SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 6
Baixar para ler offline
Mandrágora, v.19. n. 19, 2013, p. 155-159 155
RESENHA
A violência de gênero nas religiões
afro-brasileiras
Silvia Andrade da Silveira
MENEZES, Nilza. A violência de gênero nas religiões afro-brasileiras.
João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2012. 208 p.
Nesta obra, Nilza Menezes apresenta o resultado de sua tese de
doutorado, imersão no campo religioso afro-brasileiro, principalmente
na cidade de Porto Velho, Rondônia, além de outras localidades. A
autora desenvolve uma rigorosa pesquisa e análises fundamentadas
teoricamente a partir do eixo relacional gênero – sexo, etnia e divisão
do trabalho – a fim de desvelar a ocorrência de violências simbólicas
que têm permeado e objetivado-se nessas relações sociais.
A pergunta introdutória que desencadeou a problemática aborda-
da por Menezes foi sua observação do recente e crescente aumento
de homens em lideranças religiosas em terreiros, fato que atravessou
o século 20, inversamente ao que ocorre em algumas religiões cristãs
evangélicas. Uma marca distintiva apontada frequentemente em reli-
giões de matriz afro, o sacerdócio por mulheres – observado em obras
anteriores de Edison Carneiro, Ruth Landes, Birman e Segato – estaria
agora ameaçada por uma violência de gênero nesses espaços de poder?
Nessas religiões, a generificação não se aplica somente ao plano
material, mas também ao plano espiritual – às incorporações de Exu e
Pombagira. Aí se manifestam as qualidades atribuídas a cada sexo / gê-
nero: Exu, como numen controlador, cuidador e protetor, desempenho
esperado pelo homem, masculino; Pombagira, como entidade seduto-
ra, dançarina e trabalhadora, atribuições destinadas pelo imaginário
à mulher, ao feminino. Contudo há aí uma flexibilização na possessão
ampliando a diversidade das identificações possíveis de gênero.
156 Mandrágora, v.19. n. 19, 2013, p. 155-159
A divisão do trabalho nas atividades religiosas afro-brasileiras tam-
bém é passível de análise histórica segundo as relações entre os sexos,
e, além, pode referir-se às sexualidades. A diferenciação dos usos do
lugar e do poder sagrado, a partir da divisão biológica de sexo, pode
ser percebida pela preferência entre as mulheres sacerdotisas por me-
nores espaços e número de adeptos e adeptas, em contrapartida aos
sacerdotes homens, que preferem grandes espaços e número de “filhos
e filhas de santo”.
O segundo capítulo ampara-se em pesquisa da historicidade social
e cultural, a partir do que se tem de registro sobre o início da instalação
dos cultos afro-brasileiros no século 20 na cidade de Porto Velho. POr
meio de documentação escrita e oral da história que informa acerca das
casas de candomblé, a autora faz-nos observar as tensões inscritas na
organização e no processo de sucessões das lideranças, como tais sub-
jetividades singraram nas urdiduras do tempo e configuraram-se como
autoridades religiosas, quais seja, como forças simbólicas circulantes,
supostamente matrifocais.
Na instalação das religiões afro-brasileiras na região, de início, a
direção é partilhada por um homem e uma mulher, esta à frente na
liderança do templo indo de acordo com a distinção de poder das
mulheres nas religiões de matriz afro. O foco é a fundação da primeira
casa, de tradição mina-nagô, na cidade de Porto Velho: o barracão de
Santa Bárbara.
A primeira sucessão aí já se mostra problemática: a primazia fe-
minina foi destituída pelo sucessor de Pai Irineu, Pai Albertino. Houve
inversão da ordem de liderança quando da morte do primeiro. Mãe
Esperança Rita passa de primeira a segunda pessoa da casa, em um
processo de sucessão e ruptura recheado de conflitos e intrigas. Pesam
aí tanto a questão da propriedade das terras onde se instalava o templo
quanto a intimidade sexual dos envolvidos. Aspectos pessoais de caris-
ma e laços domésticos, para além do aspecto religioso que concerne ao
axé e título, fraudaram a ordem hierárquica no título de propriedade,
inversão pouco discutida hoje, por ter sido naturalizado o discurso de
que sempre fora assim.
Historicamente, transformações econômicas e sociais ocorridas
na região, com vistas ao desenvolvimento promovido pelo governo
Mandrágora, v.19. n. 19, 2013, p. 155-159 157
federal, também influenciaram o contexto religioso de Porto Velho.
Registraram-se um “grande fluxo migratório e a vinda de sacerdotes e
sacerdotisas de outras regiões do Brasil trazendo para o lugar diversos
modelos religiosos de cultos afro-brasileiros” (MENEZES, 2012, p. 120),
que produziram um maior trânsito religioso e também uma diferencia-
ção transcultural no contexto religioso, que, entretanto, não faz parte
da pesquisa de Nilza.
Com a chegada de sacerdotes e sacerdotisas de várias tradições,
introduziu-se em suas relações a depreciação daquelas já existentes na
região absorvendo, inclusive, a violência simbólica de gênero objetivada
e naturalizada em cada tradição / denominação religiosa. Na diversida-
de de modelos religiosos e de nações, em que ocorreu, por um lado,
