa pesquisa. E finalmente aos professores do Instituto de Filosofia e Teologia Mater Ecclesiae – IFITEME - que me prepararam para esse momento decisivo e conclusivo em mais uma etapa de minha vida, dentre esse agradeço minha orientadora de métodos, professora Lea Tereza Abibe e minha orientadora de pesquisas, companheira e amiga ao longo desses cinco anos a professora Hilda L. Bilek. iii
  • 5. RESUMO A pedagogia dos Cavanis entendida como meio de formação integral, atual e humana do homem. Para entender e conhecer sua origem, busca fazer um resgate histórico na vida de personagens que para os Irmãos Cavanis tiveram relevante importância na estruturação de sua nova prática educativa. Esse resgate reflete sobre a vida de São Felipe Néri, que em pleno período renascentista forma um grupo de religiosos que exercitam seu carisma através de catequeses, pregações e retiros para os cristãos em vista de vencerem ao paganismo. Surge assim a ordem do horto ou os Oratorianos. Também apresenta a vida de São Camilo de Lelis que contemporâneo a Felipe fez uma revolução no conceito de atendimento hospitalar, seu forte caráter e espírito de liderança fizeram nascer na sociedade a Congregação dos Camilianos, religiosos dedicados a tratar os doentes com dignidade e respeito acreditando neles se fazer presente o próprio Cristo. Outro personagem marcante na vida dos Cavanis foi o jovem São Luiz Gonzaga, que tendo nascido em uma família nobre abandona as regalias de seu mundo para viver a simplicidade dos que possuem a Deus e por ser um santo jovem tornou-se modelo e padroeiro da juventude. Os Irmãos Cavanis recordavam também de São Francisco de Sales, com ele aprenderam a confiar na providência divina. A lembrança deste também aparece quando eles em 1808 iniciaram a tipografia, pois o Santo em sua época evangelizava através de periódicos de sua autoria. A vida e o jeito de São José de Calasanz é tão presente na vida e na obra dos dois manos tanto que se corre o risco de confundi-las, sendo que os irmãos o elegeram como padroeiro de sua obra educativa. Já, São Vicente de Paulo é tomado como modelo a ser seguido, a vida do pai da caridade marcou tanto a vida dos dois a ponto de denominarem sua obra como Congregação das Escolas de Caridade. De certa forma, os Irmãos Cavanis são como um apanhado de cada um desses personagens históricos a ponto de considerar-se um novo estilo de vida religiosa distinta das anteriores. Sua pedagogia aconteceu de maneira natural e manteve-se ao longo dos séculos como atual e renovadora. Assim a pesquisa se limitará em apresentar restritamente suas práticas pedagógicas em meio aos jovens sem esquecer de contrapô-las a pensamentos e reflexões contemporâneas. Tal reflexão fará menção a conceitos psicológicos, sociais, morais e afetivos, indispensáveis na Pedagogia dos Cavanis. Analisa-se ainda o conceito de educação para o século XXI, segundo o Relatório Delors para a UNESCO, e confirma-se que a pedagogia iniciada pelos Cavanis a mais de 200 anos continua atual e sua aplicabilidade é válida para os dias de hoje. iv
  • 6. RESUMO La pedagogía de los Cavanis entendida como medio de formación integral, actual y humana del hombre. Para entender y conocer su origen, busca hacer un rescate histórico en la vida de personajes que para los hermanos Cavanis tuvieran relevante importancia en la estructuración de su nueva practica educativa. Este rescate reflexiona sobre la vida de San Felipe Neri que en pleno periodo renacentista forma un grupo de religiosos que ejercitan su carisma a través de: catequesis prelaciones y retiros para los cristianos, en vista de vencer el paganismo. Surge así la Orden de huerto o los Oratorianos. Tambien presenta la vida de San Camilo de Lelis que contemporáneo a Felipe hace una revolución en el concepto de atención hospitalar. Su fuerte carácter y espíritu de lideranza hicieran nacer en la sociedad la Congregación de los Camilianos, religiosos dedicados a tratar los enfermos con dignidad y respeto acreditando en ellos la presencia del propio Cristo. Otro personaje marchante en la vida de los Cavanis fue el joven San Luis Gonzaga, que habiendo nacido en una familia noble abandona las regalías de su mundo para vivir la simplicidad de los que poseen a Dios por ser un santo joven tornose modelo y patrono de la juventud. Los Cavanis recordaban también la vida de San Francisco de Sales, de esto aprendieran a confiar en la Divina providencia. El recuerdo del santo también aparece cuando ellos en 1808 iniciaron la tipografía, pues el Santo en su época evangelizaba a través de periódicos de su autoría. La vida y el modo de San José de Calasanz está presente en la vida de los dos hermanos, tanto que se corre el siego de confundidlas, siendo que los hermanos la eligieron como patrono de su obra educativa. San Vicente de Paul es tomado como modelo a ser seguido, la vida del padre de la caridad marco tanto la vida de los dos hermanos a punto de denominar su obra como Congregación de las Escuelas de Caridad. De cierta forma, los hermanos Cavanis san como un compendio de cada uno de estos personajes históricos a punto de considerarse un nuevo estilo de vida religiosa distinta de las anteriores. Su pedagogía aconteció de manera natural y mantuvo se a lo largo de los siglos como actual y renovada. Así la investigacion se limitará en presentar estrictamente sus prácticas pedagógicas en medio de los jóvenes sin olvidar de contraponer pensamientos y reflexiones contemporáneas. Tal reflexión tendrá luces a conceptos psicológicos, sociales, morales y afectivos, indispensables en la pedagogía de los Cavanis. Analizase todavía el concepto de educación para el siglo XXI, según el velatorio Delors para a UNESCO, y confirmase que la pedagogía iniciada por los Cavanis a más de doscientos años continua actual y su aplicabilidad es válida para los días actuales v
  • 7. RIASSUNTO La pedagogia dei Cavanis intesa come mezzo di formazione integrale, attuale e umana dell’uomo. Per intendere e conoscere la sua origine si cerca di fare una rivalutazione storica della vita dei personaggi che ebbero un rilievo importante nella strutturazione della nuova pratica educativa dei fratelli Cavanis. Questa rivalutazione ci riporta alla vita di San Filippo Neri che in pieno periodo rinascentista forma un gruppo di religiosi che si esercitano nel loro carisma attraverso il catechismo, prediche e ritiri per i cristiani per sconfiggere il paganesimo. Sorge cosí L’ordine dell’Oratorio o degli Oratoriani. Anche appresenta la vita di San Camillo de Lellis, contemporaneo di Filippo che fece uma rivoluzione negli ospedali, quanto al modo di ricevere e trattare gli ammalati. Il suo forte carattere e spirito di lideranza fecero si che nascesse la Congregazione dei Camilliani, religiosi dedicati a trattare gli ammalati con dignitá e rispetto, credendo che in loro si fa presente il proprio Cristo. Un altro personaggio marcante nella vita dei Cavanis fu il giovane San luigi Gonzaga che, nato in una famiglia nobile, abbandona il benessere del mondo per vivere nella semplicitá di quelli che possiedono Dio e, per essere un Santo giovane, divenne modello e protettore della gioventú. I Fratelli Cavanis furono influenziati anche da San Francesco di Sales; da lui impararono a confidare nella Providenza Divina. Il ricordo di San Francesco di Sales appare anche quando i Cavanis, nel 1808, iniziarono la tipografia pubblicando riviste e scritti del Santo. La vita, anzi, lo stile di vita di San Giuseppe Calasanzio era cosi presente nella vita e nelle opere dei due Fratelli, che quasi si corre il rischio di confonderla, tanto che lo elessero patrono della loro opera educativa. Giá San Vincenzo di Paoli, scelto come modello da essere imitato, e la sua vita fondata e guidata influí tanto nella vita dei due fratelli che derono il nome alla loro opera di Congregazione delle Scuole di Caritá. Di certa forma, i Fratelli Cavanis sono un poco di ciascuno di tutti questi personaggi storici a tal punto di concepire un nuovo stile di vita religiosa differente dalle anteriori. La loro pedagogia si formó e sviluppó naturalmente e si mantenne attuale e innovatrice durante i secoli. Cosi la ricerca si limiterá a presentare strettamente la sua pratica pedagogia in mezzo ai giovani senza dimenticare di contraporla al pensiero e ideologia contemporanei. La dará alcuni cenni ai concelti psicologici, sociali, morali e afettivi, indispensabili e inerenti alla Padagogia Cavanis. So oltre a questo sará analizzato il concetto di educazione nel secolo XXI, secondo il relatorio Delors per L’UNESCO, e si afferma che la pedagogia iniziata dai Cavanis da piú di 200 anni fa continua attuale e la sua applicazione é valida per i nostri giorni. vi
  • 8. SUMÁRIO RESUMO.................................................................................................................... iv RESUMO..................................................................................................................... v RIASSUNTO .............................................................................................................. vi INTRODUÇÃO ............................................................................................................1 CAPÍTULO I PRINCÍPIOS ILUMINADORES ..............................................................4 CONSIDERAÇÕES INICIAIS......................................................................................4 1 SÃO FELIPE NERI ................................................................................................5 2 SÃO CAMILO DE LELLIS.....................................................................................9 3 SÃO LUIS GONZAGA.........................................................................................18 4 SÃO FRANCISCO DE SALES ............................................................................22 5 SÃO JOSÉ DE CALAZANS ................................................................................26 6 SÃO VICENTE DE PAULO .................................................................................31 7 IRMÃOS CAVANIS .............................................................................................34 7.1 TEMPERAMENTOS DIFERENTES ..................................................................41 CAPÍTULO II PILARES PEDAGÓGICOS.................................................................43 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA ........................................................................43 1 O EDUCADOR CAVANIS ...................................................................................45 2 EDUCAÇÃO GRATUITA.....................................................................................45 3 AMOR PATERNO AOS JOVENS .......................................................................48 4 O MÉTODO .........................................................................................................49 4.1 VIGILÂNCIA CONTÍNUA ..................................................................................49 4.2 CONGREGAÇÃO MARIANA ............................................................................50 4.3 CATEQUESE ....................................................................................................51 4.4 HORTO (RECREIO)..........................................................................................51 4.5 ORATÓRIO .......................................................................................................53 4.5.1 Exercícios Espirituais......................................................................................53 5 INSTITUTO FEMININO........................................................................................54 6 PROFISSIONALIZAÇÃO ....................................................................................54 7 A PERFEITA INSTRUÇÃO DOS JOVENS .........................................................54 8 DISCIPLINA.........................................................................................................55 CAPÍTULO III A PEDAGOGIA CAVANIS E A EDUCAÇÃO CONTÊMPORANEA ..58 CONSIDERAÇÕES INICIAIS....................................................................................58 1 APRENDER A CONHECER E A PENSAR .........................................................59 2 APRENDER A FAZER ........................................................................................61 3 APRENDER A CONVIVER..................................................................................63 4 APRENDER A SER .............................................................................................64 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................66 REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS ...........................................................................68 ANEXOS ...................................................................................................................69 vii
  • 9. INTRODUÇÃO “A educação é um trabalho que exige a ocupação da pessoa o tempo todo (…), os operários, portanto devem ser bem treinados para este ministério; livres de outras ocupações para dedicar-se a ele inteiramente”. (IRMÃOS CAVANIS 28/05/1814) Ao iniciar um trabalho de pesquisa acadêmica surgem diversas questões, o grande desejo de responder essas dúvidas que povoam a mente humana e que ao longo da história trouxeram à humanidade o que chama-se de futuro ou pós- modernidade em busca de um desejo natural de realizar-se sonhos do passado que de certa forma conduziram o homem ao desenvolvimento. Nem todo saber é conhecido e nem tudo do que é conhecido é saber. Baseado nessa idéia encontram- se velados na história da humanidade e de maneira particular na história da educação, veneziana, dois personagens de relevante importância. Herdeiros de um título de nobreza dois irmãos Antonio e Marcos, os condes Cavanis, constituíram um marco em sua época. Num contexto de diversos conflitos político de governos opressores e oprimidos e dentro do avassalador império napoleônico eles permaneceram fiéis ao seu sonho de possibilitar vida digna de cultura, educação e religião aos que delas não podiam desfrutar de forma plena, pelo simples fato de terem nascidos menos afortunados. Essa pesquisa acadêmica quer ao mesmo tempo em que pretende refletir nos ideais Cavanis ela o faz levando em conta a inserção do ser humano no contexto atual. Para tanto será preciso questionar para compreender o que vem a ser pedagogia. Quando um método de trabalho educativo pode ser considerado como pedagógico? Qual é a pedagogia dos Cavanis?
