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ÁREAS VERDES URBANAS: MEMÓRIAS,
USOS SOCIAIS E BIODIVERSIDADE
Karla Cunha Pádua (PPGE-UEMG)
Fátima Silva Risério (FaE-CBH)
Roseli Correia da Silva (EMALC)
• Projeto “Educar pela Cidade: memória e
patrimônio cultural e ambiental”
• http://educarpelacidaderegionalvendanova
• Dados coletados por meio de
“entrevistas narrativas” com
proprietários/as de quintais, chácaras,
hortas e responsáveis por programas
socioambientais, governamentais e não
governamentais em Venda Nova
• 8 entrevistas
Horta Sr. Antônio
Memórias do lugar
• “Em Venda Nova era verde para todo lado, as
casas todas com quintais imensos” (D. Lúcia)
• “Antigamente, como eu já falei, quando eu era
menino, a gente tinha fábrica de farinha, de
rapadura. Fazia tudo isso. Mexia mais é com
transporte de tropa, de carroça. [...] Quando era
pouca coisa era na tropa, quando era mais
quantidade, levava na carroça. Carro de boi... Ia
até em Venda Nova com Carro de boi.” (Sr.
Antônio)
• “Aqui mesmo, onde nós estamos nas costas de
vocês, esse terreno, essa parte baixa onde a gente
está, porque ele sobe para lá, nesta parte alta era
um laranjal enorme [...] Na frente da nossa casa, do
outro lado rua, tinha um abacaxizal. [...] A partir do
terreno seguinte, do lado de lá também, era uma
plantação enorme de alface, imensa, o pessoal
levava de caminhão para o mercado.” (D. Lúcia)
• “Aqui, Venda Nova, era o centurião verde de Belo
Horizonte. Se vocês vissem quantas pessoas tinham
plantações grandes assim de couve, alface, de
várias coisas, de muitas coisas mesmo e que eles
levavam para o mercado em Belo Horizonte. “(D.
Lúcia)
• “[Em Venda Nova] tinha uma granja
maravilhosa dos japoneses que vieram para cá,
granja do Mikado, era imensa, eles criavam
peixes. Era uma colônia mesmo de japoneses,
agora eu esqueci o nome, mas acho que era
Takarracha, mas não tenho certeza. “(D. Lúcia)
• “[Na fazendo do Capão tinha] engenho de
farinha. Tinha uma roda d’água grandona,
Imitando uma roda gigante, ali soltava a água,
tocava ela e ela tocava as outras.” (Sr. Antônio)
Transformações na Paisagem
• Destruição do cerrado e das nascentes
• Ocupação desordenada
• Desmatamentos
• Diminuição das áreas verdes
• Poluição dos córregos
• Alterações da vida coletiva que restringiram os
espaços de convívio , modificaram as brincadeiras
infantis, as festas de rua e as Folias que antes
varavam as madrugadas.
• “Desde que eu mudei pra Venda Nova, a região
mudou muito. O córrego que tem aqui na frente
da minha casa, hoje tá uma sujeira! Mas quando
nós mudamos pra cá, era limpo. Tinha peixe, a
gente podia usar aquela água para construção.
Agora, eles além de não arrumarem o córrego,
tão é sujando mais. Piorou muito! Espero que
um dia possa melhorar [...]. Quando eu vim pra
cá tinha poucos moradores. Hoje tá bastante
habitado. Houve muitas modificações. Umas
partes boas, outras ruins.“ (Sr. Nilo)
Céu Azul
• “A água [do córrego do Capão] era limpinha, a gente
pescava aí. Podia até tomar da água. Uma beleza! Hoje
acabou com tudo. A gente num vê um sapo cantar mais, a
gente num vê vagalume. Num vê nada mais. Ao invés de
criar sapo aí no córrego, tá criando é rato. Tem umas
ratazanas que pelo amor de Deus! Ô bicho danado!” (Sr.
