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A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE
BASE- MEB NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO
MUNICÍPIO DE TIANGUÁ-CE.
1
Silvani Silva de Paula
silvanisiva123@hotmail.com
2
Francisco Ullissis Paixão e Vasconcelos
fupv_26@hotmail.com
Resumo
O artigo apresentado aborda as contribuições educacionais do Movimento de Educação de
Base (MEB) no processo de formação de jovens e adultos no município de Tianguá-Ce. A
falta de reconhecimento da relevância das ações do MEB por parte do Governo Federal da
época se deu, sobretudo, pela vivência de práticas de opressão coordenadas pelos militares,
fazendo com que as ações do MEB se encontrassem nas regiões norte e nordeste do Brasil,
onde se evidencia maior vulnerabilidade de vida da população; com as características ligada a
formação pastoral, mas sem perder seus vínculos educativos voltados para o popular,
convivendo com a realidade dos camponeses e contribuindo para que esses tenham uma
consciência política e se libertem do domínio e da opressão. Alguns autores compõem o
referencial teórico: FREIRE (2000; 2009), BRANDÃO (1980), ARROYO (2003) e FÁVERO
(2004). As análises decorrem de uma pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso- TCC, no
ano de 2010, do curso de pedagogia do núcleo de movimento sociais, realizado na
Universidade Estadual vale do Acaraú- UVA. Utilizando-se a Pesquisa Qualitativa, através de
um estudo bibliográfico – documental e através do método da história oral, na qual se obteve
os dados por meio de entrevistas semi-estruturadas. Os sujeitos da pesquisa estão
representados por 1 do sexo feminino e 1 do sexo masculino, ex- coordenadores do
movimento atuantes no período de 1973 a 1997. As informações e reflexões decorrentes
sinalizam a importância da educação crítica transformadora na contribuição do
desenvolvimento da sociedade e na consciência política dos cidadãos. Concebida no âmbito
de referenciais educativos baseados na vivência e no diálogo. Por este estudo releva a
importância sociocultural, política e educacional do MEB no processo de mobilização das
comunidades na luta em favor de superação de seus problemas coletivos, a elevação da
consciência política dos analfabetos e o enriquecimento do patrimônio histórico, político e
pedagógico da região da Ibiapaba e por extensão do Ceará e do Brasil.
Palavras- Chave
Educação popular; MEB; EJA.
1
Aluna graduanda do curso de pedagogia do núcleo de movimentos sociais da Universidade Estadual Vale do
Acaraú-UVA.2011
2
Professor Orientador da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA.
2
1- Introdução
O presente trabalho pretende conhecer as contribuições educacionais do MEB no
processo de formação dos alunos atendidos nas salas de alfabetização de jovens e adultos no
município de Tianguá – CE. Este estudo justifica-se pela escassez de trabalho sobre o tema e
pela necessidade de um estudo aprofundado das contribuições educativas do movimento de
base para preencher lacunas que ainda encontram-se abertos sendo obstáculos ao
conhecimento científico.
As reflexões desse estudo foram divididas em subtítulo para melhor compreensão. No
primeiro é feito um levantamento histórico do MEB inserido no contexto social de negação
dos direitos à cidadania. A sociedade mantinha-se oprimida, manipulada e excluída do
processo de alfabetização pelo poder político. O segundo analisa os princípios pedagógicos do
movimento na formação de cidadãos participativos na sociedade. A metodologia da ação age
psicologicamente na mentalidade dos indivíduos despertando-os para o processo de
reivindicação tornando os conscientemente politizados.
O terceiro subtítulo explicará os caminhos do MEB no município de Tianguá e a sua
contribuição educacional no despertar de consciência, na politização e no desenvolvimento
dos indivíduos e de suas comunidades.
O lócus da pesquisa fundamenta-se na abordagem de natureza qualitativa, pois este
modelo de metodologia fornece explicações científicas adequado para a elaboração dos dados
e adquirir o conhecimento desejado, através de um estudo bibliográfico-documental em livros,
artigos, relatórios, cartilhas e estatuto do MEB, complementando por meio da história oral
como principal fator para a análise dos conteúdos, obtidos por meio de entrevistas semi-
estruturadas, representando os sujeitos dessa pesquisa, dois ex-coordenadores do MEB-
Tianguá de 1973 a 1997.
Finalizando podemos perceber que o movimento discutido, instituiu uma educação de
base significativa nos alunos que se deixaram educar no sentido amplo de educação. Nesta
definição, acredita-se na necessidade de um ensino desse nível na sociedade atual cheia de
padrões e elementos que manipulam. A educação precisa fundamentar seu ensino na realidade
dos sujeitos e desenvolver-se em decorrência de uma política que possibilite programas e
ações comprometidas com desenvolvimento social.
3
2- Movimento de Educação de Base (MEB): Como tudo começou.
A educação básica para adultos começou a delimitar seu lugar na história da educação
brasileira a partir da década de 30, quando começa a se firmar um sistema público de
educação no país. Estava na constituição de 1934 a garantia do ensino público gratuito para
todos e inclusive para adultos, mas só a partir do fim da ditadura de Vargas em 1945 é que
surge um sistema político de democracia, em que a ONU - Organização das Nações Unidas
em sua carta de direitos alerta a urgência para a integração dos povos, visando os direitos
sociais e políticos da população, hoje com a promulgação da LDB.
A União recebeu a tarefa institucional de elaborar o Plano Nacional de
Educação, com dois eixos fundamentais: a organização do ensino nos
diferentes níveis e áreas especializadas e a realização de ação supletiva junto
aos Estados, seja subsidiando com estudos e avaliações técnicas, seja
aportando recursos financeiros complementares. Três outras conquistas
foram incorporadas ao texto constitucional: ensino primário gratuito para
todos, desde que oferecido em escola pública, inclusive para alunos adultos,
percentual de 10%, por parte da união e dos municípios, e de 2% por parte
dos Estados e do Distrito Federal, da renda resultante de impostos,
objetivando ações de manutenção e desenvolvimento do ensino. (CANEIRO,
2009, p.19)
Com esta iniciativa, contribuiu para que a educação de adultos ganhasse respaldo entre
as preocupações sociais e houvesse uma maior atenção com a educação elementar aos adultos,
porém a redemocratização no país colocava em suas metas, a educação como forma de
progresso, surgindo assim, varias campanhas de massa para acabar com o analfabetismo, era
urgente a aprendizagem ofertada à população, mas eram apenas palavras. Também a sonhada
democracia, na realidade a prioridade para os lideres políticos resumia na necessidade dos
mesmos ampliarem o número de eleitores e assim as oligarquias dominantes continuassem no
poder, intencionalmente cada aluno significava um voto e isto era uma oportunidade de
dominação sobre as massas.
Nas campanhas de educação os adultos eram considerados como incapazes, marginais,
identificados psicologicamente e socialmente como uma criança grande irresponsável. O
analfabetismo era definido como a causa da situação econômica, social e cultural do país, e
não efeito da exclusão de massa que a população sofria, sem meios para ser feito para reverter
esse quadro, e:
No Brasil, como em vários países da América Latina, as antigas elites
formadas por oligarcas com influências liberais acostumaram-se a ver na
educação “a alavanca do progresso”. Assim tomaram o tema do
4
analfabetismo e despejavam rios de retóricas. Diziam que o país jamais
poderia encontrar seu caminho e a democracia jamais poderia ser uma
realidade enquanto tivermos uma tão alta proporção de analfabetos. A
“ignorância” e o “atraso” eram duas faces da mesma moeda. Palavras,
muitas palavras e por certo algumas verdades mas nenhuma ação. (FREIRE,
2009, p. 21).
A forma de ensino transmitido pelas campanhas de educação recebia críticas, devido
às deficiências pedagógicas e o caráter superficial do aprendizado em curto período e as
formas inadequadas de aplicação do método para adultos, fazia com que o ensino ofertado não
possibilitasse significados importantes de conquista e realização do público atendido.
No entanto, todo esse descontentamento implicava uma nova visão sobre o problema
do analfabetismo e a consolidação de novos métodos educacionais para a educação de jovens
e adultos. Neste estado de resolução dos problemas educativos e sociais que o país vivenciava
no inicio da década de 60, expande-se no Brasil movimentos de educação popular, uma forma
básica que se agrega as demandas da população.
Esta forma de educação cujo referencial foi o educador pernambucano Paulo Freire,
traz implicações sociais e políticas que favoreceu a uma reflexão crítica da realidade, portanto
se diferencia das demais formas de educação que existia, pelo caráter educativo ligado ao
povo, mais especificamente os excluído da sociedade civil, moradores de comunidades rurais
e analfabetos.
Sua estrutura educativa estava voltada para a resolução dos problemas das
comunidades carentes e busca pedagogicamente mudar está realidade, através da
conscientização, sendo fiéis as suas linguagens, interferindo na sua vivência de modo que os
indivíduos adquiram autonomia e caminhem para a liberdade sem opressão, descobrindo a sua
identidade e atribuindo novas culturas. Com esta forma de educação é assimilado
pensamentos críticos da realidade social dos indivíduos.
Entretanto, a aprendizagem tem o objetivo de libertar a consciência individual e
coletiva, incentivando os educandos a reivindicar seus direitos democráticos na sociedade,
também estimulam as camadas dominantes a repensarem nas demandas sociais e como estão
ofertando as políticas públicas para a melhoria da população. No entanto:
Não se trata de um processo apenas de aprendizagem individual, que resulta
num processo de politização dos seus participantes. Esta é uma de suas faces
mais visíveis. Trata-se do desenvolvimento da consciência individual.
Entretanto, o resultado mais importante é dado no plano coletivo. As práticas
reivindicatórias servem não apenas como indicadores das demandas e
5
necessidades em mudanças, reorientando as políticas e os governantes em
busca de legitimidade. (GOHN. 2001, p.52)
E assim é de lembrar que a significação da educação popular se deu pelo método de
ação, que conseguiu mobilizar por um determinado período de tempo uma quantidade
significativa da população, ou seja, a sua mobilização contribuiu para uma pedagogia
sistematizada de uma iniciativa simples e real dos fatos, instituindo atos de mudanças no povo
subordinado a um sistema opressor. Na educação popular de caráter sociopolítico se firma na
tentativa de libertar a consciência da população para que estes usufruam de seus direitos a
cidadania.
O programa de educação popular que contribuiu nesta fase para a alfabetização
fundamental brasileira nos anos 60 e também deu iniciativa relevante à sociedade foi o
Movimento de Educação de Base- MEB surgido em 1960, com iniciativa da Igreja Católica
da arquidiocese de Natal (RN). No entanto a igreja refletia profundamente sobre uma nova
maneira de atuação dos leigos no serviço pastoral e através da metodologia de ação a igreja
conservadora dava abertura à participação de leigos atuantes na comunidade.
No Brasil essa experiência aconteceu no Nordeste, nas igrejas de Natal e Recife, com a
criação de escolas de Serviço Social e centros de treinamento, porém a igreja geograficamente
desejava ampliar sua ação pastoral e para isso era necessário que a população soubesse ler e
escrever, pois a maioria da população era analfabeta, para levar educação a este público
estavam impostos vários obstáculos, no qual o acesso a muitas comunidades do meio rural
tornava difícil pela extrema carência.
Para modificar essa situação, as emissoras de radiodifusão foram vistas pela CNBB-
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil como o caminho mais viável para a solução do
problema, assim atingiria um número elevado de pessoas no processo educativo, seguindo
exemplo de experiência do exterior. (REIS, 1995).
Com a implantação das Escolas radiofônicas é criado um Sistema de Assistência Rural
– SAR que auxiliava os moradores do meio rural, com programas de cooperativismo,
treinamento de lideranças, politização, e sindicalismo. Foi neste contexto pioneiro da igreja e
os resultados apresentados pelas escolas radiofônicas, que em 21 de Março de 1961 pelo
decreto 50.370 publicado no diário oficial no Art. 1º o dispositivo diz que “o governo federal,
prestigiará o movimento de educação”. (SANTOS, 1992).
Com o convênio entre CNBB que se responsabiliza pela execução do projeto de
educação e Governo Federal o presidente Jânio Quadros, responsabiliza-se pela parte
6
financeira, ampliando o movimento que passa a ser Movimento de Educação de Base- MEB.
Certamente para implantar um projeto, faz necessário recurso financeiro, portanto com a
ampliação do programa possibilitou; o aumento de salas de aulas, pagamento de monitores e a
conquista de materiais didáticos.
A meta inicial era de que, no período de 1961-1965, o MEB instalasse 15
mil escolas radiofônicas e conseguisse organizar, através delas, grupos e
comunidades, tendo vista as já almejadas reformas de base. O trabalho era
realizado em quatorze estado e território, o MEB manteve 58 equipes,
atingindo 500 municípios. (REIS, 1995, p.14).
Obviamente a importante aliança abrangeria o maior número de comunidades com
salas de aula, mas também possibilitou à descaracterização do movimento, a atuação que era
de educação popular que criticava o sistema político das atitudes administrativas, perde sua
característica e passa a oferecer uma educação elementar, o mínimo necessário para a
educação da população, ou seja, o que era fundamental para as pessoas, agora era à base para
um ensino educativo com influência política. Segundo Brandão, (1980, p.24). “As
características do movimento de Educação Popular tornou-se uma forma tardia de Educação
Fundamental a serviço dos interesses do governo autoritário”. Isto tornava perigoso por
ocultar elementos importantes e confundir outros essenciais para o público atendido.
Mesmo com as mudanças na forma de educação a parceria entre MEC- Ministério da
Educação e Cultura e CNBB ampliaram o programa de educação com duração de cinco anos,
com o objetivo de beneficiar as regiões subdesenvolvidas do Nordeste e centro Oeste do país,
transformando as escolas radiofônicas em um projeto com maior atendimento as áreas
isoladas do país.
Com programas de rádio-educativa a educação chegaria através das ondas do rádio,
um professor no estúdio ministrando aulas e um monitor da própria comunidade com os
alunos ouvindo atentamente as explicações. Concentravam em galpões, casas de farinhas,
salões comunitários e alpendres das casas dos moradores da comunidade. Segundo Fávero,
(2004, p.4). “As emissões eram feitas no começo da noite e as escolas funcionavam em
horário adequado à população rural.”
Com esta forma de educação à distância através do rádio cobria as regiões mais
remotas do Brasil, precisamente a parceria entre igreja e governo desejava superar suas
expectativas, ampliação religiosa e pastoral e utilizar-se de um programa existente para
concentrar seus objetivos eleitorais. De acordo com Brandão (1980, p.22). “O objetivo
político real é o controle de grupos populares”. Desta forma cada grupo utilizava da realidade
7
frágil do país para satisfazer aos seus objetivos, no mais, não existem ideologias que se
fundamentem sem controle e interesses.
No entanto, a participação do povo na conquista da educação foi devida a esses
interesses político e ideológico, que aproveitaram da fragilidade do país para realizarem seus
planos, no contexto histórico a elite política é sempre quem domina, manipula e se apropria de
elementos que não fazem parte de sua linha de atuação, procuram manter vigilantes a tudo e a
todos que venham ameaçar sua ordem e hegemonia política. Contudo a sua participação na
construção da cidadania não foi gratuita e só teve significado quando a ação popular luta
contra a exclusão, pois se sabe que:
A cidadania jamais será doação do Estado, pois é essencialmente uma
conquista dos excluídos, através do exercício político, de lutas. A educação
escolar, conseqüentemente, não confere cidadania a alguém que esteja dela
excluído; é, ao contrário, (...) Os excluídos se educam, sobretudo, nas lutas
de resistência, de reivindicação, de sabotagem. (ARROYO, 2003.p.8)
É a educação que leva o sujeito a reflexão é implantada na sociedade para gerar
denuncia, para a decisão incluindo os indivíduos a participação cidadã, decididos e livres e
jamais condicionados a um sistema ideológico. O grande avanço neste período é a intensidade
com que as massas populares ganham o acesso à educação, rompendo antigos conceitos
preconceituosos e o importante é que esta educação é permanente, “a educação é um ato de
amor, por isso, um ato de coragem”. (FREIRE, 2009, p.104).