  • 10. Esse método tem aplicabilidade hoje? Quem pode aplicar a Pedagogia Cavanis? E onde? A partir de uma peculiar intuição pedagógica os Irmãos Cavanis condensaram em seu estilo próprio de interagir dentre os jovens princípios iluminadores de personagens que deixaram marcas em sua época como: Felipe Néri, fundador da ordem do horto; São Camilo de Lelis, que fundou uma congregação para ajudar e confortar os doentes; São Luis Gonzaga, que os inspirou na pureza da mente e do coração; São Francisco de Sales, exemplo de confiança na providência e exímio escritor de temas espirituais; São José de Calasanz que foi um sacerdote espanhol que oferecia educação às crianças pobres da periferia de Roma, o qual os Irmãos Cavanis escolheram como padroeiro de sua obra educativa e São Vicente de Paulo, fundador dos lazaristas e das Irmãs da Caridade, que escolheram como modelo a ser seguido, assim os irmãos Cavanis apresentaram como paradigma de seu projeto educativo o próprio Cristo. Assim este trabalho de pesquisa pretende apresentar os Irmãos Cavanis como dois verdadeiros visionários, como dois homens que estiveram à frente de seu tempo, sobretudo no campo da educação das crianças e dos jovens. Como ensinar, como formar sem estar aberto ao contorno geográfico e social dos educandos? (FREIRE, 1996, p.137). Eles diziam que “Não adianta esperar por uma mudança na sociedade sem cuidar como convém das crianças e dos jovens; é preciso usar os meios aptos para conseguir o fim”. ad. tempora A metodologia utilizada nesse trabalho foi através de reflexão feita sobre as cartas escritas pelos IRMÃOS CAVANIS sendo selecionadas as que mais dizem respeito ao espírito e a finalidade de sua obra educativa como a pedagogia desenvolvida. Também foram analisado autores contemporâneos que refletem sobre o tema pedagogia e educação. O trabalho inicia sua pesquisa sobre os princípios iluminadores que inspiraram o desenvolvimento da pedagogia dos Cavanis. Para tanto essa pesquisa direcionou-se sobre a vida de SÃO FELIPE NERI, SÃO CAMILO DE LELIS,SÃO LUIZ GONZAGA, SÃO FRANCISCO DE SALES, SÃO JOSÉ DE CALAZANS e SÃO VICENTE DE PAULO. Num segundo momento a pesquisa direciona seu foco na possibilidade da FORMAÇÃO INTEGRAL DO HOMEM através da teoria educacional desenvolvida e praticada pelos Cavanis ao 2
  • 11. longo de um período histórico de 200 anos. A pesquisa é concluída no século XXI, refletindo a aplicabilidade e validade da Pedagogia Cavanis na pós-modernidade. A pedagogia Cavanis surge com o desejo de suprimir uma carência de afeto e educação que vive as crianças e jovens do século XVII na cidade de Veneza. Alvorece como luz educativa dentro do período iluminista e tem em seu interior contribuições de saberes e valores históricos de sua época como a revolução francesa em 1789 e o alvorecer do período moderno. E que ainda hoje faz-se convidativo para uma intensa meditação. A centralidade dessa Pedagogia Cavanis encontra-se no próprio homem Percebendo a atual escassez de material em português sobre a pedagogia Cavanis bem como a sua origem, esse trabalho quer ser um instrumento prático e acessível a todos, que possibilite conhecimento histórico e pedagógico para uma melhor aplicabilidade dela hoje. 3
  • 12. 1º CAPÍTULO PRINCÍPIOS ILUMINADORES “A perfeição não consiste em fazer grandes coisas que nos fazem parecer grandes diante dos olhos dos homens, mas em ser grande diante dos olhos de Deus, fazendo tudo conforme sua Vontade”. (Pe. ANTONIO CAVANIS 11/1843)) CONSIDERAÇÕES INICIAIS Entende-se por princípios iluminadores as fontes que inspiraram e motivaram os irmãos Antonio Ângelo Maria Cavanis e Marcos Antônio Maria Cavanis a desenvolverem uma obra educativa através da escola que a posteriori herdará o nome de Congregação das Escolas de Caridade-Cavanis. Esses focos luminosos condensados na pedagogia Cavanis, constituíram o que eles denominaram de formação integral do homem. Para tanto se torna necessário uma análise objetiva desses princípios que inspiraram e motivaram os Irmãos Cavanis. Para desenvolver um paralelo entre: Igreja, Estado, educação e sociedade e refletir sobre a vida de personagens que para os Irmãos Cavanis tiveram com seu pensamento relevante importância na história da educação de sua época. Essa análise histórica passará na ótica filosófica pelos períodos renascentista abrangendo o século XV e XVI, contextualizando os personagens: Felipe Neri (1515 -1595), Camilo de Lelis (1550 – 1614), Luis Gonzaga (1560 – 1591) e na segunda metade do século XVI adentrando o século XVII encontra-se Francisco de Sales (1567 – 1622), José de Calazans (1556 – 1643), este escolhido pelos Irmãos Cavanis como padroeiro da obra Cavanis e Vicente de Paulo (1580 – 1660), popularmente conhecido como pai da caridade e que os Irmãos Cavanis
  • 13. apresentavam aos congregados como modelo a ser seguido. (SANTA CRUZ, 1993, p.50-51) Esse primeiro capítulo será finalizado com uma análise sobre os Irmãos Cavanis, observando a centralidade de sua pedagogia e contextualizando-a na filosofia e na história do período iluminista destacando o império napoleônico com a revolução francesa e o pensamento histórico contemporâneo, iniciado por Emanuel Kant. 1 SÃO FELIPE NERI São Felipe Neri, missionário e fundador da Congregação do Oratório, Nasceu em 22 de julho de 1515 em Florença, Itália como Phillipe Romolo Neri. Filho do tabelião Francisco Néri; estudou sob influência dos Dominicanos em São Marcos, no Veneto e aos dezoito anos foi mandado para São Germano, a um seu parente sem filhos, que se supunha ter um negócio florescente e do qual se esperava que o ficasse seu herdeiro. (THURSTON,H.J.; ATTWATER,D.,1988, p.237.) Ele abandonou os negócios em 1533, foi para Roma. Hospedou-se no salão da casa de Galeotto Caccia, oficial da alfândega. Em troca da hospitalidade, dava aulas a dois filhos do oficial. Ibid., p.238 Estudou dois anos com profundidade a partir de 1533 teologia e filosofia. A região onde residia se recuperava do saque de 1527. As escolhas e decisões da Igreja eram controladas pelos Médici e os cardeais com raras exceções eram príncipes de Estado, mais do que propriamente da Igreja. id. O entusiasmo pelos autores clássicos, estimulados pela Renascença substituiu, aos poucos as idéias cristãs por idéias pagãs, fazendo baixar o padrão moral e enfraquecendo a fé. Pairava nessa época do período renascentista, sob a influência do pragmatismo, no clero romano uma indiferença e um abandono, deixando suas igrejas cair em ruínas e não havia acompanhamento de seu rebanho, fato que levava o povo ao semi-ateísmo. Reevangelizar Roma foi a obra da vida de Felipe, e ele executou com êxito, merecendo receber posteriormente o título de apóstolo de Roma. Em pleno clima de reforma e contra reforma, Felipe expressou a sua opinião a respeitos “É possível restaurar as instituições com a santidade, e não restaurar a santidade com as instituições”. (SGARBOSSA, M.; GIOVANNINI, L., 1983, p.165) 5
  • 14. Seu trabalho apostólico consistia em circular pelas ruas, esquinas, mercados e praças de Sant’Angelo. Sua personalidade atraente acompanhava seu senso de humor que facilmente cativava um ouvinte. Seus conhecimentos e sua espiritualidade ajudavam-no a dizer uma palavra no momento adequado com quem conversava, quando não falava do amor de Deus ou de sua vida espiritual. Dessa maneira, convencia muitos a abandonar seus maus costumes e a modificar suas vidas. Felipe tinha uma saudação costumeira: “Bem, irmãos quando é que começareis praticar o bem?”(loc. cit.) Assim ele conseguia levar muitos a cuidar dos doentes nos hospitais e a visitar as Igrejas. O que sustentava essa vida em favor dos menos favorecidos e em defesa da Igreja era a sua constante vida de oração. Retirava-se para a oração: “Se quisermos nos dedicar inteiramente ao nosso próximo, não devemos reservar a nós mesmos nem tempo nem espaço” SGARBOSSA, M.; GIOVANNINI, L., (1983, p.165). Assim passava a noite ora no pórtico de alguma igreja, ora, nas catacumbas de São Sebastião, junto a via Ápia. Em suas orações noturnas, em certa ocasião véspera de Pentecostes, em 1544, pedindo fervorosamente os dons do Espírito Santo, experimentou um êxtase que dilatou seu coração apareceu-lhe um como globo de fogo que entrou pela boca dilatou-lhe o peito. Imediatamente foi tomado de um paradoxismo de amor divino, que rolou pelo chão, exclamando “basta, basta, Senhor, eu não posso mais suportar!” op. cit, p.239 Ao levantar-se sentiu-se mais recomposto, e assim quando pôs a mão sobre o coração, percebeu um inchaço do tamanho do punho de um homem, o qual nem no momento ou posteriormente lhe causou sofrimento. Mas, desde aquele momento a qualquer emoção espiritual era facilmente surpreendido por violentas pulsações que faziam todo o seu corpo tremer e algumas vezes sacudiam violentamente a cadeira ou a cama onde se encontrava. Sentia também em suas consolações espirituais calor no peito que o levava a desnudá-lo com o intuito de abrandar-lhe o calor, assim, em suas orações pedia a Deus que amenizasse essas sensações, caso contrário morreria de amor. Após sua morte descobriu-se que duas das costelas do santo, se haviam partido e formavam um arco que aumentava o espaço normal para as batidas do coração. 6
  • 15. Estudante em Roma abandona os estudos vendendo os livros para dedicar-se totalmente a atividades beneficentes. Após três anos passou a organizar uma ordem de Irmãos Leigos. No ano de 1548, com o auxílio de seu confessor, o padre Persiano Rosa, que vivia em San Girolano della Carita, Felipe devotado ao seu apostolado fundou uma comunidade, a "Confraria da Mais Santa Trindade" para exercícios espirituais na Igreja de San Salvatore in Campo para orarem juntos, cuidarem dos doentes e peregrinos que vinham para Roma, também recolheram consigo meninos turbulentos dos subúrbios romanos e os educavam divertindo-os. A quem se queixava do barulho respondia: “Contanto que não pratiquem o mal, ficaria satisfeito até se me quebrassem paus na cabeça”. (SGARBOSSA, M ; GIOVANNINI, L., 1983, p.165). Ficou muito conhecido pela sua bondade e simpatia. Ele popularizou a devoção das 40 horas em Roma, devoção essa que ainda hoje é muito comum, consiste em dois dias de adoração ao Santíssimo Sacramento que pode ser feita em preparação ou após a festa de Corpus Christi. Essa obra desenvolveu-se até o ponto de tornar-se o hospital de Santa Trinitá dei Pellegrini. Ao completar 34 anos, Felipe Néri já havia realizado obras religiosas de atendimento aos pobres, peregrinos e crianças, grupos de orações que permanecem até a atualidade. Embora em sua humildade o fizesse evitar o pensamento de tornar-se padre, submetido ao desejo de seu confessor no dia vinte e três de maio de 1551, foi ordenado, com trinta e seis anos. Já desde antes do despontar da manhã até o meio dia e muitas vezes de novo a tarde ele atendia uma multidão de penitentes de todas as idades e condições. De acordo com THURSTON,H.J.; ATTWATER,D loc. cit., ele tinha a capacidade de ler o pensamento dos que o recorriam, realizando assim conversões. Visando ao bem dos penitentes, ele costumava realizar conferências informais e discussões, seguidas depois de visita as comunidades. Néri tinha o hábito de ler em voz alta a vida dos mártires e missionários. Meditando sobre o relato da vida e morte de São Francisco Xavier, impressionou-se de tal maneira a ponto de oferecer-se como voluntário para trabalhar nas missões no estrangeiro. Mas, um cisterciense que ele consultou garantiu-lhe que Roma era a sua Índia, e Felipe acatou a orientação. Para ajudar os mais necessitados não hesitava em pedir esmolas nas estradas. Um dia um indivíduo sentindo-se importunado, deu-lhe um soco. Ao que Felipe respondeu: “Este é para mim? Agora me dê algum dinheiro para meus meninos”. op. cit. 7
