Parte introdutória do tratado de Tomas Manton sobre Autonegação, versando sobre o desenvolvimento do seguinte texto bíblico: “Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.” (Mateus 16.24)
2. M293
Manton, Thomas (1620-1677)
A extensão da autonegação - Thomas Manton
Tradução e Adaptação por Silvio Dutra
Rio de Janeiro, 2020.
35p 14,8 x 21 cm
1. Teologia. 2. Vida Cristã. I. Título
CDD 230
2
3. Introdução pelo Tradutor:
Mais do que um compromisso editorial de
publicar traduções pioneiras em língua
portuguesa de trabalhos dos puritanos e de outros
autores que seguem a mesdma linha teológica
deles, temos focado sobretudo no assunto da
santificação, conforme nos sentimos dirigidos
pelo Espírito Santo a fazê-lo já por cerca de vinte
anos, e neste sentido não há mais profundo e
abrangente material do que aquele que
encontramos nos escritores de espírito puritano,
os quais, na verdade, não representam um grupo
dentre muitos na área da teologia, mas aqueles
que se ocuparam em não apenas interpretar
fielmente o texto das Escrituras, mas em viverem
de fato na aplicação de toda a vontade de Deus
nelas expressada.
Em nossas traduções mais recentes ocupamo-nos
especialmente com o dever de todo crente de se
apartar da iniquidade, considerando não apenas o
significado disso e o modo de fazê-lo, em uma
confrontação real do pecado, não apenas para
evitá-lo e se separar dele, mas efetivamente
destruí-lo pela sua mortificação, e nisto,
recorremos a obras de autoria de John Bunyan,
Thomas Hooker, John Owen, Richard Sibbes,
dentre outros.
Agora, estamos dando um passo além no assunto
da santificação, pela consideração da importância
3
4. e do significado da autonegação, pela tradução,
em partes, do Tratado de Autonegação, de autoria
de Thomas Manton.
Como dissemos anteriormente, nosso
compromisso editorial vai além da forma, pois
poderíamos editar a citada obra em um único
volume, mas, como nosso intuito é o de ajudar o
povo do Senhor a não apenas entender o que seja
a obra da santificação, mas o modo de
efetivamente aplicá-la à vida, pois não há outro
modo de se agradar a Deus, pois é a própria
Escritura que afirma que “sem santificação
ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14), optamos por
destacar citações do tratado de Manton,
dividindo-as, sempre que possível, seguindo a
mesma ordem da apresentação em capítulos pelo
autor, e com a inserção de notas explicativas onde
nos sentirmos inclinados a apresentá-las.
Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensina
expressamente que somente podemos ser seus
discípulos verdadeiramente caso nos neguemos,
tomemos a nossa cruz e o sigamos. É em torno
disso que girará o presente trabalho.
Usaremos alternativamente os termos
autonegação e abnegação, sem qualquer
distinção semântica. Porém, quanto à significação
precisa da afirmação de nosso Senhor, a segunda
palavra possui um sentido mais amplo do que a
primeira, pois é possível que alguém se
autonegue por variados motivos, (daí ter sido
4
5. acrescentado o tomar a cruz e o seguir a Jesus, na
sequência da citada frase). Já na abnegação, ainda
que não seja declarado o seu propósito específico,
temos a inclusão da motivação geral, pois o
abnegado é aquele que supera as tendências
egoísticas da personalidade em benefício de uma
pessoa, causa ou princípio, com o sacrifício
voluntário dos próprios desejos, da própria
vontade. Nisto, Jesus se nos apresenta como o
modelo e exemplo supremo e perfeito, pois
renunciou à própria vontade para fazer
exclusivamente a de Deus Pai, e isto em benefício
de pecadores. Ele não pensou em Si mesmo, nos
seus interesses próprios, mas nos do Pai, e
naquilo que poderia trazer a vida eterna a quem se
encontrava morto espiritualmente em delitos e
pecados.
5
6. A Extensão da Autonegação
“Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém
quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a
sua cruz e siga-me.” (Mateus 16.24)
A ocasião para estas palavras permanece assim:
Cristo havia predito sua paixão, e Pedro se
escandalizou. A cruz, embora seja o emblema do
cristianismo, é sempre desagradàvel à carne e ao
sangue, e não gostamos do céu, não por ele
mesmo, mas pela forma como viajamos para a
terra da promessa, através de um deserto uivante.
A fantasia carnal imagina um caminho salpicado
de lírios e rosas: temos pés muito tenros para
pensar em sarças e espinhos. Pedro deu vazão à
sua aversão por meio de um conselho carnal -
“Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo
algum te acontecerá." O discurso de Pedro ao seu
mestre é muito parecido com a voz da carne ou
Satanás em nossos próprios corações; quando o
dever não pode ser feito sem dificuldades e
desvantagens, nossos corações carnais dizem:
“Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo
algum te acontecerá.” Cristo repreendeu Pedro,
ou melhor, o diabo em Pedro - "Para trás de mim,
Satanás." Os próprios filhos de Deus podem
frequentemente jogam o jogo de Satanás. Pedro
fala com uma inocente afeição e respeito ao seu
Mestre, e o diabo tem uma mão nisso. E, portanto,
é um ponto alto de sabedoria espiritual ser hábil
6
7. em seus empreendimentos - "Não somos
ignorantes de seus ardis", diz o apóstolo, em 2 Cor
2,11.
O diabo gira e gira em todas as direções; o mesmo
Satanás que incitou os sumos sacerdotes a
crucificar a Cristo, tentou o Seu discípulo sobre
Ele, para dissuadi-lo de ser crucificado. Ele estava
com medo da obra de redenção e, portanto, busca
impedir o sofrimento de Cristo, ou torná-los tão
ignominioso que o escândalo possa decolar da
eficácia.
