1) O artigo discute os desafios da infância e adolescência em um mundo com pressões crescentes e falta de tempo dos pais.
2) A autora argumenta que a criatividade e saúde mental das crianças dependem do brincar e convivência com a família.
3) O suplemento literário comenta sobre eventos e ausências na última reunião da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.
1. Jornal
O Bandeirante
Ano XIX - no 220 - março de 2011
Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP
Viver é Cheio de Surpresas!
Josyanne Rita de Arruda Franco
Médica Pediatra
Presidente da Sobrames SP / Biênio 2011-2012
A infância é uma fase feliz, é o dor, anterior sustentáculo de seus ra para a vida. Se der sorte, pas-
que todos dizem. Sim, mas feliz membros. O enfado e a intole- sará ao largo do CAPS infantil e
para quem? Não há responsabili- rância rugem de todos os lados, da Fundação Casa.
dade e nem preocupações, é ver- tornando sala e cozinha ringues Birras, choros, críticas que
dade. Uma frustraçãozinha aqui e de vale-tudo, arenas de dramas e desafiam e tentam burlar as leis
acolá que passa num instante, fei- comédias da vida privada. A casa sempre fizeram parte da trans-
to um dodói que recebe beijinho. parece já não ser um bom lugar... gressão infantil e adolescente,
Período longo na cronologia, A criança, que experimentava que inicialmente contesta para
rápido nas descobertas. Com o a realidade do adulto com imagi- testar. No entanto, há necessi-
tempo comprimido e sem espa- nação e criava outros cenários, ao dade da autoridade que ensina,
ço para viver, a criança abandona crescer cede lugar a um devaneio esclarece e orienta, mesmo que o
seus castelos de fantasia para ini- juvenil arrogante e fantasioso, coração fique oprimido. É a poda
ciar uma rotina incompatível com intolerante com o viver ranzinza que vai reflorir o canteiro.
sua imaturidade. Já não brinca, dos mais velhos. Estes, por sua Dentre as experiências neces-
não cria, não inventa. Como sen- vez, invejando os dias de outro- sárias ao crescimento saudável e à
tir felicidade? ra, quando podiam usufruir com boa saúde psíquica, a convivência
Quando chega à adolescência, descompromisso do confortável com a família e o brincar são par-
o corpo muda e com ele mudam refúgio, tornam-se menos tole- te delas. A capacidade criativa,
também os conceitos e as priori- rantes com os mais jovens; para- carregada de energia libidinal,
dades. A urgência é a mola mes- doxalmente, ainda mais permis- não eclodiria de forma contumaz
tra de cada dia e as noites são um sivos. Abandonam seus filhos ale- nos atos de violência que aterro-
intervalo indesejado ante tudo o gando não ter tempo, paciência rizam nossa sociedade se os pais
que se pretende viver; o costume ou conhecimento para o necessá- reassumissem seu inalienável
de estar longe do lar desde cedo rio cuidado. Elegem a si mesmos papel: exercer autoridade com
enche de autoridade jovens tira- em egoísta individualidade. amor, mantendo-se vigilantes ao
nos que agora não toleram frus- Educar requer disponibilida- crescimento de seus filhos.
tração, investidos de uma certeza de de tempo e vontade, é repeti- E as consultas médico-peda-
que lhes confere o direito de ser ção cansativa, mas fundamental. gógicas desta pediatra não ter-
antes de compreender. Se assim não for, à criança restará minariam em desalento e estu-
E, de repente, é como se pes- viver institucionalizada desde a pefação ao ouvir de uma jovem
soas com poucas afinidades pas- mais tenra idade em creches, es- mãe (depois de um quarto de
sassem a habitar o endereço que colas de período integral, cursos hora sob orientações) o seguinte:
de hora para outra não é mais vários em seu tempo livre, alijada “a senhora não quer, então, criar
reconhecido como o lar acolhe- da convivência afetiva que prepa- o meu filho?”
2. 2 O BANDEIRANTE - Março de 2011
EXPEDIENTE Nasceu Maria quando a folia
perdia a noite, ganhava o dia...
Jornal O Bandeirante
ANO XIX - no 220 - Março 2011
Preocupados com tanta calamidade pública com as
enchentes e desmoronamentos, vendo Teresópolis e
Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos
Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP. outras cidades se desmontarem transformando casas,
Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros -
São Paulo - SP Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 Editores: ruas, pontes em entulhos e pessoas desaparecidas em
Josyanne Rita de Arruda Franco e Carlos Augusto Ferreira simplesmente números, nem notamos que o Carnaval
Galvão. Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha
Pezzuto (MTb 17.671 - SP). Redação e Correspondência: Rua estava chegando.
Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A – V. Municipal – CEP
13201-100 – Jundiaí – SP E-mail: josyannerita@gmail.com E invadiu as avenidas, sambódromos, clubes e pra-
Tels.: (11) 4521-6484 Celular (11) 9937-6342. Colaboradores ças. Os repórteres trabalharam numa cobertura sem
desta edição: Alitta Guimarães Costa Reis, Evanir da Silva
Carvalho, Ligia Terezinha Pezzuto, Roberto Aniche, Sônia par das principais capitais brasileiras; o consumo de
Regina Andruskevicius de Castro, Walter Whitton Harris.
cerveja disparou, oficinas de costura de fantasia fize-
Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de
1.000 exemplares PDF enviados por e-mail. ram milhares de horas extras. Os hotéis ficaram lotados, tudo em nome de
Diretoria - Gestão 2011/2012 - Presidente: Josyanne Rita uma festa que vem se modificando ao longo dos séculos, tornando-se cada
de Arruda Franco. Vice-Presidente: Luiz Jorge Ferreira.
Primeiro-Secretário: Márcia Etelli Coelho. Segundo-
vez mais como evento consumista que, como um trator, passa por cima das
Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro- diferenças sociais, religiosas, políticas... até chegar a tão enfadonha quarta-
Tesoureiro: José Alberto Vieira. Segundo-Tesoureiro:
Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini. Conselho Fiscal feira de cinzas.
Efetivos: Hélio Begliomini, Carlos Augusto Ferreira Galvão
e Roberto Antonio Aniche. Conselho Fiscal Suplentes: Morreu Maria quando a folia
Alcione Alcântara Gonçalves, Flerts Nebó e Manlio Mário
Marco Napoli. na quarta-feira também morria...
Matérias assinadas são de responsabilidade de seus
autores e não representam, necessariamente, a opinião
Voltamos a procurar embaixo de barro e escombros aqueles números de
da Sobrames-SP desaparecidos, que uma vez encontrados, alimentam a estatística dos que
Editores de O Bandeirante
perderam suas vidas por causa de uma catástrofe. Nossos irmãos, cidadãos
brasileiros optaram por morar em áreas de risco e pagaram caro por este
Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994 deslize. Áreas de risco com escritura registrada em cartório, contribuintes do
Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996 imposto predial e territorial, plantas da casa devidamente aprovadas e com
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000
Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009 “habite-se” da prefeitura, água, esgoto, luz, telefone, internet, tudo instalado
Helio Begliomini – maio a dezembro de 2009 e legalizado.
Roberto A. Aniche e Carlos A. F. Galvão - 2010
Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão - janeiro 2011 Parece que há inúmeras maneiras de enganar as pessoas e delas se retirar
o tempo, o dinheiro, a dignidade, mesmo que isso custe a vida de algumas
Presidentes da Sobrames – SP
delas.
1º. Flerts Nebó (1988-1990)
2º. Flerts Nebó (1990-1992)
3º. Helio Begliomini (1992-1994) Roberto Antonio Aniche
4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996)
5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)
6º. Walter Whitton Harris (1999-2000)
7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)
8º. Luiz Giovani (2003-2004)
9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)
10º. Flerts Nebó (out/2005 a dez/2006)
Walter Whitton Harris
11º. Helio Begliomini (2007-2008) Cirurgia do Pé e Tornozelo
12º. Helio Begliomini (2009-2010) Ortopedia e Traumatologia Geral
13º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2011-2012) CRM 18317
Av. República do Líbano, 344
Editores: Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão 04502-000 - São Paulo - SP
Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto Tel. 3885 8535
Diagramação: Mateus Marins Cardoso Cel. 9932 5098
Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica
CUPOM DE ASSINATURAS* longevità
Preço de 12 exemplares impressos: R$ 36,00 (11) 3531-6675
Nome:___________________________________________________________ Estética facial, corporal e odontológica *
Massagem * Drenagem * Bronze Spray *
End.completo: (Rua/Av./etc.) _______________________________________ Nutricionista * RPG
Rua Maria Amélia L. de Azevedo, 147 - 1o. andar
________________________________ nº. _______ complemento _________
Cidade:_____________ Estado:_____ E-mail:___________________________
Clínica Benatti
Grátis: Além da edição impressa que será enviada por correio, o assinante Ginecologia
receberá por e-mail 12 edições coloridas em arquivo digital (PDF)
Obstetrícia
*Disponível para o público em geral e para não sócios da SOBRAMES-SP
Preencha este cupom, recorte e envie juntamente com cheque nominal à SOBRAMES-SP para REDAÇÃO
Mastologia
“O Bandeirante” R. Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A - V. Municipal - CEP 13201-100 - Jundiaí - SP
Dê uma assinatura de “O BANDEIRANTE” de presente para um colega (11) 2215-2951
3. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Março de 2011 3
O Malho
Em fevereiro, que pouca!