  • 16. Felipe Néri auxiliado por outros sacerdotes dirigia conferências na Igreja de San Girolano e para acomodar os que o assistiam, construiu-se uma grande sala sobre a nave da Igreja. Esse grupo recebeu o nome de oratorianos, porque eles tocavam um sininho para convocar os fiéis às orações em seu oratório. Mas os verdadeiros fundamentos da Congregação desse nome só foram lançados anos depois, quando Felipe apresentou cinco de seus jovens discípulos para a ordenação sacerdotal, entre os quais se achava César Barônio, e os mandou servir a Igreja de San Girolano. Felipe compôs algumas regras simples de vida. Eles participavam de uma mesa comum e de exercícios espirituais sob sua obediência, mas, proibiu-lhes que se vinculassem a esse estado, pelos votos, os seus bens materiais, caso possuíssem algum. Outros vieram juntar-se a eles e sua organização e obra se desenvolveram rapidamente, justamente pelo fato de encontrarem oposição e até mesmo perseguição por parte de setores da Igreja. Contudo em 1575, a nova sociedade obteve aprovação formal do Papa Gregório XIII, que lhe doou a Igreja de Sant Maria em Vallicella. As regras de sua Constituição foram aprovadas pelo Papa Paulo V em 1612. A Congregação do Oratório se espalhou por toda a Europa e América do Sul. O Papa Gregório XIV tentou fazer dele um cardeal, mas Filipe recusou. Felipe era um homem de saúde delicada e tinha a capacidade de predizer acontecimentos, vivia em contato com o sobrenatural e ao recitar o Ofício e celebrar a Missa por diversas vezes caía em êxtase. Pessoas que conviveram com ele testemunharam que, Felipe irradiava uma luz celeste. Depois dos 75 anos de idade limitou sua atividade ao confessionário e a direção espiritual. SGARBOSSA, M.; GIOVANNINI, L., (1983, p.165) Em 1577 a Congregação do Oratório mudou-se para a Igreja de Sant Maria em Vallicella, somente em 1584 é que Néri passou a morar em Vallicella atendendo pedido expresso do Papa. O povo romano tinha por ele veneração, e nos últimos anos de sua vida, todo o colégio cardinalício recorria a ele, buscando conselhos e revigoramento espiritual e tão grande era a sua fama que os estrangeiros vindos para Roma desejavam ser apresentados a ele. id. Respeitado e amado em Roma foi um conselheiro de Papas, Reis, Bispos, Cardeais e igualmente confessor e conselheiro de leigos e do povo mais simples de Roma . 8
  • 17. Foi em seu quarto, que ele confirmou seu apostolado quando a idade avançada e as enfermidades crescentes o impediram de circular livremente. Ricos e pobres visitavam seus aposentos e para todos dava um conselho adequado a suas necessidades particulares. Dois anos antes de morrer ele conseguiu demitir-se do cargo de superior em favor do seu discípulo Barônio. Obteve também permissão de celebrar a missa diariamente em um pequeno oratório unido a seu quarto. Na festa de Corpus Christi , dia 25 de maio de 1595, Felipe apresentou-se radiante de felicidade que beirava a exultação, e seu médico lhe disse que não o via assim a dez anos . Durante todo o dia ouviu confissões e recebeu visitas, como de costume e ao meio dia disse: “Ao cabo de tudo, devemos morrer” segundo o relato de seus congregados, citado por (THURSTON,H.J.; ATTWATER,D, 1988, p.241.) Por volta da meia noite sofreu um ataque de hemorragia que os padres foram chamados. Era evidente que estava para morrer assim Barônio que lia as orações da encomendação, pedia a ele que dissesse uma palavra de despedida, ou pelo menos abençoasse seus filhos. Embora Felipe não conseguisse mais falar, levantou a mão e expirou enquanto abençoava. Ele estava com oitenta anos. Seu corpo foi sepultado na Igreja nova de Vallicella onde os oratorianos servem até os dias de hoje. Ibid., p.241 Foi beatificado em 1615 pelo Papa Paulo V, e canonizado em 1622 pelo Papa Gregório XV . Seu símbolo na liturgia da Igreja é um lírio e um anjo com um livro. Sua imagem está entalhada em um santuário na Casa Matriz da Igreja de Santa Maria, em Vallicella . A mais famosa pintura dele foi feita por Guido Reni, que serviu de base para as subseqüentes apresentações de suas fotos-pintura. Sua festa é celebrada no dia 26 de maio. 2 SÃO CAMILO DE LELLIS No ano santo de 1550, os peregrinos de diversas partes do mundo afluíam a Roma e o concílio de Trento recomeçava as suas sessões sob o Pontificado de Júlio III. Em Bucchianico celebrava-se a festa do padroeiro do lugar, Santo Urbano, em 25 de maio. Camila sempre mui devota foi logo cedo à Missa chamada Messa picola, porque não podia, como estava, assistir à missa solene da grande festa. Enquanto adorava Jesus Hóstia, no instante da consagração, como Isabel, a Mãe do Batista, 9
  • 18. sentiu que o filho exultava de alegria no ventre materno. Voltou depressa para casa. Percebeu que a hora chegava. Uma amiga aconselhou-a a recorrer a São Francisco e descer até a estrebaria, onde também nascera Jesus em Belém, e o Santo Patriarca em Assis. Camila naquela angústia assim o fez, e gemendo de dor estendeu-se sobre a palha, o feno dos animais, e ali nasceu a criança. A notícia correu célere. O milagre andava de boca em boca. A velha Dona Camila era mãe aos sessenta anos! Afluiu muita gente à casa “De Lellis”. A pobre mãe não cabia em si de tão feliz, porém, sentia-se ruborizada com aquele parto em idade tão avançada. Mas essa piedosa mãe não viveu muitos anos mais. Em 1563, com quase 73 anos de idade, expirou santamente. O pai, agora comandante da fortaleza de Pescara, poucas vezes vinha a Bucchianico, e o filho fora entregue aos cuidados de estranhos. (BRANDÃO 1978, p.13-15) Camilo aproveitando da liberdade e em más companhias aprendeu a jogar. A família que o adotou o colocou em uma escola onde tirou proveito, pois não obstante as vadiações e peraltices era inteligentíssimo. Tinha boa memória, recitava muito bem e gozava de grande prestígio entre os colegas de classe. Aos dezessete anos resolveu se alistar entre os venezianos que em 1567 andavam assalariando na guerra contra os turcos. Camilo lutou ao lado do pai junto dos habitantes de Veneza contra os turcos, mas logo após a morte do pai que ocorreu nas vizinhanças do Santuário de Loreto, no castelo de São Lupo, Camilo contraiu uma doença incomoda e repulsiva, que posteriormente denominou de a primeira misericórdia, era uma chaga no peito do pé direito, que não a tratou bem e após ter infeccionado tornou-se profunda e incurável. Ibid, p.17 Um dia sentado à beira do caminho, Camilo viu passar dois padres da Ordem Franciscana. A modéstia dos religiosos o impressionou. Chegou mesmo a fazer o voto de entrar para um convento franciscano. Dirigiu-se para Áquila e foi bater à porta do convento de São Bernadino. Expôs ao guardião o padre Frei Paulo Loretano, seu tio materno, todas as suas desgraças e o desejo de se converter e fazer penitência. O tio franciscano o ouviu comovido, mas não o quis receber. Camilo descansou ali alguns dias, tratou-se um pouco e resolveu partir para Roma, chagando lá procurou um hospital para curar-se. Em 1569, foi internado no hospital da San Giacomo (São Tiago) em Roma para doentes incuráveis, ficando lá como paciente serviçal. Passado nove meses, foi demitido, entre outros motivos por causa de suas reclamações, pois o rapaz não 10
  • 19. tinha juízo. Era cabeça quente, brigava com os enfermos por qualquer ninharia, discutia com os enfermeiros, e perdia o tempo no jogo. Assim a diretoria do hospital o dispensou do serviço como incorrigível e inepto para o ofício de enfermeiro. id. Voltou para o serviço ativo na guerra contra os turcos. Camilo referia-se como um grande pecador, seu maior vício era o da jogatina que constantemente o levava à penúria e a vergonha. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p.172) No verão de 1571, Camilo foi transferido para a guarnição da Ilha de Corfú. Local que se travaria a histórica batalha de Lepanto. Ocorrera terrível epidemia a qual Camilo contraiu e tendo ficado gravemente doente recebeu a unção dos enfermos, melhorou sensivelmente. No ano seguinte, em 1572, alistou-se de novo no exército e partiu para a luta. Quase perdeu a vida no combate dos turcos em Castelnuovo. Em março de 1573, restabeleceu a paz, Camilo se põe a serviço da Espanha. Após naufrágio junto à Ilha de Capri, chegou a Nápoles. Em outubro de 1574, devido ao vício da jogatina, apostou sua camisa e perdendo foi obrigado à humilhação de tirá-la em praça pública. Assim chegou ao extremo da miséria. (BRANDÃO 1978, p.19-20) No dia 15 de agosto de 1582, festa da Assunção da Virgem Maria, Camilo velava os doentes e enquanto isso meditava que era triste ver tantos doentes abandonados, sem assistência material e espiritual, entregue às vezes em mãos de mercenários. Como remediar tantos males? Sente assim em seu coração a pulsão de instituir uma companhia de homens piedosos que aceitassem generosamente a missão de socorrer aos enfermos, sem esperarem recompensa ou paga, e o fizessem com a ternura de Mãe. Essa companhia teria como distintivo uma cruz vermelha ou outro distintivo qualquer. Essa foi a primeira inspiração que sentiu em seu coração. Camilo convicto dessa inspiração dispõe-se a convidar alguns amigos, entre eles estava o Pe. Francisco Profeta da Sicília, capelão de São Giacomo, homem de grande ciência e virtude, Bernardino Norcino di Amatrice, Cruzio Lodi, Ludovico Altobelli e Benigno Sauri, que trabalhavam no hospital. As palavras de Camilo e a sua maneira de apresentar suas motivações entusiasmaram esses companheiros que tomaram o amigo como seu mestre e guia. Assim dentro do hospital prepararam um espaço que continha um altar e um crucifixo para suas orações em comum e em momentos livres lá se encontravam para combinar como levarem adiante essa obra. 11