a tentativa do resgate de uma africanização (reafricanização) e, por
outro, a influência da pajelança e do catolicismo, ambos os processos
hibridizaram as religiões afro-brasileiras.
Verificou-se, pelos processos de fundação e de estabelecimento do
campo, uma subordinação cada vez mais intensa nos papéis desempe-
nhados pelas mulheres e uma masculinização do poder, no sentido de
que os homens passam a comandar as casas e a preceder à hierarquia
na liderança, que antes era da mulher, nos templos agregados ou re-
manescentes do terreiro de Santa Bárbara.
Mais contundente em sua análise de gênero, no quarto capítulo,
Nilza aprofunda-se nas motivações que impulsionaram esta tomada
de autoridade nos terreiros pelos homens e que contribuíram para um
branqueamento das tradições afro-brasileiras: a questão da propriedade
e a transmissão das representações sobre sexo e sexualidade, constrin-
gidas cada vez mais ao regime do patriarcado.
Aponta-se, na obra, a violência simbólica exercida principalmente
sobre as mulheres, consideradas, na pesquisa, como restritas ao trabalho
doméstico e privado, bem como “mão de obra gratuita para o serviço
religioso” (MENEZES, 2012, p. 127). Um exemplo disso são os interditos
da menstruação, que impedem atividades religiosas tanto na umbanda
quanto no candomblé. As ekedes, tão importantes para a feitura dos
rituais nas casas, publicamente são marginalizadas: na obrigação de
apresentarem-se sempre belas e exuberantes, apenas aparecem reli-
giosamente em torno do sacerdote.
158 Mandrágora, v.19. n. 19, 2013, p. 155-159
No terreiro ou em lugares públicos, a autora percebe a divisão se-
xual no trabalho religioso, que se materializa em práticas cotidianas no
terreiro. Apenas em caso de extrema necessidade, as mulheres assumem
os papeis dos homens, como, por exemplo, nos pontos e tambores, e,
quando o fazem, interiorizam estereótipos masculinizados.
Ademais, uma hierarquização vertical faz-se presente na divisão do
trabalho doméstico, mais rígido em terreiros de maior status (aqueles
mais conhecidos e mais frequentados): se a iniciada é uma novata,
essa yaô fica com o trabalho mais duro. A autora frisa que essa divisão
“é organizada obedecendo à ordem de construção dos sexos, e não à
sexualidade” (MENEZES, 2012, p. 158).
Outro ponto destacado por Menezes para a liderança das casas
ter cada vez menos mulheres em cargo é uma recusa pelos maridos,
de outras religiões, a abrigarem o templo em casa, o que reproduz as
representações de uma sociedade matrimonial1
. Nos terreiros em que
a liderança é de mulher, “foi possível observar que as sacerdotisas
estabelecidas são independentes financeiramente e, geralmente, não
possuem maridos” (MENEZES, 2012, p. 110).
Em vias de conclusão do trabalho, a autora destaca que as mulhe-
res reconhecem a legitimidade dos lugares a que são subordinadas e
restritas, bem como não impugnam nem os papeis nem a publicidade,
reservados aos homens – o que reforça a objetivação e a interiorização
da distinção, da violência e da exclusão pelas religiões afro-brasileiras.
Assim, segundo Menezes, podemos concluir que tal ancoragem permeia
o “aumento dos homens nas lideranças [...] relacionado com as repre-
sentações sociais de gênero” (MENEZES, p. 164).
Os resultados desta pesquisa são contribuições importantes tanto
para os estudos de gênero quanto para as ciências da religião. Mene-
zes mostra as tensões de gênero na tradição afro-brasileira revelando
aí uma modernização na liderança dos templos, o espaço sagrado do
1
	 A notação matrimonial aqui é utilizada em relação ao conceito de Hume sobre os papeis
sociais no casamento da sociedade europeia no século 18: “Na sociedade matrimonial,
o sexo masculino tem primazia sobre o feminino, e, por isso, é o marido quem primeiro
chama nossa atenção; e, quer o consideremos diretamente, cheguemos a ele apenas
após passar por objetos relacionados, o pensamento se detém sobre ele com maior
satisfação e chega até ele com maior facilidade que até sua consorte”. David Hume,
Tratado da natureza humana, São Paulo, Editora UNESP, 2009. p. 342.
Mandrágora, v.19. n. 19, 2013, p. 155-159 159
sacerdócio modulado, em relação ao sexo e à sexualidade reservando
cada vez mais à mulher o espaço privado. Seria uma negociação ainda
marcada pelo patriarcado que desfavorece as mulheres: o tradicionalis-
mo é aplicado à divisão de trabalho segundo o sexo biológico, enquanto
a flexibilização da sexualidade privilegia o espaço público aos homens
indicando uma transfiguração (ou desvelando?) de um lugar de poder
religioso pretensamente matriarcal, conforme retratado em diversos
estudos acerca das religiões de matriz afro-anteriores.
A prefaciadora do livro, Dilaine Soares Sampaio França, tem toda
a razão: este é mesmo um livro que “você precisa ler para saber quase
tudo sobre as religiões afro-brasileiras”. Mais um (e importante) sabor
para ser degustado nesse mundo ambivalente, surpreendente e dinâmico
que é o campo religioso de matriz afro, especialmente quando azeitado
antropofágica e modernamente à brasileira.
160 Mandrágora, v.19. n. 19, 2013, p. 155-159