Desse modo desafiando a liderança política que apoiavam, vendo que as características
de educação popular estavam descaracterizadas com influências baseadas em antigas teorias,
o movimento descarta a pedagogia do Estado afirmando sem temer a reação do governo
segundo, MEB, (2006, P.31) “A ação educativa não pode, portanto, deixar de situar-se nesses
três planos: conscientizar, motivar atitudes, proporcionar instrumentos de ação”. Portanto a
coragem de lutar por uma educação diferente, por cidadania é um ato heróico, mas enquanto
continuava ocultamente o interesse político e econômico que conduzia a exclusão de massa
mantida nas teorias pedagógicas não iria expressar mudanças na vida do povo, não
compensaria a luta pela conquista da participação a cidadania, assim afirmado pela idéia do
autor:
Enquanto os reais determinantes sociais e econômicos da exclusão da
cidadania continuarem ocultos, sob os escombros de tantas teorias
pedagógicas tradicionais, novas e novíssimas inspiradas nessa lógica, e não
forem socavados e postos de manifestos para os profissionais da educação e
para as camadas populares, não haverá condições de fazer da luta pela
8
educação uma expressão da participação e da cidadania.( ARROYO, 2003,
p.41)
Para maior esclarecimento do movimento e a retomada a ação pedagógica sua
proposta estava em estatuto, natureza e fins do movimento, o primeiro foi escrito em 1963 sob
o decreto nº 52.267 tento passado por algumas reformulações com a continuidade do
movimento, no entanto com esse decreto passa a atuar para a promoção humana e cristã de
jovens e adultos, desenvolvendo programas de educação popular nas diversas regiões
consideras com grandes índices de subdesenvolvimento como o Norte e Nordeste do país,
estas regiões destacavam por serem lugares com áreas populacionais do país em que os
indicadores sócio-econômicos revelavam que estavam em situação de pobreza e como
conseqüência, índices sociais e econômicos abaixo do desejado. (MEB, 2006.)
Por preferência as regiões subdesenvolvidas, o MEB via na forma de educação
popular de Paulo Freire uma proposta de alfabetização de adulto utilizando o método de unir à
palavra a realidade dos educandos, esta era o diferencial da alfabetização do movimento,
trazendo a vivência do povo para a leitura das palavras, diferenciando dos antigos métodos de
alfabetizar desvinculado da realidade dos alunos, visando uma educação não só letrada, mas
informativa para uma conscientização democrática as classes popular.
Educando com palavras, sem temer o diálogo a denúncia, o programa de alfabetização
neste período de funcionamento por decreto expandia com toda efervescência, agora com seus
propósitos unidos aos ideais da população, o que estava sendo negado pelo estado, passa a ser
o compromisso do movimento, preparando os indivíduos para a educação critica, depositando
não uma educação reduzida, mais relacionada com os problemas sociopolíticos do país.
Esta denúncia através da educação obviamente seria visto pelos grupos de dominação
como uma ameaça ao poder, mas é nesse sentido que atua a verdadeira profecia educativa, ou
seja, pensando no amanhã, nas raízes ideológicas que está sendo imposto pelo sistema. Os
indivíduos são seres da ação, da indignação, da interferência e não podem deixar que o medo,
a aculturação e o domínio se apoderem do que é direito de todos.
3- Os princípios pedagógicos do MEB e a formação de cidadãos participativos.
O movimento fundamentado em torno de uma metodologia participativa, da troca de
experiência entre alfabetizando e alfabetizador, buscava idealizar nas mentes de seus
9
educandos uma nova realidade dos fatos, conscientizando mentes e conceitos opressor da
nossa falha experiência político que se constituiu historicamente na população.
O programa inspirado na educação popular caracterizado na pedagogia Freiriana, o
qual propõe uma proposta de educação de alfabetização de jovens e adultos que se baseia nos
seguintes princípios “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, ou seja, para o
aprendizado das letras é necessário que antes os educandos tenham uma dimensão de sua
realidade, portanto o MEB tinha essa fundamentação pedagógica da educação libertadora,
propondo uma lógica humanística para homens e mulheres.
A metodologia é dialética, luta e aprofunda os objetos discutidos, pesquisa, faz análise
e traz novas formas de enxergar a sociedade e suas diversas formas de manipulação, o
essencial nessa educação popular é que partilha da vivência do povo e também torna um
sistema que induz, mas a favor da autoconsciência para que os sujeitos encontrem caminhos
para a liberdade guiados pela educação porque ela só adquire plena significação quando;
(...) Comunga com a luta concreta dos homens por libertar-se. Isto significa
que os milhões de oprimidos do Brasil semelhantes, em muitos aspectos, a
todos os dominados do terceiro mundo poderão encontrar nesta concepção
educacional uma substancial ajuda ou talvez mesmo um ponto de partida.
(FREIRE, 2009, p.17).
Os métodos do Movimento de Educação estruturavam em torno da proposta curricular
de relacionar a teoria e a prática realizada na exposição de uma palavra geradora, exposta para
os educandos, tirada do seu cotidiano no sentido de que os alunos reconheçam e a discutam
seu significado real que estar em torno da palavra. Não é estudado apenas as silabas e
fonemas composto na palavra sugerida, mas refletida criticamente sobre seu papel social que
envolve o tema sugerido.
Envolver a comunidade no processo de educação estava na prioridade do movimento,
porém quem estava na monitoria das aulas eram sempre pessoas que também fazia serviços
pastorais na comunidade. Criando espaços de reflexão e ação conjunta entre comunidade e
grupo de alfabetização, realizada durante as discutições de problema sociais havendo a troca
de experiência.
Nesta didática os alunos expõem toda sua trajetória de vida, expressando sentimentos
e desejos, nos quais incidem para ações conjuntas com o alfabetizador, alimentando
instrumentos de liberdade aos alunos, incentivando-os a agir e reivindicar sobre seus anseios
que partem do individual para ações coletivas. Promover e valorizar a cultura popular e a
produção artística dos grupos. Utilizando esta prática dinâmica, os educandos além de estarem
10
encaminhando para etapas alfabéticas, também constroem e valorizam sua cultura e
identidade.
É com esta didática que o processo de aprendizagem estabelece significados na vida
dos educandos, o aprender é por base em sucessivas e constantes comparações, assimilações e
acomodações, quando são colocadas situações novas para discussões, os indivíduos
comparam, assemelham com suas tradições caracterizando suas identidades ou diferenciam
assimilando novas culturas. A alfabetização inicia pelo conhecimento das realidades no
mundo e pela ação nele praticada. “A alfabetização começa com a prática e deve voltar a ela”
(MEB, 2006, P.19). As novas experiências é o que constará os reais significados do processo
de alfabetização, onde:
O primeiro passo para a aprendizagem é o contato com as coisas do mundo
exterior. É este contato com as situações novas que provocará o
desequilíbrio necessário. O segundo passo é sintetizar os dados colhidos
nesta prática, ordenando-os. É a etapa dos conceitos e juízo. Em síntese: a
aprendizagem começa com a experiência prática. Esta experiência fornecerá
os elementos necessários à elaboração de novos conceitos. (MEB, 2006,
p.19).
Negando essa metodologia, o convênio feito entre Dom José Vicente Távora
responsável pelo acordo entre CNBB e presidente da República, descaracterizaram o MEB,
com materiais didáticos disponibilizados pelo serviço de educação de adultos do ministério da
educação e Cultura- MEC e SIRENA- Sistema Radioeducativo Nacional, também pertencente
ao MEC, os livros “Ler e Saber e Riquezas do Brasil” da editora “Agir”, ofertados para os
educandos primeiro e segundo livro que se destacava as leituras, caderno de aritmética
resumidamente em uma tabuada e a rádiocartilha. (MEB, 2006). Estes materiais baseados na
leitura e escrita era para recém alfabetizados, portanto a educação estaria inviável e estava
claro que não existia preocupação governamental com a educação de base.
Assim a proposta de educação estava limitada, devido os poderes do estado que
interferia no currículo, com materiais didáticos contradizendo a proposta do programa. Esta
metodologia empregada nos livros e textos didáticos era inadequada a realidade dos alunos,
pois os conteúdos se resumiam em imagens e textos mostrando a vivência urbana, deixando
de lado toda uma história do povo, contrariando o sentido do movimento de levar para a
população uma concepção humanística e reflexiva de uma problemática.
Estes conteúdos complicavam a aprendizagem dos educandos, principalmente a
rádiocartilha. Segundo o MEB, (1996. P. 29). (...) “as cartilhas existentes adotavam o mesmo
tratamento utilizado para as crianças e projetava sistematicamente valores e imagens da vida
11
urbana”. Praticamente a forma didática empregada nos conteúdos do MEB estava totalmente
seguindo modelos antigos de alfabetização, ou seja, seguindo os modelos educacionais das
campanhas educativas que não tiveram significados nenhum na vida dos alfabetizandos.
É a história inacabada, o novo que se fundamentava desdobrando antigas ideologias,
impondo neste novo período princípios metodológicos que também reproduzem poder, mas
todo processo educativo tem uma dimensão cultural instrumentalizadora que induzem para as
necessidades das pessoas e da sociedade.
Portanto, não existem programas, metodologias, conteúdos educacionais que sejam
gratuitos, ou seja, existem suas intenções, seus objetivos propositados, levando a sociedade ao
domínio, na qual se torna objeto nas mãos dos políticos. Concordando com Brandão, (1980, p.
7). “Os conteúdos e a metodologia da educação reproduzem e fazem circular símbolos e
valores dirigidos á realização de objetos sociais não declarados”.
Dentro de uma visão tradicional, a educação sempre foi imposta pelos grupos de
controle social uma forma de domínio, usa das necessidades sociais seus degraus para
manipular e assim terem sua hegemonia política, dentro deste contexto estes usou da
educação popular que se expandia nas comunidades de difícil acesso, para levar seus
conteúdos vazios indiferentes da verdadeira educação.
A finalidade dessa lógica, promover democracia às massas populares e serem
humildes são fatores intencionais, usufruir da situação que o país passava com baixos índices
sociais e um número elevado de analfabetos, porém seus programas não tiveram êxitos,
portanto o propósito é unir a um existente, na certeza que esses atingiriam as camadas
populares e ocultamente seus interesses seriam alcançados nesta participação de caráter
ilusório.
Passando metodicamente conteúdos de concepção vaga, depositando apenas informes
distorcidos da realidade anulando a participação do aluno, apresentando elementos sem
coerência, cultuando palavras ocas sem a preocupação de resolver um problema imposto a
partir de discussões criticas deixando de levar ao público alvo a reflexão de seu papel na
sociedade como cidadão participativo na comunidade democrática. Na verdade a população
necessitava de uma educação que denunciasse que verdadeiramente estivesse entrelaçada com
as ações e experiências de democracia, porém por não terem sistematicamente um projeto
próprio impõem, adestram e simplesmente não obtêm êxitos, com isso é afirmado pelo
pensamento Freiriano;
12
A sua grande preocupação não é em verdade, ver criticamente o seu
contexto. Integrar com ele e nele. Daí se superporem a ele com receitas
tomadas de empréstimos. E como são receitas transplantadas que não
nascem da análise crítica do próprio contexto, resultam inoperantes. Não
frutificam. Deformam-se na retificação que lhes faz a realidade. (FREIRE,
2009, p.61).
Contudo a democracia que consistia em um sonho mais do que uma realidade estava
sendo gradualmente dissimulada, treinado o povo para a acomodação e a ociosidade, mas a
esperança estava na luta popular despertada, porque era indispensável o desejo por uma
verdadeira atuação de direitos, o país historicamente vivenciava uma inexperiência
democrática, o qual afirma Freire, (2009). “Realmente o Brasil nasceu e cresceu dentro de
condições negativas às experiências democráticas.” (p.74). Portanto, não existe democracia
sem a participação popular e isto era a forma de atuação do movimento a concepção
humanística fundamentar psicologicamente o cidadão para possíveis decisões.
E assim libertando do estado de neutralidade social, no qual ocupa na comunidade,
sobretudo da servidão entre o patrão e empregados, no qual cultuava o costume do favor,
intensamente o poder condicionava às massas populares a lealdade e por conta disso
necessitava levar até esses sujeitos liberdade, através da educação crítica, mas para isso era
necessário que a sociedade estivesse aberta para o diálogo para a superação do domínio.
A dialogação implica numa mentalidade que não floresce em áreas fechadas,
autarquizadas. Estas, pelo contrario,constituem um clima ideal para o
antidiálogo. Para a verticalidade das imposições. Para a ênfase e robustez
dos senhores. Para o mandonismo. Para a lei dura feita pelo próprio dono das
terras. (FREIRE, 2009, p.77)
As intervenções de outras práticas pedagógicas descaracterizaram o programa, além de
confundir a aprendizagem dos educandos como também não contribuindo para as mudanças
que necessitava os indivíduos. Impondo metodologias que apenas domesticassem e
transmitissem concepções falhas de outros sistemas, insistindo na tradicional educação
baseada nas palavras sem sentido, enraizadas desde a nossa história educativa.
Praticamente os conteúdos não ofertavam o conhecimento desejado pelo MEB,
contudo estudavam orientações e manuais da Organização das nações Unidas para a
educação, a ciência e cultura- UNESCO com exemplos de textos elaborados em outro países a
cartilha “Venceremos” elaborada em 1961 para a campanha de alfabetização de Cuba e
trazida para o Brasil pela UNE- União Nacional dos Estudantes que conheceram esta
experiência (MEB, 2006).
13
As inquietações do movimento estavam em adquirir materiais didáticos que tivessem a
realidade dos educandos, ensinasse não só a ler palavras, mas ler o mundo através das
palavras, porque não traria significado às letras soltas sem que os educandos conheçam seu
sentido e reflitam sobre ela.
Pensando nestas reflexões populares e experiências de conteúdos didáticos de outro
país, o programa de educação elaborou o livro de leitura para adultos do movimento popular
de Recife em 1962, pela primeira vez foi reunidos textos de alfabetização e leitura, um
conjunto de palavras e frases às quais se associava a uma mensagem política, os conteúdos
sociais, as lições impulsionavam a reflexão estando ligada a realidade e linguagem,
questionando a falha democracia impostas a população, deste modo:
Não podíamos compreender, numa sociedade dinamicamente em fase de
transição, uma educação que levasse o homem a posição quietistas ao invés
daquela que levasse o homem a procura da verdade em comum, “ouvindo,
perguntando, investigando”. Só podíamos compreender uma educação que
fizesse do homem um ser cada vez mais consciente de sua transitividade, que
deve ser usada tanto quanto possível criticamente, ou com acento cada vez
maior de racionalidade. (FREIRE, 2009 p. 98).
O saber mais importante nessa defesa educacional era o que se incorporava ao homem
o saber democrático, no qual necessitava ser verbalizado, ou seja, transferido ao povo com as
possibilidades de renúncia para a liberdade, com consciência participativa nas questões
sociais, mas para estabelecer algo que contradissessem os interesses dos grupos de dominação
era necessária uma educação corajosa que enfrentasse a elite dominante, pois estes viam na
aprendizagem democrática ofertada a população uma forma de ameaça.
Contradizendo a intervenção política, o MEB prepara um livro de leitura para os
alunos do Nordeste, a proposta deveria conter mensagens que encaminhasse os alunos um
encontro no processo de transformação política e que provocasse inquietações para as
discussões e valores aos educandos para tomarem uma posição frente aos problemas sociais,
luta por justiça, igualdade de direitos e deveres.
