O documento descreve a trajetória de 50 anos de engenharia de Fernando Alcoforado, engenheiro elétrico formado pela UFBA em 1966. Ao longo de sua carreira, Alcoforado atuou em diversas empresas e órgãos públicos nas áreas de energia, planejamento e meio ambiente. O texto também discute a história da engenharia no Brasil e seu papel no desenvolvimento do país.
50 anos de engenharia: uma carreira dedicada ao progresso do Brasil
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50 ANOS DE ENGENHARIA
Fernando Alcoforado*
No dia 11 de dezembro deste ano será comemorado o Dia do Engenheiro e, também, os
50 anos de nossa diplomação em Engenharia pela Escola Politécnica da UFBA. Desde
que nos diplomamos em Engenharia Elétrica em 1966, desenvolvemos nossas
atividades como engenheiro procurando utilizar a melhor solução técnica, econômica e
ambientalmente adequada e gerenciar os projetos com base na prevenção e na precaução
contra riscos. Nossa trajetória de Engenheiro começou na Seção de Estudos Especiais
do Departamento de Engenharia da CEEB- Companhia Energia Elétrica da Bahia
(1967/1968) em Salvador para, em seguida, atuarmos como Coordenador do 1º Estudo
do Mercado de Energia Elétrica do Nordeste na SUDENE (1968/1969) em Recife,
como Engenheiro Consultor da Eletrowatt (1969/1970) no Rio de Janeiro quando
participamos da elaboração de estudos e projetos de grandes hidrelétricas, linhas de
transmissão, subestações, da ponte Rio-Niterói e de reforma de aeroportos, como
Assessor do Superintendente de Planejamento da Light (1971/1973) no Rio e São Paulo
quando atuamos no planejamento do sistema elétrico das regiões Rio e São Paulo e
como Assessor do Vice-presidente de Engenharia e Tecnologia da Light (1973/1975) no
Rio de Janeiro quando desenvolvemos estudos sobre a modernização tecnológica do
sistema elétrico da empresa.
Atuamos, também, como Consultor do Ceped- Centro de Pesquisas e Desenvolvimento
da Bahia em Camaçari na elaboração do Plano Diretor da Cetrel- Central de Efluentes
Líquidos do Polo Petroquímico de Camaçari (1976), como Coordenador de
Planejamento Estratégico do Ceped- Centro de Pesquisas e Desenvolvimento
(1976/1978) em Camaçari, como Engenheiro de planejamento do sistema elétrico da
Coelba (1979/ 1982) em Salvador, como Consultor da Prefeitura de Camaçari (1983) na
elaboração do projeto de coleta, tratamento e disposição final de resíduos sólidos
especiais do Polo Petroquímico de Camaçari, como Secretário do Planejamento de
Salvador (1986/1987) quando coordenamos a elaboração de projetos urbanísticos e de
infraestrutura urbana da cidade e formulamos estratégias para Salvador até o ano 2000,
como Subsecretário de Energia do Estado da Bahia (1988/1991) em Salvador quando
elaboramos o 1º Plano Estadual de Energia que lançou as bases para o uso de fontes
renováveis de energia (solar, eólica e biomassa) na Bahia, a expansão da distribuição do
gás natural canalizado e a implantação da Bahiagás- Companhia de Gás da Bahia e
como Coordenador do Programa Nacional do Dendê- PRONADEN (1991) para uso
como matéria-prima industrial e fonte de energia em Brasília para o Ministério da
Agricultura.
Além disso, atuamos como Consultor da Winrock International em projetos de energia
renovável e da UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura em Brasília na avaliação e organização de sistemas de ciência e tecnologia do
País. Exercemos, também, atividade docente ministrando disciplinas ligadas à
Administração e Engenharia, tais como, A Economia do Meio Ambiente e o
Desenvolvimento Sustentável do curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Regional e Planejamento Ambiental da UNIFACS (Salvador, 2011), Pesquisa
Operacional na Faculdade de Administração das FAMETTIG, Sistemas de Produção I
e II do curso de Engenharia de Produção da Faculdade de Ciência e Tecnologia- Área 1
(Salvador, 2004 a 2005), Planejamento energético do VIII Curso de Planejamento
Energético e IV Colóquio Latino-Americano, COPPE/UFRJ (Rio, 1990), Curso de
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Planejamento do Setor de Energia, Núcleo de Serviços Tecnológicos da Escola
Politécnica da UFBA (Salvador, 1988).