Quando Cristo estava na cruz, ele joga o mesmo
jogo, mas por outro instrumentos: Mat 27.40: "Se
tu és o Filho de Deus, desce da cruz." Embora ele
tivesse conduzido nosso Salvador à cruz naquela
passagem, ele estava com medo de que a obra
viesse a ser consumada. É muito notável que
quando Cristo repreende Pedro, ele o faz com a
mesma severidade com que trata a idolatria, ao
verificar o diabo, tentando-o para a idolatria, a que
Cristo adorasse a Si mesmo, coloando a Sua
vontade acima da vontade do Pai, ao tentar se
desviar dos sofrimentos aos quais estava tentando
dissuadi-lo de enferntá-los. Asim, repreender
tanto a Pedro quanto ao diabo que o havia
inspirado: "Para trás de mim, Satanás," Compare
Mat 4.10: “Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te,
Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus,
adorarás, e só a ele darás culto.” com Mat 16.23:
“Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda,
7
8. Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque
não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos
homens.”
Uma inclinação tão forte teve nosso Senhor para
morrer por nós, que olhou para a piedade carnal
de sua pessoa com s mesms indignação e
desprezo que ele lança sobre a tentação da
idolatria. No entanto, s condescendência e
ternura de Cristo para com seu discípulo errante
deve ser observada: ele não apenas o repreende,
mas o instrui, a ele e aos demais discípulos.
portanto Cristo pode tirar proveito de nossas
falhas; o conselho carnal de Pedro foi a ocasião
desta excelente lição, que Cristo, por este meio,
tem para sempre consignado para o uso e
proveito da igreja - "se alguém quer vir após mim,
que ele negue a si mesmo."
(Nota do tradutor: Antes de o autor entrar na
abertura do significado destas palavras
propriamente ditas, vou registrar o contexto
imediato anterior e posterior em que foram
citadas por nosso Senhor:
“21 Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a
mostrar a seus discípulos que lhe era necessário
seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos
anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas,
ser morto e ressuscitado no terceiro dia.
22 E Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-
lo, dizendo: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de
modo algum te acontecerá.
8
9. 23 Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda,
Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não
cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens.
24 Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer
vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e
siga-me.
25 Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-
á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á.
26 Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo
inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em
troca da sua alma?
27 Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu
Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um
conforme as suas obras.
28 Em verdade vos digo que alguns há, dos que
aqui se encontram, que de maneira nenhuma
passarão pela morte até que vejam vir o Filho do
Homem no seu reino.” (Mateus 16.21-28).
Vou abrir um pouco as palavras.
Cristo disse: "Se houver alguém", para mostrar
que o dever é de interesse ilimitado; envolve
todos, todos aqueles que entrarem na escola de
Cristo, ou alistar-se em seu rebanho ou
companhia; não diz respeito apenas a alguns que
são chamados para serem campeões de sua causa,
e para expor seus corpos à crueldade das chamas,
mas "se alguém vier após mim". A palavra é
enfática, observa o propósito total e
consentimento da vontade. Qualquer um está
9
10. firmemente resolvido. "Venha atrás de mim";
como um estudioso após seu professor, como
uma ovelha após seu pastor, como um soldado
após seu centurião.
Depois, é uma frase própria dos estudiosos. A
frase mostra a necessidade do dever, a menos que
você seja negado como não sendo nenhum dos
meus seguidores. Aqui, Cristo nos daria o caráter
principal de seus discípulos. O Cristianismo é
uma escola e seita de homens que negam a si
mesmos e suas próprias conveniências por amor
de Cristo. "Negue-se a si mesmo;" estas são as
palavras que irei insistir. E nelas há duas coisas a
serem observadas: o ato - "Negar"; o objeto – "a Si
mesmo".
1. Para o ato, aparneisastho; a palavra no original
grego sendo um composto é mais enfática;
significa prorsus negare - que ele negue
totalmente a si mesmo. Negação
apropriadamente pertence a discursos, mas por
uma metáfora também pode ser aplicada a coisas.
Aos discursos é próprio, tanto a proposições
quanto a pedidos. Em proposições é dito que
negamos quando contradizemos o que é
afirmado; em pedidos que negamos quando nos
recusamos a conceder o que é desejado de nós.
Agora, por uma fácil tradução, pode também ser
aplicado a coisas, que se diz que negamos quando
negligenciamos, desprezamos ou nos opomos a
elas; como negando o poder da piedade,
10
11. negligenciando-o ou opondo-se a ele; embora
com bastante propriedade a palavra possa reter
seu sentido original, porque todas coisas são
administradas no coração do homem por debates
racionais, conselhos e sugestões, e dizemos que
negamos quando nos recusamos a concordar com
o que a carne dita e aconselha. A carne, ou ego
corrupto, tem suas proposições, seus
movimentos na alma; fala conosco por meio de
nossos próprios pensamentos, e nos coloca sobre
este ou aquele trabalho. A inveja, a luxúria e o
movimento corrupto têm uma voz, e também
uma voz imperiosa, essa graça é muito usada para
dar uma negativa forte. A inveja pede a Caim, vá
matar o teu irmão; a ambição leva Absalão a se
rebelar contra seu pai; a cobiça conquista Judas
para trair seu Senhor e Mestre; então o afeto
mundano nos leva a buscar as coisas presentes
com todas as nossas forças.
Agora, porque estamos ligados às nossas opiniões,
e estas são as sugestões de nossos próprios
corações, portanto, são chamadas de eu; e de nós
é dito que nos negamos quando entrarmos em
nossa dissidência e negar a moção. Carne o que
tenho que fazer contigo? Eu não sou "devedor da
carne", Rom 8,12. Vou arriscar tudo por Cristo,e
faço do meu trabalho entrar em aliança com
Deus. Isso para o ato – "Negar."
