2. Doutoramento em Psicologia
Título da tese:
Contribuições teóricas ee eemmppíírriiccaass ppaarraa uumm
ccoonnhheecciimmeennttoo cciieennttííffiiccoo ddaass aattiittuuddeess eemm rreellaaççããoo ààss
ffaammíílliiaass hhoommooppaarreennttaaiiss eemm PPoorrttuuggaall
Orientação: Prof. Dr. Henrique Pereira (UBI) e Prof.
Dra. Isabel Leal (ISPA-IU).
Agradecimentos: Inês Fernandes, Cláudia Rita, Sara
Caldeira, Rute Almeida, Cátia Anselmo, André Ferreira.
Financiamento: Bolsa de Doutoramento FCT
3. Sinopse
• Teoria do Estigma Sexual / Preconceito
Sexual;
• Revisão da literatura nacional e
internacional;
• Opressão social de famílias homoparentais;
• Apresentação de 3 estudos;
• Impacto do preconceito sexual;
• Investigações futuras.
4. O que é eessttiiggmmaa?
“EEssttiiggmmaa refere-se à imagem negativa e estatuto
inferior que a sociedade coletivamente atribui
a pessoas que têm uma característica particular, ou que
pertencem a uma determinada categoria ou grupo. Inerente a
esta definição está o fato de que o estigma constitui
conhecimento partilhado acerca de que atributos ou categorias
são valorizados pela sociedade, quais os que são denegridos, e
de que forma estas avaliações variam em diferentes contextos.
O estigma sexual é o estigma vinculado a qualquer
comportamento, identidade, relação ou comunidade não
heterossexual. Por outras palavras, é o conhecimento
socialmente partilhado sobre o estatuto inferior atribuído à
homossexualidade relativamente à heterossexualidade” (Herek,
2009)
5. Preconceito Sexual
Preconceito Sexual é entendido
como parte do estigma sexual
internalizado (i.e., a adoção de um
sistema social de crenças e valores
acerca de um grupo de pessoas),
em relação a pessoas LGBT.
“O preconceito sexual é a
internalização do estigma sexual
que resulta na avaliação negativa
de minorias sexuais” (Herek,
2009)
6. O que é o PPrreeccoonncceeiittoo SSeexxuuaall?
“Preconceito é uma antipatia baseada numa generalização
defeituosa e inflexível. Pode ser sentida ou expressa. Pode ser
dirigida a um grupo, ou a um indivíduo desse grupo”.
(Allport, 1954)
“CCoommppuullssoorryy hheetteerroosseexxuuaalliittyy”: Restrição da sociedade à
expressão e comportamentos de género individuais. Porque a
heterossexualidade obrigatória é explicitamente genderizada, é
prescrito aos indivíduos a que classe de indivíduos (homens ou
mulheres) se devem sentir atraídos.
(Rich, 1983)
7. O estado da arte
Do ponto de vista psicológico (crenças/valores centrais):
•Valores de conformidade, tradicionalismo, manutenção
status quo;
•Autoritarismo, superioridade moral;
•Valores individuais (conservação, abertura à mudança)
e valores humanos.
8. O estado da arte
Diferenças Individuais:
•Afiliação religiosa e religiosidade (processos
psicológicos e não religião em si);
•Sexo e papéis de género;
•Conservadorismo político;
•Idade;
•Nível de educação;
•Var. socioeconómicas e geográficas.
9. O estado da arte
Do ponto de vista sociológico
•Categorias geopolíticas e geoculturais: mais aceitação em
países com maior rendimento per capita, estabilidade
democrática mais longa, importância das tradições
religiosas (não ortodoxia), legislação não discriminativa,
satisfação com a democracia, nível global de
desenvolvimento;
•As diferenças psicológicas e demográficas perdem a sua
relevância em países com elevado nível de preconceito
social (ex. Quénia).
(Smith, Son, & Kim, 2014)
10. O estado da arte em Portugal
Contexto Português
29% favoráveis ao casamento entre pessoas do
mesmo sexo, e 19% favoráveis à adoção (Comissariado
dos Direitos Humanos, 2011);
Agrupado com os países Europeus menos favoráveis
à homossexualidade (Lottes & Alkula, 2011);
Na “fronteira” entre países da Europa central-oriental
e países da europa ocidental (Kuntz, Davidov,
Schwartz, & Schmidt, 2014).
12. Opressão Social
Descreve uma relação de dominância e subordinação
entre categorias de pessoas (ou grupos), em que uma
beneficia de abuso, exploração, e injustiça sistemáticos
em relação a outra.
