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             N E WS 5
Abril 2010




             COORDENAÇÃO: Alberto Vieira



  Editorial                                  a aluvião e a
      Decorrido apenas o primeiro
  trimestre de 2010 e já podemos dizer       História da Madeira
  que este ficará na História. A situação
  ocorrida em 20 de Fevereiro passado
  catapultou a Madeira para a ordem do
  dia internacional e veio colocar a nos-
  sa atenção nas fragilidades do mundo
  insular face ao processo acelerado
  de aquecimento global do planeta.




                                                                                                                               1
  Neste quadro, as ilhas acabam por ser
  as mais atingidas e certamente as que
  menos contribuem para esta situação.
  Nos últimos temos, para além des-
  tas insistentes tempestades, temos
  ouvido falar da submersão de ilhas
  e do seu desaparecimento por força
  da subida das águas do mar, como
  resultado deste processo de mudança
  climática em que estamos envolvidos
  e que acontece por força da acção
  humana. Um das últimas ilhas a ser
  evacuada foi a ilha Carteret na Papua
  Nova Guiné, mas para trás já ficaram           Os acontecimentos do dia 20 de Fevereiro de 2010 em que a vertente sul
  outras e outras mais se seguirão           da Madeira, nomeadamente os concelhos do Funchal e Ribeira Brava, foi
  nos próximos anos. Aliás, fala-se na       assolada por uma grande tromba de água e aluvião, destacaram mais uma vez
  ameaça da situação para muitas ilhas       a forma sofrida como se assegura a presença humana no espaço madeirense.
  das Maldivas como do leste da Índia.       As condições orográficas da ilha fizeram com que desde o início do seu povo-
  Entretanto, a Indonésia, com mais de       amento a tarefa não fosse fácil. Ao início, o espesso nevoeiro que se avistava
  17 mil ilhas, viu o seu número ir desa-    do Porto Santo parecia uma grande esperança para o encontro de um novo
  parecendo nos últimos anos, preven-        paraíso, que se foi revelando, primeiro no leito das ribeiras e, depois, quando
  do-se até 2030 o desaparecimento de        o homem decidiu subir encosta acima, no interior. À medida que se foi reve-
  2 mil destas.                              lando o novo espaço, as dificuldades tornaram-se cada vez mais manifestas
      Para nós, porque somos ilhas de        para a sua humanização.
  maior altitude, os efeitos não são                                                                   Continua na página 2
  ainda visíveis a esse nível, mas sim
  através do rigor e força das chuvas,
  que nos últimos anos têm sido cada         Sumário                                   Testemunhos
  vez mais evidentes e que as previsões
                                             •   A Aluvião e a História da Madeira
                                                                                       sobre o Labor
  mais pessimistas apontam para um                                                     dos Madeirenses
                                             •   Testemunhos sobre o Labor dos
  cada vez maior agravamento. Desta
                                                 Madeirenses
  forma, a sobrevivência e conservação                                                 A tarefa com que se defrontaram
                                             •   Livros e Leituras
  das ilhas e dos seus povos, cultura ma-                                              os europeus desde os primórdios
                                             •   Notícias
  terial e tradições, embora não passe                                                 do século XV, no sentido de trans-
                                             •   Congressos/Colóquios
  neste quadro exclusivamente por nós,                                                 formar a terra desabitada em solo
                                             •   Ciclo de Conferências
  deve também ser construída através                                                   arável, foi definida, como epopeia
                                             •   Cooperação com a Universidade
  de políticas sustentáveis e que procu-                                               rural, por J. V Natividade (1953)
                                                 Sénior
  rem minorar estes efeitos do processo                                                e humana, por A. Lopes Oliveira
  global de aquecimento do planeta.                                                    (1969).
                                                                                                       Continua na página 4


                            Página web: http://www.madeira-edu.pt/ceha • Email: ceha@madeira-edu.pt
a aluvião
         e a História
         da Madeira

        Os vales eram escassos e as encostas inclinadas
    obrigaram o homem a conviver diariamente com o
2




    precipício. Para amenizar o declive das encostas procu-
    rou-se organizar o espaço com a construção de poios.
    Foi um verdadeiro trabalho ciclópico que ocupou mui-
    tos braços, muitos deles de origem africana e gente do
    povo que buscavam desesperadamente por uma terra
    firme para poder assentar a sua casa com alguma segu-
    rança. A tarefa e investimento de reverter este espaço
    para uma fixação humana e lançamento da agricultura
    foi quase sempre tarefa dos chamados colonos, a quem
    revertia apenas a posse das benfeitorias imprescin-
    díveis para fazer com que o espaço fosse cultivado e
    rentável com as culturas dos cereais, vinha e cana-de-     Por outro os declives permitiam um melhor aproveitamento
    açúcar. O chamado contrato de colonia, que regulou de      da força motriz. Apenas um curso de água era capaz de mover
    forma secular o processo de humanização do espaço e a      as pedras de um moinho, os eixos do engenho e a engrenagem
    sua propriedade, vai buscar a sua origem a esta situação   de uma serra de água. Na harmonização das actividades está o
    singular com que se debateram os europeus desde os         segredo do progresso económico da Madeira nos séculos XV
    primórdios da sua ocupação. Desta forma, o ilhéu, foi      e XVI.
    o autêntico cabouqueiro e jardineiro deste rincão, ocu-        Desde tempos imemoriais a água foi o motor da Histó-
    pando-se na árdua tarefa de erguer paredes e arrotear      ria. Saciou a sede dos sedentos, serviu para aproximar os ho-
    os poios, e por isso se manteve sempre alheio às suas      mens, ou para substituí-los em algumas tarefas e dar vida e
    delícias. Certamente que para ele a beleza agreste dos     riqueza aos campos. Por tudo isto, a água assume uma função
    declives, que tanto encantam ontem como hoje os vi-        vitalizadora da economia. Desta relação dominante da água
    sitantes, não passavam de mais um entrave na sua luta      chegou-se à teorização de que os grandes empreendimentos
    de humanização do lugar. Por momentos, enquanto o          hidráulicos são resultado de teocracias despóticas. Segundo
    madeirense cavava e traçava os poios, o inglês entre-      Fernand Braudel, a cultura de sequeiro identifica-se com a li-
    tinha-se nos passeios a cavalo ou em rede pelos mais       berdade e a de regadio com a escravatura. Foi isso, na verdade,
    recônditos locais da ilha.                                 que aconteceu nas ilhas, pois o Homem para dispor da água
       Aos desafios da orografia sucedem-se os da água e       de regadio amordaçou-se a si próprio. Os escravos traçaram
    dos seus cursos. A água comandou todo o processo de        as levadas e os heréus envolveram-se numa subjugação total à
    valorização sócio-económica do espaço insular. Assim,      água, alimentada, por vezes, com querelas.
    no entender dos cronistas, o insucesso da ocupação do         Na Madeira a água corria nas ribeiras, em abundância na
    Porto Santo não foi apenas fruto da praga dos coelhos,     vertente norte. No sul os caudais eram, na época estival, quase
    pois prende-se mais com a ausência de água para ali-       todos desviados para as levadas. É, na verdade, no seu leito e
    mentar as culturas de regadio e fazer accionar os en-      margens que se joga a História da Ilha. Facto significativo é
    genhos. Ao invés, na Madeira a água foi sempre abun-       o de também os principais assentamentos populacionais te-
    dante. A orografia do terreno actuava a favor e contra     rem como ponto de partida os vales traçados pelas ribeiras.
    o curso de água. Por um lado obrigava o colono a redo-     Eram os espaços de mais fácil acesso por mar, como os mais
    brado esforço na condução aos socalcos: levar a água       planos e de maior fertilidade por força das terras de aluvião.
    aos canaviais e engenho foi um processo complicado.        Ao Homem estava atribuída a dura tarefa de desviar a água


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do curso das ribeiras fazendo com que movessem engenhos,
moinhos e irrigassem os canaviais e demais culturas. Para isso,