Pouca gente, poucos trabalhos (belos, é verdade, mas poucos). Parecia a Pizza de uma destas cidades pequenas.
Pizza sempre de muito valor literário, mas pequenininha...
Notícias
Nossa regional irmã de Minas Gerais (SOBRAMES-MG) realizará, com o costumeiro sucesso, a V Jornada Guima-
rães Rosa nos dias 19 e 20 de agosto próximo, na Faculdade de Medicina da UFMG, em comemoração ao centenário
desta importante e renomada academia de formação médica. Os detalhes estão no edital que pode ser acessado no
site www.sobramesmg.org.br
A Pizza Literária do mês de março recebeu, com muita alegria, a visita de nosso confrade das Alterosas, José Carlos
Serufo. Sua presença discreta, humilde e agregadora tornou nossa reunião festiva ainda mais distinta e de alto nível lite-
rário. Agradecemos a participação deste paulista de coração mineiro, que também é um mineiro de certidão paulista.
José Carlos Serufo
Na última Pizza sentimos falta do nosso querido José Rodrigues Louzã, que estava em tratamento domiciliar
naquela noite. Desejamos vê-lo forte e restabelecido no encontro de abril.
Saudade também é notícia e uma ausência muito sentida é a que tem nos provocado o Dr. Flerts Nebó, um dos
ícones de nossa regional. Estamos todos torcendo por sua melhora, contando com seu breve retorno às nossas reu-
niões festivas.
E nossos queridos e queridas que há muito tempo não tem frequentado nossos encontros? Que saudade de seus
talentos adornando nossos sonhos, seus amáveis rostos iluminando nosso convívio! Continuamos aguardando esses
bandeirantes que tanto ajudaram a SOBRAMES-SP a desbravar os nobres caminhos desta vereda literária.
Prêmio Bernardo de Oliveira Martins, medalha de 1º
lugar para a confreira Márcia Etelli Coelho (dir.)
No dia 26 de março, a Dra. Márcia Etelli Coelho participou do “Sarau dos Poetas da Casa” no Espaço Cultural
Haroldo de Campos (Casa das Rosas) com a leitura de sua poesia “São Tantos Franciscos” . É costume do sarau, cada
participante ler um texto de algum poeta contemporâneo. E a Dra. Márcia escolheu a poesia “Noite Fria” de autoria
da presidente da Sobrames São Paulo, Josyanne Rita de Arruda Franco. Em ambas as declamações, foi muito aplau-
dida. A Casa das Rosas localiza-se na Avenida Paulista, 37 e oferece oficinas literárias, encontros temáticos e saraus
poéticos mensais. Bem merece uma visita.
Nosso confrade Arary da Cruz Tiriba irá ocupar o cargo de Diretor Cultural na Academia de Medicina de São Paulo,
biênio 2011-2012.
Ao nobre e prestigiado confrade, nossa admiração e aplausos. Parabéns, Dr. Tiriba, por mais esta conquista!
4. 4 O BANDEIRANTE - Março de 2011
SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BLOG da SOBRAMES-SP está em plena atividade graças ao incansável apoio de nosso confrade Marcos Salun. Vi-
sitem e aproveitem mais este espaço de divulgação e interatividade no endereço http://sobramespaulista.blogspot.com
Destaque do Mês
Para a nossa querida Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini, que sempre conduz os pedidos das deliciosas pizzas
com atenção, gentileza, cuidado e muita destreza.
Muitíssimo obrigado!
Março: Nesta Data Querida, Nossos Parabéns!
Helio Begliomini 21/03
Maria da Glória Moreira Civile: 21/03
Itu nos Espera de Braços Abertos!
Nossa Jornada XI Médico-Literária Paulista terá lugar em Itu.
A cidade berço de nossa república acolherá em seu seio nossa SOBRAMES-SP, como um dia acolheu os bandei-
rantes.
