Este documento discute a música de intervenção política associada à Revolução de 1974 em Portugal, conhecida como "Sons de Abril". Aborda o contexto sócio-cultural deste fenômeno musical, definindo conceitos como "música popular portuguesa" e "canção de intervenção" e dividindo a história dos Sons de Abril em três períodos: antes da Revolução, o ano da Revolução e o período pós-Revolução.
Este documento apresenta uma coleção de partituras musicais brasileiras disponibilizadas gratuitamente online pela Fundação Nacional de Artes. Inclui músicas populares, de concerto e corais de compositores brasileiros históricos e contemporâneos, além de um volume dedicado à sanfona brasileira.
Repertório Palácio Foz, Sala dos Espelhos, 14 de outubro de 2013, às 18h00.Marcia Kaiser
O trio brasileiro de músicos: a soprano Marcia Kaiser, o barítono Paulo Barato e o pianista Fabio Cardoso, mostram uma parte do cancioneiro erudito brasileiro, em concerto no Palácio Foz, na Sala dos Espelhos, dia 14 de outubro, às 18h00.
O trio da cidade de Curitiba, sul do Brasil, se apresenta já há algum tempo, e durante sua caminhada, despertou a paixão pela música brasileira. O repertório mostra a diversidade étnica e cultural existente na identidade brasileira: Desde temas líricos, indígenas, afro-brasileiros e tradição oral.
O pianista Fábio Cardoso é bacharel em piano mas, desde a universidade interessa-se pela improvisação característica da música popular e do jazz. Já acompanhou alguns famosos cantores e compositores da Música Popular Brasileira: Dominguinhos, Paulinho da Viola, Lenine, Ivan Lins entre outros. É o pianista da Orquestra de Cordas e do Vocal Brasileirão, grupos curitibanos que difundem a MPB.
Paulo Barato, desenvolve repertório lírico e a música de câmara brasileira. Escolheu dentre as peças a serem apresentadas pelo sincretismo religioso, intrínseco à cultura brasileira.
Marcia Kaiser, mestranda em música pela UFPR, Universidade Federal do Paraná, representará as famosas composições escritas para soprano do grande compositor Heitor Villa-Lobos.
A MPB é um gênero musical brasileiro que surgiu da fusão da Bossa Nova com o folclore dos Centros Populares de Cultura da UNE, tornando-se uma frente cultural contra o regime militar. Ele abrange diversos ritmos e foi influenciado por artistas importantes.
- O documento discute o processo de modificação do significado da sigla MPB ao longo do tempo, desde sua origem como música politicamente engajada até sua atual aceitação de influências estrangeiras.
- Aborda a relação da MPB com a indústria cultural, desde uma postura inicial de aversão até um casamento conturbado, e sua despolitização gradual.
- Também analisa a percepção do público sobre o que define a MPB, se existe uma "Nova MPB", e a influência de figuras com autoridade no meio musical.
Durante os anos 1950 no Brasil, um grupo de jovens músicos do Rio de Janeiro procurava por algo novo e inovador para fugir do estilo operístico que dominava a música brasileira na época. Eles criaram o estilo da bossa nova, misturando samba com jazz. A bossa nova se tornou popular internacionalmente nos anos 1960 e ajudou a projetar a cultura brasileira para o mundo, mas também se tornou um símbolo de resistência política contra a ditadura militar brasileira.
O documento descreve a história do choro no Brasil e em Belo Horizonte. Apresenta os principais compositores de choro da cidade e cataloga suas obras, com detalhes como data, compositor, dedicatória e gênero. O texto busca documentar a trajetória do choro em Belo Horizonte desde sua chegada do Rio de Janeiro, passando pelos programas de rádio até os dias atuais, com foco nos compositores que atuaram em grupos locais e dedicaram composições ao estilo.
Este documento apresenta um prefácio e uma introdução para um livro sobre a música brasileira entre 1912 e 2012. O prefácio discute se a música erudita está morrendo e conclui que ela se transforma junto com a sociedade. A introdução explica a abordagem do livro, que é dividido por gêneros musicais em vez de cronologicamente, com foco na produção recente.
Este documento apresenta uma coleção de partituras musicais brasileiras disponibilizadas gratuitamente online pela Fundação Nacional de Artes. Inclui músicas populares, de concerto e corais de compositores brasileiros históricos e contemporâneos, além de um volume dedicado à sanfona brasileira.
Repertório Palácio Foz, Sala dos Espelhos, 14 de outubro de 2013, às 18h00.Marcia Kaiser
O trio brasileiro de músicos: a soprano Marcia Kaiser, o barítono Paulo Barato e o pianista Fabio Cardoso, mostram uma parte do cancioneiro erudito brasileiro, em concerto no Palácio Foz, na Sala dos Espelhos, dia 14 de outubro, às 18h00.
O trio da cidade de Curitiba, sul do Brasil, se apresenta já há algum tempo, e durante sua caminhada, despertou a paixão pela música brasileira. O repertório mostra a diversidade étnica e cultural existente na identidade brasileira: Desde temas líricos, indígenas, afro-brasileiros e tradição oral.
O pianista Fábio Cardoso é bacharel em piano mas, desde a universidade interessa-se pela improvisação característica da música popular e do jazz. Já acompanhou alguns famosos cantores e compositores da Música Popular Brasileira: Dominguinhos, Paulinho da Viola, Lenine, Ivan Lins entre outros. É o pianista da Orquestra de Cordas e do Vocal Brasileirão, grupos curitibanos que difundem a MPB.
Paulo Barato, desenvolve repertório lírico e a música de câmara brasileira. Escolheu dentre as peças a serem apresentadas pelo sincretismo religioso, intrínseco à cultura brasileira.
Marcia Kaiser, mestranda em música pela UFPR, Universidade Federal do Paraná, representará as famosas composições escritas para soprano do grande compositor Heitor Villa-Lobos.
A MPB é um gênero musical brasileiro que surgiu da fusão da Bossa Nova com o folclore dos Centros Populares de Cultura da UNE, tornando-se uma frente cultural contra o regime militar. Ele abrange diversos ritmos e foi influenciado por artistas importantes.
- O documento discute o processo de modificação do significado da sigla MPB ao longo do tempo, desde sua origem como música politicamente engajada até sua atual aceitação de influências estrangeiras.
- Aborda a relação da MPB com a indústria cultural, desde uma postura inicial de aversão até um casamento conturbado, e sua despolitização gradual.
- Também analisa a percepção do público sobre o que define a MPB, se existe uma "Nova MPB", e a influência de figuras com autoridade no meio musical.
Durante os anos 1950 no Brasil, um grupo de jovens músicos do Rio de Janeiro procurava por algo novo e inovador para fugir do estilo operístico que dominava a música brasileira na época. Eles criaram o estilo da bossa nova, misturando samba com jazz. A bossa nova se tornou popular internacionalmente nos anos 1960 e ajudou a projetar a cultura brasileira para o mundo, mas também se tornou um símbolo de resistência política contra a ditadura militar brasileira.
O documento descreve a história do choro no Brasil e em Belo Horizonte. Apresenta os principais compositores de choro da cidade e cataloga suas obras, com detalhes como data, compositor, dedicatória e gênero. O texto busca documentar a trajetória do choro em Belo Horizonte desde sua chegada do Rio de Janeiro, passando pelos programas de rádio até os dias atuais, com foco nos compositores que atuaram em grupos locais e dedicaram composições ao estilo.
Este documento apresenta um prefácio e uma introdução para um livro sobre a música brasileira entre 1912 e 2012. O prefácio discute se a música erudita está morrendo e conclui que ela se transforma junto com a sociedade. A introdução explica a abordagem do livro, que é dividido por gêneros musicais em vez de cronologicamente, com foco na produção recente.
O documento discute a MPB, incluindo suas origens na música colonial brasileira e na bossa nova, sua história marcada por festivais e artistas como Vinícius de Moraes, Chico Buarque e Elis Regina, e alguns de seus principais cantores como Caetano Veloso, Elba Ramalho e Seu Jorge.
O documento discute a Música Popular Brasileira (MPB), um gênero musical que surgiu em 1966 misturando bossa nova com outros ritmos como rock e samba. A MPB abrange vários ritmos brasileiros e foi divulgada pela televisão, apresentando músicos da bossa nova. Inicialmente nacionalista, hoje a MPB apresenta elementos de diversas origens e utiliza instrumentos como violão, atabaque e pandeiro.
Juventude, música e protesto no Brasil ou Bossa Nova, Música de Protesto e Tr...Gerson Francisco de Moraes
O documento discute três estilos musicais brasileiros: Bossa Nova, Música de Protesto e Tropicalismo. A Bossa Nova surgiu na década de 1950 como uma fusão de jazz e samba e alcançou sucesso internacional, mas foi criticada por afastar-se das raízes musicais brasileiras. Na década de 1960, durante a ditadura militar, artistas como Chico Buarque e Geraldo Vandré passaram a cantar músicas de protesto. No final da década, Caetano Veloso e Gilberto Gil inauguraram
Seminário sobre a historia da música brasileiraJaiza Nobre
O documento descreve os principais acontecimentos e movimentos musicais da década de 1960 no Brasil. A década foi marcada pela ditadura militar, mas também pelo surgimento de estilos musicais como a Bossa Nova, Jovem Guarda e Tropicália, que criticavam o governo de forma sutil.
Fernando Lopes-Graça foi um compositor e musicólogo português nascido em 1906. Estudou música em Tomar e Lisboa e frequentou a Universidade de Lisboa e Coimbra. Compôs várias obras influenciadas pelo modernismo e nacionalismo, utilizando canções populares portuguesas. Foi professor, crítico musical e participou ativamente na política portuguesa após a II Guerra Mundial como membro do PCP. Sua obra inclui canções, música coral e orquestral.
O documento descreve a história e os principais gêneros musicais de Portugal, incluindo o fado, a música folclórica, o rock, a música latina, a romântica, a pop, a eletrônica, o reggae, o hip-hop e o jazz. A música portuguesa foi influenciada por povos como os romanos e árabes ao longo do tempo.
A Bossa Nova revolucionou a música brasileira nos anos 1950 influenciando Caetano Veloso e Gilberto Gil. O Tropicalismo emergiu em 1967 como um movimento de ruptura cultural que misturou gêneros musicais e desafiou normas sociais, sendo reprimido pelo regime militar em 1968. Os Novos Baianos surgiram na década de 1970 influenciados pelo Tropicalismo e lançaram trabalhos importantes para a MPB.
Heitor Villa-Lobos foi um compositor brasileiro nascido em 1887 no Rio de Janeiro. Ele é considerado o principal responsável por descobrir uma linguagem musical distintamente brasileira, incorporando elementos das culturas regionais e música indígena e popular em suas obras. Villa-Lobos passou sua vida estudando e absorvendo a diversidade musical do Brasil.
O documento descreve vários estilos musicais populares em Portugal, incluindo pop, rock, house e heavy metal. Detalha as origens e características de cada gênero, bem como algumas das bandas portuguesas mais conhecidas como Xutos e Pontapés, UHF e Slipknot.
O documento discute a origem, história, características e nova geração da Música Popular Brasileira (MPB). A MPB surgiu em 1966 como uma fusão de Bossa Nova e música folclórica brasileira e se tornou um movimento cultural contra o regime militar. Atualmente, uma nova geração de artistas como Tiago Iorc, Maria Gadú, Tiê e Filipe Catto está trazendo novas influências para o gênero.
O documento resume a história dos estilos musicais brasileiros desde a música indígena e africana trazidas pelos escravos até os dias atuais, mencionando estilos como samba, bossa nova, axé e outros, e como se desenvolveram ao longo dos séculos a partir de influências de diferentes culturas.
Rock and roll emergiu nos EUA na década de 1950 e se espalhou pelo mundo, evoluindo para diversos subgêneros. Instrumentos comuns são bateria, guitarra elétrica e baixo. Hip hop surgiu nos EUA em 1960 como reação de classes desfavorecidas e é composto por rap, DJs, break dance e grafite. Punk rock surgiu na Inglaterra e EUA em 1970 com bandas como os Sex Pistols e Ramones.
