Áreas verdes urbanas memorias e usos sociais e biodiversidade
1. ÁREAS VERDES URBANAS: MEMÓRIAS,
USOS SOCIAIS E BIODIVERSIDADE
Karla Cunha Pádua (PPGE-UEMG)
Fátima Silva Risério (FaE-CBH)
Roseli Correia da Silva (EMALC)
2. • Projeto “Educar pela Cidade: memória e
patrimônio cultural e ambiental”
• http://educarpelacidaderegionalvendanova
• Dados coletados por meio de
“entrevistas narrativas” com
proprietários/as de quintais, chácaras,
hortas e responsáveis por programas
socioambientais, governamentais e não
governamentais em Venda Nova
• 8 entrevistas
4. Memórias do lugar
• “Em Venda Nova era verde para todo lado, as
casas todas com quintais imensos” (D. Lúcia)
• “Antigamente, como eu já falei, quando eu era
menino, a gente tinha fábrica de farinha, de
rapadura. Fazia tudo isso. Mexia mais é com
transporte de tropa, de carroça. [...] Quando era
pouca coisa era na tropa, quando era mais
quantidade, levava na carroça. Carro de boi... Ia
até em Venda Nova com Carro de boi.” (Sr.
Antônio)
5. • “Aqui mesmo, onde nós estamos nas costas de
vocês, esse terreno, essa parte baixa onde a gente
está, porque ele sobe para lá, nesta parte alta era
um laranjal enorme [...] Na frente da nossa casa, do
outro lado rua, tinha um abacaxizal. [...] A partir do
terreno seguinte, do lado de lá também, era uma
plantação enorme de alface, imensa, o pessoal
levava de caminhão para o mercado.” (D. Lúcia)
• “Aqui, Venda Nova, era o centurião verde de Belo
Horizonte. Se vocês vissem quantas pessoas tinham
plantações grandes assim de couve, alface, de
várias coisas, de muitas coisas mesmo e que eles
levavam para o mercado em Belo Horizonte. “(D.
Lúcia)
6. • “[Em Venda Nova] tinha uma granja
maravilhosa dos japoneses que vieram para cá,
granja do Mikado, era imensa, eles criavam
peixes. Era uma colônia mesmo de japoneses,
agora eu esqueci o nome, mas acho que era
Takarracha, mas não tenho certeza. “(D. Lúcia)
• “[Na fazendo do Capão tinha] engenho de
farinha. Tinha uma roda d’água grandona,
Imitando uma roda gigante, ali soltava a água,
tocava ela e ela tocava as outras.” (Sr. Antônio)
7. Transformações na Paisagem
• Destruição do cerrado e das nascentes
• Ocupação desordenada
• Desmatamentos
• Diminuição das áreas verdes
• Poluição dos córregos
• Alterações da vida coletiva que restringiram os
espaços de convívio , modificaram as brincadeiras
infantis, as festas de rua e as Folias que antes
varavam as madrugadas.
8. • “Desde que eu mudei pra Venda Nova, a região
mudou muito. O córrego que tem aqui na frente
da minha casa, hoje tá uma sujeira! Mas quando
nós mudamos pra cá, era limpo. Tinha peixe, a
gente podia usar aquela água para construção.
Agora, eles além de não arrumarem o córrego,
tão é sujando mais. Piorou muito! Espero que
um dia possa melhorar [...]. Quando eu vim pra
cá tinha poucos moradores. Hoje tá bastante
habitado. Houve muitas modificações. Umas
partes boas, outras ruins.“ (Sr. Nilo)
10. • “A água [do córrego do Capão] era limpinha, a gente
pescava aí. Podia até tomar da água. Uma beleza! Hoje
acabou com tudo. A gente num vê um sapo cantar mais, a
gente num vê vagalume. Num vê nada mais. Ao invés de
criar sapo aí no córrego, tá criando é rato. Tem umas
ratazanas que pelo amor de Deus! Ô bicho danado!” (Sr.