Antônio)
• “Quando eu vim praqui, era tudo cerca de arame, quintal
tudo aberto, cerca de arame que passava lá na rua, a
gente via cá dentro de casa... Era terra e os meninos
ficavam soltos [...] Tinha vezes que até perdia os meninos
lá pro quintal afora. Como nós viemos de uma casa
pequena, aí a gente achou o quintal uma maravilha,
[podia] correr...” (D. Helena)
• “Os meninos brincavam na rua! Tinha o tal do
rouba-bandeira, futebol de barro, que meu filho
brincava demais, aí chegava tudo lameado de
barro.” (D. Helena)
• “Pra você ter noção, aqui a gente fazia festa
junina na rua. Juntava os vizinhos, fazia fogueira,
dançava quadrilha. Cada um ficava responsável
por fazer a canjica, outro fazia quentão.” (D.
Helena)
• “[...] Lá no interior, nós andávamos 12 noites
encarrilhado, do dia 24 ao dia 06. Naquela época,
era o tempo só pra folia. O trabalho não tinha,
• porque de dia a gente tinha que dormir, pra noite a
gente conseguir andar. [...] . Mas hoje nós tamos
cantando muito pouco, num tamos fazendo esse
período todo não. Tá muito fracassado. Você num
encontra mais pessoas que querem receber as
folias. Quando eu vim praqui, a gente num dava
conta do pessoal que fazia pedido. Hoje, se a gente
perguntar alguém aí, quase ninguém aceita. Os
velhos foram morrendo. Os novos não adaptam
com isso não. Tá muito difícil de tocar.” (Sr. Nilo)
• “Eu num canto aqui [em Venda Nova] mais. Cantei
muito aqui. Agora, num acha gente pra receber.
“(Sr. Nilo)
• Lembram que essas transformações
socioambientais que vem atingindo as
cidades não são tão recentes e que vêm se
intensificando a partir dos anos 60,
atingindo também outras regiões do
estado, como as mineradoras.
• “Os dejetos da mineradora acabaram com
o rio. Na água do rio a gente tinha peixe,
lavava roupa... Depois da britadora, como
se diz, descia aquelas placas de óleo... “(D.
Helena)
• Mas as narrativas parecem sugerir algumas
alternativas de revitalização urbana:
• Parques ecológicos:
• “Com a construção da cidade administrativa,
teve um grande impacto na região, ali era uma
área de lazer, de repente passou ser uma área
fechada, para entrar tem que pedir autorização.
Antes era de livre acesso, um lugar de
caminhada, o parque era municipal, com a
construção da cidade administrativa, ela pegou o
parque.” (Cláudia)
• Avenidas arborizadas com ipês e
quaresmeiras:
• “Bem no centro da cidade de Venda
Nova, ao lado da Regional, tem um
espaço que tinha uma quaresmeira rosa,
‘trem mais lindo’, que florescia o ano
inteiro. [...] E eu não sei se ela foi
derrubada, como muitas árvores de Belo
Horizonte, por causa do BRT. “(D.
Eulália)
• Preservação de áreas verdes nos
espaços coletivos, como os centros
culturais:
• “Onde está localizado hoje o Centro
Cultural, antes, lá era uma chácara!
[...] e a chácara se transformou no
Centro Cultural. Hoje, lá só tem
manga! Num tem mais planta
nenhuma.” (Sr. Nilo)
• Lei da Reserva Particular Ecológica (RPE), da PBH
– SMMA, divulgada em 1993, consideradas
fundamentais para a preservação ambiental da
cidade
• Contribuição para o microclima da região, a
qualidade do ar e por abrigarem ricas espécies da
fauna e da flora e nascentes de água.
• Os guardiões são os próprios moradores que, por
preservarem o meio ambiente, ganham isenção
da taxa do Imposto Predial Territorial Urbano
(Ramos , 2003)
• Hortas Comunitárias e Centros de Vivência
Agroecológica:
• “Aqui a horta era muito linda, igual vocês
viram, uma horta de muitos anos, e foi muito
bom para os idosos. Eles vão ao médico, o
médico [diz]: procura um afazer. Fazer o que?
