Patrimônio histórico-cultural de São Borja e Santo Tomé
1. (URI) - UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E
DAS MISSÕES – CAMPUS SANTO ÂNGELO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE GEOGRAFIA
- Defesa Monografia-
Acadêmico: Muriel Pinto
Orientador: Profº. Dr. Glaucio Curi Machado
2. Em 2007 celebrou-se 325 anos da fundação da Redução
Jesuítica Guarani de São Francisco de Borja, hoje atual
município de São Borja. A instalação desse povoado na
margem esquerda do Rio Uruguai, em 1682, teve profundas
relações com o translado de índios guaranis da Redução de
Santo Tomé[(Argentina). As relações socioeconômicas
condensadas na instalação desses povoados aborígines, faz
transparecer o entendimento de que, no caso de São Borja-
RS-BR/ Santo Tomé-CORRIENTES-AR, o processo de
demarcação de seus territórios confundem-se com a própria
história dos locais e mostra-se especialmente nítido no
contexto de seu Patrimônio Histórico-Cultural.
3. Historicamente á formação dos aglomerados urbanos nas áreas
fronteiriças do sul da América Latina estão relacionados a
disputas territoriais, relações comerciais, culturais, entre
outros. A faixa de fronteira em estudo possui uma conjuntura
marcada por repetidas lutas, com participações na Guerra
Guaranítica e Guerra do Paraguai. Sua situação geográfica
sempre foi de grande interesse geopolítico, situada entre o Rio
Uruguai, constantemente propiciou relações com os países
platinos, pois está no epicentro do Conesul.
4. Figura 1: Localização de São Borja-RS-BR/ Santo Tomé – CORRIENTES-AR
São
São
Borja’’’’
Borja
Mesetaa
Misones
‘Santo Tomé
Planícies y
esteros
’
’
’
’
’
’
Fontes: * Governo da Província de Corrientes.
’
** Fundação de Economia e Estatística do RS - FEE
*** Atlas y Geografia De la Argentina ’
Adaptado: PINTO, M (2007). ’
Mapas sem escala ’
5. As relações socioeconômico-patrimoniais entre São Borja e
Santo Tomé iniciaram-se no século XVII. No ano de1682 á
frente de mil novecentos e cinqüenta e duas almas, passava o
padre Francisco Garcia para a margem direita do Rio Uruguai
para vir fundar uma colônia para a Redução de Santo Tomé,
estabelecendo-se quase fronteiro a está, a uma légua da
margem do rio, e a que deu o nome de “São Francisco de
Borja”.
As famílias que conduzia foram desmembradas de Santo
Tomé e compunham-se de índios batizados, integrados na
disciplina, educados para o trabalho; portanto, com artífices
em todos os ramos de atividade da doutrina, escolhidos entre
os melhores elementos de que poderia dispor para o fim a que
se destinavam, facilitou-lhe grandemente o trabalho de
construção e organização da nova colônia.
6. São Borja/ RS é conhecida por ser o berço do trabalhismo e
cidade natal dos ex-presidenciáveis, Getúlio Vargas e de
João Goulart, sendo identificada como “Terra dos
Presidentes”. Mas a conjuntura do Patrimônio Histórico-
Cultural local é bem mais diversificada da restrita relação
com o Período Republicano, pois ao resgatar-se toda a
historiografia do município, constata-se que o mesmo possui
uma multidiversidade cultural que perpassa por diversos
períodos da história do Brasil.
Santo Tomé nas épocas de hoje é conhecida como “Capital do
Folclore correntino”.
7. Ao se fazer uma análise dos principais fatores de atração
turística ao longo da história, defronta-se com o Patrimônio
Histórico-Cultural como uma das modalidades mais importantes na
atração de visitantes, salientando-se os monumentos como um dos
principais atrativos turísticos da Idade Antiga.
Ao discorrer sobre a memória histórica no contexto das
identidades culturais urbanas, Canclini (2000, p.301) observa que:
[...] Os monumentos não são mais os critérios que legitimam o
culto do tradicional, “abertos à dinâmica urbana facilitam
que a memória interaja com a mudança, que os heróis
nacionais a revitalizam graças à propaganda ou ao transito:
continuam lutando com os movimentos sociais que
sobrevivem a eles.