                                                                                                                             3
traçaram kms de canais para a condução, que ficaram conhe-
cidos, na ilha, como levadas. O sistema permitiu um maior
aproveitamento dos socalcos e o alívio do homem em algumas
tarefas, como sejam, o moer do grão e da cana e o serrar das
madeiras. Moinhos, engenhos e serras convivem pacificamen-
te, usufruindo da água que corre na mesma levada. A orografia
da ilha, ao mesmo tempo que dificultava a condução da água,
favorecia o seu aproveitamento, pela força motriz atribuída
pelos declives acentuados.
    O convívio do madeirense com as ribeiras, o perigo das
suas enchentes e dos precipícios, à beira dos quais estabelecera
a sua morada, faz parte da sua cultura. Deste modo, a situação
ocorrida recentemente não é estranha, apenas o são as pro-         dos estragos materiais e vitimas humanas. Na memó-
porções da tragédia. Para uns, aquilo que aconteceu no dia 20      ria histórica madeirense estes fenómenos são definidos
de Fevereiro foi um dilúvio, outros falam em tromba de água        como aluviões, que se registam com frequência desde o
e os meteorologistas explicam o sucedido como uma situação         século XVII. As principais aluviões, com registo histó-
excepcional e imprevisível com os meios disponíveis na ilha.       rico conhecido até ao presente são as seguintes: 1611,
Mas para nós, madeirenses, estamos perante um fenómeno tí-         1689, 1724, 1765, 1772, 1786, 1803, 1815, 1848, 1856,
pico de aluvião, que lamentavelmente tem sido uma constante        1876, 1895, 1901, 1920, 1921, 1939, 1956, 1970, 1973,
no processo histórico madeirense.                                  1977, 1979, 1984, 1993, 2001, 2007, 2008, 2010. De
                                                                   entre as mais catastróficas assinalam-se as de 1803 e
    A história tem revelado diversas situações semelhantes
                                                                   a do presente ano de 2010. Na primeira, para além do
a esta e nem por isso os madeirenses cruzaram os braços ou
                                                                   cenário de destruição do Funchal, em quase todas as
abandonaram a ilha, pois que os mesmos souberam conviver
                                                                   freguesias da ilha assinalam-se cerca de um milhar de
em permanência com o abismo e o perigo, sem medos e de-
                                                                   vitimas mortais. No presente momento os prejuízos e
sânimos. Por força disso, construíram as levadas e ergueram
                                                                   a destruição foram também elevados, sendo felizmen-
os poios em cima dos precipícios. As condições definidas pelo
                                                                   te menor o número de perdas humanas. Mas hoje, por
declive acentuado pelas duas vertentes da ilha levaram a que
                                                                   felicidade, temos uma onda de solidariedade universal
os cursos de água traçassem vales profundos e em permanên-
                                                                   que permitirá que em pouco tempo tudo se recompo-
cia mostrassem às populações vizinhas a sua força. Desde os
                                                                   nha. No século XIX, a situação era completamente di-
primórdios da ocupação da ilha que as chuvas intensas provo-
                                                                   ferente e não foi fácil à ilha recuperar do susto e dos
cam derrocadas e preenchem a quase totalidade dos leitos das
                                                                   danos. Um dos projectos mais arrojados para a época,
ribeiras que traçaram, onde o Homem procurava usufruir do
                                                                   da responsabilidade do Brigadeiro Reinaldo Oudinot,
espaço para a habitação como para a agricultura, aproveitando
                                                                   que incluía a mudança da cidade para uma área alta
a riqueza das terras de aluvião. Nem sempre este convívio foi
                                                                   daquilo que é hoje o Parque de Santa Catarina, per-
e continua a ser fácil, pois de quando em vez a ribeira reclama
                                                                   mitiu a canalização das três ribeiras da cidade, factor
do espaço e surgem as enchentes e destruições de casas e cam-
                                                                   preponderante na segurança da cidade que perdurou
pos agrícolas. Os registos historiográficos assinalam diversas
                                                                   em alguns troços até aos dias de hoje.
enchentes nas povoações assentes nos leitos ou proximidades
das ribeiras e inúmeras derrocadas, quase sempre com eleva-                                       Alberto Vieira /02/2010


                            Página web: http://www.madeira-edu.pt/ceha • Email: ceha@madeira-edu.pt
Testemunhos sobre
Testemunhos




              o labor dos Madeirenses
4




                 O testemunho e apreço por este labor que              em leivas ubérrimas, travando a marcha vertiginosa das
              se arrasta ao longo dos cinco séculos de His-            vertentes, afogando à boca dos abismos o pendor das que-
              tória foi sendo reconhecido pelas autoridades,           bradas, emparedando o mar para lhe roubar para o cultivo
              mas foi na centúria oitocentista, quando as di-          uns escassos metros de terra, cavando na montanha essa
              ficuldades mais apertavam que mais se levantou           maravilhosa teia de túneis e levadas que conduzem das
              este clamor e reconhecimento pelo obreirismo             mais remotas e escuras profundezas as águas milagrosas,
              dos subordinados.                                        que alimentam a fartura e a alegria da ilha.
                 O permanente convívio e enfrentamento das                 (...) Há lá no mundo maior exemplo de trabalho, de
              forças da natureza foi testemunhado e descrito           esforçada luta contra uma natureza que nem por ser en-
              por inúmeros visitantes, técnicos, escritores e          feitada e linda deixa de ser hostil ?
              autoridades nas suas memórias descritivas. De                Mas, de entre todos o mais elucidativo e poético
              entre esta inúmera literatura, que seria exaus-          foi escrito na década de cinquenta do século XX por
              tivo aqui reproduzir, apenas destacamos os três          um engenheiro silvicultor, Joaquim Vieira Natividade
              testemunhos que se seguem.                               (1899-1968), que em Madeira - a epopeia rural (Fun-
                 No fervor do combate político do primeiro             chal, 1954, pp. 39/40) é peremptório em afirmar: E o
              quartel do século XX, dominado pela ideia de             vilão ataca e tritura a rocha para a transformar em solo
              autonomia, temos o testemunho de Manuel                  agrícola; geme sob o peso de enormes pedras para construir
              Pestana Reis (Em louvor do Povo e da Terra”, in          um socalco; marinha pelas falésias para conquistar um
              Correio da Madeira, 23.03.1922): O madeirense,           palmo de terra, mesquinha gleba, pouco maior por vezes
              salvo raríssimas excepções circunscritas à atmosfera     do que um ninho de águias alcandorando no pendor de
              contaminada da cidade, é um prodígio de tenacida-        uma fraga. Antes de ser agricultor, é cabouqueiro e arqui-
              de na economia e aproveitamento das suas forças,         tecto. Labuta de sol a sol e transforma o seu horto, a sua
              demonstrada na labuta diária da luta pela vida           courela, num jardim. Onde a água corre, o agricultor he-
              por essa cega submissão aos mais rudes deveres e         róico e operoso faz milagres; a levada empurra-o e ele em-
              misteres. Industrioso persistente, frugalíssimo (…)      purra a levada. Novos poios se sobrepõem a outros poios, e
                 Dá vontade de ajoelhar diante destes peque-           assim esse trabalhador humilde, além de transportar sobre
              ninos deuses ciclópicos que rasgaram a rocha, es-        os ombros o peso da sua cruz, constrói nos degraus da mon-
              migalhando-a, triturando-a, para a transformar           tanha o seu próprio calvário. É a Madeira sobrepovoada
                                                                       que luta heroicamente para viver.