Antônio)
• “Quando eu vim praqui, era tudo cerca de arame, quintal
tudo aberto, cerca de arame que passava lá na rua, a
gente via cá dentro de casa... Era terra e os meninos
ficavam soltos [...] Tinha vezes que até perdia os meninos
lá pro quintal afora. Como nós viemos de uma casa
pequena, aí a gente achou o quintal uma maravilha,
[podia] correr...” (D. Helena)
11. • “Os meninos brincavam na rua! Tinha o tal do
rouba-bandeira, futebol de barro, que meu filho
brincava demais, aí chegava tudo lameado de
barro.” (D. Helena)
• “Pra você ter noção, aqui a gente fazia festa
junina na rua. Juntava os vizinhos, fazia fogueira,
dançava quadrilha. Cada um ficava responsável
por fazer a canjica, outro fazia quentão.” (D.
Helena)
• “[...] Lá no interior, nós andávamos 12 noites
encarrilhado, do dia 24 ao dia 06. Naquela época,
era o tempo só pra folia. O trabalho não tinha,
12. • porque de dia a gente tinha que dormir, pra noite a
gente conseguir andar. [...] . Mas hoje nós tamos
cantando muito pouco, num tamos fazendo esse
período todo não. Tá muito fracassado. Você num
encontra mais pessoas que querem receber as
folias. Quando eu vim praqui, a gente num dava
conta do pessoal que fazia pedido. Hoje, se a gente
perguntar alguém aí, quase ninguém aceita. Os
velhos foram morrendo. Os novos não adaptam
com isso não. Tá muito difícil de tocar.” (Sr. Nilo)
• “Eu num canto aqui [em Venda Nova] mais. Cantei
muito aqui. Agora, num acha gente pra receber.
“(Sr. Nilo)
13. • Lembram que essas transformações
socioambientais que vem atingindo as
cidades não são tão recentes e que vêm se
intensificando a partir dos anos 60,
atingindo também outras regiões do
estado, como as mineradoras.
• “Os dejetos da mineradora acabaram com
o rio. Na água do rio a gente tinha peixe,
lavava roupa... Depois da britadora, como
se diz, descia aquelas placas de óleo... “(D.
Helena)
14. • Mas as narrativas parecem sugerir algumas
alternativas de revitalização urbana:
• Parques ecológicos:
• “Com a construção da cidade administrativa,
teve um grande impacto na região, ali era uma
área de lazer, de repente passou ser uma área
fechada, para entrar tem que pedir autorização.
Antes era de livre acesso, um lugar de
caminhada, o parque era municipal, com a
construção da cidade administrativa, ela pegou o
parque.” (Cláudia)
15. • Avenidas arborizadas com ipês e
quaresmeiras:
• “Bem no centro da cidade de Venda
Nova, ao lado da Regional, tem um
espaço que tinha uma quaresmeira rosa,
‘trem mais lindo’, que florescia o ano
inteiro. [...] E eu não sei se ela foi
derrubada, como muitas árvores de Belo
Horizonte, por causa do BRT. “(D.
Eulália)
16. • Preservação de áreas verdes nos
espaços coletivos, como os centros
culturais:
• “Onde está localizado hoje o Centro
Cultural, antes, lá era uma chácara!
[...] e a chácara se transformou no
Centro Cultural. Hoje, lá só tem
manga! Num tem mais planta
nenhuma.” (Sr. Nilo)
17. • Lei da Reserva Particular Ecológica (RPE), da PBH
– SMMA, divulgada em 1993, consideradas
fundamentais para a preservação ambiental da
cidade
• Contribuição para o microclima da região, a
qualidade do ar e por abrigarem ricas espécies da
fauna e da flora e nascentes de água.
• Os guardiões são os próprios moradores que, por
preservarem o meio ambiente, ganham isenção
da taxa do Imposto Predial Territorial Urbano
(Ramos , 2003)
18. • Hortas Comunitárias e Centros de Vivência
Agroecológica:
• “Aqui a horta era muito linda, igual vocês
viram, uma horta de muitos anos, e foi muito
bom para os idosos. Eles vão ao médico, o
médico [diz]: procura um afazer. Fazer o que?