8. Podendo ser descrito como um conjunto de bens móveis e imóveis
existentes num determinado local, o Patrimônio Histórico-Cultural
possui excepcional valor arqueológico ou etnológico, bibliográfico ou
artístico, necessitando nas épocas de hoje, cada vez mais da
intervenção dos órgãos públicos para sua melhor conservação.
Barreto conceitua o Patrimônio Histórico-Cultural como:
[...] os produtos do sentir, do pensar e do agir humanos
(esculturas, pinturas, textos escritos, peças de valor
etnológicos, arquivos e coleções bibliográficas e os produtos
mais tradicionais como os monumentos), entrelaçados com a
expressão do modo de pensar, sentir, agir e reagir de um
indivíduo de uma comunidade ou de uma nação, ou seja,
manifesta-se em uma relação social através de culto,
culinária, indumentária, arte, artesanato e arquitetura. (2001,
p.101)
9. As cidades históricas como são conhecidos os sítios arquitetônicos
protegidos por lei no Brasil e em alguns países do mundo, apresentam
em sua composição territorial uma série de peculiaridades que as
tornam merecedoras de atenção por parte dos pesquisadores do
turismo.
Portuguez define as cidades intituladas históricas como:
[...] um conjunto de ambientes construídos em diferentes tempos
históricos, cujas necessidades humanas eram bem distintas da
atuais, de modo que as formas urbanas, na atualidade, chamam a
atenção, tanto pelo seu caráter uncional original, quanto por sua
aparência, que difere do modo de viver da sociedade pós-
moderna, na qual o mundo de hoje se insere (2004, p.3).
10. Em relação às metodologias que foram utilizadas no estudo,
segui-se critérios pré-estabelecidos: num primeiro momento, partiu-
se para um Inventário do Patrimônio Histórico-Cultural dos locais,
contemplando-o, e posteriormente para análise da identidade
cultural em si. O devido Sub-capítulo está estruturado em quatro
seções que abordam os procedimentos metodológicos. Cada ensaio
partiu para uma obtenção criteriosa de dados, como veremos na
apêndice A.
11. 3.1 Entrada em Campo
A entrada em campo foi feita através de encaminhamento
oficializado às administrações públicas, tanto de São Borja - RS -
BR, como de Santo Tomé - CORRIENTES - AR, pedindo que
informassem as secretarias de governo sobre o respectivo estudo,
onde contou com o consentimento de seus servidores públicos
municipais e população em geral. A entrada do pesquisador em campo
buscou uma integração com a comunidade e com as entidades público-
privadas; no entanto, somente parte dos objetivos foi explicitado.
Foi comunicado que a pesquisa se desenvolveria no campo da análise
do Patrimônio Histórico-Cultural de área de fronteira.
12. 3.2 Instrumentos de Coletas de Dados
Os instrumentos utilizados na pesquisa foram: questionários,
observações sistematizadas, fotografias, história oral, análise de
documentos e bibliografias.
Os questionários parecem ser mecanismos adequados para a coleta
de dados dentro da perspectiva da pesquisa, pois contemplaram
recursos patrimoniais de grande valia para a concretização do
Inventário do Patrimônio Histórico-Cultural, como Artesanato,
Instituições culturais, Patrimônio, Manifestações e usos tradicionais e
populares, podendo quantificar e tipificar os atrativos, possibilitando a
formação de um banco de dados. Além de analisar as questões
patrimoniais, os questionários proporcionaram uma reflexão sobre as
políticas públicas de incentivos às questões culturais e patrimoniais
locais, analisando também as ações de proteção ambiental no contexto
patrimonial inventariado.
As observações sistematizadas colaboraram no sentido de
defrontar os conceitos históricos com o contexto atual da área
fronteiriça, ou seja, forneceram uma visão antropológica do local,
13. 3.3 Coleta de dados
Os dados foram coletados junto ao contexto urbano da área em
estudo, direta ou indiretamente, com ações antecipadas e
planejadas, envolvendo a população local, bens patrimoniais móveis e
imóveis e com as bibliografias primárias e secundárias.