Plantar alguma coisa, mexer com terra, mexer
com água, isso é muito bom. Então, toda vez
que os idosos iam no Posto [de Saúde], eles
diziam: arruma um canteirinho. Toda vida
foram os idosos que cuidavam da horta aqui, é
uma maravilha!” (D. Inês)
• “Esse espaço aqui é o CEVAE - Centro de
Vivência Agroecológica. Esse espaço surgiu para
atender as pessoas da comunidade que vieram
de áreas rurais e hoje moram em apartamento
ou tem os quintais bem pequenos. A proposta
do CEVAE é que essas pessoas tenham esse
local para plantarem suas hortas, tanto para
sua subsistência ou como uma fonte de renda,
vendendo orgânicos. [...] A nossa proposta é
que tudo seja natural. Aqui é tudo natural, não
pode usar adubo químico, nem agrotóxico, nem
nada disso, é tudo realmente natural.” (Cláudia)
• “[O CEVAE] é um projeto da prefeitura.
Ela implantou, pois viu que aqui havia
muitas pessoas que vieram do interior e
gostavam de plantar, como Dona Neide,
da Associação. Então, esse projeto é
antigo e foi implantado aqui, porque já
existia essa demanda, senão ele estaria
em outras partes de Venda Nova. Então
é uma política forte aqui no Serra Verde,
[que tem] muita gente que veio do
interior.” (Cláudia)
• “E eu vim morar no apartamento, que era o que
eu tinha, o que eu pude comprar e não um lote,
mas mesmo morando em apartamento eu sempre
tive um pedaço do lugar, um vaso onde eu
plantava. Então, as ervas sempre fizeram parte da
minha vida.[...] Na garagem onde era de meu uso,
eu coloquei vasos em que eu tinha arruda, alecrim,
eu tinha manjericão...” (D. Eulália)
Plantio em pequenos espaços
(apartamentos e garagens):
Quintal D. Helena
• Plantio em apartamentos:
Quintal D. Eulália
Importância das áreas verdes
urbanas
• Na visão dos/as entrevistados/as, as plantas
ajudam a melhorar o clima, trazem sombra,
deixam o ar mais puro, baixam temperatura,
atraem os pássaros:
• “Eu acho muito importante o quintal, porque a
gente sente a diferença. Às vezes, eu tô do lado de
fora do portão, tá aquele calor insuportável, eu
abro o portão, você entrou pra dentro do lote,
você já sabe que tá diferente, é diferente o clima!”
(D. Helena)
• “E a sombra... é muito gratificante pra gente ter o ar
puro. Você acorda de manhã, cinco e meia da manhã,
os passarinhos tão cantando... Quer coisa melhor? E
você sai ali fora... Eu saio ali fora pra ouvir... É bom
demais! Uma senhora comentou assim: ‘Eu tô muito
triste, eu tenho árvore, mas num tenho passarinho
cantando!’ Eu falei assim: ‘Eu num tenho esse
problema não, eles cantam todo dia. Às 5 horas eles
tão fazendo a alvorada deles lá, cantando.’ Eu acho
que é uma coisa assim de Deus, né? A gente tem que
agradecer a Deus as oportunidades, a gente tá
vivenciando isso nesse mundo agitado lá fora, mas se
você fechou o portão, você tá tranquilo. Isso é muito
importante!” (D. Helena)
Quintal D. Helena
• Trazem alegria, ajudam a manter o equilíbrio
interior e a ter uma vida mais saudável:
• “Não é só as plantas, é aquela energia que você
recebe. Eu sempre gostei de cuidar, pra mim é
como se fosse uma terapia mexer com as plantas.
Há o dia que tem qualquer coisa me incomodando,
eu enfio lá no meio das plantas, descalça, que é
bom, começo a podar, subir nas árvores, podando...
E aí eu vou o dia todo... Eu acho que todo mundo
deveria ter um cantinho plantado.” (D. Helena)
• “[...] Eu faço porque eu gosto, eu me sinto bem,
mesmo que a gente não colhe, igual flores, só da
gente ver já dá uma alegria.” (D. Neide)
• “[...] Porque a saúde ganha muito mais com
isso, o prazer de viver é outra coisa com o
contato com a terra , torna as pessoas mais
leves. [...] Acho não, tenho certeza, que
muito stress, muito remédio não estaria
sendo usado se o povo voltasse a atenção
para a terra, os benefícios que lidar com a
terra trazem, de botar a mão na massa... A
cidade perdeu muito com isso, perdeu em
qualidade de vida, perdeu em beleza.” (D.