  • 20. O fundador sentia também o desejo de congregar a esse grupo, sacerdotes seculares, que fossem piedosos para o serviço dos enfermos, principalmente para lhes ministrarem os sacramentos como a Unção dos enfermos e o Viático prontamente quando necessário e, além disso, que realmente tivessem verdadeiro amor e afeto para com os agonizantes. Camilo pensava que assim poderia salvar muitas almas e conceder-lhes atendimento digno, para que se sentissem verdadeiramente amados e que não se encontravam sós. Camilo retornou os estudos, aos trinta e dois anos, com dois sacerdotes, e andava com a gramática latina por toda parte, no mesmo ano de 1582 passou a freqüentar aulas no Colégio Romano onde se encontravam célebres teólogos e sábios da Companhia de Jesus como São Roberto Belarmino, Vasquez e Suarez, filósofo da contra reforma. O programa dos estudos constava de gramática, retórica e humanidades. O curso filosófico de três anos e o teológico de quatro anos. Nesse ano da matrícula ele entrou no curso inferior onde estavam os que apenas sabiam ler e escrever e aprendiam rudimentos de latim. Era uma turma com meninos de 12 e 13 anos de idade. A criançada o ridicularizava e repetia: Tarde venisti! Tarde tarde venisti! Um dia o mestre Pe. Cornélio Ciprioto, ao ver a gozação disse aos meninos: “Este homem que é objeto de vossa zombaria, há de fazer grandes coisas na Igreja de Deus!” Sendo assim cessaram-se as zombarias e começaram a admirar a virtude e a boa vontade do aluno de trinta e dois anos. Os padres Jesuítas empenharam-se para vê-lo adiantado na instituição. No ano de 1583 julgaram suficientemente instruído para receber as ordens menores. (BRANDÃO, 1978, p.38) No dia 2 de fevereiro de 1583, Ele se reveste do hábito clerical e recebe a Tonsura. Nos três domingos seguintes recebeu as ordens menores das mãos do vice-regente de Roma, Tomás Goldwell, bispo de São Asaph, último bispo exilado da antiga hierarquia inglesa. (THURSTON; ATTWATER, 1989 p.174) Para receber as ordens maiores, diaconato e presbiterado encontrou nova dificuldade onde o candidato que não fosse religioso professo deveria ter um patrimônio ou título equivalente que assegurasse a honesta sustentação. Camilo era pobre e os honorários que recebia como mordomo de São Giacomo, dispensava em favor dos pobres. 12
  • 21. Numa tarde de dezembro de 1583, encontra um senhor ilustre, nobre romano, Fermo Calvi, que apenas o conhecia de vista. Trocando conversas chegaram às dificuldades que Camilo se encontrava para ser ordenado. O senhor generoso e dotado de enorme fortuna, de imediato ofereceu a quantia necessária para tal empréstimo e posteriormente veio a ser um grande benfeitor da obra, terminando seus dias no seio da família camiliana. Sábado, 26 de maio de 1584, na oitava de pentecostes, Camilo foi ordenado sacerdote. Após esta graça quis entrar em retiro, no silêncio e na oração, a fim de se preparar melhor para subir ao altar. Passou duas semanas recolhido, orando e fazendo penitência recebeu apenas a visita de São Felipe Néri, seu diretor espiritual. No domingo, 10 de junho do mesmo ano, terceiro domingo de pentecostes, celebrou a primeira missa na capela de Santa Maria Porta Padadisi. Seu benfeitor Fermo Calvi ofereceu-lhe um cálice, um missal, três casulas e outros paramentos. Padre Camilo ainda freqüentava as aulas e estas ocuparam cinco horas por dia, continuava na direção do hospital e fora nomeado capelão de uma Igrejinha de nossa senhora, Maria Donnina dei Miracole. (BRANDÃO, 1978, p.41) A atividade do novo sacerdote era intensa, pois estudos, direção do hospital e a capelinha lhe absorviam o dia todo e parte das noites. A Companhia dos enfermeiros foi iniciada em 15 de setembro de 1584, no referido santuário da Virgem, sendo três os primeiros camilianos: Cruzio Lodi, Bernadino Norcino e o Padre Francisco Profeta a quem Camilo deu o hábito clerical. Estabeleceram um regulamento a ser observado, e foram trabalhar no hospital do Espírito Santo onde assistiam os doentes com tanto afeto e cuidado que se tornava visível a todos quantos os observavam que eles consideravam como se fosse o próprio Cristo aquele que estava ali deitado, doente ou ferido, em seus membros. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p.173). Os três companheiros desligaram-se dos compromissos de São Giacomo. A primeira grande tribulação foi quando São Felipe Néri deixa de ser diretor espiritual de Camilo a única segurança que Camilo encontra é no seu crucifixo que sentia lhe dizer “caminha avante, pois a obra é minha” (BRANDÃO 1978, p.44) A segunda grande prova veio de uma enfermidade que abateu Camilo e Cruzio, devido a umidade vinda do Tibre, e a vida pobre e sem conforto em Madonnina. Camilo conforta o amigo com essas palavras: “Esta enfermidade, vem 13
  • 22. do Senhor, e fomos favorecidos com esta visita de Deus, afim de que aprendamos com a nossa própria doença, e nos tornemos mestres na escola do sofrimento para nos tornarmos mais fervorosos e compassivos em socorrer o próximo enfermo”. Ibid., p. 45 Devido a umidade e insalubridade da casa, Camilo e seus companheiros precisavam mudar-se de Madonnina e confiando na providência alugaram uma outra casa que exigia cinqüenta escudos anuais e um semestre adiantado; ajudados por Pompeo Baratelli outro amigo e benfeitor estabeleceram-se na Via Delle Bottegere Oscure, em janeiro de 1585. Este era um ambiente melhor, mais saudável e central. Puseram-se a trabalhar em dois hospitais o de São Giacomo e o do Espírito Santo, Camilo preferiu trabalhar onde exerciaeria os trabalhos mais humildes, trataria dos repugnantes, os mais imundos, os mais grosseiros e difíceis. Sofria dolorosas humilhações. O hospital não era muito organizado, mas ocorriam graves abusos, como o de levarem doentes ainda vivos para o necrotério. (BRANDÃO 1978, p.47) Camilo acolhia em sua companhia quantos manifestassem vocação. Entretanto fazia-os passar duras provações e os experimentava rigorosamente per ignem et águam provas de água e fogo nos hospitais e no trabalho. Nem todos perseveraram e resistiam às provas. id. Os religiosos camilianos destacaram-se no seu apostolado, pois atendiam também os enfermos no seu domicílio, trabalho esse que trouxe maior prestígio à Companhia dos enfermeiros. O nome camilianos não era aceito por Camilo e sua humildade, assim preferiu denominá-los de Ministros dos Enfermos, no entanto as pessoas mais comumente os denominavam padres da boa morte ou do bem morrer. A regra religiosa dessa Congregação escrita pelo fundador compreende duas partes: a primeira estabelecia as práticas para a observância dos conselhos evangélicos, a consagração total de suas vidas a Deus expressada através dos votos de pobreza, castidade e obediência e a segunda a assistência aos enfermos. Logo no início a congregação sofre com a perda de um confrade, Bernardino Norcino, homem de oração e penitência que veio a falecer no dia 16 de agosto de 1585. O seu corpo foi sepultado na Igreja do Gesú dos padres jesuítas da Companhia de Jesus. Ibid., p.49) A nova comunidade crescia de maneira expressiva e se via a necessidade de uma habitação maior. Na festa de Santa Madalena Camilo visitou seu santuário e contemplou com amargura os estragos e a pobreza da Igreja em ruínas. Sentiu o 14
  • 23. desejo de adquiri-la. O velho templo pertencia a um nobre senhor amigo de Camilo que não hesitou em lhe conceder o santuário, restando a Camilo o encargo de quase reconstruí-lo. As autoridades atendendo aos benefícios que os ministros prestavam ao povo deram trezentos escudos para a reforma. E assim essa se tornou a casa mãe da ordem. No ano de 1585, morre o Papa Gregório XIII e o conclave elegeu para seu sucessor Sisto V, que foi um reformador enérgico e decidido. Camilo teve receio de pedir a aprovação da nova ordem sem um bom protetor. Tendo encontrado o Cardeal Vicente Lauro, Bispo de Mondovi, e homem de grande influência junto ao Santo Padre e de valor, pediu-lhe a aprovação da ordem sem rodeios, mas com simplicidade foi logo advogando o que queria. O Cardeal simpatizando-se com Camilo e informou-se da idoneidade do instituto, pediu as constituições e sem demora apresentou-se ao Papa Sisto V, com os documentos e advogou a causa da nova Ordem. O cardeal admirou-se da sabedoria da regra, escrita por um homem sem cultura. Tanto elogiou e defendeu que foi nomeado protetor da obra. (BRANDÃO 1978, p.51) O Breve de 18 de maio de 1586 aprovou a nova Congregação Religiosa, concedendo aos ministros dos enfermos a licença de professarem os votos de pobreza, castidade, obediência e o serviço aos enfermos, mesmo os empestados. O Padre Camilo fora eleito o primeiro superior. Em 1588, Camilo e mais seis companheiros fundaram uma comunidade em Nápoles. Nesse mesmo ano ocorreu que algumas galeras, tinham a tripulação infectada pela peste e foram proibidas de atracarem no porto. Desse modo, os ministros da saúde, novo nome atribuído a Camilo e seus companheiros em Nápoles, subiram a bordo e lá davam assistência aos doentes. Numa dessas ocasiões, dois dos seus membros morreram por causa da peste, sendo os primeiros mártires da caridade dessa instituição. O fundador demonstrou o mesmo espírito de caridade em Roma, quando uma febre provocada pela peste eliminou um grande número de habitantes em outra época quando essa cidade foi visitada por uma violenta carestia. Em 22 de setembro de 1591, o Papa Gregório XIV assinou uma bula que elevou a congregação à condição de Ordem Religiosa para o serviço perpétuo aos doentes. No dia 15 do mês seguinte morre o Papa e os dois Pontífices que o sucederam não admitiam a aprovação de novas Ordens. Fato esse da providência 15
