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A MUDANÇA NO CALENDÁRIO DAS SEMANAS DE MODA BRASILEIRA E
SUAS IMPLICAÇÕES PARA A INDÚSTRIA DA MODA
Getúlio Antonio Cantão Neto1
RESUMO
Este artigo aborda a importância econômica e social da moda, além de destacar o
papel dos desfiles como instrumento de marketing e promoção das marcas junto ao
público consumidor. Este trabalho tem como objetivo apresentar as principais
implicações para o setor e para as marcas com a mudança do calendário das duas
principais fashion weeks brasileiras, o São Paulo Fashion Week e o Fashion Rio.
Mais do que um simples ajuste de datas, o novo calendário de lançamento das
coleções oferece para as marcas um período maior para planejarem suas novas
coleções. Essa medida além de gerar mudanças na logística, planejamento e
distribuição dos produtos das grifes, também foi um importante passo a fim de
aumentar a competitividade da moda brasileira.
Palavras-chave: moda; desfiles; semanas de moda; grifes; marketing de moda;
1
Getúlio Antonio Cantão Neto (Publicitário pela Universidade Federal do Espírito Santo e matriculado
no MBA em Planejamento e Gestão Estratégica na UNINTER)
INTRODUÇÃO
Apesar de sua longa existência, a moda, atualmente, passou a ser foco de interesse
de dimensões até então inéditas, por sua importância econômica e social. A moda
agora é considerada elemento significativo da vida cotidiana, juntamente com as
artes, a filosofia, o jornalismo e a publicidade, por exemplo.
A moda se tornou fundamental na sociedade atual, pois ela representa o indivíduo
no convívio público, podendo comunicar sua personalidade, classe social, status
e/ou grupos de convívio. O que antes atraia um interesse mais disperso se tornou
quase que uma regra social, as pessoas são envolvidas pelos apelos da moda,
sentindo que é preciso seguir as tendências do vestuário como forma de estar em
sintonia com a sociedade e seu tempo.
O mercado da moda é responsável, no Brasil, pela existência de mais de 30 mil
empresas de confecção e pela criação de 1,7 milhão de empregos, sendo o segundo
maior setor empregador do país. O faturamento dessa engrenagem gira em torno de
US$ 52 bilhões ao ano, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e
de Confecção (ABIT).
A indústria da moda é geradora de bens, de trabalho, e movimenta um sistema
comercial que alimenta tanto a própria cadeia têxtil-confecção, como as áreas da
mídia que geram informação sobre a moda, além de diferentes outros produtos
relacionados ao setor, tais como as revistas, cosméticos e tratamentos estéticos. O
sistema de moda, com o auxílio da mídia, impulsiona tendências, conceitos e ideias
pelo mundo, contribuindo na construção de identidades e atuando como agente
essencial para a comunicação interpessoal.
Não há como não reconhecer a moda como um alicerce cultural da sociedade e
como uma indústria de mercado altamente lucrativa, que utiliza, como em qualquer
outro mercado de consumo, técnicas de comunicação e marketing buscando a
visibilidade comercial.
A moda é a exaltação do novo, pois apresenta como característica a efemeridade
própria do sistema capitalista, ao eleger a cada ciclo, novidades e tendências que
logo ficam obsoletas diante de novos produtos eleitos como tendência no próximo
ciclo. A indústria da moda representa toda a dinâmica do consumo na sociedade
contemporânea, melhor do que qualquer outra indústria, a moda soube desassociar
a real função do vestuário, agregando signos como luxo, beleza, e fantasia à
indumentária, despertando o desejo pelas novidades e tendências no público
consumidor.
Todo este encantamento pelo universo da moda muito se deve as semanas de
moda. Os desfiles realizados pelas marcas nestes eventos despertam nos
consumidores, a cada temporada, o desejo pelas novas tendências da moda, ao
mesmo tempo em que reafirmam os conceitos de elegância, juventude e status que
movimentam o interesse por esta indústria.
Os desfiles nas semanas de moda são importantes instrumentos de marketing para
a promoção das marcas e produtos das grifes, sendo um instrumento para que elas
se aproximem ainda mais de seus clientes. Através dos desfiles, as grifes
apresentam os seus novos produtos e diretrizes da nova coleção, além de obter uma
exposição gratuita na mídia.
As semanas de moda, além de gerar visibilidade para as marcas, organizou
naturalmente todo o segmento, ajustando o planejamento das marcas sob um
calendário único. Desta forma, as grifes passaram a ter um planejamento de coleção
organizado, tendo as semanas de moda como ponto de referência para o
lançamento dos novos produtos.
O calendário de semanas de moda brasileiro acaba de sofrer uma grande alteração.
A partir de 2013, os dois principais eventos de moda do Brasil, o Fashion Rio e o
São Paulo Fashion Week passaram a acontecer em março para apresentar as
coleções de verão, e outubro, para apresentar as de inverno, e não mais em janeiro
e junho como ocorria anteriormente. Esta medida é um importante movimento para
as grifes brasileiras estruturarem melhor o planejamento de lançamento das suas
coleções, para alinhar os seus produtos com as tendências mundiais, e focar em
inovações e aperfeiçoamento dos produtos lançados diante da crescente
concorrência internacional.
Esta medida que visa ajustar o calendário de toda a cadeia de produção de moda
com o dos eventos que acontecem no país a partir de 2013 trouxe diversas
implicações para toda a indústria, tendo como principal delas, um período maior para
as marcas planejarem suas novas coleções, lançamentos e distribuição no mercado.
O MARKETING E COMUNICAÇÃO NO MERCADO DE MODA
A moda tem tomado cada vez mais espaço na vida das pessoas. Atualmente, ela é
muito mais acessível e disseminada na mídia. As pessoas cada vez mais possuem
recursos informativos, capazes de mantê-los antenados acerca das tendências de
moda e dos últimos lançamentos das marcas. As grifes desenvolveram, ao longo
dos últimos anos, estratégias bem consolidadas de comunicação e marketing.
Consequentemente, o mercado de moda tem crescido. Novas marcas nascem com
novas propostas a cada dia, tornando o mercado cada vez mais competitivo.