Os questionários, as observações sistematizadas, o levantamento
cartográfico e fotográfico e o resgate da história oral foram
instrumentos usados simultaneamente. Sendo que os questionários
foram aplicados conforme os cinco recursos patrimoniais:
Artesanato, Instituições culturais, Patrimônio, Manifestações e usos
tradicionais e populares. Cada ensaio partiu-se para uma obtenção
criteriosa de dados, como veremos abaixo.
.
14. Tabela: INSTITUIÇÕES CULTURAIS
6.1 Aspectos Gerais 6.6 PAISAGEM E ENTORNO TERRITORIAL
6.1.1 Identificação: 6.6.1 Características do entorno funcional:
6.1.2 Localização: 6.6.2 Adequação do Entorno para a Visita Turística
( ) Museu 1.Acessibilidade: Perímetro
( ) Centro Cultural urbano
( ) Arquivo 2.Integrado em Rotas Turísticas
3.Sinalização turística:
6.1.3 Situação Administrativa: ( ) Municipal ( ) Estadual ( ) Federal ( ) Particular 6.6.3 Nível de adequação Turística (alto – médio - baixo):
6.1.4 Nível de Proteção: 6.6.4 Observações:
6.1.5 Titularidade:
6.1.6 Visitação Anual:
6.1.7 Tipologia de acervo:
6.1.8 Quantidade de Objetos museológicos:
6.1.9 Área Total da Instituição:
6.2 Aspectos Turísticos
6.2.1 Possibilidade de visita Turística: 6.2.5 N° de postos de Trabalho:
6.2.2 Integrado em rotas Turísticas 6.2.6 Dias abertos e fechados:
6.2.3 Tipologia Temática Turística: 6.2.7 Horário:
6.2.4 Nível de Funcionalidade: 6.2.8 Valor da Entrada:
6.2.9 Serviços Complementares:
6.3 Observações:
6.4 Avaliação da Funcionalidade Turística Observações:
Atual Potencial
Pouco interessante
Interessante
Muito interessante
Visita obrigatória
6.5 Valorização (Propostas…)
Grau de dificuldade da Valorização Observações:
Muito Alta
Alta
Média
Baixa
Muito baixa
15. 3.4 Tratamento e análise dos dados
A primeira etapa após a coleta de dados foi o momento de em que
se realizou a edição das informações, via planilhas, para um banco de
dados digital, sendo realizado subseqüentemente uma quantificação e
tipificação dos segmentos inventariados.
Na seqüência, se confrontou as semelhanças, tendências e
padrões do Patrimônio Histórico-Cultural inventariado. Essa etapa é
de fundamental importância, pois se tornou possível á interpretação
analítica a respeito de várias questões que “atravessam” o tema,
como, por exemplo, a relação entre a arquitetura de imóveis, festas e
celebrações, gastronomia, artesanato, música, dança, vestimentas e
indumentárias, entre outros.
16. Na interpretação dos resultados do inventário pode-se concluir
quais as ações que estão sendo tomadas por parte dos órgãos
públicos e privados em relação a todos os bens patrimoniais e
culturais fronteiriços, analisando os recursos patrimoniais como:
Patrimônio - conservação (situação do entorno), uso (anterior/atual),
aspectos turísticos (integrado em rotas turísticas, tipologia
temática turística), avaliação da funcionalidade turística, grau de
dificuldade de valorização (constatação de projetos em andamento),
paisagem e entorno territorial (características do entorno
funcional); Instituições culturais - visitação anual, tipologia do
acervo, quantidade de objetos museológicos; Festas populares -
motivação e periodicidade, praticantes, ritualização
(comidas/bebidas próprias, instrumentos rituais, trajes específicos
e adereços, danças, músicas);.
17. Artesanato - atividade (descrição da atividade, origens, histórias
relacionadas a atividade, motivação (meio de vida, prática
religiosa), matérias primas e ferramentas utilizadas. Foi possível na
seqüência do tratamento e da análise de dados do estudo, traçar
estratégias prioritárias para uma melhor preservação e
visualização do Patrimônio Histórico-Cultural tornando-se numa
importante ferramenta de Planejamento Turístico transfronteiriço
18. 2 PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL COMO FERRAMENTA DE
POTENCIALIZAÇÃO TURÍSTICA.