  • 24. que proporcionou a Camilo uma alegria imensa. Ele reuniu na capela todos os religiosos e colocando sobre o altar o documento papal entre lágrimas rezou: Dou- vos graças, meu senhor, em nome de todos estes filhos, que formei pelas entranhas de vossa piedade, porque vos dignastes consolar-me inspirando ao Santo Padre o nosso Papa Gregório, a estabilidade desta plantinha, cultivada não por mim, mas pela vossa mão poderosa. (BRANDÃO 1978, p.63) Mais tarde em 1595 e 1601, alguns de seus religiosos foram enviados junto às tropas que estavam lutando na Hungria e na Croácia, formando assim a primeira assistência ambulatorial junto às tropas militares de que se tem registro. A cruz vermelha só veio a ser criada por Henry Dunant em 1859, após ele ter assistido a sangrenta Batalha de Solferino, que foi travada no norte da Itália, entre o exército imperial austríaco e as forças aliadas da França e da Sardenha e da qual resultaram 40 mil vítimas mortais. Henry Dunant rapidamente reuniu mulheres das aldeias mais próximas para que prestassem auxílio humanitário às vítimas da guerra. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p.173) O trabalho de caridade dos ministros dos enfermos destaca-se não apenas na assistência imediata aos enfermos, mas também no respeito e paciência junto aos doentes. Certa vez estava o fundador servindo um doente no hospital do Espírito Santo quando o Monsenhor e Comendador chefe da obra mandou chamá-lo, Camilo assim respondeu ao enviado: Diga ao Monsenhor, que estou ocupado com Jesus Cristo, e quando terminar esta obra de caridade estarei às ordens de sua excelência. Quanto a paciência essa era uma grande virtude de Camilo quando a ingratidão era o seu cálice do dia dia. Para animar seus filhos espirituais na paciência para com os enfermos ele lhes dizia: Coragem vençam todas as ingratidões e maus tratos dos enfermos! Eu mesmo já recebi socos, bofetadas e insultos de toda espécie. E me foram motivo de grande alegria... Os enfermos não só podem me dar ordens, como também me insultar. São meus verdadeiros e legítimos patrões. Outrora dizia: Servir ao doente é servir a Jesus Cristo e não merecemos tanta honra. op. cit., p.74-75 As regras para servir aos doentes de São Camilo constituem um verdadeiro manual de administração hospitalar. Ali se encontram normas e rotinas, ditadas pela sua intuição, que são recomendadas pela administração científica de hoje. A regra orienta que para ajudarem os que sofrem e, sobretudo os agonizantes é necessário uma boa instrução e conhecimento das coisas espirituais. Desde a infância Camilo 16
  • 25. teve grande devoção a Nossa Senhora. Aprendeu a amá-la com a mãe. Em 2 de fevereiro de 1575, na festa da Purificação, ele pobre pecador se converte para sempre. Em 15 de agosto de 1582 em Madonnina dei Miracoli nasce a obra Camiliana. Na oitava da Natividade, os primeiros camilianos vestem o hábito e na festa da Imaculada Conceição, 8 de dezembro de 1591, Camilo e vinte e cinco companheiros pronunciam os votos solenes. Por esses acontecimentos Nossa Senhora foi chamada Rainha dos Ministros dos Enfermos. Camilo teve cinco misericórdias, assim chamava as cinco fontes de padecimentos de sua vida heróica. A primeira misericórdia, era a chaga do pé que no espaço de quarenta anos lhe roia as carnes como se fosse um cancro, feria os músculos e tendões e tocava os ossos. Não produzia febre e nunca fechava. A segunda misericórdia era uma hérnia inguinal que o fez sofrer durante trinta e oito anos, e segundo o uso do tempo obrigaram-lhe os médicos a trazer uma cinta de ferro incômoda. A terceira eram dois calos na planta dos pés, doloridos e enormes Camilo tinha a impressão de pisar sobre espinho. A quarta misericórdia eram as freqüentes cólicas renais que sofreu durante dez anos e em 1606 o levaram às portas da morte. A quinta misericórdia era uma falta de apetite permanente que o fez perder o gosto por todo alimento nos últimos meses de vida. E o homem que segundo o testemunho dos médicos deveria ter passado longos anos de cama e sob tratamento, foi um prodígio de atividade e modelo dos enfermeiros. (BRANDÃO 1978, p.86) O santo deixou a direção canônica da Ordem em 1607. Mas tomou parte no capítulo geral de Roma, em 1613. Depois do capítulo geral, com o novo superior geral, visitava as casas, dando a todos as últimas exortações. Em Gênova, ficou doente beirando o fim; recuperou-se a ponto de poder concluir as visitas aos hospitais, porém logo recaiu, sendo desenganado. Recebeu os últimos sacramentos das mãos do Cardeal Ginnasi, e ao receber a extrema-unção fez uma exortação comovente aos irmãos. Expirou em 14 de julho de 1614, aos sessenta e quatro anos de idade. Foi canonizado em 1746, sendo juntamente com São João de Deus declarado padroeiro dos doentes pelo Papa Leão XIII, e das associações de enfermeiros e dos encarregados da enfermagem pelo Papa Pio XI. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p.174 v. VII) 17
  • 26. 3 SÃO LUIS GONZAGA São Luís Gonzaga nasceu em Castiglione, Itália, a 9 de março de 1586, filho primogênito de D. Fernando Gonzaga, príncipe do Império, e de D. Marta Tana Santena. A dinastia dos Gonzaga, uma das mais ilustres de toda a Itália, com domínios de Mântua a Bréscia, e de Ferrara à fronteira da Lombardia, ao longo dos anos acumulara riquezas, altos cargos eclesiásticos e principados em sua aristocrática linhagem. Fernando, Marquês de Castiglione e Príncipe do Sacro Império, conhecera Marta na corte da Espanha, onde ela era dama da Rainha Isabel de França. Esta soberana, auxiliada por seu esposo, o grande Felipe II, estimando a virtude e as qualidades morais de Dona Marta, a escolhera para sua dama de honra. Se o Marquês tinha no sangue o espírito combativo e militar de seus ancestrais, a Marquesa completava o espírito guerreiro do marido com uma profunda piedade. E Luís recebeu a influência dos dois. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p. 212) Desde muito pequeno, gostava de ouvir, falar e pensar em Deus. Teve assim, quase desde o berço, um dom muito elevado de oração. Unido a essa feliz propensão de seu caráter e à sua piedade precoce, podia-se perceber nele o espírito guerreiro do sangue ancestral. Assim é que o Marquês deu-lhe uma pequena armadura, elmo, espadinha e um pequeno arcabuz de verdade quando tinha apenas quatro anos, que levou ao acampamento de Casalmaggiiore, onde deveria passar em revista as tropas cerca de três mil soldados que estavam sendo treinados para a guerra do rei espanhol contra Túnis. Um dia Luís, disparando seu arcabuz, chamuscou o rosto. O pai então o proibiu de utilizar pólvora. Mas ele, travesso e valente, noutro dia, na hora do repouso após o almoço, conseguiu escapar à vigilância de seu tutor, aproximar-se de um canhão e acender-lhe o pavio. O acampamento todo foi despertado com o estrondo, e encontraram o pequeno príncipe estirado ao solo, vítima do coice que recebeu da possante arma. Luís gostava de estar junto aos tércios espanhóis tomava parte nas paradas marchando à frente de um pelotão, com uma lança ao ombro imitando seu passo marcial. No contato com os soldados aprendeu o uso das armas e palavras de baixo calão que alguns deles falavam. Voltando para casa seu tutor chamou-lhe a atenção, dizendo- lhe que aquela linguagem não era somente vulgar, mas lamentavelmente blasfeme. Embora o menino de cinco anos não entendesse seu sentido, foi tomado de 18
  • 27. vergonha e tristeza, chorou amargamente essa involuntária falta, que nunca deixou de lamentar como uma das mais graves de sua vida. E disse que a partir desse episódio teve início sua conversão. loc. cit Desde então, essa criança começou um processo de sério afervoramento espiritual. Segundo o parecer de outro Santo, São Roberto Belarmino, Doutor da Igreja e futuro confessor do primogênito do Marquês de Castiglione. Para São Roberto Belarmino: “na idade de sete anos é que Luís começou a conhecer mais a Deus, desprezar o mundo e empreender uma vida de perfeição. Ele mesmo com freqüência me repetia que o sétimo ano de sua idade marcava a data da sua conversão”. id. Aos oito anos o pai levou-o com seu irmão Rodolfo à Florença, para viverem na corte do Grão-duque da Toscana Francisco de Médicis, afim de melhorar Rodolfo e Luís o latim e aprender a falar o italiano puro da Toscana, isso se deu em 1577. Obrigados pela etiqueta, deveriam aparecer com freqüência na corte grão-ducal. Ele se via mergulhado no que descreveu como “uma sociedade da fraude, do punhal, do veneno e da mais luxúria”. Em decorrência disso despertou dentro de si um zelo intenso pela virtude da castidade. Aumentou então seus atos de devoção à Santíssima Virgem, de tal modo que fez, aos nove anos de idade, voto de castidade perpétua. Ibid., p. 212-213 Quando tinha 10 anos, numa ausência do pai, recebeu certo dia em Castiglione o Cardeal-Arcebispo de Milão, São Carlos Borromeu. Esse ficou encantado com sua pureza e santidade, tendo declarado “que jamais encontrara jovem que em tal idade atingisse tão elevada perfeição”. Ele mesmo administrou-lhe a Primeira Comunhão, aconselhando-o a praticar a comunhão freqüente e a leitura do Catecismo Romano. Após dois anos em Florença o pai os levou para a corte do duque de Mantua, que o havia nomeado recentemente como governador de Monserrate, em 1579, quando Luis estava com onze anos e oito meses. op. cit. Sua infância transcorreu de castelo em castelo, de corte em corte, de festa em festa, mantendo, contudo, sempre o coração ancorado em Deus. Provou, assim, que era perfeitamente possível cultivar a santidade em meio aos esplendores da nobreza. Com efeito, aos 12 anos já atingira alta contemplação. Para isso lhe fora de muita ajuda um livro de São Pedro Canísio, apóstolo da Alemanha. A meditação contínua tornou-se para ele quase uma segunda natureza e por isso tinha um domínio total de si mesmo. Vivendo em plena época do Renascimento, estudou as 19
  • 28. línguas clássicas, chegando a escrever elegantemente em latim. Foi nessa língua que fez um discurso de saudação ao monarca espanhol Felipe II quando suas armas foram vitoriosas em Portugal. Espírito alerta, perspicaz e sério, triunfou facilmente nos estudos. Ele aliava nobreza, cultura, inteligência e a santidade. Como primeiro passo para uma futura atividade missionária, ele começou a dar aulas de catecismo aos meninos pobres de Castilione, durante as férias de verão. Em Casale-Monferrato, onde passou o inverno, freqüentava as igrejas dos capuchinhos e barnabitas. Também praticou as austeridades de um monge, jejuando três dias na semana a pão e água, açoitando-se e se levantando à meia- noite para rezar ajoelhado sobre o pavimento de pedra de um quarto em que não permitia que se acendesse fogo, por mais rigoroso que fosse o inverno. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p. 213) Em 1581, Dom Ferrante foi chamado para acompanhar a imperatriz Maria da Áustria em sua viagem da Boêmia à Espanha. Sua família o acompanhou, e ao chegarem à Espanha, Luis e Rodolfo seu irmão foram designados para pajens de Dom Diego, Príncipe das Astúrias. Embora servisse o príncipe e partilhando de seus estudos, Luis jamais omitiu ou reduziu suas devoções. Impôs-se a si mesmo a tarefa diária de fazer uma hora de meditação, sem distração, o que lhe exigia várias horas de concentração contínua. Na corte de um dos mais poderosos soberanos da Terra, afirma-se no coração de Luís o desejo de apartar-se do mundo e dedicar-se totalmente a Deus. Estava decidido a tornar-se jesuíta. Tendo cumprido já os 16 anos, decidiu falar sobre isso com seu pai. O marquês, que encantado com as qualidades do filho sonhava com um brilhante futuro para ele e respondeu sem rodeios um não e furioso ameaçou de mandar açoitá-lo. id. Para convencê-lo disso, enviou-o de volta à Itália, com missão junto a vários príncipes. Esperava que, em meio aristocracia da Itália renascentista, desaparecesse no filho o desejo de fazer-se religioso. Luís cumpriu com tanto êxito as várias tarefas, que o pai mais se firmou no desejo de tê-lo como seu sucessor. Mas, graças a interferência de amigos o marquês cedeu a ponto de dar-lhe permissão relutante e provisória, como príncipe do Sacro-Império, obtido a permissão do Imperador, pôde abdicar de todos seus direitos dinásticos em favor de seu irmão Rodolfo, e assim entrar no noviciado de Sant’Andrea da Companhia de Jesus no dia 25 de novembro de 1585 em Roma, com 18 anos incompletos. Seis meses depois morre Dom Ferrante, a partir do momento que o filho o deixou para 20
