SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 10
Baixar para ler offline
187
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004
ARTIGO ARTICLE
Condições de trabalho e saúde
dos professores da rede particular de ensino
de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil
Labor and health conditions of private school
teachers in Vitória da Conquista, Bahia, Brazil
1 Faculdade de Medicina,
Universidade Federal
da Bahia,Salvador, Brasil.
2 Núcleo de Epidemiologia,
Departamento de Saúde,
Universidade Estadual
de Feira de Santana,
Feira de Santana, Brasil.
Correspondência
Fernando M. Carvalho,
Departamento de Medicina
Preventiva, Universidade
Federal da Bahia.
Rua Cláudio Manoel
da Costa 74, apto. 1401,
Salvador, BA
40110-180, Brasil.
fmc@ufba.br
Núria Serre Delcor 1
Tania M. Araújo 2
Eduardo J. F. B. Reis 1
Lauro A. Porto 1
Fernando M. Carvalho 1
Manuela Oliveira e Silva 1
Leonardo Barbalho 1
Jonathan Moura de Andrade 1
Abstract
The scientific literature on teachers’ health is
scarce, recent, and focuses predominantly on
stress and burnout. This study describes the la-
bor conditions of private school teachers in
Vitória da Conquista, Bahia State, Brazil. In-
formation on 250 teachers from the ten largest
schools in the municipality was collected
through a self-applied questionnaire. The
most relevant characteristics of teachers’ work,
evaluated by the Job Content Questionnaire
were: speed of work, creativity at work, and
relations with colleagues. The most frequent
complaints related to posture, mental strain,
and voice problems. Prevalence of minor psy-
chological disorders according to the Self Re-
porting Questionnaire-20 was 41.5%, strongly
associated with long periods of intense con-
centration on the same job and excessive work.
Results suggest an association between the
prevalence of minor psychological disorders
and certain characteristics of teaching work,
emphasizing teachers’ exposure to stress.
Working Conditions; Occupational Health;
Faculty
Introdução
O trabalho humano possui um duplo caráter:
por um lado é fonte de realização, satisfação,
prazer, estruturando e conformando o proces-
so de identidade dos sujeitos; por outro, pode
também se transformar em elemento patogê-
nico, tornando-se nocivo à saúde 1. No am-
biente de trabalho, os processos de desgaste do
corpo são determinados em boa parte pelo ti-
po de trabalho e pela forma como esse está or-
ganizado.
No Brasil, a literatura científica sobre as
condições de trabalho e saúde dos professores
é ainda restrita. Entretanto, a partir da década
de 90, observou-se um aumento no número de
estudos conduzidos neste grupo ocupacional.
Estes estudos exploram especialmente os efei-
tos do trabalho sobre a saúde mental, como es-
tresse e a Síndrome de Burnout. Esta síndrome
afeta especialmente trabalhadores com muito
contato social, como nos setores de Educação
e Saúde 2.
As investigações de Codo 3 sobre a saúde
mental dos professores de 1o e 2o graus em to-
do o país, abrangendo 1.440 escolas e 30 mil
professores, revelaram que 26% da amostra es-
tudada apresentavam exaustão emocional. Es-
sa proporção variou de 17% em Minas Gerais e
Ceará a 39% no Rio Grande do Sul. A desvalori-
zação profissional, baixa auto-estima e ausên-
cia de resultados percebidos no trabalho de-
Delcor NS et al.188
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004
senvolvido foram fatores importantes para o
quadro encontrado.
Araújo et al. 4 e Silvany et al. 5 realizaram
amplos estudos sobre as condições de saúde e
trabalho de 573 professores da rede particular
de ensino em Salvador, Bahia, em 1996. Proble-
mas de saúde nos 15 dias anteriores à entrevis-
ta foram referidos por 32,5% dos professores.
As queixas de saúde mais freqüentes foram do-
res nas costas e pernas e, no âmbito psicoemo-
cional, cansaço mental e nervosismo. Ter calos
nas cordas vocais foi referido por 12% dos pro-
fessores. A prevalência de distúrbios psíquicos
menores foi de 20%, associada a trabalho repe-
titivo, insatisfação no desempenho das ativida-
des, ambiente intranqüilo e estressante, des-
gaste na relação professor-aluno, falta de auto-
nomia no planejamento das atividades, ritmo
acelerado de trabalho e à pressão da direção.
A avaliação das condições de saúde e traba-
lho de professores da rede particular de ensino
é relevante porque: (1) há um número expres-
sivo e crescente de profissionais desta catego-
ria no Brasil 6; (2) a maioria dos estudos reali-
zados avaliaram saúde e trabalho de professo-
res de escolas públicas 5, os quais estão subme-
tidos a processo e organização do trabalho dis-
tintos dos existentes nas escolas privadas.
O objetivo deste estudo foi descrever as con-
dições de trabalho e saúde de professores da re-
de particular de ensino de Vitória da Conquis-
ta, Bahia.
Metodologia
Realizou-se um estudo epidemiológico de cor-
te transversal. Na cidade de Vitória da Conquis-
ta, em 2001, existiam 35 escolas da rede parti-
cular de ensino, cadastradas pelo Sindicato dos
Professores da Rede Privada de Ensino da Ba-
hia (SINPRO/BA), com 600 a 700 professores.
Foram incluídos todos os professores, de ensi-
no pré-escolar até ensino médio, das dez maio-
res escolas da rede particular de ensino da ci-
dade. Foram excluídos do estudo professores
de educação física, informática e línguas es-
trangeiras. Na coleta de dados foi utilizado um
formulário auto-aplicado com cinco blocos de
questões.
O primeiro bloco continha informações so-
bre características demográficas e econômicas,
características ocupacionais e atividades do-
mésticas.
O segundo bloco avaliou esforços físicos no
trabalho, em sete questões medidas em uma
escala de 0 a 3 (0 = raramente; 1 = pouco fre-
qüente; 2 = freqüente e 3 = muito freqüente),
situações de risco no trabalho em oito ques-
tões medidas em escala de 0 a 3 (0 = risco ine-
xistente; 1 = baixo risco; 2 = médio risco e 3 =
alto risco) e conteúdo do trabalho, medido ba-
seando-se no Job Content Questionnaire (JCQ)
modificado 7,8. A versão do JCQ em português
inclui 41 questões: 17 a respeito do controle so-
bre o trabalho (6 sobre habilidades e 11 sobre
poder de decisão), 13 perguntas sobre deman-
das psicológicas (8) e físicas (5), e 11 perguntas
sobre suporte social. Trinta e oito questões fo-
ram medidas em uma escala de 1 a 4 (1 = dis-
cordo fortemente; 2 = discordo; 3 = concordo e
4 = concordo fortemente); as outras três per-
guntavam sobre o número de funcionários que
coordena o professor, o número de pessoas no
grupo de trabalho e sobre ser ou não membro
do sindicato. O JCQ tem sido usado em vários
países, especialmente nos Estados Unidos, Ca-
nadá, Europa, Japão e Coréia do Sul. Estudos
de validação do JCQ indicam bom desempe-
nho deste instrumento 9,10. No Brasil, ainda não
foi conduzido estudo para sua validação. Con-
tudo, resultados obtidos em estudos brasileiros
que utilizaram o JCQ têm mostrado consistên-
cia com resultados obtidos em outros países 11,
revelando que o instrumento apresenta bom
desempenho na identificação e classificação
de diferentes situações de trabalho.
O terceiro bloco investigou a saúde física.
Avaliaram-se trinta queixas de saúde, classifi-
cadas em uma escala de 0 a 4 (0 = não sente; 1 =
raramente; 2 = pouco freqüente; 3 = freqüente
e 4 = muito freqüente). Também incluiu-se
questões relacionadas com a voz, em escala de
resposta Sim/Não e sobre o hábito de fumar.
O quarto bloco avaliou a saúde mental e ní-
vel de suspeição de consumo abusivo de ál-
cool. A saúde mental foi avaliada por meio de
um instrumento de detecção de distúrbios psí-
quicos menores, o Self Reporting Questionnai-
re-20 (SRQ-20), desenvolvido por Harding et al.
12. Foram classificados como suspeitos de apre-
sentar distúrbios psíquicos menores (DPM), os
professores que responderam positivamente a
sete ou mais questões dentre as vinte propos-
tas pelo teste. Estudos de validação do SRQ-20
foram realizados no Brasil por Mari 13 e Fer-
nandes & Almeida Filho 14. Indivíduos com duas
ou mais respostas positivas as quatro questões
tipo Sim/Não do teste C.A.G.E. foram classifi-
cados como suspeitos de alcoolismo 15.
O quinto bloco incluiu questões sobre utili-
zação de Serviço de Medicina e Segurança do
Trabalho nas escolas, diagnósticos médicos
desde o início do trabalho como professor, aci-
dentes do trabalho, problemas de saúde nos úl-
timos 15 dias, atividade física e lazer.
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004
Em função das questões abordadas pelos
instrumentos de pesquisa e objetivando dimi-
nuir ao máximo possíveis resistências, mante-
ve-se o anonimato do formulário, não sendo
solicitado ao professor que se identificasse. A
coleta de dados foi realizada por estudantes de
medicina devidamente treinados, no período
de setembro a novembro de 2001. Para garantir
níveis mais elevados de padronização, além do
treinamento foi utilizado um manual de ins-
truções básicas para orientar os procedimen-
tos durante as entrevistas. Foram efetuadas vi-
sitas prévias para contatos com a direção das
escolas, a fim de obter permissão para a reali-
zação da pesquisa. Obtida a listagem de pro-
fessores e o consentimento assinado de cada
um deles, entrevistas foram realizadas em cada
escola, coletando-se os questionários dentro
de envelopes fechados para garantir o anoni-
mato.
Com o programa SPSS foram calculadas
freqüências e medidas de tendência central pa-
ra a descrição das variáveis. Para a análise bi-
variada, as variáveis do JCQ foram dicotomiza-
das. O teste do qui-quadrado foi utilizado para
identificar prováveis associações entre variá-
veis, tomando como estatisticamente signifi-
cante o nível de probabilidade de 5%. Razões
de prevalência e respectivos intervalos de con-
fiança 95% foram calculados.
Resultados
Dos 309 professores das dez escolas seleciona-
das, 250 (80,9%) responderam o questionário.
Dos 59 professores que não entraram no estu-
do, um estava com licença por maternidade,
um encontrava-se no hospital, três recusaram-
se a participar verbalmente e 54 não devolve-
ram o questionário.
CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE DE PROFESSORES 189
Os professores de Vitória da Conquista ti-
nham média de idade de 34,5 ± 7,5 anos, 82,8%
eram mulheres, 65,1% casadas e 72,1% com ní-
vel de escolaridade superior (em curso ou com-
pleto). Trabalhavam em outra escola 59,3% e
em mais de duas escolas 9,2%. Desenvolviam
outras atividades remuneradas além da docên-
cia 19,1%. As características do trabalho destes
professores são apresentadas na Tabela 1.
A renda mensal média foi de R$ 886,00, cor-
respondente na época da coleta a US$ 345. Vin-
te e três por cento recebiam menos de R$
400,00; 33% de R$ 401,00 a R$ 800,00; 23% de
R$ 801,00 a R$ 1.100,00 e 21% de R$ 1.101,00 ou
mais. Entre aqueles que realizavam atividades
domésticas, 16% não recebiam ajuda (16% nas
mulheres e 20% nos homens), geralmente de
uma empregada doméstica.
Esforços físicos realizados no trabalho ou
associados a ele, apontados como “freqüentes”
ou “muito freqüentes”, foram: permanecer em
pé (96,7%) e correção de trabalhos escolares
(94,1%). As situações de risco na escola mais
apontadas como de “médio” ou “alto risco”, fo-
ram risco de queda e torções (24%) e acidentes
de trânsito (17,9%). Mais da metade dos pro-
fessores responderam que “concordaram” ou
“concordaram fortemente” em algumas ques-
tões do JCQ que identificavam aspectos negati-
vos para o bom desenvolvimento do seu traba-
lho: ritmo acelerado de trabalho (67,9%); posi-
ção inadequada e incômoda do corpo (65,4%);
atividade física rápida e contínua (63,8%);
ritmo frenético de trabalho (54,9%); posições
da cabeça e braços inadequadas e incômodas
(53,4%) e longos períodos de intensa concen-
tração em uma mesma tarefa (51,9%). Naque-
las questões do JCQ consideradas como positi-
vas para o desenvolvimento do trabalho, mais
de 90% dos professores “concordaram” ou “con-
cordaram fortemente” em: necessidade de ser
Tabela 1
Características do trabalho de professores da rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, 2001.
Características do trabalho N Média Desvio-padrão
Tempo de trabalho como professor (em anos) 234 11,4 6,9
Número total de turmas 248 3,9 3,0
Número total de alunos por turma 244 30,1 9,1
Carga horária total semanal na escola 221 19,4 8,4
Carga horária semanal em sala de aula 230 17,0 7,4
Carga horária semanal em todas as escolas 239 34,3 16,9
(sala de aula e outras atividades)
N = número de professores incluídos na análise.
Delcor NS et al.190
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004
criativo (99,2%); necessidade de um alto nível
de habilidade (96,0%); possibilidade de apren-
der novas coisas (94,7%); opinaram que os co-
legas são competentes em fazer suas ativida-
des (91,2%); opinaram que as pessoas no tra-
balho eram amigáveis (90,7%) e possibilidade
de dar opinião sobre o que acontece no seu tra-
balho (90,6%).
Os professores referiram, em média, 7,2 ±
5,7 queixas de saúde, dentre uma lista de trinta
queixas, todas rotuladas como sendo “freqüen-
tes” ou “muito freqüentes”. Destacaram-se as
queixas de saúde relacionadas à postura: dor nos
braços/ombro (52,1%), dor nas costas (51,4%)
e dor nas pernas/formigamento (47,5%); pro-
blemas psicossomáticos ou relacionados à saú-
de mental: cansaço mental (59,2%) e proble-
mas relacionados ao uso intensivo da voz: dor
na garganta (45,7%) (Tabela 2).
Encontrou-se que 92,6% dos professores re-
feriram uso intensivo da voz, 62,3% cansavam-
se para falar e 57% faziam força para serem ou-
vidos. Rouquidão nos últimos seis meses foi re-
ferida por 59,2% dos professores. Nesta popu-