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Este vilão madeirense, de torso hercúleo, máscara rude e
austera, personificação da paisagem, figura de painel qui-




                                                                                                                        Testemunhos
nhentista; o homem que cinzela montanhas, escala abismos
e amansa torrentes, é uma figura estranha. Não se deixou
vencer pelas seduções traiçoeiras do clima desta antessala
dos trópicos que despertam em nós, lusíadas indolentes, so-
nhadores e sensuais, o horror ao esforço paciente e metódico.
A meus olhos, o vilão é um português que teve a coragem
de partir a guitarra, aquela guitarra que todos nós traze-
mos na alma e no coração a consolar-nos, com seus acordes




                                                                                                                        5
de plangente fatalismo, dos desencantos e dos fracassos da de flores: anseio de beleza, doçura, suavidade, após
vida.                                                         uma tarefa rude e magnífica, num cenário ciclópi-
    O panegírico continua noutro texto ( J. V. Nativida- co... Em nenhuma outra parte do mundo se põe ao
de, Fomento da Fruticultura na Madeira, Funchal, 1947, serviço da agricultura maior soma de trabalho hu-
pp. 15/7, cit. E. Pereira, Ilhas de Zargo, vol. I, 438/439): mano por unidade de superfície... Talvez por isso,
Em escassas centenas de anos o vilão madeirense ergueu ninguém votará mais fundo amor à terra do que
com tão pobres materiais um dos mais extraordinários edi- o vilão madeirense e por amor dela mais se sacri-
fícios agrícolas do mundo e escreveu, com o seu sangue, o fique e padeça... Se atendermos a que grande parte
seu suor e as suas lágrimas uma grande epopeia. Atacou a do solo madeirense é explorado sob o contrato de co-
rocha para obter terra, transportou-a depois sobre o dorso, lonia, pelo qual o colono entrega ao senhor da terra
por caminhos inverosímeis; lapidou amorosamente a mon- o demídio das colheitas, compreende-se que o agri-
tanha, o serro, as escarpas, os espinhadeiros, como se tra- cultor para viver obrigue essa terra a fazer prodí-
balhasse minúsculos diamantes, não raro debruçado sobre gios e tenha, na intensificação cultural, a sua única
abismos e com risco permanente da própria vida; ergueu defesa. Por isso o vilão, o homem que faz milagres,
poios sobre poios para segurar esses punhados de terra, e o lapidador de montanhas, o feiticeiro da água, que
fertilizou-a por fim, conquistando e dominando o fio de trabalha vida inteira como um animal de carga e
água misteriosamente nascido através de caprichosos e de vive pobremente e no maior desconforto, ao erguer
acidentadíssimos percursos. Nas encostas, agora suaviza- os socalcos gigantescos de degraus na vertente das
das pelo trabalho de inumeráveis gerações e com gigantescos serranias, construiu afinal o seu próprio calvário.
anfiteatros sempre verdejantes esfolha-se o casario. Junto a Mais do que pela água, a Madeira é regada pelo
cada casa, a parreira, um canteiro ou um modesto alegrete suor do vilão.
                                                                  E como nos diz o madeirense, Eduardo Pe-
                                                               reira (Ilhas de Zargo, vol. I, p. 438), no seu enci-
                                                               clopédico volume sobre o arquipélago: O homem
                                                               subiu de picareta na mão, quase de joelhos as ver-
                                                               tentes a lutar a ferro e fogo com as rochas, desbas-
                                                               tando acidentes e armando pedras soltas em socalcos
                                                               ou tabuleiros para deles fazer searas e jardins; subiu
                                                               até onde pode abrir caminho de pé-posto ou condu-
                                                               zir um fio de água de irrigação.


                                                                                            Alberto Vieira/02/2010




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Livros e Leituras




                        Oceans of Wine. Madeira and the

                    Emergence of American Trade and Taste

                                                                      Este estudo, produto de cerca de 17 anos de in-
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                                                                   vestigação, constitui um contributo deveras relevante,
                                                                   não só para a História do Vinho da Madeira, mas
                                                                   também para a História do Atlântico, sobretudo du-
                                                                   rante o século XVIII. O autor assumiu o desafio de
                                                                   reconstituir uma cadeia ou rede que pudesse ilumi-
                                                                   nar a integração e articulação imperiais e oceânicas na
                                                                   Época Moderna, surpreendendo a emergência de um
                                                                   mercado transoceânico do qual participavam vários
                                                                   impérios atlânticos. O Vinho da Madeira é, assim, o
                                                                   agente escolhido para estudar, à laia de contributo, as
                                                                   redes comerciais, e não só, que tiveram por palco o
                                                                   Oceano Atlântico.
                                                                      Escorado em fontes bastas e diversificadas, das
                                                                   quais destacaríamos arquivos e fundos documentais
                                                                   empresariais, mormente na Madeira e nos Estados
                                                                   Unidos da América, este trabalho encontra-se divi-
                                                                   dido em três partes (além de necessárias considerações
                                                                   introdutórias e conclusivas), que delineiam o percurso
                                                                   do vinho, desde o cultivo da vinha, até à mesa do con-
                     HANCOCK, David, 2009, Oceans of               sumidor. Assim, a Parte I lida com a feitura do vinho
                     Wine. Madeira and the Emergence of            («Making Wine»); na Parte II são observados os me-
                     American Trade and Taste, The Lewis           andros em torno das trocas («Shipping and Trading
                     Walpole Series in Eighteenth-Century          Wine»); na última parte é o consumo que constitui
                     Culture and History, New Haven &              objecto de análise («Consuming Wine»).
                     London, Yale University Press.                   No n.º 2 do Anuário do Centro de Estudos de História
                                                                   do Atlântico, referente ao ano corrente, serão incluídas
                                                                   Notas de Leitura sobre esta importante monografia.




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Eventos
      Congressos/Colóquios




                                                                                                                   7
              RepRogRamação
               de actividades
   Na sequência dos acontecimentos de 20 de Fevereiro e
da elevada adesão que o Congresso Mundial “As Ilhas do
Mundo e o Mundo das Ilhas” mereceu de investigadores
de todo o mundo, decidiu-se reprogramar as actividades,
realizando-se no presente ano apenas os painéis temáti-
cos/mesas-redondas, dedicados às INSULARIDADES e
a NÓS E OS OUTROS: ESCRITAS E CORRESPON-
DÊNCIAS, ficando para o próximo ano de 2011, na semana
de 6 a 11 de Junho a parte dedicada aos painéis temáticos,
aos quais teremos oportunidade de adicionar outros e alar-                 CONGRESSO
gar a participação nos já estabelecidos, que são:

                                                                           ”As Ilhas do Mundo e o Mun-
 •	 Turismo Sustentável nas Ilhas no Século XXI;
                                                                           do das Ilhas”
 •	 Transnacionalismos Insulares;
 •	 Ilhas e Continentes: As Ilhas no espaço do Império
      Português no século XVI;                                             De 26 a 30 de Julho o CEHA organiza
                                                                           o primeiro Congresso sobre Histó-
 •	   CEHA. 25 anos: a missão do CEHA no presente e                        ria das Ilhas subordinado ao tema:
      no futuro. Uma reflexão e debate sobre os últimos 25                 ”As Ilhas do Mundo e o Mundo das
      anos dos Estudos Insulares como forma de perspec-                    Ilhas”., constando a programação
      tivar o futuro.                                                      das actividades de conferências,
                                                                           comunicações e mesas-redondas.
 A estes adicionar-se-ão outros dois sobre:                                Para além disso decidiu-se integrar o
 •	 Nacionalismos Insulares;                                               projecto e Seminário Internacional:
                                                                           “Mobilidades Humanas na História
 •	 Economias Insulares.                                                   e Literatura”, realizando-se a sessão
                                                                           de trabalhos no dia 28 de Julho no
   Entretanto, o Seminário República e a Madeira                           Auditório do Centro Cultural John
(1880-1926), programado para os dias 26 a 30 de Outubro                    dos Passos, tendo como tema: NÓS
mantém-se com a programação já estabelecida.                               E OS OUTROS: ESCRITAS E CORRES-
                                                                           PONDÊNCIAS. Mais informação na
                                                                           página do projecto.