  • 29. ingressar nos jesuítas, seu pai, que levara uma vida muito voltada às coisas do mundo, preparou-se tão bem para a morte, que atribuiu esses sentimentos às orações do filho. O marques reformara a sua maneira de viver. Pouco depois do seu falecimento, Luís teve que ir a Castiglione resolver uma áspera disputa entre seu irmão Rodolfo e seu tio, a propósito de terras. Sua mãe, que o venerava muito, e com sentimentos de verdadeira nobreza, recebeu-o de joelhos. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p. 214) Dentro do noviciado jesuíta, Luís continuou a ser motivo de edificação para todos. Por causa da saúde fraca seus superiores tiveram que moderar a seu fervor religioso e pôr limites às suas grandes penitências: Para ele, era uma alegria sair pelas ruas de Roma, com um saco às costas, pedindo esmolas para o convento. Era também enviado a ajudar na cozinha e na limpeza da casa. Não sentia repugnância em fazer atos tão humildes, pois tinha diante dos olhos a Jesus Cristo humilhado pelos pecados dos homens, e a recompensa eterna que Ele dá àqueles que se rebaixa por amor a Deus. Visitava os doentes e os encarcerados. Mesmo nessas ocasiões, mantinha seu recolhimento em Deus e cumpria seus atos de devoção. Dizia que “aquele que não é homem de oração não chegará jamais a um alto grau de santidade nem triunfará jamais sobre si mesmo; e toda a preguiça e falta de mortificação que se vê em almas religiosas procedem da negligência na meditação, que é o meio mais curto e eficaz para se adquirir as virtudes”. Ficou proibido de rezar ou meditar fora dos períodos estabelecidos. id. Uma de suas devoções especiais era a Via Sacra, a qual tornou-se objeto contínuo de suas meditações. Tinha também especial devoção à Virgem, aos Santos Anjos, especialmente a seu Anjo da Guarda, e escreveu um estudo sobre eles. O Santíssimo Sacramento era objeto de suas afeições. Passava horas diante do sacrário em adoração. Quando estava hospedado no colégio da Companhia, em Milão, teve a revelação de que em breve morreria. Em 1591, os jesuítas abriram um hospital em Roma, para cuidar dos empestados numa terrível epidemia, no qual o próprio geral e muitos membros da ordem prestaram serviço. Luis foi incluído entre eles, e se encarregou de instruir e animar os pacientes lavava-os, arrumava-lhes a cama e executava, com zelo, os ofícios mais humildes do hospital. No contato com os empestados Luis contraiu da peste e passou a sentir uma febre persistente que em três meses o reduziu a um estado de grande fraqueza. Em uma oração recebeu a premunição de que morreria 21
  • 30. na oitava de Corpus Christi, nos dias subseqüentes ele recitava o Te Deum em ação de graças. Por volta da meia noite, entre 20 e 21 de junho de 1591, com os olhos fixos no crucifixo e com o nome de Jesus nos lábios morreu. Contava vinte e três anos e oito meses de idade. Suas relíquias repousam atualmente no altar da capela Lancellotti da Igreja de Santo Inácio em Roma. Luis foi canonizado em 1726. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p. 215 v. VI) 4 SÃO FRANCISCO DE SALES Os anos convulsionados na França, depois da Reforma Protestante séc XVI, formaram o pano de fundo da vida de Francisco de Sales. Ele nasceu no dia 21 de agosto de 1567no castelo de Sales, no reino da Sabóia, situado entre a França, Itália e Suíça. Foi batizado com o nome de Francisco Boaventura. Teve como padroeiro de sua vida Francisco de Assis. Sua mãe assumiu a sua educação ajudada pelo padre Diagi. Com oito anos entra para o colégio de Annecy, aos 14 anos seu pai o manda para a grande Universidade de Paris, antes estava na universidade de Navarro, para os filhos de nobres. Aos 18 anos passa por uma terrível crise, a de ter perdido a graça de Deus, fez o pedido de estudar no Colégio de Clermont dos Jesuítas, em Paris. Destacou-se em retórica e filosofia e estudou com empenho teologia e com 24 anos doutorou-se na Universidade de Pádua, em Direito Canônico e Civil. Seu pai esperava que ele se casasse e a noiva destinada a ele era uma jovem herdeira, vizinha da família, mas para satisfazer o pai, tomou aulas de equitação, dança e esgrima. Fez voto perpétuo de castidade, e colocou-se sob a proteção de Maria. Seu pai era um homem de caráter forte e achava que seus filhos deviam considerar sua vontade expressa como coisa definitiva. Francisco foi indicado para prepósito do capítulo de Genebra pelo Côn. Luís de Sales, e isso poderia abrandar a posição do pai. Ajudado por Claud de Granier, bispo de Genebra, mas sem consultar ninguém da família, recorreu ao papa, de quem dependia a nomeação, e em seguida vieram às cartas de Roma instituindo Francisco preposto do capítulo. Ele surpreendeu-se, e só com relutância foi que aceitou a inesperada honra, esperando 22
  • 31. com isso obter do pai consentimento para a sua ordenação. Francisco pôs a veste eclesiástica no mesmo dia em que seu pai lhe deu consentimento, e seis meses depois, a 18 de dezembro de 1593, foi ordenado padre. Serviu os pobres com amor e zelo, e no confessionário dedicou-se aos mais pobres e humildes com especial predileção. Seu estilo era tão simples que encantava os ouvintes, e mesmo sendo um erudito, evitava encher seus sermões de citações gregas e latinas. (THURSTON; ATTWATER, 1984, p. 248-249) Devido a hostilidades armadas e invasões do protestantismo, a situação religiosa do povo de Chablais, na orla Sul do lago de Genebra, ficou lamentável, assim o Duque de Sabóia solicitou ao bispo de Granier que enviasse missionários que fossem capazes de reconduzir seus súditos para a Igreja. O bispo fez uma primeira tentativa infrutífera e logo o padre foi forçado a retirar-se. Ciente da gravidade da tarefa, Luis oferece-se com essas palavras: Meu senhor, se me julgas capaz de cumprir, manda-me ir. Estou pronto para partir, e ficaria feliz em ser escolhido. O bispo aceitou imediatamente. Mas seu pai considerava que aquilo era o mesmo que condenar Francisco à morte. Ajoelhando-se aos pés do bispo, exclamou: Meu senhor, eu entreguei meu filho mais velho, esperança da minha casa, da minha velhice, da minha vida, para dedicar-se ao serviço da Igreja como confessor, mas não posso dá-lo para ser mártir! O bispo tentou influenciar o pai que lhe respondeu: Eu não quero resistir a vontade de Deus, mas não tenciono ser assassino de meu filho! Eu não posso concordar com este risco de vida! Possa Deus fazer o que for do seu agrado, mas em relação a este empreendimento, nunca haverá sanção de minha parte! Assim Francisco teve a decepção de iniciar o seu trabalho sem a benção do seu pai. Era 14 de setembro de 1594, dia da Santa Cruz, quando viajando a pé e acompanhado apenas de seu primo, o Côn. Luís de Sales, partiram para reconquistar Chablais. Ficaram hospedados no castelo de Allinges, a seis ou sete milhas de Thonom, onde deviam retornar todas as noites, pois ali o governador da província havia se estabelecido com a guarnição. Em Thonom, o que restou da população católica eram 20 indivíduos dispersos, e muito amedrontados com a violência para se declararem abertamente. A esses Francisco exortou a terem coragem e perseverança. 23
  • 32. Os missionários pregavam diariamente em Thonom, estendendo-se gradualmente aos povoados vizinhos da região. A volta para Allinges era perigosa e ainda o inverno. Francisco converteu uma família de calvinistas que lhe prestou socorro, quando numa noite voltando para Allinges, escapou do ataque de lobos passando a noite sobre uma árvore. No dia seguinte essa família o acolheu e prestou socorro em sua choupana, reanimando-o com comida e aquecimento, ao agradecer o visitante falou palavras de esclarecimento e caridade levando todos posteriormente a conversão. (THURSTON; ATTWATER, 1984, p. 250 v. I) Seu pai continuamente enviava-lhe cartas ora ordenando, ora implorando pela sua volta. E o filho respondia que sem a aceitação do bispo ele não tinha direito de largar seu posto. Francisco em meio a tantas dificuldades escreveu: “Nós estamos apenas começando. Vou prosseguir com toda coragem, e espero em Deus contra toda esperança humana”. id. Procurando novos meios de atingir o coração e a mente do povo, começou a escrever, em cada momento livre, folhetos que copiados a mão expunha o ensinamento da Igreja em oposição aos erros do Calvinismo. Os seus escritos dessa época foram publicados com o título Controvérsias e a Defesa do Estandarte da Santa Cruz. Os folhetos silenciosamente faziam o seu trabalho e as conversões tornaram-se cada vez mais freqüentes com os católicos procurando a reconciliação com a Igreja. Ao finalizar o seu apostolado de missionário, ele tinha persuadido cerca de 72 mil Calvinistas a voltar para a Igreja Católica. Após quatro anos o bispo de Granier em visita a missão, onde foi bem acolhido e pode administrar a confirmação. A fé e o culto foram restabelecidos na província e Francisco recebeu o nome de apóstolo de Chablais. Dom Granier o convidou para seu auxiliar e sucessor. Foi para Roma, onde o papa Clemente VIII, desejava que ele fosse examinado em sua presença. Reuniu-se uma assembléia que se fizeram presentes além do papa, Barônio, Belarmino, o Cardeal Frederico Borromeu, primo do São Carlos Borromeu, e outros sábios teólogos e homens de grande inteligência. Sua nomeação foi confirmada e ele foi ordenado bispo de Genebra em 1602, mas residia em Annecy (agora situada na França), já que Genebra estava sob o domínio dos Calvinistas e ficou fechada para ele. Gozava de favores do rei Henrique IV. id. 24