Com esta concepção leva a aprendizagem a uma razão transcendental, portanto com as
necessidades das escolas foi priorizada em livros de leitura e exercício para recém
alfabetizados, trabalhando situações problemas que explorava e viabilizava simultaneamente a
alfabetização com o título “viver é lutar”. Nele continha a didática que o movimento
afirmava em seus documentos, defendendo que:
14
A educação visa, portanto, à ação. Ora, a ação humana tem três requisitos
essenciais. Em primeiro lugar, o homem age diante de um fato que é real
para ele; é, portanto, imprescindível que ele tome consciência da realidade
sobre a qual vai agir. Ao lado disso, o homem assume uma atitude diante
dessa realidade, o homem parte sempre dos meios que a cultura lhe oferece,
sejam esses meios instrumentos físicos, verbais etc. A organização didática
de uma ação educativa não pode, portanto, deixar de situar-se nesses três
planos: conscientizar, motivar atitudes, proporcionar instrumentos de ação.
(MEB, 2006, p.31).
Com tantas mudanças no programa no ano de 1964, por conta do golpe militar, fica
inviável a participação política, no entanto as classes dominantes agiam contra qualquer efeito
democrático, as dificuldades sofridas pelo MEB eram pressões de todos os lados, estava
proibida qualquer manifestação popular, reuniões a utilização do método mesmo não exercido
com tanta intensidade que desejavam, contudo estava cortado o financiamento para execução
do Movimento de educação. Este estava desprestigiado pelo governo federal estava proibida
qualquer manifestação popular que ameaçasse a ideologia dominante.
Durante este período de ditadura todo o trabalho do movimento de encontrar material
didático que correspondesse aos seus objetivos, estava proibido até os programas de rádio
escola, estas eram transmitidas ao vivo passando a ser gravada e ouvida por forças militares
que posteriormente seriam divulgadas, a cartilha didática “viver é lutar” é apreendido, o
governo permite apenas programas de alfabetização de adultos assistencialista e conservadora.
Devido às pressões ocasionadas o movimento teve que mudar a sua metodologia,
busca apoio com outras entidades, inclusive o intercâmbio com empresas internacionais, os
estudos estavam referenciados pela lei 5.692/71 lei que ressaltava a reforma do ensino,
baseados no parecer nº 699/72 que tratava do ensino supletivo (SANTOS. 1992), trazendo em
suas explicações, uma metodologia que distinguia do ensino regular. Pois este é desenvolvido
principalmente pelo ensino direto sem a presença e influência de ensino constante do
professor.
O acontecimento político contribuiu para que a educação de base perdesse
progressivamente a sua característica, a prática questionada e a diferencial metodologia de
educação popular, na qual era instrumento para os cidadãos encontrar sua liberdade social e
por conta disso que calaram a voz do movimento, repreendendo a sua forma de educar, levar
ao homem a reflexão de seu papel na sociedade civil.
Defendendo o seu propósito de educação, que se encontrava enfraquecido, o MEB
passa a desenvolver seu trabalho dentro de três funções básicas: suplência, suprimento e
15
qualificação, nas quais as atividades do movimento passam a ser planejadas dentro destes
propósitos, para poder sustentar a sua atuação e manter a relação com as massas políticas.
A participação do movimento de educação gradativamente entra em declínio,
perdendo a sua característica questionadora de educação popular, enfraquecido por conta da
ditadura e assim perder recursos para atuação, no entanto o governo só permitia os programas
de alfabetização de jovens e adultos que fosse assistencialista com metodologias tradicionais e
conservadores que não desobedecem a sua ordem e soberania.
Portanto, por conta da nova ordem que o país vivenciava, o governo assume o controle
da educação de jovens e adultos com o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL.
A retomada a preocupação na alfabetização é obviamente para minimizar ou eliminar a
participação do MEB na educação, sobretudo na educação crítica que mudava a consciência
dos brasileiros.
Durante os anos 70, tendo em visto sobrevivido financeiramente o movimento
funciona como uma espécie de auxilio do Ministério da Educação e cultura nos programas de
escolarização supletiva (SANTOS. 1992). Depois de sua redução tanto na quantidade de
escolas, por conta que algumas foram fechadas, mas o movimento continuou atuando dando
prioridade a regiões que necessitava de seu ensino, sobretudo conscientizando e libertando
através da ação educativa.
4- Os Caminhos do MEB no município de Tianguá: as pistas diante dos dados
coletados.
4.1- As escolhas de pesquisa.
Os dados coletados e catalogados com análise ao longo do referencial teórico
fundamentam-se com uma pesquisa de abordagem qualitativa, pois este tipo de
conhecimento se adéqua ao estudo por ser um método flexível que focaliza a realidade, para
Marconi, (2007). Esta abordagem analisa, interpreta e descreve profundamente as
complexidades de comportamento humano, detalha e fornece análise sobre as investigações.
Este tipo de abordagem científica contribuiu para os instrumentos de coleta de dados,
os quais foram coletados na observação indireta através de análise em arquivos encontrados
na cúria diocesana de Tianguá, as análises foram em roteiros de programas de rádio,
relatórios anuais, cartilhas e estatutos.
16
O contexto da pesquisa foi elaborado com estudo bibliográfico-documental já
catalogado teoricamente por outros pesquisadores, fazendo uma análise em documentos para
confirmar as hipóteses encontradas através da história oral, que investiga os fatos e
acontecimentos por meio da memória de pessoas. De acordo com Marconi, (2007, p.282). “A
história oral preocupa-se com o que é importante e significativo para a compreensão de
determinada sociedade.”
O diagnóstico nestes documentos colaborou como forma de acesso indireto à história
do Movimento de Educação de Base, contribuiu para fundamentar as informações
catalogadas por meio de entrevistas semi-estruturadas a dois ex-coordenadores do
movimento atuante no período de 1973 a 1997, estes representam os sujeitos da pesquisa
que ajudaram nos conhecimentos para preencher lacunas que não são encontradas em
documentos escritos.
A análise oral favoreceu significados de valores críticos do passado, devido à temática
ter deixado de existir fez-se necessário investigar e discutir as reflexões a partir da pesquisa
oral. Assim foram reconstruído e elaborado historicamente novos conhecimentos
significativos para o estudo discutido.
4.2- Os achados da pesquisa.
Situado no interior do Nordeste brasileiro, localizado na serra da Ibiapaba do estado do
Ceará, Tianguá começa a traçar seu caminho de evolução com a criação da Diocese em 1971,
abrangendo 14 municípios, no entanto esse passo simbolizava uma relevância significativa na
história social, educativa e política do município, contudo até esse mesmo ano este pertencia a
Diocese de Sobral e necessitava de uma maior assistência.
Com a implantação da Diocese na Ibiapaba, Tianguá passa a ser a sede episcopal e o
responsável pelo núcleo educativo do MEB, o qual recebeu este movimento em 17 de
setembro de1973, a convite do seu primeiro bispo Dom Francisco Timóteo Nemésio Pereira
Cordeiro,3
com isso já se fundamentava uma conquista simbolizando possíveis mudanças na
vida da população em especial dos camponeses.
3
De acordo com Abreu este contribuiu efetivamente para o desenvolvimento do município, este homem esteve
no processo da evolução regional, foi perseguido por oligarquia política pelo seu caráter critico e revolucionário.
(2009, p.51).
17
As mudanças estavam confiantes com a nova Diocese, não só na área religiosa, mas na
educação assim como toda sociedade ansiavam pelas transformações, alguns pela evolução do
mercado, outros pela liberdade da população das mãos da oligarquia política que necessitava
ser rompida. Afirma Abreu, (2009, p.52). “foi a época de novos tempos, da nova ordem, dos
novos temas, a ansiedade pelo crescimento, se congregava, se agigantavam, além de
empreendimentos, progressos e status.” Este novo momento do município deixa a dúvida se
realmente estava à oportunidade para as mudanças e o desenvolvimento a favor das camadas
populares, ou um falso progresso doado intencionalmente para o fortalecimento das elites em
adquirir novos parceiros e assim continuarem ditando ordem e poder.
A certeza de uma sociedade arrastada pelo fracasso e dominada pela opressão é a
esperança que ela se modifique, caminhe para a globalização, apresente um futuro equilibrado
e ético, não baseado em falsas modernidades sufocando os sujeitos no salve-se quem puder
isto imerso no idealismo do mercado e do lucro, gerando assim as diversas formas de
violência que excluem e oprime, é necessário que a população busque novos valores
confrontando justamente com o poder por soluções, reivindicando problemas para que a
recompensa seja a liberdade, porque ela não é recebida gratuitamente é fruto da luta e
persistência pela vida, conforme pode-se ler nas idéias de Paulo Freire:
Não somos, estamos sendo. A liberdade não se recebe de presente, é bem
que se enriquece na luta por ele, na busca permanente, na medida mesma em
que não há vida sem presença, por mínima que seja, de liberdade. Mas
apesar de a vida, em si, implica a liberdade, isto não significa de modo
algum, que a tenhamos gratuitamente. (FREIRE, 2000, p.132).
A liberdade que o ser humano alimentava e ninguém queria explicar era sufocada pelo
contexto social vivenciado em plena ditadura militar, contudo isso também trazia implicações
em Tianguá, assim como na maioria dos territórios brasileiros esquecidos pelo poder público
e especialmente o Norte e Nordeste, os quais eram regiões subdesenvolvidas. Nestes
acontecimentos o município do mesmo modo passava por esses abalos, encontrava um
número elevado de analfabetos, como também não existia uma atenção ao ensino de adultos
que penetrasse na base buscando a valorização dos indivíduos e levasse um novo olhar para a
inclusão e comungasse com a democracia.
Ofertas de trabalho não existiam, o qual o foco maior era empregos de doméstica e o
trabalho com o arado, as perspectivas para o povo simples não existia, era acomodar, calar e
obedecer ao poder que abusava da ingenuidade da população para permanecer no domínio
político, além dos conflitos armados e morte que se assolavam no município, porém a cidade
18
estava já há vinte anos sobre o domínio de uma oligarquia que confrontava intensamente com
quem ameaçasse a sua estadia de domínio sobre a população.
Nesse momento e imediato Tianguá necessitava de elementos que levasse a
conscientização e isso veio a ser modificado com a fundação do Movimento de Educação de
Base no município, depois de terem dado os primeiros passos em 1961 e por conseqüência da
situação política, acontece seu declínio, mas em algumas regiões ainda encontrava a sua
participação com novas características, mas ligado ainda em fundamentos populares na
realidade vivenciada pelos camponeses.
Com o objetivo de fazer com que a diocese crescesse e possibilitasse alterações na
vida do povo, o MEB-Tianguá vinha trazer os sujeitos a reflexão de vários questionamentos e
apontar direções para que os indivíduos entendessem da situação ocorrente no país, já que
como em todo o território brasileiro vivenciava um descaso político no contexto
socioeconômico com exceção o sul, porém era nessa região que se concentrava burguesia que
massificava e enumerava cada pessoa em eleitores, deste modo o movimento veio agir,
conscientizar, unir a democracia a realidade por meio do diálogo, afirmado pelo entrevistado;
“(...) O ensino do MEB era ligado ao despertar de consciência de muitos
fatos que acontecia na época que Tianguá vivia a oligarquia política Nunes,
portanto só há liberdade quando há mudança na mente (...) com o
movimento foi criado um despertar para a consciência e a aprendizagem.”
[Entrevistado 2].
Denunciando essa forma de atuação dos governantes com a educação, depois do
movimento resumido a um programa assistencialista com o golpe militar nos seus primeiros
anos, contudo essa foi a única instituição de educação popular que sobreviveu a este período
ditador, mas pouco a pouco se fortalece mesmo depois de perseguições e seu foco centrar
principalmente no serviço pastoral, ou seja, as ações eram voltadas para o caráter religioso.
Abrindo espaços gradualmente para a denúncia, o movimento em Tianguá erguia-se
com o objetivo de “Educar, evangelizar e promover” 4
despertando na população o interesse
pela luta, por seus direitos sociais, contudo a cidade tornava influente, conduzia para um
desenvolvimento promissor ligado a leitura da palavra a leitura da vida e do mundo. Assim
afirma:
Os primeiros anos são plenos de lutas e vitória: Órgãos de caráter regional se
estalam aqui, somos a cabeça da região, - a capital! Cursos, seminários,
4
Lema do MEB em 1973. (ABREU, 2009, p.87).
19
assembléias, encontros são rotinas: fazem parte do cotidiano, era a marca dos
novos tempos, da nova ordem, dos novos temas. (ABREU, 2009, p. 52).
Portanto, a sociedade só se torna bem-sucedida, quando ela alimenta um desejo de
mudança de um mundo idealizado onde gostariam de viver, sobretudo da participação
coletiva, da negação da ordem que aliena, porém unidos fundamentados na educação e no
conhecimento, concordando com Freire, (2000). Que a sociedade sozinha não muda e também
a educação sozinha não transforma, necessita do saber e da denúncia para que o verdadeiro
discurso progressista seja o anúncio de novos períodos.
A idealização do novo chega com a participação do Movimento, este órgão educativo
passa a atuar na educação solidária, pastoral estabelecendo uma educação assistencialista,
fortalecendo seus objetivos com ações voltadas para a evangelização e a promoção das
comunidades com implantações das Comunidades Eclesiais de Base- CEBs, vivenciando a
influência da ação evangelizadora desenvolvendo suas atividades no tripé ver, julgar e agir.
Entretanto, o MEB-Tianguá nesse período, ao mesmo tempo levava até as
comunidades a formação, a participação coletiva, à reivindicação, a valorização dos sujeitos,
sobretudo a leitura e da escrita a qual é a conquista da fala, das reivindicações a formação
política e a crítica, além da propagação da evangelização, o fortalecimento e a criação das
pastorais; da família, da juventude e da terra, além da conciliação com o Movimento dia do
Senhor5
o qual era fortificado com a atuação religiosa e a participação do homem do campo
na ação de conscientização.
Penetrando na realidade do homem do campo o Movimento de Educação na sua fase
de implantação, favoreceu na educação de base que correspondia até a 4ª série em um ensino
continuado, convivendo paralelo com o MOBRAL conseguia gradualmente conquistar a sua
educação libertadora fundamentada na ética. Despertando a principio psicologicamente os
camponeses das comunidades, Bom Jesus, Olho D`Água, Pé do Morro, Pindoguaba, São José
do Carasco e Tucuns.
Estas comunidades deram abertura ao diálogo, a inovação o diferente chegava para
despertá-las da mentalidade subordinada à opressão, porém estas já tinham uma tendência à
ação pastoral na comunidade, deste modo foi possível a penetração do projeto de educação na
sua formação, como também dá inicio ao seu desenvolvimento, assim é relatado:
5
O Movimento do Dia do Senhor era um movimento específico de Sobral criado pelo padre Albani Linhares em
1965, surgido junto com o MEB com as mesmas orientações político-pedagógica, este não tinha função de
alfabetizar, mas motivar a celebração dominical, evangelizar e conscientizar. Vale ressaltar que Tianguá
pertencia à extensão do MEB-Sobral, porém esse movimento ainda era influência da sua existência nos
primeiros tempos. (BEZERRA, 2006).
20
“(...) Com a criação da diocese tudo era novo e o novo é sempre bem aceito
pelas pessoas que não tem assim uma formação criteriosa, a gente vive de
modismo, então o MEB começou esse movimento chegando nas
comunidades, fazendo reunião e foi pouco a pouco congregando as pessoas
que já tinha tendência já a vida comunitária, então isso foi muito importante,
(...) o povo é quem aceita ou não, onde esse movimento foi aceito teve um
desenvolvimento muito significativo principalmente de consciência política,
onde esse movimento foi negligenciado pela própria população, por isso ai
não temos esses resultados.” [Entrevistado 2].