2. O objeto é a próxima palavra a ser aberta -
eauton, "a si mesmo", uma palavra ampla, que não
11
12. envolve apenas nossas pessoas, mas tudo o que é
nosso, na medida em que está em oposição a
Deus, ou que vem em competição com Ele. Um
homem e todos os seus desejos, um homem e
todas as suas relações; um homem e todos os seus
interesses; vida, e todos os apêndices da vida, é
uma coisa agregada que nas Escrituras é chamada
de eu.
Em resumo, tudo o que é de si mesmo, em si
mesmo, pertencente a si mesmo, como um
homem corrupto ou carnal, tudo isso deve ser
negado. E, de fato, todo homem tem muitos eus
dentro dele mesmo; suas luxúrias são ele mesmo;
sua vida é ele mesmo; seu nome é ele mesmo; sua
riqueza, liberdade, facilidade, favor, terras, pai,
mãe e todas as relações, eles são incluídos dentro
do termo de si mesmo.
Como quando nosso Senhor o explica, Lucas
14.26, "Se alguém vem a mim e não aborrece a seu
pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e
ainda a sua própria vida, não pode ser meu
discípulo."; misein, no original grego é o mesmo
que aparneisthai, aborrecer, é o mesmo que
negar ou negligenciar seu dever para com eles
por amor a Deus, quando um dever mais elevado
deve ocorrer.
Eu confesso, entre as coisas que são chamadas de
eu, há uma diferença.
12
13. [1.] Algumas coisas são absolutamente más e
devem ser negadas sem limitação; como luxúrias
e afeições carnais, Tito 2.12 (“educando-nos para
que, renegadas a impiedade e as paixões
mundanas, vivamos, no presente século, sensata,
justa e piedosamente”), que são muito
apropriadamente chamadas de ego, porque nós
somos tão ternos com elas quanto com nossas
próprias almas; e, portanto, eles são expressos
pelos termos da "mão direita" e do "olho direito",
Mat 5.29,30. Um pecador vai como logo separar
seus olhos como com suas luxúrias, ou o prazer
de seus sentidos. E então eles são chamados de
"membros:" Col 3.5, "Mortifique seus membros,
que estão na terra." O pecado está cravado na alma
e é tão cansativo para um coração natural
separar-se de qualquer luxúria, como de um
membro ou junta do corpo; estamos dispostos a
segurá-los por um mandato tão vivo e próximo a
nós; nos assustamos com uma reprovação, como
se uma articulação fosse ferida ou tocada.
[2.] Outras coisas são apenas más,
respectivamente, já que provam-se ídolos ou
armadilhas para nós;e assim a vida e todos os
ornamentos, confortos e conveniências da vida;
como liberdade, honras, riqueza, amigos, saúde,
todos são chamados de eu. A razão é porque pelo
amor, que é o afeto da união, eles se incorporam a
nós, e tornam-se partes de nós: Oséias 4.18,
"Efraim se juntou aos ídolos"; eles são cimentados
com eles.
13
14. Agora, o que deve ser negado nessas coisas não é
tanto a coisa em si, mas a nossa corrupção que se
mistura com elas, e as leva a se tornarem uma
armadilha para a alma.
O ponto que irei insistir do todo é:
Doutrina. Que é dever de todos os discípulos de
Cristo negar a si mesmos.
Vou lidar com a doutrina da abnegação.
1. Em geral.
2. Em seus vários tipos e partes subjetivas.
Primeiro, em geral.
Ao gerenciar esse argumento, usarei este
método:
1. A extensão da abnegação.
2. As razões deste dever, com os motivos e
argumentos mais eficazes de persuasão.
3. Os sinais pelos quais podemos saber se o
omitimos ou praticamos.
4. As ajudas que a Escritura prescreve para nosso
progresso em tão grande trabalho.
A extensão da autonegação.
Em primeiro lugar, e como base para todo o resto,
devo considerar a extensão deste dever, tanto em
relação ao objeto, ou às coisas que devem ser
14
15. negadas, quanto em relação ao assunto, ou das
pessoas que vão praticá-lo.
I. Para o objeto - o próprio ser de um homem, é
um feixe de ídolos.
Visto que Deus foi posto de lado, o eu obteve
sucesso na coroa; nós configuramos tudo isso que
chamamos de nosso. Tudo o que podemos colocar
aquele possessivo "nosso" pode ser abusado e
armado como uma armadilha, todas as
excelências e confortos da vida humana, tanto
para dentro quanto para fora.
Para a compreensão disso, e para que você saiba o
quão longe o eu deve ser negado, devo pressupor
algumas considerações gerais e, em seguida,
exemplificar em alguns detalhes; pois parece
severo e contrário à razão que um homem negue
a si mesmo, visto que a natureza ensina o homem
a amar a si mesmo e cuidar de si mesmo: Ef.5,29,
"Nenhum homem jamais odiou sua própria
carne"; e a graça não o desautoriza. Portanto,
[1.] Em geral , você deve saber quando o amor a si
mesmo é culpado. Existe um amor próprio
legítimo - "Amarás o teu próximo como a ti
mesmo", Tiago 2.8; no qual existe, não apenas
uma direção para amar o nosso próximo, mas
uma concessão e tolerância implícita em amar a
nós mesmos; e assim fazendo, fazemos bem. Por
um inocente e natural amor à natureza se
fortalece e busca sua própria preservação. Um
15
16. homem pode amar a si mesmo de forma regular.
Esse eu que devemos odiar ou negar é aquele eu
que se opõe a Deus ou compete com ele, e assim
disputa o trono com ele; coloca Deus de lado, e se
autoconduz como o próximo herdeiro; é o grande
ídolo do mundo, desde a queda, quando os
homens tomaram a ousadia para depor e deixar
de lado Deus, por assim dizer, é o autosucesso no
trono.