Plantar alguma coisa, mexer com terra, mexer
com água, isso é muito bom. Então, toda vez
que os idosos iam no Posto [de Saúde], eles
diziam: arruma um canteirinho. Toda vida
foram os idosos que cuidavam da horta aqui, é
uma maravilha!” (D. Inês)
19. • “Esse espaço aqui é o CEVAE - Centro de
Vivência Agroecológica. Esse espaço surgiu para
atender as pessoas da comunidade que vieram
de áreas rurais e hoje moram em apartamento
ou tem os quintais bem pequenos. A proposta
do CEVAE é que essas pessoas tenham esse
local para plantarem suas hortas, tanto para
sua subsistência ou como uma fonte de renda,
vendendo orgânicos. [...] A nossa proposta é
que tudo seja natural. Aqui é tudo natural, não
pode usar adubo químico, nem agrotóxico, nem
nada disso, é tudo realmente natural.” (Cláudia)
20. • “[O CEVAE] é um projeto da prefeitura.
Ela implantou, pois viu que aqui havia
muitas pessoas que vieram do interior e
gostavam de plantar, como Dona Neide,
da Associação. Então, esse projeto é
antigo e foi implantado aqui, porque já
existia essa demanda, senão ele estaria
em outras partes de Venda Nova. Então
é uma política forte aqui no Serra Verde,
[que tem] muita gente que veio do
interior.” (Cláudia)
21. • “E eu vim morar no apartamento, que era o que
eu tinha, o que eu pude comprar e não um lote,
mas mesmo morando em apartamento eu sempre
tive um pedaço do lugar, um vaso onde eu
plantava. Então, as ervas sempre fizeram parte da
minha vida.[...] Na garagem onde era de meu uso,
eu coloquei vasos em que eu tinha arruda, alecrim,
eu tinha manjericão...” (D. Eulália)
Plantio em pequenos espaços
(apartamentos e garagens):
24. Importância das áreas verdes
urbanas
• Na visão dos/as entrevistados/as, as plantas
ajudam a melhorar o clima, trazem sombra,
deixam o ar mais puro, baixam temperatura,
atraem os pássaros:
• “Eu acho muito importante o quintal, porque a
gente sente a diferença. Às vezes, eu tô do lado de
fora do portão, tá aquele calor insuportável, eu
abro o portão, você entrou pra dentro do lote,
você já sabe que tá diferente, é diferente o clima!”
(D. Helena)
25. • “E a sombra... é muito gratificante pra gente ter o ar
puro. Você acorda de manhã, cinco e meia da manhã,
os passarinhos tão cantando... Quer coisa melhor? E
você sai ali fora... Eu saio ali fora pra ouvir... É bom
demais! Uma senhora comentou assim: ‘Eu tô muito
triste, eu tenho árvore, mas num tenho passarinho
cantando!’ Eu falei assim: ‘Eu num tenho esse
problema não, eles cantam todo dia. Às 5 horas eles
tão fazendo a alvorada deles lá, cantando.’ Eu acho
que é uma coisa assim de Deus, né? A gente tem que
agradecer a Deus as oportunidades, a gente tá
vivenciando isso nesse mundo agitado lá fora, mas se
você fechou o portão, você tá tranquilo. Isso é muito
importante!” (D. Helena)
27. • Trazem alegria, ajudam a manter o equilíbrio
interior e a ter uma vida mais saudável:
• “Não é só as plantas, é aquela energia que você
recebe. Eu sempre gostei de cuidar, pra mim é
como se fosse uma terapia mexer com as plantas.
Há o dia que tem qualquer coisa me incomodando,
eu enfio lá no meio das plantas, descalça, que é
bom, começo a podar, subir nas árvores, podando...