As comunidades que receberam o Movimento de Educação estavam lançadas a
oportunidade de mudar, porém teve comunidades que não aceitara a metodologia do
movimento, assim como os políticos não aceitavam as idéias de liberdade. “Onde você tá e
você falam de liberdade ai as coisas desandam, porque as pessoas querem o monopólio das
massas como o MEB era um movimento de libertação era de certa forma uma pedra no
caminho dos políticos das prefeituras”. [Entrevistado 2]. Contudo, não teve uma repressão
frontal, mas discordavam da forma de atuação do projeto.
A conquista da autonomia e na valorização do saber popular, neste contexto ficava
limitada para quem recebia o movimento, o processo da escrita iniciava com a evidência das
reivindicações que geravam mudanças, no entanto o povo nunca escreve senão para viver. A
importância apresentada a essas comunidades se deu por conta de serem localizadas em
regiões semiáridas e de difícil acesso, além por se manterem subordinadas aos grupos de
dominação política.
Fazia necessária uma educação que verbalizasse as necessidades do povo e que
também fosse corajosa, contribuindo no despertar da consciência crítica, levasse os indivíduos
à indignação do comportamento do poder e assumissem uma nova postura de reivindicação e
liberdade, portanto o pensamento freiriano defende:
Era ir ao encontro desse povo emerso nos centros urbanos e emergido já nos
rurais e ajudá-lo a inserir-se no processo, criticamente. É esta passagem,
absolutamente indispensável a humanização do homem brasileiro, não
poderia ser feita nem pelo engodo, nem pelo medo, nem pela força. Mas, por
uma educação que, por ser corajosa, propondo ao povo a reflexão sobre seu
tempo, sobre seu papel no novo clima cultural da época de transição.
(FREIRE, 2009, p.67).
O MEB foi conquistando o povo, influenciando a educação política e a educação
letrada, estabelecendo o livre-arbítrio aos camponeses, iniciava um momento de mudança, a
acomodação e a ingenuidade davam lugar a denúncia e a conscientização, devido à educação
que atingia as camadas populares, pois:
21
(...) “O MEB teve influência, primeira influência da consciência, um
município só é conscientemente educado quando seu povo discute e pode
optar sobre o distino do município, então o MEB teve essa formação básica
das comunidades e pouco a pouco foi despertando o povo para a consciência
política.” [Entrevistado 2].
Várias pessoas conseguiram se alfabetizar, ao mesmo tempo em que começavam a ler
a escrever, estabelecia uma nova consciência política, quebrando conceitos que excluíam
homens e mulheres, porém por serem pessoas do campo já despertava um olhar de
discriminação. Prevalecia na concepção da burguesia que era nas comunidades rurais, onde
encontrava o depósito das empregadas domésticas e isso também refletia na mentalidade dos
camponeses, concordando e correspondendo com o estado de inferioridade que os colocavam.
Portanto, os sujeitos deixavam manipular-se pelas necessidades econômicas e
principalmente pela falta de formação educativa, criteriosa que os levassem a inclusão e
despertasse para o anseio do desenvolvimento individual e coletivo. Assim sendo, o
movimento buscou nos três primeiros anos de fundação em Tianguá a implantação e o
desempenho junto às pastorais, depois foi se capacitando dentro dos planos do projeto e a
exigência de relatórios trienais para a diretória de assuntos internacionais, o qual
acompanhava, controlava as atividades pelo sistema de educação. (SANTOS, 1992). Saindo
do campo religioso para fundamentar principalmente a educação, mesmo que este foco tivesse
se tornado mínimo.
O MEB passa a agir na conquista da leitura e da escrita nas diversas comunidades,
sobre isso o entrevistado 1 relata “(...)Tivemos época que tinha 190 escolas dentro da
Diocese, então um ano às vezes estava em uma região às vezes estava em outra, aquela turma
ia ficando a gente ia pra outra (...) agora Tianguá, o foco era maior.” Contudo, estava
possibilitando transformar mentalidade na população atendida pelo projeto, levando os a
refletirem sobre sua participação na sociedade para que estes pudessem aderir o processo de
luta, agindo contra as arbitrariedades e alienação dos grupos de dominação política,
favorecendo melhoria, estimulando o processo de lutar por seus direitos sociais. Concordando
com Freire, (2000): “Não importa em que sociedade estejamos e a que sociedade
pertençamos, urge lutar com esperança e denodo.” (p.134). É discordando dos elementos de
exclusão que se inicia a ação ousada de batalha para a acessão das classes populares.
O movimento em Tianguá não trabalhou com o rádio-aula como foi nos seus
primeiros anos, mas aprimorou o projeto com programas educativo através da emissora de
rádio (AM 1540 khtz) “a Rádio Santana”, fundada em 1980 com a boa música e programas
22
dirigidos pelo MEB, voltados para a educação política, na área sindical, programas religioso,
voltado para as pastorais, “(...) todos os dias tinha um agente do MEB com um tema lá, então
cada um tinha um tema pra desenvolver.” [Entrevistado 1]. Os programas de rádio eram
totalmente voluntários. Contudo a educação era frequente na vida da população, não só de
quem era educando do movimento, mas a todos que se deixava informa se pelo
entretenimento e a cultura.
Neste processo, portanto de conscientização e iniciativa que a população das
comunidades atendidas se mobilizava junto à ação educativa do movimento de educação
opondo se a status e autoridades locais, os quais encontravam sobre seu domínio grandes
quantidades de terra, o trabalhador rural mantinha servindo ao patrão, para que estes
concedessem terras para morra e plantar como também seus direitos de trabalhador rural não
era concedido, porém “A questão sindical aqui antes era voltada para o patrão não era muito
do trabalhador.” [Entrevistado 1]
A concentração do poder estava principalmente na administração das coisas públicas,
na oligarquia, na concentração de latifúndios e no domínio das massas populares. Com a
educação oferecida pelo MEB, trabalhando na valorização da cultura, refletindo a sociedade
em geral e a administração local, dentro da temática exposta, construindo mentalidades,
favorecendo aos moradores das comunidades a conquista da fala com a escrita, que torna
fluentemente na consciência do povo que aceitaram a metodologia do projeto.
Portanto, com esse método da pedagogia baseada no saber que cada um dos educandos
adquiria na sua vivência e na sua relação com o mundo a atuação de luta, porém estes grupos
populares do município, junto à ação do movimento trabalhando as questões agrárias, o valor
da terra, as diferenças de gênero, valorizando os direitos da mulher, despertando dentro de
cada temática a exigência por políticas públicas.
O movimento de educação através da metodologia do despertar de consciência
possibilitou aos alunos atendidos que estes realizassem ações de mobilização para melhoria de
suas comunidades e como forma de reivindicar a existência de seus direitos. Com a análise
das pesquisas em arquivos e através dos dados coletados com as entrevistas, foi compreendido
que o programa de educação possibilitou:
 O rompimento da oligarquia política, com a criação do partido dos trabalhadores- P T
no município, dando uma visão política de esquerda a população rural.
 A candidatura de uma mulher para prefeita, valorizando a mulher como também
capaz de assumir posições na sociedade.
23
 Eleição de um sindicalista para a câmara municipal.
 A presidência sindical de um trabalhador rural com eleições diretas, depois de muito
tempo sobre o domínio de fazendeiros, o sindicato passa de fato a ser do trabalhador
rural.
 Terras para morar e plantar, assentando 21 famílias de várias comunidades atendidas o
assentamento Valparaíso.
 A elaboração de Projetos na área dos assentados, o MEB atuava como assessor.
 Uma educação de base diferenciada que não instruiu, mas desenvolveu a fala e a
crítica, tornou pessoas politizadas ao desenvolver a leitura e a escrita.
 A criação e o fortalecimento de pastorais, como pastoral da terra, pastoral da mulher,
pastoral da criança e pastoral social. Tornando os sujeitos mais humanos e éticos.
 A consciência nos educandos para a educação continuada, portanto teve como
produto final dessa educação uma secretária da saúde e um secretário da agricultura.
O MEB em Tianguá alfabetizou jovens e adultos despertou consciência, capacitou os
alfabetizandos a ler e escrever, bem como resolver operações matemática numa perspectiva
crítica transformadora, teve uma participação significativa na individualidade dos alunos, na
própria comunidade e na história educativa nos diversos sentidos educacionais no município
conquistados pelos sujeitos. Contudo, hoje é válido afirmar que:
“(...) O que tá faltando ainda no nosso país é a consciência cidadã do povo,
porque tudo ainda anda a reboque é porque as pessoas não têm consciência
da importância, nem do conhecimento e nem da organização popular e da
própria força coletiva e isso o MEB trabalhou, o MEB construiu
mentalidades e o MEB mudou comportamento não tem uma pessoa que não
tenha passado pelo MEB que hoje não tenha uma visão diferente de mudar e
que não tente mudar a sua comunidade como um todo,... mesmo aqueles que
tiveram assim uma certa imobilidade para aceitar as idéias do MEB... nunca
será de mais no nosso pais, ele será sempre necessário nessa linha triples de
educação evangelizar, educar e ajudar na formação comunitária de novas
idéias.” [Entrevistado 2].
Portanto, é correto afirmar que a educação vai mais além da capacidade de aprender
ler e escrever, mas a de captar as informações conscientemente e praticá-las. Essa relevância
implantada pelo projeto de educação foi possível prevalecer nos tempos atuais e encontrar
elementos dessa educação de base libertadora que ainda são atuantes, buscando superar outros
fatores, porque hoje a realidade não é acabar com o analfabetismo mesmo que ainda exista,
mas preencher vazios sociais, diferenças deixadas pela falta de assistência que antes não era
ofertado à população.
24
Encontra-se como forma de continuidade da metodologia do MEB em Tianguá;
movimento de mulheres, promovidas pelo sindicato, as pastorais da terra, da juventude, da
família pastoral social trabalhando o religioso vinculado no social. “O MEB de Tianguá
contribuiu com a criação e a animação de comunidades de base, de associações comunitárias e
de várias organizações populares”. (SANTOS, 1992). Esse projeto foi fundamental para as
comunidades, pois estas tornaram conscientemente educadas na forma mais abrangente da
área do conhecimento.
O Movimento de Educação de Base deu o primeiro passo para as questões sindicais,
na formação humana, na conquista da leitura e escrita que se dava na expressão da fala de
reivindicações, assim afirma o entrevistado.
“(...) Este movimento foi muito significativo nesse despertar de consciência
crítica das pessoas... ficou a semente então o MEB não exista talvez com
esse nome aqui, mas talvez exista a pastoral social... o que eles focam hoje é
de forma diferenciada porque o tempo mudou a realidade é outra, mas não
deixam de estarem preocupados com o social com a consciência critica das
pessoas.” [Entrevistado 1].
Com este processo de superação do desequilíbrio entre as classes sociais, entre o poder
e a fragilidade, foi possível estabelecer as comunidades que aceitaram a proposta de educação
uma mentalidade politizada e hoje são desenvolvidas e assistidas pelas políticas públicas e
construíram uma identidade cultural.
“(...) As comunidades que aceitaram esse desafio, que lutaram elas vivem
muito melhor a partir daí, não adianta libertação sem a consciência e com o
MEB era um trabalho de conscientização, aqueles que se deixaram conduzir
pelas orientações do MEB hoje têm uma vida diferente.”
[Entrevistado 2].
A educação teve uma tarefa importante para a compreensão política e social dos
educandos, afirma Freire que “A consciência e a alfabetização jamais se separam.” (2010,
p.14). Sobretudo a educação não tem um ponto final, ela é continuada e foi dessa diferença
que alcançou resultados significativos na história educativa de Tianguá.
5- Desafios conclusivos.
Ao deparar com o estudo coletado foi possível perceber a contribuição deixada pelo
MEB e como ele possibilitou a inclusão, sobretudo na educação, valorizou cultura e a
identidade de um povo, despertou para a consciência critica as pessoas no que se refere ao
processo eleitor, favoreceu para o surgimento de outros movimentos a partir da educação, as
25
comunidades hoje são atendidas pelas políticas públicas, sabem reivindicar seus direitos
devido a uma consciência crítica.
A distância social ainda existe, as questões que traz violência são notáveis contra o ser
humano, mas o papel da educação popular não finalizou e não se limita na simples técnica de
aprender a ler e escrever, mas na vivência e superação destas distâncias. Portanto é necessário
que hoje se dê procedimento a está educação que reivindica, visto que não é possível educar
sem saber o sentido real das ações imposta pelos projetos, se a educação é a expressão da
democracia, porém é fundamental que ela seja discutida e confrontada com a realidade de
cada educando.
A sociedade precisa de uma educação que expresse liberdade e esteja aberta ao
diálogo, estabeleça uma abrangência dos fatos, esteja ligada a realidade social dos indivíduos,
porém na atualidade temos uma educação limitada em simples técnicas e adestramentos,
sintetizados em disciplinas e métodos tradicionais que condicionam os sujeitos em pessoas
treinadas, manipuladas e desta forma jamais teremos uma vivência concreta de democracia
em nosso país, porém a superação do analfabetismo ainda hoje é um desafio brasileiro, sendo
absoluta na zona rural, segundo o IBGE, portanto cabe uma avaliação de como está utilizado
os métodos educacionais para adultos para a superação desta instância social.
A educação exige uma fundamentação, um ensino dinâmico, um currículo que seja
interdisciplinar que conviva com a prática de cada educando. Quando se pensa em educação
corresponde apenas na aprendizagem de elementos já escritos e acontecimentos históricos
vazios, fantasiosos que não traz nenhuma influência na vida dos sujeitos sociais, portanto é
preciso que o sistema de organização do país repense de que forma é transmitido o
conhecimento e isso seja exigido pelo cidadão, uma educação que vai além do ato de aprender
a ler e escrever, mas abrangente ao poder da crítica, reivindicações sociais e autonomia,
sobretudo liberdade de pensar e agir sobre o quer oprime e aliena.
Contudo, essa educação é um desejo progressista, porque seria contradição os
dominadores ofertando consciência à população, porém eles temem a crítica e a reivindicação
estes querem a manipulação das massas populares. Os tempos mudaram com novas realidades
e diferenças sociais é o período da tecnologia e da informação que veio desdobrada com
antigas formas de dominação disfarçadas de novas, expressando poder e manipulação sobre os
indivíduos.
De maneira geral o domínio e a manipulação sobre as pessoas estão presente nos
diversos sistemas sociais, a mesma educação que hoje educa pode deseducar as instituições
26
escola, trabalho, igreja e os meios de comunicação são aparelhos que expressão ideologias
condicionando os sujeitos a seguir seus ideais. Contudo necessitamos pensar em novas
medidas educacionais que não gerem exclusão e a manipulação de massa, mas uma educação
popular, porque esta partilha da cidadania formando sujeitos e mundos é este o verdadeiro
sentido da educação, a exemplo das ações do MEB.
27
Referencias
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O rádio no MEB. In. Anais... Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 9. Salvador.