O homem caído, como Rúben, foi até a cama de
seu pai. O ego interceptou todos aqueles respeitos
e abraços que eram devidos ao próprio Deus, e
assim o homem tornou-se ambos: seu próprio
ídolo e idólatra. É parea com Deus e para consigo
mesmo como era com Dagon e a arca; eles nunca
podem ficar juntos na competição; montou a arca
e Dagom deve cair de cara; monte Dagom, e a arca
é deposta e derrubada. Bem, então, se quisermos
saber quando o eu é pecaminosamente amado,
devemos considerar o que são os direitos e as
flores indiscutíveis da coroa do céu; eu quero
dizer o que são aqueles privilégios e respeitos
especiais que são tão apropriados à divindade,
como que eles não podem, sem traição ao Rei de
toda a terra, ser alienados dele ou comunicado a
qualquer criatura.
Agora, estes são quatro:
(1.) Por ser a causa primeira, de quem todas as
coisas dependem em seu ser e operação.
16
17. (2.) Por ser o bem supremo e, portanto, ser
valorizado acima de todos os seres, interesses e
preocupações do mundo.
(3.) Por ser o Senhor supremo e o soberano mais
absoluto, que governa todas as coisas por suas leis
e providência.
(4) Por ser o fim último, no qual todas as coisas
finalmente terminam e se centram.
(1.) Como Deus é a causa primeira, ele manteria os
respeitos do mundo à Sua majestade por
dependência e confiança.
Agora é a ambição do homem que afeta uma
independência, para ser um deus para si mesmo,
suficiente para sua própria felicidade.
Nossos primeiros pais agarraram avidamente
aquela isca: - Sereis como deuses",Gn 3.5. O diabo
não quis dizer isso em uma conformidade
abençoada, mas em uma autossuficiência
amaldiçoada; e estamos todos propensos a ser
apanhados na mesma armadilha, o que
certamente é muito doloroso pecado. Nada pode
ser mais odioso para Deus. Isso, portanto, é uma
grande parte da negação de si mesmo, para nos
livrar de outras dependências e para confiar
somente em Deus.
(2.) Como Deus é o bem supremo, ele deve ter a
mais alta estima. Valorizando outras coisas acima
de Deus é a base de todo aborto no negócio da
17
18. religião. Quando algo é honrado acima de Deus,
ou igualado a Deus, ou indulgente contra a
vontade de Deus, Dagom é armado e a arca
desmorona.
(3.) Como Deus é o senhor supremo e o mais
absoluto soberano, é sua peculiar prerrogativa
dar leis à criatura; portanto, o eu não deve se
interpor e dar leis para nós, mas somente Deus;
sua vontade deve permanecer.
O grande concurso de fato entre Deus e a criatura
é, qual vontade permanecerá: a vontade de Deus
ou a nossa; quem prescreverá para nós: o eu ou
Deus. A natureza carnal estabelece leis contra as
leis divinas, e nossas vontades carnais
estabelecem providências contra a Providência.
A obstinação é desfeita por murmurar contra a
providência de Deus, pela rebelião contra suas
leis, e quando nós somos obstinados em nossa
homenagem e obediência a nós mesmos: Jer.
18,12, vamos caminhar no caminho do nosso
próprio coração; e Jer. 44,17, tudo o que sai de
nossas bocas é o que faremos. Então, Tiago 1.14, o
apóstolo faz disso a raiz de todos os pecados
quando um homem é atraído por seus próprios
desejos e sua própria vontade, que é colocada
contra as leis de Deus. Assim, na providência,
uma criatura teimosa não se submeterá quando a
vontade de Deus é declarada. Foi uma grande
submissão e um ato de abnegação em Cristo -"Não
como eu quero, mas como tu queres"; mas o eu
18
19. diz: Não como tu queres, mas como eu quero; para
nós, murmurando, estabelecemos uma anti-
providência contra Deus.
(4.) Como Deus é o fim último de nossos seres e
ações, a causa suprema é ser o fim último: Prov.
16.4, "Deus fez todas as coisas para si mesmo." Mas
agora, em tudo que olhamos para nós mesmos; o
homem vaidoso se autoestabelece no final de
cada ação,e empurra Deus.
Em todas as ações da vida, eles são apenas uma
espécie de homenagem ao ídolo de si mesmo, se
eles comem e bebem, é para se nutrir, uma oferta
de carne e bebida oferecendo ao apetite. Se eles
oram ou louvam, é apenas para adorar a si
mesmos, para promover a reputação de si
mesmos; a coroa é tirada da cabeça de Deus, ele
não é feito o máximo fim. Se eles dão esmolas, são
um sacrifício oferecido ao ídolo da autoestima;
"Eles dão esmolas para serem vistos pelos
homens", disse Cristo, e neste ser está
estabelecido, e Deus é deposto e posto de lado.
[2.] Deixe-me dar alguns exemplos particulares.
Para exemplificar em excelências, moral ou
natural, ou no interesse civil. Em excelências
morais: retidão, que pode ser uma armadilha no
ponto de autodependência. Paulo descobriu que
era zeimian, uma perda, Fp 3.7, um obstáculo de
lançar-nos inteiramente longe da graça. É o ponto
mais alto de abnegação para um homem negar
19
20. sua própria justiça, para ver o esterco e a escória
que há nele mesmo e todas as suas excelências
morais. Assim também, no que diz respeito à
nossa própria sabedoria, isso é um eu que deve a
ser negado.
É dito à Babilônia: Isa. 47, "Teu entendimento tem
te arruinado." Assim, de todos os homens, quando
presumimos sobre nosso próprio sentido e
apreensão, logo erramos.
