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O Rio Cachoeira, a 'seca úmida' tropical e o monotrilho lúdico
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O RIO CACHOEIRA, A “SECA ÚMIDA” TROPICAL
E O MONOTRILHO LÚDICO.
Luiz Ferreira da Silva
Engenheiro Agrônomo, Pesquisador (Solos) aposentado da
CEPLAC e Escritor
Vivi quase três décadas apreciando a beleza do Rio Cachoeira (Figura
1), por um lado, e preocupado pelo outro - o problema ambiental.
(Figura 1. O Rio Cachoeira embelezando Itabuna. In www.ba24horas.com.br).
A primeira coisa que salta aos nossos olhos é ele ter construído toda
Itabuna, fornecendo areias do seu leito.
Como isso é possível, sendo ele um rio rochoso, como visualizado na
figura 2?
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(Figura 2. Lavadeiras usufruindo das pedras do Rio Cachoeira. Acervo de J. Rezende).
Ora, é a indicação clara do assoreamento da sua bacia pela insensatez
da deterioração da mata ciliar. Era até lúdico a procissão de jegues carregando
areias, bem como os “areieiros” enchendo as sua canoas, registrados na figura
3. Mas ninguém enxergava.
(Figura 3. Retirada de areias oriundas do assoreamento. Acervo de J. Rezende)
Outra constatação; a alimentação hídrica pelo Rio Almada, via as águas
inservíveis das residências.
Explico: o Almada fornece a água aos Itabunenses que a esgota através
das descargas dos banheiros com os rejeitos indo diretamente para o Rio
Cachoeira.
Dessa forma, em certas ocasiões em que o Rio Almada ficava quase
seco, desnudo com suas pedras a mostra, era recarregado daquela maneira
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“by pass”, passando a ser dependente daquele. O Rio Cachoeira “afluente” do
Rio Almada?
Também, poucos se apercebiam dessa escassez de água e da poluição
hidro sanitária.
Em razão da cegueira, nada foi feito. Muitas conversas, poesias e
cânticos.
Esqueceu-se de se reconstituir as matas ciliares, de regularizar o fluxo
hídrico com pequenas barragens, de investir no esgotamento sanitário e de se
desenvolver um projeto de educação ambiental.
O problema do Rio Cachoeira se agravou com a estiagem prolongada
que vem afetando, inclusive, o cultivo do cacau.
Vale a pena discorrer sobre esta “calamidade” que vejo estampada nos
jornais locais, deixando o pessoal atordoado e os ecologistas de plantão
deitando teorias catastróficas, como se fosse um fenômeno do outro mundo e
que tal jamais tivesse acontecido na região.
Lembro-me muito bem, no início da década de 70, o Dr. Paulo Alvim
coordenando um Simpósio sobre a seca na região, com a presença de
renomados pesquisadores internacionais, como a Dra. Simpson e o Dr. Montiz,
da Inglaterra, bem como o Dr. João Ramos, pesquisador da FUNCEME, Ceará.
Durante o evento, foi feita nucleação de nuvens para fabricação de
chuvas artificiais com uma técnica desenvolvida pelo pesquisador cearense.
Isso em plena mata úmida tropical sul baiana.
Tanto hoje como naquela época, o quantitativo de chuva, considerando
uma série decenal não de ter variado tanto assim. Talvez, como no caso
presente, o problema seja de má distribuição. Seja o que for o problema é
cíclico e a região não vai virar semiárido, continuando úmida tropical.
Espero que esteja certo nesse meu vaticínio. Que me corrijam ou me
confirmem os competentes Climatologistas do CEPEC.
Reforçando essa concepção, vale a pena recorrer ao Técnico Agrícola
José Rezende, conhecedor de pé no chão do sul da Bahia, por força da sua
especialização em fotointerpretação e andanças coletando solos com os
pesquisadores da Geociência (CEPEC):
- “Quando trabalhei no Diagnostico em 1972, descobri um VILAREJO
próximo a ITABELA, como o nome de QUEIMADO. Como sempre fui curioso
com estes nomes na região e fui informado que aquela Mata Atlântica foi alvo
de várias queimadas pela seca devastadora de 1951”.
- “Aqui perto de Coaraci, a seca foi tão grande na década de 40, que o
lugarejo levou o nome de Cerqueiro Grande”.
É preciso contextualizar o hoje. Antes, a população era menor e, em
consequência, a demanda por água bem aquém da exigida presentemente, o
que agrava mais ainda a estiagem momentânea e a faz mais danosa,
sobretudo por não ter havido um planejamento hidrológico com espírito de
antevisão.
Culpa de quem? Há problemas do tempo – é claro -, mas a ação
antrópica inconsequente é prevalente!
Vale a pena se ater a outro aspecto do Rio Cachoeira, o da sua beleza
cênica. O leito de pedras, além dessa condição lúdica, proporciona uma
ictiologia favorável à produção de pitus, havendo até uma curva que recebeu o
seu nome.
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Conversando com Zé Haroldo, de saudosa memória, expôs-me uma
ideia de ligar Itabuna-Ilhéus através de um monotrilho sobre o rio. Acrescentei-
lhe que seria até fácil, pois as rochas facilitariam a implantação dos pilares, E
fomos desenvolvendo, como uma brincadeira, esta ideia que, naquela ocasião,
poderia ter um tempero de maluquice, razão pela qual a colocamos na nossa
caixa preta de sonhos.
Mas, pensem bem. Além da validade como transporte, haveria o
diferencial turístico – passeio, apreciando-se as roças de cacau com suas
barcaças secando as preciosas sementes e outros aspectos ecológicos. Então,
não parece coisa de malucos ou parece? Deixo isso com o prezado leitor.
Hoje, 24 anos fora da região fico triste com a terra que me acolheu e
plantei dois filhos Grapiúnas, ao constatar a morte do Rio Cachoeira e a
insensibilidade do poder público. (Maceió, 20 de junho de 2016).