O sistema capitalista é um sistema que opera de acordo com o princípio da entropia porque apresenta a tendência universal de evoluir para uma crescente desordem e autodestruição. Esta situação é demonstrada pela tendência de queda da taxa de lucros dos Estados Unidos, maior economia mundial que foi de 24% em 1950 e 13% em 2000 e alcançará uma taxa de lucro igual a zero em 2059, bem como pela queda da taxa de lucro ao custo histórico do capital fixo das corporações dos Estados Unidos que foi de 32% em 1947 e 13% em 2007 e alcançará zero em 2048. Conclui-se, portanto, que o sistema capitalista mundial ficaria inviabilizado entre 2048 e 2059 porque as taxas de lucro serão negativas a partir de meados do século XXI. O neoliberalismo ao negar a regulação do sistema capitalista mundial colabora no sentido de levar o sistema à autodestruição.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Entropia e morte do sistema capitalista mundial
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ENTROPIA E MORTE DO SISTEMA CAPITALISTA MUNDIAL
Fernando Alcoforado*
A entropia é uma grandeza termodinâmica que mede o grau de irreversibilidade de um
sistema encontrando-se geralmente associada ao que se denomina por "desordem" de
um sistema termodinâmico. Entropia mede o grau de desordem de um sistema. Quanto
maior a desordem de um sistema, maior a sua entropia. De acordo com a segunda lei da
termodinâmica, uma caldeira produz trabalho ao converter a energia do combustível
utilizado em calor, e por conseguinte em energia térmica. Mas, a energia térmica não
pode ser completamente revertida em trabalho. Um exemplo de entropia é a iluminação
fornecida por lâmpadas incandescentes, em que nem toda a eletricidade (energia) usada
é convertida na forma de luz (energia útil), mas uma parte se perde na forma de calor
(energia inútil para a iluminação).
Os conceitos de processos reversíveis e irreversíveis podem ser descritos
matematicamente usando-se o conceito de entropia. Chama-se processo
reversível aquele em que o sistema pode, espontaneamente, retornar à situação (ou
estado) original. Isso ocorre geralmente em transformações mecânicas sem atrito. No
caso de haver atrito, o corpo sofre perda de energia e, portanto, não poderia voltar à
situação inicial. Nesse caso, este é um processo irreversível que é aquele cujo sistema
não pode, espontaneamente, retornar ao estado original. Gelo derretendo é um exemplo
clássico de aumento de entropia que se trata de um processo irreversível. A teoria da
entropia tem por objetivo, portanto, medir a degradação de energia que ocorre em um
sistema de acordo com a segunda lei da termodinâmica e o fato de que em qualquer
mudança física nem toda a energia que está no sistema inicial e que constitui o corpo é
encontrado no sistema e na constituição do corpo final.
Enquanto a entropia é a medida da desordem ou da imprevisibilidade do desempenho de
um sistema, a sintropia é o seu oposto, isto é, representa o grau de ordem e de
previsibilidade existente em um sistema. O princípio da sintropia é um processo que se
opõe à perda de energia e desorganização através de uma injeção de novas energias
geradas a partir deste mesmo processo ou de outros, de fora do sistema. Um exemplo de
sintropia é o metabolismo de organismos vivos em que, para enfrentar o catabolismo
que leva ao consumo e destruição do tecido do organismo para viver e exerce o
anabolismo, reconstitui os tecidos através da ingestão de alimentos ou seja, substâncias
retiradas do mundo exterior ao organismo/sistema.
A sintropia é um princípio cibernético de organização, de unificação, ao contrário do da
entropia, que é o da desorganização, da desintegração. Existe a entropia (perda,
desorganização) e a sintropia (ganho, organização) no âmbito da termodinâmica
(energia) e da cibernética (informação). Um sistema é cibernético quando processa
informações e é capaz de ajustar seu próprio funcionamento automaticamente ao
processar as informações (feedbacks) vindas de dentro e de fora do próprio sistema.
Alguns exemplos de sistemas cibernéticos são organismos vivos, máquinas automáticas,
instituições, etc. Entropia é a tendência dos sistemas cibernéticos de se desorganizarem,
perdendo energia e informação e rumar para a autodestruição. Sintropia é a
programação dos sistemas cibernéticos para se organizarem e reorganizarem de modo a
manter ou repor energia e informação visando a preservar sua configuração e existência,
um programa de auto-preservação.
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Pode-se afirmar que o sistema capitalista é um sistema que opera de acordo com o
princípio da entropia porque apresenta a tendência universal de evoluir para uma
crescente desordem e autodestruição. Esta situação é demonstrada pela tendência de
queda da taxa de lucros dos Estados Unidos, maior economia mundial que foi de 24%
em 1950 e 13% em 2000 e alcançará uma taxa de lucro igual a zero em 2059, bem como
pela queda da taxa de lucro ao custo histórico do capital fixo das corporações dos
Estados Unidos que foi de 32% em 1947 e 13% em 2007 e alcançará zero em 2048.
