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AULA DE HISTORIA (22.11.2010)
PROFESSORA:   SÍLVIA ALMADA
ALUNO: _________________________________________________N°___TURMA_____________________________
LEIA O TEXTO E RESPONDA:
1-POR QUE SÃO APRESENTADAS TANTAS VERSÕES PARA A MESMA HISTÓRIA?
2- FEITA   A LEITURA DO TEXTO, COMO VOCÊ VER   TIRATENDES?


TIRADENTES:CONSTRUÇÃO E A DESCONSTRUÇÃO DE UM MITO (Marcos Roma Santa)


Na segunda metade do Século XVIII, a extração do ouro em Minas Gerais entrou em declínio. As jazidas estavam se
esgotando, mas Portugal insistia em manter o fausto e o luxo às custas de pesados tributos sobre os mineradores. A tensão que
se criou entre a metrópole e os colonos fez surgir um movimento pela independência que ficou conhecido como a
Inconfidência Mineira. O desenrolar dos acontecimentos, naquele momento e no futuro, faria com que Joaquim José da Silva
Xavier, o Tiradentes, viesse a se tornar a figura mais conhecida do movimento, alçado a herói nacional mais de um século
após sua morte.
Execução – A conjuração foi descoberta em 1789, e seus participantes, presos. No processo que julgou os inconfidentes,
conhecido como Devassa, Tiradentes assumiu toda a culpa, inocentando os demais, que tiveram suas penas de morte
comutadas em degredo ou prisão perpétua. Ele foi enforcado no Largo da Lampadosa, atual Praça Tiradentes, no Rio de
Janeiro, em 21 de abril de 1792. Seu corpo foi esquartejado e os pedaços, colocados em postes no caminho que ligava o Rio a
Minas.
Infame – Como parte da punição, a memória de Joaquim José da Silva Xavier foi declarada infame pela rainha de Portugal,
D. Maria I. “Num primeiro momento, Tiradentes não seria lembrado pelo seu ideal, mas sim pelo espetáculo da execução. A
memória imediata era a de uma manifestação exacerbada do poder absolutista”, afirma Marcos Roma Santa, professor de
História da Rede Pública Municipal de Ensino do Rio de Janeiro e pesquisador da Diretoria de Mídia Educação da
MULTIRIO.
Fantasma – Aos poucos, Tiradentes foi sendo esquecido. D. Pedro I, que proclamou a Independência, era neto da rainha que
havia condenado Tiradentes à morte. Não convinha cultuar, nem mesmo rememorar uma figura e um movimento que haviam
colocado em cheque a estrutura de poder da qual faziam parte os governantes do país já independente.
Pesquisa – A partir da segunda metade do Século XIX, surge a necessidade de constituir-se uma identidade nacional e,
portanto, de o país começar a construir uma história própria, que legitimasse o novo Estado. Arquivos começam a ser

pesquisados e, em 1873, o historiador Joaquim Norberto de Souza publica o livro História da Conjuração Mineira –
primeiro trabalho a recorrer aos autos da Devassa e aos relatos dos frades franciscanos, confessores dos inconfidentes durante
os quase três anos em que estes ficaram presos no Rio de Janeiro.


Modelo cristão – Os frades construíram uma imagem de Tiradentes como exemplo do cristão, arrependido de seus erros e
preparado para a morte e a vida eterna. Os relatos apresentam Tiradentes com características de uma imitação de Cristo. Ele
teria recebido sua sentença serenamente, alegrando-se de que os companheiros tivessem suas vidas poupadas. Teria beijado os
pés do carrasco, perdoando-o, e caminhado para o cadafalso com o crucifixo na mão, numa alusão a Cristo em seu trajeto para
o calvário.


