PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
Escotismo uma espada de dois gumes
1. Com prefácio de
Dr. Rafael Vitola Brodbeck, RP.
ESCOTISMO: Uma
espada de dois gumes
LUIZ POSTAL
Uma dissertação
sobre o Escotismo
e sua realização
confessional
católica.
2. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
“Fecundado pelo Evangelho, o escotismo é não
apenas um lugar de verdadeiro crescimento humano,
mas também o lugar de uma vigorosa proposta cristã
e de um genuíno amadurecimento espiritual e moral,
assim como de um autêntico caminho de santidade...”.
Papa Bento XVI
Trecho da Carta Apostólica ao Presidente da
Conferência Episcopal da França com Bênção
Apostólica ao Escotismo Católico
(Pág. 51 e seguintes).
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3. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
ESCOTISMO:
UMA ESPADA DE DOIS GUMES
Uma dissertação sobre o Escotismo motivada pelo
prefácio do Padre Marco Luís à primeira edição do livro
Le Scoutisme, de Jaques Sevin, em língua portuguesa.
Por Luiz Postal, RP.
Porto Alegre, 27 de setembro de 2012.
MCMXX-MMXII
Distribuição gratuita – Reprodução autorizada
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4. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Sumário
Prefácio................................................................................................4
Sobre o Autor.......................................................................................8
Agradecimentos...................................................................................9
INTRODUÇÃO....................................................................................10
PRIMEIRA PARTE: O PROBLEMA......................................................13
Livro perigoso para quem? ....................................................... 13
Onde está o perigo para a Fé? .................................................. 14
Primeiro perigo: A deturpação acarretada pela apresentação
despreocupada, informal e ambígua do Método. ................ 14
Segundo perigo: A comparação do ocidente cristão com as
nações pagãs colonizadas ..................................................... 17
Terceiro perigo: O Naturalismo ............................................ 20
Quarto perigo: O Positivismo ............................................... 22
Quinto perigo: O Espiritualismo ........................................... 24
Sexto perigo: O Relativismo ................................................. 26
SEGUNDA PARTE: A SOLUÇÃO....................................................31
A melhor realização das ideias de Baden-Powell - segundo ele
próprio. .................................................................................... 31
A recristianização do Escotismo ............................................... 33
Como contornar as deturpações?............................................. 34
Como o Escotismo é submetido à Igreja. .................................. 36
O que faz a diferença? .............................................................. 38
Primeira diferença: Um movimento católico de adultos ...... 39
Segunda diferença: Os Cinco Fins do Escotismo ................... 40
Terceira diferença: Os Quatro Marcos da Rota..................... 44
Quarta diferença: O Rechaço à Coeducação ......................... 48
CONCLUSÃO......................................................................................50
CARTA APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI.......................................53
Referências bibliográficas e citações................................................57
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5. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Prefácio
Recebi com gosto o texto do Luiz Postal, RP, com
belíssimas reflexões sobre o que é o movimento
escoteiro católico.
Trata-se de uma análise séria e profunda, ainda que
em breves linhas. Tal se deve à profunda acuidade do
autor, que não se furta em comentar temas sensíveis
da história do escotismo, tendo o secularismo como
pano de fundo. Com efeito, se a melhor realização das
ideias de BP foi feita por um homem de batina, nas
palavras do próprio fundador do movimento
escoteiro, implementar um escotismo sem se atentar a
isso, mormente entre católicos, é construir uma
cadeira em que falta uma das pernas. Por mais que se
tente equilibrar-se, uma hora o sujeito cai e o tombo
pode ser feio.
Jacques Sevin, jesuíta em processo de beatificação,
foi um instrumento da Providência para não só
colocar o catolicismo no seio do escotismo, como
para trazer o escotismo para dentro da Igreja. Fez com
BP o que Santo Tomás fez com Aristóteles. Suas
ideias, para todos os que se dizem católicos e são
escoteiros, devem ser alvo de cuidada meditação.
Neste momento delicado e histórico em que
pretendemos erguer uma associação católica de
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6. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
escoteiros e guias no Brasil, alicerçada no pensamento
de Sevin, e unida à UIGSE, o livro do Postal é como
uma bússola, esse objeto tão caro ao escotismo.
De fato, Sevin não fundou a UIGSE, mas sim os
Scouts de France, que são filiados à WOSM. O
escotismo católico original estava no grêmio da
organização mundial original, da qual fazem parte
outras associações católicas (como o português Corpo
Nacional de Escutas) e também laicas (como a UEB
em nossa pátria). Para agrupar tantas associações
católicas dentro da WOSM, fundou-se a CICE -
Conferência Internacional Católica de Escotismo,
órgão consultivo da entidade e aprovada pela Santa
Sé. Presta-lhe apoio a Congregação da Santa Cruz de
Jerusalém, as freirinhas escoteiras, idealizadas por
Sevin.
Com o tempo, porém, o laicismo fortemente presente
na WOSM e a predominância de uma visão
naturalista das coisas, tão bem explicada pelo Postal
no presente opúsculo, fez nascer em alguns escoteiros
católicos um descontentamento. Não lhes parecia que
as ideias de Sevin encontravam o suficiente espaço
dentro da WOSM. Fundam, então, a UIGSE, uma
federação de associações católicas de escoteiros,
independente da organização original. A UIGSE não é
uma vertente católica dentro da WOSM, mas uma
organização totalmente católica, um movimento
católico que usa o método escoteiro e, assim,
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7. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
implementa com mais eficácia e plenitude o legado de
Sevin.
Deixemos claro: há excelentes escoteiros católicos na
WOSM (quer nas associações católicas como SdF e
CNE, quer em associações laicas, como a UEB e
BSA), como na WFIS. Nossa proposta não é de
competição para ver quem é mais escoteiro ou quem é
mais católico. Trata-se de uma convicção, que é
pessoal, de que a UIGSE mantém um ambiente mais
sólido para um escotismo absolutamente católico,
impregnado da fé, de um catolicismo vivido à moda
escoteira. E isso por conta da UIGSE ser também
aprovada pela Santa Sé, tanto quando a CICE da
WOSM.
O projeto brasileiro com vistas à UIGSE, que
denominamos AG&E - Associação de Guias e
Escoteiros Católicos do Brasil - vem ao encontro
desse pensamento. No tempo em que tantas
associações de escoteiros, mesmo laicas, abandonam
o método tradicional de BP, adotando posturas
politicamente corretas (que são fruto daquele
secularismo que já existia no início do movimento,
como explica o autor), transformando o escotismo em
mera escola de bem viver, deixando de lado fortes
sinais como o uso do uniforme, o garbo, a disciplina,
as provas de classe, a hierarquia, e os acampamentos,
a AG&E quer ser uma proposta não só de claro
compromisso com a fé católica, mas também de
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8. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
resgate do escotismo tradicional.
Somos tradicionais, portanto, em dois aspectos,
complementares, aliás: tradicionais porque vivamente
católicos, claramente apostólicos, visceralmente
romanos; e tradicionais porque herdeiros e praticantes
do método original de Baden-Powell. Um escotismo
em que a oração se combina com o acampamento, o
terço com a barraca, a Missa com as pioneirias,
amarras e nós, e a disciplina original encontrando
mais fundamento ainda em questões espirituais.
Tomara que o leitor tire fruto da presente obra. E
tenho não só a esperança, como a certeza imbatível,
que tirará.
Forte aperto de canhota!
Dr. Rafael Vitola Brodbeck, RP.
Delegado de Polícia
Rio Grande do Sul
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9. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Sobre o Autor
Luiz Postal fez sua promessa escoteira em 1972. Após
sua formação juvenil foi chefe de tropa e Assistente
Distrital do 4º Distrito Escoteiro da UEB-RS, em
Santa Maria, por dois mandatos.