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ARROYO, Miguel G. Educação e Exclusão da cidadania. Educação e Cidadania: quem
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A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

  • 1. A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO MUNICÍPIO DE TIANGUÁ-CE. 1 Silvani Silva de Paula silvanisiva123@hotmail.com 2 Francisco Ullissis Paixão e Vasconcelos fupv_26@hotmail.com Resumo O artigo apresentado aborda as contribuições educacionais do Movimento de Educação de Base (MEB) no processo de formação de jovens e adultos no município de Tianguá-Ce. A falta de reconhecimento da relevância das ações do MEB por parte do Governo Federal da época se deu, sobretudo, pela vivência de práticas de opressão coordenadas pelos militares, fazendo com que as ações do MEB se encontrassem nas regiões norte e nordeste do Brasil, onde se evidencia maior vulnerabilidade de vida da população; com as características ligada a formação pastoral, mas sem perder seus vínculos educativos voltados para o popular, convivendo com a realidade dos camponeses e contribuindo para que esses tenham uma consciência política e se libertem do domínio e da opressão. Alguns autores compõem o referencial teórico: FREIRE (2000; 2009), BRANDÃO (1980), ARROYO (2003) e FÁVERO (2004). As análises decorrem de uma pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso- TCC, no ano de 2010, do curso de pedagogia do núcleo de movimento sociais, realizado na Universidade Estadual vale do Acaraú- UVA. Utilizando-se a Pesquisa Qualitativa, através de um estudo bibliográfico – documental e através do método da história oral, na qual se obteve os dados por meio de entrevistas semi-estruturadas. Os sujeitos da pesquisa estão representados por 1 do sexo feminino e 1 do sexo masculino, ex- coordenadores do movimento atuantes no período de 1973 a 1997. As informações e reflexões decorrentes sinalizam a importância da educação crítica transformadora na contribuição do desenvolvimento da sociedade e na consciência política dos cidadãos. Concebida no âmbito de referenciais educativos baseados na vivência e no diálogo. Por este estudo releva a importância sociocultural, política e educacional do MEB no processo de mobilização das comunidades na luta em favor de superação de seus problemas coletivos, a elevação da consciência política dos analfabetos e o enriquecimento do patrimônio histórico, político e pedagógico da região da Ibiapaba e por extensão do Ceará e do Brasil. Palavras- Chave Educação popular; MEB; EJA. 1 Aluna graduanda do curso de pedagogia do núcleo de movimentos sociais da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA.2011 2 Professor Orientador da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA.
  • 2. 2 1- Introdução O presente trabalho pretende conhecer as contribuições educacionais do MEB no processo de formação dos alunos atendidos nas salas de alfabetização de jovens e adultos no município de Tianguá – CE. Este estudo justifica-se pela escassez de trabalho sobre o tema e pela necessidade de um estudo aprofundado das contribuições educativas do movimento de base para preencher lacunas que ainda encontram-se abertos sendo obstáculos ao conhecimento científico. As reflexões desse estudo foram divididas em subtítulo para melhor compreensão. No primeiro é feito um levantamento histórico do MEB inserido no contexto social de negação dos direitos à cidadania. A sociedade mantinha-se oprimida, manipulada e excluída do processo de alfabetização pelo poder político. O segundo analisa os princípios pedagógicos do movimento na formação de cidadãos participativos na sociedade. A metodologia da ação age psicologicamente na mentalidade dos indivíduos despertando-os para o processo de reivindicação tornando os conscientemente politizados. O terceiro subtítulo explicará os caminhos do MEB no município de Tianguá e a sua contribuição educacional no despertar de consciência, na politização e no desenvolvimento dos indivíduos e de suas comunidades. O lócus da pesquisa fundamenta-se na abordagem de natureza qualitativa, pois este modelo de metodologia fornece explicações científicas adequado para a elaboração dos dados e adquirir o conhecimento desejado, através de um estudo bibliográfico-documental em livros, artigos, relatórios, cartilhas e estatuto do MEB, complementando por meio da história oral como principal fator para a análise dos conteúdos, obtidos por meio de entrevistas semi- estruturadas, representando os sujeitos dessa pesquisa, dois ex-coordenadores do MEB- Tianguá de 1973 a 1997. Finalizando podemos perceber que o movimento discutido, instituiu uma educação de base significativa nos alunos que se deixaram educar no sentido amplo de educação. Nesta definição, acredita-se na necessidade de um ensino desse nível na sociedade atual cheia de padrões e elementos que manipulam. A educação precisa fundamentar seu ensino na realidade dos sujeitos e desenvolver-se em decorrência de uma política que possibilite programas e ações comprometidas com desenvolvimento social.
  • 3. 3 2- Movimento de Educação de Base (MEB): Como tudo começou. A educação básica para adultos começou a delimitar seu lugar na história da educação brasileira a partir da década de 30, quando começa a se firmar um sistema público de educação no país. Estava na constituição de 1934 a garantia do ensino público gratuito para todos e inclusive para adultos, mas só a partir do fim da ditadura de Vargas em 1945 é que surge um sistema político de democracia, em que a ONU - Organização das Nações Unidas em sua carta de direitos alerta a urgência para a integração dos povos, visando os direitos sociais e políticos da população, hoje com a promulgação da LDB. A União recebeu a tarefa institucional de elaborar o Plano Nacional de Educação, com dois eixos fundamentais: a organização do ensino nos diferentes níveis e áreas especializadas e a realização de ação supletiva junto aos Estados, seja subsidiando com estudos e avaliações técnicas, seja aportando recursos financeiros complementares. Três outras conquistas foram incorporadas ao texto constitucional: ensino primário gratuito para todos, desde que oferecido em escola pública, inclusive para alunos adultos, percentual de 10%, por parte da união e dos municípios, e de 2% por parte dos Estados e do Distrito Federal, da renda resultante de impostos, objetivando ações de manutenção e desenvolvimento do ensino. (CANEIRO, 2009, p.19) Com esta iniciativa, contribuiu para que a educação de adultos ganhasse respaldo entre as preocupações sociais e houvesse uma maior atenção com a educação elementar aos adultos, porém a redemocratização no país colocava em suas metas, a educação como forma de progresso, surgindo assim, varias campanhas de massa para acabar com o analfabetismo, era urgente a aprendizagem ofertada à população, mas eram apenas palavras. Também a sonhada democracia, na realidade a prioridade para os lideres políticos resumia na necessidade dos mesmos ampliarem o número de eleitores e assim as oligarquias dominantes continuassem no poder, intencionalmente cada aluno significava um voto e isto era uma oportunidade de dominação sobre as massas. Nas campanhas de educação os adultos eram considerados como incapazes, marginais, identificados psicologicamente e socialmente como uma criança grande irresponsável. O analfabetismo era definido como a causa da situação econômica, social e cultural do país, e não efeito da exclusão de massa que a população sofria, sem meios para ser feito para reverter esse quadro, e: No Brasil, como em vários países da América Latina, as antigas elites formadas por oligarcas com influências liberais acostumaram-se a ver na educação “a alavanca do progresso”. Assim tomaram o tema do
  • 4. 4 analfabetismo e despejavam rios de retóricas. Diziam que o país jamais poderia encontrar seu caminho e a democracia jamais poderia ser uma realidade enquanto tivermos uma tão alta proporção de analfabetos. A “ignorância” e o “atraso” eram duas faces da mesma moeda. Palavras, muitas palavras e por certo algumas verdades mas nenhuma ação. (FREIRE, 2009, p. 21). A forma de ensino transmitido pelas campanhas de educação recebia críticas, devido às deficiências pedagógicas e o caráter superficial do aprendizado em curto período e as formas inadequadas de aplicação do método para adultos, fazia com que o ensino ofertado não possibilitasse significados importantes de conquista e realização do público atendido. No entanto, todo esse descontentamento implicava uma nova visão sobre o problema do analfabetismo e a consolidação de novos métodos educacionais para a educação de jovens e adultos. Neste estado de resolução dos problemas educativos e sociais que o país vivenciava no inicio da década de 60, expande-se no Brasil movimentos de educação popular, uma forma básica que se agrega as demandas da população. Esta forma de educação cujo referencial foi o educador pernambucano Paulo Freire, traz implicações sociais e políticas que favoreceu a uma reflexão crítica da realidade, portanto se diferencia das demais formas de educação que existia, pelo caráter educativo ligado ao povo, mais especificamente os excluído da sociedade civil, moradores de comunidades rurais e analfabetos. Sua estrutura educativa estava voltada para a resolução dos problemas das comunidades carentes e busca pedagogicamente mudar está realidade, através da conscientização, sendo fiéis as suas linguagens, interferindo na sua vivência de modo que os indivíduos adquiram autonomia e caminhem para a liberdade sem opressão, descobrindo a sua identidade e atribuindo novas culturas. Com esta forma de educação é assimilado pensamentos críticos da realidade social dos indivíduos. Entretanto, a aprendizagem tem o objetivo de libertar a consciência individual e coletiva, incentivando os educandos a reivindicar seus direitos democráticos na sociedade, também estimulam as camadas dominantes a repensarem nas demandas sociais e como estão ofertando as políticas públicas para a melhoria da população. No entanto: Não se trata de um processo apenas de aprendizagem individual, que resulta num processo de politização dos seus participantes. Esta é uma de suas faces mais visíveis. Trata-se do desenvolvimento da consciência individual. Entretanto, o resultado mais importante é dado no plano coletivo. As práticas reivindicatórias servem não apenas como indicadores das demandas e
  • 5. 5 necessidades em mudanças, reorientando as políticas e os governantes em busca de legitimidade. (GOHN. 2001, p.52) E assim é de lembrar que a significação da educação popular se deu pelo método de ação, que conseguiu mobilizar por um determinado período de tempo uma quantidade significativa da população, ou seja, a sua mobilização contribuiu para uma pedagogia sistematizada de uma iniciativa simples e real dos fatos, instituindo atos de mudanças no povo subordinado a um sistema opressor. Na educação popular de caráter sociopolítico se firma na tentativa de libertar a consciência da população para que estes usufruam de seus direitos a cidadania. O programa de educação popular que contribuiu nesta fase para a alfabetização fundamental brasileira nos anos 60 e também deu iniciativa relevante à sociedade foi o Movimento de Educação de Base- MEB surgido em 1960, com iniciativa da Igreja Católica da arquidiocese de Natal (RN). No entanto a igreja refletia profundamente sobre uma nova maneira de atuação dos leigos no serviço pastoral e através da metodologia de ação a igreja conservadora dava abertura à participação de leigos atuantes na comunidade. No Brasil essa experiência aconteceu no Nordeste, nas igrejas de Natal e Recife, com a criação de escolas de Serviço Social e centros de treinamento, porém a igreja geograficamente desejava ampliar sua ação pastoral e para isso era necessário que a população soubesse ler e escrever, pois a maioria da população era analfabeta, para levar educação a este público estavam impostos vários obstáculos, no qual o acesso a muitas comunidades do meio rural tornava difícil pela extrema carência. Para modificar essa situação, as emissoras de radiodifusão foram vistas pela CNBB- Conferência Nacional dos Bispos do Brasil como o caminho mais viável para a solução do problema, assim atingiria um número elevado de pessoas no processo educativo, seguindo exemplo de experiência do exterior. (REIS, 1995). Com a implantação das Escolas radiofônicas é criado um Sistema de Assistência Rural – SAR que auxiliava os moradores do meio rural, com programas de cooperativismo, treinamento de lideranças, politização, e sindicalismo. Foi neste contexto pioneiro da igreja e os resultados apresentados pelas escolas radiofônicas, que em 21 de Março de 1961 pelo decreto 50.370 publicado no diário oficial no Art. 1º o dispositivo diz que “o governo federal, prestigiará o movimento de educação”. (SANTOS, 1992). Com o convênio entre CNBB que se responsabiliza pela execução do projeto de educação e Governo Federal o presidente Jânio Quadros, responsabiliza-se pela parte
  • 6. 6 financeira, ampliando o movimento que passa a ser Movimento de Educação de Base- MEB. Certamente para implantar um projeto, faz necessário recurso financeiro, portanto com a ampliação do programa possibilitou; o aumento de salas de aulas, pagamento de monitores e a conquista de materiais didáticos. A meta inicial era de que, no período de 1961-1965, o MEB instalasse 15 mil escolas radiofônicas e conseguisse organizar, através delas, grupos e comunidades, tendo vista as já almejadas reformas de base. O trabalho era realizado em quatorze estado e território, o MEB manteve 58 equipes, atingindo 500 municípios. (REIS, 1995, p.14). Obviamente a importante aliança abrangeria o maior número de comunidades com salas de aula, mas também possibilitou à descaracterização do movimento, a atuação que era de educação popular que criticava o sistema político das atitudes administrativas, perde sua característica e passa a oferecer uma educação elementar, o mínimo necessário para a educação da população, ou seja, o que era fundamental para as pessoas, agora era à base para um ensino educativo com influência política. Segundo Brandão, (1980, p.24). “As características do movimento de Educação Popular tornou-se uma forma tardia de Educação Fundamental a serviço dos interesses do governo autoritário”. Isto tornava perigoso por ocultar elementos importantes e confundir outros essenciais para o público atendido. Mesmo com as mudanças na forma de educação a parceria entre MEC- Ministério da Educação e Cultura e CNBB ampliaram o programa de educação com duração de cinco anos, com o objetivo de beneficiar as regiões subdesenvolvidas do Nordeste e centro Oeste do país, transformando as escolas radiofônicas em um projeto com maior atendimento as áreas isoladas do país. Com programas de rádio-educativa a educação chegaria através das ondas do rádio, um professor no estúdio ministrando aulas e um monitor da própria comunidade com os alunos ouvindo atentamente as explicações. Concentravam em galpões, casas de farinhas, salões comunitários e alpendres das casas dos moradores da comunidade. Segundo Fávero, (2004, p.4). “As emissões eram feitas no começo da noite e as escolas funcionavam em horário adequado à população rural.” Com esta forma de educação à distância através do rádio cobria as regiões mais remotas do Brasil, precisamente a parceria entre igreja e governo desejava superar suas expectativas, ampliação religiosa e pastoral e utilizar-se de um programa existente para concentrar seus objetivos eleitorais. De acordo com Brandão (1980, p.22). “O objetivo político real é o controle de grupos populares”. Desta forma cada grupo utilizava da realidade
  • 7. 7 frágil do país para satisfazer aos seus objetivos, no mais, não existem ideologias que se fundamentem sem controle e interesses. No entanto, a participação do povo na conquista da educação foi devida a esses interesses político e ideológico, que aproveitaram da fragilidade do país para realizarem seus planos, no contexto histórico a elite política é sempre quem domina, manipula e se apropria de elementos que não fazem parte de sua linha de atuação, procuram manter vigilantes a tudo e a todos que venham ameaçar sua ordem e hegemonia política. Contudo a sua participação na construção da cidadania não foi gratuita e só teve significado quando a ação popular luta contra a exclusão, pois se sabe que: A cidadania jamais será doação do Estado, pois é essencialmente uma conquista dos excluídos, através do exercício político, de lutas. A educação escolar, conseqüentemente, não confere cidadania a alguém que esteja dela excluído; é, ao contrário, (...) Os excluídos se educam, sobretudo, nas lutas de resistência, de reivindicação, de sabotagem. (ARROYO, 2003.p.8) É a educação que leva o sujeito a reflexão é implantada na sociedade para gerar denuncia, para a decisão incluindo os indivíduos a participação cidadã, decididos e livres e jamais condicionados a um sistema ideológico. O grande avanço neste período é a intensidade com que as massas populares ganham o acesso à educação, rompendo antigos conceitos preconceituosos e o importante é que esta educação é permanente, “a educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem”. (FREIRE, 2009, p.104). Desse modo desafiando a liderança política que apoiavam, vendo que as características de educação popular estavam descaracterizadas com influências baseadas em antigas teorias, o movimento descarta a pedagogia do Estado afirmando sem temer a reação do governo segundo, MEB, (2006, P.31) “A ação educativa não pode, portanto, deixar de situar-se nesses três planos: conscientizar, motivar atitudes, proporcionar instrumentos de ação”. Portanto a coragem de lutar por uma educação diferente, por cidadania é um ato heróico, mas enquanto continuava ocultamente o interesse político e econômico que conduzia a exclusão de massa mantida nas teorias pedagógicas não iria expressar mudanças na vida do povo, não compensaria a luta pela conquista da participação a cidadania, assim afirmado pela idéia do autor: Enquanto os reais determinantes sociais e econômicos da exclusão da cidadania continuarem ocultos, sob os escombros de tantas teorias pedagógicas tradicionais, novas e novíssimas inspiradas nessa lógica, e não forem socavados e postos de manifestos para os profissionais da educação e para as camadas populares, não haverá condições de fazer da luta pela
