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FREI DAMIÃO DE BOZZANO
Missionário Capuchinho
EM DEFESA
DA FÉ
3a. Edição 6o. milheiro
__________________
EDIÇÕES PAULINAS
RECIFE
1 955
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Frei Damião de Bozzano
Missionário Capuchinho
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Nihil obstat
Recife, 20 de agosto de 1953
Frei Tito de Piegaio, ofmcap
CENSOR AD HOC
]
Imprimatur
Recife, 20 de agosto de 1953
Frei Otávio de Terrinca ofmcap
CUSTÓDIO PROVINCIAL
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PREFÁCIO
EM DEFESA DA FE, é um sugestivo titulo o livro que Frei Damião de Bozzano dá à
publicidade como lembrança de suas inúmeras e fecundas Santas Missões pregadas no
decurso de vinte longos anos nas capitais e no interior do Nordeste brasileiro.
Lendo o presente trabalho temos a impressão de ver realmente a bondosa o
austera figura do grande Capuchinho e ouvir o tom profético de suas candentes
apóstrofes aos pecadores, amancebados, adúlteros, protestantes, espíritas, acenando-
lhes com voz vibrante a consequência inevitável de suas vidas transviadas: O Inferno.
Laureado na Universidade Gregoriana de Roma, em Teologia Dogmática e Filosofia,
Bacharel em Direito Canônico e por vários anos erudito professor de Sagrada Escritura,
Frei Damião, usando de uma linguagem simples, compreensível, adaptada à população
provinciana, é realmente admirável na lógica cerrada de sua argumentação e nas
conclusões sempre claras e ao alcance de todos.
Além da firmeza de doutrina, da lógica impecável a da simplicidade de forma, há
ainda, neste livro outra qualidade de inestimável valor e que constituo a sua alma: A fé
inabalável e a virtude dos santos.
Sua virtude verdadeiramente excepcional, que é o segredo da eficácia de suas
missões, perfuma todas as páginas. esclarece todos os argumentos, fortalece todas as
conclusões e se transforma em poderoso motivo para a nossa adesão às verdades que
defende com tanta convicção e clareza.
É que sua vida, seus exemplos, suas palavras são a melhor demonstração das
verdades que prega.
EM DEFESA DA FÉ é pois um livro precioso que fala à inteligência e ao coração,
destinado a opor um dique intransponível à onda avassaladora do corrução com que a
heresia do Lutero ameaça as mais esplêndidas tradições do Brasil católico.
É assim que Frei Damião, visando unicamente o bem das almas, multiplica-se a si
mesmo, perpetuando no tempo e no espaço as suas grandes missões em defesa da fé
que cimentou os alicerces da nacionalidade e que recebemos, como preciosa herança,
dos nossos antepassados, para construir na solidez dos seus princípios a felicidade do
nosso futuro.
Recife, 20 do agosto de 1953.
FREI OTÁVIO DE TERRINCA, ofmcap.
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I
A verdadeira regra de fé
Regra de Fé: Meio lógico, objetivo, pelo qual podemos conhecer as verdades
reveladas por Deus.
Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou ao mundo a sua doutrina, exigindo que todos a
abraçassem sob pena de condenação eterna. Logo nos deve ter deixado um meio fácil
e seguro para conhecermos esta doutrina.
Qual este meio?
Segundo os protestantes é a Bíblia tal qual é compreendida por cada indivíduo,
ignorante ou douto.
Segundo os católicos, é um magistério vivo, infalível, autêntico, isto é, a igreja
docente, constituída por Jesus Cristo depositária das verdades reveladas. E as fontes,
onde essa igreja vai haurir os ensinamentos de Jesus Cristo são a Bíblia e a Tradição.
Onde a razão? Vejamo-lo. Neste capítulo vamos apenas provar a tese católica.
a) Dizemos, antes de tudo, que Jesus, para dar conhecer ao mundo sua doutrina,
constituiu um magistério vivo, isto é, escolheu certo número de homens, aos quais
confiou o munus e o oficio de pregar a sua doutrina, obrigando todo o mundo a neles
crer. Eis as provas:
"Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide pois, instrui as
gentes....ensinando-as a observar tudo que vos mandei; e eis que estou convosco
todos os dias até a consumação dos séculos".(Mt. 28,18).
Ainda mais: "Ide, pregai o evangelho por todo o mundo. Quem crer e for batizado
será salvo, quem não crer será condenado". (Mc 10,16 )."
"Quem vos ouve, a mim ouve. Quem vos rejeita, a mim rejeita, e quem me rejeita,
rejeita aquele que me enviou". (Lc. 10 16).
Por estas palavras deu aos apóstolos e somente a eles o oficio de pregarem o seu
Evangelho; de fato, quando se tratou de colocar Matias no lugar de Judas que tinha
prevaricado, afim de que pudesse pregar o Evangelho com os demais apóstolos,
recorreu-se a uma eleição. (Atos 1, 23 ). Ora, esta não teria sido necessária, se Jesus
tivesse a todos os cristãos o oficio de pregar o Evangelho, pois Matias, já mesmo antes
da eleição, era cristão, discípulo de Cristo.
Se, pois, foi preciso uma eleição, quer isto dizer que Jesus Cristo confiou somente
aos apóstolos o oficio de pregar o seu Evangelho.
E os apóstolos compreenderam dessa maneira as palavras de Jesus, isto é, que Ele
lhes tinha imposto o munus e o oficio de pregar a sua doutrina. Por isso S. Marcos
acrescenta: "Eles, os apóstolos, partiram e pregaram por toda a parte ". (Mc 16, 20).
Eis, pois, o meio escolhido por Nosso Senhor para difundir sua doutrina: O
magistério dos apóstolos; eles devem ensinar, pregar esta doutrina e todo o mundo
deve acreditar nos seus ensinamentos.
b) Dizemos, além disso, que este magistério vivo, por vontade de Jesus, devia durar
até o fim dos séculos, ou por outras palavras, este munus, este oficio, que os discípulos
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receberam, não devia acabar com a morte deles, mas devia ser transmitido aos seus
sucessores.
Com efeito Jesus diz: "foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide pois, instrui
todas as gentes.... ensinando-as a observar tudo que vos mandei. E eis que estou
convosco todos os dias até a consumação dos séculos"(Mt. 28,18).
Mas não sabia Nosso Senhor que os apóstolos não poderiam ficar neste mundo até
o fim dos séculos, para ensinar a todas as gentes a sua doutrina? Sem dúvida o sabia.
Portanto, ele aqui falou aos apóstolos, como a pessoas que deveriam ter sucessores
até o fim dos séculos, para ensinar a todas as gentes a sua doutrina
E os apóstolos, fiéis executores do pensamento do divino Mestre, tinham cuidado
de deixar quem continuasse seu magistério. Por isso S. Paulo escreve a Timóteo: "O
que de mim ouviste por muitas testemunhas, ensina-o a homens fiéis, que se tornem
idôneos para ensinar a outros". ( IITim 2,2 ).
c) Dizemos, enfim, que este magistério vivo, é infalível, isto é, não pode ensinar erro
algum sobre a fé ou sobre a moral.
__
Com efeito, consideramos as palavras evangélicas:
"Foi-me dado, diz Jesus, todo o poder no céu e na terra. Ide pois, instrui todas as
gentes.... ensinando-as a observar tudo que vos mandei. E e eis que estou convosco
todos os dias até a consumação dos séculos". (Mt. 28,18).
Como vemos, Jesus aqui impõe aos apóstolos e aos seus sucessores ensinar tudo o
que Ele ensinou e ensiná-lo até o fim dos séculos. E como esta fora uma empresa
superior a simples forças humanas, promete-lhes a assistência onipotente.
Ora, será possível que um magistério, assistido pela própria verdade que é Cristo,
possa errar? Não é possível.
Portanto, a igreja, assistida por Cristo, é infalível.
Jesus diz ainda: "Quem vos ouve, a mim ouve. Quem vos rejeita, a mim rejeita, e
quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou". (Lc 10, 16).
Porventura, ouvir a Jesus, não é ouvir ensinamentos infalíveis?
Ora, ele afirma que aquele que ouve os apóstolos e aos seus sucessores, isto é, à
Igreja docente, o ouve a Ele mesmo.
Portanto, quem ouve a Igreja, ouve ensinamentos infalíveis.
__
O mesmo repete Jesus naquela passagem que lemos em S. João (14 16 e 26 ) "Eu
rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco,
o Espírito de verdade... Ele vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo que vos
tenho dito".
Pois bem, é possível o erro onde está o Espírito da verdade, que ensina e recorda
tudo o que Jesus tem ensinado? Impossível.
Ora, Jesus afirma que o Espírito da verdade ficará eternamente com os apóstolos e
seus sucessores e ensinará e recordará tudo o que ele tem ensinado.
Portanto com os apóstolos e com os seus sucessores não pode estar o erro, logo são
infalíveis.
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__
Finalmente Jesus diz: "Ide, pregai o evangelho por todo o mundo, quem crer, e
for batizado será salvo, quem não crer será condenado."(Mt 16,15).
Ora, pergunto eu, será possível que Deus imponha ao mundo acreditar no erro sob
pena de condenação eterna? Não: isto repugnaria à sua justiça, à sua santidade, à sua
veracidade.
Portando, Jesus impondo ao mundo a obrigação de acreditar no que ensina a Igreja
sobe pena de condenação eterna, ao mesmo tempo dava a esta mesma Igreja a
infalibilidade, afim de que nunca pudesse errar.
Tudo isto é confirmado pelo Apóstolo S. Paulo quando chama a igreja: "Coluna e
sustentáculo da verdade ". (Tim. 3,15).
É claro, com efeito, que a Igreja não poderia ser coluna e alicerce da verdade se
ensinasse o erro e a superstição.
Eis portanto, provada pela Bíblia a primeira parte da tese católica.

Passemos a provar a segunda parte que sustenta serem duas as fontes, onde a
Igreja vai haurir os ensinamentos de Jesus: a Divina Escritura e a Tradição.
A Divina Escritura, é a palavra de Deus contidas nos livros por Ele inspirados.
Chama-se também Bíblia, que significa: livro dos livros, livro por excelência.
A Tradição é também a palavra de Deus que não foi escrita, mas ensinada de viva
voz por Jesus e pelos Apóstolos.
Existe esta tradição, ou por outras palavras, existem verdades reveladas que não se
acham contidas na Bíblia? Existem. A própria Bíblia o declara. Eis, por exemplo, como
fala S. Paulo na 2° epístola aos Tess 2,4: "Estai firmes, irmãos, e conservai as tradições
que aprendestes de viva voz ou por epístola nossa".
E no cap. 3,6 acrescenta: "Nós vos prescrevemos, em nome de N. S. Jesus Cristo,
que vos aparteis de todos os irmãos que andam desordenadamente e não segundo a
tradição receberam de nós".
E na 2° epístola a Tim escreve: "O que de mim ouvistes por muitas testemunhas,
ensina-o a homens fiéis, que se tornem idôneos para ensinar a outros".
E no capítulo 1, 13 exorta ao mesmo Timóteo:
"Toma por modelo as Santas Palavras que me tens ouvido na fé."
E na 1° epístola aos Cor 11,2, congratula-se com os fiéis, porque haviam conservado
as suas instruções: "Eu vos louvo, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim e
guardais as minhas instruções, como eu vo-las ensinei". De que instruções fala aqui o
Apóstolo? Sem dúvida, fala de instruções dadas de viva voz, já que era esta a primeira
epístola que lhes enviava.
Como S. Paulo, assim também fala S. João, quando diz no seu evangelho: "Muitas
outras coisas há que fez Jesus, se elas fossem escritas uma por uma, suponho que nem
no mundo inteiro caberiam os livros que se escrevessem". (Jo 21,25 ) e quando,
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concluindo as suas ultimas epístolas, diz claramente que não quis confiar tudo à tinta e
ao papel, deixando para fazê-lo de viva voz.
Os textos citados e outros, que poderíamos alegar nos demonstram que nem tudo o
que ensinaram Jesus e os Apóstolos, foi escrito: há verdade que ensinaram de viva voz;
e por isso mesmo a tradição existe. Com razão, pois, a igreja vai haurir os
ensinamentos de Jesus na Divina Escritura e na Tradição.
II
REGRA DE FÉ PROTESTANTE
REGRA DE FÉ: Meio estabelecido por Nosso Senhor, para dar a conhecer ao mundo
a sua Doutrina.
No capítulo precedente demonstramos que esse meio é um magistério vivo,
autêntico, infalível, isto é, a Igreja Docente; e demonstramos também que as fontes,
onde essa igreja vai haurir os ensinamentos de Cristo, são a Divina Escritura e a
Tradição.
Os protestantes, porém, não concordam conosco: segundo eles a única regra de fé
é a Bíblia, tal qual é compreendida por cada indivíduo, seja, ignorante ou sábio.
Portanto não há Tradição, isto é, verdades de fé ensinadas somente de viva voz;
tudo o que nosso senhor ensinou se acha na Bíblia. Nem há um magistério vivo,
infalível, que tenha direito de interpretar a Bíblia e de impor aos outros sua
interpretação: Cada qual pode interpretá-la como entender.

Vamos refutar essa doutrina.
Os protestantes dizem, em primeiro lugar, que o meio, pelo qual podemos conhecer
a doutrina de Nosso Senhor é tão somente a Bíblia.
Respondo:
__
Se assim fosse, dever-se-ia encontrar na Bíblia essa verdade, visto como seria de
suma importância conhecê-la.
Ora, pelo contrário, ninguém até hoje encontrou nem jamais encontrará, porque na
Bíblia não figura.
É, pois, esta uma afirmação gratuita dos protestantes.
__
Se Nosso Senhor pretendesse nos deixar a Bíblia como Regra de fé, isto é, como
meio para conhecermos a sua doutrina, deveria ter dito aos Apóstolos:
Ide, escrevei Bíblias para todas as nações; pelo contrário disse: "Ide por todo o
mundo, pregai o evangelho a toda criatura". (Mc 16,15).
Não foi, pois, sua intenção deixar-nos a Bíblia como Regra de fé.
E confirmou-o também com exemplo.
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Com efeito, quando Saulo na estrada de Damasco, lhe perguntou: __
Senhor, que
queres tu que eu faça? __
Ele não respondeu: "Lê a Bíblia", e sim:
__
Levanta-te, entra na cidade e ai te será dito o que deves fazer. (Atos 9,7).
__
S. Paulo falava da mesma forma na sua epístola aos romanos. (Rm 10, 14).
"Sem fé, diz ele, é impossível agradar a Deus".
Mas qual o meio para chegar à fé?
A Bíblia? Não. É a pregação dos que foram enviados a pregar. E conclui: "Logo a fé
pelo ouvido e o ouvido pela palavra de Cristo."
__
De resto a própria razão nos diz que Jesus não podia deixar-nos a Bíblia como
única Regra de fé.
De fato, ele quer que todos os homens conheçam e professem a sua doutrina. Mas
se para isso, fosse necessária a leitura da Bíblia, como poderia então os analfabetos e
os que não podem comprar uma Bíblia, conhecer e professar a doutrina de Jesus
Cristo?
Todos estes (e são maior parte do gênero humano) não poderiam ser cristãos.
Não digam os protestantes que, que é bastante para os analfabetos que seus
pastores lhes leiam e expliquem a Bíblia. Essas explicações, segundo a doutrina dos
protestantes, não passam de opiniões individuais, que não tem autoridade alguma e
variam segundo o capricho de cada um. Não são a palavra de Deus, e sim a palavra de
Fulano, de Beltrano, de Sicrano.
Por isso, repito-o, se fosse verdade, como dizem os protestantes, que o único meio,
para chegarmos à fé, é leitura da Bíblia, os analfabetos nunca poderiam ser cristãos.
Será possível que Jesus tenha estabelecido este meio para nos dar a conhecer a sua
doutrina?
Além disso, se a Bíblia fosse a única Regra de fé, como poderíamos conhecer com
certeza qual é o verdadeiro sentido dos passos difíceis?
Por exemplo: Quanto às palavras, com que Jesus instituiu à Santíssima Eucaristia, a
Igreja Católica da uma explicação, e as seitas protestantes dão, pelo menos duzentas,
cada uma sustentando que a sua é verdadeira.
Agora quem é que tem razão? Pela Bíblia é impossível resolver a questão, pois a
Bíblia é muda e a ninguém diz: Tu enxergas o verdadeiro sentido de minhas palavras e
todos os outros estão no erro.
Portanto, se a Bíblia fosse a única regra de fé, não poderíamos conhecer com
certeza o verdadeiro sentido dos passos difíceis da mesma.
Mas Jesus quer que conheçamos com certeza toda sua doutrina, todas as verdades
que Ele ensinou, tanto as fáceis, como as difíceis. É impossível, pois que nos tenham
deixado a Bíblia como Regra de fé.

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Em segundo lugar dizem os protestantes que não existe a tradição: Todas as
verdades reveladas se acham na Bíblia.
Mas quais são as razões que alegam para provar essa asserção?
Ouçamo-las e vejamos quanto valem.
S. Paulo na sua 2° Epístola a Timóteo (3, 15) diz que "todas as Escrituras são úteis e
que elas podem instruir para a salvação".
Resp. __
Se o referido texto dissesse, que a Escritura só, torna o homem instruído
em todas as coisas necessárias para a salvação, então sim, a objeção seria irrefutável;
mas dizendo simplesmente:
"Todas as Escrituras são úteis e que elas podem instruir para a salvação" não exclui
que a Tradição o seja da mesma forma.
Mas replicam, __
é certo que Jesus em Mc 7,13 e Mt 15,3 rejeita a tradição dizendo:
"E vós também, porque transgredis o mandamento de Deus pela vossa tradição?"
"Em vão, pois me honram, ensinando doutrina e mandamentos que vem dos
homens".
Os referidos textos nada provam contra a tradição: pois Jesus rejeita as doutrinas e
os mandamentos que vêm dos homens, que são feitos pelos homens. sem que
tivessem autoridade para fazê-los.
Ora, pelo contrário, a tradição que para a qual apela a Igreja Católica e que ela
reconhece como segunda fonte de verdade revelada, não contém doutrinas e
mandamentos que vêm dos homens, mas do próprio Deus; pois a tradição no sentido
católico é: Certas verdades reveladas que Jesus Cristo e os Apóstolos ensinaram de
viva voz e não por escrito e que, por isso mesmo, não se acham na Bíblia.
Mas insistem os protestantes: "Não escreveu Moisés (Pen 4,2): "Não acrescenteis
nada ao que vos digo"? __
Não escreveu S. João no Apocalipse (22,18) "Se alguém
acrescentar uma palavra a estas coisas, que Deus faça cair sobre ele os flagelos
descritos nesse livro?" Não escreveu S. Paulo (Gal 1,8). "Mas ainda que nós mesmos ou
um anjo do céu vos anuncie um evangelho diferente do que vos anunciamos, que seja
anátema"?
Resp.-- Sim, escreveram tudo isto. Esses textos porém, nada provam contra a
tradição, afirmam somente que a divina Escritura não deve ser adulterada.
Como estas, assim também são as outras razões que os protestantes alegam contra
a tradição, razões nada valem em si mesmas; e por isso bem podemos dizer que é
outra afirmação gratuita dos protestantes o não existir a tradição.
Afirmação gratuita? Não só. Mas também afirmação contrária à realidade.
Com efeito, se fosse verdade que tudo o que Jesus e os apóstolos ensinaram se
acha na Bíblia e que, consequentemente, não existe tradição, na Bíblia deveríamos
encontrar quantos e quais são os livros inspirados, pois são ambas verdades reveladas.
Mas onde se encontram?
Já dirigi esta pergunta a um pastor protestante e como resposta alegou ele o texto:
"Toda a Escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, para repreender, para
corrigir, para formar na justiça (II Tim 3, 16 ).
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Ora, cada qual pode ver que o texto acima não vem ao caso. Se S. Paulo tivesse dito:
"Toda Escritura que se compõe de tais livros e tantos livros etc." então sim,
poderíamos por esse texto conhecer quais e quantos são os livros, que compõe a
Bíblia. Mas tendo dito simplesmente "Toda escritura divinamente inspirada é útil, etc."
é necessário procurar em outra parte quais e quantos são os livros inspirados. Onde?
Na Bíblia? Não, na Bíblia não figuram estas duas verdades. Devemos procurá-las na
tradição; só ela diz quais e quantos são os livros inspirados; e portanto, existem
verdades reveladas que não se acham na Bíblia, que é como dizer: A tradição existe.
Poderíamos também acrescentar que a afirmação dos protestantes, além de ser
gratuita é contrária à realidade, é também contrária aos ensinamentos claros da Bíblia,
visto que a Bíblia fala em tradição.
Dispenso-me, porém, de alegar textos como prova disto, tendo-os alegado na
exposição da tese católica.

Por fim dizem os protestantes que cada qual tem o direito de interpretar a Bíblia
conforme entender.
Mas também isto como podem demonstrá-lo?
Sei que alegam as palavras que lemos no cap. 5, 39 de S. João: "Examinai as
Escrituras, pois julgais ter nelas a salvação..."
Note-se, porém, que as alegam adulteradas, visto que Jesus não diz: "Examinai as
Escrituras..." e sim: "Vós examinais as Escrituras..." Portanto estas palavras não
contem uma ordem, como querem os protestantes, mas apenas indicam, enunciam
um fato. Os hebreus não queriam reconhecê-Lo como o enviado de Deus; então Jesus,
para lhes mostrar que era verdadeiramente o Messias, apela para o testemunho do
Pai, para o testemunho de S. João Batista, para o testemunho das obras que cumpriu
e, por fim como argumento ad hominem, diz: "Vós examinais as Escrituras, julgando
ter nelas a salvação, pois bem, são elas que dão testemunho de mim".
Qualquer pessoa pode reconhecer que Jesus aqui a ninguém impõe um preceito de
ler as Escrituras e de interpretá-las como entender.
Bem longe de dar esse direito, reprova-o pela boca de S. Pedro.
De fato S. Pedro (II Epis 1, 19 ) depois de ter recomendado... etc.. a leitura e a
meditação da Sagrada Escritura, acrescenta logo que ninguém deve ter a pretensão de
a interpretar por autoridade própria. Tendo a Deus por autor só Deus pode explicar o
seu verdadeiro sentido.
De que maneira o explica? por meio de sua Igreja, como provamos na tese católica.
O que é confirmado também pelo exemplo que lemos nos Atos dos Apóstolos (Cap.
15). Os judeus e os habitantes da Antioquia, fiando-se na sua própria razão, julgavam a
circuncisão necessária. Saulo e Barnabé pensavam de outro modo.
Apelaram para o livre exame, ou para a Bíblia interpretada por particulares? Não.
Enviaram uma deputação, com Saulo e Barnabé, para consultar os pastores da Igreja
em Jerusalém e estes decidiram a questão sob a inspiração do Espírito Santo.
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__
Mas não é preciso acrescentar argumentos, para provar que os protestantes não
tem razão em sustentar que cada qual tem o direito de explicar a Bíblia como
entender: o próprio bom senso repele esse absurdo.
Explicar-me-ei com uma comparação:
O Brasil tem seu códigos de leis. Todos podem ler esse código.
Mas quem é que o pode interpretar autenticamente?
Por exemplo: nasce uma questão entre Fulano e Sicrano. Fulano exige para si uma
herança, interpretando de uma forma a lei do código civil; Sicrano também exige para
si a mesma herança, interpretando de outra forma a mesma lei.
Agora quem é que pode resolver a questão e dizer: A lei deve ser interpretada assim
e assim; portanto a herança pertence a Fulano e não a Sicrano?
É um pessoa qualquer ou é um Tribunal, uma autoridade legitimamente
constituída? Até um menino me responderia que é um Tribunal, visto que a razão
demonstra que, se um legislador deixasse as suas leis à livre interpretação de todos os
cidadãos, poria a desordem e a confusão no seu país.
Pois bem, a Bíblia é o código de Deus. Teria Ele deixado esse código à livre
interpretação de todos? Nesse caso seria menos sábio que qualquer legislador
humano. Sendo pelo, contrário, infinitamente mais sábio do que todos os legisladores,
a própria razão nos diz que é impossível que tenha deixado a Bíblia à livre
interpretação de todos.
__
Para melhor compreensão disto, veja-se a que tristes consequências já tem
levado no passado e ainda pode levar no futuro a livre interpretação da Bíblia.
Os anabatistas de Musnter, e depois deles muitos outros, das palavras do Senhor:
"Crescei e multiplicai-vos" tiraram como conclusão necessária a legitimidade da
poligamia. Foi baseado, não sei em que passagem da Bíblia, que Lutero permitiu a
Filipe de Hessem ter duas mulheres ao mesmo tempo. João de Leyde descobriu, lendo
a Bíblia, que devia desposar onze mulheres ao mesmo tempo. Hermann ali descobriu
que ele era o Messias enviado por Deus. Nicolau, que tudo o que tem relação com a fé
é desnecessário, e que se deve viver em pecado afim de que a graça superabunde:
Sympson, que se deve andar nu pelas ruas para convencer os ricos que devem ser
despojados de tudo.