lação, 4,2% eram fumantes atuais e 11,4% ex-
fumantes. O consumo de bebida alcóolica foi
referido por 22,1% dos professores. O teste
C.A.G.E. classificou 1,3% dos professores como
suspeitos de dependência do álcool.
Dos 250 professores, 94,8% responderam a
todas as perguntas do SRQ-20. A prevalência de
distúrbios psíquicos menores estimada pelo
SRQ-20 foi de 41,5%, variando de 17,6% a 66,7%
dentre as escolas estudadas. A prevalência de
DPM estava estatisticamente associada (p = 0,05,
respostas “concordaram” ou “concordaram for-
temente”) com características do conteúdo do
trabalho: trabalho repetitivo (RP = 1,64), inten-
sa concentração em uma mesma tarefa por um
longo período (RP = 1,76), volume excessivo de
trabalho (RP = 1,65), ritmo acelerado de traba-
lho (RP = 1,49), interrupção das tarefas antes
de serem concluídas (RP = 1,38), tempo para
realização das tarefas insuficiente (RP = 1,36),
ausência de preocupação do coordenador pelo
bem-estar da sua equipe (RP = 1,50), inexistên-
cia de processos democráticos de tomada de
decisões do grupo de trabalho (RP = 1,46), falta
de interesse dos colegas de trabalho pelo que
acontece com você (RP = 1,43) e exposição a
hostilidades e conflitos com os colegas de tra-
balho (RP = 1,39) (Tabela 3).
Apenas 28% dos professores realizavam os
exames médicos periódicos previstos na legis-
lação. De 233 indivíduos que responderam so-
bre diagnósticos médicos recebidos desde que
começaram a trabalhar como professor, 73,4%
referiram no mínimo um diagnóstico e 26,6%
referiram não ter diagnósticos de qualquer
problema de saúde. Os diagnósticos médicos
mais freqüentemente referidos foram: varizes
em membros inferiores (36,1%), gastrite ou eso-
fagite (24%), infeções do trato urinário (18%),
sinusite crônica (17,6%), LER (17,6%) e calosnas
cordas vocais (13,3%) (Tabela 4).
A associação entre a queixa de dor/formi-
gamento nas pernas e o fato de o professor per-
manecer de pé foi fraca (RP = 0,99; IC95%: 0,44-
2,22) e não sofreu confundimento importante
devido à presença de varizes (RPMantel-Haenszel =
1,05; IC95%: 0,48-2,29).
Problemas de saúde nos 15 dias anteriores
à entrevista foram referidos por 39,4% dos pro-
fessores. Acidentes de trabalho foram referidos
por 7,1%. Atividade física fora do trabalho foi
referida por 38,9% dos professores. Cinqüenta
e três por cento dos professores disseram que
dedicavam algum tempo semanal ao lazer du-
rante a semana.
Discussão
Os professores estudados da rede particular de
ensino de Vitória da Conquista, representam
uma população jovem, principalmente do sexo
feminino, casadas e com nível de escolaridade
superior. Estes dados sócio-demográficos e de
escolaridade são similares aos relatados por
Silvany et al. 5 em professores da rede privada
de Salvador, Bahia.
A predominância da mulher na profissão de
educar também aparece em outras pesquisas
sobre a saúde e trabalho dos professores de en-
sino básico, variando de 75 a 85,6% 3,5,6,16,17.
Com a expansão do setor educacional no Bra-
sil, a partir da segunda metade do século XX,
foi preciso a incorporação de muitos trabalha-
dores para o ensino. A docência, assim como a
enfermagem, foi considerada na época, ativi-
dade própria das mulheres por envolver “o cui-
dado dos outros”. As mulheres foram chama-
das para ocupar os cargos de educadoras, con-
siderando-se o trabalho na escola como uma
continuação das tarefas exigidas no âmbito do-
méstico, aparecendo a imagem da “mãe educa-
dora”. A crise econômica, a crise de emprego, a
luta das mulheres pelos seus direitos e as mu-
danças na família nuclear favoreceram a entra-
da da mulher no mundo do trabalho. Os baixos
salários dos educadores também fazem com
que as mulheres ocupem esses trabalhos, para
complementar a renda familiar 3. Porém, a pro-
porção de professores do sexo masculino vem
aumentando no ensino médio em relação ao
pré-escolar. No estudo de Codo 3, os homens
CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE DE PROFESSORES 191
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004
Tabela 2
Freqüência de queixas de saúde referidas como “freqüentes” ou “muito freqüentes” pelos professores
da rede particular de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, 2001.
Queixas de saúde referidas n Freqüência Freqüência
simples relativa (%)
Problemas psicossomáticos ou relacionados à saúde mental
Cansaço mental 240 142 59,2
Esquecimento 241 89 36,9
Nervosismo 243 80 32,9
Insônia 245 46 18,8
Azia/queimação 240 46 19,2
Problemas relacionados à postura corporal
Dor nos braços/ombro 242 126 52,1
Dor nas costas 243 125 51,4
Dor/formigamento nas pernas 242 115 47,5
Dor na coluna 241 104 43,2
Inchaço nas pernas 240 26 10,8
Problemas relacionados ao uso intensivo da voz
Dor na garganta 245 112 45,7
Perda temporária de voz 240 54 22,5
Problemas relacionados à poeira e pó de giz
Entupimento nasal 240 67 27,9
Rinite 237 66 27,8
Tosse 242 52 21,5
Irritação nos olhos 242 43 17,8
Coriza 240 41 17,1
Problemas de pele 242 35 14,5
Outros problemas
Sonolência 243 74 30,5
Queda dos cabelos 241 66 27,4
Redução da visão 240 52 21,7
Problemas digestivos 238 46 19,3
Tontura 244 38 15,6
Fraqueza 240 36 15,0
Zumbido 240 35 14,6
Falta de ar 240 24 10,0
Palpitações 238 21 8,8
Não ouve bem 240 16 6,7
Ardor ao urinar 240 12 5,0
Dor no peito 240 11 4,6
N = número de professores incluídos na análise.
Delcor NS et al.192
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004
representavam 2,6% da pré-escola a quarta sé-
rie e 39,2%, no segundo grau. No presente es-
tudo, 2,0% dos professores no nível pré-escolar
eram homens e 47,5%, no nível médio. Em ou-
tros estudos sobre condições de saúde e traba-
lho docente no nível superior, a proporção de
professores do sexo feminino variou de 34,5% a
61,5% 18,19,20.
O fato de a mulher participar mais nos ní-
veis iniciais de ensino, pode responder a uma
maior demanda de um educador com o papel
de “mãe” nos primeiros anos de escolaridade.
Todos os professores homens de nosso estudo
(n = 42) possuíam nível de escolaridade supe-
rior, o que favorece a que eles ensinem classes
de níveis mais elevados. Em nosso estudo, to-
dos os educadores de ensino médio possuíam
nível de escolaridade superior e só três profes-
sores do ensino fundamental II não o pos-
suíam.
Destacou-se a alta porcentagem de profes-
sores com nível de escolaridade superior em
Vitória da Conquista, similar à de 71,9%, en-
contrada em Salvador 5. Dados do Ministério
do Trabalho 21 apontam apenas 22,3% dos pro-
fessores da rede particular de ensino do Estado
da Bahia com nível de escolaridade superior. A
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (aprova-
da em dezembro de 1996) que passou a exigir
escolaridade superior para todos os níveis de
ensino, poderia ser a responsável por este au-
mento no nível de qualificação dos docentes.
Em Vitória da Conquista, 26,2% dos profes-
sores trabalhavam simultaneamente em outras
escolas privadas e 28,4% trabalhavam em ou-
tras escolas da rede estadual ou municipal. Em
Salvador, as porcentagens correspondentes fo-
ram 43,1% e 20,2%, respectivamente 5. Estas di-
ferenças podem indicar uma menor oferta de
trabalho em outras escolas em Vitória da Con-
quista, ou a necessidade de trabalhar em várias
escolas para aumentar a renda familiar, em Sal-
vador. Mesmo assim, muitos professores de Vi-
tória da Conquista trabalhavam em outras es-
colas ou em outra atividade remunerada, indi-
cando a necessidade de complementar uma
renda familiar insuficiente, com outros traba-
lhos, inclusive fora da área da docência.
A carga horária média semanal de trabalho
em todas as escolas (em sala de aula e ativida-
des extraclasse) foi elevada. A essa carga horá-
ria ainda devem ser somadas as horas para a
preparação de aulas, os deslocamentos de uma
escola para outra e as atividades domésticas.
Segundo Gomes 22, as atividades domésticas
ocupam de 2 a 3 horas por dia do tempo do pro-
fessor. Esta situação agrava-se para aqueles
professores que não recebiam qualquer tipo de
ajuda em casa. Com toda essa carga de traba-
lho, 56,0% dos professores tinham renda men-
Tabela 3
Razões de prevalência (RP) e respectivos intervalos de confiança de 95% (IC 95%) para a associação
entre distúrbios psíquicos menores e questões do Job Content Questionnaire (JCQ), nos professores
a rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, 2001.
Questões do JCQ n RP (IC95%)
Controle
O seu trabalho é repetitivo? 245 1,64 (1,23-2,20)
Demanda psicológica
Seu trabalho exige longos períodos de intensa concentração em uma mesma tarefa? 236 1,76 (1,27-2,44)
Você é solicitado a realizar um volume excessivo de trabalho? 246 1,65 (1,23-2,20)
Seu trabalho é realizado sob ritmo acelerado? 245 1,49 (1,03-2,13)
Suas tarefas muitas vezes são interrompidas antes que você possa concluí-las, 227 1,38 (1,02-1,87)
adiando para mais tarde a sua conclusão?
O tempo para realização das suas tarefas não é suficiente para concluí-las? 244 1,36 (1,02-1,82)
Suporte social
Falta de preocupação do coordenador com o bem-estar da sua equipe de trabalho? 231 1,50 (1,13-2,00)
Seu grupo de trabalho ou unidade não toma decisões democraticamente? 232 1,46 (1,08-1,96)
Falta de interesses das pessoas por você com quem você trabalha? 230 1,43 (1,06-1,93)
Exposição a hostilidades e conflitos com as pessoas com quem você trabalha? 235 1,39 (1,02-1,89)
N = número de professores incluídos na análise.
CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE DE PROFESSORES 193
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004
sal inferior a quatro salários mínimos (R$ 720,00
ou US$ 270). Segundo Esteve 23, a sociedade
atual estabelece o status social com base no ní-
vel salarial. Os baixos salários dos professores
estudados podem ser um forte fator na crise de
identidade e na insatisfação da categoria, po-
dendo afetar a saúde mental destes trabalha-
dores.
Os esforços físicos realizados no trabalho
foram freqüentemente apontados pelos entre-
vistados, destacando-se permanecer em pé,
queixa também freqüente nos estudos de Para-
nhos 20 e de Araújo et al. 4, e correção de traba-
lhos escolares. Na presente base de dados, não
foi demonstrada associação entre dor/formi-
gamento nas pernas e a freqüente permanên-
cia em pé, mesmo entre os professores que re-
feriram padecer de varizes. Explicações para
este fato inusitado devem ser buscadas após a
consideração de outros possíveis confundido-
res que não foram aqui analisados.
As situações de risco no trabalho forampou-
co apontadas. De fato, a profissão de educador,
pela sua natureza, não tem por que comportar
riscos físicos relevantes.
Destacou-se a alta porcentagem de profes-
sores que identificaram características possi-
velmente associadas aos principais problemas
de saúde apontados pela categoria. Manter
uma posição inadequada e incômoda do corpo
e precisar de esforço físico para desenvolver o
trabalho poderiam estar associados às queixas
relacionadas à postura corporal.
Os professores valorizaram predominante-
mente aqueles aspectos do trabalho relaciona-
dos ao controle e ao suporte social. Os aspetos
negativos especialmente apontados foram os
relacionados com a demanda psicológica e fí-
sica no trabalho. Esses dados são similares a
outros estudos com professores. Ritmo acele-
rado de trabalho foi referido por 67,9% dos pro-
fessores de Vitória da Conquista e por 60,6%
dos professores investigados em Salvador, Ba-
hia 5. Em Navarra, Espanha, uma pesquisa so-
bre saúde e trabalho dos professores encon-
trou que as principais queixas foram atenção
elevada, ritmo de trabalho elevado e volume de
trabalho excessivo, três aspectos que medem a
demanda psicológica no trabalho 24. Professo-
res da Universidade Estadual de Feira de San-
tana, Bahia, assinalaram como negativos, prin-
cipalmente, os aspectos que medem demanda
psicológica, como “exigência de concentração”
(71,6%) e “ritmo acelerado de trabalho” (54,9%),
e os aspectos positivos mais referidos foram os
relacionados com o controle, como “trabalho
criativo” (100%) e o suporte social, como “boa
relação com os colegas” (93,7%) 20.
Merece especial atenção o fato de que uma
população relativamente jovem ter referido em
média, um número alto de problemas de saú-
de, dentre os trinta listados. As queixas de saú-
de mais freqüentemente referidas estavam re-
lacionadas com a postura corporal, problemas
psicossomáticos ou de saúde mental e queixas
relacionadas à voz. Esse mesmo perfil de quei-
xas foi detectado em outros estudos com pro-
fessores 5,19,20,25,26,27.
O percentual de professores com diagnósti-
cos médicos de saúde desde que começaram a
trabalhar foi também elevado. É importante
destacar que os diagnósticos mais freqüente-
mente referidos, em primeiro e quinto lugares,
respectivamente, foram varizes em membros
inferiores e lesões por esforços repetitivos,
doenças potencialmente relacionadas ao tra-
balho.
Um terço dos professores referiu problemas
de saúde nos 15 dias anteriores à entrevista, o
que pode-se traduzir em elevado ausentismo
ao trabalho. Esta porcentagem é semelhante à
relatada para professores de Salvador 5 e em in-
quéritos domiciliares com populações de di-
versos países 28.
A porcentagem de professores suspeitos de
dependência do álcool foi reduzida e seme-
lhante à relatada para professores de Salvador
4. O número de professores que se declararam
fumantes também foi menor do que da média
populacional brasileira, 23,9% 29.
Tabela 4
Freqüência dos diagnósticos médicos mais referidos por 233 professores
da rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, 2001.
Diagnóstico médico referido Freqüência Freqüência
simples relativa (%)
Varizes em membros inferiores 84 36,1
Gastrite e esofagite 56 24,0