O rock surgiu nos EUA nos anos 1940 e 1950 a partir do blues, country e rhythm and blues. Elvis Presley foi um dos maiores ícones do rock, conhecido como o Rei do Rock. Os Beatles foram outra lendária banda de rock. Nos anos 1960 e 1970, o rock desenvolveu diversos subgêneros como o folk rock, blues-rock e jazz-rock.
O documento descreve a história da música como uma disciplina acadêmica que estuda as origens e evolução da música ao longo do tempo e entre diferentes culturas. Ela analisa a música em termos históricos e musicais. A história da música abrange tanto a música erudita quanto estilos não-europeus e pré-históricos.
1) A MPB surgiu no período colonial através da mistura de estilos musicais indígenas, africanos e europeus.
2) No século XIX surgiu o chorinho, misturando danças e músicas populares.
3) Grandes nomes como Noel Rosa e Carmen Miranda marcaram a história da MPB no século XX, assim como os movimentos tropicália e da nova MPB nas décadas de 1960 e 1970.
O documento discute a história da música como o estudo da origem e evolução da música ao longo do tempo, inserido na história da arte e evolução cultural. Também define a história da música como uma divisão da musicologia e teoria musical, cujo estudo é realizado por historiadores e musicólogos. Explica que a história da música inclui não apenas a música erudita européia, mas também as músicas de outras culturas e regiões.
O documento discute a história da música ao longo dos séculos, desde a Idade Média até os tempos modernos, mencionando estilos, compositores e instrumentos musicais característicos de cada período, como canto gregoriano, viola caipira, piano forte, blues e rock and roll. Também fornece atividades para os alunos.
O documento discute gêneros musicais e define-os como categorias que compartilham elementos como instrumentação, estrutura e contexto. Em seguida, resume quatro estilos musicais - jazz, soul, pop e gospel - descrevendo suas origens e características principais.
MOVIMENTO TROPICALISTA slide. Thiago Monteiro.pptxmonikinhaveras13
O Tropicalismo foi um movimento cultural e artístico de vanguarda que ocorreu no Brasil no final dos anos 1960, caracterizado por uma mistura de estilos como o samba, o pop, o rock e a psicodelia, buscando modernizar a cultura brasileira e se afastar do intelectualismo da Bossa Nova.
O movimento Tropicalismo surgiu na década de 1960 liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, misturando estilos musicais como rock e baião. Embora tenha durado apenas um ano, revolucionou a cultura brasileira ao incorporar elementos estrangeiros e populares. No entanto, sofreu repressão do governo militar devido às letras críticas, culminando na prisão de seus líderes.
O documento discute a MPB, incluindo suas origens na música colonial brasileira e na bossa nova, sua história marcada por festivais e artistas como Vinícius de Moraes, Chico Buarque e Elis Regina, e alguns de seus principais cantores como Caetano Veloso, Elba Ramalho e Seu Jorge.
O documento discute a Música Popular Brasileira (MPB), um gênero musical que surgiu em 1966 misturando bossa nova com outros ritmos como rock e samba. A MPB abrange vários ritmos brasileiros e foi divulgada pela televisão, apresentando músicos da bossa nova. Inicialmente nacionalista, hoje a MPB apresenta elementos de diversas origens e utiliza instrumentos como violão, atabaque e pandeiro.
Juventude, música e protesto no Brasil ou Bossa Nova, Música de Protesto e Tr...Gerson Francisco de Moraes
O documento discute três estilos musicais brasileiros: Bossa Nova, Música de Protesto e Tropicalismo. A Bossa Nova surgiu na década de 1950 como uma fusão de jazz e samba e alcançou sucesso internacional, mas foi criticada por afastar-se das raízes musicais brasileiras. Na década de 1960, durante a ditadura militar, artistas como Chico Buarque e Geraldo Vandré passaram a cantar músicas de protesto. No final da década, Caetano Veloso e Gilberto Gil inauguraram
Seminário sobre a historia da música brasileiraJaiza Nobre
O documento descreve os principais acontecimentos e movimentos musicais da década de 1960 no Brasil. A década foi marcada pela ditadura militar, mas também pelo surgimento de estilos musicais como a Bossa Nova, Jovem Guarda e Tropicália, que criticavam o governo de forma sutil.
Fernando Lopes-Graça foi um compositor e musicólogo português nascido em 1906. Estudou música em Tomar e Lisboa e frequentou a Universidade de Lisboa e Coimbra. Compôs várias obras influenciadas pelo modernismo e nacionalismo, utilizando canções populares portuguesas. Foi professor, crítico musical e participou ativamente na política portuguesa após a II Guerra Mundial como membro do PCP. Sua obra inclui canções, música coral e orquestral.
O documento descreve a história e os principais gêneros musicais de Portugal, incluindo o fado, a música folclórica, o rock, a música latina, a romântica, a pop, a eletrônica, o reggae, o hip-hop e o jazz. A música portuguesa foi influenciada por povos como os romanos e árabes ao longo do tempo.
A Bossa Nova revolucionou a música brasileira nos anos 1950 influenciando Caetano Veloso e Gilberto Gil. O Tropicalismo emergiu em 1967 como um movimento de ruptura cultural que misturou gêneros musicais e desafiou normas sociais, sendo reprimido pelo regime militar em 1968. Os Novos Baianos surgiram na década de 1970 influenciados pelo Tropicalismo e lançaram trabalhos importantes para a MPB.
Heitor Villa-Lobos foi um compositor brasileiro nascido em 1887 no Rio de Janeiro. Ele é considerado o principal responsável por descobrir uma linguagem musical distintamente brasileira, incorporando elementos das culturas regionais e música indígena e popular em suas obras. Villa-Lobos passou sua vida estudando e absorvendo a diversidade musical do Brasil.
O documento descreve vários estilos musicais populares em Portugal, incluindo pop, rock, house e heavy metal. Detalha as origens e características de cada gênero, bem como algumas das bandas portuguesas mais conhecidas como Xutos e Pontapés, UHF e Slipknot.
O documento discute a origem, história, características e nova geração da Música Popular Brasileira (MPB). A MPB surgiu em 1966 como uma fusão de Bossa Nova e música folclórica brasileira e se tornou um movimento cultural contra o regime militar. Atualmente, uma nova geração de artistas como Tiago Iorc, Maria Gadú, Tiê e Filipe Catto está trazendo novas influências para o gênero.
O documento resume a história dos estilos musicais brasileiros desde a música indígena e africana trazidas pelos escravos até os dias atuais, mencionando estilos como samba, bossa nova, axé e outros, e como se desenvolveram ao longo dos séculos a partir de influências de diferentes culturas.
Rock and roll emergiu nos EUA na década de 1950 e se espalhou pelo mundo, evoluindo para diversos subgêneros. Instrumentos comuns são bateria, guitarra elétrica e baixo. Hip hop surgiu nos EUA em 1960 como reação de classes desfavorecidas e é composto por rap, DJs, break dance e grafite. Punk rock surgiu na Inglaterra e EUA em 1970 com bandas como os Sex Pistols e Ramones.
O rock surgiu nos EUA nos anos 1940 e 1950 a partir do blues, country e rhythm and blues. Elvis Presley foi um dos maiores ícones do rock, conhecido como o Rei do Rock. Os Beatles foram outra lendária banda de rock. Nos anos 1960 e 1970, o rock desenvolveu diversos subgêneros como o folk rock, blues-rock e jazz-rock.
O documento descreve a história da música como uma disciplina acadêmica que estuda as origens e evolução da música ao longo do tempo e entre diferentes culturas. Ela analisa a música em termos históricos e musicais. A história da música abrange tanto a música erudita quanto estilos não-europeus e pré-históricos.
1) A MPB surgiu no período colonial através da mistura de estilos musicais indígenas, africanos e europeus.
2) No século XIX surgiu o chorinho, misturando danças e músicas populares.
3) Grandes nomes como Noel Rosa e Carmen Miranda marcaram a história da MPB no século XX, assim como os movimentos tropicália e da nova MPB nas décadas de 1960 e 1970.
O documento discute a história da música como o estudo da origem e evolução da música ao longo do tempo, inserido na história da arte e evolução cultural. Também define a história da música como uma divisão da musicologia e teoria musical, cujo estudo é realizado por historiadores e musicólogos. Explica que a história da música inclui não apenas a música erudita européia, mas também as músicas de outras culturas e regiões.
O documento discute a história da música ao longo dos séculos, desde a Idade Média até os tempos modernos, mencionando estilos, compositores e instrumentos musicais característicos de cada período, como canto gregoriano, viola caipira, piano forte, blues e rock and roll. Também fornece atividades para os alunos.
O documento discute gêneros musicais e define-os como categorias que compartilham elementos como instrumentação, estrutura e contexto. Em seguida, resume quatro estilos musicais - jazz, soul, pop e gospel - descrevendo suas origens e características principais.
MOVIMENTO TROPICALISTA slide. Thiago Monteiro.pptxmonikinhaveras13
O Tropicalismo foi um movimento cultural e artístico de vanguarda que ocorreu no Brasil no final dos anos 1960, caracterizado por uma mistura de estilos como o samba, o pop, o rock e a psicodelia, buscando modernizar a cultura brasileira e se afastar do intelectualismo da Bossa Nova.
O movimento Tropicalismo surgiu na década de 1960 liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, misturando estilos musicais como rock e baião. Embora tenha durado apenas um ano, revolucionou a cultura brasileira ao incorporar elementos estrangeiros e populares. No entanto, sofreu repressão do governo militar devido às letras críticas, culminando na prisão de seus líderes.
O documento discute o canto orfeônico no Brasil e seu papel na construção da identidade nacional. Iniciou-se no final do século XIX na França e foi trazido para o Brasil por professores em São Paulo e Piracicaba. Villa-Lobos ajudou a popularizar o canto orfeônico no país na década de 1930 como forma de elevar o nível artístico-musical do povo brasileiro. O canto orfeônico usa conjuntos heterogêneos de vozes para cantar o folclore nacional e
Um retrato da Cultura Brasileira da Era Vargas ao Regime Militarjosafaslima
O documento descreve a cultura brasileira durante a Era Vargas, a República Populista e o Regime Militar, destacando o forte controle do governo sobre a mídia e as manifestações culturais. Apesar disso, o rádio, o cinema, a literatura e as artes floresceram nesses períodos. Na década de 1960, surgiram movimentos como o Cinema Novo e o Tropicalismo que refletiam as tensões políticas da época de forma criativa.
Este documento descreve a fundação da primeira emissora de rádio de Ribeirão Preto, SP, a PRA-7, em 1924. A rádio teve grande influência na sociedade local, popularizando novos gêneros musicais e estimulando o desenvolvimento artístico da cidade. O documento analisa os roteiros de programas do "Quinteto Max", um conjunto musical que se apresentava na rádio na década de 1920.
O movimento cultural brasileiro Tropicália surgiu na década de 1960 sob influência de vanguardas artísticas e cultura pop, mesclando tradições brasileiras com inovações radicais. Teve objetivos sociais, políticos e comportamentais, ecoando a contracultura da época sob a ditadura militar. Manifestou-se principalmente na música de artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil, mas também nas artes plásticas, cinema e teatro.
Este documento discute as representações da identidade nacional portuguesa nos séculos XIX-XX, particularmente a divisão entre o Norte e o Sul. Aborda como intelectuais influentes como Basílio Teles viam esta divisão em termos raciais e como projetavam estereótipos sobre cada região. Também examina como historiadores como Oliveira Martins e Alexandre Herculano abordaram a formação da nação portuguesa e a importância dos fatores étnicos, projetando uma divisão Norte-Sul ligada a celtas no Norte e se
Do Cais para a Esquina: Uma In(con)fluência “beatle” na obra do Clube da Esqu...Emerson Mathias
O presente artigo analisa como os Beatles influenciaram os membros do chamado
“Clube da Esquina”, através a análise de depoimentos pessoais de seus membros
extraídos da internet. Por um lado, partimos da construção dos músicos ingleses em
figuras icônicas, através de estratégias que demonstram a consolidação de uma
indústria cultural altamente organizada em termos europeus e americanos, além de
demonstrarmos como a partir de meados da década de 1960 a banda inglesa
começa a acompanhar as transformações culturais e sociais, alterando, da mesma
forma, a sonoridade de suas canções.