E aí eu vou o dia todo... Eu acho que todo mundo
deveria ter um cantinho plantado.” (D. Helena)
• “[...] Eu faço porque eu gosto, eu me sinto bem,
mesmo que a gente não colhe, igual flores, só da
gente ver já dá uma alegria.” (D. Neide)
28. • “[...] Porque a saúde ganha muito mais com
isso, o prazer de viver é outra coisa com o
contato com a terra , torna as pessoas mais
leves. [...] Acho não, tenho certeza, que
muito stress, muito remédio não estaria
sendo usado se o povo voltasse a atenção
para a terra, os benefícios que lidar com a
terra trazem, de botar a mão na massa... A
cidade perdeu muito com isso, perdeu em
qualidade de vida, perdeu em beleza.” (D.
Eulália)
29. • “Eu comento muito com minhas filhas: [...]
enquanto eu estiver aqui, vocês vão ter que
engolir eu e as plantas. Agora, no dia que eu
morrer, vocês podem cortar tudo e cimentar,
mas enquanto eu estiver, vocês vão ter que me
aturar, eu e as plantas, porque faz bem pra
saúde.” (D. Helena)
• “E eu também gosto muito de flor, orquídea,
gosto muito de borboleta, beija-flor, e de tudo
que é passarinho , até do pardal eu gosto. “ (D.
Lúcia)
32. Usos sociais:
a) Medicinal
• “Às vezes, vêm muitas pessoas que não
tem nenhum quintal plantado, é só
cimento [e perguntam]: ‘a senhora tem
algum medicamento, alguma folha lá pra
gripe?’ Eu falo: ‘tenho’. ‘A senhora pode
trazer?’ Eu ainda vou levar lá. Ontem
mesmo foi assim, aí vim cá, colhi as plantas
e levei.” (D. Helena)
33. • “Não vai curar, mas tá ajudando muita
gente a aliviar aquele momento, eu acho
que é importante. Às vezes, a pessoa
chega tá passando mal, eu falo: olha esse
aqui é bom, toma! Aí toma... Igual o guaco
mesmo, meu marido tinha problema de
enfisema pulmonar, e a fisioterapeuta
[perguntou se eu tinha] guaco no quintal e
[recomendou:] ‘Então faz um chazinho e
dá pra ele’.” (D. Helena)
35. • “A tansagem eles usam muito pra
garganta inflamada. Qualquer
inflamação de garganta, eles vêm
procurar aí. Muita coisa... Esse picão da
horta, eles procuram demais. Tem muita
coisa que é remédio. Até a raiz de
quiabo [...]. Estão pedindo raiz de
quiabo. Dizem que é pra menino que tá
nascendo dente. Que é bom dar o chá,
pro dente sair rápido.” (Sr. Antônio)
36. • “Aqui [no CEVAE] também tem o viveiro de ervas
medicinais. O tempo todo tem gente batendo aqui,
pedindo umas folhinhas de hortelã, tem funcho,
camomila, o tempo todo, já tem essa referência, por
ser um centro de vivência agroecológico, ele tem essa
historia, o pessoal vem nos procurar”. (Cláudia)
• “Quando eu conheci aqui há quinze anos atrás, o que
acontece, [o Prodasec] fazia um trabalho cultural muito
interessante aqui. Eles pegavam todas essas pessoas
que vinham do campo, eles davam receita de pomada,
ervas medicinais. Devagarinho estamos fazendo essa
retomada, a gente fez encontros com pessoas para
conversar sobre ervas medicinas, sobre ervas. Estamos
retomando, é uma coisa meio lenta.” (Cláudia)
38. b) Plantando e trocando mudas:
espalhando conhecimentos
• “Então, é importante que a gente plante pra
manter limpo e tem as coisas que a gente gosta,
que serve pra gente, pro uso da gente, [pra] dar pra
algum amigo que goste. Na época de milho, fazer
um mingau de milho e tal... Abóbora também, que
dá bastante, eu doo pros outros... Pra mim, é muito
importante.” (Sr. Nilo)
• “Eu acho assim, eu acho que a gente não perde por
ser útil pras pessoas... Igual, se tem uma pessoa
sentindo alguma coisa, o que você puder fazer pra
39. • tá aliviando... Eu acho que é muito importante.