A comunicação é um aspecto crucial das missões de marketing das marcas de
moda, e um fator determinante do sucesso ou do fracasso das empresas. O sucesso
de uma marca no mercado da moda se deve, em grande parte, a diversas ações
comunicacionais que podem conferir-lhe visibilidade e agregar valores, entre as
quais se destacam as campanhas publicitárias, os desfiles de apresentação de uma
coleção, e todas as outras estratégias que possam favorecer a visibilidade de sua
identidade, valorizar seu estilo e sua personalidade junto ao consumidor. A
comunicação bem planejada estimula e motiva as vendas, mas é preciso estar
associada a outros fatores, como qualidade do produto, boa apresentação, bom
atendimento e preço compatível.
A comunicação é utilizada pela indústria da moda desde as últimas décadas do
século XIX, mas hoje ela apresenta linguagens e imagens bem diversificadas, e
cada vez mais utiliza os recursos midiáticos para encantar e seduzir as pessoas,
visando o consumo. Segundo Lipovetsky (2003), na pós-modernidade ocorre uma
fusão entre a moda e a mídia. A moda está espalhada por todas as mídias: nos
filmes, na TV, no rádio, e nos impressos, que difundem determinados tipos de
beleza, estilos de vida, e as tendências de moda a serem reproduzidas.
As marcas de moda competem entre si para se diferenciarem e para ocuparem
lugares que ainda não foram explorados pelo mercado. As necessidades de
inovação constante e da diferenciação em relação à concorrência fazem parte desse
processo. As marcas não fidelizam o cliente pela matéria-prima utilizada em sua
coleção, a importância das marcas para os clientes está relacionada aos seus
conceitos e signos. O marketing confere personalidade, estabelece signos e também
oferecem histórias aos produtos, e é o principal instrumento de diferenciação e
segmentação de mercado.
A imagem da marca é o principal patrimônio de uma grife de confecção, construída
pela publicidade e pelo marketing, e constituindo-se, sobretudo, pelo o que os seus
consumidores pensam dela. Essa imagem é o que faz uma marca ser diferente das
outras, na visão dos consumidores. Os significados mais relevantes de uma marca
são seus valores e sua personalidade, estes itens que definem a essência da marca.
Segundo Severiano (2007), a marca é a alma do produto, ela agrega valores
subjetivos, empresta personalidade e é componente fundamental das identidades
contemporâneas. O valor de uso não mais seria o principal critério na escolha de um
produto, que não difere um produto dos demais produtos similares, exceto pela
marca.
No mercado da moda, a personalidade da marca é o principal instrumento de
marketing; a Chanel, por exemplo, possui uma forte personalidade de marca. Coco
Chanel, a criadora original, deixou códigos muito precisos sobre o uso da marca e
seus valores, que firmemente orientam o estilo da grife, das suas coleções e das
ações da empresa. Até hoje, mesmo estando sob a direção criativa de outro ícone
da moda (Karl Lagerfeld), os signos do estilo Chanel permanecem inalterados: o
logo com dois Cs entrelaçados, os sapatos bicolores, e a constante influência pela
moda masculina. Com este trabalho de consolidação do perfil e do estilo da marca, a
Chanel nunca perdeu sua unidade, reafirmando seu estilo e personalidade ao longo
do tempo. Criar uma identidade de marca para o mercado de moda exige ações
consistentes, tanto nos aspectos tangíveis dos produtos (design, estilo e materiais
diferenciados) quanto nos intangíveis (origem e tradição da marca, imagem do
usuário, personalidade da marca).
Numa sociedade em que as marcas ganharam maior importância na relação entre
indivíduo e produto, as marcas de vestuário vêm buscando inovações e a criação de
valores agregadores aos seus produtos, como forma de obter vantagens sobre a
concorrência. As marcas são ativos simbólicos cuja construção exige coerência
conceitual das ações corporativas nas dimensões produtivas, comerciais e
comunicacionais. Uma vez constituídos, esses ativos impõem limitações às
estratégias mercadológicas das corporações, pois as marcas funcionam como
dispositivos sociais de construção de identidades.
Nas últimas décadas, a comunicação no mercado da moda evoluiu intensamente, e
muito se deve às estratégias das grifes para estarem presentes em todos os
ambientes da vida contemporânea, na construção de um “universo fashion” sob a
ditadura da moda, dominando todas as mídias com seus personagens, cenários,
repertórios, e magnetismo indiscutível. O cenário das empresas de moda tem
passado por profundas mudanças, com a competitividade cada vez mais acirrada e
o comportamento mais consciente do consumidor, que as obriga a criarem
constantemente formas inovadoras de comunicação.
O PAPEL DOS DESFILES NAS ESTRATÉGIAS DE MARKETING DAS GRIFES
De acordo com Ana Puglia (2010), os desfiles surgiram no século XIX, com o
visionário Charles Worth, que introduziu uma grande inovação na moda da época,
apresentando de tempos em tempos suas roupas em desfiles, com jovens mulheres
- as modelos de hoje - na época chamadas de “sósias”. Os desfiles como
conhecemos, entretanto, só surgiram no início do século XX, quando se
transformaram em grandes eventos e passaram a ser realizados duas vezes por
ano, o que se mantém até hoje, quando cada grife mostra as coleções de primavera-
verão e de outono-inverno.
Já no início do século XX, com a indústria da moda ganhando cada vez mais espaço
no mercado nos Estados Unidos e na Europa, as grandes casas de alta-costura
começaram a exibir desfiles para públicos selecionados. A popularização dos
desfiles cresceu à medida que aumentava o prestígio dos costureiros de alta-costura
da época.
O calendário fixo de desfiles só surgiu em 1918, em Paris, por motivos comerciais e
de organização da cadeia produtiva. No Brasil, a concepção de desfile surgiria cerca
de 20 anos depois, na década de 40, com as apresentações realizadas pela Casa
Canadá, no Rio de Janeiro, e pela Casa Vogue, em São Paulo, seguindo as
mesmas concepções europeias. Nos anos 90, depois de um período sem grandes
eventos de moda, começaram a ser organizados eventos de escolas de moda e
calendários de apresentação das novas coleções nos shoppings. A partir destas
iniciativas nasceram os dois maiores eventos de desfiles de moda do Brasil: o
Fashion Rio e o São Paulo Fashion Week.
Com a organização da indústria da moda e o surgimento das semanas de moda, os
desfiles começam a ganhar espaço para um público mais amplo, através da mídia,
colocando as grandes marcas e estilistas em evidência. O apogeu desta
popularização dos desfiles ocorreu a partir de 1996 e se estende até os dias de hoje,
quando os desfiles começaram a ser exibidos pela internet.