Vocês não estão entendendo nada! uma análise do discurso de caetano veloso no...Guilherme Werner
1) O documento analisa o discurso de Caetano Veloso no Festival Internacional da Canção de 1968.
2) Na época, havia forte repressão pela ditadura militar, mas os festivais musicais eram um espaço de expressão política.
3) O discurso de Caetano foi alvo de críticas por sua estética provocativa e ideias da Tropicália, que misturava estilos musicais diferentes.
O tropicalismo foi um movimento musical e cultural surgido no Brasil em 1967 que misturou estilos musicais brasileiros e internacionais de forma inovadora, recebendo críticas por sua influência estrangeira. Os principais representantes, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, usavam guitarras elétricas e letras políticas, revolucionando a MPB. Apesar de criticado e enfraquecido pela ditadura, o tropicalismo modernizou a música brasileira de forma permanente.
Em 1932, Salazar instaurou uma ditadura inspirada no fascismo em Portugal conhecida como salazarismo, que durou até 1974. A Revolução dos Cravos em 25 de abril de 1974 derrubou o regime ditatorial de Salazar através de um golpe militar pacífico apoiado pelo povo português, colocando fim à guerra colonial e inaugurando a democratização do país.
A Dança Frenética: ecos da crítica no Rio de Janeiro e São Paulo nos anos 1920Aparecida Valiatti
O documento discute as críticas da obra "Dança Frenética" de Villa-Lobos nos jornais do Rio de Janeiro e São Paulo na década de 1920. As críticas elogiaram a obra no jornal paulista Correio Paulistano, destacando a habilidade de orquestração de Villa-Lobos. Já no Rio de Janeiro, o crítico Oscar Guanabarino também comentou favoravelmente a apresentação da obra pela Orquestra Filarmônica de Viena.
O documento discute a importância da música na educação infantil. Aborda vários tópicos como a história da música, crítica musical, educação musical no Brasil e métodos de musicalização para crianças. Tem como objetivo principal mostrar como a música pode contribuir para o desenvolvimento global das crianças.
Este documento resume a pesquisa sobre a história da música brasileira, desde sua origem na fusão dos elementos europeus e africanos trazidos por colonizadores portugueses e escravos até os dias atuais. A música brasileira foi influenciada pela Espanha, África e Portugal e é mais rica do que se imagina. No início do século XX, o samba e o maxixe surgiram e a música popular era a expressão da alma nacional.
O documento descreve o surgimento e influência do movimento Tropicalismo na música popular brasileira dos anos 1960. O Tropicalismo misturou gêneros musicais brasileiros e estrangeiros de forma inovadora e questionou fronteiras culturais. Liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, o movimento recebeu críticas por sua fusão de estilos e uso de guitarras elétricas. Apesar da censura da ditadura, o Tropicalismo renovou a cultura brasileira com seu sincretismo musical.
Este documento descreve a vida cultural no Recife após a ditadura do Estado Novo, focando no Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP) e no Gráfico Amador (GA). O TEP representou uma ruptura com o teatro tradicional conservador, levando peças ao povo. O GA publicou obras de jovens autores locais de forma artesanal para um público restrito. Ambos os grupos contribuíram para renovar a cena cultural da cidade entre 1946-1964.
O movimento tropicalista surgiu no Brasil no final da década de 1960 como uma fusão de estilos musicais e culturais brasileiros e internacionais que visava modernizar a música brasileira e criticar valores culturais da época de forma inovadora.
Este documento discute a história dos conceitos de cultura popular e negra ao longo do século XX. Apresenta como esses conceitos foram usados em disputas políticas e como foram estudados por folcloristas, sociólogos e historiadores. Também aborda como essas culturas foram associadas à construção de identidades nacionais.
Slides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
Slideshare Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em Cristo, 1Tr24, Pr Henrique, EBD NA TV, Revista ano 11, nº 1, Revista Estudo Bíblico Jovens E Adultos, Central Gospel, 2º Trimestre de 2024, Professor, Tema, Os Grandes Temas Do Fim, Comentarista, Pr. Joá Caitano, estudantes, professores, Ervália, MG, Imperatriz, MA, Cajamar, SP, estudos bíblicos, gospel, DEUS, ESPÍRITO SANTO, JESUS CRISTO, Com. Extra Pr. Luiz Henrique, 99-99152-0454, Canal YouTube, Henriquelhas, @PrHenrique
Atividade letra da música - Espalhe Amor, Anavitória.Mary Alvarenga
A música 'Espalhe Amor', interpretada pela cantora Anavitória é uma celebração do amor e de sua capacidade de transformar e conectar as pessoas. A letra sugere uma reflexão sobre como o amor, quando verdadeiramente compartilhado, pode ultrapassar barreiras alcançando outros corações e provocando mudanças positivas.
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Atividades de Inglês e Espanhol para Imprimir - AlfabetinhoMateusTavares54
Quer aprender inglês e espanhol de um jeito divertido? Aqui você encontra atividades legais para imprimir e usar. É só imprimir e começar a brincar enquanto aprende!
Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...Biblioteca UCS
A biblioteca abriga, em seu acervo de coleções especiais o terceiro volume da obra editada em Lisboa, em 1843. Sua exibe
detalhes dourados e vermelhos. A obra narra um romance de cavalaria, relatando a
vida e façanhas do cavaleiro Clarimundo,
que se torna Rei da Hungria e Imperador
de Constantinopla.
Slides Lição 11, CPAD, A Realidade Bíblica do Inferno, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
Slideshare Lição 11, CPAD, A Realidade Bíblica do Inferno, 2Tr24, Pr Henrique, EBD NA TV, Lições Bíblicas, 2º Trimestre de 2024, adultos, Tema, A CARREIRA QUE NOS ESTÁ PROPOSTA, O CAMINHO DA SALVAÇÃO, SANTIDADE E PERSEVERANÇA PARA CHEGAR AO CÉU, Coment Osiel Gomes, estudantes, professores, Ervália, MG, Imperatriz, MA, Cajamar, SP, estudos bíblicos, gospel, DEUS, ESPÍRITO SANTO, JESUS CRISTO, Com. Extra Pr. Luiz Henrique, de Almeida Silva, tel-What, 99-99152-0454, Canal YouTube, Henriquelhas, @PrHenrique, https://ebdnatv.blogspot.com/
Estrutura Pedagógica - Laboratório de Educação a Distância.ppt
92 227-1-pb
1. Revista Portuguesa de Musicologia
6, Lisboa, 1996, pp. 141-171
Sons de Abril: estilos musicais e movimentos de
intervenção político-cultural
na Revolução de 19741
MARIA DE SÃO ]OSÉ CORTE-REAL
ESTE artigo consiste numa reflexão sobre o fenómeno «Sons
de Abril», definindo-o numa perspectiva de relacionamento
entre estilos musicais e movimentos de intervenção político-
cultural associados à Revolução de 1974. Partindo de um corpus
de música seleccionado de entre o vasto repertório designado
correntemente por «música de intervenção» e «música popular
portuguesa»/ foram consideradas três situações de relevância
social, fortemente interligadas e concorrentes para a definição do
fenómeno em estudo: o desenvolvimento político em Portugal
sob o regime ditatorial marcadamente autoritário, a Guerra
Colonial que mobilizou massivamente a geração da década de
sessenta e a consequente fuga para o estrangeiro, nomeadamente
para Paris, que tal como outros centros urbanos, albergou a
juventude exilada de Portugal. Cada uma destas situações
exerceu influências marcantes no desenvolvimento da cultura
expressiva em geral e da música em particular em Portugal. A
influência de compositores e intérpretes franceses, assim como o
trabalho pontual de algumas editoras discográficas foram de
importância capital no domínio da canção de intervenção em
Portugal. Necessariamente, muitos compositores e intérpretes,
assim como obras de relevo ficarão por citar. A inexistência de
um estudo sistemático sobre esta matéria revela uma lacuna no
conhecimento da cultura expressiva recente em Portugal.
2
O texto original deste artigo foi apresentado numa conferência interactiva realizada
na Fonoteca Municipal de Lisboa em 1995, integrada nas comemorações do 21.0
aniversário da Revolução de 1974. Ainda que adaptado ao novo suporte, a sua
redução ao formato escrito acarreta necessariamente a amputação de um amplo leque
de referências inerentes ao desempenho musical característico dos «Sons de Abril».
Agradeço a Maria José Isidro a pronta disponibilização da sua colecção de
fonogramas de «música de intervenção».
141
2. 142
REVISTA PORTUGUESA DE MUSICOLOGIA
Definição de conceitos
«Música popular portuguesa» é um dos conceitos mais utilizados em
Portugal para designar a música tradicional portuguesa em geral.
Contrastando com os seus congéneres «música folclórica» e «música
regional», o conceito de «música popular» não se limita à tradição rural,
sendo utilizado como referente em ambos os contextos musicais, rural e
urbano. Embora nem sempre explicitamente definido na literatura, este
conceito genérico implica frequentemente uma série de princípios
fundamentais tais como a autenticidade, a transmissão oral, o arcaísmo e a
proveniência do povo, a quem primordialmente se destina, em associação
directa com a sua vida quotidiana. O conceito de música popular
portuguesa tem sido, no entanto, aplicado também de um modo mais
restrito à canção de intervenção política.
«Canção de intervenção» é o conceito mais genericamente utilizado
para denominar um dos campos da música popular portuguesa
caracterizado pela utilização de «poesia e música de acção»,3
associado a um
período específico da História de Portugal centrado na Revolução de Abril
de 1974. Este tipo de canção, a que se chamou também «canção de
protesto», «canção dos homens livres», «canção de partidários», «canção de
resistência» e, mais tarde, «canto livre», «canção de esquerda», «canto
colectivo» e «canção popular» entre outras designações, é, nas palavras de
um dos seus pioneiros em 1945, Fernando Lopes-Graça, «a que pode viver
verdadeiramente e agir a fundo sobre a sensibilidade, estimulando à acção».4
Mais tarde, a postura activa desta forma de expressão cultural foi claramente
definida por José Monso, ao afirmar que «a canção de intervenção implica
um envolvimento, com identificação crescente do próprio cantor com aquilo
que se está a passar nas diversas lutas, por mais heterogéneas que sejam, nas
quais ele de certo modo intervém, não apenas ao nível da canção. A sua
identificação com essa luta compromete-o como homem político».5
Apesar de não se poder associar um estilo musical específico à canção
de intervenção em geral, existe um conjunto de características estilísticas
comuns ao universo sónico da canção de intervenção. Estas características,
decorrentes da necessidade imperativa de ser simples, objectiva e directa, a
fim de atingir uma maior eficácia na mobilização de pessoas, baseiam-se
3
4
5
Fernando Lopes-GRAÇA, Disto e daquilo, Lisboa, 1973, pp. 249-253.
Ibid.
José AFONSO, Página um, Lisboa, 31.03.1977.
3. SONS DE ABRIL - - - -
naturalmente numa linguagem conhecida daqueles a quem pretende
dirigir-se, a da música tradicional portuguesa: uma linha melódica simples
(podendo ou não ser harmonizada a várias vozes), cantada num tom de
voz marcadamente íntimo e apelativo, de carácter diatónico, normalmente
tonal (podendo no entanto ser modal), de métrica basicamente regular,
acompanhada por um instrumento, geralmente a viola, mas podendo
também ser o piano, ou um conjunto mais alargado de instrumentos
populares portugueses, que conferem um acompanhamento de apoio
fundamentalmente harmónico e rítmico. Da diversidade estilística da
música tradicional portuguesa de ambas as proveniências, rural e urbana,
bem como do carácter individual de cada compositor, mais ou menos
influenciado por estilos musicais estrangeiros, resulta a variedade de
estilos musicais associados à canção de intervenção.