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Os ataques neopentecostais às religiões afro brasileiras abert4
Os ataques neopentecostais às religiões afro brasileiras abert4Os ataques neopentecostais às religiões afro brasileiras abert4
Os ataques neopentecostais às religiões afro brasileiras abert4Rita Candeu
 
Agrissênior Notícias Nº 567 an 12 abril 2016.
Agrissênior Notícias Nº 567 an 12 abril 2016.Agrissênior Notícias Nº 567 an 12 abril 2016.
Agrissênior Notícias Nº 567 an 12 abril 2016.Roberto Rabat Chame
 
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Maio d...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Maio d...Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Maio d...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Maio d...ParoquiaDeSaoPedro
 
antonio inacio ferraz-Congregaçáo Cristã do Brasil
antonio inacio ferraz-Congregaçáo Cristã do Brasilantonio inacio ferraz-Congregaçáo Cristã do Brasil
antonio inacio ferraz-Congregaçáo Cristã do BrasilANTONIO INACIO FERRAZ
 
via-sacra-sao-josemaria-escriva-pdf
via-sacra-sao-josemaria-escriva-pdfvia-sacra-sao-josemaria-escriva-pdf
via-sacra-sao-josemaria-escriva-pdfMariGiopato
 
Desigrejados ou desviados
Desigrejados ou desviadosDesigrejados ou desviados
Desigrejados ou desviadosLuciano Vieira
 
Niilismo eclesiástico
Niilismo eclesiásticoNiilismo eclesiástico
Niilismo eclesiásticoSamuel Lima
 
Conselhos Gerais - Lição 06 - 3º Trimestre de 2015
Conselhos Gerais - Lição 06 - 3º Trimestre de 2015Conselhos Gerais - Lição 06 - 3º Trimestre de 2015
Conselhos Gerais - Lição 06 - 3º Trimestre de 2015Pr. Andre Luiz
 
Pdf 10 pastores em crise os efeitos da secularização e do neopentecostalism...
Pdf 10   pastores em crise os efeitos da secularização e do neopentecostalism...Pdf 10   pastores em crise os efeitos da secularização e do neopentecostalism...
Pdf 10 pastores em crise os efeitos da secularização e do neopentecostalism...Paulo Dias Nogueira
 
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...ParoquiaDeSaoPedro
 
Sagrada Notícias Online - 11° Edição 23/03 a 06/03 (A4)
Sagrada Notícias Online - 11° Edição 23/03 a 06/03 (A4)Sagrada Notícias Online - 11° Edição 23/03 a 06/03 (A4)
Sagrada Notícias Online - 11° Edição 23/03 a 06/03 (A4)Liliane Jornalista
 
Sebenta espiritualidade parte vii
Sebenta espiritualidade parte viiSebenta espiritualidade parte vii
Sebenta espiritualidade parte viiSandra Vale
 

Mais procurados (18)

Os ataques neopentecostais às religiões afro brasileiras abert4
Os ataques neopentecostais às religiões afro brasileiras abert4Os ataques neopentecostais às religiões afro brasileiras abert4
Os ataques neopentecostais às religiões afro brasileiras abert4
 
Agrissênior Notícias Nº 567 an 12 abril 2016.
Agrissênior Notícias Nº 567 an 12 abril 2016.Agrissênior Notícias Nº 567 an 12 abril 2016.
Agrissênior Notícias Nº 567 an 12 abril 2016.
 
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Maio d...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Maio d...Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Maio d...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Maio d...
 
antonio inacio ferraz-Congregaçáo Cristã do Brasil
antonio inacio ferraz-Congregaçáo Cristã do Brasilantonio inacio ferraz-Congregaçáo Cristã do Brasil
antonio inacio ferraz-Congregaçáo Cristã do Brasil
 
via-sacra-sao-josemaria-escriva-pdf
via-sacra-sao-josemaria-escriva-pdfvia-sacra-sao-josemaria-escriva-pdf
via-sacra-sao-josemaria-escriva-pdf
 
Desigrejados ou desviados
Desigrejados ou desviadosDesigrejados ou desviados
Desigrejados ou desviados
 
Niilismo eclesiástico
Niilismo eclesiásticoNiilismo eclesiástico
Niilismo eclesiástico
 