Eulália)
• “Eu comento muito com minhas filhas: [...]
enquanto eu estiver aqui, vocês vão ter que
engolir eu e as plantas. Agora, no dia que eu
morrer, vocês podem cortar tudo e cimentar,
mas enquanto eu estiver, vocês vão ter que me
aturar, eu e as plantas, porque faz bem pra
saúde.” (D. Helena)
• “E eu também gosto muito de flor, orquídea,
gosto muito de borboleta, beija-flor, e de tudo
que é passarinho , até do pardal eu gosto. “ (D.
Lúcia)
BIODIVERSIDADE DE ÁREAS VERDES EM VENDA NOVA
MEDICINAl/
AROMÁTICA
ALIMENTÍCIA ORNAMENTAL ANIMAL
HORTA FRUTA
Alecrim
Arruda
Bálsamo
Barbatimão
Bardânia
Camomila
Caninha de Macaco
Cansação
Carqueja
Cavalinha
Citronela
Funcho
Guaco
Hortelã Pimenta
Linhaça
Losna
Mama- Cadela
(Maminha de porca)
Marcelinha
Para-Tudo
Pau doce
Picão
Poejo
Quebra pedra
Romã
Sândalo
Sapé
Unha de gato
(27)
Acelga
Abobora
Alface
Alho Poró
Almeirão
Arroz
Bertalha
Beterraba
Brócolis
Café
Cebolete
Cebolinha
Cenoura
Chuchu
Couve
Couve flor
Feijão de Corda
Jiló
Mandioca
Manjericão
Milho
Pimenta branca
Ora –pro-nobis
Quiabo
Repolho
Salsa
Tomilho
(27)
Abacate
Acerola
Amendoim
Ameixa
Amora
Banana (caturra e
ouro)
Cajú
Cana
Caqui
Carambola
Figo
Goiaba
Jaca
Jabuticaba
Jambo Rosa
Jatobá
Laranja
Limão
Maçã
Mamão
Manga
Pera
Pitanga
Seriguela
Uva
(25)
Algodão
Antúrio
Coqueiro Macaúba
Coqueiro Imperial
Grama
Hibisco
Ipê Amarelo
Ipê Mulato
Ipê Roxo
Ipê Verde
Orquídeas
Quaresmeira
(12)
Beija flor
Boi
Cavalo
Cobra
Galinha
Galinha d’angola
Macaquinhos
Marreco
Pássaros
Pardal
Pato
Peixes
Peru
Piolho
Porco
Rato
Sapo
Vaga-Lume
(18)
Quintal D. Helena
Usos sociais:
a) Medicinal
• “Às vezes, vêm muitas pessoas que não
tem nenhum quintal plantado, é só
cimento [e perguntam]: ‘a senhora tem
algum medicamento, alguma folha lá pra
gripe?’ Eu falo: ‘tenho’. ‘A senhora pode
trazer?’ Eu ainda vou levar lá. Ontem
mesmo foi assim, aí vim cá, colhi as plantas
e levei.” (D. Helena)
• “Não vai curar, mas tá ajudando muita
gente a aliviar aquele momento, eu acho
que é importante. Às vezes, a pessoa
chega tá passando mal, eu falo: olha esse
aqui é bom, toma! Aí toma... Igual o guaco
mesmo, meu marido tinha problema de
enfisema pulmonar, e a fisioterapeuta
[perguntou se eu tinha] guaco no quintal e
[recomendou:] ‘Então faz um chazinho e
dá pra ele’.” (D. Helena)
Quintal D. Helena
• “A tansagem eles usam muito pra
garganta inflamada. Qualquer
inflamação de garganta, eles vêm
procurar aí. Muita coisa... Esse picão da
horta, eles procuram demais. Tem muita
coisa que é remédio. Até a raiz de
quiabo [...]. Estão pedindo raiz de
quiabo. Dizem que é pra menino que tá
nascendo dente. Que é bom dar o chá,
pro dente sair rápido.” (Sr. Antônio)
• “Aqui [no CEVAE] também tem o viveiro de ervas
medicinais. O tempo todo tem gente batendo aqui,
pedindo umas folhinhas de hortelã, tem funcho,
camomila, o tempo todo, já tem essa referência, por