Messias – Norberto, que era um monarquista, não via em Tiradentes traços grandiosos. Mas os republicanos encontraram ali o
símbolo de que precisavam. Na versão republicana, Tiradentes se torna o mártir da pátria, uma figura distante, quase um
santo, portador de uma mensagem de unidade e integração nacional, e não um revolucionário radical. Segundo Marcos Roma
“a História do Brasil se escreveu, por muito tempo, com o objetivo de negar o conflito. O herói nacional não podia ser um
revolucionário, mas um salvador, um messias”.
Quadro – A pintura Tiradentes Esquartejado (reprodução na galeria), de Pedro Américo, datada de 1893, é um exemplo
dessa abordagem. No entender de Marcos Roma, o artista concebeu Tiradentes como aquele que trazia uma mensagem de fé
para tocar os corações, uma espécie de messias: “O quadro lembra a descida de Cristo da cruz. Ao mesmo tempo, dentro desse
universo mítico cristão, as partes do corpo esquartejado seriam sementes do ideal da liberdade, dando a idéia de ressurreição”,
analisa o professor.


Judas – Para complementar essa imagem mítica de Tiradentes, Joaquim Silvério dos Reis, um dos delatores dos
inconfidentes, passa a ser apresentado como uma espécie de Judas Iscariotes. E como a dinâmica histórica nem sempre
respeita os decretos governamentais, o homem um dia declarado infame pela rainha portuguesa torna-se herói cívico-religioso
e aquele que optou por ser leal à monarca ganha pecha de vil traidor.


Ditadura – Essa visão sobre Tiradentes permaneceu intacta durante a maior parte do século passado. Em 1965, menos de um
ano depois do golpe que instaurou no país a ditadura militar, ele é elevado pelos novos governantes a patrono cívico do Brasil.
Mais do que nunca, seu retrato oficial se afasta da figura de um homem do povo.


Cinema – É o cinema que rompe, em primeiro lugar, com esse estereótipo de Tiradentes. Em 1972, no auge da repressão

política, Joaquim Pedro de Andrade filma Os Inconfidentes, com José Wilker no papel principal. Desse modo, o cineasta
desejava identificar o “herói nacional” com os jovens das décadas de 60 e 70, muitos dos quais lutavam contra a ditadura
militar, e que em diversos casos estavam sendo torturados e executados nas prisões.



Bode expiatório – A descontrução do mito tem seu primeiro grande impulso com a publicação, em 1977, de A devassa da

Devassa, trabalho do historiador britânico Kenneth Maxwell. O livro mostra que Tiradentes não foi o líder da Inconfidência,
ao contrário do que geralmente se pensava até então. Joaquim José teria servido como bode expiatório para os verdadeiros
líderes, todos pertencentes à elite escravista de Minas, que não planejavam fazer a Independência do Brasil, mas apenas
da capitania mineira.


Tosquiado – “As pesquisas históricas mostram também que a imagem de um Tiradentes com cabelos compridos na forca
contraria as práticas da época de sua execução, quando os condenados ao enforcamento tinham as cabeças raspadas”,
esclarece                                                    Marcos                                                     Roma.



Mais cinema – Em 1998, o cineasta Oswaldo Caldeira lança o filme Tiradentes, baseado em sua tese de doutorado sobre a
transformação, através dos tempos, da imagem do mais famoso personagem da Inconfidência. Em seu filme, Joaquim José da
Silva Xavier aparece como um militar valente, porém idealista e, em grande medida, ingênuo, interpretado pelo ator
Humberto Martins .


Incógnita – Também em 1998, o historiador Marcos Antônio Correa trouxe à tona outra versão polêmica sobre a história de
Tiradentes. De acordo com Correa, um ladrão condenado foi enforcado no lugar do inconfidente, que teria escapado para a
Europa com a ajuda de um dos juízes da Devassa, o poeta e maçom Cruz e Silva. Essa hipótese, baseada num documento que
indicaria a presença de Tiradentes na França, em 1793, é uma retomada da chamada versão maçônica, sugerida por Martim
Francisco, irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva, ainda no Século XIX.
FONTE:                                                                    http://www.multirio.rj.gov.br/portal/area.asp?box=N
%F3s+da+Escola&area=Na+sala+de+aula&objeto=na_sala_de_aula&id=3251
A construção e desconstrução do mito de Tiradentes