Cada um tem seu quinhão de responsabilidade na
construção desse tempo de hoje...” (D. Helena)
• “E saber, ter conhecimento que aquilo vai fazer
bem. Não só pra você, mas pra alguém que tiver
necessidade que vem, sempre vem. É difícil o dia
que não toca o portão, alguém pedindo uma
folha. Eles indicam. Eles falam assim: ‘Vai na dona
Helena, ela tem lá.’ Se não tem, eu indico. Falo:
isso é bom, você vai achar em tal lugar.” (D.
Helena)
• “E vou longe pra trazer uma muda. “ (D. Eulália)
40. • “[...] As matas sempre me acompanharam... E eu
vim para o Serra Verde, continuei plantando e
trocando. Então, a minha irmã lá em São Marcos
gosta de planta, ela tem uma coisa, eu tenho
outra, a gente troca, [e com] meu irmão da
Cachoeirinha. Tenho um irmão que tem 2 roças,
cada um tem uma roça, a gente vai, leva daqui
para lá e trás de lá pra cá e vai espalhando esse
conhecimento, trocando essas coisas que um
tem e o outro não tem. E usando isso pra tornar
a minha vida mais saudável e ensinando os
outros também a fazer isso.” (D. Eulália)
42. c) Consumo e renda
• “Quando eu mudei para Venda Nova, praticamente
poucas casas você encontrava que fossem lotes, a
maioria era chácaras. Muitas pessoas plantavam
para sua própria subsistência. Mas tinha muita
gente que plantava e vendia nos balaios de porta a
porta.” (D. Lúcia)
• “Levava pro Mercado Central e vendia lá [...] até
1970 por aí. Aí depois povoou, loteou, encheu de
casa, passou a comprar aqui na porta. Antigamente
qualquer coisa que tinha pra vender, era lá no
Mercado.” (Sr. Antônio)
43. • “De primeiro tinha muita horta por aí afora,
depois todo mundo acabou, ficou só eu. De
primeiro tinha muita horta aqui [...] Aqui
pra cima tinha umas duas hortas ou três.
Pra cá também. Lá pro lado do bairro da
Lagoa tinha muita igual aqui, mas vai
acabando. [...] Só eu que fiquei teimoso aí,
mas o resto vendeu o terreno, acabou
tudo!” (Sr. Antônio)
• “Só verdura a gente vende, mas as frutas
[são] só para o consumo.” (D. Neide)
44. ”A gente usava as plantas, as hortaliças, pra
vender, pra comprar o que não chegava até
o final do ano e pra trocar também. As
frutas, a gente consumia. Manga, mamão,
abacate, caqui, jambo rosa. Lá tem uma
árvore imensa de jambo rosa! Ameixa, a
gente se fartava, amora, pau doce! Conhece
pau doce? Ali tem, você passou debaixo de
um pé de pau doce. Então, isso veio com a
gente... Na minha família todo mundo gosta
de plantar.” (D. Eulália)
46. d) Gosto pelas coleções, prazer de
conhecer e experimentar
• “Eu plantei a vida toda. Eu plantei café para
os meninos verem o que era um pé de café,
eu plantei maça, plantei pera, plantei uva,
plantei figo, porque eu gostava muito de
figo, plantamos muitas laranjeiras,
jabuticabeiras.” (D. Lúcia)
• “Eu tenho é porque eu gosto. Compensar,
num compensa mais não.” (Sr. Antonio)
47. •
• “Por enquanto, eu só tenho plantado lá
manga, acerola, goiaba, eu pego sempre
essas sementes de goiaba maiores, goiaba,
amora, seriguela, essas coisas mais comuns.