Estamos organizando uma jornada inesquecível em hotel aconchegante, planejando um roteiro cultural memorável,
sem esquecer da selecionada gastronomia que congregará todos à mesma mesa com histórias, causos e canções.
Na edição de abril de “O Bandeirante”, todas as informações, fichas de inscrição e formas de pagamento estarão
inseridas.
Programem-se para momentos de alegria, deleite, história e grandes emoções neste congraçamento literário e de
amizade.
Participem conosco!
Interior da Igreja de Nossa Senhora da Candelária Telefone que fica na praça central de Itu, onde tudo é
grande! Na foto está a tia de nossa presidente Josyanne,
Ana Lúcia, que foi também à visita dos hotéis
Perfil 2011 Sobrames-SP
Geovah Paulo da Cruz
Atuação: Médico oftalmologista
Cidade de nascimento: Patrocínio - MG
Comida preferida: Gourmet e Cozinheiro
Esporte (que pratica ou gosta): Assistir futebol
Livro de cabeceira atual: Bíblia (para criticar)
Filme: os de Carlitos
Fim de semana (o que prefere fazer): Caminhar
Viagem inesquecível: Sempre que volto aos locais de minha infância
Sonho: Viver bem e muito
Intolerância: Já tive muitas intolerâncias
Características pessoais: Atualmente velho rebelde
Projeto futuro: Escrever novos livros
Filosofia de vida: Não sofrer dor física, moral, emocional. Compartilhar bom humor.
5. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Março de 2011 5
Qual é a Minha Parte?
Ligia Terezinha Pezzuto
O mar se enfureceu Separar materiais
com suas ondas a invadir de diferentes naturezas
a costa de países, ajudaria na proeza
levando vidas e bens. de nosso solo poupar.
Sonhos varridos O óleo de cozinha
e esforços vãos usado nas frituras.
deixam marcas doídas Há mercados que o
na alma de irmãos. recolhem, isso é seguro.
Antes em equilíbrio, As famosas sacolinhas
a natureza hoje geme. podem ser substituídas
Diante dos desafios, pela caixa de papelão
o semelhante a teme. ou ecológico bornal.
Catástrofes muitas Pilhas e baterias,
a povoar os jornais. embalagens vazias.
São novas histórias, Empresas fabricantes
cada vez mais e mais. já as estão aproveitando.
Não seria o momento E assim fica um lembrete
de ter mais respeito que mais parece um alerta.
pela casa onde vivemos Se não fizermos nossa parte,
e pensar no que fazemos? breve, breve será tarde.
Um simples fechar
a torneira, ao nos lavar,
serviria pra mostrar
que não precisamos esbanjar.
Mistério
Alitta Guimarães Costa Reis
Uma jovem senhora contou-me que sempre teve horror a ratos. E como moram a meio caminho da zona rural,
próximo a um brejinho, ratos é que não faltam. A situação complicou-se há semanas com uma das piores enchentes
que a região já sofreu. Ela verificou, com horror crescente, que ratos podem nadar. Em sua casa, na porta de seu
quarto, colocou papelões dobrados para impedir que passassem por debaixo da porta. O problema é que o estrata-
gema não foi suficiente.
Uma noite ela encontrou um rato dormindo placidamente no cobertor, fez um escândalo, deu toda a roupa de cama
para outra senhora, que filosoficamente comentou que não se importava tanto assim com ratos, “fazer o quê?”.
Ela comprou tudo novo, lençóis, fronhas, travesseiros, cobertor, camisola, reforçou os papelões na soleira da porta.
Teve paz por uns tempos, até que acordou de noite com um rato passeando no seu braço. Acordou todo mundo com
o barulho. O irmão descobriu que o intruso estava morando no sofá da sala, pelos excrementos, e o perseguiu por
toda a casa madrugada adentro, sem sucesso. Ela não conseguiu dormir, atenta a qualquer barulhinho.
Quando o dia clareou, veio a surpresa: o rato havia corrido para o quarto do pai dela, gerando mais um mistério: se
o bicho sabia nadar, como é que ele se afogou no conteúdo do penico? As explicações para o fato (rato exausto, urina
venenosa, remédios que o pai tomava) fizeram a família transformá-lo numa lenda semiurbana, e dar boas risadas!
6. 6 O BANDEIRANTE - Março de 2011
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Como é Belo Viver!
Evanir da Silva Carvalho
Sophia
Quando eu for embora Sônia Regina Andruskevicius de Castro
Apenas feche as portas, e não fale a ninguém
Será que alguém chora, ou só diga amém?