No ano de 2004 iniciou seu trabalho com jovens na
Igreja ao ingressar no Ministério da Crisma da
Arquidiocese de Porto Alegre.
Aderiu ao Escotismo Independente com a fundação
da AEBP - Associação Escoteira Baden-Powell em
2006, da qual foi Diretor Correspondente no Rio
Grande do Sul por três anos.
A partir de 2007 passou a integrar uma pequena
equipe independente que se propunha a elaborar um
projeto para a implantação do Escotismo Católico no
Brasil.
A efetiva implantação do Projeto ocorreu somente em
2011 com o reconhecimento da AECAD - Associação
de Escoteiros Católicos Agnus Dei pela Arquidiocese
de Porto Alegre.
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10. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Agradecimentos
A Baden-Powell, pela sua intuição original que
resultou em um fantástico instrumento de formação
do caráter com objetivo ao serviço.
Ao Venerável Padre Jacques Sevin, SJ cuja obra,
iluminada pelo Espírito Santo, resgatou o Escotismo
original dos males do século e o reintroduziu no
cristianismo.
Aos papas beato João Paulo II e Bento XVI pelo
apoio, carinho e às renovadas bênçãos dirigidas ao
Escotismo Católico e ao reconhecimento, por este
último, das Virtudes Heroicas do fundador Padre
Jacques Sevin, que o colocou no caminho da
canonização.
A todos que acreditam, e colaboram, com a
introdução do Escotismo Católico de Jaques Sevin na
Igreja no Brasil.
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11. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES
INTRODUÇÃO
Chegou ao Brasil uma notícia esperada há anos: O
livro O Escotismo (Le Scoutisme) do jesuíta francês
Jaques Sevin (1882-1951) foi finalmente traduzido
para a língua portuguesa e está sendo comercializado
em Portugal, graças a uma iniciativa do Corpo
Nacional de Escutas-Escutismo Católico Português,
em parceria com a Editora Paulinas.
Porém, no prefácio, assinado pelo Padre Marco Luís,
nos deparamos com esta assustadora advertência:
«Este livro é “altamente perigoso”, uma espécie de
espada de dois gumes: uma fonte de bênção para
quem quer viver o Escutismo à maneira de Jesus
Cristo – para quem deseja um escutismo
autenticamente católico – e, por outro lado, “uma
pedra de tropeço” para quem não tiver altos ideais
na procura da realização da vontade de Deus, para
quem procura viver o Escutismo católico à sua
medida, segundo os seus critérios, assente no
relativismo do nosso tempo...».
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12. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Não se iluda o leitor. Apesar das palavras usadas pelo
autor do prefácio fazerem referência ao livro de
Sevin, simultaneamente como bênção e “pedra de
tropeço”, lembramos que o objeto da obra é o
Escotismo Católico. Portanto, as ideias perigosas
registradas no Le Scoutisme somente podem ser
aquelas que compõem, circulam e perpassam o
Escotismo, como movimento e como método de
educação e formação do caráter.
Para muito além da reação de curiosidade e de
impulso à leitura - para descobrir o porquê de tão
alarmante advertência – o destaque do prefácio do
padre Marco trouxe alguma aflição, pois é inevitável
ligarmos imediatamente o livro do fundador com sua
obra final: o Escotismo Católico. Aliás, o livro do
Padre Sevin é obra de referência, de leitura
obrigatória para todos escotistas católicos. Seria, pois,
o Escotismo algo perigoso? Seria ele uma espada de
dois gumes? Ocorrem situações em que ele é uma
bênção e outras em que é uma maldição? O prefácio
afirma exatamente isto.
O próprio prefácio coloca a condição de perigo nas
realizações do Escotismo centradas no relativismo de
nosso tempo, ou seja, o distanciamento e o abandono
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13. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
de Cristo e de sua Igreja. Nossa preocupação recai
sobre as ideias originais [1] de Lord Baden-Powell,
que se constituem na base sobre a qual o Padre Jaques
Sevin edificou sua proporia obra. O quê o Padre
Marco alerta é para aquilo que já sabíamos por
experiência: o Escotismo é ambíguo, se presta para
interpretações radicalmente opostas, o que quase lhe
custou a condenação eclesiástica no início de sua
história – condenação esta, que foi evitada graças ao
Padre Jaques Sevin.
É sobre as ambiguidades do Escotismo e de como o
Padre Sevin as contornou, que escrevemos esta rápida
dissertação. Sabemos que o prefácio da obra não
aprofunda suficientemente o assunto – nem poderia-
apesar de trazer à tona o lado perigoso do Escotismo –
e quase estragar a festa.
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14. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
PRIMEIRA PARTE: O PROBLEMA
Livro perigoso para quem?
Obviamente que o Padre Marco está preocupado -
como nós - com o perigo para a fé, que algumas ideias
e posturas atribuídas à obra de Baden-Powell, podem
acarretar. As recorrentes e veementes defesas do
modernismo relativista no interior do néo-escotismo –
neologismo que identifica as interpretações e práticas
demasiadamente afastadas da intuição original [1] de
Baden-Powell - levadas a cabo por muitos
apaixonados do Movimento Escoteiro no Brasil, e seu
vicioso ataque ao Escotismo Católico – na verdade à
Igreja Católica - somente ratificam este receio.
Outro perigo, e o maior deles, é deixarmos passar esta
oportunidade de esclarecer as grandes linhas de
diferenciação - melhor diríamos especialização - do
Escotismo Católico em relação ao sua matriz, o
Escotismo original, que denominamos “laico” neste
opúsculo. Há também a tentação de nos deixarmos
guiar pela leniência ou pelo respeito mundano e
agirmos negligentemente, especialmente neste
momento, reproduzindo inconscientemente todas as
deturpações e falsificações de que são vitimas o
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15. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Escotismo laico e aqueles indivíduos que o adotam
despreocupadamente.
Onde está o perigo para a Fé?
Preliminarmente é necessário deixar bem claro que a
fé, é um dom de Deus. Ela é a certeza das coisas
espirituais invisíveis [2] é nos dada por Deus, a partir
do depósito da fé, que é a Igreja [3].
É pela Igreja que recebemos a fé, na forma de uma
revelação de Deus, nas Escrituras e na Sagrada
Tradição [4]. Assim sendo, a fé pode ser perdida,
enfraquecida na sua certeza, abandonada, ou
substituída por crenças heréticas ou supersticiosas, ou
ainda por filosofias ou sofismas mais ou menos
organizados, com falsos aspectos de verdade.
No âmbito do Escotismo laico circulam muitas destas
mentalidades desordenadas. Podemos citar, entre
outros:
Primeiro perigo: A deturpação acarretada pela
apresentação despreocupada, informal e ambígua
do Método.
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16. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Em primeiro lugar é necessário situar o autor do
Escotismo – Sir Robert S. S. Baden-Powell, o Lord
Baden-Powell of Gilwell, B-P para os escoteiros, no
contexto da intelectualidade, no que diz respeito à
sistematização científica e apresentação de suas
ideias.
Baden-Powell não foi um intelectual, propriamente
dito, nem mesmo um acadêmico. Ele propôs um
método educativo sem jamais ter cursado uma
faculdade de educação, filosofia, pedagogia ou de
matérias congêneres a estas. Ele foi um militar, com
excelente nível cultural. Nem mesmo
profissionalmente o General Baden-Powell teve
atribuições acadêmicas. Podemos até mesmo
considera-lo escritor, desenhista, amante do teatro,
mas jamais um intelectual de elite ou homem com
sólida formação acadêmica.
A localização de B-P fora do mundo dos intelectuais e
dos educadores graduados é necessária para
entendermos a forma com que ele expôs suas ideias
em suas obras a respeito do Escotismo. Ele foi um
homem prático e direto e isto se refletiu em seu estilo
literário. O fundador jamais se preocupou em
apresentar análises filosóficas, sociológicas ou
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17. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
antropológicas, a respeito de seus escritos. Essas
análises foram sempre tentadas posteriormente, por
livres pensadores apaixonados, afetados e
descomprometidos com a originalidade das ideias do
general.