Infeção de trato urinário 42 18,0
Sinusite crônica 41 17,6
Lesões por esforços repetitivos 41 17,6
Calos nas cordas vocais 31 13,3
Anemia 29 12,5
Hipertensão arterial 18 7,7
Dermatite 17 7,3
Faringite crônica 15 6,4
Asma 11 4,7
Lombalgia 9 3,9
Outros 25 10,7
Nunca teve diagnóstico de problema de saúde 62 26,6
Delcor NS et al.194
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004
Destacou-se a alta prevalência de acidentes
de trabalho referidos, se comparada àquela en-
contrada em professores de Salvador, 3,4% 5.
Apesar deste quadro ocupacional adverso,
as escolas não realizavam exames médicos pe-
riódicos, mesmo estes sendo obrigatoriamente
previstos na Norma Regulamentadora (NR-7)
do Ministério do Trabalho 30.
A prevalência de distúrbios psíquicos me-
nores observada neste estudo (41,5%), superou
amplamente os resultados relatados por outros
autores, na faixa de 18 a 24,2% 4,16,18,19,20. Cabe
comentar que a pesquisa foi realizada num pe-
ríodo de crise sindical e ao final do ano letivo,
época de maior desgaste para os professores,
como aponta Esteve 23. Travers & Cooper 31 ci-
tam vários trabalhos sobre a dinâmica do es-
tresse em professores durante o transcorrer do
ano letivo. Um estudo canadense, referido por
Travers & Cooper 31, registrou maior incidência
de estresse ao final de cada semestre e ao final
do ano escolar. Ruiz et al. 32 registraram que as
queixas de saúde e a procura por atendimento
de saúde mostram forte tendência sazonal: são
baixas no início do ano, elevam-se até o meio
do ano, caem no início do semestre (após o pe-
ríodo de férias) e voltam a subir significativa-
mente no final do ano. Tendência similar pode
ter ocorrido em Vitória da Conquista, pois os
professores foram avaliados ao final do ano le-
tivo. Deve-se ainda lembrar que os DPM costu-
mam ser transitórios, o que contribui para su-
perestimar a sua prevalência.
Entre as dez escolas avaliadas, a freqüência
de DPM variou de 17,6% a 66,7%, sugerindo
que as condições de trabalho próprias de cada
escola apresentam alguma influência nesta va-
riação. Algumas características avaliadas pelo
JCQ estavam fortemente associadas (p < 0,05)
com a prevalência de DPM, destacando-se as
variáveis que representavam demanda psico-
lógica e suporte social no trabalho. Apenas
uma variável de controle sobre o trabalho apre-
sentou associação com a prevalência de DPM.
Trabalho repetitivo (indicador de controle) e
ritmo acelerado de trabalho (indicador de de-
manda psicológica) também estavam estatisti-
camente associados com DPM em professores
de Salvador 4.
Os estudos de corte transversal caracteristi-
camente apresentam dois tipos de limitações:
só incluem aqueles indivíduos que “sobrevive-
ram” à doença e, por coletarem simultanea-
mente dados de exposição e de doença, têm di-
ficuldade para estabelecer uma relação de cau-
salidade entre ambos. A maioria das doenças
avaliadas na nossa pesquisa são crônicas, re-
correntes, ou não letais, como varizes, lesões
por esforços repetitivos e calos nas cordas vo-
cais, pelo que dificilmente se perderam casos
pelo primeiro tipo de viés. Mesmo assim, não
podemos deixar de considerar as possibilida-
des de havermos perdido informação daqueles
professores que: (1) abandonaram a profissão
em decorrência de alguma doença ou desgaste
relacionado ao trabalho; ou (2) por alguma ra-
zão, estavam ausentes do trabalho, na época da
coleta de dados. Esteve 23 comenta que a época
de maior ausentismo para os professores é ao
final do ano escolar. Nesta última possibilida-
de, os nossos dados estariam subestimando a
real prevalência da morbidade.
Tabela 5
Associação entre dor/formigamento nas pernas e permanecer em pé, segundo presença/ausência de varizes
em professores da rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, 2001.
Varizes Permanecer em pé Dor/formigamento nas pernas Total RP (IC95%)
Freqüentemente Raramente
Sim Freqüentemente 50 29 79
Raramente 2 1 3
Total 52 30 82 0,95 (0,42-2,15)
Não Freqüentemente 57 81 138
Raramente 1 2 3
Total 58 83 141 1,24 (0,25-6,22)
Total Freqüentemente 107 110 217
Raramente 3 3 6
Total 110 113 223 0,99 (0,44-2,22)
M.H.:1,05 (0,48-2,29)
CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE DE PROFESSORES 195
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004
Colaboradores
N. S. Delcor, T. M. Araújo e E. J. F. B. Reis participaram
da concepção e desenho do estudo; N. S. Delcor, T. M.
Araújo, E. J. F. B. Reis, M. O. Silva, L. Barbalho e J. M.
Andrade realizaram a coleta de dados; todos os auto-
res participaram da análise e interpretação dos da-
dos; a elaboração da versão inicial do manuscrito foi
feita por N. S. Delcor; todos os autores revisaram o
manuscrito e aprovaram sua versão final, submetida
à publicação; pequenas alterações no texto foram
realizadas por F. M. Carvalho, T. M. Araújo e L. A. Por-
to, em resposta às análises dos revisores.
Resumo
A literatura científica sobre a saúde dos professores é
escassa e recente, enfocando especialmente o desgaste
e estresse. Este trabalho objetivou descrever as condi-
ções de trabalho e saúde dos professores da rede parti-
cular de ensino da cidade de Vitória da Conquista, Ba-
hia, Brasil. Num questionário auto-aplicado foram
coletadas informações de 250 professores de dez esco-
las. Entre as características do trabalho docente, ava-
liadas pelo Job Content Questionnaire, destacaram-se
ritmo acelerado de trabalho, ser criativo e ter boas re-
lações com as pessoas no trabalho. As queixas de saú-
de mais freqüentes estavam relacionadas à postura
corporal, à saúde mental e a queixas relacionadas à
voz. A prevalência de distúrbios psíquicos menores
(DPM), medida pelo Self Reporting Questionnaire-20,
foi de 41,5% e estava fortemente associada a longos
períodos de intensa concentração em uma mesma ta-
refa e volume excessivo de trabalho. Os resultados su-
gerem relação entre a prevalência de DPM e algumas
características do trabalho docente, evidenciando des-
gaste psicológico do educador.
Condições de Trabalho; Saúde Ocupacional; Docentes
O tipo de amostragem de conveniência uti-
lizado, que selecionou as dez maiores escolas
de Vitória da Conquista, pode ter comprometi-
do a representatividade. Esta limitação decor-
reu da inexistência de um cadastro fidedigno
de todas as escolas particulares da cidade. As
condições de trabalho nas escolas particulares
maiores são provavelmente diferentes das me-
nores, envolvendo ambientes menos familiares
e com maior número de alunos.
Da listagem inicial de professores, conse-
guiu-se uma proporção de resposta de 80,9%,
considerada na classificação de Babbie 33 co-
mo “muito boa”. Um inconveniente dos ques-
tionários auto-aplicativos é a opção do entre-
vistado não responder a todas as perguntas,
sendo difícil de controlar, pela mesma condi-
ção de anonimato da pesquisa.
Em conclusão, encontrou-se uma popula-
ção de professores jovens e de sexo feminino,
com elevada carga horária, vários locais de tra-
balho, baixa renda mensal e alta demanda psi-
cológica e física. Este grupo ocupacional apre-
sentou elevada proporção de queixas e diag-
nósticos de problemas de saúde. Destacou-se a
elevada prevalência de professores com distúr-
bios psíquicos menores (41,5%) que supera re-
sultados relatados em outros estudos. Consta-
tou-se associação entre a prevalência de dis-
túrbios psíquicos menores e algumas questões
do JCQ, principalmente aquelas relacionadas à
demanda psicológica e ao suporte social. Os
resultados apóiam a hipótese de que o desgas-
te do corpo dos professores é determinado, em
boa parte, pelo tipo e pela forma de organiza-
ção de seu trabalho.
Referências
1. Dejours C. A loucura do trabalho: estudo de psi-
copatologia do trabalho. São Paulo: Editora Cor-
tez/Oboré; 1987.
2. Codo W, Vasques I. Trabalho docente e sofrimen-
to: burnout em professores. In: Azevedo J, Gentili
P, Krug A, Simon C, organizadores. Utopia e de-
mocracia na educação cidadã. Porto Alegre: Edi-
tora Universidade; 2000. p. 369-81.
3. Codo W. Educação: carinho e trabalho. Petrópo-
lis: Editora Vozes; 1999.
4. Araújo T, Silvany A, Reis E, Kavalkievicz C. Con-
dições de trabalho e saúde dos professores da re-
de particular de ensino: Salvador-Bahia. Salvador:
Sindicato dos Professores do Estado da Bahia;
1998.
5. Silvany AM, Araújo T, Dutra F, Azi G, Alves R,
Kavalkievicz C, et al. Condições de trabalho e
saúde de professores da rede particular de ensino
de Salvador, Bahia. Rev Baiana Saúde Pública
2000; 24:42-6.
6. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educa-
cionais. Censo do professor, 1997: perfil dos do-
centes de educação básica. Brasília: Instituto Na-
cional de Estudos e Pesquisas Educacionais, Mi-
nistério de Educação e Cultura; 1999.
7. Karasek RA. Job content questionnaire and user’s
guide. Revision 1.1. Lowell: University of Massa-
chusetts; 1985.
8. Karasek R, Theorell T. Healthy work: stress, pro-
ductivity, and the reconstruction of working life.
New York: Basic Books; 1990.
9. Karasek RA, Brisson C, Kawakami N, Houtman I,
Bongers P, Amick B. The Job Content Question-
naire (JCQ): an instrument for internationally
comparative assessments of psychosocial job
characteristics. J Occup Health Psychol 1998; 3:
322-55.
10. Pelfrene E, Vlrick P, Mak RP, Smets P, Kornitzer M,
Backer G. Scale reliability and validity of Karasek
Delcor NS et al.196
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004
‘Job Demand Support’ model in the Belstress
study. Work Stress 2001; 15:297-313.
11. Araújo TM. Modelo demanda-controle (Job strain
model): proposições, limites e usos em estudos de
estresse e saúde ocupacional. In: Anais do VI Con-
gresso Brasileiro de Saúde Coletiva [CD-ROM].
Rio de Janeiro: ABRASCO; 2000.
12. Harding TW, Arango MV, Baltazar J, Climent CE,
Ibrahim HHA, Ladrido-Ignacio L, et al. Mental
disorders in primary health care: a study of their
frequency and diagnosis in four developing
countries. Psychol Med 1980; 10:231-41.
13. Mari JJ. A validity study of a Psychiatric Screening
Questionnaire (SRQ-20) in primary care in the
city of São Paulo. Br J Psychiatry 1986; 148:23-6.
14. Fernandes SRP, Almeida Filho N. Validação do
SRQ em amostra de trabalhadores em informáti-
ca. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional 1998;
89:105-12.
15. Masur J, Monteiro MG. Validation of the“CAGE al-
coholism screening test in a Brazilian psychiatric
inpatient hospital setting. Revista Brasileira de
Medicina e Pesquisas Biológicas 1983; 16:215-8.
16. Cifuentes M. Sintomatología psiquiátrica según
SRQ-20 y factores asociados en profesores mu-
nicipalizados de la comuna de Talcahuano [Tese
de Doutorado]. Concepción: Facultad de Medici-
na, Universidad de Concepción; 2000.
17. Organização Internacional do Trabalho. Servicios
de educación y formación. In: Enciclopedia de
salud y seguridad en el trabajo. http://www.mtas.
es/insht/EncOIT/Index.htm (acessado em 04/
Out/2002).
18. Oliveira MG. Condições de trabalho, gênero e
saúde: sofrimento e estresse. Um estudo de caso
com os profissionais docentes do ensino superior
privado de Belo Horizonte [Dissertação de Mes-
trado]. Belo Horizonte: Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais; 2001.
19. Wernick R. Condições de saúde e trabalho dos
docentes da Universidade Federal da Bahia, Sal-
vador – BA [Dissertação de Mestrado]. Salvador:
Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal
da Bahia; 2000.
20. Paranhos I. Interface entre Trabalho Docente e
Saúde, dos Professores da Universidade Estadual
de Feira de Santana [Dissertação de Mestrado].
Feira de Santana: Departamento de Saúde, Uni-
versidade Estadual de Feira de Santana; 2001.
21. Ministério do Trabalho. Relatório anual de infor-
mações sociais (RAIS). Brasília: Ministério do Tra-
balho; 1995.
22. Gomes L. Trabalho multifacetado de professores/
as: a saúde entre limites [Dissertação de Mestra-
do]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pú-
blica, Fundação Oswaldo Cruz; 2002.
23. Esteve JM. O mal-estar docente: a sala de aula e a
saúde dos professores. São Paulo: Edusc; 1999.
24. Lan Osasuna. Encuesta Navarra salud y condi-
ciones de trabalho 1997. http://www.stee-eilas.
org (acessado em 24/Out/2002).
25. Centro de Estudos e Saúde do Trabalhador. Aná-
lise de demanda do ambulatório. Salvador: Cen-
tro de Estudos e Saúde do Trabalhador; 1997.
26. Smith E, Gray SD, Dove H, Kirchner L, Heras H.
Frequency and effects of teachers’ voice prob-
lems. J Voice 1997; 11:81-7.
27. Penteado R, Pereira IM. A voz do professor: re-
lações entre trabalho, saúde e qualidade de vida.
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional 1998;
95/96:109-30.
28. Carvalho FM, Silvany AM, Paim JS, Melo AMC,
Ázaro MGA. Morbidade referida e utilização de
consulta médica em cinco populações do Estado
da Bahia. Ciênc Cult 1988; 40:853-8.
29. Fundação Nacional de Saúde. Pesquisa nacional
sobre saúde e nutrição. http://www.funasa.gov.
br/pub/GVE/GVE0535B.htm (acessado em 9/
Out/2002).
30. Ministério do Trabalho. Portaria federal no 3.214,
de 8 de junho de 1978. Diário Oficial da Repúbli-
ca Federativa do Brasil 1978; 6 jul.
31. Travers CJ, Cooper CL. Fuentes del estrés en la
enseñanza. In: organizador. El estrés de los profe-
sores. La presión en la actividad docente. Barce-
lona: Editora Paidos; 1997. p. 57-101. (Temas de
educación).
32. Ruiz RC, Seixas AAA, Heck B, Prio EL, Ruiz V. Risco
dos mestres. Revista Proteção 1998; 76:45-8.
33. Babbie ER. Questionários auto-aplicativos. In:
Babbie ER, organizador. Métodos de pesquisas de
Survey. Belo Horizonte: Editora UFMG; 1999. p.
247-58.
Recebido em 14/Jan/2003
Versão final reapresentada em 26/Jun/2003
Aprovado em 16/Out/2003