Este é o principal aspecto a ser considerado aqui;
pois Pedro, por sabedoria carnal, dissuade a
Cristo, e então Cristo diz, "Quem quer que venha
atrás de mim, que negue a si mesmo", negue os
ditames de sua própria razão e vontade. Aquele
que faz de seu próprio seio seu oráculo, pede o
conselho de um idiota; estaremos disputando até
que tenhamos nos afastado de toda religião: Jó
6.24, “Faça-me entender onde errei."
Até nós chegarmos a ver pela luz divina, a
sabedoria carnal está sempre produzindo
mentiras e relatos ruins da religião; pensamos
que é tolice e precisa ser rigoroso, e que tem zelo
é fúria, e é covardia e desgraça colocar de forma
errada. Ainda estaremos chamando o bem de mal,
e o mal, o bem, porque somos sábios aos nossos
próprios olhos; há uma aflição pronunciada sobre
os tais em Isa. 5.21,22: "Ai dos que são sábios a seus
próprios olhos e prudentes em seu próprio
conceito! Ai dos que são heróis para beber vinho e
valentes para misturar bebida forte,".
20
21. É um excelente ponto de abnegação que devamos
"se tornar tolos, para que sejamos sábios" - 1 Cor.
3,18. Como quando olhamos em uma perspectiva
de vidro piscamos com um olho, para vermos
mais claramente com o outro; então aqui
devemos arrancar os olhos da sabedoria carnal e
nos tornar tolos, para que possamos ser sábios
para Cristo.
Portanto, para todos os interesses civis: a vida,
que é o bem mais precioso da criatura, e ainda
não muito bom para ser negado: verso 25, Cristo
instancia - "Todo aquele que perder sua vida por
minha causa deve encontrá-la." Essa é a maneira
do evangelho de prosperar, de perder tudo por
Deus.
Agora, isso deve ser negado, não apenas em
propósito e voto, mas quando vem a julgamento;
como é dito dos santos: Ap 12.11, "Eles não amaram
suas vidas até a morte." Quando chega a hora, ou
eles devem deixar seu Deus ou perder suas vidas
por causa da religião. A benevolência de Deus é
melhor do que a vida. Portanto, para a
propriedade: Mat 19,27, "Nós deixamos tudo e te
seguimos", diz o discípulo; devemos deixar nosso
casaco, como José fez, para que possamos manter
nossa consciência íntegra. A melhor usura do
mundo; dez em cada cem seria considerada uma
opressão; mas agora aqui está cem por um,
Marcos 10.32. O mesmo ocorre com a fama e a
estima no mundo; embora para um espírito
21
22. engenhoso isso seja extremamente precioso, mas
João Batista, falando de Cristo, disse: "Ele deve
crescer, mas eu devo diminuir." Devemos nos
contentar em ser cifras, para que Cristo possa
subir para a soma maior; como um em uma
multidão que segura outro em seu ombro, ele está
perdido na multidão, mas o outro está exposto à
vista de todos.
Então aplica-se a nossos amigos: Lucas 14. 26,
"Todo aquele que não aborrece seu pai e sua mãe,"
etc. Há muitos casos em que devemos negar
nossos amigos; como supor, quando
incorreremos em seu desagrado, por fidelidade a
Cristo. Pais carnais vão desaprová-lo e, pode ser,
retirar a manutenção e outras conveniências de
vida; mas é melhor um pai terreno carrancudo do
que Deus carrancudo, será feito em relações
espirituais. Portanto, no caso de fazermos justiça
e bem, nós não devemos ter maior apreço do que
a Deus, por pai, mãe, irmãos ou irmãs. Levi foi
elogiado por isso pelo Senhor: Deut 33.9, "aquele
que disse a seu pai e a sua mãe: Nunca os vi; e não
conheceu a seus irmãos e não estimou a seus
filhos, pois guardou a tua palavra e observou a tua
aliança."
É bom ser cego e surdo para todas as relações
neste caso. Asa não poupou o seumãe, mas a
depôs, sendo idólatra.
Veja Deut 13.6-9: "6 Se teu irmão, filho de tua mãe,
ou teu filho, ou tua filha, ou a mulher do teu
22
23. amor, ou teu amigo que amas como à tua alma te
incitar em segredo, dizendo: Vamos e sirvamos a
outros deuses, que não conheceste, nem tu, nem
teus pais,
7 dentre os deuses dos povos que estão em redor de ti,
perto ou longe de ti, desde uma até à outra
extremidade da terra,
8 não concordarás com ele, nem o ouvirás; não
olharás com piedade, não o pouparás, nem o
esconderás,
9 mas, certamente, o matarás. A tua mão será a
primeira contra ele, para o matar, e depois a mão
de todo o povo.”
Estamos aptos a considerar essas regras como
calculadas para a Utopia, e ter apenas um
conhecimento gramatical delas. Assim também
para as coisas carnais: se for uma mão direita ou
um olho direito, deve ser arrancado e cortado,
Mat.5. Se for como um pecado lucrativo e tão
lucrativo quanto a mão direita é lucrativa para
nós, mas não deve ser poupado. "Devemos negar
toda impiedade", Tito 2.12, embora seja muito
agradável.
Assim, para o objeto, estende-se a todas as coisas.
(Nota do tradutor: Este mandamento em Deut
13.6-9 era para ser cumprido literalmente em
Israel no período em que vigorou a Antiga
Aliança, uma vez tendo o caso sido submetido à
avaliação dos Juízes de Israel. Com a inauguração
23
24. por Jesus da Nova Aliança que revogou a Antiga,
todos os mandamentos civis e cerimoniais da Lei
perderam a razão de sua aplicação literal, uma vez
que tudo o que se pretendia com eles, de nos
ensinar acerca do caráter de Deus, e do modo
sempre odioso com que Ele vê e julga o pecado,
foi cumprido naqueles séculos sucessivos de sua
aplicação sobre a nação de Israel. E tudo o que foi
registrado nas Escrituras tem o propósito de nos
alertar e instruir. Mas, se o cumprimento literal
dos mandamentos civis e cerimoniais foi
revogado, no entanto, não o que se deve aprender
deles quanto ao modo piedoso e santo com que
devemos andar diante do Senhor e dos homens.