  • 8. 8 educação uma expressão da participação e da cidadania.( ARROYO, 2003, p.41) Para maior esclarecimento do movimento e a retomada a ação pedagógica sua proposta estava em estatuto, natureza e fins do movimento, o primeiro foi escrito em 1963 sob o decreto nº 52.267 tento passado por algumas reformulações com a continuidade do movimento, no entanto com esse decreto passa a atuar para a promoção humana e cristã de jovens e adultos, desenvolvendo programas de educação popular nas diversas regiões consideras com grandes índices de subdesenvolvimento como o Norte e Nordeste do país, estas regiões destacavam por serem lugares com áreas populacionais do país em que os indicadores sócio-econômicos revelavam que estavam em situação de pobreza e como conseqüência, índices sociais e econômicos abaixo do desejado. (MEB, 2006.) Por preferência as regiões subdesenvolvidas, o MEB via na forma de educação popular de Paulo Freire uma proposta de alfabetização de adulto utilizando o método de unir à palavra a realidade dos educandos, esta era o diferencial da alfabetização do movimento, trazendo a vivência do povo para a leitura das palavras, diferenciando dos antigos métodos de alfabetizar desvinculado da realidade dos alunos, visando uma educação não só letrada, mas informativa para uma conscientização democrática as classes popular. Educando com palavras, sem temer o diálogo a denúncia, o programa de alfabetização neste período de funcionamento por decreto expandia com toda efervescência, agora com seus propósitos unidos aos ideais da população, o que estava sendo negado pelo estado, passa a ser o compromisso do movimento, preparando os indivíduos para a educação critica, depositando não uma educação reduzida, mais relacionada com os problemas sociopolíticos do país. Esta denúncia através da educação obviamente seria visto pelos grupos de dominação como uma ameaça ao poder, mas é nesse sentido que atua a verdadeira profecia educativa, ou seja, pensando no amanhã, nas raízes ideológicas que está sendo imposto pelo sistema. Os indivíduos são seres da ação, da indignação, da interferência e não podem deixar que o medo, a aculturação e o domínio se apoderem do que é direito de todos. 3- Os princípios pedagógicos do MEB e a formação de cidadãos participativos. O movimento fundamentado em torno de uma metodologia participativa, da troca de experiência entre alfabetizando e alfabetizador, buscava idealizar nas mentes de seus
  • 9. 9 educandos uma nova realidade dos fatos, conscientizando mentes e conceitos opressor da nossa falha experiência político que se constituiu historicamente na população. O programa inspirado na educação popular caracterizado na pedagogia Freiriana, o qual propõe uma proposta de educação de alfabetização de jovens e adultos que se baseia nos seguintes princípios “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, ou seja, para o aprendizado das letras é necessário que antes os educandos tenham uma dimensão de sua realidade, portanto o MEB tinha essa fundamentação pedagógica da educação libertadora, propondo uma lógica humanística para homens e mulheres. A metodologia é dialética, luta e aprofunda os objetos discutidos, pesquisa, faz análise e traz novas formas de enxergar a sociedade e suas diversas formas de manipulação, o essencial nessa educação popular é que partilha da vivência do povo e também torna um sistema que induz, mas a favor da autoconsciência para que os sujeitos encontrem caminhos para a liberdade guiados pela educação porque ela só adquire plena significação quando; (...) Comunga com a luta concreta dos homens por libertar-se. Isto significa que os milhões de oprimidos do Brasil semelhantes, em muitos aspectos, a todos os dominados do terceiro mundo poderão encontrar nesta concepção educacional uma substancial ajuda ou talvez mesmo um ponto de partida. (FREIRE, 2009, p.17). Os métodos do Movimento de Educação estruturavam em torno da proposta curricular de relacionar a teoria e a prática realizada na exposição de uma palavra geradora, exposta para os educandos, tirada do seu cotidiano no sentido de que os alunos reconheçam e a discutam seu significado real que estar em torno da palavra. Não é estudado apenas as silabas e fonemas composto na palavra sugerida, mas refletida criticamente sobre seu papel social que envolve o tema sugerido. Envolver a comunidade no processo de educação estava na prioridade do movimento, porém quem estava na monitoria das aulas eram sempre pessoas que também fazia serviços pastorais na comunidade. Criando espaços de reflexão e ação conjunta entre comunidade e grupo de alfabetização, realizada durante as discutições de problema sociais havendo a troca de experiência. Nesta didática os alunos expõem toda sua trajetória de vida, expressando sentimentos e desejos, nos quais incidem para ações conjuntas com o alfabetizador, alimentando instrumentos de liberdade aos alunos, incentivando-os a agir e reivindicar sobre seus anseios que partem do individual para ações coletivas. Promover e valorizar a cultura popular e a produção artística dos grupos. Utilizando esta prática dinâmica, os educandos além de estarem
  • 10. 10 encaminhando para etapas alfabéticas, também constroem e valorizam sua cultura e identidade. É com esta didática que o processo de aprendizagem estabelece significados na vida dos educandos, o aprender é por base em sucessivas e constantes comparações, assimilações e acomodações, quando são colocadas situações novas para discussões, os indivíduos comparam, assemelham com suas tradições caracterizando suas identidades ou diferenciam assimilando novas culturas. A alfabetização inicia pelo conhecimento das realidades no mundo e pela ação nele praticada. “A alfabetização começa com a prática e deve voltar a ela” (MEB, 2006, P.19). As novas experiências é o que constará os reais significados do processo de alfabetização, onde: O primeiro passo para a aprendizagem é o contato com as coisas do mundo exterior. É este contato com as situações novas que provocará o desequilíbrio necessário. O segundo passo é sintetizar os dados colhidos nesta prática, ordenando-os. É a etapa dos conceitos e juízo. Em síntese: a aprendizagem começa com a experiência prática. Esta experiência fornecerá os elementos necessários à elaboração de novos conceitos. (MEB, 2006, p.19). Negando essa metodologia, o convênio feito entre Dom José Vicente Távora responsável pelo acordo entre CNBB e presidente da República, descaracterizaram o MEB, com materiais didáticos disponibilizados pelo serviço de educação de adultos do ministério da educação e Cultura- MEC e SIRENA- Sistema Radioeducativo Nacional, também pertencente ao MEC, os livros “Ler e Saber e Riquezas do Brasil” da editora “Agir”, ofertados para os educandos primeiro e segundo livro que se destacava as leituras, caderno de aritmética resumidamente em uma tabuada e a rádiocartilha. (MEB, 2006). Estes materiais baseados na leitura e escrita era para recém alfabetizados, portanto a educação estaria inviável e estava claro que não existia preocupação governamental com a educação de base. Assim a proposta de educação estava limitada, devido os poderes do estado que interferia no currículo, com materiais didáticos contradizendo a proposta do programa. Esta metodologia empregada nos livros e textos didáticos era inadequada a realidade dos alunos, pois os conteúdos se resumiam em imagens e textos mostrando a vivência urbana, deixando de lado toda uma história do povo, contrariando o sentido do movimento de levar para a população uma concepção humanística e reflexiva de uma problemática. Estes conteúdos complicavam a aprendizagem dos educandos, principalmente a rádiocartilha. Segundo o MEB, (1996. P. 29). (...) “as cartilhas existentes adotavam o mesmo tratamento utilizado para as crianças e projetava sistematicamente valores e imagens da vida
  • 11. 11 urbana”. Praticamente a forma didática empregada nos conteúdos do MEB estava totalmente seguindo modelos antigos de alfabetização, ou seja, seguindo os modelos educacionais das campanhas educativas que não tiveram significados nenhum na vida dos alfabetizandos. É a história inacabada, o novo que se fundamentava desdobrando antigas ideologias, impondo neste novo período princípios metodológicos que também reproduzem poder, mas todo processo educativo tem uma dimensão cultural instrumentalizadora que induzem para as necessidades das pessoas e da sociedade. Portanto, não existem programas, metodologias, conteúdos educacionais que sejam gratuitos, ou seja, existem suas intenções, seus objetivos propositados, levando a sociedade ao domínio, na qual se torna objeto nas mãos dos políticos. Concordando com Brandão, (1980, p. 7). “Os conteúdos e a metodologia da educação reproduzem e fazem circular símbolos e valores dirigidos á realização de objetos sociais não declarados”. Dentro de uma visão tradicional, a educação sempre foi imposta pelos grupos de controle social uma forma de domínio, usa das necessidades sociais seus degraus para manipular e assim terem sua hegemonia política, dentro deste contexto estes usou da educação popular que se expandia nas comunidades de difícil acesso, para levar seus conteúdos vazios indiferentes da verdadeira educação. A finalidade dessa lógica, promover democracia às massas populares e serem humildes são fatores intencionais, usufruir da situação que o país passava com baixos índices sociais e um número elevado de analfabetos, porém seus programas não tiveram êxitos, portanto o propósito é unir a um existente, na certeza que esses atingiriam as camadas populares e ocultamente seus interesses seriam alcançados nesta participação de caráter ilusório. Passando metodicamente conteúdos de concepção vaga, depositando apenas informes distorcidos da realidade anulando a participação do aluno, apresentando elementos sem coerência, cultuando palavras ocas sem a preocupação de resolver um problema imposto a partir de discussões criticas deixando de levar ao público alvo a reflexão de seu papel na sociedade como cidadão participativo na comunidade democrática. Na verdade a população necessitava de uma educação que denunciasse que verdadeiramente estivesse entrelaçada com as ações e experiências de democracia, porém por não terem sistematicamente um projeto próprio impõem, adestram e simplesmente não obtêm êxitos, com isso é afirmado pelo pensamento Freiriano;
  • 12. 12 A sua grande preocupação não é em verdade, ver criticamente o seu contexto. Integrar com ele e nele. Daí se superporem a ele com receitas tomadas de empréstimos. E como são receitas transplantadas que não nascem da análise crítica do próprio contexto, resultam inoperantes. Não frutificam. Deformam-se na retificação que lhes faz a realidade. (FREIRE, 2009, p.61). Contudo a democracia que consistia em um sonho mais do que uma realidade estava sendo gradualmente dissimulada, treinado o povo para a acomodação e a ociosidade, mas a esperança estava na luta popular despertada, porque era indispensável o desejo por uma verdadeira atuação de direitos, o país historicamente vivenciava uma inexperiência democrática, o qual afirma Freire, (2009). “Realmente o Brasil nasceu e cresceu dentro de condições negativas às experiências democráticas.” (p.74). Portanto, não existe democracia sem a participação popular e isto era a forma de atuação do movimento a concepção humanística fundamentar psicologicamente o cidadão para possíveis decisões. E assim libertando do estado de neutralidade social, no qual ocupa na comunidade, sobretudo da servidão entre o patrão e empregados, no qual cultuava o costume do favor, intensamente o poder condicionava às massas populares a lealdade e por conta disso necessitava levar até esses sujeitos liberdade, através da educação crítica, mas para isso era necessário que a sociedade estivesse aberta para o diálogo para a superação do domínio. A dialogação implica numa mentalidade que não floresce em áreas fechadas, autarquizadas. Estas, pelo contrario,constituem um clima ideal para o antidiálogo. Para a verticalidade das imposições. Para a ênfase e robustez dos senhores. Para o mandonismo. Para a lei dura feita pelo próprio dono das terras. (FREIRE, 2009, p.77) As intervenções de outras práticas pedagógicas descaracterizaram o programa, além de confundir a aprendizagem dos educandos como também não contribuindo para as mudanças que necessitava os indivíduos. Impondo metodologias que apenas domesticassem e transmitissem concepções falhas de outros sistemas, insistindo na tradicional educação baseada nas palavras sem sentido, enraizadas desde a nossa história educativa. Praticamente os conteúdos não ofertavam o conhecimento desejado pelo MEB, contudo estudavam orientações e manuais da Organização das nações Unidas para a educação, a ciência e cultura- UNESCO com exemplos de textos elaborados em outro países a cartilha “Venceremos” elaborada em 1961 para a campanha de alfabetização de Cuba e trazida para o Brasil pela UNE- União Nacional dos Estudantes que conheceram esta experiência (MEB, 2006).
  • 13. 13 As inquietações do movimento estavam em adquirir materiais didáticos que tivessem a realidade dos educandos, ensinasse não só a ler palavras, mas ler o mundo através das palavras, porque não traria significado às letras soltas sem que os educandos conheçam seu sentido e reflitam sobre ela. Pensando nestas reflexões populares e experiências de conteúdos didáticos de outro país, o programa de educação elaborou o livro de leitura para adultos do movimento popular de Recife em 1962, pela primeira vez foi reunidos textos de alfabetização e leitura, um conjunto de palavras e frases às quais se associava a uma mensagem política, os conteúdos sociais, as lições impulsionavam a reflexão estando ligada a realidade e linguagem, questionando a falha democracia impostas a população, deste modo: Não podíamos compreender, numa sociedade dinamicamente em fase de transição, uma educação que levasse o homem a posição quietistas ao invés daquela que levasse o homem a procura da verdade em comum, “ouvindo, perguntando, investigando”. Só podíamos compreender uma educação que fizesse do homem um ser cada vez mais consciente de sua transitividade, que deve ser usada tanto quanto possível criticamente, ou com acento cada vez maior de racionalidade. (FREIRE, 2009 p. 98). O saber mais importante nessa defesa educacional era o que se incorporava ao homem o saber democrático, no qual necessitava ser verbalizado, ou seja, transferido ao povo com as possibilidades de renúncia para a liberdade, com consciência participativa nas questões sociais, mas para estabelecer algo que contradissessem os interesses dos grupos de dominação era necessária uma educação corajosa que enfrentasse a elite dominante, pois estes viam na aprendizagem democrática ofertada a população uma forma de ameaça. Contradizendo a intervenção política, o MEB prepara um livro de leitura para os alunos do Nordeste, a proposta deveria conter mensagens que encaminhasse os alunos um encontro no processo de transformação política e que provocasse inquietações para as discussões e valores aos educandos para tomarem uma posição frente aos problemas sociais, luta por justiça, igualdade de direitos e deveres. Com esta concepção leva a aprendizagem a uma razão transcendental, portanto com as necessidades das escolas foi priorizada em livros de leitura e exercício para recém alfabetizados, trabalhando situações problemas que explorava e viabilizava simultaneamente a alfabetização com o título “viver é lutar”. Nele continha a didática que o movimento afirmava em seus documentos, defendendo que:
  • 14. 14 A educação visa, portanto, à ação. Ora, a ação humana tem três requisitos essenciais. Em primeiro lugar, o homem age diante de um fato que é real para ele; é, portanto, imprescindível que ele tome consciência da realidade sobre a qual vai agir. Ao lado disso, o homem assume uma atitude diante dessa realidade, o homem parte sempre dos meios que a cultura lhe oferece, sejam esses meios instrumentos físicos, verbais etc. A organização didática de uma ação educativa não pode, portanto, deixar de situar-se nesses três planos: conscientizar, motivar atitudes, proporcionar instrumentos de ação. (MEB, 2006, p.31). Com tantas mudanças no programa no ano de 1964, por conta do golpe militar, fica inviável a participação política, no entanto as classes dominantes agiam contra qualquer efeito democrático, as dificuldades sofridas pelo MEB eram pressões de todos os lados, estava proibida qualquer manifestação popular, reuniões a utilização do método mesmo não exercido com tanta intensidade que desejavam, contudo estava cortado o financiamento para execução do Movimento de educação. Este estava desprestigiado pelo governo federal estava proibida qualquer manifestação popular que ameaçasse a ideologia dominante. Durante este período de ditadura todo o trabalho do movimento de encontrar material didático que correspondesse aos seus objetivos, estava proibido até os programas de rádio escola, estas eram transmitidas ao vivo passando a ser gravada e ouvida por forças militares que posteriormente seriam divulgadas, a cartilha didática “viver é lutar” é apreendido, o governo permite apenas programas de alfabetização de adultos assistencialista e conservadora. Devido às pressões ocasionadas o movimento teve que mudar a sua metodologia, busca apoio com outras entidades, inclusive o intercâmbio com empresas internacionais, os estudos estavam referenciados pela lei 5.692/71 lei que ressaltava a reforma do ensino, baseados no parecer nº 699/72 que tratava do ensino supletivo (SANTOS. 1992), trazendo em suas explicações, uma metodologia que distinguia do ensino regular. Pois este é desenvolvido principalmente pelo ensino direto sem a presença e influência de ensino constante do professor. O acontecimento político contribuiu para que a educação de base perdesse progressivamente a sua característica, a prática questionada e a diferencial metodologia de educação popular, na qual era instrumento para os cidadãos encontrar sua liberdade social e por conta disso que calaram a voz do movimento, repreendendo a sua forma de educar, levar ao homem a reflexão de seu papel na sociedade civil. Defendendo o seu propósito de educação, que se encontrava enfraquecido, o MEB passa a desenvolver seu trabalho dentro de três funções básicas: suplência, suprimento e
  • 15. 15 qualificação, nas quais as atividades do movimento passam a ser planejadas dentro destes propósitos, para poder sustentar a sua atuação e manter a relação com as massas políticas. A participação do movimento de educação gradativamente entra em declínio, perdendo a sua característica questionadora de educação popular, enfraquecido por conta da ditadura e assim perder recursos para atuação, no entanto o governo só permitia os programas de alfabetização de jovens e adultos que fosse assistencialista com metodologias tradicionais e conservadores que não desobedecem a sua ordem e soberania. Portanto, por conta da nova ordem que o país vivenciava, o governo assume o controle da educação de jovens e adultos com o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL. A retomada a preocupação na alfabetização é obviamente para minimizar ou eliminar a participação do MEB na educação, sobretudo na educação crítica que mudava a consciência dos brasileiros. Durante os anos 70, tendo em visto sobrevivido financeiramente o movimento funciona como uma espécie de auxilio do Ministério da Educação e cultura nos programas de escolarização supletiva (SANTOS. 1992). Depois de sua redução tanto na quantidade de escolas, por conta que algumas foram fechadas, mas o movimento continuou atuando dando prioridade a regiões que necessitava de seu ensino, sobretudo conscientizando e libertando através da ação educativa. 4- Os Caminhos do MEB no município de Tianguá: as pistas diante dos dados coletados. 4.1- As escolhas de pesquisa. Os dados coletados e catalogados com análise ao longo do referencial teórico fundamentam-se com uma pesquisa de abordagem qualitativa, pois este tipo de conhecimento se adéqua ao estudo por ser um método flexível que focaliza a realidade, para Marconi, (2007). Esta abordagem analisa, interpreta e descreve profundamente as complexidades de comportamento humano, detalha e fornece análise sobre as investigações. Este tipo de abordagem científica contribuiu para os instrumentos de coleta de dados, os quais foram coletados na observação indireta através de análise em arquivos encontrados na cúria diocesana de Tianguá, as análises foram em roteiros de programas de rádio, relatórios anuais, cartilhas e estatutos.