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  • 1. AULA DE HISTORIA (22.11.2010) PROFESSORA: SÍLVIA ALMADA ALUNO: _________________________________________________N°___TURMA_____________________________ LEIA O TEXTO E RESPONDA: 1-POR QUE SÃO APRESENTADAS TANTAS VERSÕES PARA A MESMA HISTÓRIA? 2- FEITA A LEITURA DO TEXTO, COMO VOCÊ VER TIRATENDES? TIRADENTES:CONSTRUÇÃO E A DESCONSTRUÇÃO DE UM MITO (Marcos Roma Santa) Na segunda metade do Século XVIII, a extração do ouro em Minas Gerais entrou em declínio. As jazidas estavam se esgotando, mas Portugal insistia em manter o fausto e o luxo às custas de pesados tributos sobre os mineradores. A tensão que se criou entre a metrópole e os colonos fez surgir um movimento pela independência que ficou conhecido como a Inconfidência Mineira. O desenrolar dos acontecimentos, naquele momento e no futuro, faria com que Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, viesse a se tornar a figura mais conhecida do movimento, alçado a herói nacional mais de um século após sua morte. Execução – A conjuração foi descoberta em 1789, e seus participantes, presos. No processo que julgou os inconfidentes, conhecido como Devassa, Tiradentes assumiu toda a culpa, inocentando os demais, que tiveram suas penas de morte comutadas em degredo ou prisão perpétua. Ele foi enforcado no Largo da Lampadosa, atual Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, em 21 de abril de 1792. Seu corpo foi esquartejado e os pedaços, colocados em postes no caminho que ligava o Rio a Minas. Infame – Como parte da punição, a memória de Joaquim José da Silva Xavier foi declarada infame pela rainha de Portugal, D. Maria I. “Num primeiro momento, Tiradentes não seria lembrado pelo seu ideal, mas sim pelo espetáculo da execução. A memória imediata era a de uma manifestação exacerbada do poder absolutista”, afirma Marcos Roma Santa, professor de História da Rede Pública Municipal de Ensino do Rio de Janeiro e pesquisador da Diretoria de Mídia Educação da MULTIRIO. Fantasma – Aos poucos, Tiradentes foi sendo esquecido. D. Pedro I, que proclamou a Independência, era neto da rainha que havia condenado Tiradentes à morte. Não convinha cultuar, nem mesmo rememorar uma figura e um movimento que haviam colocado em cheque a estrutura de poder da qual faziam parte os governantes do país já independente. Pesquisa – A partir da segunda metade do Século XIX, surge a necessidade de constituir-se uma identidade nacional e, portanto, de o país começar a construir uma história própria, que legitimasse o novo Estado. Arquivos começam a ser pesquisados e, em 1873, o historiador Joaquim Norberto de Souza publica o livro História da Conjuração Mineira – primeiro trabalho a recorrer aos autos da Devassa e aos relatos dos frades franciscanos, confessores dos inconfidentes durante os quase três anos em que estes ficaram presos no Rio de Janeiro. Modelo cristão – Os frades construíram uma imagem de Tiradentes como exemplo do cristão, arrependido de seus erros e preparado para a morte e a vida eterna. Os relatos apresentam Tiradentes com características de uma imitação de Cristo. Ele teria recebido sua sentença serenamente, alegrando-se de que os companheiros tivessem suas vidas poupadas. Teria beijado os pés do carrasco, perdoando-o, e caminhado para o cadafalso com o crucifixo na mão, numa alusão a Cristo em seu trajeto para o calvário. Messias – Norberto, que era um monarquista, não via em Tiradentes traços grandiosos. Mas os republicanos encontraram ali o símbolo de que precisavam. Na versão republicana, Tiradentes se torna o mártir da pátria, uma figura distante, quase um santo, portador de uma mensagem de unidade e integração nacional, e não um revolucionário radical. Segundo Marcos Roma “a História do Brasil se escreveu, por muito tempo, com o objetivo de negar o conflito. O herói nacional não podia ser um revolucionário, mas um salvador, um messias”.