A rebelião contra Deus deveria ser punida a partir
das pessoas mais queridas na relação de
parentesco para que ficasse bem evidenciado que
a rebelião contra a Sua vontade é a morte, não
apenas pelos mais queridos, mas por Aquele que é
o mais querido e amoroso de todos, a saber, o
próprio Senhor.
O propósito do ensino é líquido e certo: se não há
o temor a Deus e obediência voluntária e amorosa
a Ele, em preferência a tudo o mais que sejamos
ou tenhamos, não há qualquer sentido na vida. Na
verdade, quando nos afastamos disto o resultado
é sempre o da morte, seja ela física, espiritual ou
eterna. Cada uma delas há de se manifestar em
seu próprio tempo, sendo que a espiritual é a
24
25. condição sempre presente daqueles que estão
afastados do Senhor.
Muitos, nestes dias de grande egoísmo, de grande
iniquidade, dos quais se diz na Palavra que os
homens seriam egoístas, mais amantes dos
prazeres do que de Deus, e que pela multiplicação
da iniquidade o amor de muitos esfriaria, até
mesmo entre os crentes, aos quais cabe o dever
de se apartarem da iniquidade, não é para
duvidarmos que o grande causador de tudo isto é
um ego que não se nega, para que se faça a
vontade de Deus e não a própria, seguindo o
exemplo de tudo o que nos foi ensinado e
exemplificado por Jesus em Sua própria pessoa.
Há daqueles que até mesmo ousam determinar
coisas para que Deus faça para eles ou por eles,
como se a condição de senhorio pertencesse a
eles, sendo Deus, no modo deles de pensar e de
agir, apenas um servo sempre pronto a ser o
agente da realização dos própros sonhos e desejos
deles. Isto é visto sobretudo nas supostas orações
de poder que são efetuadas pela igreja atual de
Laodiceia.
Se Jesus tudo falava ou fazia conforme era da
vontade do Pai e revelado a Ele, estes contrariam
o princípio de se humilharem diante do Senhor,
negarem a si mesmos, buscarem conhecer a Sua
vontade, e dirigirem suas petições conforme a
instrução recebida do Espírito Santo, e segundo o
25
26. ensino e tom das Escrituras, e agem por conta
própria seguindo os comandos de sua mente
carnal, não regenerada ou não santificada, e
portanto não renovada para conhecer qual seja a
boa, perfeita e agradável vontade de Deus.)
II. Para o assunto: veja a extensão disso, atinge
todos os tipos de homens; Cristo disse,"Se alguém
vier atrás de mim, ele deve negar a si mesmo." É
notável a circunstância em Marcos, quando
Cristo dá a lição de abnegação: Marcos 8.34,
"Então, convocando a multidão e juntamente os
seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir
após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e
siga-me." Não há chamada, nem sexo, nem idade,
nem dever, nem condição de vida que seja
excluída, mas de uma forma ou de outra, eles são
postos em abnegação. Sem chamada: magistrados
e aqueles que são chamados à confiança do
público, eles são igualmente obrigados, em
relação a Deus e aos homens, a negarem a si
mesmos. É notável a abnegação de José, embora
ele fosse um grande oficial no Egito, ainda assim,
sua família administrava o mesmo lote com
outras tribos. E Josué, na divisão da terra, ele
tomou seu próprio lote e compartilhou por
último, Josué 19.49. Homens nos lugares públicos
são mais suscetíveis de atender aos interesses
privados e negligenciar o público; mas não devem
enfeitar seus ninhos com espólios públicos.
Então, para homens de postos particulares. Não é
dever apenas das pessoas públicas, todas as
26
27. condições estão sujeitas ao interesse pessoal;
muitas vezes suas chamadas privadas podem ser
contra o interesse público, seja de religião ou
previdência, como aqueles que fizeram
santuários para Diana, quando o evangelho viesse,
e provavelmente haveria reforma, Atos 19,24, eles
clamavam: "Nosso ganho terá acabado." Portanto,
neste caso, você deve contentar-se em afundar e
sofrer perdas, enquanto os elementos mais leves
descem para conservar o universo.
Ou, pode ser, que você prosperou pela iniquidade
do tráfico; agora você deve negar a si mesmo
fazendo restituição: Lucas 19.8, "Eu restituirei o
quádruplo, e darei aos pobres." A restituição é um
dever difícil, mas necessário; e você deve vomitar
seus doces pedaços com os quais você se segurou,
ou então a consciência não será saudável. E então
para outros chamados e relações: ministros e
pessoas. Os ministros, de todos os homens, eram
os que mais precisavam praticar esse dever.
Devemos negar nossos próprios fins. Quantos fins
carnais um homem pode promover por seu
serviço no ministério? Fama, aplausos, a
satisfação de nossa necessidade; não devemos
pregar a nós mesmos, mas Cristo Jesus o Senhor.
Devemos negar a nós mesmos em nosso
aprendizado e peças; somos devedores aos
eruditos e iletrados, devemos nos tornar tudo
para todos; e Cristo tem cordeiros assim como
ovelhas. Devemos nos contentar em ir dez graus
para trás, para que possamos condescender com
27
28. todos, para não voar alto em especulação;
possivelmente isso possa ser mais para nossa
fama e reputação de aprendizagem, mas menos
para lucro.