E, para dizermos tudo numa palavra, não há crime e abominação que não tenha
encontrado sua pretendida justificação em qualquer texto da Bíblia interpretado pelo
espírito privado, fora da autoridade tutelar da Igreja Católica.
Façamos aqui ponto e seja essa a nossa conclusão: A única regra de fé não é a
Bíblia, interpretada como cada qual entender. A única regra de fé é o magistério da
Igreja; e as fontes, onde ela vai haurir os ensinamentos de Jesus, são a Bíblia e a
Tradição.
Felizes os que seguem esta Doutrina.
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III
A VERDADEIRA IGREJA
Já vimos que, para conhecer a doutrina de Jesus Cristo, devemos ouvir a sua Igreja,
e não simplesmente folhear a Bíblia, interpretando-a livremente, como pretendem os
protestantes.
Mas qual a verdadeira Igreja fundada por Nosso Senhor?
A nossa, isto é, a Igreja governada por Pedro sempre vivente nos seus legítimos
sucessores, que são os Papas.
Para que apareça claramente essa verdade, é necessário provar três pontos:
I - Que Jesus Cristo fundou a sua Igreja e entregou seu governo a Pedro.
II- Que foi vontade de Jesus que Pedro transmitisse o governo da Igreja a seus
sucessores.
III- Que os sucessores de Pedro são os Papas.
Neste capítulo vou demonstrar o primeiro ponto, cujas provas são claras no
Evangelho, a não ser que alguém queira por si mesmo enganar-se.
a) A primeira nos é oferecida pelas palavras que N. Senhor dirigiu a S. Pedro após
ter Ele confessado a sua divindade.
"Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela". ( Mt 16,18 )
Observai:
Ele compara a sua Igreja, isto é, a sociedade cristã, a um edifício e diz que o
fundamento, a pedra sobre a qual construirá este edifício, será Pedro.
Ora, o que é o fundamento de uma sociedade, ou, por outras palavras, o que é que
sustenta, conserva e rege uma sociedade, assim como o fundamento conserva,
sustenta e rege um edifício?
É o poder, a autoridade suprema.
Tirai, por exemplo, o poder central que nos rege, e esta sociedade política, que se
chama Brasil se desmorona, acaba-se.
Até mesmo uma família, que é uma sociedade tão pequena, exige um chefe que
governe; se numa família o pai quiser uma coisa, a mãe outra, e os filhos se negarem a
obedecer, aquela família se tornará uma verdadeira Babel.
É, pois, certo que o fundamento de uma sociedade é o poder, a autoridade
suprema.
Portanto, dizendo Jesus a Pedro que o constituiria pedra fundamental da sua Igreja,
outra coisa não lhe quis dizer senão que lhe entregaria a autoridade suprema nesta
Igreja.
Mas, dizem os protestantes, a pedra sobre a qual foi edificada a Igreja é o próprio
Cristo.
Ninguém jamais contestou, visto que a própria Bíblia afirma o afirma claramente.
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Mas não é esse o ponto da controvérsia.
Trata-se de conhecer se também Simão Pedro, por vontade de Jesus Cristo, é a
Pedra fundamental da sua Igreja.
Ora, o texto Evangélico não deixa dúvida alguma a respeito, porque, note-se bem,
Jesus falou a Pedro em aramaico e as palavras que lhe dirigiu, traduzidas ao pé da
letra, diriam: "Tu és um rochedo e sobre este rochedo edificarei a minha Igreja".
Palavras estas que nos fazem compreender claramente que o rochedo, sobre o qual
quis Jesus edificar a sua Igreja é o próprio Pedro.
Para melhor compreensão disto, vou alegar a comparação de um autor moderno:
__
Eu digo: O Corcovado é um rochedo e sobre este rochedo foi levantado um
monumento a Cristo Redentor. __
Como se entende essa proposição? Acaso o rochedo
sobre o qual foi levantado um monumento a Cristo Redentor, não é o próprio
Corcovado?
Pois bem, o texto evangélico é do mesmo feitio. Jesus disse a São Pedro: Tu és
rochedo e sobre este rochedo edificarei a minha Igreja.
Não há, pois, dúvida alguma: O rochedo aqui é Pedro.
E se Pedro é o rochedo da Igreja, repito-o, nela tem poder supremo, visto que o
poder é o fundamento, o rochedo que sustenta e conserva a sociedade.
Nem se diga que nesse caso há contradição na Sagrada Escritura, afirmando em
outro lugar que a pedra fundamental da Igreja é Jesus Cristo, pois não é no mesmo
sentido que isto se diz de Jesus e de Pedro. Jesus é a pedra fundamental por essência,
Simão Pedro por participação; Jesus, pedra invisível, Simão, pedra visível.
b) E tanto é este o sentido do Salvador, que Ele mesmo o exprime por outros
termos não menos significativos:
"Dar-te-ei, diz Ele ainda a S. Pedro, as chaves do reino dos céus".
Jesus chama freqüentemente a sua Iigreja __
reino dos céus __
porque fundou essa
sociedade para conduzir os homens ao reino dos céus, e afirma aqui que entregará as
chaves deste reino a Pedro.
Com isto que quer significar?
Quer dizer que lhe entregará o governo deste reino.
De fato, que recebe as chaves, fica encarregado da inspeção, cuidado e governo das
coisas que elas guardam. Se eu, por exemplo, querendo sair para longe, entrego as
chaves de minha casa a um amigo, por este mesmo ato o encarrego do cuidado e
governo da mesma.
Ora, Jesus afirma que entregará a Pedro as chaves do reino dos céus, isto é, da sua
Igreja. Logo afirma que lhe entregará o cuidado, o governo dessa Igreja.
c) E como para dissipar toda dúvida, explicando ainda melhor o seu pensamento,
Jesus acrescenta: Tudo o que ligares na terra, será também ligado no céu, e tudo o que
desligares na terra, será desligado também no céu.
Ter poder de ligar e desligar numa sociedade, significa ter nela o poder de fazer leis;
pois toda lei impõe uma obrigação e toda obrigação é um liame da consciência.
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Jesus prometendo, portanto, a Pedro o poder de ligar e desligar na sua Igreja, lhe
prometeu o poder de nela fazer leis.
Mas notai: Pedro pode fazer todas as leis que quiser, sem que seja possível que
outro poder humano as anule, visto que serão ratificadas no céu: "Tudo o que ligares
na terra o será também no céu".
Ora, pergunto eu, quem é que numa sociedade pode assim fazer leis, senão quem
tem a autoridade suprema?
Logo Pedro tem esta autoridade na Igreja de Cristo.
Mas, dirá alguém, não deu Nosso Senhor este mesmo poder de ligar e desligar a
todos os apóstolos? (Mt 18,18).
Sim, é preciso, porém, notar que a nenhum dos demais Apóstolos disse Jesus em
singular: "Tudo o que ligares na terra, será também ligado no céu", mas dirigiu estas
palavras a todos eles juntamente com Pedro, que já tinha designado como chefe.
Com ele podem, portanto, ligar e desligar na Igreja, mas não o podem sem ele,
independentemente dele.
Nosso Senhor, depois de Ter prometido a Pedro a autoridade suprema na Igreja,
lh'a entrega, dizendo-lhe:
"Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas". (Jo 21, 16 ).
__
Os cordeiros, como explicam os sagrados intérpretes, são os simples fiéis; as
ovelhas, os sacerdotes, pois assim como as ovelhas dão a vida aos cordeiros, do
mesmo modo os sacerdotes dão a vida espiritual aos fiéis por meio dos Sacramentos e
da pregação do Evangelho.
Portanto, como vedes, Pedro recebe o encargo de apascentar todo o rebanho de
Cristo, tanto os cordeiros, como as ovelhas, isto é, tanto os simples fiéis, como os
sacerdotes.
Pois bem, apascentar um rebanho, não é porventura, o mesmo que o dirigir,
conduzir e governar?
Logo, recebendo Pedro o encargo de apascentar todo o rebanho de Cristo, recebe o
encargo de dirigi-lo, conduzi-lo e governá-lo; e, por conseguinte, é o príncipe, o
soberano, o chefe supremo desse rebanho.
Por estas palavras, dizem os protestantes, Jesus quis apenas substituir a Pedro o
privilégio de Apóstolo que tinha perdido pela sua tríplice negação na casa de Caifás.
Resp. __
Onde se encontra que Pedro, negando a Jesus, perdeu o privilégio de
Apóstolo? No evangelho não figura.
Todavia, mesmo admitindo esta suposição gratuita dos protestantes, respondemos
que Pedro já tinha sido reintegrado no apostolado antes que recebesse o encargo de
apascentar o rebanho de Jesus, visto que a Ele também no dia da ressurreição, Nosso
Senhor dirigiu estas palavras: "Como o Pai me enviou a mim, assim também eu vos
envio a vós". (Jo 20, 21).
__
Mas, afinal, insistem ainda os protestantes, quando Nosso Senhor disse a S.
Pedro: "Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas", quis lher dizer:
"apascenta o meu rebanho, ensinando-lhe a minha doutrina.
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Resp. No texto original grego, além da palavra "boske" que significa: apascenta,
alimenta; há também "poimane tá prôbata mou" que em nossa língua se traduz:
apascenta com império as minhas ovelhas.
Não há, pois, dúvida alguma: por estas palavras Nosso Senhor entregou todo o
rebanho a Pedro e, por conseguinte, o constituiu seu chefe supremo.
E Pedro cônscio da sua autoridade, agiu como chefe supremo da Igreja:
__
No cenáculo é ele quem ordena preencher com a eleição de Matias a vaga aberta
no Colégio dos Apóstolos pela traição de Judas. (Act 1, 13).
__
No dia de Pentecostes é ele quem fala ao publico e promulga a lei da graça. (Act
2, 14).
No Sinédrio é ele quem defende o colégio apostólico perante os príncipes dos
sacerdotes. (Act 5, 29 ).
Ele é o primeiro a percorrer e visitar as Igrejas perseguidas (Act 9, 25); a ensinar a
admissão dos pagãos ao batismo (Act. 10, 11); a infligir castigos, ferindo de morte
Ananias e Safira e excomungando Simão, o mágico (Act 5, 1-8, 20).
E no Concílio de Jerusalém, celebrado pelos Apóstolos, quem preside e põe termo
às discussões, definindo a doutrina que se deve seguir? É Pedro.
Ele fala e a sua decisão é acolhida com religioso silencio.
O próprio Tiago, que era Bispo de Jerusalém, onde se achavam reunidos os
Apóstolos, não se levanta senão para repetir a decisão de Pedro e aquiescer à mesma.
(Act 15, 17).

Algumas objeções. __
Apesar de tantas provas em favor de São Pedro, ainda há
quem queira sustentar que ele não foi constituído chefe supremo da Igreja.
Eis algumas razões que alegam:
Nos Atos dos apóstolos (8, 14 ) lemos que os Apóstolos, que estavam em Jerusalém,
tendo ouvido que a Samaria tinha recebido a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro
e João.
Ora, se envia somente um subalterno, não um superior.
Resp. __
É falso. Há dois modos de se enviar: um por mandato, outro por conselho.
Os filhos não enviam freqüentemente os pais? O exército não envia o general? Pedro
foi enviado por conselho, não por mandato.
__
São Paulo, pelo menos, não reconheceu São Pedro como chefe supremo da Igreja,
porque o repreendeu publicamente em Antioquia (Epis. aos Galátas, 2, 4).
Resp. __
Também um inferior em circunstancias graves, pode e até deve corrigir
respeitosamente seu superior.
São Pedro, tendo chegado em Antioquia judeus convertidos, por temor de
escandalizá-los, pouco a pouco se foi subtraindo das refeições dos gentios e começou a
adaptar-se por prudência às prescrições da lei mosaica. A sua conduta fez com que
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outros judeus, que já tinham abandonado os seus ritos, os retomassem, lançando,
desta maneira, confusão na Igreja de Antioquia, onde os judaizantes pretendiam que
não se pudesse ser perfeito cristão, senão observando a lei mosaica.
Por esse motivo, São Paulo, embora inferior, repreendeu a São Pedro.
__
De resto, que São Paulo reconhecesse o primado de São Pedro, dão provas as
suas epístolas. Citarei uma.
Na Epístola aos Gálatas, entre os quais alguém lhe contestava a autoridade de
Apóstolo, Paulo, para defender o seu direito, apela para a autoridade de São Pedro e
frisa que, saído de Damasco depois de sua conversão, passados três anos, foi a
Jerusalém para ver a Pedro e ficou com ele quinze dias. E não viu a nenhum outro dos
Apóstolos senão Tiago (Gal. 1, 18).
Porque frisa o Apostolo este fato?
Porque tem importância ter ele ido visitar a Pedro numa cidade cujo Bispo era
Tiago? Sem dúvida, porque Pedro era superior a Tiago e a Paulo; era, isto é, o chefe da
Cristandade.
Por tudo o que acabamos de dizer, fica pois, provado que Jesus, fundando a sua
Igreja, lhe deu um chefe supremo na pessoa de Pedro.
Querer negar esta verdade, significaria zombar das Divinas Escrituras que a ensinam
claramente.
IV
Perpetuidade do primado
Vimos que Jesus, fundando a sua Igreja, lhe deu um chefe supremo na pessoa de
Pedro, ordenando-lhe que a governasse. Agora se pergunta: este poder supremo que
Pedro recebeu para governar a Igreja de Cristo, devia expirar com a sua morte, ou o
recebeu para transmiti-lo aos seus sucessores?
O evangelho e a própria razão nos respondem que o recebeu par transmiti-lo.
Eis as provas:
A Igreja, segundo o Evangelho, é um edifício, que há de durar até o fim dos séculos.
Ora, Pedro é o fundamento de tal edifício.
Logo, ele também há de durar até o fim dos séculos, visto como um edifício não se
pode conservar de pé sem fundamento. Mas, não sabia Jesus que Pedro não poderia
ficar neste mundo até o fim dos séculos, para ser o fundamento da sua Igreja? Sem
dúvida o sabia. Portanto, Ele falou aqui a Pedro, como a Pessoa que deveria ter
sucessores até o fim dos séculos no ministério de governar a Igreja, afim de que fosse
sempre verdade que Ele, Pedro, é o fundamento da Igreja de Cristo.
__
Nosso Senhor disse ainda a Pedro: "Apascenta os meus cordeiros, apascenta as
minhas ovelhas".(Jo 21, 15) entregando-lhe, desta maneira, todo o seu rebanho, para
que o governasse. Por quanto tempo? Jesus não pôs limitação alguma. Por isso Pedro
deve governar esse rebanho enquanto existir, isto é, até o fim dos séculos. É preciso,
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pois que tenha sucessores, afim de que, por meio deles, possa governar, até o fim dos
séculos, o rebanho de Jesus.
__
De resto a própria razão nos diz que Pedro recebeu o governo supremo da Igreja,
para transmiti-lo aos seus sucessores.
Com efeito, toda sociedade exige um chefe que a dirija e governe, tanto é verdade
isto, que, quando num país não há mais quem mande, temos a desordem, a revolução,
a morte. Ora, Jesus Cristo fundou a sua Igreja, como uma grande sociedade. É possível
que não lhe deixasse um chefe supremo que a dirigisse e governasse? Nesse caso
cumpriria dizer que Ele não proveu suficientemente a sua Igreja. Mas isto não pode
ser. É claro, portanto, que Pedro recebeu o governo supremo da Igreja para transmiti-
lo a seus sucessores, que devem durar enquanto dura a Igreja, isto é, até o fim dos
séculos.

Quem são os sucessores de Pedro?
A história de todos os tempos do cristianismo nos responde que são os Papas. Isto é
tão evidente que não seria preciso prová-lo. Todavia, se alguém ousasse pô-lo em
dúvida, atenda às provas.
Lendo a historia da Igreja, dois fatos incontestáveis se deparam aos nossos olhos: O
primeiro é que os Papas, desde o tempo dos Apóstolos, governaram toda a Igreja de
Cristo, apelando para a sua autoridade de sucessores de São Pedro, o segundo é que
toda a Igreja reconheceu este governo e a ele se sujeitou sem um brado de protesto.
Com efeito observai:
__
30 anos depois da morte de São Pedro, o Papa Clemente escreve aos Coríntios
uma carta, condenando os abusos entre eles existentes e declarando que aquele, que
não lhe obedecesse, pecava gravemente, e os Coríntios não somente aceitaram a
carta, mas por muito tempo a leram em suas reuniões.
__
No segundo século nasce no oriente a discussão sobre a celebração da Páscoa:
Para alguns a Páscoa era o aniversario da morte de Cristo, para outros, o aniversario da
sua ressurreição. E S. Vítor, Papa, põe termo a discussão, obrigando todos a seguirem
os costumes de Roma, sob pena de serem excomungados. É verdade que alguns Bispos
se queixaram desta medida enérgica usada contra as Igrejas asiáticas, mas ninguém
sonhou em dizer ao Papa: "Usurpas um poder que não tem sobre toda a Igreja".
__
No começo do III século São Calixto condena os Montanistas, que negavam a
Igreja o poder de perdoar certos pecados.
No mesmo século na Ásia e na África se discute sobre a validade do batismo
conferido pelos hereges, e o Papa Sto. Estevão resolve a controvérsia, decidindo pelo
valor daquele batismo; e a sua definição é aceita por aqueles que tinham defendido a
sentença oposta.
__
No Século IV Júlio I decreta que nada se defina nos Concílios orientais sem o
consentimento dos Bispos de Roma. (Sócrates, hist. ecl. 2, 8-15).
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__
No século V abre-se o Concilio de Éfeso, e Felipe, legado do Papa, assim fala
diante de todos os Bispos reunidos: "... Celestino, sucessor e substituto legítimo de S.
Pedro, nosso santo e bem-aventurado Papa, a este concilio me envia como seu
representante".
__
No século VI o Papa Sto. Hormisdas impõe aos Bispos do oriente a subscrição de
uma fórmula de fé. Neste documento se afirma que na Sede romana, em virtude da
promessa do Salvador: Tu és Pedro etc..., sempre se conserva imaculada a fé católica. E
os Bispos, em número de 2.500, a subscrevem. É pois, claro que os Papas sempre
exerceram a sua autoridade suprema em toda a Igreja de Cristo. E se a Igreja aceitou
essa autoridade dos Papas sem oposição alguma, sem dúvida era porque, pela força
invencível da verdade histórica, estava certa de que os Papas eram os legítimos
sucessores de S. Pedro.

Outra prova no-la oferece os testemunhos dos Padres e doutores da Igreja.
SANTO INÁCIO, Bispo de Antioquia, contemporâneo dos Apóstolos, na sua Epístola
aos Romanos escreve que a Igreja de Roma "preside a comunhão universal de todos os
fiéis".
STO. IRINEU, discípulo de São Policarpo e de outros anciãos da idade apostólica,
acrescenta ser necessário para todas as Igrejas se conformarem na fé com a Igreja
Romana em razão de sua primazia de poder. (Adv. 3,3).
SÃO CIPRIANO chama esta Igreja "cátedra de Pedro, Igreja principal, de onde se
origina o sacerdócio".
STO. AGOSTINHO em mil lugares atesta claramente a supremacia do Papa e afirma
que "não querer reconhecê-lo como chefe supremo do cristianismo é indicio de suma
impiedade ou de precipitada arrogância". E isto era tão conhecido de todos que o
imperador Justiniano, escrevendo ao Papa João II, disse: "Tratando-se de negócios
eclesiásticos, não quero que se tome deliberação alguma, sem o conhecimento de
Vossa Santidade, que é chefe de todas as Igrejas. (Código de just. Tit. SSma. Trindade).
Resumamos, pois, brevemente o que dissemos neste e no capítulo precedente:
Nosso Senhor fundou a sua Igreja e entregou o seu governo a Pedro e aos seus
sucessores. Ora, os sucessores de Pedro são os Papas.
Logo, somente a Igreja governada pelo Papa é a verdadeira Igreja de Cristo.
V
Infalibilidade Papal
O PAPA será sempre o chefe visível da Igreja de Cristo, por ser o sucessor de Pedro
na sede de Roma e no primado. Várias são as suas prerrogativas. Minha intenção é
falar de sua infalibilidade, afim de que os meus leitores possam ter da mesma um justo
conceito e acautelar-se contra as calunias dos inimigos da nossa fé.
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Primeiro que tudo é preciso explicar o verdadeiro sentido da palavra infalibilidade:
pois muitos há que, por ignorância ou por malícia, a desfiguram. Infalibilidade não é o
mesmo que impecabilidade, porquanto infalibilidade significa impossibilidade de
errar; impecabilidade ao contrário, impossibilidade de pecar. O Papa é infalível, mas
não é impecável, e por isso mesmo ele também, como todos os fiéis, se confessa dos
seus pecados.
A Infalibilidade pode ser absoluta e relativa. É absoluta, quando alguém não pode
errar em qualquer gênero de verdades; é relativa, quando alguém não pode errar com
relação a certas verdades. A primeira é própria de Deus; ao Papa compete a segunda.
E quais são as verdades acerca das quais ele não pode errar? São as verdades de fé
e de costumes, isto é, as verdades que pertencem ao depósito da revelação. E note-se
bem que, mesmo com relação a estas verdades, não é infalível senão quando,
desempenhando o cargo de Pastor e Doutor de todos cristãos declara expressa e
peremptoriamente que devem ser cridas pela Igreja universal.
Isto suposto, digo que o Papa é infalível.
Eis as provas: A primeira nos é oferecida pela Divina Escritura. Já vimos em outros
capítulos que o poder e as prerrogativas de São Pedro são __
o poder e as prerrogativas
do Pontífice Romano, seu legítimo sucessor. Pois bem:
A Igreja é fundada sobre Pedro, isto é, sobre o Papa, de modo que a sua firmeza
depende da firmeza do Papa. (Mt 16, 18 ).
Ora, se o Papa pudesse torna-se mestre de erro, impondo a toda cristandade uma
doutrina falsa, bem longe de dar firmeza à Igreja, arruiná-la-ia. Portanto nunca pode se
tornar mestre de erro, que é o mesmo que dizer será sempre infalível.
Além disso, Jesus Cristo diz que as portas do inferno jamais prevalecerão contra a
sua Igreja, porque é fundada sobre Pedro, sobre o Papa, portanto a contínua vitoria da
Igreja depende da vitória do Papa.
Ora, se o Papa pudesse ensinar o erro, em vez de dar a vitória à Igreja arrastá-la-ia à
derrota. Logo é impossível que ensine o erro.
Jesus dá ao Papa as chaves da Igreja e afirma que Ele ratificará no céu o que o Papa
tiver julgado na terra.
Ora, poderá Jesus ratificar o erro, a mentira, a falsidade? Não. Portanto o
ensinamento, a sentença do Papa deve ser isento de erro.
Não basta, Jesus confere ao Papa o ofício de pastorear e reger toda a sua Igreja,
todos os cordeiros e todas as ovelhas do seu redil; e por isso mesmo obriga toda a sua
Igreja, cordeiros e ovelhas a lhe obedecer e receber a sua palavra e as suas leis.
Ora, suponhamos que o Papa pudesse arrastar ao erro o redil de Jesus Cristo: que
aconteceria? Aconteceria que toda a igreja posta na absurda alternativa de
desobedecer ao Papa contra a vontade expressa de Jesus ou de seguir ao Papa, mesmo
no erro. O que é impossível de se conceber. Cumpre, pois, admitir que o Papa é
infalível.
__
Queremos uma passagem ainda mais explícita? Abramos o Evangelho de S. Lc. 22,
31-32. "Simão, Simão, diz Jesus a Pedro, satanás vos pediu com instancia para vos
joeirar como o trigo; mas eu roguei por ti, para que não desfaleça a tua fé, e tu, uma
vez convertido, confirma os teus irmãos.
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Do texto resulta que a fé em Pedro será sempre pura, verdadeira, luminosa; pois
Jesus lhe diz que rogou por ele, afim de que não desfalecesse na sua fé e é impossível
que a oração de Jesus não seja atendida pelo Pai Celestial.
Resulta também que esta promessa é feita a Pedro como chefe da Igreja e não
como Pessoa privada, pois Jesus rogou que não viesse falhar a fé, afim de que ele, por
sua vez, a confirmasse nos seus irmãos. É como se tivesse dito: "satanás vos pediu com
instancia para vos joeirar como o trigo, e eu, para defender-vos poderia orar por todos;
para todos poderia pedir essa firmeza inconcussa; mas não é preciso: orei por ti e a ti
imponho o dever de confirmar e iluminar os teus irmãos.
Portanto, não somente a fé do apostolo Pedro será sempre luminosa, pura,
verdadeira, mas também a de quem lhe sucede no ministério de governar a Igreja; a
do Papa. E por conseguinte, o Papa é infalível.

A este testemunho das Divinas Escrituras faz eco o da cristandade de todos os
tempos e de todos os lugares. Não é verdade, como dizem os nossos adversários, que
este dogma fosse desconhecido antes do século passado, em que Pio IX o definiu
solenemente. Na Igreja sempre se reconheceu a infalibilidade do Papa.