Parentalidade3
Parentalidade3Parentalidade3
Parentalidade3
 
Espiral 60
Espiral 60Espiral 60
Espiral 60
 
Conselhos Gerais - Lição 06 - 3º Trimestre de 2015
Conselhos Gerais - Lição 06 - 3º Trimestre de 2015Conselhos Gerais - Lição 06 - 3º Trimestre de 2015
Conselhos Gerais - Lição 06 - 3º Trimestre de 2015
 
Batistas Eslavos em Curitiba
Batistas Eslavos em CuritibaBatistas Eslavos em Curitiba
Batistas Eslavos em Curitiba
 
Pdf 10 pastores em crise os efeitos da secularização e do neopentecostalism...
Pdf 10   pastores em crise os efeitos da secularização e do neopentecostalism...Pdf 10   pastores em crise os efeitos da secularização e do neopentecostalism...
Pdf 10 pastores em crise os efeitos da secularização e do neopentecostalism...
 
Documento de Aparecida
Documento de AparecidaDocumento de Aparecida
Documento de Aparecida
 
Caderno 39_4ec2a6868e8a7
 Caderno 39_4ec2a6868e8a7 Caderno 39_4ec2a6868e8a7
Caderno 39_4ec2a6868e8a7
 
6705 34668-1-pb
6705 34668-1-pb6705 34668-1-pb
6705 34668-1-pb
 
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...
 
Sagrada Notícias Online - 11° Edição 23/03 a 06/03 (A4)
Sagrada Notícias Online - 11° Edição 23/03 a 06/03 (A4)Sagrada Notícias Online - 11° Edição 23/03 a 06/03 (A4)
Sagrada Notícias Online - 11° Edição 23/03 a 06/03 (A4)
 
Sebenta espiritualidade parte vii
Sebenta espiritualidade parte viiSebenta espiritualidade parte vii
Sebenta espiritualidade parte vii
 

Destaque

Texto violência contra a mulher
Texto violência contra a  mulherTexto violência contra a  mulher
Texto violência contra a mulherSadrak Silva
 
Roteiro violência contra a mulher
Roteiro violência contra a mulherRoteiro violência contra a mulher
Roteiro violência contra a mulherSadrak Silva
 
Feminismo e igualdade de gênero
Feminismo e igualdade de gêneroFeminismo e igualdade de gênero
Feminismo e igualdade de gêneroAlice Bianchini
 
ViolêNcias Contra Mulheres(Slides)
ViolêNcias Contra Mulheres(Slides)ViolêNcias Contra Mulheres(Slides)
ViolêNcias Contra Mulheres(Slides)guest5c2f32
 

Destaque (6)

Texto violência contra a mulher
Texto violência contra a  mulherTexto violência contra a  mulher
Texto violência contra a mulher
 
Roteiro violência contra a mulher
Roteiro violência contra a mulherRoteiro violência contra a mulher
Roteiro violência contra a mulher
 
Feminismo e igualdade de gênero
Feminismo e igualdade de gêneroFeminismo e igualdade de gênero
Feminismo e igualdade de gênero
 
Violencia contra mulher
Violencia contra mulherViolencia contra mulher
Violencia contra mulher
 
ViolêNcias Contra Mulheres(Slides)
ViolêNcias Contra Mulheres(Slides)ViolêNcias Contra Mulheres(Slides)
ViolêNcias Contra Mulheres(Slides)
 
Violência de gênero.
Violência de gênero.Violência de gênero.
Violência de gênero.
 

Semelhante a Resenha: A violência de gênero nas religiões afro-brasileiras

Entre o amem e o axe
Entre o amem e o axeEntre o amem e o axe
Entre o amem e o axeRita Candeu
 
Entre o discurso da igreja e a prática das relações conjugais percepções femi...
Entre o discurso da igreja e a prática das relações conjugais percepções femi...Entre o discurso da igreja e a prática das relações conjugais percepções femi...
Entre o discurso da igreja e a prática das relações conjugais percepções femi...UNEB
 
1307040105 arquivo artigo_izabellasantosdejesus
1307040105 arquivo artigo_izabellasantosdejesus1307040105 arquivo artigo_izabellasantosdejesus
1307040105 arquivo artigo_izabellasantosdejesusAlexandre Luna Lasprilla
 
Ser mulher no sertão os diversos esterioótipos e preconceitos que estigmatiza...
Ser mulher no sertão os diversos esterioótipos e preconceitos que estigmatiza...Ser mulher no sertão os diversos esterioótipos e preconceitos que estigmatiza...
Ser mulher no sertão os diversos esterioótipos e preconceitos que estigmatiza...UNEB
 
Uma análise do discurso midiático sobre as representações de gênero: a consag...
Uma análise do discurso midiático sobre as representações de gênero: a consag...Uma análise do discurso midiático sobre as representações de gênero: a consag...
Uma análise do discurso midiático sobre as representações de gênero: a consag...Sílvia Andrade
 