A canção de intervenção encontra-se intimamente ligada à Revolução
de 1974, não apenas ao golpe de estado militar em si, no qual
desempenhou um papel muito específico, mas a todo o processo de
preparação para a Revolução, iniciado já nos anos 40, de crítica ao poder
vigente pelas precárias condições de vida do povo, e especialmente
desenvolvido a partir de 1960 pelo agravamento da situação nacional
devido principalmente à guerra nas províncias ultramarinas, e ainda ligada
a um processo de militarização revolucionária desenvolvido
imediatamente após a Revolução, que se estendeu por alguns anos, até ao
início da década de oitenta.
A noção de movimento de intervenção politico-cultural associada à
canção de intervenção era já patente entre nós antes da Revolução. Contudo,
é na fase imediatamente após a Revolução, especificamente nos dois anos
seguintes, que proliferam em Portugal os movimentos de intervenção
político-culturaL Estes vários movimentos, protagonizados por artistas
individuais ou associados em grupos ou cooperativas, alguns ligados a forças
partidárias, tinham objectivos diferenciados no domínio da música, e
actuavam a vários níveis na luta pela cultura popular e revolucionária, desde a
recolha e divulgação da música tradicional ao nível local, até à organização de
espectáculos musicais grandiosos, de divulgação para as massas, passando
pelas iniciativas de alternativa às grandes editoras discográficas.
Os «Sons de Abril» a que nos referimos constituem um fenómeno
musical complexo. Incluem por um lado, a produção musical de
compositores oriundos de meios musicais muito diversos e por outro o
desempenho musical sob várias formas distintas, desde o coral a capella até ao
cantor a solo acompanhado à viola, passando pela música puramente
143
4. 144
REVISTA PORTUGUESA DE MUSICOLOGIA
instrumental, sem qualquer suporte directo de texto. Por outro lado ainda,
sublinhando a complexidade do fenómeno, a sua conturbada existência
como prática actuante na sociedade portuguesa por um período de cerca
de quatro décadas, atravessou contextos sociais extremos, em termos de
liberdade de expressão. Assim, os «Sons de Abril» têm como unidade
fundamental de referência a atitude de intervenção político-cultural
centrada e legitimada na Revolução de Abril de 1974.
Enquadramento sócio-cultural dos Sons de Abril
Intimamente relacionada com a história da política de esquerda no
pós-guerra em Portugal, a existência do fenómeno «Sons de Abril», um
dos seus meios privilegiados de expressão, foi fundamentalmente
marcada por ideias políticas, por personalidades ligadas ao processo de
composição e de desempenho poético-musical e por instituições
revolucionárias que, de acordo com o momento político, organizaram as
suas diferentes estratégias de acção. Assim, para uma breve perspectiva
histórica do· enquadramento sócio-cultural dos <<Sons de Abril»,
propômos uma periodização possível, centrada na Revolução de 1974:
-de c.1945 a 1974- o período até à Revolução, marcado por cantos
e música de resistência subordinados à rígida censura oficial do regime;
- de 1974 a 1975 - o ano da Revolução, que ficou marcado pelas
experiências de unidade na produção cultural;
-de 1976 a c.1980- depois da Revolução, o período das
cooperativas e dos grupos de intervenção.
Até à Revolução (c.1945 a 1974)
Terminada a II Guerra Mundial em 1945, Lisboa, por «excesso de
zelo» protocolar do governo, assinala a morte de Hitler com bandeiras a
meia-haste. Salazar inicia a «preparação nacional para o pós-guerra». É
promulgada a lei de revisão da Constituição (de 1933), é decretada uma
amnistia parcial para os crimes políticos, a PVDE (Polícia de Vigilância
e Defesa do Estado) passa a PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do
Estado), o SPN (Secretariado de Propaganda Nacional), instituição
encarregue da cultura portuguesa, tinha passado a SNI (Secretariado
5. SONS DE ABRIL - - - -
Nacional de Informação) no ano anterior. Mas, no entanto, a política do
regime mantem-se essencialmente inalterada. Os trabalhadores rurais
alentejanos recomeçam as greves e as concentrações, os meios militares
do MUNAF (Movimento de Unidade Nacional Antifascista) preparam
um golpe de Estado, fracassado por duas vezes. Funda-se o MUD
(Movimento de Unidade Democrática), de oposição ao governo, com
um inesperado apoio popular que conta à partida, somente em Lisboa,
com a participação de mais de 50 mil subscritores.6
Neste mesmo ano de 1945, Fernando Lopes-Graça compõe 'o seu
primeiro caderno de Canções heróicas, publicado em 1946 com o subtítulo
«Marchas, danças e canções próprias para grupos vocais ou instrumentais
populares». Estas canções, com textos neo-realistas de poetas como José
Gomes Ferreira, Carlos de Oliveira e João José Cochofel, entre outros,
foram concebidas pelo compositor como uma «arma pacífica, mas não
inocente, ao serviço da nossa oprimida grei, da sua libertação, da sua
exaltação, e da sua fraternização».7
Elas constituíram o repertório do
recém criado coro do MUD - que depois de vicissitudes várias viria a dar
origem ao Coro da Academia de Amadores de Música- e em breve, logo
após a sua publicação em 1946, foram apreendidas pela polícia política,
por ordem da Censura. Uma destas Canções heróicas, a Jornada, com
poema de José Gomes Ferreira, foi o hino do Movimento de Unidade
Democrática, fundado a 8 de Outubro de 1945, e desde aí
incessantemente utilizada como instrumento de resistência:
6
7
8
Jornada8
Solo
Não fiques para trás, ó companheiro
É de aço esta furia que nos leva.
Pra não te perderes no nevoeiro,
Segue os nossos corações na treva.
Fernando ROSAS, «Ü Estado Novo» in História de Portugal, dir. José Mattoso, vol. 7, Lisboa,
1994, p. 379.
Lopes-GRAÇA, Canções heróicas, Canções regionais portuguesas, LP Valentim de Carvalho, 8E 061
40328, 1974, notas do disco.
Lopes-GRAÇA, <<}ornada» in Canções heróicas, Canções regionais portuguesas, Coro da Academia
dos Amadores de Música, Olga Pratz (piano), LP Valentim de Carvalho, 1974, 8E 061 40328,
lado A, faixa 2.
145
6. 146
REVISTA PORTUGUESA DE MUSICOLOGIA
Coro
Vozes ao alto!
Vozes ao alto!
Unidos como os dedos da mão
Havemos de chegar ao fim da estrada,
Ao sol desta canção.
Solo
Aqueles que se percam no caminho,
Não importa! chegarão no nosso brado.
Porque nenhum de nós anda sozinho,
E até os mortos vão ao nosso lado
Coro
Vozes ao alto!
Vozes ao alto!
etc.
A proibição imposta às Canções heróicas pela Inspecção-Geral dos
Espectáculos em 1946 pôs em causa a continuidade do agrupamento coral
do MUD, que começara já o seu «voluntário apostolado cívico de assistência
cultural junto das colectividades populares, que constantemente solicitavam a
sua cooperação».9
A solução encontrada por Lopes-Graça foi a de substituir
o repertório do coro por um repertório inapreensível de cantos que
«promanasse de uma realidade colectiva [...] identificadora, [...] a canção
tradicional portuguesa, oferecida, não na sua natureza de puro documento
folclórico, mas sim transformada e aprofundada na sua significação e na sua
essência estética e social».10
Assim, as Canções regionaisportuguesas, recolhidas
da tradição popular e harmonizadas por Lopes-Graça, substituíram
oficialmente as Canções heróicas, que obviamente deixaram de constar do
repertório regular do coro, por um período de cerca de trinta anos:
9
10
11
Lá em Sant'lria11
Solo
Lá em Sant'Iria
Casaram-me à força:
Lopes-GRAÇA, Canções heróicas, Canções regionais portuguesas, LP Valentim de Carvalho, 1974,
8E 061 40328, notas do disco.
Ibid.
Lopes-GRAÇA, «Lá em Sant'Iria» in Canções heróicas, Canções regionaisportuguesas, Coro da Academia
dos Amadores de Música, LP Valentim de Carvalho, 1974, 8E 06140328, lado B, faixa 2.
7. SONS DE ABRIL - - - -
Coro
Eu queria a mais velha,
Deram-me a mais moça,
Deram-me a mais moça
Solo
Deram-me a mais moça,
Qye era o que eu não qu'ria;
Coro
Casaram-me à força,
Lá em Sant'Iria
Lá em Sant'Iria
Lá em Sant'Iria
Casaram-me à força...
A censura das primeiras Canções heróicas não impediu Lopes-Graça de
compôr mais obras semelhantes. Efectivamente, um novo caderno é
publicado em 1960 celebrando o 50.0
aniversário da implantação da
República Portuguesa, com o título Canções heróicas, dramáticas, bucólicas e
outras: escritas em estilo singelo para recreação da gente nova portuguesa. As
precauções mantinham-se no entanto, e as Canções heróicas continuavam
estrategicamente arredadas do repertório ordinário do coro. Apesar disso,
continuaram a ser cantadas e muitas conheceram popularidade considerável.
A designação Canções heróicas, impregnada de significado simbólico,
generalizou-se, vindo mesmo a abranger outras obras vocais do compositor.
Entretanto, a acção do regime agudiza-se, especificamente no que se
refere à política colonial. Em 1957 forma-se em Paris· o MAC
(Movimento Anti-Colonial). A oposição ganha força em Portugal e
Humberto Delgado atinge o resultado oficial de 25% dos votos nas eleições
presidenciais de 1958. Salazar remodela a política do governo. Demite
sucessivamente Humberto Delgado, que acaba por pedir asilo político no
Brasil em 1959. A PIDE desencadeia uma ofensiva de envergadura contra
o Partido Comunista Português. São proibidas todas as iniciativas públicas
oposicionistas. A década de sessenta inicia-se em Portugal num clima de
verdadeira ebulição social. Em Janeiro de 1960, o célebre caso do desvio do
paquete Santa Maria por Henrique Galvão vem demonstrar a falta de
apoio internacional ao governo português. Em 1961 fazem-se duas novas
tentativas de golpe de estado militar, que voltam a fracassar. É declarada a
Guerra Colonial, imediatamente condenada pela ONU. A agitação
147
8. 148
REVISTA PORTUGUESA DE MUSICOLOGIA
estudantil é reprimida pelo governo, que proíbe as comemorações do
Dia do Estudante, a sede da Associação Académica de Coimbra é
tomada de assalto pela polícia em 1962, seguindo-se greves e
concentrações de estudantes em Lisboa e Coimbra. A politização da
juventude estudantil vai representar um dos sectores mais combativos da
resistência nos anos seguintes.12
À agitação estudantil seguem-se as
manifestações de rua do operariado de Lisboa e de outros pontos do país
e as greves dos trabalhadores rurais do Alentejo, que acabam por
conquistar finalmente a jornada das oito horas de trabalho.
Em Coimbra, José Afonso, estudante de Histórico-Filosóficas,
grava a sua primeira obra em 1960, intitulada Balada de Outono, poema
e música da sua autoria. Esta obra, baptizada por António Menano, vai
dar início a uma nova corrente da canção portuguesa, que se irá
transformar numa tradição musical, a tradição da balada:
Balada de Outono13
Águas passadas do rio
Meu sono vazio não vão acordar
Águas das fontes calai
Oh ribeira chorai
Qye eu não volto a cantar
Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas das fontes calai
Oh ribeira chorai
Qye eu não volto a cantar
Águas do rio correndo
(bis)
Poentes morrendo p'ras bandas do mar
Águas das fontes calai
Oh ribeira chorai
Qye eu não volto a cantar
12 Fernando RoSAS, op. cit., p. 539.
(bis)
13 José AFONSO, «Balada de Outono», José Afonso (voz), António Portugal e Eduardo Belo
(guitarras), Manuel Pepe e Paulo Alão (violas), LP Rapsódia, 1960. Reedição in Fados e
guitarradas de Coimbra, vol. I, CD Movieplay, 1996, MOV 30332, faixa 7.