(Nota do tradutor: O único grande remédio para
curar e prevenir este mal, de não querer negar a
si mesmo, é o de não procurar fazer com
prioridade aquilo que nos agrada, mas o que é do
agrado de Deus e para a Sua exclusiva glória. O
que gostamos ou não gostamos não conta no
serviço a Cristo, mas somente aquilo que Deus
aprova e deseja.
Em suma, tudo se resume a isto:
Como seres naturais não podemos ter o governo
de Deus sobre nossas vidas, porque sendo Ele
espírito importa que sejamos também espirituais
para a comunhão real com Ele.
Como o homem natural (ego) não está sujeito a
Deus e à Sua Lei, e nem mesmo pode estar na
referida condição, então não pode haver governo
de Deus sobre seu coração, espírito e vontade, de
forma que se não nascer de novo do Espírito, e se
não se negar-se pelo carregar diário da cruz (fazer
a vontade de Deus e não a própria), por
conseguinte não pode haver qualquer fruto
espiritual real em seu viver. Onde não há o
governo de Deus em nossa vida, não temos
qualquer amor, paz, alegria, segurança e qualquer
28
29. virtude ou graça cristãs que possam ser
nomeadas.
Então o velho homem deve ser crucificado com
suas paixões, e devemos nos despojar dele todos
os dias, porque, caso contrário, a nova criatura
não se manifestará em poder e graça em nosso
viver, dando assim cumprimento à palavra do
Senhor que diz: ”Quem quiser, pois, salvar a sua
vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de
mim e do evangelho salvá-la-á.” O velho deve
morrer para que viva o novo. Quem quiser
preservar o velho não obterá o novo, e assim
permanecerá morto no seu desejo de preservar o
seu ego carnal.
São muitas e variadas as implicações espirituais
de não se autonegar. Por exemplo, o mandamento
de não nos vingarmos a nós mesmos, de nos
irarmos mas não pecarmos para que o sol não se
ponha sobre a nossa ira e nem com isso
venhamos a dar lugar ao diabo. Ou então, de ter
prazer nas injúrias, nas necessidades, nas
perseguições, por amor a Cristo, assim como o
apóstolo Paulo aprendeu a ter, quando era
esbofeteado por um mensageiro de Satanás. De
onde retirar a força, a tranquilidade, a paz para
enfrentar todas as circunstâncias em que
possamos cair, como foi o caso de Pedro, nas
armadilhas e ardis do diabo? De nós mesmos é
que temos toda a certeza e experiência, que não
provém. Não há resistência própria, sem o auxílio
29
30. da graça divina, que nos leve a vencer o diabo. O
próprio coração quando fica endurecido, por
ofensas e injúrias sofridas, sejam elas reais ou
supostas, não é suficiente para voltar à paz e ao
amor, fugindo dos grilhões que foram colocados
sobre a alma. Somente o poder da graça de Jesus
pode quebrá-los e afastar todo o mal de nós,
dando-nos a Sua paz em todas as circunstâncias. É
aqui que o exercício da fé e do arrependimento,
revelam o seu grande valor para nos fazer acessar
à promessa de libertação do pecado, do diabo e do
mundo, que temos da parte do Senhor Jesus.)
Portanto, para as pessoas: ao ouvir você deve
negar a curiosidade do ouvido, para que outros
possam tirar proveito de lições mais claras, e para
que cada um receba sua parte no tempo devido.
É uma grande parte da abnegação sofrer as
palavras de exortação. A culpa tende a recuar
quando partes sensíveis são tocadas. Agora você
deve negar a si mesmo, amar a repreensão, bem
como o conforto, e considerá-la como óleo
precioso. Considere a submissão que estava em
Ezequias quando o profeta veio com a amarga
ameaça de uma maldição que deveria se prender
à sua posteridade - "Boa é a palavra do Senhor!"
uma doce submissão de um julgamento
santificado. Is 39,8. Tudo isso foi bom porque não
deveria acontecer em seus dias. Assim também
para todos os sexos: é um dever para os homens;
não só para os homens, convocados para ações
30
31. públicas, mas para as mulheres também, elas
devem negar a si mesmas em suas delícias da
vida, para que possam exercitem-se nos graves
deveres da religião, para que não possam crescer
devassas. É necessário também em todos os
deveres; por exemplo naqueles dois grandes que
dividem e ocupam toda a vida cristã, oração e
louvor, que devem ser praticados com abnegação.
Quando viemos pela graça, devemos negar nosso
próprio mérito - Ó Senhor, não por nossa própria
justiça. E quando a graça é recebida, quando
chegamos a louvar a Deus, o eu deve desaparecer,
para que Deus possa ter todo o louvor, Mat. 16.
Quando o bom servo presta contas de sua
fidelidade, ele diz: "Não minha indústria, mas tua
libra ganhou dez libras"; ele dá tudo à graça.
Portanto, 1 Cor 15,10, o apóstolo verifica a si
mesmo, como se tivesse falado algo inacreditável
- "Trabalhei mais do que todos vocês, mas não eu,
mas a graça de Deus que estava comigo"; então
Gal. 2.20, "Eu vivo, todavia não eu, mas Cristo vive
em mim." À medida que os mais velhos jogam
suas coroas aos pés do Cordeiro, todas as nossas
excelências devem ser colocadas aos pés de
Cristo; como as estrelas desaparecem quando o
sol nasce, então não devemos nos encolher em
nada em nossos próprios pensamentos. Quando
Joabe havia conquistado Rabba, ele mandou
chamar Davi para receber a guirlanda de honra;
então quando temos feito qualquer coisa pela
31
32. graça, devemos enviar para que Cristo receba a
honra. A oração é o humilde apelo à misericórdia,
negando o mérito; e o elogio é a colocação da
coroa na cabeça de Cristo; não eu, mas a graça de
Deus que tem trabalhado em mim.