Sociologia capítulo 14
Sociologia capítulo 14Sociologia capítulo 14
Sociologia capítulo 14Dardiana Alves
 
Sociedade e vida cotidiana na américa portuguesa
Sociedade e vida cotidiana na américa portuguesaSociedade e vida cotidiana na américa portuguesa
Sociedade e vida cotidiana na américa portuguesaEdenilson Morais
 
Angela.religiões afro e contexto escolar
Angela.religiões afro e contexto escolarAngela.religiões afro e contexto escolar
Angela.religiões afro e contexto escolarAngela Santos
 
Conjugalidades, parentalidades e
Conjugalidades, parentalidades eConjugalidades, parentalidades e
Conjugalidades, parentalidades eCassia Barbosa
 
Rapto estratégia de conjugalidade e honra feminina na vila de conceição do co...
Rapto estratégia de conjugalidade e honra feminina na vila de conceição do co...Rapto estratégia de conjugalidade e honra feminina na vila de conceição do co...
Rapto estratégia de conjugalidade e honra feminina na vila de conceição do co...UNEB
 
Intolerancia religiosa em salvador da bahia
Intolerancia religiosa em salvador da bahiaIntolerancia religiosa em salvador da bahia
Intolerancia religiosa em salvador da bahiaIgor Bulhões
 
Neopentecostalismo e religiões afrobrasileiras
Neopentecostalismo e religiões afrobrasileirasNeopentecostalismo e religiões afrobrasileiras
Neopentecostalismo e religiões afrobrasileirasRita Candeu
 
A religião-e-as-religiões-africanas-no-brasil1
A religião-e-as-religiões-africanas-no-brasil1A religião-e-as-religiões-africanas-no-brasil1
A religião-e-as-religiões-africanas-no-brasil1Camila Carolina
 
Amor E Sexualidade Na Contemporaneidade A Perspectiva HomoeróTica Do Enamor...
Amor E Sexualidade Na Contemporaneidade   A Perspectiva HomoeróTica Do Enamor...Amor E Sexualidade Na Contemporaneidade   A Perspectiva HomoeróTica Do Enamor...
Amor E Sexualidade Na Contemporaneidade A Perspectiva HomoeróTica Do Enamor...Thiago de Almeida
 
A nova família e a ordem jurídica
A nova família e a ordem jurídicaA nova família e a ordem jurídica
A nova família e a ordem jurídicaHélen Scalabrin
 

Semelhante a Resenha: A violência de gênero nas religiões afro-brasileiras (20)

Abep2004 134
Abep2004 134Abep2004 134
Abep2004 134
 
Entre o amem e o axe
Entre o amem e o axeEntre o amem e o axe
Entre o amem e o axe
 
Entre o discurso da igreja e a prática das relações conjugais percepções femi...
Entre o discurso da igreja e a prática das relações conjugais percepções femi...Entre o discurso da igreja e a prática das relações conjugais percepções femi...
Entre o discurso da igreja e a prática das relações conjugais percepções femi...
 
1307040105 arquivo artigo_izabellasantosdejesus
1307040105 arquivo artigo_izabellasantosdejesus1307040105 arquivo artigo_izabellasantosdejesus
1307040105 arquivo artigo_izabellasantosdejesus
 
Ser mulher no sertão os diversos esterioótipos e preconceitos que estigmatiza...
Ser mulher no sertão os diversos esterioótipos e preconceitos que estigmatiza...Ser mulher no sertão os diversos esterioótipos e preconceitos que estigmatiza...
Ser mulher no sertão os diversos esterioótipos e preconceitos que estigmatiza...
 
Uma análise do discurso midiático sobre as representações de gênero: a consag...
Uma análise do discurso midiático sobre as representações de gênero: a consag...Uma análise do discurso midiático sobre as representações de gênero: a consag...
Uma análise do discurso midiático sobre as representações de gênero: a consag...
 
A mulher na história
A mulher na históriaA mulher na história
A mulher na história
 
Sociologia capítulo 14
Sociologia capítulo 14Sociologia capítulo 14
Sociologia capítulo 14
 
Sociedade e vida cotidiana na américa portuguesa
Sociedade e vida cotidiana na américa portuguesaSociedade e vida cotidiana na américa portuguesa
Sociedade e vida cotidiana na américa portuguesa
 
Angela.religiões afro e contexto escolar
Angela.religiões afro e contexto escolarAngela.religiões afro e contexto escolar
Angela.religiões afro e contexto escolar
 
Conjugalidades, parentalidades e
Conjugalidades, parentalidades eConjugalidades, parentalidades e
Conjugalidades, parentalidades e
 
Rapto estratégia de conjugalidade e honra feminina na vila de conceição do co...
Rapto estratégia de conjugalidade e honra feminina na vila de conceição do co...Rapto estratégia de conjugalidade e honra feminina na vila de conceição do co...
Rapto estratégia de conjugalidade e honra feminina na vila de conceição do co...
 