Os desfiles podem ser comerciais, com peças de roupas apresentadas da mesma
forma que serão comercializadas, ou podem ser conceituais com criações inusitadas
que representa o significado da coleção. O desfile traduz o conceito da coleção e
sua sintonia com a identidade da marca. Estas apresentações buscam trabalhar
vários pontos na busca pelo encantamento do consumidor, estimulando os sentidos
através de um breve espetáculo. Os looks, as modelos, a música, a ambiência, são
elementos que mexem com a emoção do público que assiste os desfiles, seja na
primeira fila ou em casa através da internet.
Os desfiles de moda são, dentre as estratégias de marketing das marcas, um dos
mais eficazes instrumentos para a promoção das marcas, por se tratar de uma peça
de marketing bastante barata se comparada a outras mídias, tais como televisão ou
revistas. Através dos desfiles, as marcas conseguem aproximar-se ainda mais de
seus clientes e consumidores em potencial. Outra função dos desfiles é obter uma
exposição gratuita na mídia para as marcas, evitando que grandes investimentos em
publicidade direta para o lançamento das novas coleções sejam desembolsados a
cada temporada.
A indústria da moda vive de ciclos construídos por temporadas de desfiles. Por isso,
as fashion weeks funcionam como uma vitrine da moda daquela temporada.
Cabendo a estes eventos, o papel de levar as propostas apresentadas pelos
designers para um grande número de pessoas, o que traduz na prática, as
tendências e os desejos de consumo de uma temporada.
A indústria da moda é uma cadeia produtiva bastante organizada. Suas etapas
possuem dinâmicas e estruturas próprias, a organização de uma coleção está todo
pautado pelo lançamento, desde a produção da matéria-prima, até a distribuição
para o mercado. O surgimento das semanas de moda, mais do que apenas uma
forma de conseguir visibilidade para as marcas, organizou todo o segmento: da
indústria ao varejo, sintonizando as marcas sob um calendário de produção único,
concentrando os principais lançamentos em determinados períodos. A partir do
surgimento das semanas de moda, toda a indústria da moda passa a ter um
planejamento de coleção ordenado, desta forma todo o cronograma de ações da
marca fica relacionado ao seu lançamento nas semanas de moda, desde a criação
do conceito da coleção até a chegada dos produtos nos showrooms, e nas lojas.
AS IMPLICAÇÕES DO NOVO CALENDÁRIO DAS SEMANAS DE MODA PARA O
PLANEJAMENTO DAS MARCAS
Paulo Borges, CEO da Luminosidade, empresa que organiza o Fashion Rio e São
Paulo Fashion Week, anunciou uma grande mudança no calendário das semanas de
moda brasileiras. A partir de 2013, as duas principais semanas de moda brasileira
passarão a acontecer em meados de março, para a temporada de verão, e meados
de outubro, para a temporada de inverno e não mais em janeiro e junho. Em termos
práticos, as coleções de inverno da temporada seguinte não serão mais
apresentadas no meio do verão que o antecede e sim no fim do inverno anterior, o
que também vale para as coleções de verão.
A mudança do calendário de lançamentos vem sendo discutida desde as primeiras
edições das semanas de moda brasileiras e esta mudança proporciona três a quatro
meses a mais de estruturação de cada nova coleção. Entretanto, este ajuste que
seria axiomático e providencial, foi alvo de bastante discussão e polêmica, já que
muitos defendiam a manutenção do calendário anterior, levando em consideração o
receio de que os consumidores percam o interesse pelas semanas de moda diante
deste novo calendário, já que, normalmente, desassociam a moda de todo o seu
processo industrial. Na opinião deste grupo, as semanas de moda causariam um
menor impacto de divulgação e visibilidade comercial para as marcas junto ao
público consumidor, pois as tendências apresentadas a cada semana de moda
passaram a não ser mais relativas as coleções que estão para chegar às lojas, e sim
as coleções e tendências da temporada posterior que só chegarão às lojas no
semestre seguinte.
A despeito desta questão, a mudança do calendário foi recebida positivamente pela
maior parte das marcas, principalmente baseada no importante fato de que a
indústria passou a ter prazos maiores de produção e entrega. As empresas poderão
trabalhar com uma programação mais acertada e garantir uma entrega mais
eficiente ao varejo e ao consumidor.
A crescente concorrência, em face da entrada de empresas internacionais no
mercado interno. Nos últimos dois anos, mais de 20 importantes grifes internacionais
abriram suas primeiras lojas no Brasil, investindo milhões em lojas suntuosas, e
ganhando espaço nos grandes centros comerciais de São Paulo, Brasília e Rio de
Janeiro. Diante deste cenário as empresas brasileiras precisarão se dedicar ainda
mais a diferenciação e qualidade dos seus produtos. Sob o novo calendário, a
indústria brasileira de moda passa por um processo de foco na qualidade,
criatividade e contemporaneidade na criação e desenvolvimento das novas coleções
para concorrer de forma competitiva com o mercado internacional.
O crescimento do fast fashion foi outro ponto levantado para as mesas de debates
do tema, já que o investimento de empresas como C&A e Riachuelo acelerou o
processo da cadeia produtiva, obrigando as marcas a precisarem se planejar para
apresentar várias subcoleções durante o ano, exigindo que as grifes tivessem
novidades todos os meses em suas lojas para concorrer com este milionário setor
da indústria.
A cadeia produtiva da moda é um sistema que apresenta certas singularidades
abrangendo resumidamente cinco etapas: fiação; tecelagem; beneficiamento;
confecção e comercialização. Paralelamente operam os serviços de suporte como o
mecânico-têxtil, os fornecedores de equipamentos; a produção de softwares; feiras
de moda; agências de publicidade e comunicação. Os riscos, que até agora eram
assumidos exclusivamente pelos criadores passaram a ser compartilhados por toda
esta cadeia. O calendário antigo obrigava as marcas a comprarem e apostarem com
muita antecedência. Com a ampliação do período de planejamento, as marcas
passaram a gerenciar melhor as apostas e suas compras e estruturar de modo
harmônico o relacionamento e o envolvimento de toda a cadeia e fornecedores nos
processos de desenvolvimento das novas coleções.