O fundador do Escotismo não utilizou o método
científico para expor seu projeto. Ele simplesmente
punha no papel aquilo que via, pensava e
experimentava. Sendo um homem de resultados,
Baden-Powell queria que qualquer um soubesse como
praticar o seu Escotismo, que para ele era coisa
simples, natural e cotidiana. Com esta finalidade ele
escreveu seus livros e opúsculos - que são muitos -
em um estilo coloquial, direto sem escolher muito as
palavras e expressões.
Então, propostas, histórias e estórias jogadas no papel
de forma coloquial e abandonadas à interpretação
livre e pessoal de qualquer um, produziram uma dúzia
de realizações que atravessaram o conturbado século
XX com todas as dificuldades e deturpações que
poderiam assolá-las, graças à informalidade do estilo
literário e da metodologia amadora utilizada para
apresenta-las.
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18. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
A fundação da Organização Mundial do Movimento
Escoteiro, mas de dez anos depois do início do
Escotismo, não foi suficiente para unificar uma
interpretação do Método Escoteiro de Educação, pois
suas livres interpretações já haviam caído no gosto
mundano e fora adotado pelo liberalismo
revolucionário em quase todos os países em que havia
entrado. O liberalismo intelectual - berçário da
ditadura do relativismo - não se coaduna com
centralismo de interpretações. Postura radicalmente
oposta à da Igreja Católica e responsável pelo
purgatório na Terra, vivida pelo Escotismo laico até
os dias de hoje.
Segundo perigo: A comparação do ocidente cristão
com as nações pagãs colonizadas
B-P faz comparações muito superficiais e temerárias
entre a nossa civilização ocidental e povos não
civilizados, não cristãos, colonizados pelos britânicos,
que ele conhecera em suas missões militares. Ele deu
munição aos esquerdistas defensores dos gentis-
homens e bons selvagens em sua crítica à civilização
ocidental e seus valores católicos ao tentar ilustrar a
crise moral do ocidente, que espreitava a sociedade
britânica do final do século XIX, já como
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19. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
consequência do abandono dos valores cristãos
promovido pelo braço religioso do liberalismo
revolucionário: o protestantismo.
Baden-Powell não hesitou em comparar as parcelas
empobrecidas, marginalizadas e moralmente
comprometidas da sociedade britânica do final do
século XIX com a fortaleza e a virilidade dos zulus,
massais, matebeles e outros povos pagãos que faziam
resistência armada ao Império [5].
Sabemos que foi a Igreja Católica que animou nossa
civilização ocidental [6] e que um dos ataques
preferidos pelos seus inimigos situa-se justamente na
crítica à civilização cristã e na busca de sua
substituição por uma sociedade pagã.
Desta forma, ao assumir uma visão romântica,
equivocada e afetada ideologicamente a respeito dos
malefícios que a civilização cristã traria ao planeta e
às supostas liberdades naturais dos povos pagãos, o
incauto amante deste tipo de escotismo coloca-se
imediatamente em conflito com o que ensina a Igreja
Católica. A fé católica é solapada sem que o
empolgado escoteiro politicamente correto o perceba.
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20. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Mas o criador do Escotismo jamais defendeu algo
parecido com isto. A exposição do assunto é que foi
apressada e superficial. Ele não sugeriu racionalmente
coisa alguma que lembrasse esta atitude conflituosa
tão comum atualmente no movimento surgido como
consequência de suas ideias. Por outro lado ele jamais
registrou nada claramente ao contrário. Parece que
nunca teria se apercebido do caráter dúbio de seus
escritos.
O mau uso que foi feito de suas ideias somente pode
ser explicado pela instrumentalização do Escotismo
laico conforme a mentalidade mundana e anticristã
vigente no momento histórico de seu crescimento no
durante o século XX.
Outra explicação possível, porém absurda, para o
descuido formal de B-P ao expor suas ideias
levantaria a dúvida a respeito da retidão do caráter do
criador de um método e de um movimento
educacionais, que se propõem justamente trabalhar
pela formação do caráter de bons cidadãos. Quem
conhece a obra se ofenderia com esta suposição! Não
a citaremos aqui.
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21. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Terceiro perigo: O Naturalismo
Como está nos textos, um leitor mais instruído,
porém distraído, ou alguém mal intencionado, ou
ainda, interessado no estilo libertário-ideologizado,
defenderia que o Escotismo está assentado no
naturalismo. A forma de ver a vida segundo o
naturalismo consiste em submeter o homem – e a
sociedade humana - à natureza. Seríamos filhos da
natureza, obra do acaso. Macacos bem-sucedidos.
O naturalismo rechaça o homem com criatura de Deus
e amado por Ele, colocando-o em conflito com a fé
que não somente afirma o exato oposto, mas que tem
suas raízes na revelação que aponta nossa origem fora
da natureza. Seria a porta de entrada do
evolucionismo materialista nas fileiras escoteiras.
Mas será mesmo que Lorde Baden-Powell era um
naturalista convicto? Seria ele um revolucionário
interessado na destruição da ordem? Ou ele não se
preocupou em formular seu pensamento de maneira a
fugir destas impressões? A nós parece – repetimos -
que ele nem mesmo se preocupava com estes
assuntos. Há textos de B-P nos quais julgamos ter
encontrado a confissão de um naturalista. Em seguida
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22. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
lemos, em outro lugar ideias opostas. Mais
ambiguidades. In dubio pro reo.
A proximidade de B-P com o escritor Rudyard
Kipling (este sim um naturalista inveterado), somente
colocou lenha na fogueira desta suspeita. A adoção do
Livro da Jângal [7] - a história de Mowgli um menino
“educado” por lobos, que se tornou um exemplo de
homem - como pano de fundo dos Lobinhos, foi a
gasolina jogada na fogueira. Diga-me com quem
andas e eu te direi quem és! De fato o Ramo Lobinho
é o de mais difícil “conversão” ao Escotismo
Católico, devido ao seu exagerado naturalismo.
Justiça seja feita: B-P não criou os Lobinhos, ele
encomendou o trabalho e apaixonou-se pela sua
estética a ponto de, mais uma vez, desconsiderar os
pressupostos envolvidos, a sua real necessidade e
aderência ao Método Escoteiro de Educação.
Um bom homem educado por lobos somente é
possível no romantismo pagão. Possível somente em
fábulas, como esta de Kipling, que tem um
inestimável valor artístico-literário, mas que cria toda
uma atmosfera contrária à fé e à moral católicas,
quando deixa a esfera da arte e é adotado para
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23. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
fornecer o pano de fundo prático para a vivência
concreta na educação de crianças no Escotismo.
O choque a que meninos e meninas, na fase da
infância, podem ser expostos, ao contraporem as
estórias contraditórias contadas na Alcateia com a
Doutrina que ensina a catequista de Primeira
Eucaristia, não pode gerar efeitos positivos nem para
a educação cultural, nem para a educação na fé. Não
se trata de limitar ilegitimamente a liberdade cristã de
ninguém no que concerne às artes e à cultura, mas,
como disse o apóstolo Paulo, patrono dos
Caminheiros: ”Tudo me é permitido, mas nem tudo
me convém” [8].
Quarto perigo: O Positivismo
O orgulho do positivismo [9] tenta colocar as leis
feitas pelos homens acima da Lei de Deus. O Estado
Civil é elevado acima de tudo, acima da Igreja. A
crítica ao positivismo no Escotismo está fundada na
centralidade da lei e da Promessa do Escoteiro, que
seriam colocadas acima dos Dez Mandamentos e das
Bem - Aventuranças. Estas últimas nem mesmo são
citadas. O Rei/A Rainha -na versão original - e a
Pátria - na versão republicana - são objetos da
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24. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Promessa do Escoteiro. A Igreja não o é. Os deveres
para com Deus, citados na mesma Promessa
permanecem obscuros e abandonados ao arbítrio de
cada um. Os deveres para com a Pátria são claramente
expostos no contexto da obra e nas “provas de classe”
[10]- não sobram dúvidas quais são eles.