Sairei pelas portas dos fundos, Choramos
Pois sei que pertenço ao submundo De contentes
E a mais ninguém! Como choram
Comigo se apagarão histórias fantásticas Todos os avós
Tristezas vividas e alegrias contidas Quando a notícia chegou.
Amores secretos e promessas não cumpridas Esperamos
Acima de tudo meus passos... Pacientes
Descompassos de todas minhas vidas Como esperam
Mas jamais esquecerei o êxtase de sonhar Todos os avós
E acordar, no melhor lugar do mundo, seus braços... Que o sonho encantou.
Como foi maravilhoso viver! Até que um dia
Um santo de barba branca
Desses que andam pelo céu
De bengala
E que dão asas
Às criancinhas
Em noite de gala
A porta destranca
E diz: vai Sophia.
?
Quem é, Quem é? *
Seu ar fechado, circunspecto
De quem pensa e analisa
Faz falta nestes encontros
Festivos de nossas Pizzas
Ele é ortopedista
Um médico veterano,
Um ícone valoroso
Cujo primeiro nome é _ _ _ _ _ _!
*Resposta na edição de abril.
7. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Março de 2011 7
A Metamorfose do Abacaxi
Walter Whitton Harris
Dr. Carlos Augusto Galvão
Essa fruta tropical (Ananas comosus) é apreciada por quase todos. Diríamos Psiquiatria e Psicoterapia
à exceção daqueles que não toleram sua acidez. Existem também espécies Rua Maestro Cardim, 517
ornamentais, não comestíveis, entre as quais se destaca o abacaxi-vermelho Paraíso – Tel: 3541-2593
(Ananas bracteatus). Descascar um abacaxi é, por vezes, de execução penosa,
devido à sua casca espinhenta. Daí o termo “descascar o abacaxi”, significando
resolver um problema difícil ou desagradável. PUBLICIDADE
TABELA DE PREÇOS 2009
Lembro-me bem que, na época do curso secundário, foi construída uma (valor do anúncio por edição)
piscina em nosso colégio estadual. Desde a inauguração, não pôde ser utiliza- 1 módulo horizontal R$ 30,00
da, porque vazava. Era criticada por todos. O engenheiro responsável esteve 2 módulos horizontais R$ 60,00
3 módulos horizontais R$ 90,00
lá diversas vezes, prometendo consertá-la, e nós, moleques, íamos atrás dele, 2 módulos verticais R$ 60,00
atormentando-o com um “Veja só quem é que está chegando...”, pois achá- 4 módulos R$ 120,00
vamos inconcebível que não se conseguisse reparar os defeitos daquela obra. 6 módulos R$ 180,00
De nada adiantou. O resultado foi que permaneceu vazia durante meus sete Outros tamanhos sob consulta
anos de ginásio e científico. Apenas uma vez o diretor do colégio pagou — do josyannerita@gmail.com
próprio bolso — caminhões-pipa para encher a piscina, e passamos agradá-
veis dias quentes de verão nadando. Com o tempo, a piscina se esvaziou. O
abacaxi era tão grande que a forma que se encontrou para descascá-lo foi a
de aterrar aquela estrutura incômoda, erguendo-se, em seu lugar, uma quadra REVISÃO
poliesportiva coberta que existe lá até hoje. de textos em geral
O abacaxi tornou-se, portanto, em nosso vernáculo, símbolo das dificul- Ligia Pezzuto
dades. Quantas vezes não recorremos a essa expressão, quando nos referimos Especialista em Língua Portuguesa
a um caso complicado em nossa profissão médica? Certa ocasião, com outros (11) 3864-4494 ou 8546-1725
colegas da minha área de atuação, discutíamos um grande abacaxi (uma lesão
extensa no calcanhar, após uma fratura exposta do calcâneo, e que deixara
todo o osso descoberto e que, apesar de várias cirurgias plásticas, não se con- ROBERTO CAETANO MIRAGLIA
seguia cobrir). Pois bem, não é que, no meio daquela conversa séria, chega um ADVOGADO - OAB-SP 51.532
amigo não médico e, ouvindo-nos falar do abacaxi que tentávamos descascar, ADVOCACIA – ADMINISTRAÇÃO DE BENS
lembrara da deliciosa fruta que tinha saboreado no dia anterior, que passou NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS – LOCAÇÃO
a nos descrever. O papo mudou de rumo para plantações de abacaxis, sua COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS
origem, seus cuidados e nome científico — que eu não sabia na época — e ASSESSORIA E CONSULTORIA JURÍDICA
não falamos mais no problema abacaxizesco do paciente. TELEFONES: (11) 3277-1192 – 3207-9224
Há quem considerou liderar a SOBRAMES-SP um enorme abacaxi, pois,
ao transmitir o cargo para o novo presidente, deu-lhe um abacaxi de verda- Terminou de
de como presente! Não que me tenha sentido ofendido, mas acho que levar
adiante nossa sociedade não era tarefa tão árdua assim e consegui gerir o escrever seu
cargo sem maiores problemas. livro? Então
Prometi para mim mesmo que, finda minha gestão, procuraria um símbolo publique!