9. SONS DE ABRIL - - - -
Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas das fontes calai
Oh ribeira chorai
O!Je eu não volto a cantar
(bis)
A criação da tradição da balada resultou de um esforço consciente de
alternativa à tradição fadista coimbrã. A José Afonso juntaram-se outros
nomes, como Adriano Correia de Oliveira, que marcaram a mudança no
seio da canção de Coimbra na década de 60 e que, assumindo a realidade
social, cantavam numa atitude de intervenção político-cultural:
Designei as minhas primeiras canções por baladas não porque
soubesse exactamente o significado deste termo, mas para as
distinguir do fado de Coimbra que comecei por cantar e que,
quanto a mim, atingira uma fase de saturação.14
Remontando as origens da sua identidade ao movimento trovadoresco
medieval, os cantores de Coimbra celebraram a fusão da música com a
poesia, cantando as preocupações do seu tempo e da sua classe, numa
forma musical simples e de meios reduzidos:
Trova do vento que passa15
Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu país,
E o vento cala a desgraça,
O vento nada me diz.
Mas há sempre uma candeia
Dentro da própria desgraça.
Há sempre alguém que semeia
Canções no vento que passa
Mesmo na noite mais triste,
Em tempo de servidão,
Há sempre alguém que re~iste,
Há sempre alguém que diz não.
14 José AFONSO, O Comércio do Funchal, 1.6.1970.
(bis)
(bis)
(bis)
15 Adriano Correia de OLIVEIRA, «Trova do vento que passa» (1965), Manuel Alegre (texto), António
Portugal (música), Adriano Correia de Oliveira (voz e viola), António Portugal (guitarra). Reedição
in Memória deAdriano, CD Movieplay, 1992, SO 3050, faixa 1.
149
10. 150
REVISTA PORTUGUESA DE MUSICOLOGIA
Coimbra foi sem dúvida um centro de vanguarda da canção de
intervenção nos anos sessenta. E não só da canção como da música de
intervenção. Ao desenvolvimento do novo estilo musical associado à
canção de intervenção ficaram ligados não só nomes de compositores e
intérpretes musicais, mas também, e muito directamente, atitudes políticas
pontuais. Foi o caso da imposição da Censura que, apreendendo canções
como Menino do bairro negro e Os vampiros de José Monso, editadas pela
Rapsódia em 1963, originou a sua reedição, na mesma etiqueta e no
mesmo ano, em versão instrumental. O espírito de contestação política,
evidente nos poemas, foi cultivado também ao nível musical. A
contribuição de Carlos Paredes, intérprete exímio da guitarra de Coimbra,
foi fundamental neste domínio. Peças musicais como Despertar, Acção, e
Frustração, compostas no início dos anos sessenta e publicadas num dos
seus primeiros discos, denotam a atitude de intervenção social.
Trabalhando desde essa altura com grupos de teatro amador e no cinema,
nomeadamente com António Macedo e Paulo Rocha, participando em
numerosos festivais internacionais da canção política, Carlos Paredes
identificou-se claramente com o movimento político-cultural do qual a
canção de intervenção faz parte. Veja-se, por exemplo, Despertar.16
Coimbra não foi, no entanto, o único centro de irradiação da música de
intervenção. Com o início da Guerra Colonial, acrescido das árduas condições
de vida em Portugal, assiste-se a uma emigração e fuga em massa dos jovens
portugueses, que recusam pactuar com o sistema. Paris foi o centro europeu
escolhido por muitos destes jovens. A sociedade francesa debatia-se, desde
1954, com a guerra de libertação da Argélia, que mobilizou cerca de três
milhões de jovens franceses e que durou oficialmente até à assinatura dos
acordos de Évian, a 19 de Março de 1962 (após o referendo, que revelou a
vontade da esmagadora maioria pela independência da Argélia). No entanto,
o clima de hostilidade promovido pela política do general Charles de Gaulle
mantinha-se. A repressão imposta aos argelinos de Paris foi feroz. As
manifestações estudantis, duramente reprimidas, multiplicaram-se desde os
finais de 1960, organizadas pela UNEF (Union Nationale des Étudiants de
France). A estas juntaram-se as manifestações sindicais. As chamadas canções
contestatárias, meios privilegiados de expressão social, «semblent avoir connu
une résonance nationale».17
Apesar das suas emissões radiofónicas terem sido
16
17
Carlos PAREDES, «Despertar» in Meu País: Canções, LP, 1962. Reeditado in O Melhor dos
melhores: Carlos Paredes e Artur Paredes, CD Movieplay, 1994, MM 37036, faixa 1.
Acompanhamento à viola por Fernando Alvim.
Lucien Rioux, 50Ans de chansonfrançaise, Paris, 1994, p. 120.
11. SONS DE ABRIL - - - -
proibidas pela Censura, conheceram outros canais de popularidade
eficazes. Os movimentos juvenis, na sua maioria empenhados na luta anti-
colonial, desempenharam neste processo um papel fundamental. De entre
estes movimentos, destacaram-se pelo seu poder ainda nos anos 50 a
Union de la Jeunesse Républicaine de France, comunista, os cristãos J.E.C.
e ].O.C e os militantes dos Auberges de Jeunesse. Estes movimentos, que
contemplavam no seu repertório numerosas canções contestatárias,
controlavam eles próprios empresas de edição discográfica. Estava assim
assegurado o sucesso público da canção de contestação em França, que
consagrou, entre outros, Boris Vian, Guy Béart, Serge Gainsbourg,
Bernard Lavilliers e Jean Sommer. Segundo Rioux, o seu estilo -
conhecido como «style rive gauche», bem representado no LP Du chant à
la Une de Serge Gainsbourg, premiado pela Académie Charles Cros,
caracteriza-se por «un curieux mélange de provocation, de cynisme, de
tendresse déçue, d'ironie, de désespoir et de détachement».18
É neste palco
de movimentos de contestação social, provocados em parte pelo desastroso
desfecho do processo colonial francês, que entram os jovens fugidos de
Portugal. A semelhança dos contextos políticos dos dois países e do
empenho emocional das gerações novas facilitou a integração de alguns
destes jovens que, identificando-se com a situação vivida em Paris,
aderiram ao mundo político e musical da canção de contestação.
Em 1964, Luís Cília, cantor e compositor português, nascido em Angola
e ex-estudante de Economia na Universidade de Lisboa, edita em Paris o seu
primeiro disco, Portugal-Angola: Chants de lutte, iniciando um movimento de
canto português de resistência no exílio:
18
19
Sou barco19
Sou barco abandonado
Na praia ao pé do mar
E os pensamentos
São meninos a brincar
Ei-lo que salta bravo
E a onda verde escura
Desfaz-se em trigo
De raiva e amargura
Ibid.) p. 123.
Luís CÍLIA, «Sou barco», António Borges Coelho (texto), Luís Cília (música), in Portugal-
Angola: Chants de lutte) LP, 1964. Reedição in Memória de Adriano) CD Movieplay, 1992, SO
3050, faixa 7.
151
12. 152
R.EVJSTA PORTUGUESA DE MUSICOLOGIA
Oiço o fragor da vaga
Sempre a oater ao fundo
Escrevo, leio, penso
Passeio neste mundo
De seis passos
E o mar a bater ao fundo
Agora, é todo azul
Com barras de cinzento
E logo é verde, verde
Seu brando chamamento
Oh mar, venha a onda forte
Por cima do areal
E os barcos abandonados
Voltarão a Portugal
Ligado ao Partido Comunista Português, Luís Cília não só trabalhou no
seio das comunidades migrantes portuguesas, como também se empenhou
na formação da opinião pública internacional, publicando as suas canções na
editora Chant du Monde, fazendo concertos para o público progressista
francês e participando em festivais internacionais da canção política,
nomeadamente na República Democrática Alemã e em Cuba. Da sua
produção como autor e intérprete destacam-se, entre outras, canções de
marcado poder de intervenção, como o hino do Partido Comunista
Português, Avante, camarada, avante, composto em 1967, e o hino da CGTP
- Intersindical, com o tema de O Guerrilheiro, publicado em 1974.
A Luís Cília juntaram-se no exílio outras vozes importantes no
panorama dos «Sons de Abril», como José Mário Branco e, mais tarde,
Sérgio Godinho e Francisco Fanhais. A par da sua actividade
predominantemente integrada nas comunidades migrantes, estes cantores
tiveram também um papel fundamental no desenvolvimento da canção de
intervenção em Portugal, para o qual contribuíram com marcos importantes.
É o caso do primeiro LP gravado em França por José Mário Branco e
editado pela Sassetti em 1971, Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades20
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Muda-se o ser, muda-se a confiança
20 José Mário BRANCO, «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades», Luís de Camões (texto),
José Mário Branco (adapt.), Jean Sommer (música), in Mudam-se os tempos, mudam-se as
vontades, LP Sassetti, 1971. Reedição in Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, vol. 1, CD
UPAV, 1991, U.91004.C1, faixa 10.
13. SONS DE ABRlL - - - -
Todo o mundo é composto de mudança
Tornando sempre novas qualidades
Rifrão
E se todo o mundo é composto de mudança
Troquemos-lhe as voltas,
Qye inda o dia é uma criança
Continuamente vemos novidades
Diferentes em tudo da esperança
Do mal ficam as mágoas na lembrança
E do bem, se algum houve, as saudades
Rifrão
Mas se todo o mundo...
O tempo cobre o chão de verde manto
Qye já coberto foi de neve fria
E em mim converte em choro e doce canto
Rifrão
Mas se todo o mundo...
E afora este mudar-se cada dia
Outra mudança faz de mor espanto
Qye não se muda já como soía
Rifrão
Mas se todo o mundo...
Esta canção de José Mário Branco, com música de Jean Sommer,
testemunha directamente na sua construção musical a influência no
movimento da canção de intervenção em Portugal do «style rive gauche» -
designação atribuída ao estilo intelectual de esquerda, manifestado
nomeadamente na música, associado ao meio universitário da Sorbonne,
situada na margem esquerda do rio Sena.
Desde 1968 que o clima político se vinha agravando em Portugal.
Com a mudança do Chefe do Governo e com as promessas marcelistas de
liberalização, viveu-se um tempo de esperança, a chamada Primavera
Marcelista. Contudo, a política seguida por Marcelo Caetano de
«liberalizar mantendo a guerra» depressa comprometeu todo o seu
programa de reforma. Após um período inicial de alguma contenção, a
polícia política, cujo nome foi alterado de PIDE para Direcção-Geral de
153
14. 154
REVISTA PORTUGUESA DE MUSICOLOGIA
Segurança, reassume o seu papel em 1970. Aumenta o número de prisões
políticas, não só de membros do Partido Comunista, como de qualquer
pessoa ou grupo oposicionista. Pessoas que tinham sido chamadas do
exílio são de novo expatriadas, como acontece com Mário Soares. Qyanto
mais apertado se torna o círculo governamental, mais força vai ganhando
a oposição. A canção de intervenção, já então difundida, atravessa uma
fase de grande expansão em 1971, com a publicação de uma série de LP's,
entre os quais se destacam:
-Os Sobreviventes, de Sérgio Godinho, LP Philips, 1971;21
-Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, de José Mário Branco,
LP Sassetti, 1971;22
- Gente de aqui e de agora, de Adriano Correia de Oliveira, LP Orfeu,
1971·23
'-Cantigas do Maio, de José Monso, LP Orfeu Stat 009, 1971.24
Este novo manancial de canções politicamente empenhadas e
musicalmente elaboradas, que já nada tinha a ver com o ambiente restrito
das universidades ou das colectividades de cultura e recreio, entrou
inevitavelmente nos circuitos de divulgação, desencadeando uma reacção
por parte do Governo, que não se fez tardar. Em Janeiro de 1972, a
Direcção-Geral de Informação emite uma carta que determina o tipo de
canção a proibir. Mais ainda, nesta carta torna-se claro que a Censura (ou
Exame Prévio, como Marcelo Caetano decidiu chamar-lhe) já não tem ao
seu alcance a capacidade de controlar o mundo editorial, remetendo tal
controlo para as próprias editoras:
Resulta expressamente das leis em vigor que deve considerar-se
vedada a edição ou radiodifusão de canções ou outras formas
musicais que, pelo seu conteúdo e objectivos ou em face das
circunstâncias em que forem compostas, possam pôr em causa
interesses legalmente protegidos, nomeadamente:
a) as que contenham, ainda que veladamente, ultrajes às
instituições ou injúria, difamação ou ameaça contra as
autoridades ou os seus agentes ou contra os poderes
constituídos, e bem assim as que se proponham ridicularizá-los;
21 Reeditado pela Philips, CD Polygram, 1990, 848102-2.
22 Reeditado pela UPAV, CD UPAV, 1991, U.91004.C1.
23 Reeditado pela Movieplay, CD Orfeu, 1994, 35008.
24 Reeditado pela Movieplay, CD, 1987, SO 3002.
15. SONS DE ABRIL - - - -
b) as que aconselhem, instiguem ou provoquem os ouvintes a faltar
ao cumprimento dos deveres militares ou ao cometimento de actos
atentórios da integridade e independência da Pátria;
c) as que contenham palavras ou ideias ofensivas da dignidade e do
decoro nacional;
d) as que contenham expressões obscenas ou ofensivas da lei, da
moral e dos bons costumes;
e) as que incitem à depravação e ao vício ou exaltem formas de
conduta ou comportamento imorais e anti-sociais;
f) as que por qualquer modo, incitem ao crime ou exaltem
actividades criminosas e coincitem os cidadãos a impedirem a
acção da justiça na investigação de crimes ou na perseguição de
cnmtnosos;
g) as que, contendo alusões a factos da vida nacional, os deturpem
no seu significado, por forma a estabelecer confusão ou desorientar
os espíritos;
h) as que se propuserem divulgar factos ou acontecimentos
manifestamente falsos, com ou sem comentários;
i) as que, em geral, não pudessem ser apresentadas em espectáculos
públicos, sem riscos de decoro, da moral, do respeito devido às
instituições e autoridade e ao bom nome e prestígio do País.