Apesar do novo calendário ter sofrido algumas adaptações já em 2012, para valer
oficialmente a partir de 2013, muitos fornecedores importantes para a indústria da
moda ainda não se ajustaram de forma adequada, obrigando muitas marcas a
recorrerem a fornecedores internacionais. André Lima, estilista da marca que leva o
seu nome, em entrevista ao site Chic, chama atenção para este desajuste: “Os
fornecedores de tecido não acompanharam esta mudança, que é realmente muito
complexa. Fui ao Première Vision São Paulo que aconteceu em janeiro. Testar
amostras e fazer os pedidos para que a coleção fique pronta em março é muito
apertado”, reclama o estilista, que afirmou ter encomendado produtos importados no
fim de 2012 para desenvolver a nova coleção de sua marca.
Cada fornecedor ou prestador de serviço da cadeia ainda precisam se ajustar de
forma adequada ao novo calendário, para as grifes brasileiras não precisarem
recorrer ao mercado internacional, o que ocasionaria uma desaceleração da
indústria do vestuário nacional. Além do fator econômico, existe o fator cultural, pois,
para de fato haver uma criação autêntica e original brasileira, é preciso que a
matéria-prima principal, o tecido, seja inédito na passarela. Somente desta forma, a
moda brasileira não se transformará em uma releitura do que foi visto no exterior e
continuará ganhando espaço e se destacando no cenário mundial.
O acerto do relógio exigiu um grande esforço das empresas. Algumas grifes optaram
por não apresentar suas novas coleções na semana de moda de transição por
incapacidade de elaborar a coleção a tempo ou de investir num terceiro desfile em
menos de um ano. Até grandes empresas do setor, como a grife Animale, se
ausentaram. O São Paulo Fashion Week, que dura normalmente de cinco a seis
dias, reduziu-se a três e deixou o prédio da Bienal, se mudando para uma tenda
improvisada no Parque Villa Lobos.
A comercialização e logística são dois fatores estratégicos para as empresas
apoiarem este novo calendário, já que amplia consideravelmente o intervalo entre o
lançamento dos produtos nos desfiles e a chegada das peças ao varejo. Até então,
as marcas tinham aproximadamente apenas 45 dias após a apresentação dos
desfiles das novas coleções para venderem e os produtos chegarem às lojas, um
desarranjo do ponto de vista comercial e logístico. Ao apresentar aos compradores
de moda às novas coleções com pouco menos de um ano de antecedência, as
marcas ganharam mais tempo para se dedicar a etapa mais importante do processo,
a venda e entrega dos produtos para o comércio varejista, que fará a venda para o
consumidor final.
A nova configuração de datas, deve se refletir em benefícios não só para a cadeia
produtiva, mas também para o consumidor final. A Luminosidade estima que algo
em torno de 30% do que era produzido pelas marcas sofriam com devoluções e
cancelamentos nas encomendas, em decorrência do antigo calendário, que
encurtava a apresentação e a entrega das peças. Dentro do novo calendário, com o
planejamento mais organizado das empresas e com a redução significativa dos
índices de devoluções e cancelamento, as roupas devem ficar de 10% a 15% mais
baratas, segundo expectativas de Eloysa Simão, diretora geral do Fashion Business,
bolsa de negócios do setor, sendo que esta redução já deve se refletir no preço já na
coleção de inverno de 2013, que chega às lojas no segundo semestre deste ano.
CONCLUSÃO
A indústria de moda brasileira foi constituída em um cenário aonde a hiperinflação
conduzia o planejamento do setor. Com a estabilização da economia brasileira e
com o crescimento da atuação das grifes internacionais no Brasil, as marcas
brasileiras precisam focar cada vez mais em qualidade e diferenciação, além de
melhorar o processo de produção e o recebimento do produto final para o
consumidor, reduzindo custos e aumentando sua competitividade.
Com a globalização do mercado e a consequente oferta maior do que a procura, o
consumidor passa a buscar a solução que melhor atende às suas necessidades,
otimizando a relação custo versus benefício.
Criar produtos que encantem os consumidores vai muito além de ter uma etiqueta
com um nome importante, envolve todo um processo de planejamento que começa
na elaboração do conceito e passa pelo estilo, apresentação e custo do produto. As
marcas brasileiras perceberam a importância da diferenciação e qualidade no
desenvolvimento dos seus produtos, e que, ao atender as necessidades dos
consumidores, contribui para que os produtos locais estejam em níveis mais
favoráveis ao seu sucesso, tanto dentro quanto fora do país.
É irrefutável a importância das fashion weeks para toda a indústria da moda, por sua
função de marketing ao dar visibilidade e apresentar os clientes e consumidores das
grifes aos lançamentos das coleções e por sua função articuladora de toda a
indústria ao organizar todo o segmento sob um calendário de produção e
lançamentos único.
A mudança do calendário das semanas de moda no Brasil foi um importante passo
para as marcas focarem no maior planejamento e melhor desenvolvimento das suas
coleções, pois o novo calendário de desfiles amplia o intervalo entre o lançamento e
a chegada das peças ao varejo, proporcionando um maior prazo para as marcas
produzirem, venderem e entregarem as novas coleções.
Com a antecipação dos lançamentos das novas coleções nas semanas de moda, as
marcas terão mais tempo para se organizarem, e buscarem a qualidade e a
diferenciação dos seus produtos para se tornarem mais competitivas, além de
poderem produzir e entregar as peças que o mercado deseja nos prazos adequados
com estimativa que isso melhore as vendas das coleções e ocasionem inclusive
uma deflação dos preços dos produtos para o consumidor final.
O ajuste do calendário foi um importante passo a fim de aumentar a competitividade
da moda brasileira, mas o desafio da moda brasileira vai muito além, pois é preciso
reorganizar e fortalecer as associações, pressionar o governo a desonerar o setor,
investir na qualificação de mão de obra, e focar cada vez mais na qualidade dos
produtos.
REFERÊNCIAS
LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas
sociedades modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
SEVERIANO, Maria de Fátima V. Narcisismo e publicidade: uma análise
psicossocial dos ideais do consumo na contemporaneidade. São Paulo:
Annablume, 2007.
PUGLIA, Ana, Marketing de Moda, 2010
Site Chic, disponível em <http://chic.ig.com.br/moda/noticia/mudanca-do-calendario-
de-desfiles-beneficia-agenda-de-estilistas-mas-industria-nacional-ainda-esta-fora-de-
sintonia> Acessado em: 5 de Março de 2013.