  • 16. 16 O contexto da pesquisa foi elaborado com estudo bibliográfico-documental já catalogado teoricamente por outros pesquisadores, fazendo uma análise em documentos para confirmar as hipóteses encontradas através da história oral, que investiga os fatos e acontecimentos por meio da memória de pessoas. De acordo com Marconi, (2007, p.282). “A história oral preocupa-se com o que é importante e significativo para a compreensão de determinada sociedade.” O diagnóstico nestes documentos colaborou como forma de acesso indireto à história do Movimento de Educação de Base, contribuiu para fundamentar as informações catalogadas por meio de entrevistas semi-estruturadas a dois ex-coordenadores do movimento atuante no período de 1973 a 1997, estes representam os sujeitos da pesquisa que ajudaram nos conhecimentos para preencher lacunas que não são encontradas em documentos escritos. A análise oral favoreceu significados de valores críticos do passado, devido à temática ter deixado de existir fez-se necessário investigar e discutir as reflexões a partir da pesquisa oral. Assim foram reconstruído e elaborado historicamente novos conhecimentos significativos para o estudo discutido. 4.2- Os achados da pesquisa. Situado no interior do Nordeste brasileiro, localizado na serra da Ibiapaba do estado do Ceará, Tianguá começa a traçar seu caminho de evolução com a criação da Diocese em 1971, abrangendo 14 municípios, no entanto esse passo simbolizava uma relevância significativa na história social, educativa e política do município, contudo até esse mesmo ano este pertencia a Diocese de Sobral e necessitava de uma maior assistência. Com a implantação da Diocese na Ibiapaba, Tianguá passa a ser a sede episcopal e o responsável pelo núcleo educativo do MEB, o qual recebeu este movimento em 17 de setembro de1973, a convite do seu primeiro bispo Dom Francisco Timóteo Nemésio Pereira Cordeiro,3 com isso já se fundamentava uma conquista simbolizando possíveis mudanças na vida da população em especial dos camponeses. 3 De acordo com Abreu este contribuiu efetivamente para o desenvolvimento do município, este homem esteve no processo da evolução regional, foi perseguido por oligarquia política pelo seu caráter critico e revolucionário. (2009, p.51).
  • 17. 17 As mudanças estavam confiantes com a nova Diocese, não só na área religiosa, mas na educação assim como toda sociedade ansiavam pelas transformações, alguns pela evolução do mercado, outros pela liberdade da população das mãos da oligarquia política que necessitava ser rompida. Afirma Abreu, (2009, p.52). “foi a época de novos tempos, da nova ordem, dos novos temas, a ansiedade pelo crescimento, se congregava, se agigantavam, além de empreendimentos, progressos e status.” Este novo momento do município deixa a dúvida se realmente estava à oportunidade para as mudanças e o desenvolvimento a favor das camadas populares, ou um falso progresso doado intencionalmente para o fortalecimento das elites em adquirir novos parceiros e assim continuarem ditando ordem e poder. A certeza de uma sociedade arrastada pelo fracasso e dominada pela opressão é a esperança que ela se modifique, caminhe para a globalização, apresente um futuro equilibrado e ético, não baseado em falsas modernidades sufocando os sujeitos no salve-se quem puder isto imerso no idealismo do mercado e do lucro, gerando assim as diversas formas de violência que excluem e oprime, é necessário que a população busque novos valores confrontando justamente com o poder por soluções, reivindicando problemas para que a recompensa seja a liberdade, porque ela não é recebida gratuitamente é fruto da luta e persistência pela vida, conforme pode-se ler nas idéias de Paulo Freire: Não somos, estamos sendo. A liberdade não se recebe de presente, é bem que se enriquece na luta por ele, na busca permanente, na medida mesma em que não há vida sem presença, por mínima que seja, de liberdade. Mas apesar de a vida, em si, implica a liberdade, isto não significa de modo algum, que a tenhamos gratuitamente. (FREIRE, 2000, p.132). A liberdade que o ser humano alimentava e ninguém queria explicar era sufocada pelo contexto social vivenciado em plena ditadura militar, contudo isso também trazia implicações em Tianguá, assim como na maioria dos territórios brasileiros esquecidos pelo poder público e especialmente o Norte e Nordeste, os quais eram regiões subdesenvolvidas. Nestes acontecimentos o município do mesmo modo passava por esses abalos, encontrava um número elevado de analfabetos, como também não existia uma atenção ao ensino de adultos que penetrasse na base buscando a valorização dos indivíduos e levasse um novo olhar para a inclusão e comungasse com a democracia. Ofertas de trabalho não existiam, o qual o foco maior era empregos de doméstica e o trabalho com o arado, as perspectivas para o povo simples não existia, era acomodar, calar e obedecer ao poder que abusava da ingenuidade da população para permanecer no domínio político, além dos conflitos armados e morte que se assolavam no município, porém a cidade
  • 18. 18 estava já há vinte anos sobre o domínio de uma oligarquia que confrontava intensamente com quem ameaçasse a sua estadia de domínio sobre a população. Nesse momento e imediato Tianguá necessitava de elementos que levasse a conscientização e isso veio a ser modificado com a fundação do Movimento de Educação de Base no município, depois de terem dado os primeiros passos em 1961 e por conseqüência da situação política, acontece seu declínio, mas em algumas regiões ainda encontrava a sua participação com novas características, mas ligado ainda em fundamentos populares na realidade vivenciada pelos camponeses. Com o objetivo de fazer com que a diocese crescesse e possibilitasse alterações na vida do povo, o MEB-Tianguá vinha trazer os sujeitos a reflexão de vários questionamentos e apontar direções para que os indivíduos entendessem da situação ocorrente no país, já que como em todo o território brasileiro vivenciava um descaso político no contexto socioeconômico com exceção o sul, porém era nessa região que se concentrava burguesia que massificava e enumerava cada pessoa em eleitores, deste modo o movimento veio agir, conscientizar, unir a democracia a realidade por meio do diálogo, afirmado pelo entrevistado; “(...) O ensino do MEB era ligado ao despertar de consciência de muitos fatos que acontecia na época que Tianguá vivia a oligarquia política Nunes, portanto só há liberdade quando há mudança na mente (...) com o movimento foi criado um despertar para a consciência e a aprendizagem.” [Entrevistado 2]. Denunciando essa forma de atuação dos governantes com a educação, depois do movimento resumido a um programa assistencialista com o golpe militar nos seus primeiros anos, contudo essa foi a única instituição de educação popular que sobreviveu a este período ditador, mas pouco a pouco se fortalece mesmo depois de perseguições e seu foco centrar principalmente no serviço pastoral, ou seja, as ações eram voltadas para o caráter religioso. Abrindo espaços gradualmente para a denúncia, o movimento em Tianguá erguia-se com o objetivo de “Educar, evangelizar e promover” 4 despertando na população o interesse pela luta, por seus direitos sociais, contudo a cidade tornava influente, conduzia para um desenvolvimento promissor ligado a leitura da palavra a leitura da vida e do mundo. Assim afirma: Os primeiros anos são plenos de lutas e vitória: Órgãos de caráter regional se estalam aqui, somos a cabeça da região, - a capital! Cursos, seminários, 4 Lema do MEB em 1973. (ABREU, 2009, p.87).
  • 19. 19 assembléias, encontros são rotinas: fazem parte do cotidiano, era a marca dos novos tempos, da nova ordem, dos novos temas. (ABREU, 2009, p. 52). Portanto, a sociedade só se torna bem-sucedida, quando ela alimenta um desejo de mudança de um mundo idealizado onde gostariam de viver, sobretudo da participação coletiva, da negação da ordem que aliena, porém unidos fundamentados na educação e no conhecimento, concordando com Freire, (2000). Que a sociedade sozinha não muda e também a educação sozinha não transforma, necessita do saber e da denúncia para que o verdadeiro discurso progressista seja o anúncio de novos períodos. A idealização do novo chega com a participação do Movimento, este órgão educativo passa a atuar na educação solidária, pastoral estabelecendo uma educação assistencialista, fortalecendo seus objetivos com ações voltadas para a evangelização e a promoção das comunidades com implantações das Comunidades Eclesiais de Base- CEBs, vivenciando a influência da ação evangelizadora desenvolvendo suas atividades no tripé ver, julgar e agir. Entretanto, o MEB-Tianguá nesse período, ao mesmo tempo levava até as comunidades a formação, a participação coletiva, à reivindicação, a valorização dos sujeitos, sobretudo a leitura e da escrita a qual é a conquista da fala, das reivindicações a formação política e a crítica, além da propagação da evangelização, o fortalecimento e a criação das pastorais; da família, da juventude e da terra, além da conciliação com o Movimento dia do Senhor5 o qual era fortificado com a atuação religiosa e a participação do homem do campo na ação de conscientização. Penetrando na realidade do homem do campo o Movimento de Educação na sua fase de implantação, favoreceu na educação de base que correspondia até a 4ª série em um ensino continuado, convivendo paralelo com o MOBRAL conseguia gradualmente conquistar a sua educação libertadora fundamentada na ética. Despertando a principio psicologicamente os camponeses das comunidades, Bom Jesus, Olho D`Água, Pé do Morro, Pindoguaba, São José do Carasco e Tucuns. Estas comunidades deram abertura ao diálogo, a inovação o diferente chegava para despertá-las da mentalidade subordinada à opressão, porém estas já tinham uma tendência à ação pastoral na comunidade, deste modo foi possível a penetração do projeto de educação na sua formação, como também dá inicio ao seu desenvolvimento, assim é relatado: 5 O Movimento do Dia do Senhor era um movimento específico de Sobral criado pelo padre Albani Linhares em 1965, surgido junto com o MEB com as mesmas orientações político-pedagógica, este não tinha função de alfabetizar, mas motivar a celebração dominical, evangelizar e conscientizar. Vale ressaltar que Tianguá pertencia à extensão do MEB-Sobral, porém esse movimento ainda era influência da sua existência nos primeiros tempos. (BEZERRA, 2006).