(Nota do tradutor: Como nos expressamos na nota
anterior, nada disso é conceitual, mas real, pois
não há poder onde Cristo não nos governe
segundo o Seu querer. Não há libertação real
onde Ele não a tiver operado. Sem Ele nada
podemos fazer em relação às realidades
espirituais, celestiais e divinas.
Enquanto debaixo das perplexidades que nos
causam as circunstâncias adversas, em seu início
ou quando anunciadas quanto à sua iminência,
nos sentimos como o profeta Habacuque:
“2 Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me
escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás?
3 Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a
opressão? Pois a destruição e a violência estão diante
de mim; há contendas, e o litígio se suscita.
4 Por esta causa, a lei se afrouxa, e a justiça nunca
se manifesta, porque o perverso cerca o justo, a
justiça é torcida. (Habacuque 1.2-4).
Mas quando a graça e o poder do Senhor são
manifestados em nós, dizemos juntamente com o
próprio Habacuque:
32
33. “16 Ouvi-o, e o meu íntimo se comoveu, à sua voz,
tremeram os meus lábios; entrou a podridão nos
meus ossos, e os joelhos me vacilaram, pois, em
silêncio, devo esperar o dia da angústia, que virá
contra o povo que nos acomete.
17 Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na
vide; o produto da oliveira minta, e os campos não
produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas
do aprisco, e nos currais não haja gado,
18 todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus
da minha salvação.
19 O SENHOR Deus é a minha fortaleza, e faz os
meus pés como os da corça, e me faz andar
altaneiramente.“ (Habacuque 3.16-19).
Para aplicar isso, todos os homens devem praticar
este dever da autonegação, em todas as coisas, em
todos os momentos, e com todos os seus
corações.
[1.] Todos os homens devem praticá-lo. Oh! Não
deixe isso para outros; nenhum homem pode
isentar-se. Normalmente, quando essas funções
são pressionadas, pensamos que são calculadas
para homens em grandes lugares e homens ricos;
mas é um dever que recai sobre todos, todos estão
aptos a buscar a si mesmos. Quando Cristo falou
algo sobre Pedro, é dito: "Pedro olhou em volta
para o discípulo que Jesus amava." Então, estamos
aptos a olhar para os outros. Procure por isso,
antes de morrer você será eminentemente
33
34. chamado para este serviço. Nunca nenhum
cristão saiu deste mundo, que, uma vez ou outra,
não tivesse sido provado por Deus em algum
ponto eminente de abnegação. Como se diz, Deus
provou Abraão, o provou naquele ponto difícil de
oferecer seu filho, Gn 22.1; então Cristo provou o
jovem - "Vá, venda tudo o que você tem e dê aos
pobres". Mateus 22.
[2.] Para o objeto - em todas as coisas.
Não deixe sua abnegação ser parcial e
hesitante;como Saul matou um pouco do gado,
mas poupou a gordura e a Agague. Muitos podem
negarem muitas coisas, mas relutam em entregar
tudo a Deus sem limites e reservas. Assim como
Josué depôs todos os reis de Canaã, cada luxúria
deve ser expulsa do trono. Aquele que se nega
apenas em algumas coisas,realmente ele se nega
em nada. Jeú matou os sacerdotes de Baal, mas
continuou com os bezerros em Dã e Betel, por
interesse e razões de estado. Herodes negou a si
mesmo em muitas coisas, mas não podia se
separar de sua Herodias.
[3.] Você deve negar a si mesmo sempre; não deve
ser temporário e desaparecer. Com bom humor,
podemos desistir e renunciar a tudo, e ser
humildes, e atribuir tudo à graça. Podemos
pendurar a cabeça por um dia como um junco, Isa
58. Deve haver um constante senso de nossa
indignidade mantida, e um propósito de
renunciar a tudo e desistir de tudo. (Nota do
34
35. tradutor: para um maior detalhamento disto,
recomendamos a leitura do livro de Thomas
Hooker – Preparação da Alma para Cristo, em que
podemos entender plenamente porque Deus
afirma habitar somente com aqueles que são de
espírito abatido e coração contrito.) Não é
suficiente negar o eu de um homem em uma
coisa onde não há prazer, e quando sua alma
abomina comida saborosa, mas deve ser em
coisas que são desejáveis, e isso deve ser
constantemente praticado. Acabe se humilhou
por alguns dias.
[4.] Deve ser de todo o nosso coração. O que
significa que não deve ser feito por uma mera
restrição da providência, como um marinheiro
em uma tempestade joga fora seus bens por força,
mas quando a noiva sai da casa do pai: Salmo
45,10, "Esqueça a casa do teu pai"; deve ser por um
princípio de graça e por amor a Cristo.
Agora, você não deve fazer isso politicamente,
mas com todo o seu coração. Não existe um
grande eu buscando como geralmente ocorre sob
a cor da abnegação. Como o apóstolo fala de
alguns, 2 Cor 11,12, que pregaria o evangelho
livremente, para envergonhar e lançar desprezo
sobre Paulo. O diabo se disfarça em todas as
formas. Quando Jacó vestiu as roupas de Esaú
para que ele pudesse parecer áspero e peludo, e
assim obter a benção de seu pai; tantos parecem
negar-se aos confortos da vida, mas é senão para
35
36. seu próprio elogio. Os fariseus eram generosos
nas esmolas; eles poderiam negar-se dando, o que
outros não podiam fazer; mas era para serem
vistos pelos homens. Portanto, essa abnegação
não deve ser egoísta, realizada sob um
pretexto,pois isso é abominável para Deus. Assim,
concluímos a parte para a extensão do dever.
Nota do tradutor: Na segunda parte estaremos
apresentando os capítulos intitulados Os Motivos
da Autonegação; e Notas e Sinais da Autonegação.
36