Blog Heloisa Marra, disponível em <http://www.heloisamarra.com/index.php/
descobertas/11858-mudancas-no-calendario-da-moda>. Acessado em: 2 de Março
de 2013.
BARNARD, Malcolm. Moda e Comunicação. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.

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Mudança no calendário da moda brasileira

  • 1. A MUDANÇA NO CALENDÁRIO DAS SEMANAS DE MODA BRASILEIRA E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A INDÚSTRIA DA MODA Getúlio Antonio Cantão Neto1 RESUMO Este artigo aborda a importância econômica e social da moda, além de destacar o papel dos desfiles como instrumento de marketing e promoção das marcas junto ao público consumidor. Este trabalho tem como objetivo apresentar as principais implicações para o setor e para as marcas com a mudança do calendário das duas principais fashion weeks brasileiras, o São Paulo Fashion Week e o Fashion Rio. Mais do que um simples ajuste de datas, o novo calendário de lançamento das coleções oferece para as marcas um período maior para planejarem suas novas coleções. Essa medida além de gerar mudanças na logística, planejamento e distribuição dos produtos das grifes, também foi um importante passo a fim de aumentar a competitividade da moda brasileira. Palavras-chave: moda; desfiles; semanas de moda; grifes; marketing de moda; 1 Getúlio Antonio Cantão Neto (Publicitário pela Universidade Federal do Espírito Santo e matriculado no MBA em Planejamento e Gestão Estratégica na UNINTER)
  • 2. INTRODUÇÃO Apesar de sua longa existência, a moda, atualmente, passou a ser foco de interesse de dimensões até então inéditas, por sua importância econômica e social. A moda agora é considerada elemento significativo da vida cotidiana, juntamente com as artes, a filosofia, o jornalismo e a publicidade, por exemplo. A moda se tornou fundamental na sociedade atual, pois ela representa o indivíduo no convívio público, podendo comunicar sua personalidade, classe social, status e/ou grupos de convívio. O que antes atraia um interesse mais disperso se tornou quase que uma regra social, as pessoas são envolvidas pelos apelos da moda, sentindo que é preciso seguir as tendências do vestuário como forma de estar em sintonia com a sociedade e seu tempo. O mercado da moda é responsável, no Brasil, pela existência de mais de 30 mil empresas de confecção e pela criação de 1,7 milhão de empregos, sendo o segundo maior setor empregador do país. O faturamento dessa engrenagem gira em torno de US$ 52 bilhões ao ano, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT). A indústria da moda é geradora de bens, de trabalho, e movimenta um sistema comercial que alimenta tanto a própria cadeia têxtil-confecção, como as áreas da mídia que geram informação sobre a moda, além de diferentes outros produtos relacionados ao setor, tais como as revistas, cosméticos e tratamentos estéticos. O sistema de moda, com o auxílio da mídia, impulsiona tendências, conceitos e ideias pelo mundo, contribuindo na construção de identidades e atuando como agente essencial para a comunicação interpessoal. Não há como não reconhecer a moda como um alicerce cultural da sociedade e como uma indústria de mercado altamente lucrativa, que utiliza, como em qualquer outro mercado de consumo, técnicas de comunicação e marketing buscando a visibilidade comercial.
  • 3. A moda é a exaltação do novo, pois apresenta como característica a efemeridade própria do sistema capitalista, ao eleger a cada ciclo, novidades e tendências que logo ficam obsoletas diante de novos produtos eleitos como tendência no próximo ciclo. A indústria da moda representa toda a dinâmica do consumo na sociedade contemporânea, melhor do que qualquer outra indústria, a moda soube desassociar a real função do vestuário, agregando signos como luxo, beleza, e fantasia à indumentária, despertando o desejo pelas novidades e tendências no público consumidor. Todo este encantamento pelo universo da moda muito se deve as semanas de moda. Os desfiles realizados pelas marcas nestes eventos despertam nos consumidores, a cada temporada, o desejo pelas novas tendências da moda, ao mesmo tempo em que reafirmam os conceitos de elegância, juventude e status que movimentam o interesse por esta indústria. Os desfiles nas semanas de moda são importantes instrumentos de marketing para a promoção das marcas e produtos das grifes, sendo um instrumento para que elas se aproximem ainda mais de seus clientes. Através dos desfiles, as grifes apresentam os seus novos produtos e diretrizes da nova coleção, além de obter uma exposição gratuita na mídia. As semanas de moda, além de gerar visibilidade para as marcas, organizou naturalmente todo o segmento, ajustando o planejamento das marcas sob um calendário único. Desta forma, as grifes passaram a ter um planejamento de coleção organizado, tendo as semanas de moda como ponto de referência para o lançamento dos novos produtos. O calendário de semanas de moda brasileiro acaba de sofrer uma grande alteração. A partir de 2013, os dois principais eventos de moda do Brasil, o Fashion Rio e o São Paulo Fashion Week passaram a acontecer em março para apresentar as coleções de verão, e outubro, para apresentar as de inverno, e não mais em janeiro e junho como ocorria anteriormente. Esta medida é um importante movimento para as grifes brasileiras estruturarem melhor o planejamento de lançamento das suas coleções, para alinhar os seus produtos com as tendências mundiais, e focar em