Essa faixa fronteiriça em estudo vem como em diversas regiões do globo
terrestre, passando por um período de reestruturação de seus setores
econômicos, visto que o setor primário, historicamente líder do PIB regional,
vem enfrentando sérias crises cambiais e climáticas. Dentro desse contexto, é
notória a necessidade do surgimento de novos segmentos econômicos na devida
área, onde a dinamização do setor turístico está perfeitamente adequada.
Valdir Dellabrida dá alguns passos nesse sentido salientando:
[...] que nessa época contemporânea em que estamos inseridos
é de suma importância analisar os padrões atuais de
desenvolvimento, onde é possível identificar sinais incontestáveis
expressos nas desigualdades sociais e na centralização do poder.
A implementação de um plano de desenvolvimento representa o
desencadeamento de um processo de reconstrução e
reapropriação do território, buscando uma autonomia da
sociedade, no qual devem defender sua identidade cultural e ao
mesmo tempo o seu continente de recursos, que devem ser
acessível de maneira igual para todo (2000, p.25).
19. Atualmente diversos estudos sobre a importância do Turismo
Histórico-Cultural vêm sendo efetivados, apontando como vetor
estratégico o investimento na expansão e fortalecimento nesse tipo
segmento turístico.
As devidas cidades, por mais que tenham um vasto Patrimônio
Histórico-Cultural, não vem explorando adequadamente os seus
remanescentes histórico-culturais, necessitando de uma melhor
exploração e visualização de seus respectivos potenciais, pois
possuem legados históricos de grande diversificação.
A realidade contemporânea vem evidenciando fartamente que
o desenvolvimento, para sustentar-se adequadamente não pode
prescindir da dimensão cultural. Falharam os modelos que ignoraram
essa dimensão; e o redesenho geopolítico do mundo atual ilustra tal
evidência.
20. De acordo com Arizpe e Nalda:
O conceito de patrimônio transformou-se, não abrange unicamente
o legado de objetos e monumentos materiais que se recebem da
história. De maneira mais ampla, patrimônio é aquilo que fornece a
uma comunidade cultural a representação de um sentimento de
pertinência e ação, este último no sentido de que seus membros são
gentes de seu próprio destino cultural (2003, p. 220).
Entre os muitos fatores que solidificam a oferta do turismo
Histórico-Cultural, podemos destacar a não dependência de estações
do ano e de configurações de território, podendo ocorrer em qualquer
área territorial do globo terrestre.
A distinção do produto do turismo Histórico-Cultural em
relação a outros produtos turísticos reside basicamente no componente
da oferta que corresponde a valores criados pelo homem (cultura,
tradição, história), não se diferenciando dos demais segmentos como
(acolhida, alojamento, alimentação e animação).
21. Entrando numa perspectiva mais holística para o
desenvolvimento das respectivas áreas de fronteira, salienta-se que o
Turismo Histórico-Cultural é uma alternativa viável para a
diversificação da economia dos determinados locais, pois além de
possuir uma vasta quantidade de atrativos turísticos, os dois
municípios encontram-se localizados num raio de abrangência
territorial de reconhecidos atrativos históricos-culturais, tanto no
Brasil como na Argentina e no Paraguai.
Segundo Nogueira (2001, p.157):
[...] A região centro-sul da América Latina, onde foram
implantadas as reduções Jesuíticas Guarani da Região Platina,
no século XVII, apresenta hoje, uma paisagem diferenciada,
fruto da sociedade que aí se desenvolveu. Além de suas
características naturais evidencia-se, na região, importantes
remanescentes da cultura material, legados da “Civilização
Jesuítico-Guarani” que constituem-se em atrativos turísticos
suficientes para motivar um viagem de turismo, trazendo a região
cerca de 60 mil turistas/ ano.
22. Dentro desse contexto, é de suma importância enfatizar que
o patrimônio ambiental é um elemento essencial para o
desenvolvimento turístico, já que a prática do turismo ocorre num
espaço concreto e dinâmico, podendo provocar-lhe alterações. Do
conflito à harmonia, dificilmente alcançada, existe uma grande
variedade de problemas, propostas e alternativas que, de modo geral,
aparecem vinculadas ao meio ambiente, sendo que dentro da
diversidade de um Patrimônio Histórico-Cultural pode estar
contemplada uma gama de patrimônios naturais.