melhor para representar a transmissão do cargo. Aproveitando o ditado de
“se passar o bastão para diante”, idealizei um bastão de embuia, torneada e Nesta hora importante, não deixe de
polida que é entregue para o próximo Presidente, na cerimônia de transmissão consultar a RUMO EDITORIAL.
do cargo. Esse bastão permanece com o novo presidente durante toda a sua Publicações com qualidade impecável,
gestão, como uma lembrança e lembrete de que tem um cargo carregado de dedicação, cuidado artesanal e preço
justo. Você não tem mais desculpas
dignidade, esperança e boa-fé.
para deixar seu talento na gaveta.
Como seria bom se todo abacaxi assim pudesse transformar-se em sólida rumoeditorial@uol.com.br
madeira de lei. (11) 9182-4815
8. 8 O BANDEIRANTE - Março de 2011
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Último
Roberto Aniche
Último,
sou o último da minha espécie.
Em extinção, tenho por sol apenas
uma luz que me olha deitado, por
céu tenho paredes brancas. A liber-
dade me vem por uma janela que
por todos os modos tenta me con-
vencer a levantar e a sair por ela.
Não há mais ninguém à minha
volta, todos já se foram há muito
tempo sem deixar vestígios de suas
presenças. Ser o último me dá o pri-
vilégio de não sentir ausências. Não
há recados a deixar para ninguém;
cartas de amor e saudades não têm
sentido para os ausentes.
Há muitas coisas desapegadas
espalhadas pelos cantos e muito
mais coisas que sequer terão alguém
para compreendê-las e amá-las
como eu amei, não há e nem haverá
ninguém para sentir o prazer da conquista ou o gostinho egoísta de se julgar dono de alguma coisa.
Sobrarão muitas coisas, um par de óculos sem receita, livros pela metade que não terminarão de contar suas his-
tórias, uma caneta jogada em cima da mesa que alguém certamente irá pegar, roer a ponta e escrever um telefone ou
recado num pedaço de papel qualquer para, quem sabe, depois nem se lembrar para que serviria.
Centenas de coisas sem memória, quem irá saber o que eu mais gostava de ouvir, o que cada música significava?
A gravata ganha num destes aniversários, mantida com o mesmo nó impossível de se refazer, não servirá para nada,
além de ser amontoada com outro enorme monte de roupas. O chapéu de esquiador num país tropical se transformará
de alegre lembrança a coisa inútil.
Os retratos terão pessoas sem nome, crianças que de tão velhas e esquecidas terão suas imagens apagadas do papel
amarelado até desaparecerem sem deixar vestígio. Apenas os documentos falarão por si, como um epitáfio no fim
do espetáculo de circo: ninguém nota, ninguém quer saber, ninguém irá querer ouvir. Todos já se foram e eu sou o
último de minha espécie.
E olhando a lâmpada que tomo por sol, paredes que tomo por céu, sozinho, último. A porta não se abrirá com
um sorriso adolescente, não haverá barulho de alegria. Não preciso pôr os óculos nem vestir a gravata com o mesmo
nó de tantos anos.
A janela continua aberta e eu sinto uma felicidade imensa ao olhar através do seu espaço. Consegui me libertar
das roupas, das coisas sem memória, das fotografias em que não mais me reconheço, não preciso mais dos óculos nem
da gravata, muito menos de documentos velhos e mofados.
Saio do quarto pelo vão da janela, sorrateiramente, sem que ninguém me note, respiro fundo e ando por aí sem
qualquer pressa. Tenho todo o tempo do mundo.
Eu venci, quem se importa com isso? Meu céu é maior, meu sol é maior, fui o último da minha espécie, conquistei
o direito de recomeçar tudo de novo!