As pessoas LGBT têm sido historicamente oprimidas
sob forma de assédio e violência, e discriminação em
várias esferas – trabalho, saúde, lei. A opressão social
tem consequências ao nível da saúde e saúde mental
das pessoas LGBT.
13. Principais Formas de Opressão Social
• Legais: Dificuldades de acesso a diferentes formas de
união e de parentalidade;
• Médicas: Permeabilidade dos preconceitos na prática
clínica; obstáculos às mães/pais sociais;
• Psicológicas: Gestão do segredo familiar, suporte
social e integração comunitária, experiências de
discriminação (internalização do estigma);
• Escolares: Escola pública menos interventiva, mais
permeável à influência religiosa; assédio/bullying;
• Sociais: Heterossexismo; preconceito institucional.
14. Estudo 1
Atitudes em relação a famílias
homoparentais e a direitos de pessoas
LGBT
Objetivo: Estudo exploratório sobre níveis de
preconceito sexual, relação entre atitudes
homoparentalidade, direitos LGBT e crenças origens
homossexualidade (desenvolvimento de medidas
socioculturalmente adequadas).
Costa et al. (2014). University students’ attitudes toward same-sex parenting and
gay and lesbian rights in Portugal. Journal of Homosexuality, 61, 1667-1686.
15. Método
• Desenho: Transversal e correlacional.
• Instrumentos: 1) questionário sociodemográfico; 2)
Escala de atitudes em relação à homoparentalidade; 3)
Escala de atitudes em relação aos direitos LGBT; 4)
Escala de crenças sobre a etiologia da
homossexualidade.
• Participantes: 292 estudantes universitários (ISPA,
Universidade de Lisboa, Universidade Técnica).
• Procedimentos: Contato direto nos campus
universitários.
17. Etiologia da Homossexualidade
Teoria atribucional do estigma (Weiner, 1993, 1995, 1996):
-Quando o estigma é atribuído a fatores para além do controlo
da pessoa estigmatizada, são induzidas emoções positivas;
-Quando o estigma é atribuído a fatores controláveis pela
pessoa estigmatizada, são induzidas emoções negativas.
Teoria da justificação-supressão do preconceito (Crandall &
Eshleman, 2002):
- Atribuições biológicas ou sociais podem ser racionalizações de
atitudes para justificar preconceito ou aceitação.
18. Escala de Atitudes em relação à Homoparentalidade
Item
Concordo /
Concordo
totalmente
Discordo /
Discordo
totalmente
M (sd)
1
Homens gays e mulheres lésbicas não devem ter filhos
porque é um pecado.
84% 9%
1.61
(1.08)
3
Pais gays e mães lésbicas não se preocupam com o
melhor interesse da criança.
92% 2%
1.35
(.70)
6
As crianças de famílias gays e lésbicas são mais vitimizadas na
escola.
74% 6%
3.94
(.88)
7
As crianças com pais gays ou mães lésbicas vão ser
homossexuais, ou ter uma sexualidade confusa.
72% 11%
1.91
(1.14)
9
As crianças de famílias gays e lésbicas não têm as referências
masculinas e femininas necessárias ao seu normal desenvolvimento.
48% 33%
2.75
(1.34)
11 Não é natural os homens gays e mulheres lésbicas terem filhos. 55% 31%
2.59
(1.47)
19. Escala de Atitudes em relação aos direitos LGBT
Item
Concordo /
Concordo
totalmente
Discordo /
Discordo
totalmente
M (sd)
1 A homossexualidade não é moralmente aceitável. 61% 23%
2.26
(1.40)
2
Eu não me importaria em ter amigos gays ou amigas
lésbicas.
6% 84%
1.57
(.94)
3
Hoje em dia, as pessoas homossexuais têm os mesmos direitos que
as pessoas heterossexuais.
40% 37%
3.14
(1.26)
4
O casamento entre pessoas do mesmo sexo não deveria ser
permitido.
78% 13%
1.80
(1.27)
5
Eu acho bem que os homens gays e as mulheres lésbicas lutem pelas
seus direitos na sociedade.
6% 82%
1.68
(.95)
6
As pessoas homossexuais não deveriam ter filhos porque não é
natural.
66% 16%
2.14
(1.33)
7
Não me incomoda que os casais de gays e de lésbicas tenham os
direitos iguais aos dos casais heterossexuais, mas o casamento
deveria ser apenas para casais de homem e mulher.