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Condições de vida dos professores

Construcao de-um-instrumento-para-avaliacao-das-atitudes-de-estudantes-de-med...
Construcao de-um-instrumento-para-avaliacao-das-atitudes-de-estudantes-de-med...Construcao de-um-instrumento-para-avaliacao-das-atitudes-de-estudantes-de-med...
Construcao de-um-instrumento-para-avaliacao-das-atitudes-de-estudantes-de-med...PROIDDBahiana
 
TDAH em adolescentes residentes em comunidades terapêuticas
TDAH em adolescentes residentes em comunidades terapêuticas TDAH em adolescentes residentes em comunidades terapêuticas
TDAH em adolescentes residentes em comunidades terapêuticas Kátia Beraldi
 
Qualidade de vida dos joves parte teórica (71 a) (3)
Qualidade de vida dos joves   parte teórica (71 a) (3)Qualidade de vida dos joves   parte teórica (71 a) (3)
Qualidade de vida dos joves parte teórica (71 a) (3)Qualivida
 
Copy of Atualizado dia 02-12 - A SAÚDE MENTAL DOS PROFESSORES HOMENS E A (1)....
Copy of Atualizado dia 02-12 - A SAÚDE MENTAL DOS PROFESSORES HOMENS E A (1)....Copy of Atualizado dia 02-12 - A SAÚDE MENTAL DOS PROFESSORES HOMENS E A (1)....
Copy of Atualizado dia 02-12 - A SAÚDE MENTAL DOS PROFESSORES HOMENS E A (1)....LucasBlois1
 
Características demográficas e ocupacionais do estudante-trabalhador de enfer...
Características demográficas e ocupacionais do estudante-trabalhador de enfer...Características demográficas e ocupacionais do estudante-trabalhador de enfer...
Características demográficas e ocupacionais do estudante-trabalhador de enfer...Universidade Estadual de Maringá
 
Avaliação e manejo da criança com dificuldade escolar e d.a.
Avaliação e manejo da criança com dificuldade escolar e d.a.Avaliação e manejo da criança com dificuldade escolar e d.a.
Avaliação e manejo da criança com dificuldade escolar e d.a.oficinadeaprendizagemace
 
artigo propriedades psicométricas
artigo propriedades psicométricasartigo propriedades psicométricas
artigo propriedades psicométricasPsandra
 
Prevençao da saude física
Prevençao da saude físicaPrevençao da saude física
Prevençao da saude físicaimbae123456
 
Trabalho preventivo 2011 (por: Euripedes Imbaé)
Trabalho  preventivo 2011 (por: Euripedes Imbaé)Trabalho  preventivo 2011 (por: Euripedes Imbaé)
Trabalho preventivo 2011 (por: Euripedes Imbaé)mariaisabel123
 
Cartilha do Educador: Educando com a ajuda das Neurociências
Cartilha do Educador: Educando com a ajuda das NeurociênciasCartilha do Educador: Educando com a ajuda das Neurociências
Cartilha do Educador: Educando com a ajuda das Neurociênciasnoritadastre
 
Qualidade de vida de estudantes de enfermagem de uma faculdade privada
Qualidade de vida de estudantes de enfermagem de uma faculdade privadaQualidade de vida de estudantes de enfermagem de uma faculdade privada
Qualidade de vida de estudantes de enfermagem de uma faculdade privadaUniversidade Estadual de Maringá
 
Dificuldades de aprendizagem e retardo mental: estudo de caso
Dificuldades de aprendizagem e retardo mental: estudo de casoDificuldades de aprendizagem e retardo mental: estudo de caso
Dificuldades de aprendizagem e retardo mental: estudo de casooficinadeaprendizagemace
 
Anais Fórum Saúde Mental Infantojuveni
Anais  Fórum Saúde Mental InfantojuveniAnais  Fórum Saúde Mental Infantojuveni
Anais Fórum Saúde Mental InfantojuveniCENAT Cursos
 
escala likert
escala likertescala likert
escala likertAna Paula
 

Semelhante a Condições de vida dos professores (20)

Construcao de-um-instrumento-para-avaliacao-das-atitudes-de-estudantes-de-med...
Construcao de-um-instrumento-para-avaliacao-das-atitudes-de-estudantes-de-med...Construcao de-um-instrumento-para-avaliacao-das-atitudes-de-estudantes-de-med...
Construcao de-um-instrumento-para-avaliacao-das-atitudes-de-estudantes-de-med...
 