ser um centro de vivência agroecológico, ele tem essa
historia, o pessoal vem nos procurar”. (Cláudia)
• “Quando eu conheci aqui há quinze anos atrás, o que
acontece, [o Prodasec] fazia um trabalho cultural muito
interessante aqui. Eles pegavam todas essas pessoas
que vinham do campo, eles davam receita de pomada,
ervas medicinais. Devagarinho estamos fazendo essa
retomada, a gente fez encontros com pessoas para
conversar sobre ervas medicinas, sobre ervas. Estamos
retomando, é uma coisa meio lenta.” (Cláudia)
Quintal do Sr. Nilo
b) Plantando e trocando mudas:
espalhando conhecimentos
• “Então, é importante que a gente plante pra
manter limpo e tem as coisas que a gente gosta,
que serve pra gente, pro uso da gente, [pra] dar pra
algum amigo que goste. Na época de milho, fazer
um mingau de milho e tal... Abóbora também, que
dá bastante, eu doo pros outros... Pra mim, é muito
importante.” (Sr. Nilo)
• “Eu acho assim, eu acho que a gente não perde por
ser útil pras pessoas... Igual, se tem uma pessoa
sentindo alguma coisa, o que você puder fazer pra
• tá aliviando... Eu acho que é muito importante.
Cada um tem seu quinhão de responsabilidade na
construção desse tempo de hoje...” (D. Helena)
• “E saber, ter conhecimento que aquilo vai fazer
bem. Não só pra você, mas pra alguém que tiver
necessidade que vem, sempre vem. É difícil o dia
que não toca o portão, alguém pedindo uma
folha. Eles indicam. Eles falam assim: ‘Vai na dona
Helena, ela tem lá.’ Se não tem, eu indico. Falo:
isso é bom, você vai achar em tal lugar.” (D.
Helena)
• “E vou longe pra trazer uma muda. “ (D. Eulália)
• “[...] As matas sempre me acompanharam... E eu
vim para o Serra Verde, continuei plantando e
trocando. Então, a minha irmã lá em São Marcos
gosta de planta, ela tem uma coisa, eu tenho
outra, a gente troca, [e com] meu irmão da
Cachoeirinha. Tenho um irmão que tem 2 roças,
cada um tem uma roça, a gente vai, leva daqui
para lá e trás de lá pra cá e vai espalhando esse
conhecimento, trocando essas coisas que um
tem e o outro não tem. E usando isso pra tornar
a minha vida mais saudável e ensinando os
outros também a fazer isso.” (D. Eulália)
D. Neide (CEVAE)
c) Consumo e renda
• “Quando eu mudei para Venda Nova, praticamente
poucas casas você encontrava que fossem lotes, a
maioria era chácaras. Muitas pessoas plantavam
para sua própria subsistência. Mas tinha muita
gente que plantava e vendia nos balaios de porta a
porta.” (D. Lúcia)
• “Levava pro Mercado Central e vendia lá [...] até
1970 por aí. Aí depois povoou, loteou, encheu de
casa, passou a comprar aqui na porta. Antigamente
qualquer coisa que tinha pra vender, era lá no
Mercado.” (Sr. Antônio)
• “De primeiro tinha muita horta por aí afora,
depois todo mundo acabou, ficou só eu. De
primeiro tinha muita horta aqui [...] Aqui
pra cima tinha umas duas hortas ou três.