Compete, em princípio, às casas editoras tomar as medidas
convenientes para o cumprimento da lei, não editando discos que
apresentem as características acima referidas e devendo em caso de
dúvida, consultar os serviços desta Direcção Geral.25
Deste documento se depreende a definição de música de intervenção,
segundo a Direcção-Geral de Informação em 1972, como aquela que:
25
- ridiculariza e ameaça o poder constituído e os seu agentes;
- aconselha a recusa da Guerra Colonial;
- contém ideias que se direccionam contra o princípio do isolamento
internacional e da nação colonial;
- contém expressões da linguagem popular, destinadas a chocar o
público;
- exalta o comportamento contestatário;
- incita os cidadãos a impedir a perseguição política;
- contém interpretações incômodas de factos da vida nacional;
- divulga e comenta factos apagados pelo sistema de controle de
informação do regime.
In Mário CORREIA, Música popularportuguesa, s.l., 1984, p. 142. Cit. de José Viale MOUTINHO,
Memória do canto livre, Lisboa, 1975, pp. 23-25.
155
16. 156
REVISTA PORTUGUESA DE MUSICOLOGIA
Em 1972 é promulgada uma nova Lei da Censura que passa a chamar-se
Lei do Exame Prévio. Já não era porém possível calar a canção de
intervenção. A situação social e económica do país estava em crise profunda,
a Guerra Colonial continuava sob a desaprovação internacional quase
unânime, consumindo a nova geração. Organizam-se vigílias e manifestações
anticolonialistas em Lisboa. Iniciam-se as negociações para a independência
da Guiné-Bissau e dá-se o assassinato de Amílcar Cabral. A ambiguidade
começa a instalar-se no meio militar e surge, no final de 1973, o chamado
Movimento dos Capitães.
Apesar de reforçada a censura, a canção de intervenção - por perspicácia
e tenacidade dos seus autores - conquistou o veículo dos mass-media. Como
caso paradigmático de charada e risco, surgiu Tourada, de Fernando Tordo e
José Carlos Ary dos Santos, que alcançou mesmo o primeiro prémio no
Festival RTP da Canção em 1973, e na qual, entre outras mensagens, se
anunciava: «e diz o inteligente que acabaram as canções».
A intervenção política destas canções, e a sua ligação com a Revolução
de Abril, são evidentes. A comprová-lo existem factos como o que se passou
na noite de 29 de Março de 1974. Nessa noite realizou-se no Coliseu dos
Recreios em Lisboa o I Encontro da Canção Portuguesa, organizado pela
Casa da Imprensa. Foi a primeira vez que se juntaram tantos cantores da
resistência no mesmo palco. Estavam presentes José Afonso, Adriano
Correia de Oliveira, José Carlos Ary dos Santos, Carlos Paredes, Fernando
Tordo, José Barata Moura, José Jorge Letria, Fausto, Vitorino, e outros mais.
Até ao próprio dia não era ainda certa a autorização por parte do Governo e
muitos textos foram parcial ou totalmente cortados pelo Exame Prévio. O
Coliseu estava repleto e os textos censurados, omitidos no palco, foram
entoados em coro pela audiência. O espectáculo foi um êxito e terminou com
Grândola, vila morena, cantada por José Monso e por todo o público, que
saiu nessa noite do Coliseu cantando a canção escrita em homenagem à
Sociedade Fraternidade Operária Grandolense e publicada no LP Cantigas
do Maio, em 1971:
Grândola, vila morena26
Grândola vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti ó cidade
26 José AFONSO, «Grândola, vila morena», José Afonso (texto e música), in Cantigas do Maio, LP
Orfeu Stat 009, 1971. Reeditado in Cantigas do Maio, CD Movieplay, 1987, SO 3002.
17. SONS DE ABRIL - - - -
Dentro de ti ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Qy.e já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
A sombra duma azinheira
Qy.e já não sabia a idade
O LP Cantigas do Maio de José Afonso representa mais uma
testemunha da mútua influência das culturas francesa e portuguesa no
domínio da canção de intervenção. Tal como o álbum Mudam-se os
tempos, mudam-se as vontades de José Mário Branco, também este foi
gravado em França, ambos produzidos no Strawberry Studio de Michel
Magne, no Château D'Hérouville, no Outono de 1971. No elenco dos
músicos de ambos os discos figuram, lado a lado, nomes portugueses e
franceses. É de salientar ainda a participação de Francisco Fanhais e de
José Mário Branco, que é responsável neste disco pelos arranjos e direcção
musical. São destes dois cantores portugueses, aliás, os sons dos passos no
chão que acompanham toda a canção Grândola, vila morena.
O ano da Revolução (1974-1975)
Foi através da canção de intervenção que a operação militar da
Revolução foi despoletada. O primeiro sinal às tropas revolucionárias foi
emitido às 22.55h do dia 24 de Abril pelos Emissores Associados de
157
18. 158
REVISTA PORTUGUESA DE MUSICOLOGIA
Lisboa, com a canção E depois do adeus, interpretada por Paulo de
Carvalho. O segundo e derradeiro sinal foi emitido às 00.30h do dia 25
pela Rádio Renascença, com a canção Grândola, vila morena de José
Afonso. Estava assim legitimado, se mais não fosse, o movimento da
canção na Revolução de Abril.
Abolida finalmente a Censura e levantados os entraves à liberdade de
expressão, a canção de intervenção inundou verdadeiramente os meios de
comunicação social. Na televisão, na rádio, nos giradiscos e nos
gravadores, pelas ruas em carros equipados com potentes megafones,
circulando livremente por todo o país, a canção de intervenção estava
sempre no ar. O universo sónico de Portugal transformou-se
repentinamente. A sua responsabilidade, legitimada no dia da Revolução,
levou os cantores a associarem-se, a reflectirem sobre o seu papel na
sociedade e a delinearem novas estratégias de actuação para o futuro.
Os cantores não perderam tempo. No dia 6 de Maio de 1974
realizou-se no Porto, no Palácio de Cristal, o I Encontro Livre da Canção
Portuguesa, contando já também com a presença dos cantores antes
exilados. Neste espectáculo foi lido o comunicado-manifesto do recém-
criado Colectivo de Acção Cultural - CAC, assinado por Adriano Correia
de Oliveira, Fausto, Francisco Fanhais, Francisco Gago da Silva, Isabel
Branco, José Afonso, José Jorge Letria, José Mário Branco, José Maria
Correia, Júlio Pereira, Luís Cília, Luís Cortesão, Manuel Alegre, Manuel
Freire e Vitorino. Dizia assim:
1° - Um grupo de trabalhadores culturais consciente da
contribuição que a canção e a música popular podem dar ao
desenvolvimento democrático e popular para o qual se abrem
agora grandes perspectivas, reunido na madrugada do 1° de Maio
de 1974, decidiu criar um Colectivo de Acção Cultural. Este
Colectivo lutará pelas justas reivindicações do povo trabalhador e
do movimento democrático popular, a saber: o PAO como o
direito dos trabalhadores à justiça social, ao bem estar e a uma
Pátria donde não precisem de emigrar; a PAZ como o termo
imediato da guerra de opressão colonial em Angola,
Moçambique, e na jovem República da Guiné-Bissau, bem como
o reconhecimento dos direitos dos povos destes territórios à
independência total e imediata e ainda a uma política de
fraternidade de classe para com todos os povos do mundo; a
TERRA com a realização de uma reforma agrária consequente
que dê a terra a quem a trabalha e com a definitiva liqui~ação da
grande propriedade latifundiária; a INDEPENDENCIA
NACIONAL em luta contra o domínio dos monopólios e contra
19. SONS DE ABRIL - - - -
o imperialismo internacional; a LIBERDADE com a garantia
dos direitos de eJqJressão livre, greve, reunião, associação, etc., e
com a consciência de que um povo não pode ser livre enquanto
for explorado ou enquanto explorar ~utros povos.
2° - Constatando a importância do passo histórico do dia 25 de
Abril que abre perspectivas incomensuráveis à luta do povo
traballiador português pela sua emancipação, o Colectivo saúda o
Movimento das Forças Armadas que derrubou o governo fascista
de Marcelo Caetano, restituindo ao povo português a palavra e as
liberdades democráticas. Além disso, entende dever participar com
todas as suas forças na luta do movimento democrático e popular
pela preservação e ampliação dessas mesmas liberdades.
3° - De início e dada a sua actual composição, o Colectivo orienta
a sua actividade para o campo da música e da canção populares,
fazendo um apelo a todos os trabalhadores culturais anti-fascistas,
anti-colonialistas e anti-imperialistas consequentes que estejam
interessados em pôr a sua actividade musical ao serviço dos
objectivos acima definidos e no sentido de unificar e multiplicar a
nossa participação organizada e activa no movimento democrático
e popular.
Em 18 de Maio realizou-se o 11 Encontro de Canto Livre, desta vez em
Lisboa, no Pavilhão dos Desportos. Passada a euforia da unidade inicial,
começaram a surgir diferendos ideológicos. O segundo Encontro já não se
desenrolou na espírito de solidariedade do primeiro, e começaram a surgir
problemas no seio do CAC.
Entretanto, de uma iniciativa da Emissora Nacional, ainda em Maio, um
programa semanal intitulado Canto Livre, surge uma nova corrente com o
mesmo nome, constituída basicamente por cantores ligados ao Partido
Comunista. José Jorge Letria, Luís Cília e Fernando Tordo, entre outros,
fazem parte deste novo grupo de artistas que começa a circular por todo o
país, cantando em festas populares, comícios e nas chamadas sessões de
esclarecimento do PCP e de outras forças partidárias.27
Após a tentativa falhada do CAC e depois do sucesso do Canto Livre,
surge ainda em 1974 um novo grupo herdeiro do CAC, o Grupo de Acção
Cultural- Vozes na Luta, GAC, impulsionado por José Mário Branco, com
objectivos semelhantes ao CAC, mas constituído basicamente por cantores
ligados a sectores ideológicos simbolizados pela UDP (União Democrática
Popular). Afastava-se assim de vez a tendência de unidade esboçada na
Revolução.