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ciclo de confeRências
Eventos




              O CEHA preparou para o ano de 2010 um ciclo
          de conferências que decorrem com alguma periodi-
          cidade: todas as quartas-feiras às 18 horas. Por força
          dos acontecimentos de 20 Fevereiro decidimos inter-
          romper as actividades no decurso do mês de Março,
          mas já reiniciamos estas actividades a 29 de Março
          com a conferência do Prof. Manuel de Morais sobre
          o Machete na Madeira, enquadrado num ciclo de
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          conferências preparado pelo Gabinete Coordenador             - 12/05 - Maria Teresa Nascimento (UMa)
          de Educação Artística (http://dre.madeira-edu.pt/               CONFERÊNCIA: A obra poética de Joaquim Pestana
          gcea ou www.gcea.pt).
              O programa deste ciclo de conferências para o            - 19/05 - Eduarda Gomes Petit (Prof.ª Ensino Básico e
          corrente ano está já disponível no nosso site (http://          Secundário)
          www.madeira-edu.pt/edificio/Auditorio/tabid/1796/               CONVERSAS EM TORNO DO LIVRO: O Conven-
          language/pt-PT/Default.aspx). Informa-se que, tri-              to da Encarnação do Funchal (Tese de mestrado publica-
          mestralmente, serão feitos os necessários ajustamen-            da pelo CEHA)
          tos, mas o programa para o segundo trimestre já está
          confirmado.                                                  - 26/05 - José Luís de Sousa (CEHA)
              A situação decorrente da aluvião de 20 de Feverei-       CONFERÊNCIA: História do Porto do Funchal
          ro obrigou a uma reprogramação destas conferências
          pelo     que apresentamos aqui as que decorrerão no
          próximo trimestre(Abril/Junho):                              - 31/05 - Rodolfo Cró (Gabinete Coordenador de Educa-
                                                                          ção Artística)
                                                                          CONFERÊNCIA: Dos Violinos para os Bandolins
            07/04 - Gabriel Pita (CEHA)
               CONVERSAS EM TORNO DO LIVRO: A
               Igreja Católica e o nacionalismo português do Esta-     - 02/06 - José Jesus (UMa)
               do Novo. A revista Lumen 1937-1945                         CONFERÊNCIA: Particularidades dos Ecossistemas
                                                                          Insulares

            -14/04 - Raimundo Quintal
               CONFERÊNCIA: A Importância dos Jardins                  - 09/06 - Ana Madalena Trigo de Sousa (CEHA)
               como Nicho Turístico na Madeira                            CONVERSAS EM TORNO DO LIVRO: O Exer-
                                                                          cício do Poder Municipal na Madeira e Porto Santo na
                                                                          Época Pombalina e Post-Pombalina (Trabalho de provas
            - 21/04 - Luísa Marinho (UMa)                                 para Investigador-Auxiliar publicado pelo CEHA)
               CONVERSAS EM TORNO DO LIVRO: O
               Romance Histórico e José de Alencar. Contribuição
               para o Estudo da Lusofonia (Tese de doutora-            - 16/06 - Dina Jardim (Prof.ª Ensino Básico e Secundário)
               mento publicada pelo CEHA)                                 CONVERSAS EM TORNO DO LIVRO: A Santa
                                                                          Casa da Misericórdia do Funchal no Século XVIII (Tese
                                                                          de mestrado publicada pelo CEHA)
            - 28/04 - Fátima Barros (Directora do Arquivo
               Regional da Madeira)
               CONFERÊNCIA: O Arquivo Regional da Ma-                  - 23/06 - Ana Maria Kauppila (CEHA)
               deira e a preservação e divulgação da documentação         CONFERÊNCIA: Políticas de Educação e Cultura da
                                                                          União Europeia: Um Olhar Insular

            - 05/05 - Paulo Rodrigues (UMa)
               CONVERSAS EM TORNO DO LIVRO:                            - 30/06 - Naidea Nunes (UMa)
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               e influência britânica (Tese de doutoramento               Doces (Tese de doutoramento publicada pelo CEHA)
               publicada por Funchal, 500 Anos)

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               ACORDO DE COLABORAÇÃO



           coopeRação com a
          UniveRsidade sénioR

   O Centro de Estudos de História do Atlântico, através
do seu Presidente, Professor Alberto Vieira e a Câmara
Municipal do Funchal, através da Vereadora com o pe-
louro da Educação, Dra. Rubina Leal tornam público um
Acordo de Colaboração entre as duas Instituições. Assim,
a partir de Segunda-feira, dia 29.03.2010, as iniciativas
culturais do CEHA - conferências, colóquios, simpósios -                   INTERNET
passam a fazer parte dos curricula da Universidade Sénior
sendo este público privilegiada audiência dessas iniciati-
vas.

A primeira iniciativa, que marcou o início deste acordo e                  No decurso do presente ano o CEHA
que contou com a honrosa presença da Ex. Sra. Dra. Rubi-                   pretende valorizar ainda mais a uti-
na Leal, ocorreu com a Conferência do Dr. Manuel Morais,                   lização da Internet como poderoso
que teve lugar na segunda-feira, dia 29 de Março, pelas                    veículo de divulgação das suas activi-
18h00, na sede do CEHA, Rua das Mercês, n.º 8.                             dades e de apoio à investigação. Des-
A Câmara Municipal do Funchal apoiará, igualmente,                         ta forma para além da página web
iniciativas culturais deste Centro, sendo que o próximo                    (www.madeira-edu.pt/ceha) que bre-
“Congresso das Ilhas do Mundo” contará com esse apoio                      vemente será renovada, temos o blo-
directo. As nossas actividades passam, a partir de agora,                  gue (http://cehablog.blogspot.com/)
a ser publicitadas no sítio (web) da Câmara Municipal do                   e ainda passamos a estar no Twitter
Funchal (www.cm-Funchal.pt) .                                              (http://twitter.com/CEHAtlantico ) e
    Novos modos de colaboração estão em estudo. Estes                      no Facebook (http://pt-pt.facebook.
são, sem dúvida, passos deveras importantes no sentido                     com/people/Ceha-H istoria-Do -
de uma nova era para o CEHA que abraça estes desa-                         Atlantico/100000892818008); com
fios pugnando pelo mesmo rigor científico de sempre,                       isto pretendemos associar um maior
procurando servir a comunidade científica e o público,                     leque de interessados às nossas ini-
em geral, como Instituição de Utilidade Pública que se                     ciativas.
orgulha de ser.



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O QUE SE DISSE
                                                  SOBRE AS ILHAS


                                                      Há milhares e milhares de ilhas - e quase se pode dizer que todas
ÚLTIMA




                                                  são diferentes.
                                                      Há ilhas grandes e pequenas; ilhas próximas dos continentes e
                                                  ilhas remotas; ilhas montanhosas e ilhas planas; ilhas geladas e ilhas
                                                  tórridas; ilhas de vegetação luxuriante e ilhas onde não cresce uma
                                                  árvore; ilhas que são vulcões e ilhas que são corais; ilhas que são formi-
                                                  gueiros de gente e ilhas desertas; ilhas desenvolvidas e ilhas atrasadas.
                                                      (…)
10




                                                      A ilha atrai e repele: ao mesmo tempo, apaixona e mete medo: tem
                                                  mistério!
                                                      (…)
                                                      Esta é a hora das ilhas! Há um despertar dos povos insulares !
                                                      (…)
                                                      Sem ódio, sem revolta, em fraterno espírito de paz, lancemos um
                                                  brado novo: - Insulares de todo o Mundo, uni-vos!