Nb m06t13 emdefesadafamilia
Nb m06t13 emdefesadafamiliaNb m06t13 emdefesadafamilia
Nb m06t13 emdefesadafamilia
 
Identidade
IdentidadeIdentidade
Identidade
 
Intolerancia religiosa em salvador da bahia
Intolerancia religiosa em salvador da bahiaIntolerancia religiosa em salvador da bahia
Intolerancia religiosa em salvador da bahia
 
Neopentecostalismo e religiões afrobrasileiras
Neopentecostalismo e religiões afrobrasileirasNeopentecostalismo e religiões afrobrasileiras
Neopentecostalismo e religiões afrobrasileiras
 
A religião-e-as-religiões-africanas-no-brasil1
A religião-e-as-religiões-africanas-no-brasil1A religião-e-as-religiões-africanas-no-brasil1
A religião-e-as-religiões-africanas-no-brasil1
 
Amor E Sexualidade Na Contemporaneidade A Perspectiva HomoeróTica Do Enamor...
Amor E Sexualidade Na Contemporaneidade   A Perspectiva HomoeróTica Do Enamor...Amor E Sexualidade Na Contemporaneidade   A Perspectiva HomoeróTica Do Enamor...
Amor E Sexualidade Na Contemporaneidade A Perspectiva HomoeróTica Do Enamor...
 
A nova família e a ordem jurídica
A nova família e a ordem jurídicaA nova família e a ordem jurídica
A nova família e a ordem jurídica
 
ReligiãO Identidade
ReligiãO IdentidadeReligiãO Identidade
ReligiãO Identidade
 

Último

EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAEUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAMarco Aurélio Rodrigues Dias
 
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdfTabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdfAgnaldo Fernandes
 
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxLição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxCelso Napoleon
 
Dar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealização
Dar valor ao Nada! No Caminho da AutorrealizaçãoDar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealização
Dar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealizaçãocorpusclinic
 
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingoPaulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingoPIB Penha
 
As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)natzarimdonorte
 
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos PobresOração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos PobresNilson Almeida
 
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptx
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptxLição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptx
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptxCelso Napoleon
 
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdf
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdfO Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdf
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdfmhribas
 
toaz.info-livro-a-trilha-menos-percorrida-de-m-scott-peck-compressed-pr_8b78f...
toaz.info-livro-a-trilha-menos-percorrida-de-m-scott-peck-compressed-pr_8b78f...toaz.info-livro-a-trilha-menos-percorrida-de-m-scott-peck-compressed-pr_8b78f...
toaz.info-livro-a-trilha-menos-percorrida-de-m-scott-peck-compressed-pr_8b78f...VANESSACABRALDASILVA
 
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudoSérie Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudoRicardo Azevedo
 
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...PIB Penha
 
Vivendo a vontade de Deus para adolescentes - Cleide Silva
Vivendo a vontade de Deus para adolescentes - Cleide SilvaVivendo a vontade de Deus para adolescentes - Cleide Silva
Vivendo a vontade de Deus para adolescentes - Cleide SilvaSammis Reachers
 
As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................natzarimdonorte
 

Último (16)

EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAEUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
 
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS NA VISÃO ESPÍRITA
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS  NA VISÃO ESPÍRITAVICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS  NA VISÃO ESPÍRITA
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS NA VISÃO ESPÍRITA
 
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdfTabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
 
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxLição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
 
Dar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealização
Dar valor ao Nada! No Caminho da AutorrealizaçãoDar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealização
Dar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealização
 
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingoPaulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
 
As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)
 
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos PobresOração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
 
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptx
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptxLição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptx
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptx
 
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdf
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdfO Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdf
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdf
 
toaz.info-livro-a-trilha-menos-percorrida-de-m-scott-peck-compressed-pr_8b78f...
toaz.info-livro-a-trilha-menos-percorrida-de-m-scott-peck-compressed-pr_8b78f...toaz.info-livro-a-trilha-menos-percorrida-de-m-scott-peck-compressed-pr_8b78f...
toaz.info-livro-a-trilha-menos-percorrida-de-m-scott-peck-compressed-pr_8b78f...
 
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudoSérie Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
 
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
 
Vivendo a vontade de Deus para adolescentes - Cleide Silva
Vivendo a vontade de Deus para adolescentes - Cleide SilvaVivendo a vontade de Deus para adolescentes - Cleide Silva
Vivendo a vontade de Deus para adolescentes - Cleide Silva
 
As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................
 
Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)
Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)
Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)
 

Resenha: A violência de gênero nas religiões afro-brasileiras

  • 1. Mandrágora, v.19. n. 19, 2013, p. 155-159 155 RESENHA A violência de gênero nas religiões afro-brasileiras Silvia Andrade da Silveira MENEZES, Nilza. A violência de gênero nas religiões afro-brasileiras. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2012. 208 p. Nesta obra, Nilza Menezes apresenta o resultado de sua tese de doutorado, imersão no campo religioso afro-brasileiro, principalmente na cidade de Porto Velho, Rondônia, além de outras localidades. A autora desenvolve uma rigorosa pesquisa e análises fundamentadas teoricamente a partir do eixo relacional gênero – sexo, etnia e divisão do trabalho – a fim de desvelar a ocorrência de violências simbólicas que têm permeado e objetivado-se nessas relações sociais. A pergunta introdutória que desencadeou a problemática aborda- da por Menezes foi sua observação do recente e crescente aumento de homens em lideranças religiosas em terreiros, fato que atravessou o século 20, inversamente ao que ocorre em algumas religiões cristãs evangélicas. Uma marca distintiva apontada frequentemente em reli- giões de matriz afro, o sacerdócio por mulheres – observado em obras anteriores de Edison Carneiro, Ruth Landes, Birman e Segato – estaria agora ameaçada por uma violência de gênero nesses espaços de poder? Nessas religiões, a generificação não se aplica somente ao plano material, mas também ao plano espiritual – às incorporações de Exu e Pombagira. Aí se manifestam as qualidades atribuídas a cada sexo / gê- nero: Exu, como numen controlador, cuidador e protetor, desempenho esperado pelo homem, masculino; Pombagira, como entidade seduto- ra, dançarina e trabalhadora, atribuições destinadas pelo imaginário à mulher, ao feminino. Contudo há aí uma flexibilização na possessão ampliando a diversidade das identificações possíveis de gênero.
  • 2. 156 Mandrágora, v.19. n. 19, 2013, p. 155-159 A divisão do trabalho nas atividades religiosas afro-brasileiras tam- bém é passível de análise histórica segundo as relações entre os sexos, e, além, pode referir-se às sexualidades. A diferenciação dos usos do lugar e do poder sagrado, a partir da divisão biológica de sexo, pode ser percebida pela preferência entre as mulheres sacerdotisas por me- nores espaços e número de adeptos e adeptas, em contrapartida aos sacerdotes homens, que preferem grandes espaços e número de “filhos e filhas de santo”. O segundo capítulo ampara-se em pesquisa da historicidade social e cultural, a partir do que se tem de registro sobre o início da instalação dos cultos afro-brasileiros no século 20 na cidade de Porto Velho. POr meio de documentação escrita e oral da história que informa acerca das casas de candomblé, a autora faz-nos observar as tensões inscritas na organização e no processo de sucessões das lideranças, como tais sub- jetividades singraram nas urdiduras do tempo e configuraram-se como autoridades religiosas, quais seja, como forças simbólicas circulantes, supostamente matrifocais. Na instalação das religiões afro-brasileiras na região, de início, a direção é partilhada por um homem e uma mulher, esta à frente na liderança do templo indo de acordo com a distinção de poder das mulheres nas religiões de matriz afro. O foco é a fundação da primeira casa, de tradição mina-nagô, na cidade de Porto Velho: o barracão de Santa Bárbara. A primeira sucessão aí já se mostra problemática: a primazia fe- minina foi destituída pelo sucessor de Pai Irineu, Pai Albertino. Houve inversão da ordem de liderança quando da morte do primeiro. Mãe Esperança Rita passa de primeira a segunda pessoa da casa, em um processo de sucessão e ruptura recheado de conflitos e intrigas. Pesam aí tanto a questão da propriedade das terras onde se instalava o templo quanto a intimidade sexual dos envolvidos. Aspectos pessoais de caris- ma e laços domésticos, para além do aspecto religioso que concerne ao axé e título, fraudaram a ordem hierárquica no título de propriedade, inversão pouco discutida hoje, por ter sido naturalizado o discurso de que sempre fora assim. Historicamente, transformações econômicas e sociais ocorridas na região, com vistas ao desenvolvimento promovido pelo governo
  • 3. Mandrágora, v.19. n. 19, 2013, p. 155-159 157 federal, também influenciaram o contexto religioso de Porto Velho. Registraram-se um “grande fluxo migratório e a vinda de sacerdotes e sacerdotisas de outras regiões do Brasil trazendo para o lugar diversos modelos religiosos de cultos afro-brasileiros” (MENEZES, 2012, p. 120), que produziram um maior trânsito religioso e também uma diferencia- ção transcultural no contexto religioso, que, entretanto, não faz parte da pesquisa de Nilza. Com a chegada de sacerdotes e sacerdotisas de várias tradições, introduziu-se em suas relações a depreciação daquelas já existentes na região absorvendo, inclusive, a violência simbólica de gênero objetivada e naturalizada em cada tradição / denominação religiosa. Na diversida- de de modelos