Positivamente situando o Escotismo como laico, os
deveres para com a Igreja são ignorados no bojo da
Promessa e da prática do Escotismo. Seus praticantes
católicos são levados a esquecer a suas obrigações
com a Igreja de Cristo, ou assumi-las como algo
privado e pessoal, como uma crença como qualquer
outra, com claro prejuízo à fé, pois esta atitude tende
a afastar o escoteiro da Igreja, uma vez que ela é
colocada à distância como algo secundário e o
escotismo próximo, como coisa cotidiana e primeira.
O positivismo adotado na sua forma radical
desmerece a necessidade da Liturgia, do Culto a
Deus, conforme a fé da Igreja, ou seja, como
recebidos e ensinados por ela e conforme as
Escrituras reveladas por Deus. A Liturgia é
substituída por ritualismos e solenidades positivas,
sem correspondência com a Verdade. A necessidade
natural de ritos que tem o homem é canalizada para
23
25. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
um ritualismo casual, vazio, que tem como única
eficácia afasta-lo do verdadeiro Culto Divino.
Ficam desta maneira, abertas as portas para as
insinuações de diversas entidades que maquinam
contra a Igreja [11] - associações místicas, new-eges
e maçônicas – e que arrogam para si mesmas a guarda
do Movimento Escoteiro e o expõe a verdadeiros
escândalos, pois é corrente no Escotismo laico a
máxima “o escotismo não proíbe o que a lei (civil)
permite”.
Quinto perigo: O Espiritualismo
O Escotismo se vale de diversas cerimônias e ritos de
passagem e faz uso de simbologias de caráter
ancestral. Este ambiente, com tendência ao
misticismo, somado à simples exigência de uma vaga
religiosidade de seus membros – cada um concebe
Deus como lhe convém - são o solo fértil para um
espiritualismo disforme. Esta espiritualidade mal
orientada e desordenada não produz nenhum efeito
desejável, antes leva os incautos a assumirem uma das
seguintes atitudes: a total indiferença com a Religião,
adoção de doutrinas pagãs ou a simpatias por seitas.
24
26. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
A vasta gama de publicações de Robert Baden-Powell
nos deixa a pista que ele desejou situar sua obra
dentro do laicismo do tipo proposto pela Revolução
Americana [12], ou seja: uma garantia de liberdade de
prática religiosa a todos seus membros e de proteção
contra as perseguições religiosas. O Escotismo
original é laico no sentido de garantir espaço para
todas as crenças, o que não é intrinsecamente mau.
Porém, o discurso original de liberdade religiosa –
garantindo liberdade de culto a todos e não ligando o
Escotismo a uma religião específica - foi logo
substituído por uma interdição ao cristianismo, bem
ao espírito do liberalismo do século XX. O
catolicismo não circula com facilidade no meio dos
escoteiros, salvo abençoadas exceções. A preferência
é dada para as religiões e espiritualidades
consideradas alternativas, substitutivas. O laicismo é
interpretado como uma postura moderna, científica e
obrigatoriamente contrária à religião cristã.
De qualquer forma, a maior parte das realizações de
Escotismo laico está orientada em oposição à fé de
Cristo conscientemente ou não. E faz isto ao assumir
um discurso progressista cheio de sofismas e
aparentemente científico, que critica os males que nos
cercam no Ocidente e aponta como solução o modo
25
27. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
de vida pagão do extremo oriente e dos povos
indígenas – todos “vítimas” da Igreja e dos
“preconceitos cristãos”.
Critica-se a Igreja Católica ao mesmo tempo em que
se criam constrangimentos ao conhecimento de sua
história bimilenar e da Santa Doutrina guardada por
ela. Os Escoteiros são levados a refutar algo que
desconhecem.
Sexto perigo: O Relativismo
Outra doutrina desorientada do século que permeia as
interpretações modernistas do Escotismo é o
Relativismo.
Esta é uma postura que assevera ser impossível ao
homem conhecer a Verdade, ou que a Verdade
simplesmente não pode ser conhecida por ser ela
relativa, ou seja: o que é certo para uns é errado para
outros e não há como se chegar a um consenso. Então,
cada um vive como quer... ou pode!
Esta doutrina intelectualmente desonesta – porque é
aplicada somente à vida moral, com claro objetivo de
justificar os descaminhos daqueles que desejam uma
26
28. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
vida mundana e desordenada - é reputada como
própria do Escotismo laico. Seus defensores
corrompem descaradamente os princípios basilares do
método educacional criado por Baden-Powell para
ajustá-lo às suas “verdades”. É uma reação à
moralidade cristã, à ideia do pecado, de sua remissão,
de penitência, de Justiça Divina, dos Sacramentos,
etc...
Talvez seja este o ponto mais deturpado do Escotismo
hoje em dia. O que torna este ataque fatal ao Método
Escoteiro é que ele danificou a sua alma. Na alma do
Escotismo como Método de Educação encontramos
algumas ideias-chave como: “O escoteiro deve
assumir sua própria formação”; “... aprender
fazendo”; “... reme sua própria canoa”; etc... [13].
Em que pese estas afirmações terem suas corretas
interpretações claramente percebidas no contexto
mais amplo das ideias, os modernistas-relativistas, as
utilizando como slogans e palavras de ordem,
afirmam que o escoteiro está isento de toda a
hierarquia e que esta seria sempre contrária à
liberdade, e que deve refutar qualquer doutrina uma
vez que ele assume “sua própria formação”. Ninguém
- segundo eles - “faz a cabeça” de um escoteiro!
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29. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Também ninguém pode se arvorar ao direito - ou à
obrigação - de ensinar alguma coisa a um escoteiro,
pois ele “aprende fazendo”, aprende tudo –
milagrosamente - sozinho.
Segundo esta visão distorcida, quaisquer orientações,
direções, conselhos e ensinamentos jamais se
poderiam dirigir a um jovem escoteiro, pois ele deve
“remar a própria canoa”, ou seja, assumir o timão da
própria vida, sem ligar para os outros e para o Bem
Comum. Eis aqui uma enorme deturpação vulgar e
grosseira da proposta de B-P, não obstante ser muito
comum!
As consequências destas posturas relativistas sobre o
bom censo, sobre a razão e à fé são devastadoras.
Concernente à fé, como um escoteiro submeter-se-ia
ao Magistério Eclesiástico? Como receberia a fé da
Igreja? Como poderia ser catequisado? Como se
sujeitaria à hierarquia (jamais poderia ser ordenado),
como obedeceria a seu confessor? Esta auto
interpretação espúria - e absolutamente absurda- do
Método Escoteiro impede tudo isto e afastam
definitivamente da Igreja as realizações de escotismo
que a adotam.
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30. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Assim Cristo torna-se uma lenda, um pano de fundo
como Mowgli, e não o Caminho, a Verdade e a Vida
[14], visto que a verdade é relativa... Ou fruto da
“ignorante arrogância dos cristãos”... Ou nem mesmo
existe!
Este é o embasamento usado para refutar os
argumentos de quem tenta defender a base cristã e
moralizante do Escotismo no ambiente laico.
Seria desnecessário registrar aqui a falsidade desta
interpretação. Baden-Powell jamais propôs absurdos
como estes. Basta somente lembrar a lei e a Promessa
do Escoteiro, onde não faltam elementos moralizantes
que ensinam a obediência, a disciplina, o dever, a
fraternidade, a atenção aos mais velhos [15], entre
outros valores “antiquados”. O relativismo dentro do
Escotismo é contrário aos ensinamentos de seu
próprio fundador, o que se constitui em um veneno
mortal e uma armadilha medonha.