27 J. J. LETRIA, A Canção políticaportuguesa, Lisboa, 1978, p. 80.
159
20. 160
REVISTA PORTUGUESA DE MUSICOLOGIA
Depois da Revolução (1976 a c.1984)
Após a tentativa de golpe de Estado do 25 de Novembro de 1975, que
marcou o fim da influência política do MFA (Movimento das Forças
Armadas), a vida da canção de intervenção complicou-se. Com a
nacionalização dos meios de comunicação social, verificou-se uma baixa
substancial na emissão radiofónica e televisiva de música portuguesa. Como
reacção a este facto surgem as cooperativas, como centros de produção
discográfica e de organização de espectáculos. A primeira destas cooperativas,
a Toma Lá Disco, organizada por Fernando Tordo, Carlos Mendes, Paulo de
Carvalho, José Carlos Ary dos Santos e Joaquim Pessoa, entre outros, surgiu
em 1976, tendo como principal objectivo a edição discográfica. Outras duas
cooperativas destacaram-se no domínio da canção de intervenção: a Eranova,
uma cooperativa de animação cultural com raiz no cinema, fundada em 1978,
à qual aderiram cantores como José Afonso, Francisco Fanhais e Sérgio
Godinho, e a cooperativa Cantarabril, ligada ao PCP, fundada em Abril de
1979 por José Jorge Letria, Luís Cília, Carlos Mendes, José Carlos Ary dos
Santos, José Barata Moura e Carlos do Carmo, entre outros. Estas
cooperativas, surgidas da necessidade de organização profissional dos cantores
de intervenção, tiveram uma existência relativamente curta, vindo a extinguir-
se nos primeiros anos da década de oitenta.
Com efeito, no início dos anos oitenta, o contexto sócio-cultural do país
modifica-se. Finalmente, as instâncias governamentais reconhecem a
existência da música portuguesa, promulgando em Junho de 1981 a Lei de
Protecção da Música Portuguesa na sua Difusão pela Rádio e pela Televisão.
Esta medida legislativa, que se deveu em grande parte à iniciativa do
deputado socialista José Niza, constituiu o primeiro passo na legislação
portuguesa em relação à divulgação da música pela rádio e pela televisão. Tal
medida teve, naturalmente, repercussões vastas no domínio da canção de
intervenção e da música portuguesa em geral, não só afectando, ao nível da
produção musical, a actividade de compositores, intérpretes, e produtores
discográficos, como representando um desafio em relação a outros campos
da vida musical portuguesa, como por exemplo nos domínios da educação
musical e da comercialização de instrumentos.
Caracterização estilística dos Sons de Abril
Para uma caracterização estilística do fenómeno «Sons de Abril»,
proponho a análise do relacionamento entre os vários objectivos de
21. SONS DE ABRIL - - - -
intervenção político-cultural delineados a partir da Revolução no domínio
da música e os diferentes estilos musicais desenvolvidos.
Até à Revolução, a música de intervenção tinha um objectivo comum:
lutar pelo povo contra o poder estabelecido, desenvolvendo-se assim num
movimento generalizado. A partir da Revolução, e depois de legitimada a
responsabilidade da música de intervenção, os objectivos especificaram-se,
foram estudados modos de organização que permitissem aos músicos uma
maior eficácia no seu trabalho individual ou de grupo e delinearam-se
vários movimentos de intervenção político-cultural no domínio da
música. Dos vários objectivos propostos, houve três que se desenvolveram
e que originaram movimentos de intervenção político-cultural, de maior
ou menor amplitude consoante o seu grau de especificidade, e com a
dupla função de mobilizar pessoas de acordo com os princípios
revolucionários fundamentais (descolonização, reforma agrária, luta contra
o regime anterior e regozijo popular pela liberdade finalmente
conquistada) e de alterar o panorama musical português, cuidadosamente
moldado pelos imperativos da política cultural do Estado Novo. Temos
assim, como objectivos principais:
- a preservação e divulgação da música tradicional portuguesa de
proveniência rural;
- a mudança no fado de Lisboa;
- a modernização da música urbana.
Associados a estes três objectivos fundamentais, que se projectaram
em movimentos de intervenção através da produção de autores e
intérpretes específicos e da acção de instituições várias, desenvolveram-se
e consolidaram-se diferentes estilos musicais. No caso da preservação e
divulgação da música tradicional portuguesa e da modernização da música
urbana, no entanto, a definição estilística já vinha sendo experimentada
desde antes de 1974.
No campo da preservação e divulgação da música portuguesa de
proveniência rural, para o qual as contribuições de Fernando Lopes-Graça
e de Michel Giacometti foram de importância fundamental, destacaram-se
grupos como o Almanaque - Grupo de Recolha e Divulgação da Música
Popular, da Juventude Musical Portuguesa, fundado em Lisboa no início
de 1975 e norteado na sua actividade pelos valores essenciais do rigor e da
autenticidade no tratamento da música tradicional portuguesa. Neste
mesmo movimento incluem-se, no entanto, outros grupos orientados por
161
22. 162
R.EVJSTA PORTUGUESA DE MUSICOLOGIA
princípios algo diferentes, nos quais se praticava aquilo a que se chamou
«estilização heterodoxa»28
da música tradicional portuguesa. De entre
estes grupos destacaram-se a Brigada Victor Jara, fundada em Coimbra
em 1975, e o Grupo de Acção Cultural- Vozes na Luta, que apesar de
fundado em 1974, só se dedicou à música tradicional portuguesa a partir
de 1977. Outros grupos se juntaram ainda a este movimento, como por
exemplo o Grupo Coral e Instrumental Terra a Terra, fundado em 1977,
e o Grupo de Acção Cultural - Raízes, fundado já em 1980. Estes
grupos, de «estilização heterodoxa» ou não, partilhavam um ideal
comum, herdado do 25 de Abril: o ideal do valor da cultura popular de
proveniência rural. Ideal apregoado aliás já muito antes por Fernando
Lopes-Graça que, sublinhando o valor estético da canção regional
portuguesa, distinguiu o «folclore autêntico da contrafacção folclórica»,
defendendo em 1953 que:
o folclore que sai do seu âmbito próprio, que são os campos e as
aldeias, e exorbita das suas funções próprias, que são as de exprimir
a vida e os trabalhos do homem rústico, esse folclore assim posto
em evidência e assim utilizado deixa precisamente de ser folclore
para se transformar em divertimento banal ou servir de mero cartaz
turístico; do mesmo modo que o folclore que se fabrica em série, e
de que se tira patente, nunca foi de toda a evidência folclore, mas
puro negócio, pura especulação comercial.29
Paradoxalmente, Lopes-Graça usou a mesma fonte que o Estado
Novo, tratando-a no entanto de forma alternativa. Armando Leça,
Gonçalo Sampaio, Pedro Homem de Melo, Fernando de Castro Pires
de Lima, Mário de Sampaio Ribeiro e Tomás Ribas, entre outros,
exaltavam o folclore nacionalista impulsionando, directa ou
indirectamente, o movimento dos ranchos folclóricos, defendendo que:
28
29
30
o povo - a massa anónima - não cria; limita-se a cultivar ou a
conservar rotineiramente o que lhe é propinado ou aquilo de
que se apossa. Por isso não existe, em verdade, uma arte
popular, mas tão somente manifestações artísticas
popularizadas, cujo âmbito é muito' restrito, mesmo quando
cultivadas por um génio em bruto.30
Mário CORREIA, op. cit., p. 192.
Lopes-GRAÇA, A Cançãopopularportuguesa, 1974, p. 13.
M. de Sampaio RIBEIRO, 1958, in Fernando de Castro Pires de LIMA, A Chula, verdadeira
canção nacional, 1962, p. 16.
23. SONS DE ABRIL - - - -
Pelo contrário, Lopes-Graça utilizava o folclore pelo seu valor
estético enquanto obra de arte, como ponto de partida para
composições suas, oferecendo a canção regional «não na sua natureza
de puro documento folclórico, mas sim transformada e aprofundada na
sua significação e na sua essência estética e social.»31
Esta atitude de Fernando Lopes-Graça, datada dos finais da década
de trinta, já encerra em si o ingrediente de contestação que viria a ser
característico dos «Sons de Abril». Basta lembrar que em 1938 decorria
em Portugal o Concurso da Aldeia mais Portuguesa de Portugal, o
chamado Concurso do Galo de Prata, no qual um dos elementos
principais era o rancho folclórico instituído em cada localidade. O SPN
(Secretariado de Propaganda Nacional), promotor do concurso, estava
então a promover e a desenvolver aquilo que Lopes-Graça criticava: «a
contrafacção folclórica, o divertimento banal ou o mero cartaz
turístico».
Foi o valor estético da canção regional, tal como Lopes-Graça o
sublinhou, que foi despertado após a Revolução, e que se demonstrou
na produção de vários grupos musicais, os quais, em função desse
mesmo valor estético, seleccionaram o discurso da canção regional
como modo de intervenção sócio-cultural.
Um destes grupos, a Brigada Victor Jara, anunciava no seu primeiro
LP, Eito fora, editado em 1977, que optava conscientemente pela não
apresentação original das recolhas, «dando um passo em frente no
campo da cultura popular, fazendo-a irromper do marasmo e do
esquecimento de ciquenta anos de ditadura cultural»:
31
32
Senhora do Almurtão32
Senhora do Almurtão
Minha tão linda arraiana
Virai costas a Castela
Não queirais ser castelhana
Senhora do Almurtão
Qyem tendes por companhia
O divino São Romão
Lopes-GRAÇA, Canções heróicas, Canções regionais portuguesas, LP Valentim de Carvalho, 1974, 8E
061 40328, notas do disco.
BRIGADA VICTOR ]ARA, «Senhora do Almurtão» in Eito fora, cantares regionais, LP Editorial
Caminho, 1977. Reeditado in Eitofora, cantares regionais, CD Farol, 1995, FAR 50003, faixa 8.
163
24. 164
REVISTA PORTUGUESA DE MUSICOLOGIA
Capitão da Mouraria
Senhora do Almurtão
Dai a volta ao arraial
Romaria como a vossa
Não a há em Portugal
Entre muitas outras, a canção Senhora do Almurtão, interpretada pela
Brigada Victor Jara, baseada numa recolha de música tradicional da Beira
Baixa, da região de Idanha-a-Nova, apresenta uma estilização original a
vários níveis. Em primeiro lugar, a instrumentação, que para além do
tradicional adufe, emprega ainda a flauta travessa e o bombo, escolhidos
de entre os instrumentos mais típicos da tradição musical rural
portuguesa, ainda que não dos cantos femininos da zona da Idanha. Em
segundo lugar, o tratamento polifónico da linha melódica vocal,
acrescentando vozes mistas que se apoiam ~m intervalos de terceira menor
e quarta perfeita, tidos como característicos da música portuguesa, ainda
que não dos cantos femininos da zona da Idanha. Em terceiro lugar, a
tendência geral para a regularização, não só rítmica como melódica,
omitindo sistematicamente toda uma parte da canção, na qual se expressa
precisamente este contraste. Este exemplo é elucidativo quanto a um dos
princípios básicos que regeram este tipo de grupos musicais: o de
desenvolver e reforçar o tradicionalismo na música popular portuguesa,
através da utilização de artifícios considerados tradicionais e arcaicos.
Estes grupos recorreram assim à densifi.cação das referências sonoras,
aos regionalismos e ao mundo tradicional, acumulando-as umas sobre as
outras. O produto final surge então como uma espécie de concentrado de
música tradicional portuguesa.