Eis alguns testemunhos que no-lo demonstramos claramente: Sto. Irineu, discípulo
de São Policarpo e de outros anciãos da igreja apostólica, refutando os hereges do seu
tempo, diz: "Com a Igreja romana, por sua primazia, devem concordar na fé todas as
Igrejas, isto é, os fiéis de todo o mundo..." (Adv. Haer. Liv. III).
Mas, se Roma pudesse errar, como ele afirmar esse dever?
Portanto, segundo Sto. Irineu, Roma, a saber. O Papa não pode errar.
S. Cipriano atesta a mesma verdade:
"Atrevem-se, diz ele falando de certos hereges, atrevem-se a dirigir-se à Cátedra de
Pedro, a essa Igreja principal, onde se origina o sacerdócio, esquecidos de que os
romanos não podem errar na fé”. (Epist. 69, 19).
S. Jerônimo escreve ao Papa São Dámaso: "Julguei meu dever consultar a Cátedra
de Pedro. Só vós conservais a herança de nossos pais..."
“Quem não colhe convosco, desperdiça... Decidi e não hesitarei em afirmar três
hipóteses". Porque ele se declara pronto a aceitar qualquer decisão do Papa, mesmo
quando, por impossível, propusesse um absurdo? Justamente porque sabe que o Papa
é infalível, não pode errar em matéria de fé e de costumes.
Ainda mais claro é o testemunho de Sto. Agostinho. Os Concílios de Milévio e de
Cartago dirigiram-se ao Papa, afim de que condenasse Pelágio, que, com suas
doutrinas, semeava a discórdia na Igreja.
Apenas respondeu o Papa, Sto. Agostinho anunciou aos fiéis a sentença nestes
termos: "sobre esta causa foram enviados dos Concílios à Sé Apostólica. Chegou-nos a
resposta; esta terminada a causa. Oxalá acabe também o erro”.
Roma, isto é, o Papa falou a a causa esta terminada, toda a dúvida cessa. Por que?
Porque o Papa é infalível, não pode errar.
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No século V S. Leão Magno escreveu ao Concilio de Calcedônia que sua doutrina
acerca do mistério da Encarnação não admitia discussão alguma e que só se tratava de
crer.
E os Bispos presentes no concílio, que eram número de 600, prorromperam numa
exclamação unânime: "Assim o cremos. Os ortodoxos assim o creem; anátema a quem
não crê. Pedro falou pelos lábios de Leão, Pedro vive sempre na sua sede”. (Ep. 93, 2).
Por que todos se submeteram sem hesitação alguma? Sempre pela mesma razão:
Porque reconheciam no Papa a Infalibilidade.
Por todos os testemunhos e outros ainda, que facilmente poderíamos alegar,
resulta que a infalibilidade Papal sempre foi reconhecida pela Igreja.
VI
Sacramentos
O Sacramento é um sinal sagrado produtivo da graça, instituído por Nosso Senhor
Jesus Cristo.
Sinal é o que conduz ao conhecimento de alguma coisa que não esta ao alcance de
nossos sentidos. Pode ser natural e convencional, segundo a sua relação com a coisa
seja fundada em a natureza ou sobre uma convenção. Por exemplo: A fumaça é o sinal
natural do fogo; as lágrimas o são da dor; uma luz vermelha colocada em meio ao
caminho é um sinal convencional de perigo.
Também os Sacramentos são sinais e sinais sagrados, porque indicam algo de
sagrado, isto é, a graça divina. Note-se, porém, que não são sinais vazios, isto é, não
indicam apenas a graça, mas de fato produzem a graça que significam. Por isso Jesus,
falando do Batismo disse: "Se alguém não renascer da água e do Espírito Santo, não
pode entrar no reino de Deus”. (Jo 3, 5).
Como se vê, Jesus aqui atesta que também a água do batismo é causa do nosso
renascimento espiritual: O Espírito Santo é a causa principal e a água causa
instrumental, isto é, meio, instrumento de que se serve Deus, para nos fazer nascer
para a vida da graça.
Erram, pois os protestantes, quando ensinam que os Sacramentos são meras
cerimônias exteriores, testemunhando que a graça esta na alma, sem o poder de
infundi-la. Não, além de sinais, são causas que por sua própria virtude produzem a
graça independentemente dos méritos de quem os administra e das disposições de
quem o recebe. Uma chave manejada quer por uma pessoa sadia quer por uma
doente, abre sempre a porta, e assim também um Sacramento, quer administrado por
um Santo, quer por um pecador produz igualmente a graça, contanto que seja
administrado como Jesus o determinou.
Quanto às disposições de quem os recebe, são necessárias para que os Sacramentos
produzam a graça, mas não são essas disposições que dão aos Sacramentos a virtude
de produzir a graça, assim como a secura da madeira não dá ao fogo a virtude de
queimar.
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Diferem, pois, os Sacramentos da Oração, das obras e dos sacramentais, (água
benta, imposição das cinzas etc.) que tiram a eficácia unicamente das disposições
religiosas do sujeito.
Dissemos também que os Sacramentos são sinais instituídos por Nosso Senhor
Jesus Cristo. É evidente, com efeito, que somente Deus pode ligar um sinal sensível a
faculdade de produzir a graça. Não é Ele o dono da graça? Portanto Dele depende
determinar como quer comunicar a graça.
Os Sacramentos são sete.
De fato os Gregos cismáticos, que se separaram da Igreja Católica no século IX e os
Nestorianos, caldeus, coptas, que se separam no século V, tem os seus sacramentos
conforme aos nossos, quanto ao número e á natureza.
Mas não se pode admitir que tenham recebido esta crença da Igreja romana depois
da separação, considerada a hostilidade, que sempre nutriram contra os católicos
latinos.
É lógico, portanto, concluirmos que ao tempo do cisma, isto é, respectivamente nos
séculos IX e V a doutrina da existência dos sete Sacramentos era doutrina da Igreja
inteira. E, por conseguinte, tivera origem dos Apóstolos, porque caso se houvesse
introduzido, nos séculos precedentes, algum sacramento, tal inovação não se podia
realizar, sem provocar discussões muito vivas. E disto nenhum vestígio existe nos
escritos dos Padres.
VII
Batismo
O BATISMO é um sacramento que nos torna cristãos, isto é, sequazes de Jesus
Cristo, filhos de Deus e membros da Igreja.
Que seja Nosso Senhor o autor do batismo é claro pelo próprio evangelho:
"Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide, pois, instrui todas as gentes,
batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo..."(Mt 28, 18-20).
"Ide por todo o mundo; pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for
batizado, será salvo, quem não crer será condenado. (Mc 16, 15).
"Se alguém não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de
Deus". (Jo 3, 5).
Em todos os textos acima se manifesta Nosso Senhor autor do batismo e proclama a
sua necessidade para a salvação.
O batismo é para todos necessário: Para os adultos e para as crianças.
a) É necessário para os adultos. De fato, diz Jesus: "Se alguém não renascer da água
e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus". (Jo 3, 5).
Este renascimento espiritual, que Jesus proclama necessário para entrarmos no
reino de Deus, se dá pelo batismo, como aparece no próprio texto e das palavras de S.
Paulo, que chama o batismo: "Banho de regeneração". (Tito 3, 5).
Portanto o batismo é necessário para entrarmos no reino de Deus.
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b) O batismo é necessário também para as crianças, pois, Jesus não faz exceção
alguma; mas diz simplesmente: "Se alguém não renascer..."
Uma criança é alguém, isto é, uma pessoa como todos nós. Portanto, para entrar no
reino dos céus, igualmente tem que renascer pelo batismo.
Além disso ninguém pode conseguir a salvação senão por Jesus Cristo (Rom 18), isto
é, senão se incorporar com Jesus Cristo, tornando-se seu membro. Mas em o Novo
Testamento ninguém se incorpora com Jesus Cristo senão pelo batismo, conforme se
Lê na epístola aos Gálatas (3, 27) "Todos os que fostes batizados, vos revestistes de
Cristo".
Logo todos devem ser batizados, e sem o batismo não se pode conseguir a salvação.
A própria Sagrada Escritura confirma essa doutrina, pois nos fala de famílias inteiras
batizadas (Atos 16, 15,33: 18-8 Cor 1, 16).
Ora, é verossímil que nelas houvesse crianças.
Mas é especialmente pela tradição que se prova a necessidade do batismo para as
crianças. Eis alguns testemunhos antiquíssimos a esse respeito:
STO. IRINEU, que viveu no II século, diz: "Todos os que forem regenerados em Jesus
Cristo, isto é, crianças, jovens, velhos, serão salvos". (Liv. 4 cap. 22, 14 ). As palavras:
Os que forem regenerados se devem entender: os que forem batizados, pois a
regeneração em Cristo é pelo Batismo, por isso o Apóstolo o chama: "Banho de
regeneração". (Tito 3,5).
ORÍGENES, no terceiro século repete a mesma verdade: : É na Igreja uma verdade
provinda dos Apóstolos dar o batismo às crianças". (Liv 5 na epístola aos Rom 9).
S. CIPRIANO, no III século escreve: Pareceu-me bem e à todo o Concilio que as
crianças sejam batizadas mesmo antes do oitavo dia". (Ep. 63) Daí podemos
legitimamente concluir: Se os cristãos dos primeiros séculos batizavam seus filhos,
apenas nascidos, sem dúvida era por ordem dos apóstolos e, por conseguinte, do
próprio Jesus Cristo.

E porque também as crianças devem ser batizadas para entrarem no céu? Ei-lo:
O céu é a herança de Deus.
Ora, tem direito à herança somente aquele que é filho.
Portanto, tem direito ao céu aquele que é filho de Deus.
Mas, nós, simples homens, não somos filhos de Deus, pois, não possuímos a mesma
natureza como é exigida entre pai e filho.
Portanto não temos direito ao céu. O que nos torna verdadeiramente filhos de Deus
é a graça santificante, que é uma participação da própria natureza divina. Uma alma
adornada de graça santificante, é filha de Deus e, por conseguinte tem direito ao céu.
Esta graça divina tinha sido dada aos nossos primeiros pais com direito de transmiti-
la também a nós, seus descendentes, sob a condição; porém, de que se mantivessem
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fiéis a Ele. Mas não mantiveram a condição; desobedeceram a Deus; por isso perderam
essa graça para si e para todos nós. Hoje ninguém no primeiro instante de sua
existência, possui a graça santificante (exceto Maria Santíssima, em virtude dos
merecimentos de Jesus Cristo, seu Filho). E esta privação da graça santificante, em que
todos somos concebidos, é justamente o que se chama pecado original. Foi em vista
disto que S. Paulo escreveu: "Somos por nascimento filhos da ira" (Ef. 2) e também:
"Todos pecamos em Adão" (Rom 5, 12).
Quando é que pela primeira vez nos é prodigalizada a graça divina? Quando
recebemos o batismo. Eis porque também as crianças devem ser batizadas, para se
tornarem, pela graça santificante, filhas de Deus.
Dizem os protestantes: Jesus diz: "Ide, pregai o evangelho a toda criatura; quem
crer e for batizado, será salvo. Quem não crer será condenado". (Mt 15, 16).
Mas a criança não pode crer, logo não pode ser batizada.
Aqui Jesus fala dos adultos, pois fala de pregação do Evangelho; e a pregação só
pode se dirigir a uma pessoa adulta, isto é, a uma pessoa que já tenha o uso da razão.
Portanto deste mesmo texto resulta que um adulto, para ser batizado, deve crer.
Mas não resulta absolutamente que só os adultos devem ser batizados.
Ainda os protestantes: o batismo impõem obrigações; por isso não se pode
administrar a uma criança sem o consentimento da mesma. Alcance primeiro o uso da
razão, e então por si mesma resolverá, se quer, ou não quer pertencer a religião cristã
e receber este sacramento.
É verdade que o batismo impõe obrigações, mas são obrigações que a própria
criança tem que aceitar apenas tiver alcançado o uso da razão; por isso bem podem os
pais aceitar, em nome da mesma, estas obrigações, batizando-a, apenas nascida.
Além disso, o batismo confere, a quem o recebe o privilégio de filho de Deus e
herdeiro do céu.
Portanto, aos pais, batizando os filhos, apenas nascidos, bem longe de fazerem uma
afronta à sua liberdade, fazem, pelo contrário o que de melhor por eles podem fazer.
E se não batizassem seriam cruéis para com os mesmos. Explico-me com um
exemplo. Uma potentado se apresenta a dois esposos, que, há pouco, receberam a
dádiva preciosa de um filho, e lhes diz: "Tenho a vontade de constituir o vosso filho
herdeiro de todos os meus bens; é preciso, porém, que me concedais a licença de fazê-
lo". E eles: "Sentimos muito, mas não podemos conceder esta licença, porque seria
ofender a sua liberdade. O Sr. tenha a bondade de esperar que o nosso filho chegue
ter compreensão do que está fazendo, e então lhe perguntará, se quer ou não quer
aceitar a herança".
Por acaso, seria o comportamento destes pais para com o filho louvável?
Certamente que não.
O mesmo se diga em nosso caso: O batismo oferece à criança direitos e bens de
uma fortuna de inapreciável valor, de suma importância. Não é, pois, preciso esperar
que alcance o uso da razão, para se lhe administrar o batismo. Os pais que esperam
até aquela época são dignos de severa repreensão.
E de resto, não se costuma em toda parte registrar os filhos apenas nascidos?
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Ora, se por este privilégio adquirem os direitos de cidadãos do país, contraem,
igualmente os respectivos deveres; e contudo ninguém jamais pensou que se deva
fazer o registro civil, somente quando os filhos tiverem atingido o uso da razão.
Por que, pois, não será lícito administrar aos filhos, apenas nascidos, o batismo,
pelo qual adquirem eles o direito de cidadãos do céu?
Não há, portanto, motivo algum para diferir o batismo dos filhos até a idade adulta;
e os que assim fizerem, são culpados diante de Deus.

O batismo se pode conferir validamente quer por imersão, quer por infusão, isto é,
despejando água na cabeça, quer também por aspersão, isto é, jogando água no
batizando.
Prova-se pela Sagrada Escritura.
Batizar é palavra grega que em nossa língua significa não somente mergulhar, mas
também lavar. Por exemplo, a Sagrada Escritura diz que os fariseus, vindo da praça
pública, não comem sem lavar as mãos ( Mc 7, 4 ). No texto original o lavar é batizar.
Ora, uma pessoa pode ser lavada de três modos: mergulhando-a na água;
despejando-se água sobre a mesma, ou jogando-se lhe água.
De que modo Nosso Senhor quer que os homens sejam batizados, isto é, lavados?
Nada determina Ele a respeito.
Portanto, a Igreja pode determinar, escolher o modo que mais lhe aprouver.
O Batismo por imersão foi principalmente usado na Igreja por muitos séculos.
Contudo, já desde o tempo dos Apóstolos às vezes, se conferia por infusão, isto é,
despejando água na cabeça como resulta de algumas pinturas que ainda hoje se
conservam nas catacumbas, como se vê no batismo de S. Romão, administrado por S.
Lourenço e do batismo de pessoas acamadas (S. Cornélio, epist. Fábio c. 14) como
expressamente se ensina na doutrina dos doze Apóstolos (c. 7): "Se não tiveres água
de fonte, batiza com outra água; se não tiveres água fria, batiza com água morna. E se
não tiveres água suficiente para imersão, despeja três vezes água na cabeça em nome
do Padre do Filho e do Espírito Santo".
Além disso lemos na Sagrada Escritura que S. Paulo se levanta para receber o
batismo (Atos 9, 18; 22, 16) e na cidade, à meia noite, batiza o carcereiro e outros de
sua família (Atos, 16, 33).
Ora, é muito improvável que o batismo tenha sido conferido por imersão nessas
ocasiões, porque como se pode supor que na casa e na prisão houvesse tanque
próprio para nele mergulhar uma pessoa?
O mesmo se diga do batismo que foi conferido a três mil homens no dia de
Pentecostes. (Atos 2, 41).
Poderíamos também acrescentar que, se a imersão fosse necessária para o valor do
batismo, a sua administração tornar-se-ia frequentemente muito difícil por falta de
água, ou pelo frio, ou pela multidão, ou pelas enfermidades dos batizados, que podem
ser crianças recém nascidas, velhos, moribundos...

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Conclusões práticas.
As mães em estado interessante devem se abster de tudo o que podem prejudicar o
fruto que trazem no seu seio. E as que provocam voluntariamente o aborto são
duplamente homicidas porque suprime a vida ao filho e lhe impedem a entrada ao
reino dos céus, por morrer sem batismo. A Igreja, para inspirar horror a este crime,
fulmina de excomunhão não somente as mães, mas também os que mandam ou que
aconselham o aborto, os que para tal ensinam remédios ou o aplicam.
Os pais tem a obrigação grave de batizar quanto antes os seus filhos, para não
exporem ao perigo de privá-los para sempre da glória do céu. E se, por acaso, se
acharem os filhos em perigo de morte, devem batizá-los em sua casa, derramando
água natural sobre as cabeças dos mesmos e, ao mesmo tempo, pronunciando estas
palavras: "Eu te Batizo em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo". Estando
presente outras pessoas que saibam e queiram batizar, sejam batizados os filhos por
estas pessoas, e se não estiverem presentes outras pessoas, ou estas não souberem ou
não quiserem batizar, então os próprios pais batizem seus filhos, em perigo de morte.
VIII
Confirmação ou Crisma
O CRISMA é um sacramento no qual pela imposição das mãos e a unção com o
crisma, proferindo certas palavras sagradas, se comunica ao batizado o Espírito Santo,
para que valorosamente confesse a sua fé.
O Crisma é um verdadeiro sacramento da Nova Lei.
I — Prova-se pela Sagrada Escritura.
Lemos, com efeito, nos Atos dos Apóstolos (8,12,17) que os Samaritanos, tendo
recebido a palavra de Deus, foram batizados por Felipe; e os Apóstolos lhes enviaram
Pedro e João, os quais, assim que chegaram, oraram por eles, afim de que recebessem
o Espírito Santo, porque este ainda não tinha descido sobre nenhum deles, mas tinham
sido somente batizados em nome do Senhor Jesus. Em seguida lhes impuseram as
mãos e eles receberam o Espírito Santo.
Do mesmo modo São Paulo, vindo a Éfeso, batizou em nome de Jesus, discípulos de
S. João e "neles impôs as mãos, para que o Espírito Santo baixasse sobre eles". (Atos
19, 5-6).
Temos aqui — a) um sinal, um rito sagrado realizado pelos Apóstolos: a imposição
das mãos; b) produtivo da graça, pois a esta imposição se seguiu a descida do Espírito
Santo; c) um sinal instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, pois em coisa tão
importante e fundamental os Apóstolos não agiam certamente conforme a sua
vontade, mas em nome de Jesus, assim como na administração do batismo e na
remissão dos pecados.
Portanto fala aqui a Sagrada Escritura de um Sacramento, visto que um Sacramento,
como dissemos em outro capítulo, é um sinal sagrado, produtivo da graça, instituído
por Nosso Senhor.
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Ora, este Sacramento não é o batismo, pois os Samaritanos, a que S. Pedro e S. João
impuseram as mãos, já tinham sido batizados por S. Felipe e os de Éfeso, antes de
receberem a imposição das mãos por S. Paulo, foram por este batizados.
Tão pouco pode ser a ordenação sacerdotal, como alguns supuseram, pois entre os
que receberam este Sacramento em Samaria, havia também mulheres e as mulheres
não podem ser ordenadas.
Logo é o sacramento da Confirmação ou Crisma.
Obj. — A imposição das mãos era empregada para dar os carismas extraordinários
do Espírito Santo, tais como o dom dos milagres e da profecia, o dom das línguas, etc.
Resp. — A imposição das mãos era feita principalmente, para que os fiéis
recebessem o Espírito Santo, que Jesus prometeu dar a todos os que cressem Nele. (Jo
7, 38).
Nos primeiros tempos, à imposição das mãos, se seguiam frequentemente estes
prodígios, porque eram necessários para a conversão do mundo. Agora, que temos
tantas provas da verdade da nossa santa religião, os milagres não são necessários. Mas
o dom do Espírito Santo, que fortificava os primeiros cristãos e os tornava capazes de
fazer qualquer sacrifício antes que perder a fé, ainda hoje é necessário para os fiéis.
Por isso a imposição das mãos, que é justamente o Sacramento que nós chamamos —
Crisma — ainda hoje continua e continuará até o fim dos séculos.
II — Prova-se pela Tradição.
Os Padres da Igreja, falam desta imposição das mãos para a vinda do Espírito Santo,
como de verdadeiro Sacramento.
Tertuliano (II século) diz: "Depois do batismo impõem-se as mãos para a bênção, se
invoca e convida o Espírito Santo". (Livro sobre o Batismo, c. VIII)
S. Cipriano (III século) na sua Epístola a Jubaiano, referindo-se ao texto dos Atos dos
Apóstolos (8, 14) diz: "O que faltou do Batismo administrado por Felipe, isto foi feito
por Pedro e João... Isto se faz também entre nós, para que os que são batizados, por
nossa, oração e imposição das mãos, consigam o Espírito Santo".
S. Cirilo (IV século), explicando o catecismo aos catecúmenos, diz: "Enquanto se faz
uma unção visível sobre o corpo, a alma é santificada pela operação interior do Espírito
Santo".
Também Sto. Agostinho (V século), assim se exprime no seu livro contra Petiliano:
"O Sacramento do Crisma não é inferior em santidade ao próprio Batismo.
Por tudo o que acabamos de dizer fica suficientemente provado que o Crisma é um
Sacramento e que os protestantes, rejeitando-o dão prova duma grande presunção,
porque negam uma doutrina que é claramente ensinada pela Sagrada Escritura e
admitida pelos cristãos de todos os tempos.
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IX
A Eucaristia - Palavras da Promessa
A EUCARISTIA é o sacramento do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor sob as
espécies do pão e do vinho, ou, por outras palavras, é Nosso Senhor vivo e
verdadeiro assim como esta no céu.
Se quisermos acreditar no Evangelho, devemos também crer na presença real de
Jesus Cristo na Eucaristia, pois, mais claro não podia ele Ter falado, tanto quando
prometeu este sacramento, como quando o instituiu.
Palavras da promessa. Era o dia seguinte ao da multiplicação dos cinco pães, e
Jesus, estando em Cafarnaum, começou a dizer ao povo que O cercava: "Eu sou o pão
vivo que desci do céu; se alguém comer deste pão, viverá eternamente, e o pão que eu
darei é a minha carne pela vida do mundo, isto é, imolada pela vida do mundo". (Jo 6,
52 ).
Esta palavras significam claramente que Jesus queria dar em alimento o seu corpo
verdadeiro e real e não somente uma figura ou imagem do mesmo. Os seus mesmos
ouvintes desta maneira interpretaram as suas palavras e, ficando escandalizados,
exclamaram: "Como pode Este dar-nos a sua carne a comer?" (Jo 6, 53 ).
Antes de chegarmos à resposta de Jesus, cumpre-nos notar o seguinte:
Quando os ouvintes, por simplicidade ou ignorância, não tinha bem compreendido
o verdadeiro significado de Suas palavras, costuma Ele explicar a Sua doutrina,
especialmente em se tratando de coisas atinentes à salvação eterna, afim de que os
discípulos não incorressem no erro. (Disto se encontram exemplos em Jo 3, 3-8 e Mt
16, 6-12 )
Pelo contrário, quando a sua doutrina tinha sido bem compreendida, embora
desagradasse aos ouvintes, ainda mais energicamente costumava repeti-la. (A respeito
se encontram exemplos em Mt 3, 2-7 e em Jo 8, 51-59).
E agora ouçamos a resposta que dá aos judeus, que lhe perguntam: "Como nos
pode dar a sua carne a comer?" E Jesus: "Em verdade, em verdade vos digo, se não
comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida
em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna e eu o
ressuscitarei no último dia, porque a minha carne é verdadeiramente comida e o meu
Sangue verdadeiramente bebida". O que foi o mesmo que lhes dizer: Não somente vos
posso dar a minha carne a comer e o meu sangue a beber, mas disto vos imponho um
preceito sob pena de morte eterna. Queria, portanto, que as suas palavras fossem
tomadas ao pé da letra.
A semelhantes insistências do Divino Mestre, muitos discípulos se revoltam e
clamam: "É duro este discurso e quem o pode ouvir?" Por que o achavam duro?
Porque eles também não podiam compreender como pudesse Jesus dar a sua carne a
comer e o seu sangue a beber; e, não querendo admitir tantos prodígios, o
abandonaram. E acaso Jesus o detêm? Não. Pelo contrário volta-se aos doze Apóstolos
e diz: "quereis vós também retirar-vos?" Como se quisesse dizer: "Quereis ou não
quereis crer que eu vos darei a minha carne a comer e o meu sangue a beber? Se não
quereis crer, ide embora com os outros". Foi então que S. Pedro em nome dos doze,
exclamou: "mestre, para quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna; e nós temos
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crido e reconhecido que és o Cristo, o Filho de Deus. (Jo 6, 70 ). Com esta resposta
também S. Pedro declarou que nada tinha compreendido com relação ao mistério que
Jesus acabava de revelar, contudo, acreditava, porque sabia que Jesus era o Filho de
Deus.