Para Rodriguez; Silva; Cabo:
O planejamento ambiental, encaminhado a estimular a construção de
um modelo alternativo, atentaria para o processo de gestão
ambiental sob o controle das comunidades e da população em uma
perspectiva descentralizada e participativa. Seria fundamental
realizar estudos de maneira a conseguir que as populações locais
usem racionalmente o meio ambiente propondo, para tanto, formas
capazes de incrementar a eficiência ambiental e social em projetos
de desenvolvimento (2003, p. 71).
23. A realização de inventários patrimoniais em áreas fronteiriças
são estudos que vêem sendo pouco desenvolvidos pela comunidade
científica em geral. Essas espécies de pesquisas requerem um
conhecimento mais detalhado a respeito dos espaços geográficos
fronteiriços, ou seja, necessita de uma melhor conceituação e
visualização de suas conjunturas históricas, entrelaçadas com os
produtos do sentir, pensar e agir dos habitantes nativos.
Em relação ao inventário patrimonial fronteiriço, observou-se
que tanto São Borja/ RS como Santo Tomé, possuem uma identidade
patrimonial diversificada, agregando atrativos que perpassam por
diversos períodos históricos de seus respectivos países. Dentro dos
recursos patrimoniais que vem sendo inventariados, observa-se que
as duas localidades possuem tipificações peculiares na conjuntura de
seus atrativos.
24. Figura 2: Similaridade do Patrimônio Histórico-Cultural da área em estudo
Artesanato
Reduções Jesuíticas Guaranis
Área de Fronteira
São Borja/ Santo Tomé Festas populares
Valorização da cultura gaúcha
Guerra do Paraguai
Gastronomia Típica
Imóveis com arquitetura
similar e alto valor histórico.
Brasil República Lutas por independência
Fonte: PINTO, M (2007)
25. O inventário patrimonial comprovou que a devida faixa de
fronteira possui uma multidiversidade de seu Patrimônio Histórico-
Cultural relacionada principalmente com cinco períodos históricos
que perpassaram nos locais: Reduções Jesuíticas Guaranis, Guerra do
Paraguai, Brasil República, Lutas por independência e surgimento da
figura do gaúcho. Essas cinco fases históricas representam
basicamente os recursos patrimoniais inventariados.
Segundo dados levantados á campo constatou-se que ás duas
municipalidades possuem uma gama de atrativos patrimoniais
relacionados com o período reducional (séc. XVII). Como não poderia
de ser diferente esse contexto das Reduções Jesuíticas Guaranis[1],
gerou uma série de manifestações culturais na respectiva faixa
fronteiriça como: valorização do período reducional pelas instituições
culturais[2], diversificação de monumentos[3], confecção de materiais
artesanais e contribuiu com a incrementarão de festas populares[4].
26. Figura: Atrativos peculiares que representam o período reducional nos locais
A B C
Fonte: PINTO, Muriel (2007)
Figura A: Monumento Melchira Caburrú – Conpanera de guarani em lutcha pelas misiones
(Santo Tomé).
* Figura B: Pia batismal do período reducional
* Figura C: Estatuária barroca do período reduciaonal de São Francisco de Borja
* Localizam-se dentro da igreja matriz São Francisco de Borja (São Borja).
27. Toda essa diversificação do Patrimônio Histórico-Cultural
fronteiriço não se restringe apenas ao período das Reduções
Jesuíticas Guarani. Os recursos patrimoniais levantados estão
inseridos em uma contextualização histórica mais ampla.
Dentro dessa contextualização, salienta-se que foram
inventariados atrativos que possuem e outros que não possuem uma
similaridade nos acontecimentos históricos da devida faixa de
fronteira. Ainda analisando os atrativos que possuem peculiaridades
na sua conjuntura histórica, observou-se que tanto São Borja como
Santo Tomé mantém laços culturais ligados as:
Tradições gaúchas, cultivando manifestações folclóricas em
comum como: na dança típica (chamamé), no canto típico (chimarrita),
nas vestimentas (bombacha, alpargata, boina, chiripá, lenço, cinto,
entre outros), na bebida típica (chimarrão ou mate), na gastronomia
(churrasco, pucheiro, ) e nas festas populares ( festivais musicais).