  • 33. Sua diocese tornou-se conhecida na Europa por motivo de sua organização eficiente, seu clero zeloso e os leigos bem esclarecidos. A sua fama, como diretor espiritual e escritor aumentaram. Convenceram-no que se reunisse, organizasse e expandisse suas muitas cartas sobre assuntos espirituais e as publicasse. E foi o que ele fez em 1609, com o título Introdução à Vida Devota. Essa se tornou a sua obra mais famosa e, ainda hoje, é uma obra clássica que se encontra nas livrarias no mundo inteiro. Mas o seu projeto especial foi o escrito do Tratado do Amor de Deus, fruto de anos de oração e trabalho que continua sendo publicado hoje. Ele queria escrever também uma obra paralela ao Tratado, ou seja, sobre o amor ao próximo, mas a sua morte no dia 28 de dezembro de 1622, aos 55 anos de idade, o impossibilitou. Além das obras mencionadas acima, suas cartas, pregações e palestras ocupam cerca de 30 volumes. O valor permanente e a popularidade dos seus escritos levaram a Igreja a conceder-lhe o título de Padroeiro de Escritores Católicos. (THURSTON; ATTWATER, 1984, p. 251-252 v. I) Francisco aceitou em sua casa um jovem com dificuldade de audição e criou uma linguagem de símbolos para possibilitar a comunicação. Essa obra de caridade conduziu a Igreja a dar-lhe um outro título, ou seja, o de Padroeiro dos de Difícil Audição. http://oblatosamlat.cybermeme.net/intpg2.html (11/09/2004) Ele colaborou com Santa Francisca de Chantal na fundação da ordem religiosa das Irmãs da Visitação de Santa Maria, conhecidas pela simplicidade da sua regra e tradições e por sua abertura especial a viúvas. Uns 250 anos mais tarde, através da persistência de uma dessas irmãs, a Madre Maria de Sales Chappuis, que um sacerdote de Troyes, na França, Luís Brisson, fundou os Oblatos de São Francisco de Sales, uma comunidade de sacerdotes e irmãos, dedicados à vida e divulgação do espírito e dos ensinamentos de São Francisco de Sales. Padre Brisson fundou também uma comunidade de irmãs com o mesmo nome, Oblatas de São Francisco de Sales. id. O espírito e a fama de Francisco e a influência dos seus escritos se estenderam rapidamente depois de sua morte. A Igreja o declarou santo formalmente em 1665 e deu-lhe o título excepcional de Doutor da Igreja em 1867. Sua festa a Igreja celebra no dia 24 de janeiro. (THURSTON; ATTWATER, 1984, p. 251-252 v. I) 25
  • 34. 5 SÃO JOSÉ DE CALAZANS Nasceu no Castelo de seu pai em Peralta de la Sal, diocese de Urgel, em Aragão, Espanha, no ano de 1557(56), filho do casal Pedro Calasanz e Maria Gaston. Aprendeu a ler e escrever com um tutor, e ao completar 11 anos, seus pais o enviaram para estudar humanidades em Estadilha, com os padres trinitários, onde permaneceu até os 14 anos. Continuou seus estudos na Universidade de Lérida, onde iniciou o seu caminho de vida eclesiástica. Recebeu a tonsura no dia 17 de abril de 1575, das mãos do Bispo de Urgel, na Igreja de Santo Cristo de Almatá, em Balaguer. Aos 21 anos doutorou-se em direito em Lérida. Estudou Teologia em Valência, lá foi contratado como secretário de uma mulher da nobreza que quis induzi-lo a pecar com ela, assim resolveu terminar seus estudos de Teologia em Alcalá. Os 42 anos de reinado de Felipe II, não foram para a Espanha um tempo de paz. Pedro, o irmão mais velho de José, partiu para a guerra foi assassinado pelos rebeldes em 1579. José terminara o segundo ano de Teologia e retornou a Peralta e passou um ano completo lá. A morte do irmão herdeiro do sobrenome e de todos os bens mudou os planos do pai que quis dissuadir José a abandonar a vocação sacerdotal para fundar uma família. Pouco depois a morte do primogênito, morre a mãe. Após esses acontecimentos e a pressão do pai para que o único filho homem que restara na família levasse adiante o seu sobrenome, deixaram José gravemente doente. E o pai nessa ocasião fez uma promessa a Nossa Senhora, de que se o filho restabelecesse a saúde poderia ser padre com a sua benção. E isso se deu no dia 17 de outubro de 1582, quando José recebeu as ordens menores e recebeu também o subdiaconato em Huesca pelas mãos do Bispo Dom Pedro Frago. E finalmente no dia 17 de dezembro de 1583, foi ordenado sacerdote pelo seu Bispo Frei Hugo Ambrosio de Moncada. Em 1585, José fazia parte dos Familiares, homens de confiança do Bispo dominicano de Barbastro, Frei Felipe de Urries. (TELLECHEA, 1996, p.3-8) 26
  • 35. José foi, secretário e Familiar do Bispo de Lérida, Dom Gaspar João da Figueira, em Monzon, perto de Peralta. O Bispo fora nomeado visitador apostólico do Mosteiro de Montserrat e no dia 28 de outubro de 1585 ele chegou ao mosteiro com sua comitiva, do qual fazia parte José de Calazans. No dia 13 de fevereiro de 1586, o Bispo visitador foi assassinado em Montserrat, José volta para casa com o intuito de cuidar de seu pai, e ficou junto dele até o dia de sua morte, no início de 1597. No dia 12 de fevereiro de 1587, José assume o cargo de secretário do Cabido, corporação dos cônegos da catedral de Urgel e mestre de cerimônias. Neste momento Urgel estava sem Bispo. No dia 12 de novembro de 1588, foi nomeado pároco de Claverol e Ortoneda, duas aldeias perdidas entre as montanhas. No dia 28 de junho de 1589, foi nomeado assistente eclesiástico de Tremp, o qual lhe possibilitou conhecer melhor a índole do povo. Sua vocação de educador foi sugerida pelo cônego Pedro Gervás, que junto com o Bispo de Urgel, queriam fundar colégios, dirigidos por religiosos. José em vista disso parte para Roma passando por Barcelona. O objetivo é conseguir o canonicato, mas ficando a serviço da diocese. De Barcelona parte de navio para Itália, desembarca em Civita Vecchia, concluindo sua viagem a pé como peregrino. Chega a Roma por volta de fevereiro de 1592, levando às congregações romanas, cartas de recomendação do seu Bispo. Foi morar no Palácio do Cardeal Marcantonio Colona que lhe confiou a educação dos seus sobrinhos, príncipes Marcantonio e Felipo. Perto do Palácio Colona, estava a Igreja dos doze apóstolos, cuja confraria tinha por objetivo socorrer pobres e doentes. José inscreveu-se nessa confraria a passou a ajudar pobres e doentes. Em 1596(95), houve uma epidemia que assolou Roma. José destacou-se no serviço dos enfermos na administração dos últimos sacramentos, e a ajudar enterrar os mortos, sem perder de vista o desejo de instrução das crianças. A peste agravou- se, gerando uma multidão de órfãos, viúvos e viúvas, e as crianças sem acompanhamento, tornando-se marginais. José conclui que a única maneira de reverter essa situação seria através da educação e assim busca ajuda para tal tarefa. (TELLECHEA, 1996, p.8-15) 27
  • 36. José procurou ajuda junto ao Capitólio romano, sede das autoridades municipais de Roma, não conseguiu o que esperava, tenta então ajuda junto aos jesuítas e aos dominicanos que tinham colégios, mas nenhum dos dois quiseram se envolver com escolas populares. Em abril de 1597, Calasanz se encontrou com o pároco de Santa Dorotéia o padre Antonio Brandini e descobriu que anexa a essa Igreja, havia uma escola paroquial que acolhia crianças que pagavam e outras gratuitamente. Teve então a idéia de um projeto educativo, uma escola onde pudesse estudar gratuitamente somente as crianças pobres, e ele se encarregaria de arcar com as despesas. Vieram muitas crianças, a metodologia consistia em além do catecismo, esses aprendiam a ler, escrever, gramática e aritmética. Isto se deu em 1597. Assim nasceu a primeira escola popular gratuita, nasciam as escolas pias. No ano de 1598 houve uma enchente no rio Tiber que atingiu a Igreja de Santa Dorotéia e a escola, o número dos meninos, vindos dos os bairros da cidade que crescia. Duas salas estavam ocupadas e José já tinha alugado uma casa vizinha para escola. Em 1600, com a morte do padre Brandini, José toma a decisão de mudar-se ao centro da cidade, pois estavam com um número de 500, meninos. Em 1601, mudou-se para o Palácio Vestri. Em 1602, Calasanz reuniu os seus companheiros em uma associação religiosa que denominaram de Congregação das Escolas Pias. Nessas escolas trabalhavam professores assalariados. Calasanz com freqüência acompanhava as crianças até suas casas, logo após as aulas. O papa Clemente VIII tendo ouvido falar dessa obra de caridade, enviou dois cardeais para visitá-la. O relatório dos cardeais foi tão positivo que o papa responsabilizou-se pelo aluguel do palácio até a sua morte. E também deu ajudas que permitiram manter a instituição, graças a essa ajuda o número dos alunos chegou a passar de 700. Com tantos alunos José resolveu instalar um sino para anunciar o início e o término das aulas, e sofreu um acidente onde quebrou uma perna, que o deixou defeituoso para o resto de sua vida. (TELLECHEA 1996 p. 16- 27) 28
  • 37. Em 1605, a escola mudou-se para a casa que pertencia a Otávio Mannini, na frente da Igreja de São Pantaleão, nesse novo estabelecimento acolheram mais de 700 crianças. Para tentar suprir as dívidas instalaram à frente do Palácio uma caixa para coletas que comprovou a generosidade e a aceitação da escola nesse novo local. No início de 1612, compraram, com a ajuda de Cardeais, um outro edifício próximo da Igreja de São Pantaleão, que o Papa Paulo V confiou aos padres escolápios e sugeriu que a nova casa recebesse o nome de São Pantaleão, nessa casa São José viveu mais 36 anos. Em 1617, surgiu na Igreja, a Congregação Paulina dos Pobres da Mãe de Deus das Escolas Pias. No dia 25 de março o cardeal Giustiniani presidiu a cerimônia na qual os primeiros escolápios vestiram o hábito religioso. Em 1619, os Cardeais utilizaram a casa dos escolápios como alojamento, entre esses o cardeal Alexandre Ludovisi que posteriormente foi eleito Papa Gregório XV, a quem José solicitou a aprovação das constituições e a elevação da Congregação a Ordem Religiosa. José levou três meses para redigir as constituições e no dia 18 de novembro de 1621 as Escolas Pias obtiveram o título de Ordem Religiosa. (TELLECHEA 1996 p. 28-31) Os escolápios estenderam-se para Nápoles e Sicília, com professores, noviços, padres tendo como superior padre Alacchi, que tinha plenos poderes para fundar novas casas, de Nápoles a Santiago de Compostela, foram barrados apenas em Veneza por uma epidemia de peste. Thomas Campanella, amigo de Calasanz, era filósofo acusado de rebelde e herege, ficou hospedado na casa de Frascati e a pedido de José ministrou filosofia aos congregados enquanto esteve lá. Em 1630, os escolápios estabeleceram-se em Florença, o superior foi o padre Francisco Castelli, que estava acompanhado pelos padres Michelini e Seltimi, amigos e discípulos de Galileu Galilei. Calasanz via com bons olhos o relacionamento de seus congregados com os sábios florentinos, apesar dos processos e condenações que Galileu sofria do santo ofício. Essa comunidade de Florença acolheu alunos de Galileu e padres cultos. Foi admitido um sacerdote de meia idade não muito culto de nome Mario Sozzi, que a seu tempo fez a profissão. Durante anos esse demonstrou uma conduta 29