  • 20. 20 “(...) Com a criação da diocese tudo era novo e o novo é sempre bem aceito pelas pessoas que não tem assim uma formação criteriosa, a gente vive de modismo, então o MEB começou esse movimento chegando nas comunidades, fazendo reunião e foi pouco a pouco congregando as pessoas que já tinha tendência já a vida comunitária, então isso foi muito importante, (...) o povo é quem aceita ou não, onde esse movimento foi aceito teve um desenvolvimento muito significativo principalmente de consciência política, onde esse movimento foi negligenciado pela própria população, por isso ai não temos esses resultados.” [Entrevistado 2]. As comunidades que receberam o Movimento de Educação estavam lançadas a oportunidade de mudar, porém teve comunidades que não aceitara a metodologia do movimento, assim como os políticos não aceitavam as idéias de liberdade. “Onde você tá e você falam de liberdade ai as coisas desandam, porque as pessoas querem o monopólio das massas como o MEB era um movimento de libertação era de certa forma uma pedra no caminho dos políticos das prefeituras”. [Entrevistado 2]. Contudo, não teve uma repressão frontal, mas discordavam da forma de atuação do projeto. A conquista da autonomia e na valorização do saber popular, neste contexto ficava limitada para quem recebia o movimento, o processo da escrita iniciava com a evidência das reivindicações que geravam mudanças, no entanto o povo nunca escreve senão para viver. A importância apresentada a essas comunidades se deu por conta de serem localizadas em regiões semiáridas e de difícil acesso, além por se manterem subordinadas aos grupos de dominação política. Fazia necessária uma educação que verbalizasse as necessidades do povo e que também fosse corajosa, contribuindo no despertar da consciência crítica, levasse os indivíduos à indignação do comportamento do poder e assumissem uma nova postura de reivindicação e liberdade, portanto o pensamento freiriano defende: Era ir ao encontro desse povo emerso nos centros urbanos e emergido já nos rurais e ajudá-lo a inserir-se no processo, criticamente. É esta passagem, absolutamente indispensável a humanização do homem brasileiro, não poderia ser feita nem pelo engodo, nem pelo medo, nem pela força. Mas, por uma educação que, por ser corajosa, propondo ao povo a reflexão sobre seu tempo, sobre seu papel no novo clima cultural da época de transição. (FREIRE, 2009, p.67). O MEB foi conquistando o povo, influenciando a educação política e a educação letrada, estabelecendo o livre-arbítrio aos camponeses, iniciava um momento de mudança, a acomodação e a ingenuidade davam lugar a denúncia e a conscientização, devido à educação que atingia as camadas populares, pois:
  • 21. 21 (...) “O MEB teve influência, primeira influência da consciência, um município só é conscientemente educado quando seu povo discute e pode optar sobre o distino do município, então o MEB teve essa formação básica das comunidades e pouco a pouco foi despertando o povo para a consciência política.” [Entrevistado 2]. Várias pessoas conseguiram se alfabetizar, ao mesmo tempo em que começavam a ler a escrever, estabelecia uma nova consciência política, quebrando conceitos que excluíam homens e mulheres, porém por serem pessoas do campo já despertava um olhar de discriminação. Prevalecia na concepção da burguesia que era nas comunidades rurais, onde encontrava o depósito das empregadas domésticas e isso também refletia na mentalidade dos camponeses, concordando e correspondendo com o estado de inferioridade que os colocavam. Portanto, os sujeitos deixavam manipular-se pelas necessidades econômicas e principalmente pela falta de formação educativa, criteriosa que os levassem a inclusão e despertasse para o anseio do desenvolvimento individual e coletivo. Assim sendo, o movimento buscou nos três primeiros anos de fundação em Tianguá a implantação e o desempenho junto às pastorais, depois foi se capacitando dentro dos planos do projeto e a exigência de relatórios trienais para a diretória de assuntos internacionais, o qual acompanhava, controlava as atividades pelo sistema de educação. (SANTOS, 1992). Saindo do campo religioso para fundamentar principalmente a educação, mesmo que este foco tivesse se tornado mínimo. O MEB passa a agir na conquista da leitura e da escrita nas diversas comunidades, sobre isso o entrevistado 1 relata “(...)Tivemos época que tinha 190 escolas dentro da Diocese, então um ano às vezes estava em uma região às vezes estava em outra, aquela turma ia ficando a gente ia pra outra (...) agora Tianguá, o foco era maior.” Contudo, estava possibilitando transformar mentalidade na população atendida pelo projeto, levando os a refletirem sobre sua participação na sociedade para que estes pudessem aderir o processo de luta, agindo contra as arbitrariedades e alienação dos grupos de dominação política, favorecendo melhoria, estimulando o processo de lutar por seus direitos sociais. Concordando com Freire, (2000): “Não importa em que sociedade estejamos e a que sociedade pertençamos, urge lutar com esperança e denodo.” (p.134). É discordando dos elementos de exclusão que se inicia a ação ousada de batalha para a acessão das classes populares. O movimento em Tianguá não trabalhou com o rádio-aula como foi nos seus primeiros anos, mas aprimorou o projeto com programas educativo através da emissora de rádio (AM 1540 khtz) “a Rádio Santana”, fundada em 1980 com a boa música e programas
  • 22. 22 dirigidos pelo MEB, voltados para a educação política, na área sindical, programas religioso, voltado para as pastorais, “(...) todos os dias tinha um agente do MEB com um tema lá, então cada um tinha um tema pra desenvolver.” [Entrevistado 1]. Os programas de rádio eram totalmente voluntários. Contudo a educação era frequente na vida da população, não só de quem era educando do movimento, mas a todos que se deixava informa se pelo entretenimento e a cultura. Neste processo, portanto de conscientização e iniciativa que a população das comunidades atendidas se mobilizava junto à ação educativa do movimento de educação opondo se a status e autoridades locais, os quais encontravam sobre seu domínio grandes quantidades de terra, o trabalhador rural mantinha servindo ao patrão, para que estes concedessem terras para morra e plantar como também seus direitos de trabalhador rural não era concedido, porém “A questão sindical aqui antes era voltada para o patrão não era muito do trabalhador.” [Entrevistado 1] A concentração do poder estava principalmente na administração das coisas públicas, na oligarquia, na concentração de latifúndios e no domínio das massas populares. Com a educação oferecida pelo MEB, trabalhando na valorização da cultura, refletindo a sociedade em geral e a administração local, dentro da temática exposta, construindo mentalidades, favorecendo aos moradores das comunidades a conquista da fala com a escrita, que torna fluentemente na consciência do povo que aceitaram a metodologia do projeto. Portanto, com esse método da pedagogia baseada no saber que cada um dos educandos adquiria na sua vivência e na sua relação com o mundo a atuação de luta, porém estes grupos populares do município, junto à ação do movimento trabalhando as questões agrárias, o valor da terra, as diferenças de gênero, valorizando os direitos da mulher, despertando dentro de cada temática a exigência por políticas públicas. O movimento de educação através da metodologia do despertar de consciência possibilitou aos alunos atendidos que estes realizassem ações de mobilização para melhoria de suas comunidades e como forma de reivindicar a existência de seus direitos. Com a análise das pesquisas em arquivos e através dos dados coletados com as entrevistas, foi compreendido que o programa de educação possibilitou:  O rompimento da oligarquia política, com a criação do partido dos trabalhadores- P T no município, dando uma visão política de esquerda a população rural.  A candidatura de uma mulher para prefeita, valorizando a mulher como também capaz de assumir posições na sociedade.
  • 23. 23  Eleição de um sindicalista para a câmara municipal.  A presidência sindical de um trabalhador rural com eleições diretas, depois de muito tempo sobre o domínio de fazendeiros, o sindicato passa de fato a ser do trabalhador rural.  Terras para morar e plantar, assentando 21 famílias de várias comunidades atendidas o assentamento Valparaíso.  A elaboração de Projetos na área dos assentados, o MEB atuava como assessor.  Uma educação de base diferenciada que não instruiu, mas desenvolveu a fala e a crítica, tornou pessoas politizadas ao desenvolver a leitura e a escrita.  A criação e o fortalecimento de pastorais, como pastoral da terra, pastoral da mulher, pastoral da criança e pastoral social. Tornando os sujeitos mais humanos e éticos.  A consciência nos educandos para a educação continuada, portanto teve como produto final dessa educação uma secretária da saúde e um secretário da agricultura. O MEB em Tianguá alfabetizou jovens e adultos despertou consciência, capacitou os alfabetizandos a ler e escrever, bem como resolver operações matemática numa perspectiva crítica transformadora, teve uma participação significativa na individualidade dos alunos, na própria comunidade e na história educativa nos diversos sentidos educacionais no município conquistados pelos sujeitos. Contudo, hoje é válido afirmar que: “(...) O que tá faltando ainda no nosso país é a consciência cidadã do povo, porque tudo ainda anda a reboque é porque as pessoas não têm consciência da importância, nem do conhecimento e nem da organização popular e da própria força coletiva e isso o MEB trabalhou, o MEB construiu mentalidades e o MEB mudou comportamento não tem uma pessoa que não tenha passado pelo MEB que hoje não tenha uma visão diferente de mudar e que não tente mudar a sua comunidade como um todo,... mesmo aqueles que tiveram assim uma certa imobilidade para aceitar as idéias do MEB... nunca será de mais no nosso pais, ele será sempre necessário nessa linha triples de educação evangelizar, educar e ajudar na formação comunitária de novas idéias.” [Entrevistado 2]. Portanto, é correto afirmar que a educação vai mais além da capacidade de aprender ler e escrever, mas a de captar as informações conscientemente e praticá-las. Essa relevância implantada pelo projeto de educação foi possível prevalecer nos tempos atuais e encontrar elementos dessa educação de base libertadora que ainda são atuantes, buscando superar outros fatores, porque hoje a realidade não é acabar com o analfabetismo mesmo que ainda exista, mas preencher vazios sociais, diferenças deixadas pela falta de assistência que antes não era ofertado à população.
  • 24. 24 Encontra-se como forma de continuidade da metodologia do MEB em Tianguá; movimento de mulheres, promovidas pelo sindicato, as pastorais da terra, da juventude, da família pastoral social trabalhando o religioso vinculado no social. “O MEB de Tianguá contribuiu com a criação e a animação de comunidades de base, de associações comunitárias e de várias organizações populares”. (SANTOS, 1992). Esse projeto foi fundamental para as comunidades, pois estas tornaram conscientemente educadas na forma mais abrangente da área do conhecimento. O Movimento de Educação de Base deu o primeiro passo para as questões sindicais, na formação humana, na conquista da leitura e escrita que se dava na expressão da fala de reivindicações, assim afirma o entrevistado. “(...) Este movimento foi muito significativo nesse despertar de consciência crítica das pessoas... ficou a semente então o MEB não exista talvez com esse nome aqui, mas talvez exista a pastoral social... o que eles focam hoje é de forma diferenciada porque o tempo mudou a realidade é outra, mas não deixam de estarem preocupados com o social com a consciência critica das pessoas.” [Entrevistado 1]. Com este processo de superação do desequilíbrio entre as classes sociais, entre o poder e a fragilidade, foi possível estabelecer as comunidades que aceitaram a proposta de educação uma mentalidade politizada e hoje são desenvolvidas e assistidas pelas políticas públicas e construíram uma identidade cultural. “(...) As comunidades que aceitaram esse desafio, que lutaram elas vivem muito melhor a partir daí, não adianta libertação sem a consciência e com o MEB era um trabalho de conscientização, aqueles que se deixaram conduzir pelas orientações do MEB hoje têm uma vida diferente.” [Entrevistado 2]. A educação teve uma tarefa importante para a compreensão política e social dos educandos, afirma Freire que “A consciência e a alfabetização jamais se separam.” (2010, p.14). Sobretudo a educação não tem um ponto final, ela é continuada e foi dessa diferença que alcançou resultados significativos na história educativa de Tianguá. 5- Desafios conclusivos. Ao deparar com o estudo coletado foi possível perceber a contribuição deixada pelo MEB e como ele possibilitou a inclusão, sobretudo na educação, valorizou cultura e a identidade de um povo, despertou para a consciência critica as pessoas no que se refere ao processo eleitor, favoreceu para o surgimento de outros movimentos a partir da educação, as
  • 25. 25 comunidades hoje são atendidas pelas políticas públicas, sabem reivindicar seus direitos devido a uma consciência crítica. A distância social ainda existe, as questões que traz violência são notáveis contra o ser humano, mas o papel da educação popular não finalizou e não se limita na simples técnica de aprender a ler e escrever, mas na vivência e superação destas distâncias. Portanto é necessário que hoje se dê procedimento a está educação que reivindica, visto que não é possível educar sem saber o sentido real das ações imposta pelos projetos, se a educação é a expressão da democracia, porém é fundamental que ela seja discutida e confrontada com a realidade de cada educando. A sociedade precisa de uma educação que expresse liberdade e esteja aberta ao diálogo, estabeleça uma abrangência dos fatos, esteja ligada a realidade social dos indivíduos, porém na atualidade temos uma educação limitada em simples técnicas e adestramentos, sintetizados em disciplinas e métodos tradicionais que condicionam os sujeitos em pessoas treinadas, manipuladas e desta forma jamais teremos uma vivência concreta de democracia em nosso país, porém a superação do analfabetismo ainda hoje é um desafio brasileiro, sendo absoluta na zona rural, segundo o IBGE, portanto cabe uma avaliação de como está utilizado os métodos educacionais para adultos para a superação desta instância social. A educação exige uma fundamentação, um ensino dinâmico, um currículo que seja interdisciplinar que conviva com a prática de cada educando. Quando se pensa em educação corresponde apenas na aprendizagem de elementos já escritos e acontecimentos históricos vazios, fantasiosos que não traz nenhuma influência na vida dos sujeitos sociais, portanto é preciso que o sistema de organização do país repense de que forma é transmitido o conhecimento e isso seja exigido pelo cidadão, uma educação que vai além do ato de aprender a ler e escrever, mas abrangente ao poder da crítica, reivindicações sociais e autonomia, sobretudo liberdade de pensar e agir sobre o quer oprime e aliena. Contudo, essa educação é um desejo progressista, porque seria contradição os dominadores ofertando consciência à população, porém eles temem a crítica e a reivindicação estes querem a manipulação das massas populares. Os tempos mudaram com novas realidades e diferenças sociais é o período da tecnologia e da informação que veio desdobrada com antigas formas de dominação disfarçadas de novas, expressando poder e manipulação sobre os indivíduos. De maneira geral o domínio e a manipulação sobre as pessoas estão presente nos diversos sistemas sociais, a mesma educação que hoje educa pode deseducar as instituições
  • 26. 26 escola, trabalho, igreja e os meios de comunicação são aparelhos que expressão ideologias condicionando os sujeitos a seguir seus ideais. Contudo necessitamos pensar em novas medidas educacionais que não gerem exclusão e a manipulação de massa, mas uma educação popular, porque esta partilha da cidadania formando sujeitos e mundos é este o verdadeiro sentido da educação, a exemplo das ações do MEB.
  • 27. 27 Referencias ABREU, Valdecy Santo de. A Tianguá um Canto de amor, doação e alerta e saudade. Sobral: Global Gráfica. 2009. AIDIL, Brites Guimarães Fonseca; CRUZ, Adriano Charles da silva. Uma onda de Educação: O rádio no MEB. In. Anais... Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 9. Salvador. p.1-10. Disponível em: < WWW. Intercon. Org.br/ papers/ regionais>. Acesso em: ago. 2010. ARROYO, Miguel G. Educação e Exclusão da cidadania. Educação e Cidadania: quem educa o cidadão? 11. Ed: São Paulo: Cortez, 2003. p.31-79. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Da educação fundamental ao fundamental da educação. Concepções e Experiências de Educação Popular. Caderno do CEDES. São Paulo: Cortez, 1980. BEZERRA, Viviane Prado. Cultura (RE) colhidas: MEB e o dia do Senhor representações Sociais Populares na Diocese de Sobral (1960-1980). Disponível em: < WWW: Ce, anpuh. Org/downd/anais-2006 >. Acesso em: 20 out. 2010. CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: leitura crítico-compreensivo: artigo a artigo. 16. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. DESLANDES, Suely Ferreira. Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 7ed. Petropolis. RJ: Vozes. 1994. FÁVERO, Osmar. Movimento de Educação de Base primeiros tempos 1961-1960. In: Anais... Encontro Luso- Brasileiro de História da Educação. 5. Évora, Portugal: 2004. p.1-15. Disponível em: < WWW. Forumeja. Org./ files/ meb- história>. Acesso em: 26 ago. 2010. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. São Paulo: ed. Paz e terra. 2009. ________. Denúncia, anúncio, profecia e sonho Pedagogia da Indignação: In: ______. Cartas Pedagógicas e Outros Escritos. São Paulo: UNESP, 2000.p.117-134. GOHN, Maria da Glória. As Principais Formas de Organização Popular no Brasil.______. Movimentos Sociais e Educação. 4. ed, São Paulo: Cortez, 2001. (Coleção Questões da Nossa Época; v.5). P. 42-55. HAGUETTE, Teresa Maria Frota. Metodologias qualitativas na sociologia. 11. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. LAKATOA, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 2007. MEB. MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE. Conjunto Didático Saber, viver e lutar, inspirado no livro Saber para viver. rev. Brasília: 2006.
  • 28. 28 MEB. MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE. Estatuto, (1994). 34. Aniversário do MEB. Brasília: Arte e Movimento, 1995. REIS, José Orlando Vieira. Alfabetização de Jovens e Adultos: Sistematização regional MEB/ MAPA (Maranhão e Pará) In: REIS, José Orlando Vieira, LIMA, Rosilene M.(Orgs.). Brasília-DF: Arte e Movimento, 1995. RODRIGUES, Rui Martinho. Pesquisa acadêmica: como facilitar o processo de preparação de sua etapa. São Paulo: Atlas, 2007. SANTOS, Antonio Raimundo dos. Metodologia científica, a construção do conhecimento. 7. ed. rer. Conforme NBR 14724:2005. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007. SANTOS, Raimundo Clarindo dos. Movimento de Educação de Base departamento de Tianguá-Ce Relatório anual, 1992. [Texto mimeografado]. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho científico. 23. ed. rev. e atual. São Paulo: Cortez, 2007. SOUZA, Iracema Maria Alves de. Movimento de Educação de Base-MEB. Alfabetização de Jovens e Adultos. Anotações sobre cartilha, tema, gerador, leitura e escrita. Tianguá, CE, 1997. [Texto mimeografado].