TDAH em adolescentes residentes em comunidades terapêuticas
TDAH em adolescentes residentes em comunidades terapêuticas TDAH em adolescentes residentes em comunidades terapêuticas
TDAH em adolescentes residentes em comunidades terapêuticas
 
Qualidade de vida dos joves parte teórica (71 a) (3)
Qualidade de vida dos joves   parte teórica (71 a) (3)Qualidade de vida dos joves   parte teórica (71 a) (3)
Qualidade de vida dos joves parte teórica (71 a) (3)
 
Artigo sbie 2012
Artigo sbie 2012Artigo sbie 2012
Artigo sbie 2012
 
Copy of Atualizado dia 02-12 - A SAÚDE MENTAL DOS PROFESSORES HOMENS E A (1)....
Copy of Atualizado dia 02-12 - A SAÚDE MENTAL DOS PROFESSORES HOMENS E A (1)....Copy of Atualizado dia 02-12 - A SAÚDE MENTAL DOS PROFESSORES HOMENS E A (1)....
Copy of Atualizado dia 02-12 - A SAÚDE MENTAL DOS PROFESSORES HOMENS E A (1)....
 
Características demográficas e ocupacionais do estudante-trabalhador de enfer...
Características demográficas e ocupacionais do estudante-trabalhador de enfer...Características demográficas e ocupacionais do estudante-trabalhador de enfer...
Características demográficas e ocupacionais do estudante-trabalhador de enfer...
 
11
1111
11
 
Avaliação e manejo da criança com dificuldade escolar e d.a.
Avaliação e manejo da criança com dificuldade escolar e d.a.Avaliação e manejo da criança com dificuldade escolar e d.a.
Avaliação e manejo da criança com dificuldade escolar e d.a.
 
artigo propriedades psicométricas
artigo propriedades psicométricasartigo propriedades psicométricas
artigo propriedades psicométricas
 
Modelo artigo janete ribeiro
Modelo artigo janete ribeiroModelo artigo janete ribeiro
Modelo artigo janete ribeiro
 
Prevençao da saude física
Prevençao da saude físicaPrevençao da saude física
Prevençao da saude física
 
Trabalho preventivo 2011 (por: Euripedes Imbaé)
Trabalho  preventivo 2011 (por: Euripedes Imbaé)Trabalho  preventivo 2011 (por: Euripedes Imbaé)
Trabalho preventivo 2011 (por: Euripedes Imbaé)
 
Janete ribeiro
Janete ribeiroJanete ribeiro
Janete ribeiro
 
Cartilha do Educador: Educando com a ajuda das Neurociências
Cartilha do Educador: Educando com a ajuda das NeurociênciasCartilha do Educador: Educando com a ajuda das Neurociências
Cartilha do Educador: Educando com a ajuda das Neurociências
 
Qualidade de vida de estudantes de enfermagem de uma faculdade privada
Qualidade de vida de estudantes de enfermagem de uma faculdade privadaQualidade de vida de estudantes de enfermagem de uma faculdade privada
Qualidade de vida de estudantes de enfermagem de uma faculdade privada
 
Dificuldades de aprendizagem e retardo mental: estudo de caso
Dificuldades de aprendizagem e retardo mental: estudo de casoDificuldades de aprendizagem e retardo mental: estudo de caso
Dificuldades de aprendizagem e retardo mental: estudo de caso
 
Anais Fórum Saúde Mental Infantojuveni
Anais  Fórum Saúde Mental InfantojuveniAnais  Fórum Saúde Mental Infantojuveni
Anais Fórum Saúde Mental Infantojuveni
 
8289-30221-2-PB.pdf
8289-30221-2-PB.pdf8289-30221-2-PB.pdf
8289-30221-2-PB.pdf
 
escala likert
escala likertescala likert
escala likert
 
Puericultura em Angola
Puericultura em AngolaPuericultura em Angola
Puericultura em Angola
 

Mais de profcici

Bracht artigo
Bracht artigoBracht artigo
Bracht artigoprofcici
 
Doencas ocupacionais-em-professores
Doencas ocupacionais-em-professoresDoencas ocupacionais-em-professores
Doencas ocupacionais-em-professoresprofcici
 
Dinâmica da familia
Dinâmica da familiaDinâmica da familia
Dinâmica da familiaprofcici
 
As alianças de deus com os homens
As alianças de deus com os homensAs alianças de deus com os homens
As alianças de deus com os homensprofcici
 
receita de Kibe com queijo
receita de Kibe com queijoreceita de Kibe com queijo
receita de Kibe com queijoprofcici
 

Mais de profcici (6)

Bracht artigo
Bracht artigoBracht artigo
Bracht artigo
 
Doencas ocupacionais-em-professores
Doencas ocupacionais-em-professoresDoencas ocupacionais-em-professores
Doencas ocupacionais-em-professores
 
Batismo
BatismoBatismo
Batismo
 
Dinâmica da familia
Dinâmica da familiaDinâmica da familia
Dinâmica da familia
 
As alianças de deus com os homens
As alianças de deus com os homensAs alianças de deus com os homens
As alianças de deus com os homens
 
receita de Kibe com queijo
receita de Kibe com queijoreceita de Kibe com queijo
receita de Kibe com queijo
 

Último

o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.Mary Alvarenga
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavrasMary Alvarenga
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESEduardaReis50
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdfAna Lemos
 
análise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertaçãoanálise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - DissertaçãoMaiteFerreira4
 
Libras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
Libras Jogo da memória em LIBRAS MemoriaLibras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
Libras Jogo da memória em LIBRAS Memorialgrecchi
 
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdf
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdfGEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdf
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdfElianeElika
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxAtividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxDianaSheila2
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptxMarlene Cunhada
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfFernandaMota99
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfLeloIurk1
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxTainTorres4
 

Último (20)

o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavras
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
 
análise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertaçãoanálise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertação
 
Libras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
Libras Jogo da memória em LIBRAS MemoriaLibras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
Libras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
 
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdf
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdfGEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdf
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdf
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxAtividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
 