28. Em contrapartida a linha de pensamento exposta acima, vem
constatando-se que no mosaico patrimonial inventariado não
aparecem apenas atrativos relacionados a um mesmo acontecimento
histórico. Na área em estudo inventariou-se que São Borja e Santo
Tomé possuem alguns segmentos do Patrimônio Histórico-Cultural
ligados a líderes políticos e militares.
Na área territorial de São Borja quantificaram-se atrativos
englobados ao período republicano brasileiro, mais precisamente
com a passagem dos ex-presidentes da República (Getulio Vargas e
João Goulart). Já em Santo Tomé enumeraram-se atrativos ligados
ao líder General San Martín
29. Figura 4: Contextualização histórica dos recursos patrimoniais inventariados
D E F G
Fonte: PINTO, Muriel (2007)
Figura D: Monumento a San Martín – Localiza-se na Praça de Santo Tomé
Figura E: Estatuárias de Getúlio Vargas e João Goulart – Localiza-se frente da Prefeitura.
Figura F: Dança típica do chamamé
Figura G: Artesanato típico são-borjense – Grupo Favos do Sul - confecção dos favos da bombacha.
30. Toda essa diversificação do Patrimônio histórico-cultural
que ocorreu na devida faixa de fronteira trouxe grande
contribuição em seu contexto arquitetônico, pois se verifica ao
longo do perímetro urbano dos locais inúmeros imóveis com que
possuem profundas relações com os períodos históricos que se
perpassaram, confrontando com suas respectivas classes sociais.
Como é ilustrado nas figuras I e J, se constata que as
residências possuem uma similaridade arquitetônica, com
elementos mais rebuscados e com um excelente estado de
conservação. Em contrapartida evidenciou-se um contingente
significativo de imóveis, que possuem uma arquitetura mais singela,
com uma conservação de mal estado, mas de grande importância
histórica.
31. Figura 5: Riqueza e similaridade arquitetônica dos imóveis fronteiriços
H I
Fonte: PINTO, Muriel (2007)
Figura H: Imóvel santomenho – localizado na área central da cidade
Figura I: Imóvel são-borjense – localizado na área central da cidade
36. O desafio que se impõe é afirmar que a área de fronteira São
Borja – RS – BR/ Santo Tomé – CORRIENTES – AR é um ponto
estratégico para o desenvolvimento socioeconômico transfronteiriço.
Localizadas em regiões extremamente voltadas para o setor primário
da economia as duas localidades necessitam do surgimento de novas
alternativas econômicas para suas áreas territoriais, onde a
dinamização do setor turístico está perfeitamente adequada.
Área em estudo vem demonstrando que vive um momento ímpar
para o surgimento de novos segmentos econômicos, pois a partir da
construção da Ponte da Integração São Borja/ Santo Tomé (1997),
vem observando-se ações integradas entre as comunidades locais.
Entre essas muitas relações integradas, sugerimos a potencialização
do Patrimônio Histórico-Cultural dos locais como uma ferramenta
viável para a exploração do turismo.
37. * Para que o setor turístico se torne uma alternativa econômica
viável para a respectiva faixa fronteiriça, recomenda-se uma maior
integração entre as administrações públicas municipais, melhor
visualização e exploração dos atrativos turísticos locais e uma maior
integração entre as instituições de ensino superior das
municipalidades (Urcamp, Unipampa, Uergs, Universidade de Bacello
e Escola Técnica Federal de São Borja).
* São Borja e Santo Tomé se encontram numa posição estratégica no
escoamento de produtos e pessoas através da ponte internacional.
Podemos citar dados levantados pela Mercovia S/A, entidade que
trabalha na gerência da aduana unificada entre São Borja e Santo
Tomé, onde o fluxo de veículos leves internacionais entre os meses
de janeiro a abril, no ano de 2005 foi de 19.383 veículos, em 2006 foi
de 24.228 veículos, proporcionando em um incremento de 24,99% e
em 2007 foi de 35.591 veículos, tendo novamente aumento, este de
46,90% neste ano, totalizando em um período de três anos um
aumento de 83,62% no fluxo de veículos leves vindos de outras
localidades.