  • 2. Quadro – A pintura Tiradentes Esquartejado (reprodução na galeria), de Pedro Américo, datada de 1893, é um exemplo dessa abordagem. No entender de Marcos Roma, o artista concebeu Tiradentes como aquele que trazia uma mensagem de fé para tocar os corações, uma espécie de messias: “O quadro lembra a descida de Cristo da cruz. Ao mesmo tempo, dentro desse universo mítico cristão, as partes do corpo esquartejado seriam sementes do ideal da liberdade, dando a idéia de ressurreição”, analisa o professor. Judas – Para complementar essa imagem mítica de Tiradentes, Joaquim Silvério dos Reis, um dos delatores dos inconfidentes, passa a ser apresentado como uma espécie de Judas Iscariotes. E como a dinâmica histórica nem sempre respeita os decretos governamentais, o homem um dia declarado infame pela rainha portuguesa torna-se herói cívico-religioso e aquele que optou por ser leal à monarca ganha pecha de vil traidor. Ditadura – Essa visão sobre Tiradentes permaneceu intacta durante a maior parte do século passado. Em 1965, menos de um ano depois do golpe que instaurou no país a ditadura militar, ele é elevado pelos novos governantes a patrono cívico do Brasil. Mais do que nunca, seu retrato oficial se afasta da figura de um homem do povo. Cinema – É o cinema que rompe, em primeiro lugar, com esse estereótipo de Tiradentes. Em 1972, no auge da repressão política, Joaquim Pedro de Andrade filma Os Inconfidentes, com José Wilker no papel principal. Desse modo, o cineasta desejava identificar o “herói nacional” com os jovens das décadas de 60 e 70, muitos dos quais lutavam contra a ditadura militar, e que em diversos casos estavam sendo torturados e executados nas prisões. Bode expiatório – A descontrução do mito tem seu primeiro grande impulso com a publicação, em 1977, de A devassa da Devassa, trabalho do historiador britânico Kenneth Maxwell. O livro mostra que Tiradentes não foi o líder da Inconfidência, ao contrário do que geralmente se pensava até então. Joaquim José teria servido como bode expiatório para os verdadeiros líderes, todos pertencentes à elite escravista de Minas, que não planejavam fazer a Independência do Brasil, mas apenas da capitania mineira. Tosquiado – “As pesquisas históricas mostram também que a imagem de um Tiradentes com cabelos compridos na forca contraria as práticas da época de sua execução, quando os condenados ao enforcamento tinham as cabeças raspadas”, esclarece Marcos Roma. Mais cinema – Em 1998, o cineasta Oswaldo Caldeira lança o filme Tiradentes, baseado em sua tese de doutorado sobre a transformação, através dos tempos, da imagem do mais famoso personagem da Inconfidência. Em seu filme, Joaquim José da Silva Xavier aparece como um militar valente, porém idealista e, em grande medida, ingênuo, interpretado pelo ator Humberto Martins . Incógnita – Também em 1998, o historiador Marcos Antônio Correa trouxe à tona outra versão polêmica sobre a história de Tiradentes. De acordo com Correa, um ladrão condenado foi enforcado no lugar do inconfidente, que teria escapado para a Europa com a ajuda de um dos juízes da Devassa, o poeta e maçom Cruz e Silva. Essa hipótese, baseada num documento que indicaria a presença de Tiradentes na França, em 1793, é uma retomada da chamada versão maçônica, sugerida por Martim Francisco, irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva, ainda no Século XIX. FONTE: http://www.multirio.rj.gov.br/portal/area.asp?box=N %F3s+da+Escola&area=Na+sala+de+aula&objeto=na_sala_de_aula&id=3251