Não é por acaso que o néo-escotismo, verdadeiro
produto de vitrine do Escotismo laico, parece ter
esquecido a lei, a Promessa e a Boa-Ação dos
Escoteiros!
29
31. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Fiquemos por aqui, para que uma exposição muito
longa das deturpações do Escotismo original e
histórico não se sobreponha ao seu valor e às suas
enormes possibilidades e também para que não
sejamos considerados pessimistas demais.
Infelizmente todos os males apontados acima, em que
pese serem deturpações, surgidas de glosas,
falsificações e vulgarizações – e que, portanto não
correspondem à “intuição original de Robert Baden-
Powell” - são hoje observadas na maioria das
realizações de escotismo – inclusive no Escotismo
Independente - podendo ser consideradas,
lamentavelmente, como componentes da realidade do
Escotismo laico contemporâneo.
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32. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
SEGUNDA PARTE: A SOLUÇÃO
A melhor realização das ideias de Baden-Powell -
segundo ele próprio.
Mas, graças a Deus pelo Virtuoso Padre Jacques
Sevin! [16] Quando ainda era seminarista na Bélgica,
chegou às mãos do jovem Sevin uma obra de um
jesuíta – confrade seu - que expunha os mesmos
pontos a acima de forma tão contumaz, enriquecidos
por números e fatos, que levou o Escotismo de B-P à
beira da condenação pela Santa Sé.
O seminarista pediu licença ao reitor do seminário
para, nas férias de verão, ir a Londres, conhecer in
loco o Escotismo de Baden-Powell. Por obra e graça
da Divina Providência, seus superiores aprovaram
esta improvável viagem de um seminarista jesuíta
francês à Inglaterra, para avistar-se com um general,
suspeito de ser maçom e que estava em vias de ter a
obra de sua vida condenada pela Igreja Católica – isto
tudo em 1912.
Desta curiosa viagem resultaram anos de luta pelo
reconhecimento do valor evangélico do Escotismo de
Baden-Powell e da validade de sua adoção pela Igreja
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33. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Católica, como movimento próprio, educador na fé,
evangelizador, catequético e formador de filhos e
filhas da Igreja.
Durante os anos que correu o processo de
reconhecimento, Jaques Sevin foi humilhado,
preterido, ofendido - inclusive em sua honra de
sacerdote - acusado, caluniado, difamado. Finalmente
ele obteve a autorização para iniciar seu projeto,
porém somente com moças, pois seus detratores
levaram seus superiores jesuítas a suspeitar que ele
planejasse, secretamente, criar uma congregação
religiosa de escoteiros a partir da Companhia de
Jesus. Depois de três tentativas finalmente os
Escoteiros Católicos vieram à luz. E em 1920 foi
fundada a Scouts de France.
Em maio de 2012, o Papa Bento XVI assinou o
decreto da Congregação da Causa dos Santos que
reconhece as virtudes heroicas do Padre Jacques
Sevin, SJ demonstradas no seu esforço que culminou
em sua dupla obra: O Escotismo Católico e a
Congregação das Irmãs da Santa Cruz de Jerusalém,
uma congregação de religiosas fundada por suas
primeiras guias - as moças escoteiras - com base no
Escotismo de B-P, e com as quais o Padre Sevin
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34. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
iniciou sua obra sob a suspeita de estar tentando criar
uma congregação religiosa de Escoteiros! Um de
muitos fatos curiosos que envolveram este sacerdote!
O esforço de Jaques Sevin consistiu em promover a
desambiguação do Escotismo, aparando arestas,
removendo tumores, superando contradições e
devolvendo-o ao cristianismo de onde havia sido
sequestrado já nos seus primeiros dez anos de vida.
A recristianização do Escotismo
Convencido do valor cristão inerente à obra do
anglicano Baden-Powell, mesmo desmentido pelos
fatos da época, o Padre Sevin produziu sua melhor
realização, segundo o próprio B-P. Sevin captou
como ninguém o havia feito ainda, a base evangélica
interna ao Método Escoteiro, ao que ele denominou
de “pequenas perfeições do Escotismo” [17]. Esta
base, esquecida e soterrada por inúmeras
interpretações, ataques e deturpações, demonstrou-se
perfeitamente coerente e adaptável à Santa Doutrina
obviamente por ser cristã.
Não era o Escotismo original anticatólico per si, mas
suas realizações deturpadas, realimentadas pelas
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35. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
forças revolucionárias do século XX é que fizeram o
movimento, surgido espontaneamente a partir do livro
Escotismo para Rapazes, de Baden-Powell, assumir
seu aspecto antagônico à Igreja em vários países e em
diversos momentos.
Como contornar as deturpações?
Teoricamente as deturpações do Escotismo laico
poderiam ser todas contornadas por meio do simples
retorno às ideias originais de Baden-Powell. Porém o
decorrer do século levantou as barreiras da
mentalidade pós-moderna, a ponto de inviabilizar esta
tarefa. De alguma forma, a mentalidade dominante no
mundo não é capaz de apreciar as “pequenas
perfeições do Escotismo”, da mesma forma como não
é capaz de perceber tudo aquilo que é espiritual.
A única possibilidade de realização seguramente
cristã do Escotismo de Baden-Powell encontra-se
hoje no interior da Igreja Católica Apostólica
Romana, na forma do Escotismo Católico - virtuosa
colaboração do Padre Jaques Sevin aprovada por
Baden-Powell.
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36. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
A contextualização do Escotismo conforme Jaques
Sevin na Igreja, em comunhão com os Bispos e com o
Papa, é fundamental para combater as tentações das
interpretações privadas e desvios tão comuns em um
sistema organizado em níveis de formação, que pode
facilmente fomentar o pecado da vaidade e do orgulho
em seus membros. Todas as mazelas do Movimento
Escoteiro encontram explicação na vaidade e em
casos mais graves no orgulho, que se instaurou em
suas direções.
O Escotismo não é sagrado, não é uma religião, por
esta razão as únicas vias possíveis de protegê-lo, para
uso seguro pela Igreja, são: sua adoção e sua
submissão à Igreja como um movimento católico.
Mas para isto é necessário que a Igreja queira adotá-
lo. E isto ela já fez no nível universal. O
reconhecimento das virtudes heroicas do Padre Sevin
e os vários reconhecimentos por parte do Pontificum
Concilum Pro Laicis (Concílio Pontifício para
Leigos) [18] tornam desnecessária qualquer defesa
atualizada de sua catolicidade. O Escotismo Católico
é de fato católico, universalmente falando. Agora é
necessário que ele seja assumido pelas Igrejas
particulares no Brasil [19].
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37. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Como o Escotismo é submetido à Igreja.
É importante ter em mente que o Escotismo será
sempre uma espada de dois gumes e uma pedra de
tropeço, perigoso se for operado negligentemente,
especialmente em sociedades infestadas pelo
marxismo cultural, como é o caso do Brasil. Por isto,
sua realização católica deve ser solidamente inserida
na hierarquia da Igreja, de modo a tornar seus
responsáveis sujeitos, senão às leis canônicas, pelo
menos à estrita obediência a superiores hierárquicos
comprometidos com o movimento católico.
Por esta razão não é admissível que o Escotismo
Católico seja um movimento de leigos no sentido de
ser dirigido exclusivamente por eles. Ele deve ser
assumido pelo clero obediente à Roma, para que os
temidos desvios possam ser corrigidos eficazmente
sob a autoridade episcopal e para que seja colocada,
em primeiríssimo lugar, a salvação das almas.
Nosso papel, neste momento, é de firmar o caráter do
Escotismo que desejamos propor à Igreja no Brasil.