67% 16%
2.11
(1.28)
8
Eu acho que a marcha gay não faz sentido porque não há uma
marcha dos heterossexuais.
50% 24%
2.54
(1.45)
20. Escala de Crenças sobre a Etiologia da Homossexualidade
base Item
Concordo /
Concordo
totalmente
Discordo /
Discordo
totalmente
M
(sd)
1 social - escolha A homossexualidade é uma escolha. 56% 29%
2.50
(1.51)
3 social - família
Os pais têm um papel importante na orientação
sexual dos filhos.
46% 27%
2.65
(1.28)
6
social –
aprendizagem
A homossexualidade é aprendida no contacto
com pessoas homossexuais.
80% 7%
1.72
(.97)
2 biologia
A homossexualidade tem uma base biológica
(hormonal ou genética), e por isso não pode ser
alterada.
29% 41%
3.09
(1.26)
4 patologia
A homossexualidade é uma doença
psicológica.
87% 5%
1.46
(.90)
5 natural
A homossexualidade é tão natural quanto a
heterossexualidade.
33% 53%
3.38
(1.43)
21. Comparação com estudo Britânico
• “Lesbian and gay couples should have all the same
parenting rights as heterosexuals do…”
Agree: 47.6% / Disagree: 22.5%
• “Lesbian and gay male couples should be legally
permitted to marry…”
Agree: 63.4% / Disagree: 14.4%
• “Homosexuality is a sin”
Agree: 7.9% / Disagree: 54.7%
(Ellis, Kitzinger, & Wilkinson, 2003)
22. Diferenças Individuais
Níveis de preconceito sseexxuuaall mmaaiiss eelleevvaaddoo em:
Jovens adultos sexo masculino
Pessoas religiosas (Católicas)
Pessoas politicamente de direita
Estudantes de Engenharia (relação com sexo)
23. Crenças Etiológicas
Correlações entre atitudes negativas e
controlabilidade da homossexualidade:
•Influência familiar x atitudes famílias: r = .47
•Influência familiar x atitudes direitos: r = .40
•Comportamento x atitudes famílias: r = .43
•Comportamento x atitudes famílias : r = .41
•Patologia mental x atitudes famílias: r = .54
•Patologia mental x atitudes direitos: r = .54
24. Estudo 2
Crenças e argumentos sobre famílias
homoparentais e desenvolvimento infantil
Objetivo: Estudo exploratório sobre os argumentos
contra famílias homoparentais e avaliação de
competências parentais.
Costa et al. (2013). Atitudes da população Portuguesa em relação à
Homoparentalidade. Psicologia: Reflexão e Crítica, 26, 790-798.
26. António e Rodrigo são um casal há 10 anos, comprometidos um com o
outro e felizes. No entanto, têm uma vontade muito grande de serem pais,
e como não podem ter filhos decidiram adoptar. António e Rodrigo são
ambos licenciados, bem sucedidos profissionalmente e também muito
queridos pelos amigos e familiares. Os pais de ambos estão entusiasmados
com a ideia de serem avós, e disponibilizaram-se para ajudar no que for
preciso para receber a criança na família. António e Rodrigo moram num
apartamento com dois quartos espaçosos na mesma cidade onde ambos
trabalham. Os amigos e colegas descrevem-nos como pessoas tranquilas,
disponíveis, e atentas às necessidades dos outros, acreditando que reúnem
a vontade e as características necessárias para serem bons pais. Têm
alguma experiência de cuidar de crianças, especialmente dos sobrinhos de
António. Depois de pensarem muito sobre o assunto, iniciaram o processo
de adoção e frequentam as reuniões com a técnica responsável pelo
recrutamento e seleção de famílias adotantes e estão muito entusiasmados
por virem a cumprir o desejo de serem pais. Estão a aguardar serem
aceites como candidatos a adotarem uma criança.
28. Frequência de respostas
Cenário 1 (casal sexo diferente)
- 100% seguramente bons pais.
Cenário 2 (casal duas mulheres)
- 27% seguramente boas mães.
Cenário 3 (casal de dois homens)
- 27% seguramente bons pais.