Eu estou querendo ampliar mais. [...] Porque
eu gosto, aliás, nem sempre eu gosto, por
exemplo, Jaca eu não gosto, mas eu fiz
questão de plantar um pé de jaca lá, pode
ter alguém que goste.” (D. Neide)
48. • “Eu sempre gostei de mexer com planta, um
dia eu vim aqui e conversei com a Edna, e ela
me falou que tinha canteiro para plantar. Eu
plantei repolho. Não sei se tem ainda, tem até
retrato que ela tirou comigo com repolho
desse tamanho aqui. Alface, cebolinha, alface,
essas coisas assim. Eu sei que de repente eu
quis mudar para plantas ornamentais e
frutíferas. E estou até hoje estou gostando
muito. Eu vejo o pessoal usando aqui, eles
gostam muito, não sabem ficar sem isso não.”
(D. Neide)
49. e) Criação de animais
• “Lá em cima perto da casa, eu tinha galinheiro, eu
criava pato, marreco, peru, galinha e galinha de
angola, eu adoro galinha de angola, muita mesmo,
tinha um galinheiro muito bem feito, eu botava
serragem, naquela época era muito fácil conseguir
serragem, agora é 3 reais o saco de serragem, eu
botava no chão, não tinha que ficar limpando,
nesse galinheiro tinha duas partes separadas, uma
para galinha que estivesse chocando e outra para
que estivesse com pintinho.” (D. Lúcia)
52. • “Toda vida que eu morei aqui, eu plantei. A
minha esposa, no tempo dela, criava porco.
Por isso, tem esse chiqueiro. Também, nós
tínhamos uma criação de porco boa.” (Sr.
Nilo)
• “Primeiro eu mexi com essa vara, de criar
porco. Quando eles começaram a roubar
eu parei com tudo.” (Sr. Antônio)
• “toda vida [os ciganos] andaram por aí,
trocando cavalo... Eles arranchavam em
Venda Nova desde longa data.”
53. Considerações Finais
• Importância desses sistemas locais de
conhecimento ecológico, construídos na
experiência cotidiana dos moradores das
metrópoles (ALMADA , 2010).
• Pouco compreendidos e pesquisados
• A explicitação, a valorização e o diálogo com esses
saberes e práticas são fundamentais para
pensarmos cidades que preservem toda essa
diversidade e riqueza
54. • Importância do conceito de “paisagem cultural “
para pensar as políticas urbanas e as intervenção
no campo do patrimônio
• Possibilita articular os aspectos naturais e
culturais, considerando as interações significativas
entre o homem e o meio ambiente natural
(CASTRIOTA , 2013).
• Quintais, chácaras, hortas e outras áreas verdes
urbanas, assim como os sistemas de conhecimento
a eles relacionados como patrimônios que
merecem ser reconhecidos, valorizados e
preservados.
55. Referências
• ALMADA, E. D. Etnoecologia Urbana. Atualidades
em Etnobiologia e Etnoecologia, v. 5, 2010.
• ALMEIDA, M. G.; PEREIRA, B. M. O Quintal Kalunga
como lugar e espaço de saberes. Geonordeste, ano
XXII, n. 2, 2011.
• CASTRIOTA, Leonardo. Paisagem cultural: novas
perspectivas para o patrimônio. Arquitextos, São
Paulo, ano 14, n. 162.02, Vitruvius, nov. 2013
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquit
extos/14.162/4960>.
56. • CUNHA, Manuela Carneiro e ALMEIDA, Mauro
Barbosa (Orgs.). Introdução. In: ______.
Enciclopédia da Floresta. São Paulo: Companhia
das Letras, 2002.
• EMPERAIRE, L. A cidade, um foco de diversidade
agrícola no Rio Negro (Amazônia, Brasil). Bol.
Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciências Humanas,
Belém, v. 3, n. 2, p. 195-211, maio-ago. 2008.
• RAMOS, Raquel. Quintais verdes da capital
mineira estão livres do IPTU. Jornal Hoje em Dia,
05/12/2013