                                                                                          (AMARAL, João Bosco Mota1, 1990:
                                                                     O Desafio Insular, Ponta Delgada, Signo, pp. 25-26, 45, 72 )




                                                      Ao longo da História, as ilhas foram menosprezadas e cobiçadas.
                                                  Depois da Segunda Guerra Mundial, a emergência dos Estados in-
                                                  sulares no concerto das nações, a Convenção sobre os Direitos do Mar,
                                                  a definição da Zona Económica Exclusiva (ZEE) e o incremento do
                                                  turismo provocaram mudanças de tal ordem na percepção da insulari-
                                                  dade que, em certos meios leigos e eruditos passou-se a falar dos “mares
                                                  das ilhas”, do “milénio dos ilhéus” e mesmo da Nissologia “ciência do
                                                  mundo insular.
                                                      A experiência das ilhas atlânticas (Islândia, Açores, Madeira e
                                                  Canárias) corrobora a tese nissológica dos modos e regras específicas de
                                                  apreender, explicar e encarar a realidade insular e, por isso, o carácter
         Governo Regional                         indispensável de certa capacidade instalada nos domínios da ciência
                                                  e da tecnologia.
         da Madeira
                                                             (TOLENTINO, André Corsino, 2007, Universidade e transformação
         Secretaria Regional                                    social nos pequenos estados em desenvolvimento: o caso de Cabo Verde,
         da Educação e Cultura                                                            Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian)

         Centro de Estudos de
         História do Atlântico
         Rua das Mercês, 8
         9000-224 Funchal
         Telef.
         (+351) 291 214 970                       1 João Bosco Soares da Mota Amaral (Ponta Delgada, 15 de Abril de 1943)
                                                  é um político nascido numa ilha, S. Miguel/Açores. Foi deputado à Assem-
         Fax                                      bleia Nacional (pela União Nacional) nos anos finais do Estado Novo, com o
                                                  estabelecimento das ilhas portuguesas, por força das transformações politicas
         (+351) 291 223 002                       resultantes dos acontecimentos de 25 de Abril de 1974,exerceu as funções
                                                  de presidente do Governo Regional dos Açores (1976-1995), foi deputado à
                                                  Assembleia da República e Presidente da Assembleia da República.



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Capítulo 03 Os primeiros habitantes do Brasil 2
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A história da Madeira revelada pelas águas