Trata-se de muito grande responsabilidade, pois
somos sabedores - graças a quarenta anos de vivência
no Escotismo - que esta espada tem realmente duas
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38. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
lâminas bem afiadas e jamais gostaríamos de produz
embaraços à Igreja Católica, pois “é inevitável que
venham os escândalos, mas ai daquele por meio de
quem vêm os escândalos” [20].
Eis por que estamos propondo a replicação, em terras
brasileiras, com as devidas adaptações socioculturais,
do modelo de Escotismo adotado – com muito
sucesso - pela UIGSE-União Internacional de Guias e
Escoteiros da Europa e já reconhecido
definitivamente pela Santa Sé [18]. Este movimento
católico europeu é o detentor da dignidade do
Escotismo Católico de Jaques Sevin e trás em seus
procedimentos os antídotos contra os ataques
virulentos das paixões revolucionárias anticristãs
[21].
A UIGSE é reconhecida pelo Pontificium Concilium
pro Laicis (Vaticano) e pode acolher Associações de
Guias e Escoteiros sediadas fora da Europa - caso
atual do Canadá. Seu Escotismo é claramente definido
como conservador católico, fortemente seguro na
Doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana,
balizando a educação de seus jovens nas virtudes
cardeais, teologais e humanas [22]. Funciona
correlacionando intimamente a lei e a Promessa das
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39. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Guias e dos Escoteiros com o Evangelho,
particularmente com as Bem-Aventuranças [23]. É
um movimento com forte caráter litúrgico que prima
pela sacralidade da Missa [24]. É cioso de sua
obediência ao Papa e aos bispos em comunhão com
ele.
O que foi exposto acima, a respeito da submissão do
Escotismo à Igreja, já seria suficiente para aliviar a
angústia produzida pelos relatos das gravíssimas
deturpações por ele sofridas, em seu estado laico, e
pelo resultado desastroso que tais deturpações
produzem.
Uma vez livre das suas primitivas ambiguidades que
permitiram tais deformidades, o Escotismo, na sua
forma confessional católica, é convertido a um
poderosíssimo instrumento de educação na fé que a
Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil não
pode prescindir.
O que faz a diferença?
A necessária diferença entre o Escotismo Católico e o
Escotismo laico não fica restrita à sua especial
estruturação no tecido organizacional secular da
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40. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Igreja, que apesar de necessária também não é
suficiente. Há diferenças doutrinárias que determinam
sua especificidade e seu foco no cuidado com as
almas confiadas a uma sólida formação cristã fazendo
um inovador uso do Método Escoteiro:
Primeira diferença: Um movimento católico de
adultos
A primeira grande diferença do Escotismo Católico,
em relação às realizações laicas é o seu caráter
inequívoco de movimento católico de adultos [25]
voltado para os jovens. A plenitude do Escotismo
Católico ocorre na idade adulta. As ações educativas
dos Escoteiros adultos junto aos jovens têm como
objetivo fazer com que as crianças e adolescentes
cheguem à etapa adulta de suas vidas ainda dentro do
Escotismo e envolvidos por ele.
A ação educativa nos ramos juvenis é orientada para
que as guias e os escoteiros, ao tornarem-se adultos
(quando atingirem a maturidade física, emocional,
intelectual e especialmente, a maturidade espiritual),
estejam preparados para a prática de um Escotismo
Católico de alto desempenho, com a clara definição
das vocações - matrimônio, ordem, vida consagrada -
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41. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
e para um comprometimento vitalício com Serviços à
Igreja, ao movimento e aos outros.
Segunda diferença: Os Cinco Fins do Escotismo
O Escotismo Católico, como codificado pela UIGSE,
tem suas finalidades claramente definidas e descritas
nos seus Cinco Fins, que são os seguintes:
1. Desenvolver o sentido de Deus
O sentido de Deus começa a tomar forma pela
revelação de Deus na natureza, onde os jovens guias e
escoteiros desenvolvem – via de regra - suas
atividades. Mas os jovens não são detidos somente na
revelação natural do Criador. Eles são também
apresentados às revelações de Deus na Escritura e na
Sagrada Tradição segundo o Magistério Autorizado.
São assim levados, pela evangelização e catequese, a
conhecer pessoalmente o Deus Trino e Uno, inclusive
na sua forma mais prática e evangélica possível – no
reconhecimento de Cristo no próximo. O cuidado e o
amor ao próximo são praticados cotidianamente e em
todo o lugar - também por regra - por meio da prática
da Boa-Ação Escoteira renovada evangelicamente por
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42. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Jaques Sevin - a Boa-Ação Escoteira foi praticamente
abandonada pelo escotismo laico. Na etapa adulta esta
prática continua por meio da escolha de Serviços.
2. Desenvolvimento de um Sentido de Serviço
A Boa-Ação Escoteira praticada na infância e na
adolescência em caráter assistencial imediato dentro
das patrulhas - que são comunidades de fé no
Escotismo Católico - por meio de pequenas ações que
podem durar até algumas horas, desenvolve nas guias
e nos escoteiros um sentido de serviço ao próximo,
que chega ao auge na idade adulta.
As guias e os escoteiros habituados à regra da Boa-
Ação, quando crianças e adolescentes, são levados
naturalmente, na idade adulta, a assumir
Compromissos Pessoais com Serviços ao movimento,
à Igreja e à comunidade. Inicialmente estes
compromissos tem duração limitada - três anos - e
culminam no Compromisso de Serviço para a vida
inteira. Nesta fase a guia e o escoteiro adultos doam-
se em Serviços no espírito do Evangelho,
comprometendo suas vidas todas, sempre segundo
uma regra. Assumem desta forma suas vidas de
Igreja.
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43. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
3. Desenvolvimento do Caráter
O Caráter, de filhos da Igreja e de bons cidadãos, é
produzido pela educação católica tendo o Método
Escoteiro como ferramenta. O processo educativo do
Escotismo acontece nas atividades próprias de
escoteiros.
O Escotismo Católico formata os temperamentos de
modo a ajustá-los às virtudes humanas, cardeais e aos
dons das virtudes teologais [22]. O modelo de homem
buscado - O Homem Novo - é forjado no molde de
Cristo.
Os adultos que não tiveram a oportunidade de serem
guias ou escoteiros na infância e adolescência
encontram no Escotismo a oportunidade de conversão
permanente e aprimoramento pessoal e são levados a
assumir uma vida regrada espontaneamente que os
introduz firmemente na Igreja.
4. Desenvolvimento da Saúde Física
A boa saúde física é obtida pelos cuidados com o
corpo, com a alimentação. A perfeita prática do
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44. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Escotismo exige disposição física e emocional para
realizar suas rotas, peregrinações, acampamentos,
escaladas, viagens...
A virilidade é uma virtude buscada pelos membros
masculinos. A disposição e o vigor para a luta pelo
bem e contra o mal são alcançados por intermédio da
observância e prática da castidade.
Os membros femininos são igualmente orientados à
castidade com a finalidade de alcançar a virtude da
modéstia, sem a qual não obterão sucesso na luta
contra o pecado. A saúde física relaciona-se com a
saúde mental e espiritual.
5. Desenvolvimento do Sentido do Concreto
O Escotismo Católico educa na realidade - no
concreto. Abomina o uso de lendas, fábulas, místicas
e espiritualidades estranhas à piedade cristã. Seus
jovens e adultos são empolgados a buscar a santidade
nas pequenas coisas do dia-a-dia, conforme a
espiritualidade de Santa Terezinha do Menino Jesus e
nas contrariedades diárias da escola, do trabalho, da
família e da comunidade segundo a espiritualidade de
São Josemaria Escrivá.
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45. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Sendo antes católicos do que escoteiros, os jovens e
os adultos, lançados assim à concretude da vida real
encontram nos Sacramentos, em especial nos
Sacramento da Reconciliação e da Eucaristia os
mapas seguros de seu Caminho, de sua Rota, na vida.