A Engenharia, compreendida como a arte de fazer, consiste em aplicar conhecimentos
científicos e empíricos à criação de estruturas, processos e dispositivos, que são
utilizados para converter recursos naturais em formas adequadas ao atendimento das
necessidades humanas. É importante observar que a Engenharia e o Engenheiro existem
desde os mais remotos tempos. Pode-se afirmar que existem desde o aparecimento do
homem na face da Terra. Se entendermos a Engenharia como a arte de usar a técnica
para realizar aquilo que a imaginação humana concebe, verificaremos que, enquanto
existir a humanidade a Engenharia estará presente. A Engenharia é sinônimo de
progresso técnico. A Engenharia tem sido utilizada ao longo da história da humanidade
como um meio para a conquista de melhores condições de vida para a sociedade em
todos os países do mundo e também para fins militares.
A Engenharia é o meio através do qual as pessoas podem adquirir condições para
habitar melhor, se transportar com mais rapidez, adquirir conforto e segurança, ter
acesso a alimentos mais nutritivos e saudáveis, etc. O bom funcionamento da
Engenharia, portanto, não é de interesse apenas dos profissionais e empresários do setor.
É de interesse de toda a sociedade, sendo também sinônimo de desenvolvimento. Desde
a Antiguidade até o século XV, as obras de engenharia foram muito mais fruto do
empirismo e da intuição do que do cálculo e de uma verdadeira engenharia. A
investigação científica, inclusive nas ciências físicas e matemáticas, era quase mera
especulação, em geral sem ter como alvo aplicações práticas. Havia, quando muito,
alguma aplicação com finalidades militares. Leonardo da Vinci e Galileu Galileu, nos
séculos XV e XVII, por exemplo, podem ser considerados os precursores da Engenharia
de base científica porque o que eles fizeram era regido por leis físicas e matemáticas.
É importante observar que a história da arquitetura e da engenharia no Brasil começa
em 1549, com a fundação do Governo Geral e da Cidade do Salvador por Thomé de
Souza. A engenharia entrou no Brasil através das atividades de duas categorias de
profissionais: os oficiais-engenheiros e os então chamados mestres de risco construtores
de edificações civil e religiosa graças a cuja atividade os brasileiros de então tiveram
teto, repartições e templos. O marco fundamental para o ensino superior no Brasil foi a
vinda da família real portuguesa para o País, em 1808, fato este que permitiu a criação
de diversas instituições. Em 1810 foi criada a Academia Real Militar, a partir das
instalações da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, cujo objetivo era
formar oficiais de infantaria, de artilharia, de engenharia e oficiais de classe de
engenheiros geógrafos e topógrafos, com a incumbência de dirigir sistemas
administrativos, de minas, de caminhos, portos, canais, pontes, fontes e calçadas.
Na atualidade, o Brasil é plenamente desenvolvido em diferentes setores da Engenharia.
Da construção de estradas ao setor energético tudo é possível de ser projetado e
construído no Brasil. Em alguns setores, inclusive, o Brasil é referência mundial, como
é o caso dos programas ligados ao Proálcool e biodiesel, a exploração de petróleo em
águas profundas, construções de grandes hidroelétricas, como Itaipu, a maior em
operação até bem pouco tempo, projetada, construída e montada por empresas
brasileiras. Os engenheiros e empresas de engenharia colaboraram decisivamente para
desencadear o processo de modernização do País. É importante destacar também os
administradores públicos engenheiros que tiveram larga visão e contribuíram para
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materializar ousados projetos de infraestrutura de energia, transportes e comunicações
implantados no Brasil nos últimos 60 anos. Cabe lugar de relevo, também, os pioneiros
na fabricação de máquinas e equipamentos, além de bens de capital e fornecedores de
insumos que ajudaram a proporcionar extraordinário impulso à Engenharia, à Indústria e
à Construção brasileiras. A Engenharia foi, portanto, responsável pela construção do
Brasil moderno.
Procuramos nos 50 anos de nossa trajetória de profissional da Engenharia oferecer nossa
colaboração ao progresso do Brasil seguindo a tradição da Engenharia brasileira na qual
tem sido grande o número de engenheiros e empresas, das mais diversas áreas de
atividades, que se têm se destacado pela criatividade e pioneirismo das soluções
adotadas nos projetos e nas obras que executaram. Da época da instalação das grandes
siderúrgicas a partir da industrialização na década de 1930 durante o governo Getúlio
Vargas, que alteraram o modelo e as possibilidades de crescimento do País, da fase da
abertura dos eixos rodoviários de penetração no território nacional, da construção de
Brasília, da ação desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek, da construção das
grandes hidrelétricas e da implantação de sistema elétricos interligados a partir da
década de 1950, até o completo domínio da tecnologia de exploração de petróleo “off
shore” na década de 1990, muitas empresas nacionais e muitos engenheiros ajudaram a
modernizar e a desenvolver o Brasil. Nós, engenheiros da turma de 1966 da Escola
Politécnica da UFBA procuramos com dignidade e competência honrar as tradições da
engenharia brasileira.
*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011),
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012),
Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV,
Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo
(Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail:
falcoforado@uol.com.br.