Conclui-se, portanto, que o sistema capitalista mundial ficaria inviabilizado entre 2048 e
2059 porque as taxas de lucro serão negativas a partir de meados do século XXI. O
neoliberalismo ao negar a regulação do sistema capitalista mundial colabora no sentido
de levar o sistema à autodestruição.
Todos os dados disponíveis apontam no sentido de que o sistema capitalista mundial
evolui para uma crescente desordem e autodestruição porque o planeta Terra já está
atingindo seus limites no uso de seus recursos naturais. Hoje, por conta do atual ritmo
de consumo, a demanda por recursos naturais excede em 41% a capacidade de reposição
da Terra. Se a escalada dessa demanda continuar no ritmo atual, em 2030, com uma
população planetária estimada em 10 bilhões de pessoas, serão necessárias duas Terras
para satisfazê-la. Atualmente, mais de 80% da população mundial vive em países que
usam mais recursos do que seus próprios ecossistemas conseguem renovar. Os países
capitalistas centrais (União Europeia, Estados Unidos e Japão), devedores ecológicos, já
esgotaram seus próprios recursos e têm de importá-los.
Um fato indiscutível é o de que a humanidade já consome mais recursos naturais do que
o planeta é capaz de repor. O sistema capitalista é o principal responsável por esta
situação ao esgotar os recursos naturais do planeta Terra e ao poluir ao extremo o solo,
os recursos hídricos e os oceanos, além de ameaçar a sobrevivência da humanidade e
dos seres vivos em geral com a mudança climática catastrófica resultante da emissão de
gases do efeito estufa. Além disso, o sistema capitalista mundial apresenta tendência
decrescente da taxa de lucro que terá o valor zero em meados do século XXI. O sistema
capitalista mundial é um excelente exemplo de entropia haja vista que tende a uma
crescente desordem que o levará inevitavelmente ao colapso como sistema econômico.
Georgescu-Roegen (1906-1994), economista romeno, autor do livro The Entropy Law
and the Economic Process, de 1971 (GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas. The Entropy
Law and the Economic Process. Cambridge: Harvard University Press, 1971), procurou
integrar a economia com a termodinâmica, com a biologia evolutiva e com a ecologia,
razão pela qual é conhecido como o pai da economia ecológica. Em termos de metáfora,
leis como a da queda tendencial da taxa de lucro (de Marx) e dos rendimentos
decrescentes no sistema capitalista podem ser consideradas como entropias do sistema
econômico. E parece também evidente que a entropia que ocorre no mundo material se
reflete, também, na atividade econômica. Mas este economista foi mais longe ao tentar
instituir a entropia como lei econômica (ALDEIA, João. Entropia e (de)crescimento.
Disponível no website <http://puraeconomia.blogspot.com.br/2004/11/entropia-e-
decrescimento.html>).
O previsível esgotamento dos recursos minerais, particularmente os energéticos, e as
ameaças de alterações climáticas catastróficas, temas maiores da agenda ecológica,
encaixam bem no processo entrópico. A atividade econômica dá origem a novos
produtos e a soluções para novos e velhos problemas (para as doenças, antigas e novas,
a farmacologia e a biotecnologia, por exemplo), mas à custa da desestruturação de
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outros sistemas, o que, em última análise, conduzirá à morte do conjunto. Até a década
de 1960, o crescimento econômico parecia ser a única saída para promover o bem-estar
dos povos. Georgescu-Roegen, versado em matemática e estatística, ousou desafiar o
discurso tradicional e discorreu palavras fortes em sentido contrário a uma lógica que
parecia, até então, irretocável. Esse especialista, em seu tempo, disse, entre outras
coisas, que “os níveis de crescimento da economia não mais poderiam prosseguir sem
que as gerações futuras pagassem o ônus da irresponsabilidade” (OLIVEIRA, Marcus
Eduardo. Economia e Entropia: A Economia do Futuro e o Futuro da Economia.
Disponível no website <https://www.ecodebate.com.br/2010/06/14/economia-e-
entropia-a-economia-do-futuro-e-o-futuro-da-economia-artigo-de-marcus-eduardo-de-
oliveira/>, 2010).
É por tudo isto que se torna um imperativo a implantação de uma sociedade sustentável
em escala mundial que é aquela que satisfaz as necessidades da geração atual sem
diminuir as possibilidades das gerações futuras de satisfazer as delas e, desta forma,
contribuir para a construção da paz mundial. A nova Sociedade Sustentável Global deve
ser capaz de regular a economia mundial e as relações internacionais baseadas em um
Contrato Social Planetário visando promover a prosperidade econômica global com
base no modelo de desenvolvimento sustentável em benefício de todos os seres
humanos. Este Contrato Social Planetário deveria resultar da vontade da Assembleia
geral da ONU que se constituiria no novo Parlamento Mundial que elegeria um
Governo Mundial representativo da vontade de todos os povos do mundo.
*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e
Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes
do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na
Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br.