29. Comparação respostas aos 3 cenários
Casal
mesmo
sexo
Casal de
duas
mulheres
Casal de
dois
homens
N=333 N=359 N=301 ANOVA
Qualidade parental 1.89 (.33) 1.80 (.59) 1.81 (.60) F(2,992) = 2.916 ,p = .055
Antecipação risco
emocional da
criança
1.92 (.44) 2.14 (.79) 2.17 (.82) F(2,992) = 12.464, p < .001*
Antecipação risco
social da criança
1.79 (.53) 2.81 (.60) 2.93 (.63) F(2,992) = 377.550, p < .001*
30. Argumentos contra as Famílias
REINO UNIDO
- “É pecado”
- “Não é natural”
- “Os pais são egoístas”
- “Falta de modelos adequados”
- “Crianças serão gays”
- “Crianças serão vitimizadas”
(Clarke, 2001)
PORTUGAL
- Valores família tradicionais
- Homossexualidade é
patologia
- Homossexualidade é imoral
- Natureza complementar do
género
- Incapacidade parental
- Crianças terão problemas
emocionais graves
31. Estudo 3
Contato Interpessoal e Atitudes em
relação a Famílias Homoparentais
Objetivo: Testar um modelo preditivo de atitudes face à
homoparentalidade, e o impacto do contato interpessoal
nos níveis de preconceito.
Costa, Pereira, & Leal (2014). “The contact hypothesis” and attitudes toward
same-sex parenting. Sexuality Research and Social Policy, 11 (advance online).
32. Método
Desenho: Transversal e correlacional
Instrumentos: 1) questionário sociodemográfico; 2)
Questionário de contato interpessoal; 3) Escala de
atitudes em relação à homoparentalidade; 4) Escala de
reações afetivas a gays e lésbicas
Participantes: 1690 participantes.
Procedimentos: Online survey.
34. Teoria do Contato Interpessoal
Condições ótimas:
-Igualdade estatuto grupos;
-Objetivos comuns;
-Cooperação intergrupal;
-Normas sociais.
(Allport, 1954)
Contudo, estas condições são ótimas, mas não essenciais…
-Quantidade de contato – Familiarity becomes liking (Pettigrew &
Tropp, 2006)
-Processos afetivos – Empatia versus Ansiedade
35. Contato Interpessoal
• Mulheres com maior probabilidade de conhecerem
gays/lésbicas, terem amigos gays/lésbicas,
conhecerem famílias homoparentais; Menos
preconceito geral.
• Não religiosos com maior probabilidade de
conhecerem gays/lésbicas, terem amigos
gays/lésbicas, conhecerem famílias homoparentais;
Menos preconceito geral.
36. Conhecidos
GL
Modelo de Análise de Trajetórias de Atitudes em
relação a Famílias Homoparentais
Conforto
Homonega-tividade
Atitudes em
relação Famílias
Homoparentais
Frequência
contato
-.193*
.135*
-.008*
.170*
-.431*
-.075*
.785*
R2 = .672
*p < .001
Amigos GL
R2 = .158
R2 = .188
37. Principais resultados
• Existência de diferenças significativas na avaliação de casais do
mesmo sexo e de casais de sexo diferente;
• Diferenças individuais nos níveis de preconceito sexual contra
famílias homoparentais (sexo, religião, política);
• Ao nível dos argumentos, há existência de preconceito
moderno (mais subtil) assim como de homonegatividade
estigmatizante;
• O contato interpessoal apenas reduz o nível de preconceito
se promover afeto positivo (empatia);
• O contato interpessoal não está associado aos direitos, mas
sim às crenças sobre pessoas não heterossexuais.
38. Questões levantadas
Os resultados desta investigação sugerem que variáveis
sociodemográficas e crenças/valores podem servir
como argumentário para as atitudes.
Ex:
Religião Vs. religiosidade
Inclinação política Vs. autoritarismo
Atitudes direitos Vs. Homonegatividade
39. Impacto Social do Preconceito Sexual
Tratamento desigual e injusto de minorias sexuais,
em particular de famílias homoparentais;
Ameaça ao bem-estar e à estabilidade das famílias;
Desproteção das crianças e jovens com pais gays
ou mães lésbicas.
40. Impacto Psicológico do Preconceito Sexual
Stress Minoritário (Meyer, 1995)
Exposição a stress adicional (estigmatização)
Disparidades na Saúde
Distress psicológico
Estigma (Herek, 2009)
Discriminação & assédio
Isolamento social
Internalização do estigma (crenças negativas)
41. Investigação Translacional –
Redução do Preconceito
- Atribuições: Aprendizagem sobre origens etiológicas
da homossexualidade (moderadamente eficaz)
- Educação: Aulas sobre opressão histórica da
homossexualidade (moderadamente eficaz)
- Contato Interpessoal: Painéis (fortemente eficaz)
Base para a mudança: Promover emoções
positivas como a Empatia.