Condições de vida dos professores

  • 1. 187 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004 ARTIGO ARTICLE Condições de trabalho e saúde dos professores da rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil Labor and health conditions of private school teachers in Vitória da Conquista, Bahia, Brazil 1 Faculdade de Medicina, Universidade Federal da Bahia,Salvador, Brasil. 2 Núcleo de Epidemiologia, Departamento de Saúde, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Brasil. Correspondência Fernando M. Carvalho, Departamento de Medicina Preventiva, Universidade Federal da Bahia. Rua Cláudio Manoel da Costa 74, apto. 1401, Salvador, BA 40110-180, Brasil. fmc@ufba.br Núria Serre Delcor 1 Tania M. Araújo 2 Eduardo J. F. B. Reis 1 Lauro A. Porto 1 Fernando M. Carvalho 1 Manuela Oliveira e Silva 1 Leonardo Barbalho 1 Jonathan Moura de Andrade 1 Abstract The scientific literature on teachers’ health is scarce, recent, and focuses predominantly on stress and burnout. This study describes the la- bor conditions of private school teachers in Vitória da Conquista, Bahia State, Brazil. In- formation on 250 teachers from the ten largest schools in the municipality was collected through a self-applied questionnaire. The most relevant characteristics of teachers’ work, evaluated by the Job Content Questionnaire were: speed of work, creativity at work, and relations with colleagues. The most frequent complaints related to posture, mental strain, and voice problems. Prevalence of minor psy- chological disorders according to the Self Re- porting Questionnaire-20 was 41.5%, strongly associated with long periods of intense con- centration on the same job and excessive work. Results suggest an association between the prevalence of minor psychological disorders and certain characteristics of teaching work, emphasizing teachers’ exposure to stress. Working Conditions; Occupational Health; Faculty Introdução O trabalho humano possui um duplo caráter: por um lado é fonte de realização, satisfação, prazer, estruturando e conformando o proces- so de identidade dos sujeitos; por outro, pode também se transformar em elemento patogê- nico, tornando-se nocivo à saúde 1. No am- biente de trabalho, os processos de desgaste do corpo são determinados em boa parte pelo ti- po de trabalho e pela forma como esse está or- ganizado. No Brasil, a literatura científica sobre as condições de trabalho e saúde dos professores é ainda restrita. Entretanto, a partir da década de 90, observou-se um aumento no número de estudos conduzidos neste grupo ocupacional. Estes estudos exploram especialmente os efei- tos do trabalho sobre a saúde mental, como es- tresse e a Síndrome de Burnout. Esta síndrome afeta especialmente trabalhadores com muito contato social, como nos setores de Educação e Saúde 2. As investigações de Codo 3 sobre a saúde mental dos professores de 1o e 2o graus em to- do o país, abrangendo 1.440 escolas e 30 mil professores, revelaram que 26% da amostra es- tudada apresentavam exaustão emocional. Es- sa proporção variou de 17% em Minas Gerais e Ceará a 39% no Rio Grande do Sul. A desvalori- zação profissional, baixa auto-estima e ausên- cia de resultados percebidos no trabalho de-
  • 2. Delcor NS et al.188 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004 senvolvido foram fatores importantes para o quadro encontrado. Araújo et al. 4 e Silvany et al. 5 realizaram amplos estudos sobre as condições de saúde e trabalho de 573 professores da rede particular de ensino em Salvador, Bahia, em 1996. Proble- mas de saúde nos 15 dias anteriores à entrevis- ta foram referidos por 32,5% dos professores. As queixas de saúde mais freqüentes foram do- res nas costas e pernas e, no âmbito psicoemo- cional, cansaço mental e nervosismo. Ter calos nas cordas vocais foi referido por 12% dos pro- fessores. A prevalência de distúrbios psíquicos menores foi de 20%, associada a trabalho repe- titivo, insatisfação no desempenho das ativida- des, ambiente intranqüilo e estressante, des- gaste na relação professor-aluno, falta de auto- nomia no planejamento das atividades, ritmo acelerado de trabalho e à pressão da direção. A avaliação das condições de saúde e traba- lho de professores da rede particular de ensino é relevante porque: (1) há um número expres- sivo e crescente de profissionais desta catego- ria no Brasil 6; (2) a maioria dos estudos reali- zados avaliaram saúde e trabalho de professo- res de escolas públicas 5, os quais estão subme- tidos a processo e organização do trabalho dis- tintos dos existentes nas escolas privadas. O objetivo deste estudo foi descrever as con- dições de trabalho e saúde de professores da re- de particular de ensino de Vitória da Conquis- ta, Bahia. Metodologia Realizou-se um estudo epidemiológico de cor- te transversal. Na cidade de Vitória da Conquis- ta, em 2001, existiam 35 escolas da rede parti- cular de ensino, cadastradas pelo Sindicato dos Professores da Rede Privada de Ensino da Ba- hia (SINPRO/BA), com 600 a 700 professores. Foram incluídos todos os professores, de ensi- no pré-escolar até ensino médio, das dez maio- res escolas da rede particular de ensino da ci- dade. Foram excluídos do estudo professores de educação física, informática e línguas es- trangeiras. Na coleta de dados foi utilizado um formulário auto-aplicado com cinco blocos de questões. O primeiro bloco continha informações so- bre características demográficas e econômicas, características ocupacionais e atividades do- mésticas. O segundo bloco avaliou esforços físicos no trabalho, em sete questões medidas em uma escala de 0 a 3 (0 = raramente; 1 = pouco fre- qüente; 2 = freqüente e 3 = muito freqüente), situações de risco no trabalho em oito ques- tões medidas em escala de 0 a 3 (0 = risco ine- xistente; 1 = baixo risco; 2 = médio risco e 3 = alto risco) e conteúdo do trabalho, medido ba- seando-se no Job Content Questionnaire (JCQ) modificado 7,8. A versão do JCQ em português inclui 41 questões: 17 a respeito do controle so- bre o trabalho (6 sobre habilidades e 11 sobre poder de decisão), 13 perguntas sobre deman- das psicológicas (8) e físicas (5), e 11 perguntas sobre suporte social. Trinta e oito questões fo- ram medidas em uma escala de 1 a 4 (1 = dis- cordo fortemente; 2 = discordo; 3 = concordo e 4 = concordo fortemente); as outras três per- guntavam sobre o número de funcionários que coordena o professor, o número de pessoas no grupo de trabalho e sobre ser ou não membro do sindicato. O JCQ tem sido usado em vários países, especialmente nos Estados Unidos, Ca- nadá, Europa, Japão e Coréia do Sul. Estudos de validação do JCQ indicam bom desempe- nho deste instrumento 9,10. No Brasil, ainda não foi conduzido estudo para sua validação. Con- tudo, resultados obtidos em estudos brasileiros que utilizaram o JCQ têm mostrado consistên- cia com resultados obtidos em outros países 11, revelando que o instrumento apresenta bom desempenho na identificação e classificação de diferentes situações de trabalho. O terceiro bloco investigou a saúde física. Avaliaram-se trinta queixas de saúde, classifi- cadas em uma escala de 0 a 4 (0 = não sente; 1 = raramente; 2 = pouco freqüente; 3 = freqüente e 4 = muito freqüente). Também incluiu-se questões relacionadas com a voz, em escala de resposta Sim/Não e sobre o hábito de fumar. O quarto bloco avaliou a saúde mental e ní- vel de suspeição de consumo abusivo de ál- cool. A saúde mental foi avaliada por meio de um instrumento de detecção de distúrbios psí- quicos menores, o Self Reporting Questionnai- re-20 (SRQ-20), desenvolvido por Harding et al. 12. Foram classificados como suspeitos de apre- sentar distúrbios psíquicos menores (DPM), os professores que responderam positivamente a sete ou mais questões dentre as vinte propos- tas pelo teste. Estudos de validação do SRQ-20 foram realizados no Brasil por Mari 13 e Fer- nandes & Almeida Filho 14. Indivíduos com duas ou mais respostas positivas as quatro questões tipo Sim/Não do teste C.A.G.E. foram classifi- cados como suspeitos de alcoolismo 15. O quinto bloco incluiu questões sobre utili- zação de Serviço de Medicina e Segurança do Trabalho nas escolas, diagnósticos médicos desde o início do trabalho como professor, aci- dentes do trabalho, problemas de saúde nos úl- timos 15 dias, atividade física e lazer.
  • 3. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004 Em função das questões abordadas pelos instrumentos de pesquisa e objetivando dimi- nuir ao máximo possíveis resistências, mante- ve-se o anonimato do formulário, não sendo solicitado ao professor que se identificasse. A coleta de dados foi realizada por estudantes de medicina devidamente treinados, no período de setembro a novembro de 2001. Para garantir níveis mais elevados de padronização, além do treinamento foi utilizado um manual de ins- truções básicas para orientar os procedimen- tos durante as entrevistas. Foram efetuadas vi- sitas prévias para contatos com a direção das escolas, a fim de obter permissão para a reali- zação da pesquisa. Obtida a listagem de pro- fessores e o consentimento assinado de cada um deles, entrevistas foram realizadas em cada escola, coletando-se os questionários dentro de envelopes fechados para garantir o anoni- mato. Com o programa SPSS foram calculadas freqüências e medidas de tendência central pa- ra a descrição das variáveis. Para a análise bi- variada, as variáveis do JCQ foram dicotomiza- das. O teste do qui-quadrado foi utilizado para identificar prováveis associações entre variá- veis, tomando como estatisticamente signifi- cante o nível de probabilidade de 5%. Razões de prevalência e respectivos intervalos de con- fiança 95% foram calculados. Resultados Dos 309 professores das dez escolas seleciona- das, 250 (80,9%) responderam o questionário. Dos 59 professores que não entraram no estu- do, um estava com licença por maternidade, um encontrava-se no hospital, três recusaram- se a participar verbalmente e 54 não devolve- ram o questionário. CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE DE PROFESSORES 189 Os professores de Vitória da Conquista ti- nham média de idade de 34,5 ± 7,5 anos, 82,8% eram mulheres, 65,1% casadas e 72,1% com ní- vel de escolaridade superior (em curso ou com- pleto). Trabalhavam em outra escola 59,3% e em mais de duas escolas 9,2%. Desenvolviam outras atividades remuneradas além da docên- cia 19,1%. As características do trabalho destes professores são apresentadas na Tabela 1. A renda mensal média foi de R$ 886,00, cor- respondente na época da coleta a US$ 345. Vin- te e três por cento recebiam menos de R$ 400,00; 33% de R$ 401,00 a R$ 800,00; 23% de R$ 801,00 a R$ 1.100,00 e 21% de R$ 1.101,00 ou mais. Entre aqueles que realizavam atividades domésticas, 16% não recebiam ajuda (16% nas mulheres e 20% nos homens), geralmente de uma empregada doméstica. Esforços físicos realizados no trabalho ou associados a ele, apontados como “freqüentes” ou “muito freqüentes”, foram: permanecer em pé (96,7%) e correção de trabalhos escolares (94,1%). As situações de risco na escola mais apontadas como de “médio” ou “alto risco”, fo- ram risco de queda e torções (24%) e acidentes de trânsito (17,9%). Mais da metade dos pro- fessores responderam que “concordaram” ou “concordaram fortemente” em algumas ques- tões do JCQ que identificavam aspectos negati- vos para o bom desenvolvimento do seu traba- lho: ritmo acelerado de trabalho (67,9%); posi- ção inadequada e incômoda do corpo (65,4%); atividade física rápida e contínua (63,8%); ritmo frenético de trabalho (54,9%); posições da cabeça e braços inadequadas e incômodas (53,4%) e longos períodos de intensa concen- tração em uma mesma tarefa (51,9%). Naque- las questões do JCQ consideradas como positi- vas para o desenvolvimento do trabalho, mais de 90% dos professores “concordaram” ou “con- cordaram fortemente” em: necessidade de ser Tabela 1 Características do trabalho de professores da rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, 2001. Características do trabalho N Média Desvio-padrão Tempo de trabalho como professor (em anos) 234 11,4 6,9 Número total de turmas 248 3,9 3,0 Número total de alunos por turma 244 30,1 9,1 Carga horária total semanal na escola 221 19,4 8,4 Carga horária semanal em sala de aula 230 17,0 7,4 Carga horária semanal em todas as escolas 239 34,3 16,9 (sala de aula e outras atividades) N = número de professores incluídos na análise.