38. * Os municípios são passagem obrigatória para grande parte dos
caminhões que sai do Brasil, como os que entram nele pela fronteira
oeste do estado do Rio Grande do Sul, citamos outro dado da
Mercovia S/A, onde o fluxo de caminhões em 2004 foi de 28.849,
em 2005 foi de 40.107, ou seja, um aumento de 39,02% no fluxo, em
2006 foi de 53.757, aumento de 34,03% de caminhões entrando e
saindo do Brasil através do município de São Borja, se fizermos um
aparato geral, temos um incremento de 86,34% no fluxo de
caminhões em três anos. São pessoas que precisam parar para se
alimentar, dormir, descansar e seguir viagem, porque não aproveitar
essa fatia de mercado mais eficientemente no nível de consumo em
turismo?
39. *Podemos citar esforços do Governo Federal no sentido de
intensificar essa integração entre países através do turismo, como
o Programa 1163 de responsabilidade do Ministério do
Turismo, intitulado Brasil: Destino Internacional, que visa criar
uma estratégia bem estruturada de inserção internacional do
Brasil no mercado turístico, com metas definidas e avaliação
de resultados eficiente.
* A promoção do Turismo brasileiro no mercado internacional
terá como conceito estratégico a diversificação da imagem do
país. Outra ação que podemos mencionar é a número 4034, que
visa dar apoio à comercialização e ao fortalecimento do
Turismo no Brasil através de um maior incremento do produto
turístico brasileiro no mercado internacional.
.
40. * Tal ação é de responsabilidade da EMBRATUR, fundamentada
pela lei 8.181/1991, MP 103/2003 e DEC 4653/2003.
* Concluindo o estudo recomendada-se algumas estratégias para a
devida faixa de fronteira como: a criação de um roteiro de imóveis
antigos envolvendo as duas municipalidades (criação de casas
temáticas) aproveitando o diversificado contexto arquitetônico
fronteiriço e uma simulação da Guerra do Paraguai via Rio Uruguai
41. ARIZPE, Lourde; NALDA, Enrique. Cultura, Patrimônio e Turismo.
In: CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas da Ibero-América:
Diagnósticos e propostas para seu desenvolvimento. São Paulo:
Moderna, 2003.
CANCLINI, Nestor Gárcia. Culturas Híbridas: estratégias para
entrar e sair da modernidade. Traduzido por Ana Regina Lessa 3.ed.
São Paulo: Edusp, 2000.
BARRETO, Cristina. Patrimônio Histórico. In: GONÇALVES, A.B.R;
BOFF, Claudete. Turismo e cultura: a história e os atrativos
regionais. Santo Ângelo, RS: Gráfica Venâncio Ayres, 2001.
PORTUGUEZ, Edson Pererira.Turismo, memória e Patrimônio
Cultural. São Paulo: Roca, 2004.
DELLABRIDA, Valdir. O desenvolvimento Regional: a nescessidade
de novos paradigmas. Ijuí: Ed UNIJUÌ, 2000.
42. DUARTE, Paulo Araújo. Cartografia temática. Florianópolis: Ed. da
UFSC, 1991.
MARTINELLI, Marcelo. Curso de cartografia temática. São Paulo:
Contexto, 1991.
MINISTÉRIO DO TURISMO. Plano Nacional de Turismo. Disponível
em: <www.turismo.gov.br> Acesso em: 26 out.2007.
NOGUEIRA, Carmen. R. D. O Patrimônio Cultural como
Potencialidade para o desenvolvimento do Turismo: O caso da Região
turística Missioneira. In: GONÇALVES, A.B.R; BOFF, Claudete.
Turismo e cultura: a história e os atrativos regionais. Santo Ângelo,
RS: Gráfica Venâncio Ayres, 2001.
RODRIGUEZ, J. M. M; SILVA, E. V; CABO. A. R. O planejamento
Ambiental como instrumento na incorporação da sustentabilidade no
processo de desenvolvimento: o caso do Ceará, Brasil. In: Mercator:
Revista de geografia da Universidade Federal do Ceará. Ano 3- Nº
05. Fortaleza: UFC, 2004.
43. Governo da Província Argentina
(FEE) Fundação de Economia e Estatística do Estado do Rio Grande
do Sul. Municípios. Disponível em: <www.fee.gov.br> Acessado em: 14
maio de 2007.
Atlas Y Geografía de la Argentina. Buenos Aires: Visor enciclopédias
audivisuales S.A, 2001.