Reflitamos um pouco sobre este fato da apostasia dos discípulos. Abandonam a
Jesus, porque não querem admitir que Ele possa dar a comer a sua própria carne e a
beber o seu próprio sangue.
Ora, suponhamos que tivessem compreendido mal as palavras de Jesus, não devia
Ele explicar-se melhor? Que lhe custava dizer: Não vades embora, pois não é do meu
próprio corpo nem do meu próprio sangue que falo, e sim apenas tenciono vos dar a
comer um pedaço de pão e a beber um pouco de vinho, como figura do meu corpo e
do meu sangue. E isto teria sido bastante para impedir que aqueles discípulos O
abandonassem. Jesus, porém, não deu esta explicação; Jesus que veio para salvar as
almas, permitiu que caíssem num abismo de misérias. Pelo que cumpre dizer que
prometeu dar a comer o seu próprio corpo e a beber o seu próprio sangue, pois era
assim justamente que aqueles discípulos tinham compreendido as suas palavras e era
por isso que O abandonavam.
Algumas objeções
Jesus declarou que as suas palavras deviam se entendidas em sentido figurado,
dizendo: "O espírito é que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que vos
tenho dito são espírito e vida". (v. 64)
Resp. — Mesmo depois destas palavras continuaram os discípulos a entender em
sentido literal o discurso do Mestre. Tanto assim que "a partir daí, — diz o Evangelho
— muitos se retiraram e já não andavam com Ele". (Jo 6, 57).
Não é verdade, portanto, que tenham declarado com isto, que as suas palavras
deviam ser entendidas em sentido figurado.
Qual é então o verdadeiro significado do v. 64?
Ei-lo: Jesus tinha dito que era preciso comer a sua carne e beber o seu sangue, para
ter a vida eterna. Julgando os discípulos que a carne de Jesus devesse ser tomada
morta e feita em pedaços, Cristo responde: "Isto vos escandaliza? A ocasião do
escândalo cessará, quando conhecerdes a minha Ascensão ao céu, pois então
acreditareis mais firmemente na minha divindade e ao mesmo tempo compreendereis
que não se trata de carne que há de ser feita em pedaços e devorada.
Toda a vida procede do espírito; e por isso a minha carne por si só, isto é, separada
da divindade, não poderia dar a vida. O que disse deve ser entendido da minha carne
vivificada pelo espírito e pela divindade; dessa maneira dará a vida".
— Jesus diz: "Eu sou o pão vivo que desci do céu". (Jo 6, 51).
Ora, o corpo de Jesus não desceu do céu. Logo Jesus não fala do seu próprio Corpo.
O Corpo de Jesus nunca se separou da sua divindade, desde o primeiro instante em
que foi concebido no seio de Maria; é unido numa só pessoa com o Verbo Divino, de
modo que quem recebe o Corpo de Jesus, recebe a própria pessoa de Jesus, recebe o
Verbo Divino. Ora, o Verbo Divino desceu do céu.
— Jesus promete a vida eterna aos que comem a sua carne e bebem o seu sangue.
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— Suponhamos que um rato coma uma hóstia consagrada. Iria para o céu? Não.
Que aconteceria? Nada. Pois um rato não é capaz de vida eterna.
Resp. — Jesus não promete, sem exceção alguma, a vida eterna a todos os que
comem a sua carne e bebem o seu sangue; mas somente aos que comem e bebem
dignamente a sua carne e o seu sangue. Tanto assim que nos adverte por S. Paulo:
"Quem come deste pão ou bebe o cálice do Senhor indignamente, come e bebe para si
a própria condenação.
X
A Eucaristia- Palavras da Instituição
Não menos claramente falou Nosso Senhor quando, mantendo a sua promessa,
instituiu este alimento da vida eterna. Ouçamos como os evangelistas referem o fato:
— "Na mesma noite em que Jesus havia de ser entregue aos seus inimigos, estando no
cenáculo com os discípulos, tomou nas suas santas e veneráveis mãos o pão, o
abençoou e distribuiu com eles, dizendo: "Tomai e comei; isto é o meu corpo, que será
entregue por vós a morte". E tomando o cálice, deu graças e a eles o entregou,
dizendo: "Bebei dele todos, pois este é o meu sangue do Novo Testamento, que será
derramado por muitos para a remissão dos pecados". E em seguida, dando aos
discípulos e neles, a todos os sacerdotes o poder de fazer o que Ele mesmo acabava de
fazer, acrescentou: "Fazei isto em memória de mim". (Mt 26, 26-30; Mc 14, 22-26; Lc
22, 19-22; Cor 11, 23-26).
E agora seja-me lícito perguntar: Porventura Jesus não entregou por nós à morte o
seu próprio corpo e não derramou para a remissão dos nossos pecados o seu próprio
sangue? Portanto o pão e o vinho, depois da consagração, são o próprio corpo e o
próprio sangue de Jesus Cristo, visto que ele mesmo disse: "Isto é o meu corpo, que
será entregue à morte por vós; este é o meu sangue que será derramado por muitos
para a remissão dos pecados".
O texto original grego, em que foi escrito o Evangelho pelos próprios evangelistas, é
ainda mais enérgico. Eis como refere as palavras de Jesus: "Isto é o meu corpo, meu
próprio corpo, o que por vós é dado; Isto é o meu sangue, o meu próprio sangue, o
que por vós é derramado". Pode haver coisa mais clara do que estas palavras? Afinal é
um Deus quem fala, é um Deus cujo poder é infinito; é o Verbo eterno do Pai, que com
um só ato de sua vontade fez o universo; é um pai moribundo, que na véspera de se
sacrificar pelos seus filhos, lhes patenteia os sentimentos do coração. Quem ousará
duvidar da verdade de suas palavras especialmente em tal circunstancias?
Palavras de S. Paulo (I Cor 11, 23 a 26)
Por isso os Apóstolos creram nelas firme e literalmente; e S. Paulo manifestava esta
fé quando na sua linguagem enérgica, escrevia: "Quem come deste pão ou bebe o
cálice do Senhor indignamente é réu do Corpo e do Sangue do Senhor". Notem-se bem
estas ultimas palavras: "é réu — diz ele — do corpo e do Sangue do Senhor".
Suponhamos, por ex., que alguém profane o retrato do chefe da Nação; torna-se, por
acaso, culpado do seu corpo e do seu sangue? Não. É verdade que lhe faz uma ofensa,
pois uma injúria, feita a um retrato, redunda em desonra da pessoa representada, mas
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nem por isso se torna culpado do corpo e do sangue do chefe da nação, uma vez que
não estão presentes no retrato.
O mesmo se diga em nosso caso: Se a Eucaristia fosse apenas uma figura do Corpo e
do Sangue de Jesus Cristo, alguém, profanando-a, não se tornaria culpado do Corpo e
do Sangue de Jesus Cristo.
Logo, a Eucaristia não é apenas uma figura do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo;
mas é o próprio do Corpo e o próprio Sangue de Jesus Cristo.
E continua o mesmo Apóstolo: "Examine-se, pois, a si mesmo o homem e assim
coma desse pão e beba deste cálice, porque quem o come e bebe indignamente, come
e bebe para si a condenação, não distinguindo o Corpo do Senhor". (I Cor 11, 28-29).
Ele aqui atesta novamente a presença real de Jesus Cristo há hóstia, já que, dando a
razão pela qual é culpado quem comunga indignamente, diz: Por que desta maneira
não distingue o Corpo do Senhor; isto é, não considera a SS. Eucaristia o que na
realidade é, a saber, o Corpo do Senhor.

Vamos agora refutar as razões que os protestantes alegam contra esta doutrina.
—Quando Nosso Senhor disse: "Isto é o meu Corpo" quis dizer: "Isto representa o
meu Corpo" assim quando, mostrando um retrato posso dizer: "este é Fulano" e todos
compreendem que não é o próprio fulano em carne e osso, mas uma representação do
mesmo.
Resp. — Que seja impossível interpretar assim as palavras de Jesus, demonstra-o e
explica o Cardeal Wiseman.
Alguns objetos — observa ele — por sua própria natureza são simbólicos, por
exemplo, um mapa, um retrato.
Outros o são por convenção, por exemplo, a bandeira. Portanto quando se diz:
"Saudai, é o Brasil que passa", todos compreendem que o verbo significa "representa".
Por fim quem fala ou escreve pode empregar, em sentido figurado, palavras que
não são simbólicas, nem por natureza, nem por convenção.
A ele compete advertir então àqueles que o leem ou escutam. Na parábola do
semeador, por exemplo, Jesus dirá: O campo é o mundo.
Se o afirmado nada tem de comum com estes três casos, não há dúvida que o
sentido deve ser literal.
Ora, o pão e o vinho não são, por sua própria natureza, símbolos do Corpo e do
Sangue de um homem. Não o são também, por convenção: jamais em língua alguma se
recorreu a estes dois elementos para representar a carne e o sangue humano. E, em
terceiro lugar, não dá Jesus a entender em parte alguma que se trata de uma imagem
ou de um símbolo.
Não temos, pois, o direito de interpretar, em sentido figurado as palavras: "Isto é o
meu Corpo" e traduzi-las "Isto representa o meu Corpo".
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É de admirar que os protestantes interpretem em sentido figurado as palavras da
instituição e que, por isso, considerem a Eucaristia como figura do Corpo e do Sangue
de Jesus Cristo. É de admirar, digo, porque eles sustentam que Deus proíbe, na sua lei,
fazer imagens, e prestar culto às mesmas. E depois este mesmo Deus, segundo eles,
nos teria deixado uma imagem, uma figura do seu Corpo e do seu Sangue, instituindo a
Eucaristia.
— São Paulo diz: "Fazei isto em memória de mim". (I Cor. 11, 49).
Ora, não se recordam senão as coisas ausentes.
Portanto Jesus Cristo não esta presente na hóstia.
Resp. — A lembrança se opõe ao esquecimento. E nós podemos esquecer não
somente o que é ausente, mas também os que não cai sob nossos sentidos; como, por
exemplo, nos esquecemos de Deus, ainda que esteja presente em toda parte; por isso
a Sagrada Escritura nos exorta: "Lembrai-vos do Vosso Criador durante a vossa
mocidade". (Ecles 12, 1).
Ora, Jesus é invisível na SS. Eucaristia; não cai sob os nossos sentidos. Podemos,
pois muito bem consagrar a SS. Eucaristia em memória dele.
Além disso a Eucaristia não se consagra justamente em memória de Cristo, mas da
sua paixão e morte, conforme atesta S. Paulo: "Todas as vezes que comerdes deste
pão... recordareis a morte do Senhor até que Ele venha"(I Cor 11, 26).
Ora, a paixão e a morte de Nosso Senhor são ausentes.
— A Sagrada Escritura nos representa o Corpo de Jesus como estando no céu, de
onde não deve mais sair até o fim dos séculos.
Portanto não pode estar na Eucaristia.
Resp. — Mas a Sagrada Escritura nos assegura que o Corpo de Jesus esta também
na Eucaristia e, por isso, cremos nessas duas coisas.
E, de resto, quando ela nos diz que não voltará Jesus a este mundo, senão no fim
dos séculos, fala da sua vinda gloriosa, mas não exclui outras vindas, tanto assim que
nos fala da aparição de Jesus a S. Paulo no caminho de Damasco. (Atos, 9, 3-7).
— Nosso Senhor mesmo disse: "Vós tereis sempre pobres entre vós, mas a mim não
me tereis sempre".
Resp. — Ele fala aqui da presença visível do seu Corpo mortal, mas não
exclui a presença visível do seu Corpo na SS. Eucaristia; diz, com efeito, em outra parte:
"Estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos".
— S. Paulo chama a Eucaristia pão (I Cor 11, 26).
Como se pode dizer, portanto, que é o Corpo de Jesus?
Resp. — Ele a chama pão, porque é feita do pão e tem aparência de pão; mas
acrescenta também que aquele que participa deste pão, participa do Corpo de Cristo.
Além disso temos na Sagrada Escritura numerosos exemplos em que uma coisa que
mudou de natureza conserva ainda o nome do que era antes.
Assim Eva é chamada o osso de Adão (Gen 2, 23). Adão se chama barro; porque foi
feito de barro, a varinha de Aarão chamou-se varinha, mesmo depois que se
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transformou-se em serpente (Ex. 7, 12); a água que se mudou em vinho, é ainda
chamada água. (Jo 2, 9).
A Sagrada Escritura chama também muitas vezes as coisas conforme a sua
aparência: assim os anjos em forma humana são chamados homens. (Gen 18, 2)
XI
A Eucaristia e a Tradição
E agora, depois de termos ouvido o testemunho Divino da Sagrada Escritura, vamos
ouvir o testemunho da história. Os nossos irmãos separados, os protestantes, tem a
coragem de afirmar que o dogma da presença real de Jesus na hóstia foi introduzido
na Igreja no século VIII, isto, porém, é contrário a verdade histórica. Com efeito, ouça o
leitor como falaram da Eucaristia os Padres e Doutores da Igreja, que existiram antes
do século VIII.
No primeiro século havia uma espécie de hereges chamados fantasiastas ou
docetas, que negavam a realidade do Corpo de Jesus Cristo, isto é, sustentavam que
Jesus não tinha assumido da Virgem Maria um corpo real, mas apenas aparente.
Sto. Inácio, Bispo de Antioquia desde o ano 68, discípulo de S. Pedro, falando
desses hereges, diz: "Abstêm-se da Eucaristia e da oração, porque não confessam que
a Eucaristia é a carne de Jesus Cristo Nosso Salvador, a qual foi sacrificada para a
remissão dos nossos pecados e que o Pai ressuscitou por sua benignidade”. (Epist. ad
Smyrn. 7).
O testemunho é peremptório: No I século professava-se na Igreja, exatamente
como hoje, que na Eucaristia existe o Corpo de Jesus Cristo, o mesmo que foi
crucificado, o mesmo que ressuscitou glorioso e triunfante.
No segundo século S. Justino mártir, na sua Apologia dirigida ao Imperador
Antonino, depois de ter falado da consagração do pão e do vinho, acrescenta: "Não
devemos receber a comunhão como se fora um pão comum, ou uma bebida ordinária,
tendo sido nós instruídos pela palavra de Deus que aquele alimento da Eucaristia é a
carne e o sangue de Nosso Senhor.
No mesmo II século aparece Sto. Irineu, que, combatendo os hereges que negavam
a divindade de Jesus Cristo, diz: "Como é que eles hão e acreditar que a Eucaristia é o
Corpo do Senhor e o seu Sangue, se não confessam que Jesus Cristo é o Filho do
Criador do mundo?"(Contra Hereses c. 28). Como se dissera: quem nega a divindade
de Jesus Cristo, não pode confessar a sua presença real na Eucaristia. Era, pois,
doutrina corrente no século II a da presença real.
No terceiro século Tertuliano afirma claramente a presença real de Jesus Cristo na
hóstia com estas palavras: "A nossa carne se nutre do Corpo e Sangue de Cristo afim
de que a nossa alma se alimente de Deus”. (De carne ressurrectionis. 8).
Também Orígenes manifesta a sua fé na presença, real, dizendo: "Outrora foi dado
em figura como alimento o maná, mas hoje é, na realidade, a carne do Filho de Deus o
nosso verdadeiro alimento (Homilia VII no liv. os Números ).
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A estes testemunhos dos três primeiros séculos podemos acrescentar o seguinte:
Com espírito de denegração, que o ódio inspira, os gentios acusavam os cristãos de se
nutrirem das carnes de um menino, em horríveis festins que a luz do dia não devia
iluminar. Os primeiros apologistas repeliram com horror e indignação esta atroz
calúnia; ela, porém, é para nós um índice precioso da fé inabalável dos nossos
primeiros pais. As carnes vivas e puras de Jesus Cristo se tornavam, para os inimigos
mal informados, uma carne humana, carne de um menino.
No IV século S. Cirilo de Jerusalém, expondo aos catecúmenos a doutrina católica
sobre os sacramentos, declara que o pão e o vinho, depois da consagração, são o
Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, e por isso os cristãos, recebendo o Corpo e o Sangue
de Jesus Cristo, se tornam verdadeiramente seus concorpóreos e consanguíneos.
(Catechs. 19, 7).
No século V Sto. Agostinho assim afirma a presença real de Jesus Cristo na
Eucaristia: "Aquele Pão, que vedes no altar, santificado pela palavra de Deus, é o
Corpo de Cristo; e aquele vinho, que se contém no cálice, é o seu Sangue”. (Serm. 117).
E comentando o salmo 98 diz: "Ninguém come aquela carne sem a ter adorado”.
No mesmo século ergue-se a voz potente de S. Cirilo de Alexandria que,
associando-se à Carta Sinodal, que os Padres do Concilio Alexandrino dirigiram a
Nestório, diz: "Nós celebramos um sacrifício incruento na Igreja e somos santificados,
participando do mesmo Corpo sagrado e do Sangue precioso de Jesus Cristo, Redentor
de todos; porque não recebemos a sua carne como carne comum, e sim como a
própria carne do Verbo, que se fez homem para a nossa salvação (can. 8).
No sexto século podemos, entre outros, alegar como testemunha da presença real
Cassiodoro na França, Fortunato na África e S. João Clímaco na Ásia, que diz: "A Igreja,
recebendo os hereges, que abjuraram completamente as suas heresias, torna-os
dignos do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo e participantes deste santo Sacramento”.
(Gradus. 15).
Finalmente no século sétimo temos o testemunho de S. Isidoro de Sevilha e o de S.
Teodoro de Canterbury que entre os pecados que devem ser manifestados em
confissão enumera também o de receber indignamente o Corpo do Senhor.
Portanto, como cada qual pode ver, não é verdade que o dogma da presença real
de Jesus Cristo na hóstia fosse desconhecido antes do século VIII. Não, a cristandade,
desde o seu berço, sempre acreditou nesse dogma; e se acreditou foi porque o próprio
Jesus Cristo lh’o ensinou por meio dos seus Apóstolos.
Resta resolver alguma objeções que os incrédulos podem fazer. Ei-las:
— Como é possível que esteja Jesus presente naquela hóstia pequenina, naquele
diminuto espaço.
Sim, isto é um mistério de fé, mas porventura não os há também na natureza? Por
exemplo, explique quem puder, como é que a natureza com a verdura dos seus
campos, com seus montes, com o seu firmamento estrelado, com todas as suas
magnificências, tão perfeitamente se reflete na minha pupila, que é apenas um ponto
imperceptível; como é que uma árvore gigantesca esta contida numa insignificante
semente, como é que alguns grãos de pólvora colocados sob um castelo o manda
pelos ares num instante. Disto ninguém pode dar uma explicação cabal. Não é, pois, de
admirar, se não podemos explicar de que maneira esta Jesus numa pequenina hóstia.
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— Como podemos admitir, dizem outros, a mudança do pão e do vinho no Corpo e
Sangue de Jesus Cristo, se o pão e o vinho permanecem os mesmos, que antes quer
depois da consagração?
É de notar que uma coisa qualquer devemos distinguir os acidentes e a substância.
Os acidentes são os elementos variáveis da coisa; a substância é o elemento invariável
e faz com que a mesma seja o que é e não outra. Por exemplo, tenho aqui um pão cru.
Mando cozê-lo; é ainda o mesmo pão? Quanto à substancia é, somente mudaram a cor
e o sabor. — Parto este pão. Em cada uma das partes que o dividi, tenho sempre o
mesmo pão? Tenho. E então, são a mesma coisa um pão inteiro uma metade, uma
migalha? São a mesma coisa quanto à substancia, não o são em relação à quantidade.
— Outro exemplo: Eu sou sempre o mesmo que há 30 anos atrás. E entretanto se
alguém comparasse a minha pessoa com um retrato que naquele tempo mandei tirar,
diria que aquele não é o meu retrato, pois nele apareço menor, imberbe, sem cabelos
brancos, mais ágil, menos feio do que agora. Que mudou em mim? Mudaram os
acidentes, mas a substância permaneceu a mesma, por isso sou o mesmo pobrezinho
que há trinta anos atrás.
Daí se pode compreender que os nossos sentidos percebem apenas os acidentes e
não a substância de uma coisa. Ora, por força das palavras da consagração a
substância do pão e do vinho se convertem na substância do Corpo e do Sangue de
Jesus Cristo e permanecem os acidentes do pão e do vinho; isto é, a cor, o sabor, a
quantidade, a qualidade. Eis porque tanto antes como depois da consagração não
percebemos nenhuma mudança no pão e no vinho.
— Como se pode afirmar que o Corpo de Jesus, que esta no céu, ao mesmo tempo
se acha em todas as hóstias do mundo? Então Ele tem tantos corpos quantas são as
hóstias consagradas?
Não. Jesus tem um só Corpo. Não é o Corpo de Jesus que se multiplica e sim as
hóstias que contém esse Corpo divino. É um mistério este, uma verdade que não se
pode compreender. Podemos porém, encontrar na natureza comparações que nos dão
uma pálida idéia disto.
Pronuncio uma palavra diante de um grande auditório e todos os ouvintes recebem
inteira essa palavra, e se a pronunciasse ante o microfone de uma potente difusora
poderia ser ouvida em todas as partes do mundo.
Desta maneira a minha palavra, pronunciada uma única vez, se acharia ao mesmo
tempo presente um todas as partes do mundo.
E Jesus, que é Deus, não poderá fazer com que o seu Corpo se ache presente em
todas as hóstias consagradas no mundo?
Não, repito-o, não podemos compreender semelhante portento, mas Jesus Cristo o
afirmou. Por isso curvemos a fronte e digamos: Senhor, eu creio.
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XII
A Comunhão sob as Duas Espécies
A COMUNHÃO sob as duas espécies não é necessária para os simples fiéis.
A existência deste preceito não se pode provar nem pela Sagrada Escritura nem
pela Tradição.
Não se pode provar pela Sagrada Escritura.
Com efeito, examinemos os textos que se podem alegar em favor da sentença
contrária.
Jesus disse: "Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu
Sangue, não tereis a vida em vós".
Estas palavras, como todos o reconhecem, contém um verdadeiro preceito de
Nosso Senhor, pelo qual impõe a todos comerem a sua carne e beberem o seu sangue.
Logo também os leigos tem que tomar o vinho consagrado.
Resp. — Efetivamente Nosso Senhor aqui impõe a todos beberem o seu sangue,
mas não diz de que maneira deve ser bebido.
Ora, o sangue de Nosso Senhor se acha também sob as espécies do pão, visto que o
corpo de Jesus, que se acha no pão consagrado, é um corpo vivo, e um corpo vivo não
está separado do sangue.
Logo, cumprimos o preceito de Jesus, mesmo recebendo somente o pão
consagrado.
— Jesus disse, consagrando o vinho: "Bebei disto todos". Portanto também os
leigos devem beber do cálice.
Resp. — Estas palavras foram dirigidas unicamente àqueles a quem logo depois
disse: "Fazei isto em memória de mim", e dava assim; o poder de consagrar a SSma.
Eucaristia.
Ora, este poder foi dado somente aos Apóstolos e aos seus sucessores no
sacerdócio.
Portanto o preceito de beber do cálice foi imposto apenas aos sacerdotes, quando
consagram a SSma. Eucaristia, isto é, quando celebram a Santa Missa.
— Quando Jesus consagrou o pão, não disse: "Comei disto todos"; mas só
acrescentou estas palavras para o cálice. Não foi, porventura, para condenar
antecipadamente a negação do cálice aos simples fiéis?
Resp. — Quando Jesus deu o pão, não era preciso que acrescentasse: — Comei
disto todos — porque Ele mesmo fez as partes e a cada Apóstolo deu uma parte, como
atesta o Evangelho.
Mas quando se tratou do cálice, a coisa era diversa, porque consagrou somente um
cálice e queria que todos bebessem do conteúdo daquele cálice. Era pois, preciso, que
acrescentasse: "bebei disto todos" e queria, com isto dizer: "Cada um de vós beba uma
porção do conteúdo deste cálice, de modo que chegue para todos".

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Não somente pela Escritura não se pode provar a existência de um preceito, que
imponha a todos os fiéis beberem do cálice, mas também por ela se pode provar que
este preceito não existe.
Com efeito, Jesus diz: "Quem comer deste pão, viverá eternamente". (Jo. 6, 59); isto
é, promete a vida eterna também aos que comerem apenas o pão consagrado.
Ora, se houvesse um preceito para todos, impondo beberem também do cálice, não
teria, certamente feito esta promessa pois quem transgride mesmo um só preceito de
Jesus, não pode esperar a vida eterna.
Portanto é claro que este preceito não existe.
O que é confirmado também pelas palavras de São Paulo: "Quem come deste pão
ou bebe o cálice do Senhor indignamente, é réu do Corpo e do Sangue do Senhor". (I
Cor 11, 27).
De fato, se o Apóstolo tivesse julgado necessário que os fiéis comungassem sob as
duas espécies, teria dito: "Quem comer deste pão e beber o cálice do Senhor
indignamente, é réu do corpo e do sangue do Senhor": mas, pelo contrário, disse:
"Quem come deste pão ou bebe o cálice do Senhor indignamente.."
Por conseguinte, assim como a recepção indigna de uma espécie é suficiente para a,
condenação, assim também a recepção digna de uma só espécie basta para a salvação.