  • 4. Delcor NS et al.190 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004 criativo (99,2%); necessidade de um alto nível de habilidade (96,0%); possibilidade de apren- der novas coisas (94,7%); opinaram que os co- legas são competentes em fazer suas ativida- des (91,2%); opinaram que as pessoas no tra- balho eram amigáveis (90,7%) e possibilidade de dar opinião sobre o que acontece no seu tra- balho (90,6%). Os professores referiram, em média, 7,2 ± 5,7 queixas de saúde, dentre uma lista de trinta queixas, todas rotuladas como sendo “freqüen- tes” ou “muito freqüentes”. Destacaram-se as queixas de saúde relacionadas à postura: dor nos braços/ombro (52,1%), dor nas costas (51,4%) e dor nas pernas/formigamento (47,5%); pro- blemas psicossomáticos ou relacionados à saú- de mental: cansaço mental (59,2%) e proble- mas relacionados ao uso intensivo da voz: dor na garganta (45,7%) (Tabela 2). Encontrou-se que 92,6% dos professores re- feriram uso intensivo da voz, 62,3% cansavam- se para falar e 57% faziam força para serem ou- vidos. Rouquidão nos últimos seis meses foi re- ferida por 59,2% dos professores. Nesta popu- lação, 4,2% eram fumantes atuais e 11,4% ex- fumantes. O consumo de bebida alcóolica foi referido por 22,1% dos professores. O teste C.A.G.E. classificou 1,3% dos professores como suspeitos de dependência do álcool. Dos 250 professores, 94,8% responderam a todas as perguntas do SRQ-20. A prevalência de distúrbios psíquicos menores estimada pelo SRQ-20 foi de 41,5%, variando de 17,6% a 66,7% dentre as escolas estudadas. A prevalência de DPM estava estatisticamente associada (p = 0,05, respostas “concordaram” ou “concordaram for- temente”) com características do conteúdo do trabalho: trabalho repetitivo (RP = 1,64), inten- sa concentração em uma mesma tarefa por um longo período (RP = 1,76), volume excessivo de trabalho (RP = 1,65), ritmo acelerado de traba- lho (RP = 1,49), interrupção das tarefas antes de serem concluídas (RP = 1,38), tempo para realização das tarefas insuficiente (RP = 1,36), ausência de preocupação do coordenador pelo bem-estar da sua equipe (RP = 1,50), inexistên- cia de processos democráticos de tomada de decisões do grupo de trabalho (RP = 1,46), falta de interesse dos colegas de trabalho pelo que acontece com você (RP = 1,43) e exposição a hostilidades e conflitos com os colegas de tra- balho (RP = 1,39) (Tabela 3). Apenas 28% dos professores realizavam os exames médicos periódicos previstos na legis- lação. De 233 indivíduos que responderam so- bre diagnósticos médicos recebidos desde que começaram a trabalhar como professor, 73,4% referiram no mínimo um diagnóstico e 26,6% referiram não ter diagnósticos de qualquer problema de saúde. Os diagnósticos médicos mais freqüentemente referidos foram: varizes em membros inferiores (36,1%), gastrite ou eso- fagite (24%), infeções do trato urinário (18%), sinusite crônica (17,6%), LER (17,6%) e calosnas cordas vocais (13,3%) (Tabela 4). A associação entre a queixa de dor/formi- gamento nas pernas e o fato de o professor per- manecer de pé foi fraca (RP = 0,99; IC95%: 0,44- 2,22) e não sofreu confundimento importante devido à presença de varizes (RPMantel-Haenszel = 1,05; IC95%: 0,48-2,29). Problemas de saúde nos 15 dias anteriores à entrevista foram referidos por 39,4% dos pro- fessores. Acidentes de trabalho foram referidos por 7,1%. Atividade física fora do trabalho foi referida por 38,9% dos professores. Cinqüenta e três por cento dos professores disseram que dedicavam algum tempo semanal ao lazer du- rante a semana. Discussão Os professores estudados da rede particular de ensino de Vitória da Conquista, representam uma população jovem, principalmente do sexo feminino, casadas e com nível de escolaridade superior. Estes dados sócio-demográficos e de escolaridade são similares aos relatados por Silvany et al. 5 em professores da rede privada de Salvador, Bahia. A predominância da mulher na profissão de educar também aparece em outras pesquisas sobre a saúde e trabalho dos professores de en- sino básico, variando de 75 a 85,6% 3,5,6,16,17. Com a expansão do setor educacional no Bra- sil, a partir da segunda metade do século XX, foi preciso a incorporação de muitos trabalha- dores para o ensino. A docência, assim como a enfermagem, foi considerada na época, ativi- dade própria das mulheres por envolver “o cui- dado dos outros”. As mulheres foram chama- das para ocupar os cargos de educadoras, con- siderando-se o trabalho na escola como uma continuação das tarefas exigidas no âmbito do- méstico, aparecendo a imagem da “mãe educa- dora”. A crise econômica, a crise de emprego, a luta das mulheres pelos seus direitos e as mu- danças na família nuclear favoreceram a entra- da da mulher no mundo do trabalho. Os baixos salários dos educadores também fazem com que as mulheres ocupem esses trabalhos, para complementar a renda familiar 3. Porém, a pro- porção de professores do sexo masculino vem aumentando no ensino médio em relação ao pré-escolar. No estudo de Codo 3, os homens
  • 5. CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE DE PROFESSORES 191 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004 Tabela 2 Freqüência de queixas de saúde referidas como “freqüentes” ou “muito freqüentes” pelos professores da rede particular de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, 2001. Queixas de saúde referidas n Freqüência Freqüência simples relativa (%) Problemas psicossomáticos ou relacionados à saúde mental Cansaço mental 240 142 59,2 Esquecimento 241 89 36,9 Nervosismo 243 80 32,9 Insônia 245 46 18,8 Azia/queimação 240 46 19,2 Problemas relacionados à postura corporal Dor nos braços/ombro 242 126 52,1 Dor nas costas 243 125 51,4 Dor/formigamento nas pernas 242 115 47,5 Dor na coluna 241 104 43,2 Inchaço nas pernas 240 26 10,8 Problemas relacionados ao uso intensivo da voz Dor na garganta 245 112 45,7 Perda temporária de voz 240 54 22,5 Problemas relacionados à poeira e pó de giz Entupimento nasal 240 67 27,9 Rinite 237 66 27,8 Tosse 242 52 21,5 Irritação nos olhos 242 43 17,8 Coriza 240 41 17,1 Problemas de pele 242 35 14,5 Outros problemas Sonolência 243 74 30,5 Queda dos cabelos 241 66 27,4 Redução da visão 240 52 21,7 Problemas digestivos 238 46 19,3 Tontura 244 38 15,6 Fraqueza 240 36 15,0 Zumbido 240 35 14,6 Falta de ar 240 24 10,0 Palpitações 238 21 8,8 Não ouve bem 240 16 6,7 Ardor ao urinar 240 12 5,0 Dor no peito 240 11 4,6 N = número de professores incluídos na análise.
  • 6. Delcor NS et al.192 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004 representavam 2,6% da pré-escola a quarta sé- rie e 39,2%, no segundo grau. No presente es- tudo, 2,0% dos professores no nível pré-escolar eram homens e 47,5%, no nível médio. Em ou- tros estudos sobre condições de saúde e traba- lho docente no nível superior, a proporção de professores do sexo feminino variou de 34,5% a 61,5% 18,19,20. O fato de a mulher participar mais nos ní- veis iniciais de ensino, pode responder a uma maior demanda de um educador com o papel de “mãe” nos primeiros anos de escolaridade. Todos os professores homens de nosso estudo (n = 42) possuíam nível de escolaridade supe- rior, o que favorece a que eles ensinem classes de níveis mais elevados. Em nosso estudo, to- dos os educadores de ensino médio possuíam nível de escolaridade superior e só três profes- sores do ensino fundamental II não o pos- suíam. Destacou-se a alta porcentagem de profes- sores com nível de escolaridade superior em Vitória da Conquista, similar à de 71,9%, en- contrada em Salvador 5. Dados do Ministério do Trabalho 21 apontam apenas 22,3% dos pro- fessores da rede particular de ensino do Estado da Bahia com nível de escolaridade superior. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (aprova- da em dezembro de 1996) que passou a exigir escolaridade superior para todos os níveis de ensino, poderia ser a responsável por este au- mento no nível de qualificação dos docentes. Em Vitória da Conquista, 26,2% dos profes- sores trabalhavam simultaneamente em outras escolas privadas e 28,4% trabalhavam em ou- tras escolas da rede estadual ou municipal. Em Salvador, as porcentagens correspondentes fo- ram 43,1% e 20,2%, respectivamente 5. Estas di- ferenças podem indicar uma menor oferta de trabalho em outras escolas em Vitória da Con- quista, ou a necessidade de trabalhar em várias escolas para aumentar a renda familiar, em Sal- vador. Mesmo assim, muitos professores de Vi- tória da Conquista trabalhavam em outras es- colas ou em outra atividade remunerada, indi- cando a necessidade de complementar uma renda familiar insuficiente, com outros traba- lhos, inclusive fora da área da docência. A carga horária média semanal de trabalho em todas as escolas (em sala de aula e ativida- des extraclasse) foi elevada. A essa carga horá- ria ainda devem ser somadas as horas para a preparação de aulas, os deslocamentos de uma escola para outra e as atividades domésticas. Segundo Gomes 22, as atividades domésticas ocupam de 2 a 3 horas por dia do tempo do pro- fessor. Esta situação agrava-se para aqueles professores que não recebiam qualquer tipo de ajuda em casa. Com toda essa carga de traba- lho, 56,0% dos professores tinham renda men- Tabela 3 Razões de prevalência (RP) e respectivos intervalos de confiança de 95% (IC 95%) para a associação entre distúrbios psíquicos menores e questões do Job Content Questionnaire (JCQ), nos professores a rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, 2001. Questões do JCQ n RP (IC95%) Controle O seu trabalho é repetitivo? 245 1,64 (1,23-2,20) Demanda psicológica Seu trabalho exige longos períodos de intensa concentração em uma mesma tarefa? 236 1,76 (1,27-2,44) Você é solicitado a realizar um volume excessivo de trabalho? 246 1,65 (1,23-2,20) Seu trabalho é realizado sob ritmo acelerado? 245 1,49 (1,03-2,13) Suas tarefas muitas vezes são interrompidas antes que você possa concluí-las, 227 1,38 (1,02-1,87) adiando para mais tarde a sua conclusão? O tempo para realização das suas tarefas não é suficiente para concluí-las? 244 1,36 (1,02-1,82) Suporte social Falta de preocupação do coordenador com o bem-estar da sua equipe de trabalho? 231 1,50 (1,13-2,00) Seu grupo de trabalho ou unidade não toma decisões democraticamente? 232 1,46 (1,08-1,96) Falta de interesses das pessoas por você com quem você trabalha? 230 1,43 (1,06-1,93) Exposição a hostilidades e conflitos com as pessoas com quem você trabalha? 235 1,39 (1,02-1,89) N = número de professores incluídos na análise.
  • 7. CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE DE PROFESSORES 193 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004 sal inferior a quatro salários mínimos (R$ 720,00 ou US$ 270). Segundo Esteve 23, a sociedade atual estabelece o status social com base no ní- vel salarial. Os baixos salários dos professores estudados podem ser um forte fator na crise de identidade e na insatisfação da categoria, po- dendo afetar a saúde mental destes trabalha- dores. Os esforços físicos realizados no trabalho foram freqüentemente apontados pelos entre- vistados, destacando-se permanecer em pé, queixa também freqüente nos estudos de Para- nhos 20 e de Araújo et al. 4, e correção de traba- lhos escolares. Na presente base de dados, não foi demonstrada associação entre dor/formi- gamento nas pernas e a freqüente permanên- cia em pé, mesmo entre os professores que re- feriram padecer de varizes. Explicações para este fato inusitado devem ser buscadas após a consideração de outros possíveis confundido- res que não foram aqui analisados. As situações de risco no trabalho forampou- co apontadas. De fato, a profissão de educador, pela sua natureza, não tem por que comportar riscos físicos relevantes. Destacou-se a alta porcentagem de profes- sores que identificaram características possi- velmente associadas aos principais problemas de saúde apontados pela categoria. Manter uma posição inadequada e incômoda do corpo e precisar de esforço físico para desenvolver o trabalho poderiam estar associados às queixas relacionadas à postura corporal. Os professores valorizaram predominante- mente aqueles aspectos do trabalho relaciona- dos ao controle e ao suporte social. Os aspetos negativos especialmente apontados foram os relacionados com a demanda psicológica e fí- sica no trabalho. Esses dados são similares a outros estudos com professores. Ritmo acele- rado de trabalho foi referido por 67,9% dos pro- fessores de Vitória da Conquista e por 60,6% dos professores investigados em Salvador, Ba- hia 5. Em Navarra, Espanha, uma pesquisa so- bre saúde e trabalho dos professores encon- trou que as principais queixas foram atenção elevada, ritmo de trabalho elevado e volume de trabalho excessivo, três aspectos que medem a demanda psicológica no trabalho 24. Professo- res da Universidade Estadual de Feira de San- tana, Bahia, assinalaram como negativos, prin- cipalmente, os aspectos que medem demanda psicológica, como “exigência de concentração” (71,6%) e “ritmo acelerado de trabalho” (54,9%), e os aspectos positivos mais referidos foram os relacionados com o controle, como “trabalho criativo” (100%) e o suporte social, como “boa relação com os colegas” (93,7%) 20. Merece especial atenção o fato de que uma população relativamente jovem ter referido em média, um número alto de problemas de saú- de, dentre os trinta listados. As queixas de saú- de mais freqüentemente referidas estavam re- lacionadas com a postura corporal, problemas psicossomáticos ou de saúde mental e queixas relacionadas à voz. Esse mesmo perfil de quei- xas foi detectado em outros estudos com pro- fessores 5,19,20,25,26,27. O percentual de professores com diagnósti- cos médicos de saúde desde que começaram a trabalhar foi também elevado. É importante destacar que os diagnósticos mais freqüente- mente referidos, em primeiro e quinto lugares, respectivamente, foram varizes em membros inferiores e lesões por esforços repetitivos, doenças potencialmente relacionadas ao tra- balho. Um terço dos professores referiu problemas de saúde nos 15 dias anteriores à entrevista, o que pode-se traduzir em elevado ausentismo ao trabalho. Esta porcentagem é semelhante à relatada para professores de Salvador 5 e em in- quéritos domiciliares com populações de di- versos países 28. A porcentagem de professores suspeitos de dependência do álcool foi reduzida e seme- lhante à relatada para professores de Salvador 4. O número de professores que se declararam fumantes também foi menor do que da média populacional brasileira, 23,9% 29. Tabela 4 Freqüência dos diagnósticos médicos mais referidos por 233 professores da rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, 2001. Diagnóstico médico referido Freqüência Freqüência simples relativa (%) Varizes em membros inferiores 84 36,1 Gastrite e esofagite 56 24,0 Infeção de trato urinário 42 18,0 Sinusite crônica 41 17,6 Lesões por esforços repetitivos 41 17,6 Calos nas cordas vocais 31 13,3 Anemia 29 12,5 Hipertensão arterial 18 7,7 Dermatite 17 7,3 Faringite crônica 15 6,4 Asma 11 4,7 Lombalgia 9 3,9 Outros 25 10,7 Nunca teve diagnóstico de problema de saúde 62 26,6