  • 1. letter N E WS 5 Abril 2010 COORDENAÇÃO: Alberto Vieira Editorial a aluvião e a Decorrido apenas o primeiro trimestre de 2010 e já podemos dizer História da Madeira que este ficará na História. A situação ocorrida em 20 de Fevereiro passado catapultou a Madeira para a ordem do dia internacional e veio colocar a nos- sa atenção nas fragilidades do mundo insular face ao processo acelerado de aquecimento global do planeta. 1 Neste quadro, as ilhas acabam por ser as mais atingidas e certamente as que menos contribuem para esta situação. Nos últimos temos, para além des- tas insistentes tempestades, temos ouvido falar da submersão de ilhas e do seu desaparecimento por força da subida das águas do mar, como resultado deste processo de mudança climática em que estamos envolvidos e que acontece por força da acção humana. Um das últimas ilhas a ser evacuada foi a ilha Carteret na Papua Nova Guiné, mas para trás já ficaram Os acontecimentos do dia 20 de Fevereiro de 2010 em que a vertente sul outras e outras mais se seguirão da Madeira, nomeadamente os concelhos do Funchal e Ribeira Brava, foi nos próximos anos. Aliás, fala-se na assolada por uma grande tromba de água e aluvião, destacaram mais uma vez ameaça da situação para muitas ilhas a forma sofrida como se assegura a presença humana no espaço madeirense. das Maldivas como do leste da Índia. As condições orográficas da ilha fizeram com que desde o início do seu povo- Entretanto, a Indonésia, com mais de amento a tarefa não fosse fácil. Ao início, o espesso nevoeiro que se avistava 17 mil ilhas, viu o seu número ir desa- do Porto Santo parecia uma grande esperança para o encontro de um novo parecendo nos últimos anos, preven- paraíso, que se foi revelando, primeiro no leito das ribeiras e, depois, quando do-se até 2030 o desaparecimento de o homem decidiu subir encosta acima, no interior. À medida que se foi reve- 2 mil destas. lando o novo espaço, as dificuldades tornaram-se cada vez mais manifestas Para nós, porque somos ilhas de para a sua humanização. maior altitude, os efeitos não são Continua na página 2 ainda visíveis a esse nível, mas sim através do rigor e força das chuvas, que nos últimos anos têm sido cada Sumário Testemunhos vez mais evidentes e que as previsões • A Aluvião e a História da Madeira sobre o Labor mais pessimistas apontam para um dos Madeirenses • Testemunhos sobre o Labor dos cada vez maior agravamento. Desta Madeirenses forma, a sobrevivência e conservação A tarefa com que se defrontaram • Livros e Leituras das ilhas e dos seus povos, cultura ma- os europeus desde os primórdios • Notícias terial e tradições, embora não passe do século XV, no sentido de trans- • Congressos/Colóquios neste quadro exclusivamente por nós, formar a terra desabitada em solo • Ciclo de Conferências deve também ser construída através arável, foi definida, como epopeia • Cooperação com a Universidade de políticas sustentáveis e que procu- rural, por J. V Natividade (1953) Sénior rem minorar estes efeitos do processo e humana, por A. Lopes Oliveira global de aquecimento do planeta. (1969). Continua na página 4 Página web: http://www.madeira-edu.pt/ceha • Email: ceha@madeira-edu.pt
  • 2. a aluvião e a História da Madeira Os vales eram escassos e as encostas inclinadas obrigaram o homem a conviver diariamente com o 2 precipício. Para amenizar o declive das encostas procu- rou-se organizar o espaço com a construção de poios. Foi um verdadeiro trabalho ciclópico que ocupou mui- tos braços, muitos deles de origem africana e gente do povo que buscavam desesperadamente por uma terra firme para poder assentar a sua casa com alguma segu- rança. A tarefa e investimento de reverter este espaço para uma fixação humana e lançamento da agricultura foi quase sempre tarefa dos chamados colonos, a quem revertia apenas a posse das benfeitorias imprescin- díveis para fazer com que o espaço fosse cultivado e rentável com as culturas dos cereais, vinha e cana-de- Por outro os declives permitiam um melhor aproveitamento açúcar. O chamado contrato de colonia, que regulou de da força motriz. Apenas um curso de água era capaz de mover forma secular o processo de humanização do espaço e a as pedras de um moinho, os eixos do engenho e a engrenagem sua propriedade, vai buscar a sua origem a esta situação de uma serra de água. Na harmonização das actividades está o singular com que se debateram os europeus desde os segredo do progresso económico da Madeira nos séculos XV primórdios da sua ocupação. Desta forma, o ilhéu, foi e XVI. o autêntico cabouqueiro e jardineiro deste rincão, ocu- Desde tempos imemoriais a água foi o motor da Histó- pando-se na árdua tarefa de erguer paredes e arrotear ria. Saciou a sede dos sedentos, serviu para aproximar os ho- os poios, e por isso se manteve sempre alheio às suas mens, ou para substituí-los em algumas tarefas e dar vida e delícias. Certamente que para ele a beleza agreste dos riqueza aos campos. Por tudo isto, a água assume uma função declives, que tanto encantam ontem como hoje os vi- vitalizadora da economia. Desta relação dominante da água sitantes, não passavam de mais um entrave na sua luta chegou-se à teorização de que os grandes empreendimentos de humanização do lugar. Por momentos, enquanto o hidráulicos são resultado de teocracias despóticas. Segundo madeirense cavava e traçava os poios, o inglês entre- Fernand Braudel, a cultura de sequeiro identifica-se com a li- tinha-se nos passeios a cavalo ou em rede pelos mais berdade e a de regadio com a escravatura. Foi isso, na verdade, recônditos locais da ilha. que aconteceu nas ilhas, pois o Homem para dispor da água Aos desafios da orografia sucedem-se os da água e de regadio amordaçou-se a si próprio. Os escravos traçaram dos seus cursos. A água comandou todo o processo de as levadas e os heréus envolveram-se numa subjugação total à valorização sócio-económica do espaço insular. Assim, água, alimentada, por vezes, com querelas. no entender dos cronistas, o insucesso da ocupação do Na Madeira a água corria nas ribeiras, em abundância na Porto Santo não foi apenas fruto da praga dos coelhos, vertente norte. No sul os caudais eram, na época estival, quase pois prende-se mais com a ausência de água para ali- todos desviados para as levadas. É, na verdade, no seu leito e mentar as culturas de regadio e fazer accionar os en- margens que se joga a História da Ilha. Facto significativo é genhos. Ao invés, na Madeira a água foi sempre abun- o de também os principais assentamentos populacionais te- dante. A orografia do terreno actuava a favor e contra rem como ponto de partida os vales traçados pelas ribeiras. o curso de água. Por um lado obrigava o colono a redo- Eram os espaços de mais fácil acesso por mar, como os mais brado esforço na condução aos socalcos: levar a água planos e de maior fertilidade por força das terras de aluvião. aos canaviais e engenho foi um processo complicado. Ao Homem estava atribuída a dura tarefa de desviar a água Página web: http://www.madeira-edu.pt/ceha • Email: ceha@madeira-edu.pt
  • 3. do curso das ribeiras fazendo com que movessem engenhos, moinhos e irrigassem os canaviais e demais culturas. Para isso, 3 traçaram kms de canais para a condução, que ficaram conhe- cidos, na ilha, como levadas. O sistema permitiu um maior aproveitamento dos socalcos e o alívio do homem em algumas tarefas, como sejam, o moer do grão e da cana e o serrar das madeiras. Moinhos, engenhos e serras convivem pacificamen- te, usufruindo da água que corre na mesma levada. A orografia da ilha, ao mesmo tempo que dificultava a condução da água, favorecia o seu aproveitamento, pela força motriz atribuída pelos declives acentuados. O convívio do madeirense com as ribeiras, o perigo das suas enchentes e dos precipícios, à beira dos quais estabelecera a sua morada, faz parte da sua cultura. Deste modo, a situação ocorrida recentemente não é estranha, apenas o são as pro- dos estragos materiais e vitimas humanas. Na memó- porções da tragédia. Para uns, aquilo que aconteceu no dia 20 ria histórica madeirense estes fenómenos são definidos de Fevereiro foi um dilúvio, outros falam em tromba de água como aluviões, que se registam com frequência desde o e os meteorologistas explicam o sucedido como uma situação século XVII. As principais aluviões, com registo histó- excepcional e imprevisível com os meios disponíveis na ilha. rico conhecido até ao presente são as seguintes: 1611, Mas para nós, madeirenses, estamos perante um fenómeno tí- 1689, 1724, 1765, 1772, 1786, 1803, 1815, 1848, 1856, pico de aluvião, que lamentavelmente tem sido uma constante 1876, 1895, 1901, 1920, 1921, 1939, 1956, 1970, 1973, no processo histórico madeirense. 1977, 1979, 1984, 1993, 2001, 2007, 2008, 2010. De entre as mais catastróficas assinalam-se as de 1803 e A história tem revelado diversas situações semelhantes a do presente ano de 2010. Na primeira, para além do a esta e nem por isso os madeirenses cruzaram os braços ou cenário de destruição do Funchal, em quase todas as abandonaram a ilha, pois que os mesmos souberam conviver freguesias da ilha assinalam-se cerca de um milhar de em permanência com o abismo e o perigo, sem medos e de- vitimas mortais. No presente momento os prejuízos e sânimos. Por força disso, construíram as levadas e ergueram a destruição foram também elevados, sendo felizmen- os poios em cima dos precipícios. As condições definidas pelo te menor o número de perdas humanas. Mas hoje, por declive acentuado pelas duas vertentes da ilha levaram a que felicidade, temos uma onda de solidariedade universal os cursos de água traçassem vales profundos e em permanên- que permitirá que em pouco tempo tudo se recompo- cia mostrassem às populações vizinhas a sua força. Desde os nha. No século XIX, a situação era completamente di- primórdios da ocupação da ilha que as chuvas intensas provo- ferente e não foi fácil à ilha recuperar do susto e dos cam derrocadas e preenchem a quase totalidade dos leitos das danos. Um dos projectos mais arrojados para a época, ribeiras que traçaram, onde o Homem procurava usufruir do da responsabilidade do Brigadeiro Reinaldo Oudinot, espaço para a habitação como para a agricultura, aproveitando que incluía a mudança da cidade para uma área alta a riqueza das terras de aluvião. Nem sempre este convívio foi daquilo que é hoje o Parque de Santa Catarina, per- e continua a ser fácil, pois de quando em vez a ribeira reclama mitiu a canalização das três ribeiras da cidade, factor do espaço e surgem as enchentes e destruições de casas e cam- preponderante na segurança da cidade que perdurou pos agrícolas. Os registos historiográficos assinalam diversas em alguns troços até aos dias de hoje. enchentes nas povoações assentes nos leitos ou proximidades das ribeiras e inúmeras derrocadas, quase sempre com eleva- Alberto Vieira /02/2010 Página web: http://www.madeira-edu.pt/ceha • Email: ceha@madeira-edu.pt