Como acabamos de ver pela Sagrada Escritura não se pode provar a existência de
um preceito que imponha a todos beberem também o cálice, mas antes pelo contrário
o oposto se pode provar.
— Mas ao menos pela Tradição se pode provar a existência deste preceito, isto é,
pela praxe da Igreja antiga.
Não. A Igreja, desde os primeiros tempos, nunca pensou que existisse este preceito,
pois, se a comunhão, nos primeiros séculos, era dada ordinariamente sob as duas
espécies, nem por isso, se desconhecia o costume de dá-la sob uma só espécie.
Assim, por exemplo, refere Eusébio, (Hist. liv. 6, cap. 44) que, estando para morrer
o abade Serapião, S. Dionísio de Alexandria lhe enviou, por um dos seus sacerdotes, a
sagrada Comunhão sob as espécies do pão, mandando-lhe que a desse ao moribundo,
umedecida em água. Do mesmo conta S. Paulino, biógrafo de Sto. Ambrósio, que Sto.
Honorato, bispo de Vercelli, levou a Sto. Ambrósio, o Corpo do Senhor, o que apenas
feito, expirou o Santo. — Também as crianças comungavam na antiga Igreja sob uma
das duas espécies. Assim refere Nicéforo (Hist. Eccl. liv. 3, cap. 7). E em tempo de
perseguição, como atesta Tertuliano (De Uxoribus liv. 2, cap. 5) os fiéis levavam
consigo o pão consagrado para comungarem antes do martírio.
Mas, dirá alguém, o Papa Gelásio não ordenou a todos os católicos que recebessem
a comunhão sob as espécies do vinho?
Sim. Mas não porque julgasse ser isto obrigatório por preceito de Nosso Senhor. Ele
deu esta ordem com o fim de descobrir os maniqueus, que consideravam o vinho
como criatura do demônio. Esses hereges, ocultando os seus princípios aproximavam-
se, com os católicos, da Santa Comunhão. Então o Papa ordenou que se desse a
Comunhão aos fiéis sob as duas espécies do pão e do vinho, supondo que, por esse
meio, impediria os hereges de profanarem a SSma. Eucaristia.
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Defesa da Fé Católica
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Defesa da Fé Católica

  • 1. FREI DAMIÃO DE BOZZANO Missionário Capuchinho EM DEFESA DA FÉ 3a. Edição 6o. milheiro __________________ EDIÇÕES PAULINAS RECIFE 1 955 http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 2. Frei Damião de Bozzano Missionário Capuchinho http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 3. Nihil obstat Recife, 20 de agosto de 1953 Frei Tito de Piegaio, ofmcap CENSOR AD HOC ] Imprimatur Recife, 20 de agosto de 1953 Frei Otávio de Terrinca ofmcap CUSTÓDIO PROVINCIAL http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 4. PREFÁCIO EM DEFESA DA FE, é um sugestivo titulo o livro que Frei Damião de Bozzano dá à publicidade como lembrança de suas inúmeras e fecundas Santas Missões pregadas no decurso de vinte longos anos nas capitais e no interior do Nordeste brasileiro. Lendo o presente trabalho temos a impressão de ver realmente a bondosa o austera figura do grande Capuchinho e ouvir o tom profético de suas candentes apóstrofes aos pecadores, amancebados, adúlteros, protestantes, espíritas, acenando- lhes com voz vibrante a consequência inevitável de suas vidas transviadas: O Inferno. Laureado na Universidade Gregoriana de Roma, em Teologia Dogmática e Filosofia, Bacharel em Direito Canônico e por vários anos erudito professor de Sagrada Escritura, Frei Damião, usando de uma linguagem simples, compreensível, adaptada à população provinciana, é realmente admirável na lógica cerrada de sua argumentação e nas conclusões sempre claras e ao alcance de todos. Além da firmeza de doutrina, da lógica impecável a da simplicidade de forma, há ainda, neste livro outra qualidade de inestimável valor e que constituo a sua alma: A fé inabalável e a virtude dos santos. Sua virtude verdadeiramente excepcional, que é o segredo da eficácia de suas missões, perfuma todas as páginas. esclarece todos os argumentos, fortalece todas as conclusões e se transforma em poderoso motivo para a nossa adesão às verdades que defende com tanta convicção e clareza. É que sua vida, seus exemplos, suas palavras são a melhor demonstração das verdades que prega. EM DEFESA DA FÉ é pois um livro precioso que fala à inteligência e ao coração, destinado a opor um dique intransponível à onda avassaladora do corrução com que a heresia do Lutero ameaça as mais esplêndidas tradições do Brasil católico. É assim que Frei Damião, visando unicamente o bem das almas, multiplica-se a si mesmo, perpetuando no tempo e no espaço as suas grandes missões em defesa da fé que cimentou os alicerces da nacionalidade e que recebemos, como preciosa herança, dos nossos antepassados, para construir na solidez dos seus princípios a felicidade do nosso futuro. Recife, 20 do agosto de 1953. FREI OTÁVIO DE TERRINCA, ofmcap. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 5. I A verdadeira regra de fé Regra de Fé: Meio lógico, objetivo, pelo qual podemos conhecer as verdades reveladas por Deus. Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou ao mundo a sua doutrina, exigindo que todos a abraçassem sob pena de condenação eterna. Logo nos deve ter deixado um meio fácil e seguro para conhecermos esta doutrina. Qual este meio? Segundo os protestantes é a Bíblia tal qual é compreendida por cada indivíduo, ignorante ou douto. Segundo os católicos, é um magistério vivo, infalível, autêntico, isto é, a igreja docente, constituída por Jesus Cristo depositária das verdades reveladas. E as fontes, onde essa igreja vai haurir os ensinamentos de Jesus Cristo são a Bíblia e a Tradição. Onde a razão? Vejamo-lo. Neste capítulo vamos apenas provar a tese católica. a) Dizemos, antes de tudo, que Jesus, para dar conhecer ao mundo sua doutrina, constituiu um magistério vivo, isto é, escolheu certo número de homens, aos quais confiou o munus e o oficio de pregar a sua doutrina, obrigando todo o mundo a neles crer. Eis as provas: "Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide pois, instrui as gentes....ensinando-as a observar tudo que vos mandei; e eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos".(Mt. 28,18). Ainda mais: "Ide, pregai o evangelho por todo o mundo. Quem crer e for batizado será salvo, quem não crer será condenado". (Mc 10,16 )." "Quem vos ouve, a mim ouve. Quem vos rejeita, a mim rejeita, e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou". (Lc. 10 16). Por estas palavras deu aos apóstolos e somente a eles o oficio de pregarem o seu Evangelho; de fato, quando se tratou de colocar Matias no lugar de Judas que tinha prevaricado, afim de que pudesse pregar o Evangelho com os demais apóstolos, recorreu-se a uma eleição. (Atos 1, 23 ). Ora, esta não teria sido necessária, se Jesus tivesse a todos os cristãos o oficio de pregar o Evangelho, pois Matias, já mesmo antes da eleição, era cristão, discípulo de Cristo. Se, pois, foi preciso uma eleição, quer isto dizer que Jesus Cristo confiou somente aos apóstolos o oficio de pregar o seu Evangelho. E os apóstolos compreenderam dessa maneira as palavras de Jesus, isto é, que Ele lhes tinha imposto o munus e o oficio de pregar a sua doutrina. Por isso S. Marcos acrescenta: "Eles, os apóstolos, partiram e pregaram por toda a parte ". (Mc 16, 20). Eis, pois, o meio escolhido por Nosso Senhor para difundir sua doutrina: O magistério dos apóstolos; eles devem ensinar, pregar esta doutrina e todo o mundo deve acreditar nos seus ensinamentos. b) Dizemos, além disso, que este magistério vivo, por vontade de Jesus, devia durar até o fim dos séculos, ou por outras palavras, este munus, este oficio, que os discípulos http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 6. receberam, não devia acabar com a morte deles, mas devia ser transmitido aos seus sucessores. Com efeito Jesus diz: "foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide pois, instrui todas as gentes.... ensinando-as a observar tudo que vos mandei. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos"(Mt. 28,18). Mas não sabia Nosso Senhor que os apóstolos não poderiam ficar neste mundo até o fim dos séculos, para ensinar a todas as gentes a sua doutrina? Sem dúvida o sabia. Portanto, ele aqui falou aos apóstolos, como a pessoas que deveriam ter sucessores até o fim dos séculos, para ensinar a todas as gentes a sua doutrina E os apóstolos, fiéis executores do pensamento do divino Mestre, tinham cuidado de deixar quem continuasse seu magistério. Por isso S. Paulo escreve a Timóteo: "O que de mim ouviste por muitas testemunhas, ensina-o a homens fiéis, que se tornem idôneos para ensinar a outros". ( IITim 2,2 ). c) Dizemos, enfim, que este magistério vivo, é infalível, isto é, não pode ensinar erro algum sobre a fé ou sobre a moral. __ Com efeito, consideramos as palavras evangélicas: "Foi-me dado, diz Jesus, todo o poder no céu e na terra. Ide pois, instrui todas as gentes.... ensinando-as a observar tudo que vos mandei. E e eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos". (Mt. 28,18). Como vemos, Jesus aqui impõe aos apóstolos e aos seus sucessores ensinar tudo o que Ele ensinou e ensiná-lo até o fim dos séculos. E como esta fora uma empresa superior a simples forças humanas, promete-lhes a assistência onipotente. Ora, será possível que um magistério, assistido pela própria verdade que é Cristo, possa errar? Não é possível. Portanto, a igreja, assistida por Cristo, é infalível. Jesus diz ainda: "Quem vos ouve, a mim ouve. Quem vos rejeita, a mim rejeita, e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou". (Lc 10, 16). Porventura, ouvir a Jesus, não é ouvir ensinamentos infalíveis? Ora, ele afirma que aquele que ouve os apóstolos e aos seus sucessores, isto é, à Igreja docente, o ouve a Ele mesmo. Portanto, quem ouve a Igreja, ouve ensinamentos infalíveis. __ O mesmo repete Jesus naquela passagem que lemos em S. João (14 16 e 26 ) "Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito de verdade... Ele vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo que vos tenho dito". Pois bem, é possível o erro onde está o Espírito da verdade, que ensina e recorda tudo o que Jesus tem ensinado? Impossível. Ora, Jesus afirma que o Espírito da verdade ficará eternamente com os apóstolos e seus sucessores e ensinará e recordará tudo o que ele tem ensinado. Portanto com os apóstolos e com os seus sucessores não pode estar o erro, logo são infalíveis. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 7. __ Finalmente Jesus diz: "Ide, pregai o evangelho por todo o mundo, quem crer, e for batizado será salvo, quem não crer será condenado."(Mt 16,15). Ora, pergunto eu, será possível que Deus imponha ao mundo acreditar no erro sob pena de condenação eterna? Não: isto repugnaria à sua justiça, à sua santidade, à sua veracidade. Portando, Jesus impondo ao mundo a obrigação de acreditar no que ensina a Igreja sobe pena de condenação eterna, ao mesmo tempo dava a esta mesma Igreja a infalibilidade, afim de que nunca pudesse errar. Tudo isto é confirmado pelo Apóstolo S. Paulo quando chama a igreja: "Coluna e sustentáculo da verdade ". (Tim. 3,15). É claro, com efeito, que a Igreja não poderia ser coluna e alicerce da verdade se ensinasse o erro e a superstição. Eis portanto, provada pela Bíblia a primeira parte da tese católica.  Passemos a provar a segunda parte que sustenta serem duas as fontes, onde a Igreja vai haurir os ensinamentos de Jesus: a Divina Escritura e a Tradição. A Divina Escritura, é a palavra de Deus contidas nos livros por Ele inspirados. Chama-se também Bíblia, que significa: livro dos livros, livro por excelência. A Tradição é também a palavra de Deus que não foi escrita, mas ensinada de viva voz por Jesus e pelos Apóstolos. Existe esta tradição, ou por outras palavras, existem verdades reveladas que não se acham contidas na Bíblia? Existem. A própria Bíblia o declara. Eis, por exemplo, como fala S. Paulo na 2° epístola aos Tess 2,4: "Estai firmes, irmãos, e conservai as tradições que aprendestes de viva voz ou por epístola nossa". E no cap. 3,6 acrescenta: "Nós vos prescrevemos, em nome de N. S. Jesus Cristo, que vos aparteis de todos os irmãos que andam desordenadamente e não segundo a tradição receberam de nós". E na 2° epístola a Tim escreve: "O que de mim ouvistes por muitas testemunhas, ensina-o a homens fiéis, que se tornem idôneos para ensinar a outros". E no capítulo 1, 13 exorta ao mesmo Timóteo: "Toma por modelo as Santas Palavras que me tens ouvido na fé." E na 1° epístola aos Cor 11,2, congratula-se com os fiéis, porque haviam conservado as suas instruções: "Eu vos louvo, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim e guardais as minhas instruções, como eu vo-las ensinei". De que instruções fala aqui o Apóstolo? Sem dúvida, fala de instruções dadas de viva voz, já que era esta a primeira epístola que lhes enviava. Como S. Paulo, assim também fala S. João, quando diz no seu evangelho: "Muitas outras coisas há que fez Jesus, se elas fossem escritas uma por uma, suponho que nem no mundo inteiro caberiam os livros que se escrevessem". (Jo 21,25 ) e quando, http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 8. concluindo as suas ultimas epístolas, diz claramente que não quis confiar tudo à tinta e ao papel, deixando para fazê-lo de viva voz. Os textos citados e outros, que poderíamos alegar nos demonstram que nem tudo o que ensinaram Jesus e os Apóstolos, foi escrito: há verdade que ensinaram de viva voz; e por isso mesmo a tradição existe. Com razão, pois, a igreja vai haurir os ensinamentos de Jesus na Divina Escritura e na Tradição. II REGRA DE FÉ PROTESTANTE REGRA DE FÉ: Meio estabelecido por Nosso Senhor, para dar a conhecer ao mundo a sua Doutrina. No capítulo precedente demonstramos que esse meio é um magistério vivo, autêntico, infalível, isto é, a Igreja Docente; e demonstramos também que as fontes, onde essa igreja vai haurir os ensinamentos de Cristo, são a Divina Escritura e a Tradição. Os protestantes, porém, não concordam conosco: segundo eles a única regra de fé é a Bíblia, tal qual é compreendida por cada indivíduo, seja, ignorante ou sábio. Portanto não há Tradição, isto é, verdades de fé ensinadas somente de viva voz; tudo o que nosso senhor ensinou se acha na Bíblia. Nem há um magistério vivo, infalível, que tenha direito de interpretar a Bíblia e de impor aos outros sua interpretação: Cada qual pode interpretá-la como entender.  Vamos refutar essa doutrina. Os protestantes dizem, em primeiro lugar, que o meio, pelo qual podemos conhecer a doutrina de Nosso Senhor é tão somente a Bíblia. Respondo: __ Se assim fosse, dever-se-ia encontrar na Bíblia essa verdade, visto como seria de suma importância conhecê-la. Ora, pelo contrário, ninguém até hoje encontrou nem jamais encontrará, porque na Bíblia não figura. É, pois, esta uma afirmação gratuita dos protestantes. __ Se Nosso Senhor pretendesse nos deixar a Bíblia como Regra de fé, isto é, como meio para conhecermos a sua doutrina, deveria ter dito aos Apóstolos: Ide, escrevei Bíblias para todas as nações; pelo contrário disse: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura". (Mc 16,15). Não foi, pois, sua intenção deixar-nos a Bíblia como Regra de fé. E confirmou-o também com exemplo. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 9. Com efeito, quando Saulo na estrada de Damasco, lhe perguntou: __ Senhor, que queres tu que eu faça? __ Ele não respondeu: "Lê a Bíblia", e sim: __ Levanta-te, entra na cidade e ai te será dito o que deves fazer. (Atos 9,7). __ S. Paulo falava da mesma forma na sua epístola aos romanos. (Rm 10, 14). "Sem fé, diz ele, é impossível agradar a Deus". Mas qual o meio para chegar à fé? A Bíblia? Não. É a pregação dos que foram enviados a pregar. E conclui: "Logo a fé pelo ouvido e o ouvido pela palavra de Cristo." __ De resto a própria razão nos diz que Jesus não podia deixar-nos a Bíblia como única Regra de fé. De fato, ele quer que todos os homens conheçam e professem a sua doutrina. Mas se para isso, fosse necessária a leitura da Bíblia, como poderia então os analfabetos e os que não podem comprar uma Bíblia, conhecer e professar a doutrina de Jesus Cristo? Todos estes (e são maior parte do gênero humano) não poderiam ser cristãos. Não digam os protestantes que, que é bastante para os analfabetos que seus pastores lhes leiam e expliquem a Bíblia. Essas explicações, segundo a doutrina dos protestantes, não passam de opiniões individuais, que não tem autoridade alguma e variam segundo o capricho de cada um. Não são a palavra de Deus, e sim a palavra de Fulano, de Beltrano, de Sicrano. Por isso, repito-o, se fosse verdade, como dizem os protestantes, que o único meio, para chegarmos à fé, é leitura da Bíblia, os analfabetos nunca poderiam ser cristãos. Será possível que Jesus tenha estabelecido este meio para nos dar a conhecer a sua doutrina? Além disso, se a Bíblia fosse a única Regra de fé, como poderíamos conhecer com certeza qual é o verdadeiro sentido dos passos difíceis? Por exemplo: Quanto às palavras, com que Jesus instituiu à Santíssima Eucaristia, a Igreja Católica da uma explicação, e as seitas protestantes dão, pelo menos duzentas, cada uma sustentando que a sua é verdadeira. Agora quem é que tem razão? Pela Bíblia é impossível resolver a questão, pois a Bíblia é muda e a ninguém diz: Tu enxergas o verdadeiro sentido de minhas palavras e todos os outros estão no erro. Portanto, se a Bíblia fosse a única regra de fé, não poderíamos conhecer com certeza o verdadeiro sentido dos passos difíceis da mesma. Mas Jesus quer que conheçamos com certeza toda sua doutrina, todas as verdades que Ele ensinou, tanto as fáceis, como as difíceis. É impossível, pois que nos tenham deixado a Bíblia como Regra de fé.  http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 10. Em segundo lugar dizem os protestantes que não existe a tradição: Todas as verdades reveladas se acham na Bíblia. Mas quais são as razões que alegam para provar essa asserção? Ouçamo-las e vejamos quanto valem. S. Paulo na sua 2° Epístola a Timóteo (3, 15) diz que "todas as Escrituras são úteis e que elas podem instruir para a salvação". Resp. __ Se o referido texto dissesse, que a Escritura só, torna o homem instruído em todas as coisas necessárias para a salvação, então sim, a objeção seria irrefutável; mas dizendo simplesmente: "Todas as Escrituras são úteis e que elas podem instruir para a salvação" não exclui que a Tradição o seja da mesma forma. Mas replicam, __ é certo que Jesus em Mc 7,13 e Mt 15,3 rejeita a tradição dizendo: "E vós também, porque transgredis o mandamento de Deus pela vossa tradição?" "Em vão, pois me honram, ensinando doutrina e mandamentos que vem dos homens". Os referidos textos nada provam contra a tradição: pois Jesus rejeita as doutrinas e os mandamentos que vêm dos homens, que são feitos pelos homens. sem que tivessem autoridade para fazê-los. Ora, pelo contrário, a tradição que para a qual apela a Igreja Católica e que ela reconhece como segunda fonte de verdade revelada, não contém doutrinas e mandamentos que vêm dos homens, mas do próprio Deus; pois a tradição no sentido católico é: Certas verdades reveladas que Jesus Cristo e os Apóstolos ensinaram de viva voz e não por escrito e que, por isso mesmo, não se acham na Bíblia. Mas insistem os protestantes: "Não escreveu Moisés (Pen 4,2): "Não acrescenteis nada ao que vos digo"? __ Não escreveu S. João no Apocalipse (22,18) "Se alguém acrescentar uma palavra a estas coisas, que Deus faça cair sobre ele os flagelos descritos nesse livro?" Não escreveu S. Paulo (Gal 1,8). "Mas ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie um evangelho diferente do que vos anunciamos, que seja anátema"? Resp.-- Sim, escreveram tudo isto. Esses textos porém, nada provam contra a tradição, afirmam somente que a divina Escritura não deve ser adulterada. Como estas, assim também são as outras razões que os protestantes alegam contra a tradição, razões nada valem em si mesmas; e por isso bem podemos dizer que é outra afirmação gratuita dos protestantes o não existir a tradição. Afirmação gratuita? Não só. Mas também afirmação contrária à realidade. Com efeito, se fosse verdade que tudo o que Jesus e os apóstolos ensinaram se acha na Bíblia e que, consequentemente, não existe tradição, na Bíblia deveríamos encontrar quantos e quais são os livros inspirados, pois são ambas verdades reveladas. Mas onde se encontram? Já dirigi esta pergunta a um pastor protestante e como resposta alegou ele o texto: "Toda a Escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, para repreender, para corrigir, para formar na justiça (II Tim 3, 16 ). http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 11. Ora, cada qual pode ver que o texto acima não vem ao caso. Se S. Paulo tivesse dito: "Toda Escritura que se compõe de tais livros e tantos livros etc." então sim, poderíamos por esse texto conhecer quais e quantos são os livros, que compõe a Bíblia. Mas tendo dito simplesmente "Toda escritura divinamente inspirada é útil, etc." é necessário procurar em outra parte quais e quantos são os livros inspirados. Onde? Na Bíblia? Não, na Bíblia não figuram estas duas verdades. Devemos procurá-las na tradição; só ela diz quais e quantos são os livros inspirados; e portanto, existem verdades reveladas que não se acham na Bíblia, que é como dizer: A tradição existe. Poderíamos também acrescentar que a afirmação dos protestantes, além de ser gratuita é contrária à realidade, é também contrária aos ensinamentos claros da Bíblia, visto que a Bíblia fala em tradição. Dispenso-me, porém, de alegar textos como prova disto, tendo-os alegado na exposição da tese católica.  Por fim dizem os protestantes que cada qual tem o direito de interpretar a Bíblia conforme entender. Mas também isto como podem demonstrá-lo? Sei que alegam as palavras que lemos no cap. 5, 39 de S. João: "Examinai as Escrituras, pois julgais ter nelas a salvação..." Note-se, porém, que as alegam adulteradas, visto que Jesus não diz: "Examinai as Escrituras..." e sim: "Vós examinais as Escrituras..." Portanto estas palavras não contem uma ordem, como querem os protestantes, mas apenas indicam, enunciam um fato. Os hebreus não queriam reconhecê-Lo como o enviado de Deus; então Jesus, para lhes mostrar que era verdadeiramente o Messias, apela para o testemunho do Pai, para o testemunho de S. João Batista, para o testemunho das obras que cumpriu e, por fim como argumento ad hominem, diz: "Vós examinais as Escrituras, julgando ter nelas a salvação, pois bem, são elas que dão testemunho de mim". Qualquer pessoa pode reconhecer que Jesus aqui a ninguém impõe um preceito de ler as Escrituras e de interpretá-las como entender. Bem longe de dar esse direito, reprova-o pela boca de S. Pedro. De fato S. Pedro (II Epis 1, 19 ) depois de ter recomendado... etc.. a leitura e a meditação da Sagrada Escritura, acrescenta logo que ninguém deve ter a pretensão de a interpretar por autoridade própria. Tendo a Deus por autor só Deus pode explicar o seu verdadeiro sentido. De que maneira o explica? por meio de sua Igreja, como provamos na tese católica. O que é confirmado também pelo exemplo que lemos nos Atos dos Apóstolos (Cap. 15). Os judeus e os habitantes da Antioquia, fiando-se na sua própria razão, julgavam a circuncisão necessária. Saulo e Barnabé pensavam de outro modo. Apelaram para o livre exame, ou para a Bíblia interpretada por particulares? Não. Enviaram uma deputação, com Saulo e Barnabé, para consultar os pastores da Igreja em Jerusalém e estes decidiram a questão sob a inspiração do Espírito Santo. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 12. __ Mas não é preciso acrescentar argumentos, para provar que os protestantes não tem razão em sustentar que cada qual tem o direito de explicar a Bíblia como entender: o próprio bom senso repele esse absurdo. Explicar-me-ei com uma comparação: O Brasil tem seu códigos de leis. Todos podem ler esse código. Mas quem é que o pode interpretar autenticamente? Por exemplo: nasce uma questão entre Fulano e Sicrano. Fulano exige para si uma herança, interpretando de uma forma a lei do código civil; Sicrano também exige para si a mesma herança, interpretando de outra forma a mesma lei. Agora quem é que pode resolver a questão e dizer: A lei deve ser interpretada assim e assim; portanto a herança pertence a Fulano e não a Sicrano? É um pessoa qualquer ou é um Tribunal, uma autoridade legitimamente constituída? Até um menino me responderia que é um Tribunal, visto que a razão demonstra que, se um legislador deixasse as suas leis à livre interpretação de todos os cidadãos, poria a desordem e a confusão no seu país. Pois bem, a Bíblia é o código de Deus. Teria Ele deixado esse código à livre interpretação de todos? Nesse caso seria menos sábio que qualquer legislador humano. Sendo pelo, contrário, infinitamente mais sábio do que todos os legisladores, a própria razão nos diz que é impossível que tenha deixado a Bíblia à livre interpretação de todos. __ Para melhor compreensão disto, veja-se a que tristes consequências já tem levado no passado e ainda pode levar no futuro a livre interpretação da Bíblia. Os anabatistas de Musnter, e depois deles muitos outros, das palavras do Senhor: "Crescei e multiplicai-vos" tiraram como conclusão necessária a legitimidade da poligamia. Foi baseado, não sei em que passagem da Bíblia, que Lutero permitiu a Filipe de Hessem ter duas mulheres ao mesmo tempo. João de Leyde descobriu, lendo a Bíblia, que devia desposar onze mulheres ao mesmo tempo. Hermann ali descobriu que ele era o Messias enviado por Deus. Nicolau, que tudo o que tem relação com a fé é desnecessário, e que se deve viver em pecado afim de que a graça superabunde: Sympson, que se deve andar nu pelas ruas para convencer os ricos que devem ser despojados de tudo. E, para dizermos tudo numa palavra, não há crime e abominação que não tenha encontrado sua pretendida justificação em qualquer texto da Bíblia interpretado pelo espírito privado, fora da autoridade tutelar da Igreja Católica. Façamos aqui ponto e seja essa a nossa conclusão: A única regra de fé não é a Bíblia, interpretada como cada qual entender. A única regra de fé é o magistério da Igreja; e as fontes, onde ela vai haurir os ensinamentos de Jesus, são a Bíblia e a Tradição. Felizes os que seguem esta Doutrina. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 13. III A VERDADEIRA IGREJA Já vimos que, para conhecer a doutrina de Jesus Cristo, devemos ouvir a sua Igreja, e não simplesmente folhear a Bíblia, interpretando-a livremente, como pretendem os protestantes. Mas qual a verdadeira Igreja fundada por Nosso Senhor? A nossa, isto é, a Igreja governada por Pedro sempre vivente nos seus legítimos sucessores, que são os Papas. Para que apareça claramente essa verdade, é necessário provar três pontos: I - Que Jesus Cristo fundou a sua Igreja e entregou seu governo a Pedro. II- Que foi vontade de Jesus que Pedro transmitisse o governo da Igreja a seus sucessores. III- Que os sucessores de Pedro são os Papas. Neste capítulo vou demonstrar o primeiro ponto, cujas provas são claras no Evangelho, a não ser que alguém queira por si mesmo enganar-se. a) A primeira nos é oferecida pelas palavras que N. Senhor dirigiu a S. Pedro após ter Ele confessado a sua divindade. "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela". ( Mt 16,18 ) Observai: Ele compara a sua Igreja, isto é, a sociedade cristã, a um edifício e diz que o fundamento, a pedra sobre a qual construirá este edifício, será Pedro. Ora, o que é o fundamento de uma sociedade, ou, por outras palavras, o que é que sustenta, conserva e rege uma sociedade, assim como o fundamento conserva, sustenta e rege um edifício? É o poder, a autoridade suprema. Tirai, por exemplo, o poder central que nos rege, e esta sociedade política, que se chama Brasil se desmorona, acaba-se. Até mesmo uma família, que é uma sociedade tão pequena, exige um chefe que governe; se numa família o pai quiser uma coisa, a mãe outra, e os filhos se negarem a obedecer, aquela família se tornará uma verdadeira Babel. É, pois, certo que o fundamento de uma sociedade é o poder, a autoridade suprema. Portanto, dizendo Jesus a Pedro que o constituiria pedra fundamental da sua Igreja, outra coisa não lhe quis dizer senão que lhe entregaria a autoridade suprema nesta Igreja. Mas, dizem os protestantes, a pedra sobre a qual foi edificada a Igreja é o próprio Cristo. Ninguém jamais contestou, visto que a própria Bíblia afirma o afirma claramente. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 14. Mas não é esse o ponto da controvérsia. Trata-se de conhecer se também Simão Pedro, por vontade de Jesus Cristo, é a Pedra fundamental da sua Igreja. Ora, o texto Evangélico não deixa dúvida alguma a respeito, porque, note-se bem, Jesus falou a Pedro em aramaico e as palavras que lhe dirigiu, traduzidas ao pé da letra, diriam: "Tu és um rochedo e sobre este rochedo edificarei a minha Igreja". Palavras estas que nos fazem compreender claramente que o rochedo, sobre o qual quis Jesus edificar a sua Igreja é o próprio Pedro. Para melhor compreensão disto, vou alegar a comparação de um autor moderno: __ Eu digo: O Corcovado é um rochedo e sobre este rochedo foi levantado um monumento a Cristo Redentor. __ Como se entende essa proposição? Acaso o rochedo sobre o qual foi levantado um monumento a Cristo Redentor, não é o próprio Corcovado? Pois bem, o texto evangélico é do mesmo feitio. Jesus disse a São Pedro: Tu és rochedo e sobre este rochedo edificarei a minha Igreja. Não há, pois, dúvida alguma: O rochedo aqui é Pedro. E se Pedro é o rochedo da Igreja, repito-o, nela tem poder supremo, visto que o poder é o fundamento, o rochedo que sustenta e conserva a sociedade. Nem se diga que nesse caso há contradição na Sagrada Escritura, afirmando em outro lugar que a pedra fundamental da Igreja é Jesus Cristo, pois não é no mesmo sentido que isto se diz de Jesus e de Pedro. Jesus é a pedra fundamental por essência, Simão Pedro por participação; Jesus, pedra invisível, Simão, pedra visível. b) E tanto é este o sentido do Salvador, que Ele mesmo o exprime por outros termos não menos significativos: "Dar-te-ei, diz Ele ainda a S. Pedro, as chaves do reino dos céus". Jesus chama freqüentemente a sua Iigreja __ reino dos céus __ porque fundou essa sociedade para conduzir os homens ao reino dos céus, e afirma aqui que entregará as chaves deste reino a Pedro. Com isto que quer significar? Quer dizer que lhe entregará o governo deste reino. De fato, que recebe as chaves, fica encarregado da inspeção, cuidado e governo das coisas que elas guardam. Se eu, por exemplo, querendo sair para longe, entrego as chaves de minha casa a um amigo, por este mesmo ato o encarrego do cuidado e governo da mesma. Ora, Jesus afirma que entregará a Pedro as chaves do reino dos céus, isto é, da sua Igreja. Logo afirma que lhe entregará o cuidado, o governo dessa Igreja. c) E como para dissipar toda dúvida, explicando ainda melhor o seu pensamento, Jesus acrescenta: Tudo o que ligares na terra, será também ligado no céu, e tudo o que desligares na terra, será desligado também no céu. Ter poder de ligar e desligar numa sociedade, significa ter nela o poder de fazer leis; pois toda lei impõe uma obrigação e toda obrigação é um liame da consciência. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 15. Jesus prometendo, portanto, a Pedro o poder de ligar e desligar na sua Igreja, lhe prometeu o poder de nela fazer leis. Mas notai: Pedro pode fazer todas as leis que quiser, sem que seja possível que outro poder humano as anule, visto que serão ratificadas no céu: "Tudo o que ligares na terra o será também no céu". Ora, pergunto eu, quem é que numa sociedade pode assim fazer leis, senão quem tem a autoridade suprema? Logo Pedro tem esta autoridade na Igreja de Cristo. Mas, dirá alguém, não deu Nosso Senhor este mesmo poder de ligar e desligar a todos os apóstolos? (Mt 18,18). Sim, é preciso, porém, notar que a nenhum dos demais Apóstolos disse Jesus em singular: "Tudo o que ligares na terra, será também ligado no céu", mas dirigiu estas palavras a todos eles juntamente com Pedro, que já tinha designado como chefe. Com ele podem, portanto, ligar e desligar na Igreja, mas não o podem sem ele, independentemente dele. Nosso Senhor, depois de Ter prometido a Pedro a autoridade suprema na Igreja, lh'a entrega, dizendo-lhe: "Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas". (Jo 21, 16 ). __ Os cordeiros, como explicam os sagrados intérpretes, são os simples fiéis; as ovelhas, os sacerdotes, pois assim como as ovelhas dão a vida aos cordeiros, do mesmo modo os sacerdotes dão a vida espiritual aos fiéis por meio dos Sacramentos e da pregação do Evangelho. Portanto, como vedes, Pedro recebe o encargo de apascentar todo o rebanho de Cristo, tanto os cordeiros, como as ovelhas, isto é, tanto os simples fiéis, como os sacerdotes. Pois bem, apascentar um rebanho, não é porventura, o mesmo que o dirigir, conduzir e governar? Logo, recebendo Pedro o encargo de apascentar todo o rebanho de Cristo, recebe o encargo de dirigi-lo, conduzi-lo e governá-lo; e, por conseguinte, é o príncipe, o soberano, o chefe supremo desse rebanho. Por estas palavras, dizem os protestantes, Jesus quis apenas substituir a Pedro o privilégio de Apóstolo que tinha perdido pela sua tríplice negação na casa de Caifás. Resp. __ Onde se encontra que Pedro, negando a Jesus, perdeu o privilégio de Apóstolo? No evangelho não figura. Todavia, mesmo admitindo esta suposição gratuita dos protestantes, respondemos que Pedro já tinha sido reintegrado no apostolado antes que recebesse o encargo de apascentar o rebanho de Jesus, visto que a Ele também no dia da ressurreição, Nosso Senhor dirigiu estas palavras: "Como o Pai me enviou a mim, assim também eu vos envio a vós". (Jo 20, 21). __ Mas, afinal, insistem ainda os protestantes, quando Nosso Senhor disse a S. Pedro: "Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas", quis lher dizer: "apascenta o meu rebanho, ensinando-lhe a minha doutrina. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 16. Resp. No texto original grego, além da palavra "boske" que significa: apascenta, alimenta; há também "poimane tá prôbata mou" que em nossa língua se traduz: apascenta com império as minhas ovelhas. Não há, pois, dúvida alguma: por estas palavras Nosso Senhor entregou todo o rebanho a Pedro e, por conseguinte, o constituiu seu chefe supremo. E Pedro cônscio da sua autoridade, agiu como chefe supremo da Igreja: __ No cenáculo é ele quem ordena preencher com a eleição de Matias a vaga aberta no Colégio dos Apóstolos pela traição de Judas. (Act 1, 13). __ No dia de Pentecostes é ele quem fala ao publico e promulga a lei da graça. (Act 2, 14). No Sinédrio é ele quem defende o colégio apostólico perante os príncipes dos sacerdotes. (Act 5, 29 ). Ele é o primeiro a percorrer e visitar as Igrejas perseguidas (Act 9, 25); a ensinar a admissão dos pagãos ao batismo (Act. 10, 11); a infligir castigos, ferindo de morte Ananias e Safira e excomungando Simão, o mágico (Act 5, 1-8, 20). E no Concílio de Jerusalém, celebrado pelos Apóstolos, quem preside e põe termo às discussões, definindo a doutrina que se deve seguir? É Pedro. Ele fala e a sua decisão é acolhida com religioso silencio. O próprio Tiago, que era Bispo de Jerusalém, onde se achavam reunidos os Apóstolos, não se levanta senão para repetir a decisão de Pedro e aquiescer à mesma. (Act 15, 17).  Algumas objeções. __ Apesar de tantas provas em favor de São Pedro, ainda há quem queira sustentar que ele não foi constituído chefe supremo da Igreja. Eis algumas razões que alegam: Nos Atos dos apóstolos (8, 14 ) lemos que os Apóstolos, que estavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaria tinha recebido a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Ora, se envia somente um subalterno, não um superior. Resp. __ É falso. Há dois modos de se enviar: um por mandato, outro por conselho. Os filhos não enviam freqüentemente os pais? O exército não envia o general? Pedro foi enviado por conselho, não por mandato. __ São Paulo, pelo menos, não reconheceu São Pedro como chefe supremo da Igreja, porque o repreendeu publicamente em Antioquia (Epis. aos Galátas, 2, 4). Resp. __ Também um inferior em circunstancias graves, pode e até deve corrigir respeitosamente seu superior. São Pedro, tendo chegado em Antioquia judeus convertidos, por temor de escandalizá-los, pouco a pouco se foi subtraindo das refeições dos gentios e começou a adaptar-se por prudência às prescrições da lei mosaica. A sua conduta fez com que http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 17. outros judeus, que já tinham abandonado os seus ritos, os retomassem, lançando, desta maneira, confusão na Igreja de Antioquia, onde os judaizantes pretendiam que não se pudesse ser perfeito cristão, senão observando a lei mosaica. Por esse motivo, São Paulo, embora inferior, repreendeu a São Pedro. __ De resto, que São Paulo reconhecesse o primado de São Pedro, dão provas as suas epístolas. Citarei uma. Na Epístola aos Gálatas, entre os quais alguém lhe contestava a autoridade de Apóstolo, Paulo, para defender o seu direito, apela para a autoridade de São Pedro e frisa que, saído de Damasco depois de sua conversão, passados três anos, foi a Jerusalém para ver a Pedro e ficou com ele quinze dias. E não viu a nenhum outro dos Apóstolos senão Tiago (Gal. 1, 18). Porque frisa o Apostolo este fato? Porque tem importância ter ele ido visitar a Pedro numa cidade cujo Bispo era Tiago? Sem dúvida, porque Pedro era superior a Tiago e a Paulo; era, isto é, o chefe da Cristandade. Por tudo o que acabamos de dizer, fica pois, provado que Jesus, fundando a sua Igreja, lhe deu um chefe supremo na pessoa de Pedro. Querer negar esta verdade, significaria zombar das Divinas Escrituras que a ensinam claramente. IV Perpetuidade do primado Vimos que Jesus, fundando a sua Igreja, lhe deu um chefe supremo na pessoa de Pedro, ordenando-lhe que a governasse. Agora se pergunta: este poder supremo que Pedro recebeu para governar a Igreja de Cristo, devia expirar com a sua morte, ou o recebeu para transmiti-lo aos seus sucessores? O evangelho e a própria razão nos respondem que o recebeu par transmiti-lo. Eis as provas: A Igreja, segundo o Evangelho, é um edifício, que há de durar até o fim dos séculos. Ora, Pedro é o fundamento de tal edifício. Logo, ele também há de durar até o fim dos séculos, visto como um edifício não se pode conservar de pé sem fundamento. Mas, não sabia Jesus que Pedro não poderia ficar neste mundo até o fim dos séculos, para ser o fundamento da sua Igreja? Sem dúvida o sabia. Portanto, Ele falou aqui a Pedro, como a Pessoa que deveria ter sucessores até o fim dos séculos no ministério de governar a Igreja, afim de que fosse sempre verdade que Ele, Pedro, é o fundamento da Igreja de Cristo. __ Nosso Senhor disse ainda a Pedro: "Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas".(Jo 21, 15) entregando-lhe, desta maneira, todo o seu rebanho, para que o governasse. Por quanto tempo? Jesus não pôs limitação alguma. Por isso Pedro deve governar esse rebanho enquanto existir, isto é, até o fim dos séculos. É preciso, http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 18. pois que tenha sucessores, afim de que, por meio deles, possa governar, até o fim dos séculos, o rebanho de Jesus. __ De resto a própria razão nos diz que Pedro recebeu o governo supremo da Igreja, para transmiti-lo aos seus sucessores. Com efeito, toda sociedade exige um chefe que a dirija e governe, tanto é verdade isto, que, quando num país não há mais quem mande, temos a desordem, a revolução, a morte. Ora, Jesus Cristo fundou a sua Igreja, como uma grande sociedade. É possível que não lhe deixasse um chefe supremo que a dirigisse e governasse? Nesse caso cumpriria dizer que Ele não proveu suficientemente a sua Igreja. Mas isto não pode ser. É claro, portanto, que Pedro recebeu o governo supremo da Igreja para transmiti- lo a seus sucessores, que devem durar enquanto dura a Igreja, isto é, até o fim dos séculos.  Quem são os sucessores de Pedro? A história de todos os tempos do cristianismo nos responde que são os Papas. Isto é tão evidente que não seria preciso prová-lo. Todavia, se alguém ousasse pô-lo em dúvida, atenda às provas. Lendo a historia da Igreja, dois fatos incontestáveis se deparam aos nossos olhos: O primeiro é que os Papas, desde o tempo dos Apóstolos, governaram toda a Igreja de Cristo, apelando para a sua autoridade de sucessores de São Pedro, o segundo é que toda a Igreja reconheceu este governo e a ele se sujeitou sem um brado de protesto. Com efeito observai: __ 30 anos depois da morte de São Pedro, o Papa Clemente escreve aos Coríntios uma carta, condenando os abusos entre eles existentes e declarando que aquele, que não lhe obedecesse, pecava gravemente, e os Coríntios não somente aceitaram a carta, mas por muito tempo a leram em suas reuniões. __ No segundo século nasce no oriente a discussão sobre a celebração da Páscoa: Para alguns a Páscoa era o aniversario da morte de Cristo, para outros, o aniversario da sua ressurreição. E S. Vítor, Papa, põe termo a discussão, obrigando todos a seguirem os costumes de Roma, sob pena de serem excomungados. É verdade que alguns Bispos se queixaram desta medida enérgica usada contra as Igrejas asiáticas, mas ninguém sonhou em dizer ao Papa: "Usurpas um poder que não tem sobre toda a Igreja". __ No começo do III século São Calixto condena os Montanistas, que negavam a Igreja o poder de perdoar certos pecados. No mesmo século na Ásia e na África se discute sobre a validade do batismo conferido pelos hereges, e o Papa Sto. Estevão resolve a controvérsia, decidindo pelo valor daquele batismo; e a sua definição é aceita por aqueles que tinham defendido a sentença oposta. __ No Século IV Júlio I decreta que nada se defina nos Concílios orientais sem o consentimento dos Bispos de Roma. (Sócrates, hist. ecl. 2, 8-15). http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 19. __ No século V abre-se o Concilio de Éfeso, e Felipe, legado do Papa, assim fala diante de todos os Bispos reunidos: "... Celestino, sucessor e substituto legítimo de S. Pedro, nosso santo e bem-aventurado Papa, a este concilio me envia como seu representante". __ No século VI o Papa Sto. Hormisdas impõe aos Bispos do oriente a subscrição de uma fórmula de fé. Neste documento se afirma que na Sede romana, em virtude da promessa do Salvador: Tu és Pedro etc..., sempre se conserva imaculada a fé católica. E os Bispos, em número de 2.500, a subscrevem. É pois, claro que os Papas sempre exerceram a sua autoridade suprema em toda a Igreja de Cristo. E se a Igreja aceitou essa autoridade dos Papas sem oposição alguma, sem dúvida era porque, pela força invencível da verdade histórica, estava certa de que os Papas eram os legítimos sucessores de S. Pedro.  Outra prova no-la oferece os testemunhos dos Padres e doutores da Igreja. SANTO INÁCIO, Bispo de Antioquia, contemporâneo dos Apóstolos, na sua Epístola aos Romanos escreve que a Igreja de Roma "preside a comunhão universal de todos os fiéis". STO. IRINEU, discípulo de São Policarpo e de outros anciãos da idade apostólica, acrescenta ser necessário para todas as Igrejas se conformarem na fé com a Igreja Romana em razão de sua primazia de poder. (Adv. 3,3). SÃO CIPRIANO chama esta Igreja "cátedra de Pedro, Igreja principal, de onde se origina o sacerdócio". STO. AGOSTINHO em mil lugares atesta claramente a supremacia do Papa e afirma que "não querer reconhecê-lo como chefe supremo do cristianismo é indicio de suma impiedade ou de precipitada arrogância". E isto era tão conhecido de todos que o imperador Justiniano, escrevendo ao Papa João II, disse: "Tratando-se de negócios eclesiásticos, não quero que se tome deliberação alguma, sem o conhecimento de Vossa Santidade, que é chefe de todas as Igrejas. (Código de just. Tit. SSma. Trindade). Resumamos, pois, brevemente o que dissemos neste e no capítulo precedente: Nosso Senhor fundou a sua Igreja e entregou o seu governo a Pedro e aos seus sucessores. Ora, os sucessores de Pedro são os Papas. Logo, somente a Igreja governada pelo Papa é a verdadeira Igreja de Cristo. V Infalibilidade Papal O PAPA será sempre o chefe visível da Igreja de Cristo, por ser o sucessor de Pedro na sede de Roma e no primado. Várias são as suas prerrogativas. Minha intenção é falar de sua infalibilidade, afim de que os meus leitores possam ter da mesma um justo conceito e acautelar-se contra as calunias dos inimigos da nossa fé. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 20. Primeiro que tudo é preciso explicar o verdadeiro sentido da palavra infalibilidade: pois muitos há que, por ignorância ou por malícia, a desfiguram. Infalibilidade não é o mesmo que impecabilidade, porquanto infalibilidade significa impossibilidade de errar; impecabilidade ao contrário, impossibilidade de pecar. O Papa é infalível, mas não é impecável, e por isso mesmo ele também, como todos os fiéis, se confessa dos seus pecados. A Infalibilidade pode ser absoluta e relativa. É absoluta, quando alguém não pode errar em qualquer gênero de verdades; é relativa, quando alguém não pode errar com relação a certas verdades. A primeira é própria de Deus; ao Papa compete a segunda. E quais são as verdades acerca das quais ele não pode errar? São as verdades de fé e de costumes, isto é, as verdades que pertencem ao depósito da revelação. E note-se bem que, mesmo com relação a estas verdades, não é infalível senão quando, desempenhando o cargo de Pastor e Doutor de todos cristãos declara expressa e peremptoriamente que devem ser cridas pela Igreja universal. Isto suposto, digo que o Papa é infalível. Eis as provas: A primeira nos é oferecida pela Divina Escritura. Já vimos em outros capítulos que o poder e as prerrogativas de São Pedro são __ o poder e as prerrogativas do Pontífice Romano, seu legítimo sucessor. Pois bem: A Igreja é fundada sobre Pedro, isto é, sobre o Papa, de modo que a sua firmeza depende da firmeza do Papa. (Mt 16, 18 ). Ora, se o Papa pudesse torna-se mestre de erro, impondo a toda cristandade uma doutrina falsa, bem longe de dar firmeza à Igreja, arruiná-la-ia. Portanto nunca pode se tornar mestre de erro, que é o mesmo que dizer será sempre infalível. Além disso, Jesus Cristo diz que as portas do inferno jamais prevalecerão contra a sua Igreja, porque é fundada sobre Pedro, sobre o Papa, portanto a contínua vitoria da Igreja depende da vitória do Papa. Ora, se o Papa pudesse ensinar o erro, em vez de dar a vitória à Igreja arrastá-la-ia à derrota. Logo é impossível que ensine o erro. Jesus dá ao Papa as chaves da Igreja e afirma que Ele ratificará no céu o que o Papa tiver julgado na terra. Ora, poderá Jesus ratificar o erro, a mentira, a falsidade? Não. Portanto o ensinamento, a sentença do Papa deve ser isento de erro. Não basta, Jesus confere ao Papa o ofício de pastorear e reger toda a sua Igreja, todos os cordeiros e todas as ovelhas do seu redil; e por isso mesmo obriga toda a sua Igreja, cordeiros e ovelhas a lhe obedecer e receber a sua palavra e as suas leis. Ora, suponhamos que o Papa pudesse arrastar ao erro o redil de Jesus Cristo: que aconteceria? Aconteceria que toda a igreja posta na absurda alternativa de desobedecer ao Papa contra a vontade expressa de Jesus ou de seguir ao Papa, mesmo no erro. O que é impossível de se conceber. Cumpre, pois, admitir que o Papa é infalível. __ Queremos uma passagem ainda mais explícita? Abramos o Evangelho de S. Lc. 22, 31-32. "Simão, Simão, diz Jesus a Pedro, satanás vos pediu com instancia para vos joeirar como o trigo; mas eu roguei por ti, para que não desfaleça a tua fé, e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 21. Do texto resulta que a fé em Pedro será sempre pura, verdadeira, luminosa; pois Jesus lhe diz que rogou por ele, afim de que não desfalecesse na sua fé e é impossível que a oração de Jesus não seja atendida pelo Pai Celestial. Resulta também que esta promessa é feita a Pedro como chefe da Igreja e não como Pessoa privada, pois Jesus rogou que não viesse falhar a fé, afim de que ele, por sua vez, a confirmasse nos seus irmãos. É como se tivesse dito: "satanás vos pediu com instancia para vos joeirar como o trigo, e eu, para defender-vos poderia orar por todos; para todos poderia pedir essa firmeza inconcussa; mas não é preciso: orei por ti e a ti imponho o dever de confirmar e iluminar os teus irmãos. Portanto, não somente a fé do apostolo Pedro será sempre luminosa, pura, verdadeira, mas também a de quem lhe sucede no ministério de governar a Igreja; a do Papa. E por conseguinte, o Papa é infalível.  A este testemunho das Divinas Escrituras faz eco o da cristandade de todos os tempos e de todos os lugares. Não é verdade, como dizem os nossos adversários, que este dogma fosse desconhecido antes do século passado, em que Pio IX o definiu solenemente. Na Igreja sempre se reconheceu a infalibilidade do Papa. Eis alguns testemunhos que no-lo demonstramos claramente: Sto. Irineu, discípulo de São Policarpo e de outros anciãos da igreja apostólica, refutando os hereges do seu tempo, diz: "Com a Igreja romana, por sua primazia, devem concordar na fé todas as Igrejas, isto é, os fiéis de todo o mundo..." (Adv. Haer. Liv. III). Mas, se Roma pudesse errar, como ele afirmar esse dever? Portanto, segundo Sto. Irineu, Roma, a saber. O Papa não pode errar. S. Cipriano atesta a mesma verdade: "Atrevem-se, diz ele falando de certos hereges, atrevem-se a dirigir-se à Cátedra de Pedro, a essa Igreja principal, onde se origina o sacerdócio, esquecidos de que os romanos não podem errar na fé”. (Epist. 