  • 8. Delcor NS et al.194 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004 Destacou-se a alta prevalência de acidentes de trabalho referidos, se comparada àquela en- contrada em professores de Salvador, 3,4% 5. Apesar deste quadro ocupacional adverso, as escolas não realizavam exames médicos pe- riódicos, mesmo estes sendo obrigatoriamente previstos na Norma Regulamentadora (NR-7) do Ministério do Trabalho 30. A prevalência de distúrbios psíquicos me- nores observada neste estudo (41,5%), superou amplamente os resultados relatados por outros autores, na faixa de 18 a 24,2% 4,16,18,19,20. Cabe comentar que a pesquisa foi realizada num pe- ríodo de crise sindical e ao final do ano letivo, época de maior desgaste para os professores, como aponta Esteve 23. Travers & Cooper 31 ci- tam vários trabalhos sobre a dinâmica do es- tresse em professores durante o transcorrer do ano letivo. Um estudo canadense, referido por Travers & Cooper 31, registrou maior incidência de estresse ao final de cada semestre e ao final do ano escolar. Ruiz et al. 32 registraram que as queixas de saúde e a procura por atendimento de saúde mostram forte tendência sazonal: são baixas no início do ano, elevam-se até o meio do ano, caem no início do semestre (após o pe- ríodo de férias) e voltam a subir significativa- mente no final do ano. Tendência similar pode ter ocorrido em Vitória da Conquista, pois os professores foram avaliados ao final do ano le- tivo. Deve-se ainda lembrar que os DPM costu- mam ser transitórios, o que contribui para su- perestimar a sua prevalência. Entre as dez escolas avaliadas, a freqüência de DPM variou de 17,6% a 66,7%, sugerindo que as condições de trabalho próprias de cada escola apresentam alguma influência nesta va- riação. Algumas características avaliadas pelo JCQ estavam fortemente associadas (p < 0,05) com a prevalência de DPM, destacando-se as variáveis que representavam demanda psico- lógica e suporte social no trabalho. Apenas uma variável de controle sobre o trabalho apre- sentou associação com a prevalência de DPM. Trabalho repetitivo (indicador de controle) e ritmo acelerado de trabalho (indicador de de- manda psicológica) também estavam estatisti- camente associados com DPM em professores de Salvador 4. Os estudos de corte transversal caracteristi- camente apresentam dois tipos de limitações: só incluem aqueles indivíduos que “sobrevive- ram” à doença e, por coletarem simultanea- mente dados de exposição e de doença, têm di- ficuldade para estabelecer uma relação de cau- salidade entre ambos. A maioria das doenças avaliadas na nossa pesquisa são crônicas, re- correntes, ou não letais, como varizes, lesões por esforços repetitivos e calos nas cordas vo- cais, pelo que dificilmente se perderam casos pelo primeiro tipo de viés. Mesmo assim, não podemos deixar de considerar as possibilida- des de havermos perdido informação daqueles professores que: (1) abandonaram a profissão em decorrência de alguma doença ou desgaste relacionado ao trabalho; ou (2) por alguma ra- zão, estavam ausentes do trabalho, na época da coleta de dados. Esteve 23 comenta que a época de maior ausentismo para os professores é ao final do ano escolar. Nesta última possibilida- de, os nossos dados estariam subestimando a real prevalência da morbidade. Tabela 5 Associação entre dor/formigamento nas pernas e permanecer em pé, segundo presença/ausência de varizes em professores da rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, 2001. Varizes Permanecer em pé Dor/formigamento nas pernas Total RP (IC95%) Freqüentemente Raramente Sim Freqüentemente 50 29 79 Raramente 2 1 3 Total 52 30 82 0,95 (0,42-2,15) Não Freqüentemente 57 81 138 Raramente 1 2 3 Total 58 83 141 1,24 (0,25-6,22) Total Freqüentemente 107 110 217 Raramente 3 3 6 Total 110 113 223 0,99 (0,44-2,22) M.H.:1,05 (0,48-2,29)
  • 9. CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE DE PROFESSORES 195 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004 Colaboradores N. S. Delcor, T. M. Araújo e E. J. F. B. Reis participaram da concepção e desenho do estudo; N. S. Delcor, T. M. Araújo, E. J. F. B. Reis, M. O. Silva, L. Barbalho e J. M. Andrade realizaram a coleta de dados; todos os auto- res participaram da análise e interpretação dos da- dos; a elaboração da versão inicial do manuscrito foi feita por N. S. Delcor; todos os autores revisaram o manuscrito e aprovaram sua versão final, submetida à publicação; pequenas alterações no texto foram realizadas por F. M. Carvalho, T. M. Araújo e L. A. Por- to, em resposta às análises dos revisores. Resumo A literatura científica sobre a saúde dos professores é escassa e recente, enfocando especialmente o desgaste e estresse. Este trabalho objetivou descrever as condi- ções de trabalho e saúde dos professores da rede parti- cular de ensino da cidade de Vitória da Conquista, Ba- hia, Brasil. Num questionário auto-aplicado foram coletadas informações de 250 professores de dez esco- las. Entre as características do trabalho docente, ava- liadas pelo Job Content Questionnaire, destacaram-se ritmo acelerado de trabalho, ser criativo e ter boas re- lações com as pessoas no trabalho. As queixas de saú- de mais freqüentes estavam relacionadas à postura corporal, à saúde mental e a queixas relacionadas à voz. A prevalência de distúrbios psíquicos menores (DPM), medida pelo Self Reporting Questionnaire-20, foi de 41,5% e estava fortemente associada a longos períodos de intensa concentração em uma mesma ta- refa e volume excessivo de trabalho. Os resultados su- gerem relação entre a prevalência de DPM e algumas características do trabalho docente, evidenciando des- gaste psicológico do educador. Condições de Trabalho; Saúde Ocupacional; Docentes O tipo de amostragem de conveniência uti- lizado, que selecionou as dez maiores escolas de Vitória da Conquista, pode ter comprometi- do a representatividade. Esta limitação decor- reu da inexistência de um cadastro fidedigno de todas as escolas particulares da cidade. As condições de trabalho nas escolas particulares maiores são provavelmente diferentes das me- nores, envolvendo ambientes menos familiares e com maior número de alunos. Da listagem inicial de professores, conse- guiu-se uma proporção de resposta de 80,9%, considerada na classificação de Babbie 33 co- mo “muito boa”. Um inconveniente dos ques- tionários auto-aplicativos é a opção do entre- vistado não responder a todas as perguntas, sendo difícil de controlar, pela mesma condi- ção de anonimato da pesquisa. Em conclusão, encontrou-se uma popula- ção de professores jovens e de sexo feminino, com elevada carga horária, vários locais de tra- balho, baixa renda mensal e alta demanda psi- cológica e física. Este grupo ocupacional apre- sentou elevada proporção de queixas e diag- nósticos de problemas de saúde. Destacou-se a elevada prevalência de professores com distúr- bios psíquicos menores (41,5%) que supera re- sultados relatados em outros estudos. Consta- tou-se associação entre a prevalência de dis- túrbios psíquicos menores e algumas questões do JCQ, principalmente aquelas relacionadas à demanda psicológica e ao suporte social. Os resultados apóiam a hipótese de que o desgas- te do corpo dos professores é determinado, em boa parte, pelo tipo e pela forma de organiza- ção de seu trabalho. Referências 1. Dejours C. A loucura do trabalho: estudo de psi- copatologia do trabalho. São Paulo: Editora Cor- tez/Oboré; 1987. 2. Codo W, Vasques I. Trabalho docente e sofrimen- to: burnout em professores. In: Azevedo J, Gentili P, Krug A, Simon C, organizadores. Utopia e de- mocracia na educação cidadã. Porto Alegre: Edi- tora Universidade; 2000. p. 369-81. 3. Codo W. Educação: carinho e trabalho. Petrópo- lis: Editora Vozes; 1999. 4. Araújo T, Silvany A, Reis E, Kavalkievicz C. Con- dições de trabalho e saúde dos professores da re- de particular de ensino: Salvador-Bahia. Salvador: Sindicato dos Professores do Estado da Bahia; 1998. 5. Silvany AM, Araújo T, Dutra F, Azi G, Alves R, Kavalkievicz C, et al. Condições de trabalho e saúde de professores da rede particular de ensino de Salvador, Bahia. Rev Baiana Saúde Pública 2000; 24:42-6. 6. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educa- cionais. Censo do professor, 1997: perfil dos do- centes de educação básica. Brasília: Instituto Na- cional de Estudos e Pesquisas Educacionais, Mi- nistério de Educação e Cultura; 1999. 7. Karasek RA. Job content questionnaire and user’s guide. Revision 1.1. Lowell: University of Massa- chusetts; 1985. 8. Karasek R, Theorell T. Healthy work: stress, pro- ductivity, and the reconstruction of working life. New York: Basic Books; 1990. 9. Karasek RA, Brisson C, Kawakami N, Houtman I, Bongers P, Amick B. The Job Content Question- naire (JCQ): an instrument for internationally comparative assessments of psychosocial job characteristics. J Occup Health Psychol 1998; 3: 322-55. 10. Pelfrene E, Vlrick P, Mak RP, Smets P, Kornitzer M, Backer G. Scale reliability and validity of Karasek
  • 10. Delcor NS et al.196 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(1):187-196, jan-fev, 2004 ‘Job Demand Support’ model in the Belstress study. Work Stress 2001; 15:297-313. 11. Araújo TM. Modelo demanda-controle (Job strain model): proposições, limites e usos em estudos de estresse e saúde ocupacional. In: Anais do VI Con- gresso Brasileiro de Saúde Coletiva [CD-ROM]. Rio de Janeiro: ABRASCO; 2000. 12. Harding TW, Arango MV, Baltazar J, Climent CE, Ibrahim HHA, Ladrido-Ignacio L, et al. Mental disorders in primary health care: a study of their frequency and diagnosis in four developing countries. Psychol Med 1980; 10:231-41. 13. Mari JJ. A validity study of a Psychiatric Screening Questionnaire (SRQ-20) in primary care in the city of São Paulo. Br J Psychiatry 1986; 148:23-6. 14. Fernandes SRP, Almeida Filho N. Validação do SRQ em amostra de trabalhadores em informáti- ca. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional 1998; 89:105-12. 15. Masur J, Monteiro MG. Validation of the“CAGE al- coholism screening test in a Brazilian psychiatric inpatient hospital setting. Revista Brasileira de Medicina e Pesquisas Biológicas 1983; 16:215-8. 16. Cifuentes M. Sintomatología psiquiátrica según SRQ-20 y factores asociados en profesores mu- nicipalizados de la comuna de Talcahuano [Tese de Doutorado]. Concepción: Facultad de Medici- na, Universidad de Concepción; 2000. 17. Organização Internacional do Trabalho. Servicios de educación y formación. In: Enciclopedia de salud y seguridad en el trabajo. http://www.mtas. es/insht/EncOIT/Index.htm (acessado em 04/ Out/2002). 18. Oliveira MG. Condições de trabalho, gênero e saúde: sofrimento e estresse. Um estudo de caso com os profissionais docentes do ensino superior privado de Belo Horizonte [Dissertação de Mes- trado]. Belo Horizonte: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; 2001. 19. Wernick R. Condições de saúde e trabalho dos docentes da Universidade Federal da Bahia, Sal- vador – BA [Dissertação de Mestrado]. Salvador: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal da Bahia; 2000. 20. Paranhos I. Interface entre Trabalho Docente e Saúde, dos Professores da Universidade Estadual de Feira de Santana [Dissertação de Mestrado]. Feira de Santana: Departamento de Saúde, Uni- versidade Estadual de Feira de Santana; 2001. 21. Ministério do Trabalho. Relatório anual de infor- mações sociais (RAIS). Brasília: Ministério do Tra- balho; 1995. 22. Gomes L. Trabalho multifacetado de professores/ as: a saúde entre limites [Dissertação de Mestra- do]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pú- blica, Fundação Oswaldo Cruz; 2002. 23. Esteve JM. O mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores. São Paulo: Edusc; 1999. 24. Lan Osasuna. Encuesta Navarra salud y condi- ciones de trabalho 1997. http://www.stee-eilas. org (acessado em 24/Out/2002). 25. Centro de Estudos e Saúde do Trabalhador. Aná- lise de demanda do ambulatório. Salvador: Cen- tro de Estudos e Saúde do Trabalhador; 1997. 26. Smith E, Gray SD, Dove H, Kirchner L, Heras H. Frequency and effects of teachers’ voice prob- lems. J Voice 1997; 11:81-7. 27. Penteado R, Pereira IM. A voz do professor: re- lações entre trabalho, saúde e qualidade de vida. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional 1998; 95/96:109-30. 28. Carvalho FM, Silvany AM, Paim JS, Melo AMC, Ázaro MGA. Morbidade referida e utilização de consulta médica em cinco populações do Estado da Bahia. Ciênc Cult 1988; 40:853-8. 29. Fundação Nacional de Saúde. Pesquisa nacional sobre saúde e nutrição. http://www.funasa.gov. br/pub/GVE/GVE0535B.htm (acessado em 9/ Out/2002). 30. Ministério do Trabalho. Portaria federal no 3.214, de 8 de junho de 1978. Diário Oficial da Repúbli- ca Federativa do Brasil 1978; 6 jul. 31. Travers CJ, Cooper CL. Fuentes del estrés en la enseñanza. In: organizador. El estrés de los profe- sores. La presión en la actividad docente. Barce- lona: Editora Paidos; 1997. p. 57-101. (Temas de educación). 32. Ruiz RC, Seixas AAA, Heck B, Prio EL, Ruiz V. Risco dos mestres. Revista Proteção 1998; 76:45-8. 33. Babbie ER. Questionários auto-aplicativos. In: Babbie ER, organizador. Métodos de pesquisas de Survey. Belo Horizonte: Editora UFMG; 1999. p. 247-58. Recebido em 14/Jan/2003 Versão final reapresentada em 26/Jun/2003 Aprovado em 16/Out/2003