  • 4. inovações e aperfeiçoamento dos produtos lançados diante da crescente concorrência internacional. Esta medida que visa ajustar o calendário de toda a cadeia de produção de moda com o dos eventos que acontecem no país a partir de 2013 trouxe diversas implicações para toda a indústria, tendo como principal delas, um período maior para as marcas planejarem suas novas coleções, lançamentos e distribuição no mercado. O MARKETING E COMUNICAÇÃO NO MERCADO DE MODA A moda tem tomado cada vez mais espaço na vida das pessoas. Atualmente, ela é muito mais acessível e disseminada na mídia. As pessoas cada vez mais possuem recursos informativos, capazes de mantê-los antenados acerca das tendências de moda e dos últimos lançamentos das marcas. As grifes desenvolveram, ao longo dos últimos anos, estratégias bem consolidadas de comunicação e marketing. Consequentemente, o mercado de moda tem crescido. Novas marcas nascem com novas propostas a cada dia, tornando o mercado cada vez mais competitivo. A comunicação é um aspecto crucial das missões de marketing das marcas de moda, e um fator determinante do sucesso ou do fracasso das empresas. O sucesso de uma marca no mercado da moda se deve, em grande parte, a diversas ações comunicacionais que podem conferir-lhe visibilidade e agregar valores, entre as quais se destacam as campanhas publicitárias, os desfiles de apresentação de uma coleção, e todas as outras estratégias que possam favorecer a visibilidade de sua identidade, valorizar seu estilo e sua personalidade junto ao consumidor. A comunicação bem planejada estimula e motiva as vendas, mas é preciso estar associada a outros fatores, como qualidade do produto, boa apresentação, bom atendimento e preço compatível. A comunicação é utilizada pela indústria da moda desde as últimas décadas do século XIX, mas hoje ela apresenta linguagens e imagens bem diversificadas, e cada vez mais utiliza os recursos midiáticos para encantar e seduzir as pessoas, visando o consumo. Segundo Lipovetsky (2003), na pós-modernidade ocorre uma
  • 5. fusão entre a moda e a mídia. A moda está espalhada por todas as mídias: nos filmes, na TV, no rádio, e nos impressos, que difundem determinados tipos de beleza, estilos de vida, e as tendências de moda a serem reproduzidas. As marcas de moda competem entre si para se diferenciarem e para ocuparem lugares que ainda não foram explorados pelo mercado. As necessidades de inovação constante e da diferenciação em relação à concorrência fazem parte desse processo. As marcas não fidelizam o cliente pela matéria-prima utilizada em sua coleção, a importância das marcas para os clientes está relacionada aos seus conceitos e signos. O marketing confere personalidade, estabelece signos e também oferecem histórias aos produtos, e é o principal instrumento de diferenciação e segmentação de mercado. A imagem da marca é o principal patrimônio de uma grife de confecção, construída pela publicidade e pelo marketing, e constituindo-se, sobretudo, pelo o que os seus consumidores pensam dela. Essa imagem é o que faz uma marca ser diferente das outras, na visão dos consumidores. Os significados mais relevantes de uma marca são seus valores e sua personalidade, estes itens que definem a essência da marca. Segundo Severiano (2007), a marca é a alma do produto, ela agrega valores subjetivos, empresta personalidade e é componente fundamental das identidades contemporâneas. O valor de uso não mais seria o principal critério na escolha de um produto, que não difere um produto dos demais produtos similares, exceto pela marca. No mercado da moda, a personalidade da marca é o principal instrumento de marketing; a Chanel, por exemplo, possui uma forte personalidade de marca. Coco Chanel, a criadora original, deixou códigos muito precisos sobre o uso da marca e seus valores, que firmemente orientam o estilo da grife, das suas coleções e das ações da empresa. Até hoje, mesmo estando sob a direção criativa de outro ícone da moda (Karl Lagerfeld), os signos do estilo Chanel permanecem inalterados: o logo com dois Cs entrelaçados, os sapatos bicolores, e a constante influência pela moda masculina. Com este trabalho de consolidação do perfil e do estilo da marca, a Chanel nunca perdeu sua unidade, reafirmando seu estilo e personalidade ao longo do tempo. Criar uma identidade de marca para o mercado de moda exige ações
  • 6. consistentes, tanto nos aspectos tangíveis dos produtos (design, estilo e materiais diferenciados) quanto nos intangíveis (origem e tradição da marca, imagem do usuário, personalidade da marca). Numa sociedade em que as marcas ganharam maior importância na relação entre indivíduo e produto, as marcas de vestuário vêm buscando inovações e a criação de valores agregadores aos seus produtos, como forma de obter vantagens sobre a concorrência. As marcas são ativos simbólicos cuja construção exige coerência conceitual das ações corporativas nas dimensões produtivas, comerciais e comunicacionais. Uma vez constituídos, esses ativos impõem limitações às estratégias mercadológicas das corporações, pois as marcas funcionam como dispositivos sociais de construção de identidades. Nas últimas décadas, a comunicação no mercado da moda evoluiu intensamente, e muito se deve às estratégias das grifes para estarem presentes em todos os ambientes da vida contemporânea, na construção de um “universo fashion” sob a ditadura da moda, dominando todas as mídias com seus personagens, cenários, repertórios, e magnetismo indiscutível. O cenário das empresas de moda tem passado por profundas mudanças, com a competitividade cada vez mais acirrada e o comportamento mais consciente do consumidor, que as obriga a criarem constantemente formas inovadoras de comunicação. O PAPEL DOS DESFILES NAS ESTRATÉGIAS DE MARKETING DAS GRIFES De acordo com Ana Puglia (2010), os desfiles surgiram no século XIX, com o visionário Charles Worth, que introduziu uma grande inovação na moda da época, apresentando de tempos em tempos suas roupas em desfiles, com jovens mulheres - as modelos de hoje - na época chamadas de “sósias”. Os desfiles como conhecemos, entretanto, só surgiram no início do século XX, quando se transformaram em grandes eventos e passaram a ser realizados duas vezes por ano, o que se mantém até hoje, quando cada grife mostra as coleções de primavera- verão e de outono-inverno.