religiosos e de nações, em que ocorreu, por um lado, a tentativa do resgate de uma africanização (reafricanização) e, por outro, a influência da pajelança e do catolicismo, ambos os processos hibridizaram as religiões afro-brasileiras. Verificou-se, pelos processos de fundação e de estabelecimento do campo, uma subordinação cada vez mais intensa nos papéis desempe- nhados pelas mulheres e uma masculinização do poder, no sentido de que os homens passam a comandar as casas e a preceder à hierarquia na liderança, que antes era da mulher, nos templos agregados ou re- manescentes do terreiro de Santa Bárbara. Mais contundente em sua análise de gênero, no quarto capítulo, Nilza aprofunda-se nas motivações que impulsionaram esta tomada de autoridade nos terreiros pelos homens e que contribuíram para um branqueamento das tradições afro-brasileiras: a questão da propriedade e a transmissão das representações sobre sexo e sexualidade, constrin- gidas cada vez mais ao regime do patriarcado. Aponta-se, na obra, a violência simbólica exercida principalmente sobre as mulheres, consideradas, na pesquisa, como restritas ao trabalho doméstico e privado, bem como “mão de obra gratuita para o serviço religioso” (MENEZES, 2012, p. 127). Um exemplo disso são os interditos da menstruação, que impedem atividades religiosas tanto na umbanda quanto no candomblé. As ekedes, tão importantes para a feitura dos rituais nas casas, publicamente são marginalizadas: na obrigação de apresentarem-se sempre belas e exuberantes, apenas aparecem reli- giosamente em torno do sacerdote.
  • 4. 158 Mandrágora, v.19. n. 19, 2013, p. 155-159 No terreiro ou em lugares públicos, a autora percebe a divisão se- xual no trabalho religioso, que se materializa em práticas cotidianas no terreiro. Apenas em caso de extrema necessidade, as mulheres assumem os papeis dos homens, como, por exemplo, nos pontos e tambores, e, quando o fazem, interiorizam estereótipos masculinizados. Ademais, uma hierarquização vertical faz-se presente na divisão do trabalho doméstico, mais rígido em terreiros de maior status (aqueles mais conhecidos e mais frequentados): se a iniciada é uma novata, essa yaô fica com o trabalho mais duro. A autora frisa que essa divisão “é organizada obedecendo à ordem de construção dos sexos, e não à sexualidade” (MENEZES, 2012, p. 158). Outro ponto destacado por Menezes para a liderança das casas ter cada vez menos mulheres em cargo é uma recusa pelos maridos, de outras religiões, a abrigarem o templo em casa, o que reproduz as representações de uma sociedade matrimonial1 . Nos terreiros em que a liderança é de mulher, “foi possível observar que as sacerdotisas estabelecidas são independentes financeiramente e, geralmente, não possuem maridos” (MENEZES, 2012, p. 110). Em vias de conclusão do trabalho, a autora destaca que as mulhe- res reconhecem a legitimidade dos lugares a que são subordinadas e restritas, bem como não impugnam nem os papeis nem a publicidade, reservados aos homens – o que reforça a objetivação e a interiorização da distinção, da violência e da exclusão pelas religiões afro-brasileiras. Assim, segundo Menezes, podemos concluir que tal ancoragem permeia o “aumento dos homens nas lideranças [...] relacionado com as repre- sentações sociais de gênero” (MENEZES, p. 164). Os resultados desta pesquisa são contribuições importantes tanto para os estudos de gênero quanto para as ciências da religião. Mene- zes mostra as tensões de gênero na tradição afro-brasileira revelando aí uma modernização na liderança dos templos, o espaço sagrado do 1 A notação matrimonial aqui é utilizada em relação ao conceito de Hume sobre os papeis sociais no casamento da sociedade europeia no século 18: “Na sociedade matrimonial, o sexo masculino tem primazia sobre o feminino, e, por isso, é o marido quem primeiro chama nossa atenção; e, quer o consideremos diretamente, cheguemos a ele apenas após passar por objetos relacionados, o pensamento se detém sobre ele com maior satisfação e chega até ele com maior facilidade que até sua consorte”. David Hume, Tratado da natureza humana, São Paulo, Editora UNESP, 2009. p. 342.
  • 5. Mandrágora, v.19. n. 19, 2013, p. 155-159 159 sacerdócio modulado, em relação ao sexo e à sexualidade reservando cada vez mais à mulher o espaço privado. Seria uma negociação ainda marcada pelo patriarcado que desfavorece as mulheres: o tradicionalis- mo é aplicado à divisão de trabalho segundo o sexo biológico, enquanto a flexibilização da sexualidade privilegia o espaço público aos homens indicando uma transfiguração (ou desvelando?) de um lugar de poder religioso pretensamente matriarcal, conforme retratado em diversos estudos acerca das religiões de matriz afro-anteriores. A prefaciadora do livro, Dilaine Soares Sampaio França, tem toda a razão: este é mesmo um livro que “você precisa ler para saber quase tudo sobre as religiões afro-brasileiras”. Mais um (e importante) sabor para ser degustado nesse mundo ambivalente, surpreendente e dinâmico que é o campo religioso de matriz afro, especialmente quando azeitado antropofágica e modernamente à brasileira.
  • 6. 160 Mandrágora, v.19. n. 19, 2013, p. 155-159