Os Cinco Fins do Escotismo Católico lançam mais
luz sobre as ambiguidades do Escotismo original,
sinalizando um caminho seguro para contorná-las.
Há ainda outro instrumento, que sendo utilizado
juntamente com os Cinco Fins, baliza visivelmente o
Caminho com mais clareza ainda - a Rota segura a
percorrer dentro do Escotismo: Os Marcos da Rota.
Terceira diferença: Os Quatro Marcos da Rota
A boa mística do Escotismo Católico, conformada à
fé da Igreja, desenha o mapa de uma Rota, de um
Caminho a seguir. Este Caminho que leva a Deus, à
santidade, é o próprio Cristo, Caminho, Verdade e
Vida. O Escotismo Católico é identificado como “A
Rota”, ou seja, “O Caminho” – nome dado para a
Igreja no primeiro século. Ele é Igreja.
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46. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
O Caminho adquire um aspecto material e concreto
no Escotismo adulto, que tem por pano de fundo uma
estrada. As atividades de campo dos adultos são
marcadas pelas Rotas, que são um misto de
peregrinação e aventura. A meta das guias e
escoteiros adultos é realizar a Rota de Santiago de
Compostela, na Espanha. No Brasil sugerimos a
criação de uma Rota preliminar à Basílica de Nossa
Senhora Aparecida.
Mas o caminhada pela Rota espiritual - pelo Caminho
da vida, que é o Escotismo - apresenta muitos riscos
de desvio que podem levar o caminheiro a perder-se
no meio do caminho. Como em uma estrada concreta
o Escotismo Católico colocou, no Caminho espiritual,
Quatro Marcos que ajudam a orientar quem nele
caminha:
1. O Serviço
Para cada etapa do Caminho espiritual – ou seja, da
Rota como projeto de vida - o adulto deve estar
envolvido com um Serviço, originado em um
Compromisso Pessoal. As guias e os escoteiros
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47. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
adultos fazem Compromissos Pessoais e formais em
três ocasiões distintas. Sem Compromisso Pessoal não
existe o Escotismo Católico [25]. Sem a entrega, sem
a doação da própria vida, que começa com a oferta de
somente alguns poucos anos e culmina na vida toda, a
guia e o escoteiro correm o grave risco de caírem no
orgulho e perderem a Rota para sempre.
2. Qualificação Técnica
Durante a caminhada de vida, ao progredir pelo
Caminho, o adulto deve prover sua qualificação
técnica em Escotismo. Sendo as atividades próprias
de escoteiros que proporcionam o processo educativo,
os adultos, que são educadores das crianças e dos
adolescentes, devem adquirir os conhecimentos da
técnica escoteira – o scouting - para treiná-los. As
técnicas de scouting são fundamentais para
garantirem a eficácia educacional do Método e a
segurança nas atividades de campo.
A perfeita ação educacional sobre as crianças e os
adolescentes - e o cuidado com suas almas - passa,
necessariamente pelo treinamento em Escotismo -
pelas técnicas de scouting -, sem o qual ninguém será
um verdadeiro escoteiro católico.
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48. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
3. Um Padrinho
Nenhum peregrino anda sozinho pelo Caminho. Os
perigos são inúmeros e o inimigo é muito hábil em
fazer armadilhas. Por esta razão, todos os adultos, que
se lançam neste Caminho de vida, são acompanhados
por um padrinho e por um Diretor Espiritual, que já o
percorreram e conhecem os becos sem saída, os
precipícios, os rios e as armadilhas.
É o padrinho que avalia o desempenho do caminheiro
em suas tarefas técnicas. O padrinho é um Escoteiro
adulto, normalmente o Chefe da Seção adulta.
4. Um Diretor Espiritual
O Diretor Espiritual - obrigatoriamente um sacerdote
- é o acompanhante que determina a velocidade da
marcha no Caminho da vida, segundo as condições
espirituais dos caminhantes. Ele avalia os efeitos dos
fatos na alma de quem caminha, e a percepção dos
fatos conforme o estado de espírito do peregrino,
determinando mudanças de rumos, atalhos, paradas e
identifica o fim da Rota para cada um,
individualmente.
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49. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Não é necessário que o Diretor Espiritual seja
escoteiro, basta conhecer o Caminho. Esclarecendo
aqui que os Escoteiros não inventaram o Caminho,
são trazidos a ele. Neste ponto ficamos plenamente
convencidos da necessidade do clero comprometido
tomar para si o Escotismo Católico e que, sua
operação somente por leigos expõe a todos a antigos e
perigosos erros.
Para encerrar, gostaríamos ainda de expor outra
diferença apresentada pelo Escotismo Católico, que se
encontra em oposição à mentalidade mundana: o
rechaço à coeducação.
Quarta diferença: O Rechaço à Coeducação
O Escotismo Católico não adota a coeducação, ou
seja, ele educa meninos e meninas, moços e moças,
homens e mulheres separadamente. Os motivos para
essa atitude são os seguintes:
Homes e mulheres não são iguais
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50. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Para obtermos resultados fortes e definitivos
aplicamos Programas diferenciados não somente por
idade, mas também por sexo.
Se há diferenças emocionais, físicas, intelectuais e
espirituais entre pessoas de idades diferentes, elas
também ocorrem, e de forma mais definitiva, entre
homens e mulheres. Há uma forma de educar homens
e outra de educar mulheres.
Segurança contra pernicioso igualitarismo
Outro aspecto ideológico pernicioso que assola a
sociedade hodierna é o igualitarismo, em especial
entre homens e mulheres [26]. Esta ideologia provoca
confusão nas funções de cada um na sociedade,
fracionando a família e comprometendo o
desenvolvimento espiritual da juventude e sugerindo,
no extremo, alternativas antinaturais de
relacionamento.
Segurança moral
O ambiente de liberalismo sexual dominante em
nossa sociedade insinua-se por todos os seus
organismos. O Escotismo não é imune a este mal.
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51. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Cuidadosos com a castidade de nossos jovens e
adultos e certos do imenso valor desta virtude,
adotamos a educação separada por sexo, que com
certeza, ajuda a afastar os riscos à castidade e ao
matrimônio.
CONCLUSÃO
Jaques Sevin conseguiu muito mais do que evitar a
condenação do Escotismo: Ele o resgatou e o
introduziu na Igreja Católica e fez dele um
poderosíssimo instrumento de Deus para a salvação
das almas. Ao ter suas virtudes heroicas reconhecidas
pela Igreja, o Padre Sevin - agora no caminho do
reconhecimento de sua beatitude - conseguiu também,
demonstrar as virtudes cristãs do Escotismo como
consequência.
A Igreja no Brasil praticamente desconhece este
jesuíta e sua obra construída graças às virtudes e à
assistência que lhe foram dadas por Deus. Estas
virtudes são heroicas - segundo o reconhecimento
eclesial - ou seja, foram evidenciadas pelas condições
supercríticas que culminaram na realização de uma
50
52. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
obra que estava muito além das possibilidades das
forças e inteligência meramente humanas.
Visto que Deus somente cumula seus santos de
virtudes tendo como meta a cumprimento de Sua
Santíssima Vontade, é nos lícito supor que o
Escotismo Católico á querido por Deus como parte
integrante de Sua Igreja, como mais um meio para
cumprir Seus desígnios nestes tempos finais. Se a
obra fosse vulgar, o autor não seria virtuoso.
Da mesma forma, agrada-nos concluir que a bênção
obtida pelo Escotismo - pois foi por ele que se
revelou mais um homem virtuoso para a Igreja -
alcança misericordiosamente a Baden-Powell, a quem
se deve sua intuição primeira e sobre cuja criação se
edifica o Escotismo Católico.
Esta é para nós a principal razão pela qual devemos
respeitar a originalidade do Escotismo de Baden-
Powell, atendendo também a vontade póstuma do
Virtuoso Padre Jaques Sevin.