69, 19). S. Jerônimo escreve ao Papa São Dámaso: "Julguei meu dever consultar a Cátedra de Pedro. Só vós conservais a herança de nossos pais..." “Quem não colhe convosco, desperdiça... Decidi e não hesitarei em afirmar três hipóteses". Porque ele se declara pronto a aceitar qualquer decisão do Papa, mesmo quando, por impossível, propusesse um absurdo? Justamente porque sabe que o Papa é infalível, não pode errar em matéria de fé e de costumes. Ainda mais claro é o testemunho de Sto. Agostinho. Os Concílios de Milévio e de Cartago dirigiram-se ao Papa, afim de que condenasse Pelágio, que, com suas doutrinas, semeava a discórdia na Igreja. Apenas respondeu o Papa, Sto. Agostinho anunciou aos fiéis a sentença nestes termos: "sobre esta causa foram enviados dos Concílios à Sé Apostólica. Chegou-nos a resposta; esta terminada a causa. Oxalá acabe também o erro”. Roma, isto é, o Papa falou a a causa esta terminada, toda a dúvida cessa. Por que? Porque o Papa é infalível, não pode errar. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 22. No século V S. Leão Magno escreveu ao Concilio de Calcedônia que sua doutrina acerca do mistério da Encarnação não admitia discussão alguma e que só se tratava de crer. E os Bispos presentes no concílio, que eram número de 600, prorromperam numa exclamação unânime: "Assim o cremos. Os ortodoxos assim o creem; anátema a quem não crê. Pedro falou pelos lábios de Leão, Pedro vive sempre na sua sede”. (Ep. 93, 2). Por que todos se submeteram sem hesitação alguma? Sempre pela mesma razão: Porque reconheciam no Papa a Infalibilidade. Por todos os testemunhos e outros ainda, que facilmente poderíamos alegar, resulta que a infalibilidade Papal sempre foi reconhecida pela Igreja. VI Sacramentos O Sacramento é um sinal sagrado produtivo da graça, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo. Sinal é o que conduz ao conhecimento de alguma coisa que não esta ao alcance de nossos sentidos. Pode ser natural e convencional, segundo a sua relação com a coisa seja fundada em a natureza ou sobre uma convenção. Por exemplo: A fumaça é o sinal natural do fogo; as lágrimas o são da dor; uma luz vermelha colocada em meio ao caminho é um sinal convencional de perigo. Também os Sacramentos são sinais e sinais sagrados, porque indicam algo de sagrado, isto é, a graça divina. Note-se, porém, que não são sinais vazios, isto é, não indicam apenas a graça, mas de fato produzem a graça que significam. Por isso Jesus, falando do Batismo disse: "Se alguém não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus”. (Jo 3, 5). Como se vê, Jesus aqui atesta que também a água do batismo é causa do nosso renascimento espiritual: O Espírito Santo é a causa principal e a água causa instrumental, isto é, meio, instrumento de que se serve Deus, para nos fazer nascer para a vida da graça. Erram, pois os protestantes, quando ensinam que os Sacramentos são meras cerimônias exteriores, testemunhando que a graça esta na alma, sem o poder de infundi-la. Não, além de sinais, são causas que por sua própria virtude produzem a graça independentemente dos méritos de quem os administra e das disposições de quem o recebe. Uma chave manejada quer por uma pessoa sadia quer por uma doente, abre sempre a porta, e assim também um Sacramento, quer administrado por um Santo, quer por um pecador produz igualmente a graça, contanto que seja administrado como Jesus o determinou. Quanto às disposições de quem os recebe, são necessárias para que os Sacramentos produzam a graça, mas não são essas disposições que dão aos Sacramentos a virtude de produzir a graça, assim como a secura da madeira não dá ao fogo a virtude de queimar. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 23. Diferem, pois, os Sacramentos da Oração, das obras e dos sacramentais, (água benta, imposição das cinzas etc.) que tiram a eficácia unicamente das disposições religiosas do sujeito. Dissemos também que os Sacramentos são sinais instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo. É evidente, com efeito, que somente Deus pode ligar um sinal sensível a faculdade de produzir a graça. Não é Ele o dono da graça? Portanto Dele depende determinar como quer comunicar a graça. Os Sacramentos são sete. De fato os Gregos cismáticos, que se separaram da Igreja Católica no século IX e os Nestorianos, caldeus, coptas, que se separam no século V, tem os seus sacramentos conforme aos nossos, quanto ao número e á natureza. Mas não se pode admitir que tenham recebido esta crença da Igreja romana depois da separação, considerada a hostilidade, que sempre nutriram contra os católicos latinos. É lógico, portanto, concluirmos que ao tempo do cisma, isto é, respectivamente nos séculos IX e V a doutrina da existência dos sete Sacramentos era doutrina da Igreja inteira. E, por conseguinte, tivera origem dos Apóstolos, porque caso se houvesse introduzido, nos séculos precedentes, algum sacramento, tal inovação não se podia realizar, sem provocar discussões muito vivas. E disto nenhum vestígio existe nos escritos dos Padres. VII Batismo O BATISMO é um sacramento que nos torna cristãos, isto é, sequazes de Jesus Cristo, filhos de Deus e membros da Igreja. Que seja Nosso Senhor o autor do batismo é claro pelo próprio evangelho: "Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide, pois, instrui todas as gentes, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo..."(Mt 28, 18-20). "Ide por todo o mundo; pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado, será salvo, quem não crer será condenado. (Mc 16, 15). "Se alguém não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus". (Jo 3, 5). Em todos os textos acima se manifesta Nosso Senhor autor do batismo e proclama a sua necessidade para a salvação. O batismo é para todos necessário: Para os adultos e para as crianças. a) É necessário para os adultos. De fato, diz Jesus: "Se alguém não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus". (Jo 3, 5). Este renascimento espiritual, que Jesus proclama necessário para entrarmos no reino de Deus, se dá pelo batismo, como aparece no próprio texto e das palavras de S. Paulo, que chama o batismo: "Banho de regeneração". (Tito 3, 5). Portanto o batismo é necessário para entrarmos no reino de Deus. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 24. b) O batismo é necessário também para as crianças, pois, Jesus não faz exceção alguma; mas diz simplesmente: "Se alguém não renascer..." Uma criança é alguém, isto é, uma pessoa como todos nós. Portanto, para entrar no reino dos céus, igualmente tem que renascer pelo batismo. Além disso ninguém pode conseguir a salvação senão por Jesus Cristo (Rom 18), isto é, senão se incorporar com Jesus Cristo, tornando-se seu membro. Mas em o Novo Testamento ninguém se incorpora com Jesus Cristo senão pelo batismo, conforme se Lê na epístola aos Gálatas (3, 27) "Todos os que fostes batizados, vos revestistes de Cristo". Logo todos devem ser batizados, e sem o batismo não se pode conseguir a salvação. A própria Sagrada Escritura confirma essa doutrina, pois nos fala de famílias inteiras batizadas (Atos 16, 15,33: 18-8 Cor 1, 16). Ora, é verossímil que nelas houvesse crianças. Mas é especialmente pela tradição que se prova a necessidade do batismo para as crianças. Eis alguns testemunhos antiquíssimos a esse respeito: STO. IRINEU, que viveu no II século, diz: "Todos os que forem regenerados em Jesus Cristo, isto é, crianças, jovens, velhos, serão salvos". (Liv. 4 cap. 22, 14 ). As palavras: Os que forem regenerados se devem entender: os que forem batizados, pois a regeneração em Cristo é pelo Batismo, por isso o Apóstolo o chama: "Banho de regeneração". (Tito 3,5). ORÍGENES, no terceiro século repete a mesma verdade: : É na Igreja uma verdade provinda dos Apóstolos dar o batismo às crianças". (Liv 5 na epístola aos Rom 9). S. CIPRIANO, no III século escreve: Pareceu-me bem e à todo o Concilio que as crianças sejam batizadas mesmo antes do oitavo dia". (Ep. 63) Daí podemos legitimamente concluir: Se os cristãos dos primeiros séculos batizavam seus filhos, apenas nascidos, sem dúvida era por ordem dos apóstolos e, por conseguinte, do próprio Jesus Cristo.  E porque também as crianças devem ser batizadas para entrarem no céu? Ei-lo: O céu é a herança de Deus. Ora, tem direito à herança somente aquele que é filho. Portanto, tem direito ao céu aquele que é filho de Deus. Mas, nós, simples homens, não somos filhos de Deus, pois, não possuímos a mesma natureza como é exigida entre pai e filho. Portanto não temos direito ao céu. O que nos torna verdadeiramente filhos de Deus é a graça santificante, que é uma participação da própria natureza divina. Uma alma adornada de graça santificante, é filha de Deus e, por conseguinte tem direito ao céu. Esta graça divina tinha sido dada aos nossos primeiros pais com direito de transmiti- la também a nós, seus descendentes, sob a condição; porém, de que se mantivessem http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 25. fiéis a Ele. Mas não mantiveram a condição; desobedeceram a Deus; por isso perderam essa graça para si e para todos nós. Hoje ninguém no primeiro instante de sua existência, possui a graça santificante (exceto Maria Santíssima, em virtude dos merecimentos de Jesus Cristo, seu Filho). E esta privação da graça santificante, em que todos somos concebidos, é justamente o que se chama pecado original. Foi em vista disto que S. Paulo escreveu: "Somos por nascimento filhos da ira" (Ef. 2) e também: "Todos pecamos em Adão" (Rom 5, 12). Quando é que pela primeira vez nos é prodigalizada a graça divina? Quando recebemos o batismo. Eis porque também as crianças devem ser batizadas, para se tornarem, pela graça santificante, filhas de Deus. Dizem os protestantes: Jesus diz: "Ide, pregai o evangelho a toda criatura; quem crer e for batizado, será salvo. Quem não crer será condenado". (Mt 15, 16). Mas a criança não pode crer, logo não pode ser batizada. Aqui Jesus fala dos adultos, pois fala de pregação do Evangelho; e a pregação só pode se dirigir a uma pessoa adulta, isto é, a uma pessoa que já tenha o uso da razão. Portanto deste mesmo texto resulta que um adulto, para ser batizado, deve crer. Mas não resulta absolutamente que só os adultos devem ser batizados. Ainda os protestantes: o batismo impõem obrigações; por isso não se pode administrar a uma criança sem o consentimento da mesma. Alcance primeiro o uso da razão, e então por si mesma resolverá, se quer, ou não quer pertencer a religião cristã e receber este sacramento. É verdade que o batismo impõe obrigações, mas são obrigações que a própria criança tem que aceitar apenas tiver alcançado o uso da razão; por isso bem podem os pais aceitar, em nome da mesma, estas obrigações, batizando-a, apenas nascida. Além disso, o batismo confere, a quem o recebe o privilégio de filho de Deus e herdeiro do céu. Portanto, aos pais, batizando os filhos, apenas nascidos, bem longe de fazerem uma afronta à sua liberdade, fazem, pelo contrário o que de melhor por eles podem fazer. E se não batizassem seriam cruéis para com os mesmos. Explico-me com um exemplo. Uma potentado se apresenta a dois esposos, que, há pouco, receberam a dádiva preciosa de um filho, e lhes diz: "Tenho a vontade de constituir o vosso filho herdeiro de todos os meus bens; é preciso, porém, que me concedais a licença de fazê- lo". E eles: "Sentimos muito, mas não podemos conceder esta licença, porque seria ofender a sua liberdade. O Sr. tenha a bondade de esperar que o nosso filho chegue ter compreensão do que está fazendo, e então lhe perguntará, se quer ou não quer aceitar a herança". Por acaso, seria o comportamento destes pais para com o filho louvável? Certamente que não. O mesmo se diga em nosso caso: O batismo oferece à criança direitos e bens de uma fortuna de inapreciável valor, de suma importância. Não é, pois, preciso esperar que alcance o uso da razão, para se lhe administrar o batismo. Os pais que esperam até aquela época são dignos de severa repreensão. E de resto, não se costuma em toda parte registrar os filhos apenas nascidos? http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 26. Ora, se por este privilégio adquirem os direitos de cidadãos do país, contraem, igualmente os respectivos deveres; e contudo ninguém jamais pensou que se deva fazer o registro civil, somente quando os filhos tiverem atingido o uso da razão. Por que, pois, não será lícito administrar aos filhos, apenas nascidos, o batismo, pelo qual adquirem eles o direito de cidadãos do céu? Não há, portanto, motivo algum para diferir o batismo dos filhos até a idade adulta; e os que assim fizerem, são culpados diante de Deus.  O batismo se pode conferir validamente quer por imersão, quer por infusão, isto é, despejando água na cabeça, quer também por aspersão, isto é, jogando água no batizando. Prova-se pela Sagrada Escritura. Batizar é palavra grega que em nossa língua significa não somente mergulhar, mas também lavar. Por exemplo, a Sagrada Escritura diz que os fariseus, vindo da praça pública, não comem sem lavar as mãos ( Mc 7, 4 ). No texto original o lavar é batizar. Ora, uma pessoa pode ser lavada de três modos: mergulhando-a na água; despejando-se água sobre a mesma, ou jogando-se lhe água. De que modo Nosso Senhor quer que os homens sejam batizados, isto é, lavados? Nada determina Ele a respeito. Portanto, a Igreja pode determinar, escolher o modo que mais lhe aprouver. O Batismo por imersão foi principalmente usado na Igreja por muitos séculos. Contudo, já desde o tempo dos Apóstolos às vezes, se conferia por infusão, isto é, despejando água na cabeça como resulta de algumas pinturas que ainda hoje se conservam nas catacumbas, como se vê no batismo de S. Romão, administrado por S. Lourenço e do batismo de pessoas acamadas (S. Cornélio, epist. Fábio c. 14) como expressamente se ensina na doutrina dos doze Apóstolos (c. 7): "Se não tiveres água de fonte, batiza com outra água; se não tiveres água fria, batiza com água morna. E se não tiveres água suficiente para imersão, despeja três vezes água na cabeça em nome do Padre do Filho e do Espírito Santo". Além disso lemos na Sagrada Escritura que S. Paulo se levanta para receber o batismo (Atos 9, 18; 22, 16) e na cidade, à meia noite, batiza o carcereiro e outros de sua família (Atos, 16, 33). Ora, é muito improvável que o batismo tenha sido conferido por imersão nessas ocasiões, porque como se pode supor que na casa e na prisão houvesse tanque próprio para nele mergulhar uma pessoa? O mesmo se diga do batismo que foi conferido a três mil homens no dia de Pentecostes. (Atos 2, 41). Poderíamos também acrescentar que, se a imersão fosse necessária para o valor do batismo, a sua administração tornar-se-ia frequentemente muito difícil por falta de água, ou pelo frio, ou pela multidão, ou pelas enfermidades dos batizados, que podem ser crianças recém nascidas, velhos, moribundos...  http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 27. Conclusões práticas. As mães em estado interessante devem se abster de tudo o que podem prejudicar o fruto que trazem no seu seio. E as que provocam voluntariamente o aborto são duplamente homicidas porque suprime a vida ao filho e lhe impedem a entrada ao reino dos céus, por morrer sem batismo. A Igreja, para inspirar horror a este crime, fulmina de excomunhão não somente as mães, mas também os que mandam ou que aconselham o aborto, os que para tal ensinam remédios ou o aplicam. Os pais tem a obrigação grave de batizar quanto antes os seus filhos, para não exporem ao perigo de privá-los para sempre da glória do céu. E se, por acaso, se acharem os filhos em perigo de morte, devem batizá-los em sua casa, derramando água natural sobre as cabeças dos mesmos e, ao mesmo tempo, pronunciando estas palavras: "Eu te Batizo em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo". Estando presente outras pessoas que saibam e queiram batizar, sejam batizados os filhos por estas pessoas, e se não estiverem presentes outras pessoas, ou estas não souberem ou não quiserem batizar, então os próprios pais batizem seus filhos, em perigo de morte. VIII Confirmação ou Crisma O CRISMA é um sacramento no qual pela imposição das mãos e a unção com o crisma, proferindo certas palavras sagradas, se comunica ao batizado o Espírito Santo, para que valorosamente confesse a sua fé. O Crisma é um verdadeiro sacramento da Nova Lei. I — Prova-se pela Sagrada Escritura. Lemos, com efeito, nos Atos dos Apóstolos (8,12,17) que os Samaritanos, tendo recebido a palavra de Deus, foram batizados por Felipe; e os Apóstolos lhes enviaram Pedro e João, os quais, assim que chegaram, oraram por eles, afim de que recebessem o Espírito Santo, porque este ainda não tinha descido sobre nenhum deles, mas tinham sido somente batizados em nome do Senhor Jesus. Em seguida lhes impuseram as mãos e eles receberam o Espírito Santo. Do mesmo modo São Paulo, vindo a Éfeso, batizou em nome de Jesus, discípulos de S. João e "neles impôs as mãos, para que o Espírito Santo baixasse sobre eles". (Atos 19, 5-6). Temos aqui — a) um sinal, um rito sagrado realizado pelos Apóstolos: a imposição das mãos; b) produtivo da graça, pois a esta imposição se seguiu a descida do Espírito Santo; c) um sinal instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, pois em coisa tão importante e fundamental os Apóstolos não agiam certamente conforme a sua vontade, mas em nome de Jesus, assim como na administração do batismo e na remissão dos pecados. Portanto fala aqui a Sagrada Escritura de um Sacramento, visto que um Sacramento, como dissemos em outro capítulo, é um sinal sagrado, produtivo da graça, instituído por Nosso Senhor. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 28. Ora, este Sacramento não é o batismo, pois os Samaritanos, a que S. Pedro e S. João impuseram as mãos, já tinham sido batizados por S. Felipe e os de Éfeso, antes de receberem a imposição das mãos por S. Paulo, foram por este batizados. Tão pouco pode ser a ordenação sacerdotal, como alguns supuseram, pois entre os que receberam este Sacramento em Samaria, havia também mulheres e as mulheres não podem ser ordenadas. Logo é o sacramento da Confirmação ou Crisma. Obj. — A imposição das mãos era empregada para dar os carismas extraordinários do Espírito Santo, tais como o dom dos milagres e da profecia, o dom das línguas, etc. Resp. — A imposição das mãos era feita principalmente, para que os fiéis recebessem o Espírito Santo, que Jesus prometeu dar a todos os que cressem Nele. (Jo 7, 38). Nos primeiros tempos, à imposição das mãos, se seguiam frequentemente estes prodígios, porque eram necessários para a conversão do mundo. Agora, que temos tantas provas da verdade da nossa santa religião, os milagres não são necessários. Mas o dom do Espírito Santo, que fortificava os primeiros cristãos e os tornava capazes de fazer qualquer sacrifício antes que perder a fé, ainda hoje é necessário para os fiéis. Por isso a imposição das mãos, que é justamente o Sacramento que nós chamamos — Crisma — ainda hoje continua e continuará até o fim dos séculos. II — Prova-se pela Tradição. Os Padres da Igreja, falam desta imposição das mãos para a vinda do Espírito Santo, como de verdadeiro Sacramento. Tertuliano (II século) diz: "Depois do batismo impõem-se as mãos para a bênção, se invoca e convida o Espírito Santo". (Livro sobre o Batismo, c. VIII) S. Cipriano (III século) na sua Epístola a Jubaiano, referindo-se ao texto dos Atos dos Apóstolos (8, 14) diz: "O que faltou do Batismo administrado por Felipe, isto foi feito por Pedro e João... Isto se faz também entre nós, para que os que são batizados, por nossa, oração e imposição das mãos, consigam o Espírito Santo". S. Cirilo (IV século), explicando o catecismo aos catecúmenos, diz: "Enquanto se faz uma unção visível sobre o corpo, a alma é santificada pela operação interior do Espírito Santo". Também Sto. Agostinho (V século), assim se exprime no seu livro contra Petiliano: "O Sacramento do Crisma não é inferior em santidade ao próprio Batismo. Por tudo o que acabamos de dizer fica suficientemente provado que o Crisma é um Sacramento e que os protestantes, rejeitando-o dão prova duma grande presunção, porque negam uma doutrina que é claramente ensinada pela Sagrada Escritura e admitida pelos cristãos de todos os tempos. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 29. IX A Eucaristia - Palavras da Promessa A EUCARISTIA é o sacramento do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor sob as espécies do pão e do vinho, ou, por outras palavras, é Nosso Senhor vivo e verdadeiro assim como esta no céu. Se quisermos acreditar no Evangelho, devemos também crer na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia, pois, mais claro não podia ele Ter falado, tanto quando prometeu este sacramento, como quando o instituiu. Palavras da promessa. Era o dia seguinte ao da multiplicação dos cinco pães, e Jesus, estando em Cafarnaum, começou a dizer ao povo que O cercava: "Eu sou o pão vivo que desci do céu; se alguém comer deste pão, viverá eternamente, e o pão que eu darei é a minha carne pela vida do mundo, isto é, imolada pela vida do mundo". (Jo 6, 52 ). Esta palavras significam claramente que Jesus queria dar em alimento o seu corpo verdadeiro e real e não somente uma figura ou imagem do mesmo. Os seus mesmos ouvintes desta maneira interpretaram as suas palavras e, ficando escandalizados, exclamaram: "Como pode Este dar-nos a sua carne a comer?" (Jo 6, 53 ). Antes de chegarmos à resposta de Jesus, cumpre-nos notar o seguinte: Quando os ouvintes, por simplicidade ou ignorância, não tinha bem compreendido o verdadeiro significado de Suas palavras, costuma Ele explicar a Sua doutrina, especialmente em se tratando de coisas atinentes à salvação eterna, afim de que os discípulos não incorressem no erro. (Disto se encontram exemplos em Jo 3, 3-8 e Mt 16, 6-12 ) Pelo contrário, quando a sua doutrina tinha sido bem compreendida, embora desagradasse aos ouvintes, ainda mais energicamente costumava repeti-la. (A respeito se encontram exemplos em Mt 3, 2-7 e em Jo 8, 51-59). E agora ouçamos a resposta que dá aos judeus, que lhe perguntam: "Como nos pode dar a sua carne a comer?" E Jesus: "Em verdade, em verdade vos digo, se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia, porque a minha carne é verdadeiramente comida e o meu Sangue verdadeiramente bebida". O que foi o mesmo que lhes dizer: Não somente vos posso dar a minha carne a comer e o meu sangue a beber, mas disto vos imponho um preceito sob pena de morte eterna. Queria, portanto, que as suas palavras fossem tomadas ao pé da letra. A semelhantes insistências do Divino Mestre, muitos discípulos se revoltam e clamam: "É duro este discurso e quem o pode ouvir?" Por que o achavam duro? Porque eles também não podiam compreender como pudesse Jesus dar a sua carne a comer e o seu sangue a beber; e, não querendo admitir tantos prodígios, o abandonaram. E acaso Jesus o detêm? Não. Pelo contrário volta-se aos doze Apóstolos e diz: "quereis vós também retirar-vos?" Como se quisesse dizer: "Quereis ou não quereis crer que eu vos darei a minha carne a comer e o meu sangue a beber? Se não quereis crer, ide embora com os outros". Foi então que S. Pedro em nome dos doze, exclamou: "mestre, para quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna; e nós temos http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 30. crido e reconhecido que és o Cristo, o Filho de Deus. (Jo 6, 70 ). Com esta resposta também S. Pedro declarou que nada tinha compreendido com relação ao mistério que Jesus acabava de revelar, contudo, acreditava, porque sabia que Jesus era o Filho de Deus. Reflitamos um pouco sobre este fato da apostasia dos discípulos. Abandonam a Jesus, porque não querem admitir que Ele possa dar a comer a sua própria carne e a beber o seu próprio sangue. Ora, suponhamos que tivessem compreendido mal as palavras de Jesus, não devia Ele explicar-se melhor? Que lhe custava dizer: Não vades embora, pois não é do meu próprio corpo nem do meu próprio sangue que falo, e sim apenas tenciono vos dar a comer um pedaço de pão e a beber um pouco de vinho, como figura do meu corpo e do meu sangue. E isto teria sido bastante para impedir que aqueles discípulos O abandonassem. Jesus, porém, não deu esta explicação; Jesus que veio para salvar as almas, permitiu que caíssem num abismo de misérias. Pelo que cumpre dizer que prometeu dar a comer o seu próprio corpo e a beber o seu próprio sangue, pois era assim justamente que aqueles discípulos tinham compreendido as suas palavras e era por isso que O abandonavam. Algumas objeções Jesus declarou que as suas palavras deviam se entendidas em sentido figurado, dizendo: "O espírito é que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que vos tenho dito são espírito e vida". (v. 64) Resp. — Mesmo depois destas palavras continuaram os discípulos a entender em sentido literal o discurso do Mestre. Tanto assim que "a partir daí, — diz o Evangelho — muitos se retiraram e já não andavam com Ele". (Jo 6, 57). Não é verdade, portanto, que tenham declarado com isto, que as suas palavras deviam ser entendidas em sentido figurado. Qual é então o verdadeiro significado do v. 64? Ei-lo: Jesus tinha dito que era preciso comer a sua carne e beber o seu sangue, para ter a vida eterna. Julgando os discípulos que a carne de Jesus devesse ser tomada morta e feita em pedaços, Cristo responde: "Isto vos escandaliza? A ocasião do escândalo cessará, quando conhecerdes a minha Ascensão ao céu, pois então acreditareis mais firmemente na minha divindade e ao mesmo tempo compreendereis que não se trata de carne que há de ser feita em pedaços e devorada. Toda a vida procede do espírito; e por isso a minha carne por si só, isto é, separada da divindade, não poderia dar a vida. O que disse deve ser entendido da minha carne vivificada pelo espírito e pela divindade; dessa maneira dará a vida". — Jesus diz: "Eu sou o pão vivo que desci do céu". (Jo 6, 51). Ora, o corpo de Jesus não desceu do céu. Logo Jesus não fala do seu próprio Corpo. O Corpo de Jesus nunca se separou da sua divindade, desde o primeiro instante em que foi concebido no seio de Maria; é unido numa só pessoa com o Verbo Divino, de modo que quem recebe o Corpo de Jesus, recebe a própria pessoa de Jesus, recebe o Verbo Divino. Ora, o Verbo Divino desceu do céu. — Jesus promete a vida eterna aos que comem a sua carne e bebem o seu sangue. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 31. — Suponhamos que um rato coma uma hóstia consagrada. Iria para o céu? Não. Que aconteceria? Nada. Pois um rato não é capaz de vida eterna. Resp. — Jesus não promete, sem exceção alguma, a vida eterna a todos os que comem a sua carne e bebem o seu sangue; mas somente aos que comem e bebem dignamente a sua carne e o seu sangue. Tanto assim que nos adverte por S. Paulo: "Quem come deste pão ou bebe o cálice do Senhor indignamente, come e bebe para si a própria condenação. X A Eucaristia- Palavras da Instituição Não menos claramente falou Nosso Senhor quando, mantendo a sua promessa, instituiu este alimento da vida eterna. Ouçamos como os evangelistas referem o fato: — "Na mesma noite em que Jesus havia de ser entregue aos seus inimigos, estando no cenáculo com os discípulos, tomou nas suas santas e veneráveis mãos o pão, o abençoou e distribuiu com eles, dizendo: "Tomai e comei; isto é o meu corpo, que será entregue por vós a morte". E tomando o cálice, deu graças e a eles o entregou, dizendo: "Bebei dele todos, pois este é o meu sangue do Novo Testamento, que será derramado por muitos para a remissão dos pecados". E em seguida, dando aos discípulos e neles, a todos os sacerdotes o poder de fazer o que Ele mesmo acabava de fazer, acrescentou: "Fazei isto em memória de mim". (Mt 26, 26-30; Mc 14, 22-26; Lc 22, 19-22; Cor 11, 23-26). E agora seja-me lícito perguntar: Porventura Jesus não entregou por nós à morte o seu próprio corpo e não derramou para a remissão dos nossos pecados o seu próprio sangue? Portanto o pão e o vinho, depois da consagração, são o próprio corpo e o próprio sangue de Jesus Cristo, visto que ele mesmo disse: "Isto é o meu corpo, que será entregue à morte por vós; este é o meu sangue que será derramado por muitos para a remissão dos pecados". O texto original grego, em que foi escrito o Evangelho pelos próprios evangelistas, é ainda mais enérgico. Eis como refere as palavras de Jesus: "Isto é o meu corpo, meu próprio corpo, o que por vós é dado; Isto é o meu sangue, o meu próprio sangue, o que por vós é derramado". Pode haver coisa mais clara do que estas palavras? Afinal é um Deus quem fala, é um Deus cujo poder é infinito; é o Verbo eterno do Pai, que com um só ato de sua vontade fez o universo; é um pai moribundo, que na véspera de se sacrificar pelos seus filhos, lhes patenteia os sentimentos do coração. Quem ousará duvidar da verdade de suas palavras especialmente em tal circunstancias? Palavras de S. Paulo (I Cor 11, 23 a 26) Por isso os Apóstolos creram nelas firme e literalmente; e S. Paulo manifestava esta fé quando na sua linguagem enérgica, escrevia: "Quem come deste pão ou bebe o cálice do Senhor indignamente é réu do Corpo e do Sangue do Senhor". Notem-se bem estas ultimas palavras: "é réu — diz ele — do corpo e do Sangue do Senhor". Suponhamos, por ex., que alguém profane o retrato do chefe da Nação; torna-se, por acaso, culpado do seu corpo e do seu sangue? Não. É verdade que lhe faz uma ofensa, pois uma injúria, feita a um retrato, redunda em desonra da pessoa representada, mas http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 32. nem por isso se torna culpado do corpo e do sangue do chefe da nação, uma vez que não estão presentes no retrato. O mesmo se diga em nosso caso: Se a Eucaristia fosse apenas uma figura do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, alguém, profanando-a, não se tornaria culpado do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo. Logo, a Eucaristia não é apenas uma figura do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo; mas é o próprio do Corpo e o próprio Sangue de Jesus Cristo. E continua o mesmo Apóstolo: "Examine-se, pois, a si mesmo o homem e assim coma desse pão e beba deste cálice, porque quem o come e bebe indignamente, come e bebe para si a condenação, não distinguindo o Corpo do Senhor". (I Cor 11, 28-29). Ele aqui atesta novamente a presença real de Jesus Cristo há hóstia, já que, dando a razão pela qual é culpado quem comunga indignamente, diz: Por que desta maneira não distingue o Corpo do Senhor; isto é, não considera a SS. Eucaristia o que na realidade é, a saber, o Corpo do Senhor.  Vamos agora refutar as razões que os protestantes alegam contra esta doutrina. —Quando Nosso Senhor disse: "Isto é o meu Corpo" quis dizer: "Isto representa o meu Corpo" assim quando, mostrando um retrato posso dizer: "este é Fulano" e todos compreendem que não é o próprio fulano em carne e osso, mas uma representação do mesmo. Resp. — Que seja impossível interpretar assim as palavras de Jesus, demonstra-o e explica o Cardeal Wiseman. Alguns objetos — observa ele — por sua própria natureza são simbólicos, por exemplo, um mapa, um retrato. Outros o são por convenção, por exemplo, a bandeira. Portanto quando se diz: "Saudai, é o Brasil que passa", todos compreendem que o verbo significa "representa". Por fim quem fala ou escreve pode empregar, em sentido figurado, palavras que não são simbólicas, nem por natureza, nem por convenção. A ele compete advertir então àqueles que o leem ou escutam. Na parábola do semeador, por exemplo, Jesus dirá: O campo é o mundo. Se o afirmado nada tem de comum com estes três casos, não há dúvida que o sentido deve ser literal. Ora, o pão e o vinho não são, por sua própria natureza, símbolos do Corpo e do Sangue de um homem. Não o são também, por convenção: jamais em língua alguma se recorreu a estes dois elementos para representar a carne e o sangue humano. E, em terceiro lugar, não dá Jesus a entender em parte alguma que se trata de uma imagem ou de um símbolo. Não temos, pois, o direito de interpretar, em sentido figurado as palavras: "Isto é o meu Corpo" e traduzi-las "Isto representa o meu Corpo". http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 33. É de admirar que os protestantes interpretem em sentido figurado as palavras da instituição e que, por isso, considerem a Eucaristia como figura do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo. É de admirar, digo, porque eles sustentam que Deus proíbe, na sua lei, fazer imagens, e prestar culto às mesmas. E depois este mesmo Deus, segundo eles, nos teria deixado uma imagem, uma figura do seu Corpo e do seu Sangue, instituindo a Eucaristia. — São Paulo diz: "Fazei isto em memória de mim". (I Cor. 11, 49). Ora, não se recordam senão as coisas ausentes. Portanto Jesus Cristo não esta presente na hóstia. Resp. — A lembrança se opõe ao esquecimento. E nós podemos esquecer não somente o que é ausente, mas também os que não cai sob nossos sentidos; como, por exemplo, nos esquecemos de Deus, ainda que esteja presente em toda parte; por isso a Sagrada Escritura nos exorta: "Lembrai-vos do Vosso Criador durante a vossa mocidade". (Ecles 12, 1). Ora, Jesus é invisível na SS. Eucaristia; não cai sob os nossos sentidos. Podemos, pois muito bem consagrar a SS. Eucaristia em memória dele. Além disso a Eucaristia não se consagra justamente em memória de Cristo, mas da sua paixão e morte, conforme atesta S. Paulo: "Todas as vezes que comerdes deste pão... recordareis a morte do Senhor até que Ele venha"(I Cor 11, 26). Ora, a paixão e a morte de Nosso Senhor são ausentes. — A Sagrada Escritura nos representa o Corpo de Jesus como estando no céu, de onde não deve mais sair até o fim dos séculos. Portanto não pode estar na Eucaristia. Resp. — Mas a Sagrada Escritura nos assegura que o Corpo de Jesus esta também na Eucaristia e, por isso, cremos nessas duas coisas. E, de resto, quando ela nos diz que não voltará Jesus a este mundo, senão no fim dos séculos, fala da sua vinda gloriosa, mas não exclui outras vindas, tanto assim que nos fala da aparição de Jesus a S. Paulo no caminho de Damasco. (Atos, 9, 3-7). — Nosso Senhor mesmo disse: "Vós tereis sempre pobres entre vós, mas a mim não me tereis sempre". Resp. — Ele fala aqui da presença visível do seu Corpo mortal, mas não exclui a presença visível do seu Corpo na SS. Eucaristia; diz, com efeito, em outra parte: "Estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos". — S. Paulo chama a Eucaristia pão (I Cor 11, 26). Como se pode dizer, portanto, que é o Corpo de Jesus? Resp. — Ele a chama pão, porque é feita do pão e tem aparência de pão; mas acrescenta também que aquele que participa deste pão, participa do Corpo de Cristo. Além disso temos na Sagrada Escritura numerosos exemplos em que uma coisa que mudou de natureza conserva ainda o nome do que era antes. Assim Eva é chamada o osso de Adão (Gen 2, 23). Adão se chama barro; porque foi feito de barro, a varinha de Aarão chamou-se varinha, mesmo depois que se http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 34. transformou-se em serpente (Ex. 7, 12); a água que se mudou em vinho, é ainda chamada água. (Jo 2, 9). A Sagrada Escritura chama também muitas vezes as coisas conforme a sua aparência: assim os anjos em forma humana são chamados homens. (Gen 18, 2) XI A Eucaristia e a Tradição E agora, depois de termos ouvido o testemunho Divino da Sagrada Escritura, vamos ouvir o testemunho da história. Os nossos irmãos separados, os protestantes, tem a coragem de afirmar que o dogma da presença real de Jesus na hóstia foi introduzido na Igreja no século VIII, isto, porém, é contrário a verdade histórica. Com efeito, ouça o leitor como falaram da Eucaristia os Padres e Doutores da Igreja, que existiram antes do século VIII. No primeiro século havia uma espécie de hereges chamados fantasiastas ou docetas, que negavam a realidade do Corpo de Jesus Cristo, isto é, sustentavam que Jesus não tinha assumido da Virgem Maria um corpo real, mas apenas aparente. Sto. Inácio, Bispo de Antioquia desde o ano 68, discípulo de S. Pedro, falando desses hereges, diz: "Abstêm-se da Eucaristia e da oração, porque não confessam que a Eucaristia é a carne de Jesus Cristo Nosso Salvador, a qual foi sacrificada para a remissão dos nossos pecados e que o Pai ressuscitou por sua benignidade”. (Epist. ad Smyrn. 7). O testemunho é peremptório: No I século professava-se na Igreja, exatamente como hoje, que na Eucaristia existe o Corpo de Jesus Cristo, o mesmo que foi crucificado, o mesmo que ressuscitou glorioso e triunfante. No segundo século S. Justino mártir, na sua Apologia dirigida ao Imperador Antonino, depois de ter falado da consagração do pão e do vinho, acrescenta: "Não devemos receber a comunhão como se fora um pão comum, ou uma bebida ordinária, tendo sido nós instruídos pela palavra de Deus que aquele alimento da Eucaristia é a carne e o sangue de Nosso Senhor. No mesmo II século aparece Sto. Irineu, que, combatendo os hereges que negavam a divindade de Jesus Cristo, diz: "Como é que eles hão e acreditar que a Eucaristia é o Corpo do Senhor e o seu Sangue, se não confessam que Jesus Cristo é o Filho do Criador do mundo?"(Contra Hereses c. 28). Como se dissera: quem nega a divindade de Jesus Cristo, não pode confessar a sua presença real na Eucaristia. Era, pois, doutrina corrente no século II a da presença real. No terceiro século Tertuliano afirma claramente a presença real de Jesus Cristo na hóstia com estas palavras: "A nossa carne se nutre do Corpo e Sangue de Cristo afim de que a nossa alma se alimente de Deus”. (De carne ressurrectionis. 8). Também Orígenes manifesta a sua fé na presença, real, dizendo: "Outrora foi dado em figura como alimento o maná, mas hoje é, na realidade, a carne do Filho de Deus o nosso verdadeiro alimento (Homilia VII no liv. os Números ). http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 35. A estes testemunhos dos três primeiros séculos podemos acrescentar o seguinte: Com espírito de denegração, que o ódio inspira, os gentios acusavam os cristãos de se nutrirem das carnes de um menino, em horríveis festins que a luz do dia não devia iluminar. Os primeiros apologistas repeliram com horror e indignação esta atroz calúnia; ela, porém, é para nós um índice precioso da fé inabalável dos nossos primeiros pais. As carnes vivas e puras de Jesus Cristo se tornavam, para os inimigos mal informados, uma carne humana, carne de um menino. No IV século S. Cirilo de Jerusalém, expondo aos catecúmenos a doutrina católica sobre os sacramentos, declara que o pão e o vinho, depois da consagração, são o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, e por isso os cristãos, recebendo o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, se tornam verdadeiramente seus concorpóreos e consanguíneos. (Catechs. 19, 7). No século V Sto. Agostinho assim afirma a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia: "Aquele Pão, que vedes no altar, santificado pela palavra de Deus, é o Corpo de Cristo; e aquele vinho, que se contém no cálice, é o seu Sangue”. (Serm. 117). E comentando o salmo 98 diz: "Ninguém come aquela carne sem a ter adorado”. No mesmo século ergue-se a voz potente de S. Cirilo de Alexandria que, associando-se à Carta Sinodal, que os Padres do Concilio Alexandrino dirigiram a Nestório, diz: "Nós celebramos um sacrifício incruento na Igreja e somos santificados, participando do mesmo Corpo sagrado e do Sangue precioso de Jesus Cristo, Redentor de todos; porque não recebemos a sua carne como carne comum, e sim como a própria carne do Verbo, que se fez homem para a nossa salvação (can. 8). No sexto século podemos, entre outros, alegar como testemunha da presença real Cassiodoro na França, Fortunato na África e S. João Clímaco na Ásia, que diz: "A Igreja, recebendo os hereges, que abjuraram completamente as suas heresias, torna-os dignos do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo e participantes deste santo Sacramento”. (Gradus. 15). Finalmente no século sétimo temos o testemunho de S. Isidoro de Sevilha e o de S. Teodoro de Canterbury que entre os pecados que devem ser manifestados em confissão enumera também o de receber indignamente o Corpo do Senhor. Portanto, como cada qual pode ver, não é verdade que o dogma da presença real de Jesus Cristo na hóstia fosse desconhecido antes do século VIII. Não, a cristandade, desde o seu berço, sempre acreditou nesse dogma; e se acreditou foi porque o próprio Jesus Cristo lh’o ensinou por meio dos seus Apóstolos. Resta resolver alguma objeções que os incrédulos podem fazer. Ei-las: — Como é possível que esteja Jesus presente naquela hóstia pequenina, naquele diminuto espaço. Sim, isto é um mistério de fé, mas porventura não os há também na natureza? Por exemplo, explique quem puder, como é que a natureza com a verdura dos seus campos, com seus montes, com o seu firmamento estrelado, com todas as suas magnificências, tão perfeitamente se reflete na minha pupila, que é apenas um ponto imperceptível; como é que uma árvore gigantesca esta contida numa insignificante semente, como é que alguns grãos de pólvora colocados sob um castelo o manda pelos ares num instante. Disto ninguém pode dar uma explicação cabal. Não é, pois, de admirar, se não podemos explicar de que maneira esta Jesus numa pequenina hóstia. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 36. — Como podemos admitir, dizem outros, a mudança do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Jesus Cristo, se o pão e o vinho permanecem os mesmos, que antes quer depois da consagração? É de notar que uma coisa qualquer devemos distinguir os acidentes e a substância. Os acidentes são os elementos variáveis da coisa; a substância é o elemento invariável e faz com que a mesma seja o que é e não outra. Por exemplo, tenho aqui um pão cru. Mando cozê-lo; é ainda o mesmo pão? Quanto à substancia é, somente mudaram a cor e o sabor. — Parto este pão. Em cada uma das partes que o dividi, tenho sempre o mesmo pão? Tenho. E então, são a mesma coisa um pão inteiro uma metade, uma migalha? São a mesma coisa quanto à substancia, não o são em relação à quantidade. — Outro exemplo: Eu sou sempre o mesmo que há 30 anos atrás. E entretanto se alguém comparasse a minha pessoa com um retrato que naquele tempo mandei tirar, diria que aquele não é o meu retrato, pois nele apareço menor, imberbe, sem cabelos brancos, mais ágil, menos feio do que agora. Que mudou em mim? Mudaram os acidentes, mas a substância permaneceu a mesma, por isso sou o mesmo pobrezinho que há trinta anos atrás. Daí se pode compreender que os nossos sentidos percebem apenas os acidentes e não a substância de uma coisa. Ora, por força das palavras da consagração a substância do pão e do vinho se convertem na substância do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo e permanecem os acidentes do pão e do vinho; isto é, a cor, o sabor, a quantidade, a qualidade. Eis porque tanto antes como depois da consagração não percebemos nenhuma mudança no pão e no vinho. — Como se pode afirmar que o Corpo de Jesus, que esta no céu, ao mesmo tempo se acha em todas as hóstias do mundo? Então Ele tem tantos corpos quantas são as hóstias consagradas? Não. Jesus tem um só Corpo. Não é o Corpo de Jesus que se multiplica e sim as hóstias que contém esse Corpo divino. É um mistério este, uma verdade que não se pode compreender. Podemos porém, encontrar na natureza comparações que nos dão uma pálida idéia disto. Pronuncio uma palavra diante de um grande auditório e todos os ouvintes recebem inteira essa palavra, e se a pronunciasse ante o microfone de uma potente difusora poderia ser ouvida em todas as partes do mundo. Desta maneira a minha palavra, pronunciada uma única vez, se acharia ao mesmo tempo presente um todas as partes do mundo. E Jesus, que é Deus, não poderá fazer com que o seu Corpo se ache presente em todas as hóstias consagradas no mundo? Não, repito-o, não podemos compreender semelhante portento, mas Jesus Cristo o afirmou. Por isso curvemos a fronte e digamos: Senhor, eu creio. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 37. XII A Comunhão sob as Duas Espécies A COMUNHÃO sob as duas espécies não é necessária para os simples fiéis. A existência deste preceito não se pode provar nem pela Sagrada Escritura nem pela Tradição. Não se pode provar pela Sagrada Escritura. Com efeito, examinemos os textos que se podem alegar em favor da sentença contrária. Jesus disse: "Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu Sangue, não tereis a vida em vós". Estas palavras, como todos o reconhecem, contém um verdadeiro preceito de Nosso Senhor, pelo qual impõe a todos comerem a sua carne e beberem o seu sangue. Logo também os leigos tem que tomar o vinho consagrado. Resp. — Efetivamente Nosso Senhor aqui impõe a todos beberem o seu sangue, mas não diz de que maneira deve ser bebido. Ora, o sangue de Nosso Senhor se acha também sob as espécies do pão, visto que o corpo de Jesus, que se acha no pão consagrado, é um corpo vivo, e um corpo vivo não está separado do sangue. Logo, cumprimos o preceito de Jesus, mesmo recebendo somente o pão consagrado. — Jesus disse, consagrando o vinho: "Bebei disto todos". Portanto também os leigos devem beber do cálice. Resp. — Estas palavras foram dirigidas unicamente àqueles a quem logo depois disse: "Fazei isto em memória de mim", e dava assim; o poder de consagrar a SSma. Eucaristia. Ora, este poder foi dado somente aos Apóstolos e aos seus sucessores no sacerdócio. Portanto o preceito de beber do cálice foi imposto apenas aos sacerdotes, quando consagram a SSma. Eucaristia, isto é, quando celebram a Santa Missa. — Quando Jesus consagrou o pão, não disse: "Comei disto todos"; mas só acrescentou estas palavras para o cálice. Não foi, porventura, para condenar antecipadamente a negação do cálice aos simples fiéis? Resp. — Quando Jesus deu o pão, não era preciso que acrescentasse: — Comei disto todos — porque Ele mesmo fez as partes e a cada Apóstolo deu uma parte, como atesta o Evangelho. Mas quando se tratou do cálice, a coisa era diversa, porque consagrou somente um cálice e queria que todos bebessem do conteúdo daquele cálice. Era pois, preciso, que acrescentasse: "bebei disto todos" e queria, com isto dizer: "Cada um de vós beba uma porção do conteúdo deste cálice, de modo que chegue para todos".  http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
  • 38. Não somente pela Escritura não se pode provar a existência de um preceito, que imponha a todos os fiéis beberem do cálice, mas também por ela se pode provar que este preceito não existe. Com efeito, Jesus diz: "Quem comer deste pão, viverá eternamente". (Jo. 6, 59); isto é, promete a vida eterna também aos que comerem apenas o pão consagrado. Ora, se houvesse um preceito para todos, impondo beberem também do cálice, não teria, certamente feito esta promessa pois quem transgride mesmo um só preceito de Jesus, não pode esperar a vida eterna. Portanto é claro que este preceito não existe. O que é confirmado também pelas palavras de São Paulo: "Quem come deste pão ou bebe o cálice do Senhor indignamente, é réu do Corpo e do Sangue do Senhor". (I Cor 11, 27). De fato, se o Apóstolo tivesse julgado necessário que os fiéis comungassem sob as duas espécies, teria dito: "Quem comer deste pão e beber o cálice do Senhor indignamente, é réu do corpo e do sangue do Senhor": mas, pelo contrário, disse: "Quem come deste pão ou bebe o cálice do Senhor indignamente.." Por conseguinte, assim como a recepção indigna de uma espécie é suficiente para a, condenação, assim também a recepção digna de uma só espécie basta para a salvação. Como acabamos de ver pela Sagrada Escritura não se pode provar a existência de um preceito que imponha a todos beberem também o cálice, mas antes pelo contrário o oposto se pode provar. — Mas ao menos pela Tradição se pode provar a existência deste preceito, isto é, pela praxe da Igreja antiga. Não. A Igreja, desde os primeiros tempos, nunca pensou que existisse este preceito, pois, se a comunhão, nos primeiros séculos, era dada ordinariamente sob as duas espécies, nem por isso, se desconhecia o costume de dá-la sob uma só espécie. Assim, por exemplo, refere Eusébio, (Hist. liv. 6, cap. 44) que, estando para morrer o abade Serapião, S. Dionísio de Alexandria lhe enviou, por um dos seus sacerdotes, a sagrada Comunhão sob as espécies do pão, mandando-lhe que a desse ao moribundo, umedecida em água. Do mesmo conta S. Paulino, biógrafo de Sto. Ambrósio, que Sto. Honorato, bispo de Vercelli, levou a Sto. Ambrósio, o Corpo do Senhor, o que apenas feito, expirou o Santo. — Também as crianças comungavam na antiga Igreja sob uma das duas espécies. Assim refere Nicéforo (Hist. Eccl. liv. 3, cap. 7). E em tempo de perseguição, como atesta Tertuliano (De Uxoribus liv. 2, cap. 5) os fiéis levavam consigo o pão consagrado para comungarem antes do martírio. Mas, dirá alguém, o Papa Gelásio não ordenou a todos os católicos que recebessem a comunhão sob as espécies do vinho? Sim. Mas não porque julgasse ser isto obrigatório por preceito de Nosso Senhor. Ele deu esta ordem com o fim de descobrir os maniqueus, que consideravam o vinho como criatura do demônio. Esses hereges, ocultando os seus princípios aproximavam- se, com os católicos, da Santa Comunhão. Então o Papa ordenou que se desse a Comunhão aos fiéis sob as duas espécies do pão e do vinho, supondo que, por esse meio, impediria os hereges de profanarem a SSma. Eucaristia. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br