  • 38. obstinada e perversa, sendo um incômodo para os irmãos, mas conquistou influencia e boa reputação junto ao Santo Ofício e ao Tribunal da Santa Inquisição. Em 1639, conseguiu para si a nomeação provincial dos clérigos regulares das escolas pias da Toscana, com poderes extraordinários e independência em relação ao superior geral. Dirigiu a província como quis e prejudicou como pode a reputação de São José, junto às autoridades romanas e por fim o denunciou junto ao Santo Ofício. O Papa Urbano VIII, enraivecido ordenou que José fosse preso. O Cardeal Cesarini, como protetor da Instituição e querendo defender a José, ordenou que os documentos e cartas do padre Mário fossem apreendidas, Os mesmos envolviam alguns documentos do Santo Ofício. Monsenhor Albizzi, executa a prisão de Calasanz e seus companheiros, exigindo que Calasanz entregasse os documentos que supostamente foram roubados do padre Sozzi, por ocasião da investigação ordenada por Cesarini. Calasanz nada sabia e o Cardeal interveio em favor dos caluniados que foram inocentados. (TELLECHEA 1996 p. 35-38) Padre Mário ficou ileso e continuou a tramar para conseguir controle de toda a instituição, apresentou José como idoso e incapaz para essa responsabilidade. Conseguiu através de artifícios afastá-lo do cargo e maquinou para que fosse designado um visitador apostólico favorável às suas próprias intenções. Esse visitador e padre Mário apoderaram-se do supremo comando da instituição e José submetido ao tratamento mais humilhante, insultuoso e injusto, enquanto a ordem era reduzida a uma confusão e uma impotência total. No final de 1643, Mário veio a falecer, sendo substituído pelo padre Cherubini, que continuou com a mesma política e José suportou com paciência e insistia que a ordem obedecesse aos seus perseguidores, pois eles eram de fato autoridades. Até mesmo defendeu Cherubini contra uma oposição violenta desencadeada por alguns sacerdotes jovens indignados com a traição. THURSTON; ATTWATER, (1992, p. 234) Foi nomeado um representante do Papa para fiscalizar a Ordem. O resultado foi um decreto assinado em 16 de março de 1646 pelo Papa Inocêncio X, reduzindo a Ordem a Congregação de votos simples, sujeita ao Bispo diocesano. op. cit. 30
  • 39. Em julho de 1648, Calasanz sofreu um outro acidente. Tropeçou em frente ao Palácio dos Medicis, machucou o pé e como a ferida não curava ficou impossibilitado de sair de casa. Padre Cherubini ficou encarregado de redigir as novas constituições, porém dentro de alguns meses ele fora acusado pelos auditores da Rota de má administração do colégio Nazareno,do qual era reitor. Ele se afastou e caiu na desgraça, mas no ano seguinte antes de morrer se reconciliou com José de Calasanz, que o confortou em seus últimos momentos. Algum mês mais tarde, em 25 de agosto de 1648, faleceu o próprio José, sendo enterrado na Igreja de São Pantaleão. Ele estava com 92 anos e foi canonizado em 1767. O fracasso da Instituição de Calasanz foi apenas aparente, sendo ela reconstituída por votos simples em 1656 e restaurada como Ordem religiosa em 1669. (THURSTON; ATTWATER, 1992, p. 235 v. VIII) Atualmente, os Clérigos Regulares das Escolas Pias, comumente conhecidos por Piaristas ou Escolápios estão em várias partes do mundo como: Ásia, África, nas Américas do Norte, Central e do Sul e na Europa. 6 SÃO VICENTE DE PAULO Natural de Pony, aldeia próxima a Dax, na Gasconha, França. Seus pais João de Paulo e Beltrana de Moras proprietários de um pequeno sítio. Entre seis filhos Vicente era o terceiro de quatro meninos. (IBÁÑEZ, p. 38) O pai reconhecendo a vivacidade de Vicente e sua inteligência coloca-o aos cuidados dos franciscanos reclusos, em Dax. Vicente conclui seus estudos na Universidade de Tolosa, e no dia 23 de setembro de 1600 é ordenado sacerdote aos 20 anos, pelo bispo de Perigeux, Francisco de Bourdeilles, na capela de sua casa de campo, hoje Château L’Evêque. Em 1608 entra pela primeira vez em Paris e mora com um amigo. No ano de 1609 é acusado de roubar 400 escudos por esse seu amigo. Esse magistrado persegue-o juridicamente, exigindo da autoridade eclesiástica que publicasse contra Vicente, uma monitória que era um mandato da autoridade eclesiástica, por solicitação de um juiz leigo, para que, sob pena de excomunhão, se manifestasse àquele que, soubesse de determinado fato, geralmente de 31
  • 40. determinado crime (...). As monitórias eram lidas pelos párocos no momento da prédica da missa dominical por três domingos consecutivos. Vicente foi caluniado durante seis meses até que o verdadeiro ladrão confessou o roubo. (IBÁÑEZ, p,41) Ele foi em 1610, nomeado capelão da rainha Margarida, esposa repudiada de Henrique IV. Cargo de baixa rentabilidade e de nenhum prestígio social em Valoi. Ibid., p. 42 Em 1612, foi nomeado ministro paroquial pela primeira vez em lichy, depois de ter decidido não entrar na nova comunidade do Oratório de São Felipe Néri. Em Paris, Vicente adquiriu conhecimento com o sacerdote Pedro de Berulle, superior da ordem do Oratório, mais tarde, Cardeal que tinha grande estima por Vicente e que solicitou em 1613 que ele fosse tutor dos filhos de Felipi de Gondi, conde de Joigny onde ficou até 1617. A senhora de o Gondi escolheu como seu diretor espiritual e confessor. Ibid., p. 43 Em 1617, no interior de Folleville, Vicente ao atender a confissão de um camponês, percebeu quanto necessária se fazia a instrução das pessoas com relação a esse sacramento, viu o estado espiritual deplorável em que se encontravam as pessoas no interior da França. A senhora de Gondi insistiu a Vicente que pregasse na Igreja de Folleville e que desse uma instrução completa ao povo sobre a obrigação de arrepender-se e de confessar os pecados. Após essa catequese, inúmeras pessoas vieram ao seu encontro, ao ponto que ele teve que solicitar ajuda dos Jesuítas de Amiens para atender as confissões. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p.181) Auxiliado pelo padre Berulle, Vicente aos 38 anos deixa a residência da condessa, em 1617 descobre que somente os pobres é que poderão traçar-lhe o caminho para encontrar a Deus. Tornar-se pároco em Châtillon-les-Dombes, numa paróquia em situação de miséria. Ali converteu o conde Rougemont e outros. No dia 23 de agosto de 1617, Vicente de Paulo reúne as pessoas mais comprometidas da paróquia na ação caritativa e funda a primeira Confraria da Caridade ou Conferência Vicentina, que quer dizer, uma organização cristã leiga, sensível a todas as misérias dos pobres, e comprometida através de esforços para remedia-las. (IBÁÑEZ, p. 53) Voltou a Paris, para exercer seu apostolado junto às galeras que estavam confinadas na Conciergerie. Foi designado oficialmente capelão da penitenciária, da 32
  • 41. qual o conde de Gondi era general, nesse lugar em 1622 pregou missão para os condenados. A senhora de Gondi persuadiu o marido a cooperar com ela na organização de uma associação de missionários bem formados e zelosos, para dar assistência aos vassalos e arrendatários no condado e aos habitantes do interior, em geral. Apresentaram esse plano a seu irmão, que era arcebispo de Paris, e o mesmo destinou o Collége de Bons Enfants, para abrigar a nova comunidade. Os membros desta deveriam renunciar aos cargos eclesiásticos, dedicar-se às cidades menores e as aldeias, e a se sustentarem de um fundo comum. São Vicente tomou posse dessa em abril de 1625. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p.182) Em 1633, o prior dos cônegos regulares de São Vitor, doou à Instituição o convento de São Lázaro, que foi transformado na casa mãe da Congregação. Com base nesse nome, os padres da missão são conhecidos como lazaristas, porém as vezes como vicentinos, segundo o seu fundador. id. Formaram uma Congregação de padres seculares, que se submetem a quatro votos simples: pobreza, castidade, obediência e estabilidade. Dedicam-se a missões, principalmente à população do campo. Atualmente, possuem colégios e missões em todas as partes do mundo. Vicente em vida assistiu à fundação de vinte e seis casas instaladas na França, no Piemonte, na Polônia e em outras partes, inclusive em Madagascar. id. Ainda em 29 de novembro de 1633 Vicente de Paulo e Luísa de Marillac fundaram a Companhia das Filhas da Caridade. (IBÁÑEZ, p. 53) Vicente buscava o alívio dos seus semelhantes em qualquer necessidade, tanto espirituais como materiais. Assim organizou a primeira instituição de caridade em Chântillon, para dar assistência as pessoas pobres e enfermas de cada paróquia e dessas instituições, com a ajuda de Santa Luiza de Marillac, surgiu a Instituição das Irmãs de Caridade, cujo convento é o quarto do doente, sua capela a Igreja paroquial, seu claustro as ruas da cidade. Essas Instituições de caridade eram mantidas pelas senhoras ricas de Paris, que Vicente organizou com o nome de Damas da Caridade, com a finalidade de coletar fundos para dar assistência às suas obras. Conseguiu a fundação e a direção de diversos hospitais para enfermo, crianças abandonadas e idosas e em Marselha o hospital dos sentenciados. Todas 33
  • 42. essas instituições ele organizou sob uma regulamentação comum. (THURSTON; ATTWATER, 1989, p.183) Fez um esquema especial de exercícios espirituais para os que estavam para receber as ordens sacras e um outro tipo para os que desejavam fazer uma confissão geral. Prescreveu conferências eclesiásticas regulares sobre os deveres do estado clerical, com a intenção de sanar o relaxamento e abuso s que via ao seu redor. id. Durante as guerras da Lorena, Vicente arrecadou esmolas em Paris para ajudar as vítimas da guerra. Enviou seus missionários aos pobres e doentes da Polônia, Irlanda, Escócia, até as ilhas Hébridas e durante a sua vida, mais de 1 mil e duzentos escravos cristãos foram libertados no norte da África. Foi chamado para atender o rei Luiz XIII, quando estava a morte, e contava com os favores da rainha regente, Ana da Áustria. A seu intermédio em 1652 as freiras beneditinas inglesas de Ghent receberam permissão para abrir uma casa em Boulogne., id. Vicente pretendia que a humildade fosse a marca da sua congregação e essa lição ele não cansava de repetir. Certa vez, apresentaram-se a ele dois candidatos com uma vasta formação intelectual, ele recusou a ambos dizendo: “Vossas aptidões vos elevam acima de nossa condição. Vossos talentos podem ser úteis em algum outro lugar. Nossa maior ambição é ensinar aos ignorantes, levar os pecadores ao arrependimento e semear o espírito do Evangelho da Caridade, da humildade, da mansidão e da simplicidade nos corações dos cristãos”. E sustentava que uma pessoa, dentro do possível, nunca deveria falar de si mesma ou de seus próprios problemas. Tal procedimento provinha do coração que alimentava o orgulho e o amor próprio. Ibid., p.184 Preocupou-se com o surto e a proliferação da heresia jansenista e se opôs ativamente aos falsos mestres, e não permitia que ficasse na congregação sacerdote que professassem suas próprias doutrinas. No fim de sua vida sofreu graves enfermidades. Faleceu no outono de 1660, no dia 27 de setembro, sentado e sua cadeira com oitenta anos. id. 7 IRMÃOS CAVANIS A família Cavanis fazia parte da ordem dos secretários da República de Veneza. 34