  • 4. Testemunhos sobre Testemunhos o labor dos Madeirenses 4 O testemunho e apreço por este labor que em leivas ubérrimas, travando a marcha vertiginosa das se arrasta ao longo dos cinco séculos de His- vertentes, afogando à boca dos abismos o pendor das que- tória foi sendo reconhecido pelas autoridades, bradas, emparedando o mar para lhe roubar para o cultivo mas foi na centúria oitocentista, quando as di- uns escassos metros de terra, cavando na montanha essa ficuldades mais apertavam que mais se levantou maravilhosa teia de túneis e levadas que conduzem das este clamor e reconhecimento pelo obreirismo mais remotas e escuras profundezas as águas milagrosas, dos subordinados. que alimentam a fartura e a alegria da ilha. O permanente convívio e enfrentamento das (...) Há lá no mundo maior exemplo de trabalho, de forças da natureza foi testemunhado e descrito esforçada luta contra uma natureza que nem por ser en- por inúmeros visitantes, técnicos, escritores e feitada e linda deixa de ser hostil ? autoridades nas suas memórias descritivas. De Mas, de entre todos o mais elucidativo e poético entre esta inúmera literatura, que seria exaus- foi escrito na década de cinquenta do século XX por tivo aqui reproduzir, apenas destacamos os três um engenheiro silvicultor, Joaquim Vieira Natividade testemunhos que se seguem. (1899-1968), que em Madeira - a epopeia rural (Fun- No fervor do combate político do primeiro chal, 1954, pp. 39/40) é peremptório em afirmar: E o quartel do século XX, dominado pela ideia de vilão ataca e tritura a rocha para a transformar em solo autonomia, temos o testemunho de Manuel agrícola; geme sob o peso de enormes pedras para construir Pestana Reis (Em louvor do Povo e da Terra”, in um socalco; marinha pelas falésias para conquistar um Correio da Madeira, 23.03.1922): O madeirense, palmo de terra, mesquinha gleba, pouco maior por vezes salvo raríssimas excepções circunscritas à atmosfera do que um ninho de águias alcandorando no pendor de contaminada da cidade, é um prodígio de tenacida- uma fraga. Antes de ser agricultor, é cabouqueiro e arqui- de na economia e aproveitamento das suas forças, tecto. Labuta de sol a sol e transforma o seu horto, a sua demonstrada na labuta diária da luta pela vida courela, num jardim. Onde a água corre, o agricultor he- por essa cega submissão aos mais rudes deveres e róico e operoso faz milagres; a levada empurra-o e ele em- misteres. Industrioso persistente, frugalíssimo (…) purra a levada. Novos poios se sobrepõem a outros poios, e Dá vontade de ajoelhar diante destes peque- assim esse trabalhador humilde, além de transportar sobre ninos deuses ciclópicos que rasgaram a rocha, es- os ombros o peso da sua cruz, constrói nos degraus da mon- migalhando-a, triturando-a, para a transformar tanha o seu próprio calvário. É a Madeira sobrepovoada que luta heroicamente para viver. Página web: http://www.madeira-edu.pt/ceha • Email: ceha@madeira-edu.pt
  • 5. Este vilão madeirense, de torso hercúleo, máscara rude e austera, personificação da paisagem, figura de painel qui- Testemunhos nhentista; o homem que cinzela montanhas, escala abismos e amansa torrentes, é uma figura estranha. Não se deixou vencer pelas seduções traiçoeiras do clima desta antessala dos trópicos que despertam em nós, lusíadas indolentes, so- nhadores e sensuais, o horror ao esforço paciente e metódico. A meus olhos, o vilão é um português que teve a coragem de partir a guitarra, aquela guitarra que todos nós traze- mos na alma e no coração a consolar-nos, com seus acordes 5 de plangente fatalismo, dos desencantos e dos fracassos da de flores: anseio de beleza, doçura, suavidade, após vida. uma tarefa rude e magnífica, num cenário ciclópi- O panegírico continua noutro texto ( J. V. Nativida- co... Em nenhuma outra parte do mundo se põe ao de, Fomento da Fruticultura na Madeira, Funchal, 1947, serviço da agricultura maior soma de trabalho hu- pp. 15/7, cit. E. Pereira, Ilhas de Zargo, vol. I, 438/439): mano por unidade de superfície... Talvez por isso, Em escassas centenas de anos o vilão madeirense ergueu ninguém votará mais fundo amor à terra do que com tão pobres materiais um dos mais extraordinários edi- o vilão madeirense e por amor dela mais se sacri- fícios agrícolas do mundo e escreveu, com o seu sangue, o fique e padeça... Se atendermos a que grande parte seu suor e as suas lágrimas uma grande epopeia. Atacou a do solo madeirense é explorado sob o contrato de co- rocha para obter terra, transportou-a depois sobre o dorso, lonia, pelo qual o colono entrega ao senhor da terra por caminhos inverosímeis; lapidou amorosamente a mon- o demídio das colheitas, compreende-se que o agri- tanha, o serro, as escarpas, os espinhadeiros, como se tra- cultor para viver obrigue essa terra a fazer prodí- balhasse minúsculos diamantes, não raro debruçado sobre gios e tenha, na intensificação cultural, a sua única abismos e com risco permanente da própria vida; ergueu defesa. Por isso o vilão, o homem que faz milagres, poios sobre poios para segurar esses punhados de terra, e o lapidador de montanhas, o feiticeiro da água, que fertilizou-a por fim, conquistando e dominando o fio de trabalha vida inteira como um animal de carga e água misteriosamente nascido através de caprichosos e de vive pobremente e no maior desconforto, ao erguer acidentadíssimos percursos. Nas encostas, agora suaviza- os socalcos gigantescos de degraus na vertente das das pelo trabalho de inumeráveis gerações e com gigantescos serranias, construiu afinal o seu próprio calvário. anfiteatros sempre verdejantes esfolha-se o casario. Junto a Mais do que pela água, a Madeira é regada pelo cada casa, a parreira, um canteiro ou um modesto alegrete suor do vilão. E como nos diz o madeirense, Eduardo Pe- reira (Ilhas de Zargo, vol. I, p. 438), no seu enci- clopédico volume sobre o arquipélago: O homem subiu de picareta na mão, quase de joelhos as ver- tentes a lutar a ferro e fogo com as rochas, desbas- tando acidentes e armando pedras soltas em socalcos ou tabuleiros para deles fazer searas e jardins; subiu até onde pode abrir caminho de pé-posto ou condu- zir um fio de água de irrigação. Alberto Vieira/02/2010 Página web: http://www.madeira-edu.pt/ceha • Email: ceha@madeira-edu.pt
  • 6. Livros e Leituras Oceans of Wine. Madeira and the Emergence of American Trade and Taste Este estudo, produto de cerca de 17 anos de in- 6 vestigação, constitui um contributo deveras relevante, não só para a História do Vinho da Madeira, mas também para a História do Atlântico, sobretudo du- rante o século XVIII. O autor assumiu o desafio de reconstituir uma cadeia ou rede que pudesse ilumi- nar a integração e articulação imperiais e oceânicas na Época Moderna, surpreendendo a emergência de um mercado transoceânico do qual participavam vários impérios atlânticos. O Vinho da Madeira é, assim, o agente escolhido para estudar, à laia de contributo, as redes comerciais, e não só, que tiveram por palco o Oceano Atlântico. Escorado em fontes bastas e diversificadas, das quais destacaríamos arquivos e fundos documentais empresariais, mormente na Madeira e nos Estados Unidos da América, este trabalho encontra-se divi- dido em três partes (além de necessárias considerações introdutórias e conclusivas), que delineiam o percurso do vinho, desde o cultivo da vinha, até à mesa do con- HANCOCK, David, 2009, Oceans of sumidor. Assim, a Parte I lida com a feitura do vinho Wine. Madeira and the Emergence of («Making Wine»); na Parte II são observados os me- American Trade and Taste, The Lewis andros em torno das trocas («Shipping and Trading Walpole Series in Eighteenth-Century Wine»); na última parte é o consumo que constitui Culture and History, New Haven & objecto de análise («Consuming Wine»). London, Yale University Press. No n.º 2 do Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico, referente ao ano corrente, serão incluídas Notas de Leitura sobre esta importante monografia. Página web: http://www.madeira-edu.pt/ceha • Email: ceha@madeira-edu.pt