A necessidade de mudança no fado de Lisboa constituiu um
imperativo do período pós-Revolução. De acordo com José Jorge Letria,
«se havia por todo o país milhares de trabalhadores a cantá-lo, não fazia
sentido que ele não estivesse do lado da Revolução».33
De facto, após
algumas contribuições esporádicas de cantores como Fernando Tordo e
Paulo de Carvalho, utilizando textos de intervenção e melodias
inovadoras, é com Carlos do Carmo em 1977, através do LP Um homem
na cidade, com textos de José Carlos Ary dos Santos, que se concretiza a
v1ragem:
33 LETRIA, op. cit., p. 107.
25. 34
SoNs DE ABRIL - - - -
Um homem na cidade34
Agarro a madrugada
Como se fosse uma criança
Uma roseira entrelaçada
Uma videira de esperança
Tal qual o corpo da cidade
Qye manhã cedo ensaia dança
De quem por força da vontade
De trabalhar nunca se cansa
Vou pela rua desta lua
Qye no meu Tejo assento o cio
Vou por Lisboa, maré nua
Qye desagua no Rossio
Eu sou um homem na cidade
Qye manhã cedo acorda e canta
E por amar a liberdade
Com a cidade se levanta
Vou pela estrada deslumbrada
Da lua cheia de Lisboa
Até que a lua apaixonada
Cresça na vela da canoa
Sou a gaivota que derrota
Todo o mau tempo no mar alto
Eu sou o homem que transporta
A maré povo em sobressalto
E quando agarro a madrugada
Colho a manhã como uma flôr
À beira mágoa desfolhada
O malmequer azul na côr
O malmequer da liberdade
Qye bem me quer como ninguém
O malmequer desta cidade
Qye me quer bem, que me quer bem
Carlos do CARMO, «Um homem na cidade», José Carlos Ary dos Santos (texto), José Luís
Tinoco (música), Raul Nery e António Chainho (guitarras), José Maria Nóbrega (guitarra
baixo), Martinho da Assunção (dir.), in Um homem na cidade, LP UPAV, 1977. Reeditado in Un
paifum defado, vol. 1, CD Playsound, 1992, PS 65701, faixa 1.
165
26. 166
REVISTA PORTUGUESA DE MUSICOLOGIA
Nas minhas mãos a madrugada
Abriu a flor de Abril também
A flor sem medo, perfumada
Com o aroma que o mar tem
Flor de Lisboa, bem amada
Qye mal me quiz, que me quer bem
Em exemplos como este, com poema de Ary dos Santos e música de
José Luís Tinoco, Carlos do Carmo veio demonstrar mais uma vez a
elasticidade do fenómeno do fado. Embora a temática do homem na cidade
de Lisboa, em que transparece uma certa nostalgia, esteja perfeitamente
enquadrada no repertório habitual do género, o agrupamento musical,
composto pelo cantor solista acompanhado por guitarras e violas, seja
também perfeitamente tradicional, e até o estilo interpretativo, tanto vocal
como instrumental, se identifique, não sem algumas excepções, com o
chamado estilo fadista, este exemplo marcou definitivamente um ponto de
viragem no fado. Não que com tal facto se pretenda afirmar que se verificou
uma mudança musical no fado. Para além de inovações várias a nível musical,
tais como iniciar o fado pela voz solista em vez da esperada introdução
instrumental, ou a aparente ausência de suporte harmónico definido,
conferindo ao fado uma ambiguidade tonal relativamente inovadora, a
grande viragem está no conteúdo do texto. Com o lançamento deste LP,
Carlos do Carmo ficou definitivamente associado a um tipo de fado novo,
aquele que através de textos de poetas de intervenção trata de assuntos
actuais, não necessariamente de protesto ou contestação, mas de interesse
real para a sociedade contemporânea em geral, assuntos que, tendo já feito
parte do mundo fadista do passado, tinham sido cautelosamente varridos do
repertório durante a vigência do Estado Novo (são hoje conhecidos casos
abundantes de repertório fadista riscados pelo lápis azul da Censura).
Embora tenha sido bem sucedida em termos de aceitação pública, até
pela extrema qualidade de produção, tanto a nível de composição como de
interpretação e edição discográfica, o facto é que esta iniciativa não teve
muitos seguidores. Assim, uma vez mais se evidencia a figura de Carlos do
Carmo como fadista de Abril.
No que se refere à modernização da música urbana, o outro grande
objectivo político-cultural da Revolução no domínio da música, aquele no
qual se inseriu a canção de intervenção, houve uma grande adesão e uma
verdadeira explosão de produção. O importante foi reconhecer, citando José
Barata Moura, que «os produtos culturais estão no plano da ideologia e
27. SONS DE ABRIL - - - -
intervêm socialmente enquanto marcados pela ideologia»35
e, consequentemente,
defender a proliferação desses mesmos produtos culturais, ainda que em prol da
importância da função social da canção, se menosprezasse a sua qualidade. Barata
Moura reflete sobre o assunto, chegando mesmo a afirmar que:
A qualidade é um elemento essencial na obra de arte, um
elemento num conjunto mais amplo; um elemento essencial que,
todavia, não é único. Mais: trata-se de um elemento essencial
que não é determinante.36
Do muito que se produziu neste período e daquilo que nos ficou como
«Sons de Abril», não descurando afinal o elemento da qualidade, é possível
encontrar traços estilísticos marcados, que embora a ele se não limitem, em
muito se relacionam com o movimento da canção europeia das décadas de
1950 e 1960, em particular dos baladeiros franceses e da canção coimbrã.37
Assim, como principal herança do movimento baladeiro para a canção de
intervenção encontramos uma série de afinidades a vários níveis distintos,
desde os temas, conteúdos e formas dos textos, até aos instrumentos musicais
utilizados e aos estilos musicais desenvolvidos.
Em termos temáticos, destacam-se três temas principais: o Amor, o
Destino, e a Amargura. Em relação ao primeiro tema, encontramos o amor à
liberdade e aos direitos individuais, ao país perdido pela repressão e ainda o
amor como semente de revolta, ilustrados respectivamente em canções como
Senhorpoeta, de José Monso:
35
36
37
38
39
Meu amor é marinheiro
E mora no alto mar
Seus braços são como o vento
Ninguém o pode amarrar38
ou como Trova do amor lusíada, de Adriano Correia de Oliveira:
Meu amor disse que eu tinha
Na boca um gosto a saudade
E os cabelos onde nascem
Os ventos e a liberdade39
José Barata MouRA, Estética da canção política, 1977, p. 43.
Ibid., p. 39.
Seria interessante estudar o relacionamento da canção política francesa com a canção de
intervenção portuguesa, dado que parecem ter estado de facto muito próximas.
Poema de Manuel Alegre (1963).
Poema de Manuel Alegre (1964).
167
28. 168
REVISTA PORTUGUESA DE MUSICOLOGIA
ou ainda como Erguem-se muros, de Adriano Correia de Oliveira:
Erguem-se muros40
Erguem-se muros em volta
Do corpo quando nos damos (bis)
Amor semeia a revolta
Qy.e nesse instante calamos
Semeia a revolta, e o dia
Cobrir-se-á de navios (bis)
Há que fazer-nos ao mar
Antes que sequem os rios
Secos os rios, a noite
Tem os caminhos fechados
Há que fazer-nos ao mar
Ou ficaremos cercados
Amor semeia a revolta
Antes que sequem os rios
Em relação ao grupo temático da Amargura e Descontentamento, um
exemplo elucidativo poderá ser Sou barco, de Luís Cília:
Sou barco abandonado
Na praia ao pé do mar
E os pensamentos
São meninos a brincar41
No grupo temático do Destino, no qual se lamenta a má sorte do povo
e do país, encontramos como exemplo a canção Pátria, de Adriano
Correia de Oliveira:
40
41
42
O coração só desfolha
Se lhe apodrece a raíz
Triste destino o destino
Da gente do meu país42
Adriano Correia de OLIVEIRA, «Erguem-se muros», António Ferreira Guedes (texto, 1964).
Reeditado in Memória deAdriano, CD Movieplay, 1992, SO 3050, faixa 12.
Poema de António Borges Coelho (1964).
Poema de António Ferreira Guedes (1967).
29. SONS DE ABRIL - - - -
Em relação aos conteúdos dos textos, encontramos exemplos comuns
aos dois tipos de canção, baladeira europeia e de intervenção em Portugal,
relacionados respectivamente com:
- a exortação à contestação, por exemplo Que força é essa amigo, de
Sérgio Godinho (1971);
- a exaltação do direito ao individualismo e à crítica, por exemplo
Vejam bem, de José Afonso (1968);
- a oposição à tirania e à exploração do homem, por exemplo Margem
Sul, de Adriano Correia de Oliveira (1967);
- referências ao mundo dos desprotegidos, por exemplo Cantiga da
velha mãe, de Sérgio Godinho (1971), ou o Menino do bairro negro, de José
Afonso (1963);
- a oposição à guerra, por exemplo Pedro soldado (1967), Menina dos
olhos tristes (1964), ou As balas, de Adriano Correia de Oliveira (1975):
As balas43
Dá o Outono as uvas e o vinho
Dos olivais azeite nos é dado
Dá a cama e a mesa o verde pinho
As balas deram sangue derramado
Dá a chuva o Inverno criador
Às sementes dá sulcos o arado
No lar a lenha em chama dá calor
As balas deram sangue derramado
Dá a Primavera o campo colorido
Glória e coroa do mundo renovado
Aos corações dá o amor renascido
As balas deram sangue derramado
Dá o Sol as searas pelo Verão
O fermento no trigo amassado
No esbraseado forno cresce o pão
As balas deram sangue derramado
Dá cada dia ao homem novo alento
De conquistar o bem que lhe é negado
43 Adriano Correia de OLIVEIRA, «As balas» in Que nunca mais, LP, 1975. Reeditado in Memória
de Adriano, CD Movieplay, 1992, SO 3050, faixa 19.
169
30. 170
REVISTA PORTUGUESA DE MUSICOLOGIA
Dá a conquista um puro sentimento
As balas deram sangue derramado
De meditar, concluir, ir e fazer
Está sobre o mundo o homem atirado
À paz de um mundo novo de viver
As balas deram sangue derramado
Dá a certeza o crer e o construir
O que tanto nos negou o ódio armado
Qye a vida construir é destruir
Balas que deram sangue derramado
Essas balas deram sangue derramado
Só roubo e fome e o sangue derramado
Só ruína e peste e o sangue derramado
Só crime e morte e o sangue derramado
- e, ainda, a ridicularização do poder repressivo e da ganância financeira,
ilustrada por exemplo em canções como Os vampiros, de José Monso (1963),
e O charlatão, de Sérgio Godinho (1971).
Em relação às formas dos textos, encontramos na canção baladeira
europeia, como na canção de Coimbra, três formas principais: a narrativa, a
introspectiva e a directamente dirigida aos ouvintes, na voz activa, tomando
o ouvinte como interlocutor directo. Inúmeros exemplos se poderiam citar
para ilustrar cada uma destas formas.
Qyanto aos instrumentos musicais, se houvesse que simbolizar os «Sons
de Abril» através de um deles, a viola seria sem dúvida o escolhido. Mais do
que qualquer outro instrumento, a viola acompanhou estreitamente a
evolução desta música. Fácil de transportar e de aprendizagem pouco
complexa no que respeita aos primeiros acordes, a viola seguiu sempre os
cantores de intervenção. O seu papel foi essencialmente o de acompanhar o
canto sob os pontos de vista rítmico e harmónico, ou, entre duas estrofes, o de
produzir uma transição puramente instrumental. Também aqui verificamos a
influência da canção baladeira europeia dos anos cinquenta e sessenta.
Sob o ponto de vista histórico, verificamos que os momentos de maior
visibilidade para a música associada à resistência ao regime foram:
- o ano de 1945, com a fundação do MUD e a criação do seu coro,
que mais tarde viria a juntar-se ao Coro da Academia qe Amadores de
31. SONS DE ABRIL - - - -
Música, através do qual Fernando Lopes Graça conseguiu que a sua
música chegasse a conhecer uma divulgação alargada;
- a Primavera Marcelista, breve interlúdio na política de repressão em
Portugal, que permitiu a edição de alguns discos (1971), que se tornaram
fundamentais para os desenvolvimentos estético-musicais posteriores à
Revoh~ção de 1974;
-e, finalmente, a Revolução de Abril de 1974.
Somos levados a reconhecer a importância decisiva da canção no
movimento político-cultural que levou à Revolução de 25 de Abril de
1974: por um lado, como modo de propagação de ideias e, por outro,
como modo de afirmação de correntes estéticas de elevada qualidade,
alternativas à arte oficial do regime salazarista e marcelista.
Verificamos, também, a composição multifacetada do universo sónico
que envolveu o movimento político cultural de resistência em Portugal
antes de 25 de Abril de 1974, bem como o recurso a fontes diversas para a
afirmação de correntes musicais que se viriam a transformar nos «Sons de
Abril».
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