  • 7. Já no início do século XX, com a indústria da moda ganhando cada vez mais espaço no mercado nos Estados Unidos e na Europa, as grandes casas de alta-costura começaram a exibir desfiles para públicos selecionados. A popularização dos desfiles cresceu à medida que aumentava o prestígio dos costureiros de alta-costura da época. O calendário fixo de desfiles só surgiu em 1918, em Paris, por motivos comerciais e de organização da cadeia produtiva. No Brasil, a concepção de desfile surgiria cerca de 20 anos depois, na década de 40, com as apresentações realizadas pela Casa Canadá, no Rio de Janeiro, e pela Casa Vogue, em São Paulo, seguindo as mesmas concepções europeias. Nos anos 90, depois de um período sem grandes eventos de moda, começaram a ser organizados eventos de escolas de moda e calendários de apresentação das novas coleções nos shoppings. A partir destas iniciativas nasceram os dois maiores eventos de desfiles de moda do Brasil: o Fashion Rio e o São Paulo Fashion Week. Com a organização da indústria da moda e o surgimento das semanas de moda, os desfiles começam a ganhar espaço para um público mais amplo, através da mídia, colocando as grandes marcas e estilistas em evidência. O apogeu desta popularização dos desfiles ocorreu a partir de 1996 e se estende até os dias de hoje, quando os desfiles começaram a ser exibidos pela internet. Os desfiles podem ser comerciais, com peças de roupas apresentadas da mesma forma que serão comercializadas, ou podem ser conceituais com criações inusitadas que representa o significado da coleção. O desfile traduz o conceito da coleção e sua sintonia com a identidade da marca. Estas apresentações buscam trabalhar vários pontos na busca pelo encantamento do consumidor, estimulando os sentidos através de um breve espetáculo. Os looks, as modelos, a música, a ambiência, são elementos que mexem com a emoção do público que assiste os desfiles, seja na primeira fila ou em casa através da internet. Os desfiles de moda são, dentre as estratégias de marketing das marcas, um dos mais eficazes instrumentos para a promoção das marcas, por se tratar de uma peça de marketing bastante barata se comparada a outras mídias, tais como televisão ou
  • 8. revistas. Através dos desfiles, as marcas conseguem aproximar-se ainda mais de seus clientes e consumidores em potencial. Outra função dos desfiles é obter uma exposição gratuita na mídia para as marcas, evitando que grandes investimentos em publicidade direta para o lançamento das novas coleções sejam desembolsados a cada temporada. A indústria da moda vive de ciclos construídos por temporadas de desfiles. Por isso, as fashion weeks funcionam como uma vitrine da moda daquela temporada. Cabendo a estes eventos, o papel de levar as propostas apresentadas pelos designers para um grande número de pessoas, o que traduz na prática, as tendências e os desejos de consumo de uma temporada. A indústria da moda é uma cadeia produtiva bastante organizada. Suas etapas possuem dinâmicas e estruturas próprias, a organização de uma coleção está todo pautado pelo lançamento, desde a produção da matéria-prima, até a distribuição para o mercado. O surgimento das semanas de moda, mais do que apenas uma forma de conseguir visibilidade para as marcas, organizou todo o segmento: da indústria ao varejo, sintonizando as marcas sob um calendário de produção único, concentrando os principais lançamentos em determinados períodos. A partir do surgimento das semanas de moda, toda a indústria da moda passa a ter um planejamento de coleção ordenado, desta forma todo o cronograma de ações da marca fica relacionado ao seu lançamento nas semanas de moda, desde a criação do conceito da coleção até a chegada dos produtos nos showrooms, e nas lojas. AS IMPLICAÇÕES DO NOVO CALENDÁRIO DAS SEMANAS DE MODA PARA O PLANEJAMENTO DAS MARCAS Paulo Borges, CEO da Luminosidade, empresa que organiza o Fashion Rio e São Paulo Fashion Week, anunciou uma grande mudança no calendário das semanas de moda brasileiras. A partir de 2013, as duas principais semanas de moda brasileira passarão a acontecer em meados de março, para a temporada de verão, e meados de outubro, para a temporada de inverno e não mais em janeiro e junho. Em termos práticos, as coleções de inverno da temporada seguinte não serão mais
  • 9. apresentadas no meio do verão que o antecede e sim no fim do inverno anterior, o que também vale para as coleções de verão. A mudança do calendário de lançamentos vem sendo discutida desde as primeiras edições das semanas de moda brasileiras e esta mudança proporciona três a quatro meses a mais de estruturação de cada nova coleção. Entretanto, este ajuste que seria axiomático e providencial, foi alvo de bastante discussão e polêmica, já que muitos defendiam a manutenção do calendário anterior, levando em consideração o receio de que os consumidores percam o interesse pelas semanas de moda diante deste novo calendário, já que, normalmente, desassociam a moda de todo o seu processo industrial. Na opinião deste grupo, as semanas de moda causariam um menor impacto de divulgação e visibilidade comercial para as marcas junto ao público consumidor, pois as tendências apresentadas a cada semana de moda passaram a não ser mais relativas as coleções que estão para chegar às lojas, e sim as coleções e tendências da temporada posterior que só chegarão às lojas no semestre seguinte. A despeito desta questão, a mudança do calendário foi recebida positivamente pela maior parte das marcas, principalmente baseada no importante fato de que a indústria passou a ter prazos maiores de produção e entrega. As empresas poderão trabalhar com uma programação mais acertada e garantir uma entrega mais eficiente ao varejo e ao consumidor. A crescente concorrência, em face da entrada de empresas internacionais no mercado interno. Nos últimos dois anos, mais de 20 importantes grifes internacionais abriram suas primeiras lojas no Brasil, investindo milhões em lojas suntuosas, e ganhando espaço nos grandes centros comerciais de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. Diante deste cenário as empresas brasileiras precisarão se dedicar ainda mais a diferenciação e qualidade dos seus produtos. Sob o novo calendário, a indústria brasileira de moda passa por um processo de foco na qualidade, criatividade e contemporaneidade na criação e desenvolvimento das novas coleções para concorrer de forma competitiva com o mercado internacional. O crescimento do fast fashion foi outro ponto levantado para as mesas de debates