  • 7. Eventos Congressos/Colóquios 7 RepRogRamação de actividades Na sequência dos acontecimentos de 20 de Fevereiro e da elevada adesão que o Congresso Mundial “As Ilhas do Mundo e o Mundo das Ilhas” mereceu de investigadores de todo o mundo, decidiu-se reprogramar as actividades, realizando-se no presente ano apenas os painéis temáti- cos/mesas-redondas, dedicados às INSULARIDADES e a NÓS E OS OUTROS: ESCRITAS E CORRESPON- DÊNCIAS, ficando para o próximo ano de 2011, na semana de 6 a 11 de Junho a parte dedicada aos painéis temáticos, aos quais teremos oportunidade de adicionar outros e alar- CONGRESSO gar a participação nos já estabelecidos, que são: ”As Ilhas do Mundo e o Mun- • Turismo Sustentável nas Ilhas no Século XXI; do das Ilhas” • Transnacionalismos Insulares; • Ilhas e Continentes: As Ilhas no espaço do Império Português no século XVI; De 26 a 30 de Julho o CEHA organiza o primeiro Congresso sobre Histó- • CEHA. 25 anos: a missão do CEHA no presente e ria das Ilhas subordinado ao tema: no futuro. Uma reflexão e debate sobre os últimos 25 ”As Ilhas do Mundo e o Mundo das anos dos Estudos Insulares como forma de perspec- Ilhas”., constando a programação tivar o futuro. das actividades de conferências, comunicações e mesas-redondas. A estes adicionar-se-ão outros dois sobre: Para além disso decidiu-se integrar o • Nacionalismos Insulares; projecto e Seminário Internacional: “Mobilidades Humanas na História • Economias Insulares. e Literatura”, realizando-se a sessão de trabalhos no dia 28 de Julho no Entretanto, o Seminário República e a Madeira Auditório do Centro Cultural John (1880-1926), programado para os dias 26 a 30 de Outubro dos Passos, tendo como tema: NÓS mantém-se com a programação já estabelecida. E OS OUTROS: ESCRITAS E CORRES- PONDÊNCIAS. Mais informação na página do projecto. Página web: http://www.madeira-edu.pt/ceha • Email: ceha@madeira-edu.pt
  • 8. ciclo de confeRências Eventos O CEHA preparou para o ano de 2010 um ciclo de conferências que decorrem com alguma periodi- cidade: todas as quartas-feiras às 18 horas. Por força dos acontecimentos de 20 Fevereiro decidimos inter- romper as actividades no decurso do mês de Março, mas já reiniciamos estas actividades a 29 de Março com a conferência do Prof. Manuel de Morais sobre o Machete na Madeira, enquadrado num ciclo de 8 conferências preparado pelo Gabinete Coordenador - 12/05 - Maria Teresa Nascimento (UMa) de Educação Artística (http://dre.madeira-edu.pt/ CONFERÊNCIA: A obra poética de Joaquim Pestana gcea ou www.gcea.pt). O programa deste ciclo de conferências para o - 19/05 - Eduarda Gomes Petit (Prof.ª Ensino Básico e corrente ano está já disponível no nosso site (http:// Secundário) www.madeira-edu.pt/edificio/Auditorio/tabid/1796/ CONVERSAS EM TORNO DO LIVRO: O Conven- language/pt-PT/Default.aspx). Informa-se que, tri- to da Encarnação do Funchal (Tese de mestrado publica- mestralmente, serão feitos os necessários ajustamen- da pelo CEHA) tos, mas o programa para o segundo trimestre já está confirmado. - 26/05 - José Luís de Sousa (CEHA) A situação decorrente da aluvião de 20 de Feverei- CONFERÊNCIA: História do Porto do Funchal ro obrigou a uma reprogramação destas conferências pelo que apresentamos aqui as que decorrerão no próximo trimestre(Abril/Junho): - 31/05 - Rodolfo Cró (Gabinete Coordenador de Educa- ção Artística) CONFERÊNCIA: Dos Violinos para os Bandolins 07/04 - Gabriel Pita (CEHA) CONVERSAS EM TORNO DO LIVRO: A Igreja Católica e o nacionalismo português do Esta- - 02/06 - José Jesus (UMa) do Novo. A revista Lumen 1937-1945 CONFERÊNCIA: Particularidades dos Ecossistemas Insulares -14/04 - Raimundo Quintal CONFERÊNCIA: A Importância dos Jardins - 09/06 - Ana Madalena Trigo de Sousa (CEHA) como Nicho Turístico na Madeira CONVERSAS EM TORNO DO LIVRO: O Exer- cício do Poder Municipal na Madeira e Porto Santo na Época Pombalina e Post-Pombalina (Trabalho de provas - 21/04 - Luísa Marinho (UMa) para Investigador-Auxiliar publicado pelo CEHA) CONVERSAS EM TORNO DO LIVRO: O Romance Histórico e José de Alencar. Contribuição para o Estudo da Lusofonia (Tese de doutora- - 16/06 - Dina Jardim (Prof.ª Ensino Básico e Secundário) mento publicada pelo CEHA) CONVERSAS EM TORNO DO LIVRO: A Santa Casa da Misericórdia do Funchal no Século XVIII (Tese de mestrado publicada pelo CEHA) - 28/04 - Fátima Barros (Directora do Arquivo Regional da Madeira) CONFERÊNCIA: O Arquivo Regional da Ma- - 23/06 - Ana Maria Kauppila (CEHA) deira e a preservação e divulgação da documentação CONFERÊNCIA: Políticas de Educação e Cultura da União Europeia: Um Olhar Insular - 05/05 - Paulo Rodrigues (UMa) CONVERSAS EM TORNO DO LIVRO: - 30/06 - Naidea Nunes (UMa) A Madeira entre 1820 e 1842: relações de poder CONVERSAS EM TORNO DO LIVRO: Palavras e influência britânica (Tese de doutoramento Doces (Tese de doutoramento publicada pelo CEHA) publicada por Funchal, 500 Anos) Página web: http://www.madeira-edu.pt/ceha • Email: ceha@madeira-edu.pt
  • 9. Eventos 9 ACORDO DE COLABORAÇÃO coopeRação com a UniveRsidade sénioR O Centro de Estudos de História do Atlântico, através do seu Presidente, Professor Alberto Vieira e a Câmara Municipal do Funchal, através da Vereadora com o pe- louro da Educação, Dra. Rubina Leal tornam público um Acordo de Colaboração entre as duas Instituições. Assim, a partir de Segunda-feira, dia 29.03.2010, as iniciativas culturais do CEHA - conferências, colóquios, simpósios - INTERNET passam a fazer parte dos curricula da Universidade Sénior sendo este público privilegiada audiência dessas iniciati- vas. A primeira iniciativa, que marcou o início deste acordo e No decurso do presente ano o CEHA que contou com a honrosa presença da Ex. Sra. Dra. Rubi- pretende valorizar ainda mais a uti- na Leal, ocorreu com a Conferência do Dr. Manuel Morais, lização da Internet como poderoso que teve lugar na segunda-feira, dia 29 de Março, pelas veículo de divulgação das suas activi- 18h00, na sede do CEHA, Rua das Mercês, n.º 8.  dades e de apoio à investigação. Des- A Câmara Municipal do Funchal apoiará, igualmente, ta forma para além da página web iniciativas culturais deste Centro, sendo que o próximo (www.madeira-edu.pt/ceha) que bre- “Congresso das Ilhas do Mundo” contará com esse apoio vemente será renovada, temos o blo- directo. As nossas actividades passam, a partir de agora, gue (http://cehablog.blogspot.com/) a ser publicitadas no sítio (web) da Câmara Municipal do e ainda passamos a estar no Twitter Funchal (www.cm-Funchal.pt) . (http://twitter.com/CEHAtlantico ) e Novos modos de colaboração estão em estudo. Estes no Facebook (http://pt-pt.facebook. são, sem dúvida, passos deveras importantes no sentido com/people/Ceha-H istoria-Do - de uma nova era para o CEHA que abraça estes desa- Atlantico/100000892818008); com fios pugnando pelo mesmo rigor científico de sempre, isto pretendemos associar um maior procurando servir a comunidade científica e o público, leque de interessados às nossas ini- em geral, como Instituição de Utilidade Pública que se ciativas. orgulha de ser. Página web: http://www.madeira-edu.pt/ceha • Email: ceha@madeira-edu.pt
  • 10. O QUE SE DISSE SOBRE AS ILHAS Há milhares e milhares de ilhas - e quase se pode dizer que todas ÚLTIMA são diferentes. Há ilhas grandes e pequenas; ilhas próximas dos continentes e ilhas remotas; ilhas montanhosas e ilhas planas; ilhas geladas e ilhas tórridas; ilhas de vegetação luxuriante e ilhas onde não cresce uma árvore; ilhas que são vulcões e ilhas que são corais; ilhas que são formi- gueiros de gente e ilhas desertas; ilhas desenvolvidas e ilhas atrasadas. (…) 10 A ilha atrai e repele: ao mesmo tempo, apaixona e mete medo: tem mistério! (…) Esta é a hora das ilhas! Há um despertar dos povos insulares ! (…) Sem ódio, sem revolta, em fraterno espírito de paz, lancemos um brado novo: - Insulares de todo o Mundo, uni-vos! (AMARAL, João Bosco Mota1, 1990: O Desafio Insular, Ponta Delgada, Signo, pp. 25-26, 45, 72 ) Ao longo da História, as ilhas foram menosprezadas e cobiçadas. Depois da Segunda Guerra Mundial, a emergência dos Estados in- sulares no concerto das nações, a Convenção sobre os Direitos do Mar, a definição da Zona Económica Exclusiva (ZEE) e o incremento do turismo provocaram mudanças de tal ordem na percepção da insulari- dade que, em certos meios leigos e eruditos passou-se a falar dos “mares das ilhas”, do “milénio dos ilhéus” e mesmo da Nissologia “ciência do mundo insular. A experiência das ilhas atlânticas (Islândia, Açores, Madeira e Canárias) corrobora a tese nissológica dos modos e regras específicas de apreender, explicar e encarar a realidade insular e, por isso, o carácter Governo Regional indispensável de certa capacidade instalada nos domínios da ciência e da tecnologia. da Madeira (TOLENTINO, André Corsino, 2007, Universidade e transformação Secretaria Regional social nos pequenos estados em desenvolvimento: o caso de Cabo Verde, da Educação e Cultura Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian) Centro de Estudos de História do Atlântico Rua das Mercês, 8 9000-224 Funchal Telef. (+351) 291 214 970 1 João Bosco Soares da Mota Amaral (Ponta Delgada, 15 de Abril de 1943) é um político nascido numa ilha, S. Miguel/Açores. Foi deputado à Assem- Fax bleia Nacional (pela União Nacional) nos anos finais do Estado Novo, com o estabelecimento das ilhas portuguesas, por força das transformações politicas (+351) 291 223 002 resultantes dos acontecimentos de 25 de Abril de 1974,exerceu as funções de presidente do Governo Regional dos Açores (1976-1995), foi deputado à Assembleia da República e Presidente da Assembleia da República. Página web: http://www.madeira-edu.pt/ceha • Email: ceha@madeira-edu.pt