Para encerrar, fiquemos com as palavras do fundador
que nos dão uma boa pista de seus objetivos ao criar o
Método Escoteiro (os grifos são nossos):
51
53. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
“Vamos, portanto..., não nos deixamos absorver
demasiado, pelos detalhes. Não deixemos
a TÉCNICA sobrepor-se à MORAL.... tudo isso são
MEIOS, não o OBJETIVO. O objetivo é o
CARÁTER–caráter com um
PROPÓSITO....,realizando o serviço ativo de AMOR
e DEVER para com DEUS e o PRÓXIMO”.
(Baden Powell – 1939)
52
54. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
CARTA APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI
Por ocasião do centenário do escotismo, em 2007, o
Papa Bento XVI enviou sua Bênção Apostólica às
Guias e Escoteiros Católicos, congregados nos três
movimentos reconhecidos pela Santa Sé: Scouts de
France- SdF (filiado à WOSM), Scouts Unitaires de
France- SUF e Union Internationale des Guides et
Scouts d’Europe-UIGSE·.
Ao Senhor Cardeal JEAN-PIERRE RICARD
Arcebispo de Bordeaux Presidente da Conferência
Episcopal da França
No dia 1 de Agosto de 2007 celebrar-se-á o centésimo
aniversário da abertura, na ilha de Brownsea, na
Inglaterra, do primeiro campo de escoteiros,
organizado pelo Lord Baden-Powell. Em tal ocasião
todas as pessoas, jovens e adultos que, no mundo, um
dia pronunciaram a promessa escotista serão
convidados, individualmente ou em grupo, a renová-
la e a fazer um gesto em favor da paz, ressaltando
assim como a vocação de "artífice da paz" está
vinculada ao ideal escotista. Há um século, através
do jogo, da ação, da aventura, do contacto com a
natureza, da vida de grupo e do serviço ao próximo, a
todos aqueles que se unem ao escotismo oferece-se
uma formação integral da pessoa humana.
53
55. ESCOTISMO: UMA ESPADA DE DOIS GUMES - Luiz Postal
Fecundado pelo Evangelho, o escotismo é não
apenas um lugar de verdadeiro crescimento
humano, mas também o lugar de uma vigorosa
proposta cristã e de um genuíno amadurecimento
espiritual e moral, assim como de um autêntico
caminho de santidade; seria bom recordar, como
ressaltava o Pe. Jacques Sevin, S.J., fundador do
escotismo católico, que "a santidade não pertence a
um período específico, nem possui um uniforme
particular". O sentido das responsabilidades
despertado pela pedagogia escotista conduz a uma
vida na caridade e ao desejo de se colocar ao serviço
do seu próximo, à imagem de Cristo servo,
alicerçando-se na graça que Cristo oferece, em
particular, através dos sacramentos da Eucaristia e
do Perdão.
Juntamente com todas as pessoas que, no seu país,
beneficiaram de uma estrutura escotista, tanto entre
os Escoteiros e os Guias da França, como entre os
Escoteiros e os Guias da Europa, ou ainda entre os
Escotistas e os Guias unitários da França, rejubilo-
me porque, a seguir ao apelo lançado em 1997 pelo
meu predecessor a uma maior unidade no escotismo
católico, se possam realizar colaborações no respeito
pelas sensibilidades de cada um dos movimentos, em
ordem a uma maior unidade no seio da Igreja. Com
efeito, as diretorias do escotismo recordar-se-ão que
devem, em primeiro lugar, despertar e formar a
personalidade dos jovens que lhes são confiados
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pelas famílias, educando-os a encontrarem-se com
Cristo e a viverem na Igreja. É também importante
que se manifeste e que se desenvolva, entre os
escoteiros e entre os diferentes movimentos, a
"fraternidade escotista", que faz parte do seu ideal
inicial e que constitui, nomeadamente para as jovens
gerações, um testemunho daquele que é o Corpo de
Cristo em que, segundo a imagem de São Paulo,
todos são chamados a cumprir uma missão, no lugar
que lhes compete, a alegrar-se pelos progressos dos
outros e a ajudar os seus irmãos na provação (cf. 1
Cor 12, 12-26).
Dou graças ao Senhor por todos os frutos que, ao
longo deste século, o escotismo produziu. Juntamente
com toda a Igreja, tenho confiança nos diferentes
movimentos, Escoteiros da França, Escoteiros e
Guias da Europa e Guias unitários da França, a fim
de que continuem ao longo do caminho, numa ajuda
recíproca cada vez mais vigorosa entre os
movimentos, e proponham aos jovens e às jovens de
hoje uma pedagogia que forme neles uma
personalidade forte, fundamentada nos elevados
ideais da fé e da solidariedade humana. A partir
deste ponto de vista, a promessa e a oração escotistas
constituem uma base e um ideal a desenvolver ao
longo de toda a existência. Era o que já o Lord
Baden-Powell recordava: "Sede sempre fiéis à vossa
Promessa escotista, mesmo quando deixardes de ser
crianças e que Deus vos ajude a alcançar isto!".
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Quando o homem se esforça por ser fiel às suas
promessas, o próprio Senhor consolida os seus
passos.
Aos Escoteiros e Guias que compõem os três
movimentos, aos jovens, aos adultos e aos capelães
que os acompanham, às famílias, aos ex-Escoteiros e
Guias, concedo do íntimo do coração, assim como a
Vossa Excelência e a todos os Pastores da Igreja na
França, a Bênção Apostólica.
Vaticano, 22 de Junho de 2007.
Obs:. As diferenças observadas em terminologias
deve-se à tradução da Carta Apostólica ao português
falado em Portugal, considerado padrão.
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Referências bibliográficas e citações
[1] Papa Bento XVI, in Carta Apostólica à
Conferência Episcopal da França, 2007. (ver pag.48)
[2] Carta aos Hebreus 11,1
[3] Catecismo da Igreja Católica, 84-85, 173-175.
[4] Catecismo da Igreja Católica, 142-143, 153,166-
167.
[5] Escotismo para rapazes, Caminhos para o
Sucesso, Ajuda ao Chefe Escoteiro, e outros.
[6] Como a Igreja Católica Construiu a Civilização
Ocidental, Thomas E. Woods Jr – Editora Quadrante.
[7] The Jangal Book, trad.: O Livro da Selva,
Rudyard Kipling, L&PM Pocket e outras.
[8] Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 6,12 a.
[9] Auguste Comte Et La Philosophie Positive,
É.Littré.
[10] Coleção Para Ser Escoteiro, Chefe Francisco
Floriano de Paula.
[11] Código de Direito Canônico, cân. 173-1374.
[12] A Revolução Americana, Herbert Aptheker
[13] Caminhos para o Sucesso, Robert Bade-Powell.
[14] Evangelho segundo São João 14, 6
[15] Escotismo para Rapazes, Robert Baden-Powell.
[16] Jacques Sevin, fundateur et mysthique, Editions
Salvator
[17] Le Scoutisme, Jacques Sevin
[18] Decreto nº 1465/08/AIC-15a de 26/08/2008 –
Pontificium Concilium Pro Laicis (Santa Sé).
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[19] Decreto Episcopal Registro nº RG 151/2011 -
Arquidiocese de Porto Alegre-RS
[20] Evangelho segundo São Lucas 17,1.
[21] Revolução e Contrarrevolução, Plínio Correia de
Oliveira, Catolicismo.
[22] Catecismo da Igreja Católica, 1697,1883-4,
1833, 2223.
[23] Evangelho Segundo São Mateus 5,1-12
[24] Sacrosanctum Conciluim ; Summorum
Pontificum.
[25] Textos de La Ruta : Manual del Responsable
Rover, Associación Española Guias y Scouts de
Europa –FSE, Javier Delgado,RS
[26] Catecismo da Igreja Católica, 369.
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