  • 10. do tema, já que o investimento de empresas como C&A e Riachuelo acelerou o processo da cadeia produtiva, obrigando as marcas a precisarem se planejar para apresentar várias subcoleções durante o ano, exigindo que as grifes tivessem novidades todos os meses em suas lojas para concorrer com este milionário setor da indústria. A cadeia produtiva da moda é um sistema que apresenta certas singularidades abrangendo resumidamente cinco etapas: fiação; tecelagem; beneficiamento; confecção e comercialização. Paralelamente operam os serviços de suporte como o mecânico-têxtil, os fornecedores de equipamentos; a produção de softwares; feiras de moda; agências de publicidade e comunicação. Os riscos, que até agora eram assumidos exclusivamente pelos criadores passaram a ser compartilhados por toda esta cadeia. O calendário antigo obrigava as marcas a comprarem e apostarem com muita antecedência. Com a ampliação do período de planejamento, as marcas passaram a gerenciar melhor as apostas e suas compras e estruturar de modo harmônico o relacionamento e o envolvimento de toda a cadeia e fornecedores nos processos de desenvolvimento das novas coleções. Apesar do novo calendário ter sofrido algumas adaptações já em 2012, para valer oficialmente a partir de 2013, muitos fornecedores importantes para a indústria da moda ainda não se ajustaram de forma adequada, obrigando muitas marcas a recorrerem a fornecedores internacionais. André Lima, estilista da marca que leva o seu nome, em entrevista ao site Chic, chama atenção para este desajuste: “Os fornecedores de tecido não acompanharam esta mudança, que é realmente muito complexa. Fui ao Première Vision São Paulo que aconteceu em janeiro. Testar amostras e fazer os pedidos para que a coleção fique pronta em março é muito apertado”, reclama o estilista, que afirmou ter encomendado produtos importados no fim de 2012 para desenvolver a nova coleção de sua marca. Cada fornecedor ou prestador de serviço da cadeia ainda precisam se ajustar de forma adequada ao novo calendário, para as grifes brasileiras não precisarem recorrer ao mercado internacional, o que ocasionaria uma desaceleração da indústria do vestuário nacional. Além do fator econômico, existe o fator cultural, pois, para de fato haver uma criação autêntica e original brasileira, é preciso que a
  • 11. matéria-prima principal, o tecido, seja inédito na passarela. Somente desta forma, a moda brasileira não se transformará em uma releitura do que foi visto no exterior e continuará ganhando espaço e se destacando no cenário mundial. O acerto do relógio exigiu um grande esforço das empresas. Algumas grifes optaram por não apresentar suas novas coleções na semana de moda de transição por incapacidade de elaborar a coleção a tempo ou de investir num terceiro desfile em menos de um ano. Até grandes empresas do setor, como a grife Animale, se ausentaram. O São Paulo Fashion Week, que dura normalmente de cinco a seis dias, reduziu-se a três e deixou o prédio da Bienal, se mudando para uma tenda improvisada no Parque Villa Lobos. A comercialização e logística são dois fatores estratégicos para as empresas apoiarem este novo calendário, já que amplia consideravelmente o intervalo entre o lançamento dos produtos nos desfiles e a chegada das peças ao varejo. Até então, as marcas tinham aproximadamente apenas 45 dias após a apresentação dos desfiles das novas coleções para venderem e os produtos chegarem às lojas, um desarranjo do ponto de vista comercial e logístico. Ao apresentar aos compradores de moda às novas coleções com pouco menos de um ano de antecedência, as marcas ganharam mais tempo para se dedicar a etapa mais importante do processo, a venda e entrega dos produtos para o comércio varejista, que fará a venda para o consumidor final. A nova configuração de datas, deve se refletir em benefícios não só para a cadeia produtiva, mas também para o consumidor final. A Luminosidade estima que algo em torno de 30% do que era produzido pelas marcas sofriam com devoluções e cancelamentos nas encomendas, em decorrência do antigo calendário, que encurtava a apresentação e a entrega das peças. Dentro do novo calendário, com o planejamento mais organizado das empresas e com a redução significativa dos índices de devoluções e cancelamento, as roupas devem ficar de 10% a 15% mais baratas, segundo expectativas de Eloysa Simão, diretora geral do Fashion Business, bolsa de negócios do setor, sendo que esta redução já deve se refletir no preço já na coleção de inverno de 2013, que chega às lojas no segundo semestre deste ano.
  • 12. CONCLUSÃO A indústria de moda brasileira foi constituída em um cenário aonde a hiperinflação conduzia o planejamento do setor. Com a estabilização da economia brasileira e com o crescimento da atuação das grifes internacionais no Brasil, as marcas brasileiras precisam focar cada vez mais em qualidade e diferenciação, além de melhorar o processo de produção e o recebimento do produto final para o consumidor, reduzindo custos e aumentando sua competitividade. Com a globalização do mercado e a consequente oferta maior do que a procura, o consumidor passa a buscar a solução que melhor atende às suas necessidades, otimizando a relação custo versus benefício. Criar produtos que encantem os consumidores vai muito além de ter uma etiqueta com um nome importante, envolve todo um processo de planejamento que começa na elaboração do conceito e passa pelo estilo, apresentação e custo do produto. As marcas brasileiras perceberam a importância da diferenciação e qualidade no desenvolvimento dos seus produtos, e que, ao atender as necessidades dos consumidores, contribui para que os produtos locais estejam em níveis mais favoráveis ao seu sucesso, tanto dentro quanto fora do país. É irrefutável a importância das fashion weeks para toda a indústria da moda, por sua função de marketing ao dar visibilidade e apresentar os clientes e consumidores das grifes aos lançamentos das coleções e por sua função articuladora de toda a indústria ao organizar todo o segmento sob um calendário de produção e lançamentos único. A mudança do calendário das semanas de moda no Brasil foi um importante passo para as marcas focarem no maior planejamento e melhor desenvolvimento das suas coleções, pois o novo calendário de desfiles amplia o intervalo entre o lançamento e a chegada das peças ao varejo, proporcionando um maior prazo para as marcas produzirem, venderem e entregarem as novas coleções. Com a antecipação dos lançamentos das novas coleções nas semanas de moda, as
  • 13. marcas terão mais tempo para se organizarem, e buscarem a qualidade e a diferenciação dos seus produtos para se tornarem mais competitivas, além de poderem produzir e entregar as peças que o mercado deseja nos prazos adequados com estimativa que isso melhore as vendas das coleções e ocasionem inclusive uma deflação dos preços dos produtos para o consumidor final. O ajuste do calendário foi um importante passo a fim de aumentar a competitividade da moda brasileira, mas o desafio da moda brasileira vai muito além, pois é preciso reorganizar e fortalecer as associações, pressionar o governo a desonerar o setor, investir na qualificação de mão de obra, e focar cada vez mais na qualidade dos produtos.
  • 14. REFERÊNCIAS LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. SEVERIANO, Maria de Fátima V. Narcisismo e publicidade: uma análise psicossocial dos ideais do consumo na contemporaneidade. São Paulo: Annablume, 2007. PUGLIA, Ana, Marketing de Moda, 2010 Site Chic, disponível em <http://chic.ig.com.br/moda/noticia/mudanca-do-calendario- de-desfiles-beneficia-agenda-de-estilistas-mas-industria-nacional-ainda-esta-fora-de- sintonia> Acessado em: 5 de Março de 2013. Blog Heloisa Marra, disponível em <http://www.heloisamarra.com/index.php/ descobertas/11858-mudancas-no-calendario-da-moda>. Acessado em: 2 de Março de 2013. BARNARD, Malcolm. Moda e Comunicação. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.