Pra cá também. Lá pro lado do bairro da
Lagoa tinha muita igual aqui, mas vai
acabando. [...] Só eu que fiquei teimoso aí,
mas o resto vendeu o terreno, acabou
tudo!” (Sr. Antônio)
• “Só verdura a gente vende, mas as frutas
[são] só para o consumo.” (D. Neide)
”A gente usava as plantas, as hortaliças, pra
vender, pra comprar o que não chegava até
o final do ano e pra trocar também. As
frutas, a gente consumia. Manga, mamão,
abacate, caqui, jambo rosa. Lá tem uma
árvore imensa de jambo rosa! Ameixa, a
gente se fartava, amora, pau doce! Conhece
pau doce? Ali tem, você passou debaixo de
um pé de pau doce. Então, isso veio com a
gente... Na minha família todo mundo gosta
de plantar.” (D. Eulália)
Quintal Sr. Nilo
d) Gosto pelas coleções, prazer de
conhecer e experimentar
• “Eu plantei a vida toda. Eu plantei café para
os meninos verem o que era um pé de café,
eu plantei maça, plantei pera, plantei uva,
plantei figo, porque eu gostava muito de
figo, plantamos muitas laranjeiras,
jabuticabeiras.” (D. Lúcia)
• “Eu tenho é porque eu gosto. Compensar,
num compensa mais não.” (Sr. Antonio)
•
• “Por enquanto, eu só tenho plantado lá
manga, acerola, goiaba, eu pego sempre
essas sementes de goiaba maiores, goiaba,
amora, seriguela, essas coisas mais comuns.
Eu estou querendo ampliar mais. [...] Porque
eu gosto, aliás, nem sempre eu gosto, por
exemplo, Jaca eu não gosto, mas eu fiz
questão de plantar um pé de jaca lá, pode
ter alguém que goste.” (D. Neide)
• “Eu sempre gostei de mexer com planta, um
dia eu vim aqui e conversei com a Edna, e ela
me falou que tinha canteiro para plantar. Eu
plantei repolho. Não sei se tem ainda, tem até
retrato que ela tirou comigo com repolho
desse tamanho aqui. Alface, cebolinha, alface,
essas coisas assim. Eu sei que de repente eu
quis mudar para plantas ornamentais e
frutíferas. E estou até hoje estou gostando
muito. Eu vejo o pessoal usando aqui, eles
gostam muito, não sabem ficar sem isso não.”
(D. Neide)
e) Criação de animais
• “Lá em cima perto da casa, eu tinha galinheiro, eu
criava pato, marreco, peru, galinha e galinha de
angola, eu adoro galinha de angola, muita mesmo,
tinha um galinheiro muito bem feito, eu botava
serragem, naquela época era muito fácil conseguir
serragem, agora é 3 reais o saco de serragem, eu
botava no chão, não tinha que ficar limpando,
nesse galinheiro tinha duas partes separadas, uma
para galinha que estivesse chocando e outra para
que estivesse com pintinho.” (D. Lúcia)
Quintal D. Lúcia
Quintal D. Lúcia
• “Toda vida que eu morei aqui, eu plantei. A
minha esposa, no tempo dela, criava porco.
Por isso, tem esse chiqueiro. Também, nós
tínhamos uma criação de porco boa.” (Sr.
Nilo)
• “Primeiro eu mexi com essa vara, de criar
porco. Quando eles começaram a roubar
eu parei com tudo.” (Sr. Antônio)
• “toda vida [os ciganos] andaram por aí,
trocando cavalo... Eles arranchavam em
Venda Nova desde longa data.”
Considerações Finais
• Importância desses sistemas locais de
conhecimento ecológico, construídos na
experiência cotidiana dos moradores das
metrópoles (ALMADA , 2010).
• Pouco compreendidos e pesquisados
• A explicitação, a valorização e o diálogo com esses
saberes e práticas são fundamentais para
pensarmos cidades que preservem toda essa
diversidade e riqueza
• Importância do conceito de “paisagem cultural “
para pensar as políticas urbanas e as intervenção
no campo do patrimônio
• Possibilita articular os aspectos naturais e
culturais, considerando as interações significativas
entre o homem e o meio ambiente natural
(CASTRIOTA , 2013).
• Quintais, chácaras, hortas e outras áreas verdes
urbanas, assim como os sistemas de conhecimento
a eles relacionados como patrimônios que
merecem ser reconhecidos, valorizados e
preservados.
Referências
• ALMADA, E. D. Etnoecologia Urbana. Atualidades
em Etnobiologia e Etnoecologia, v. 5, 2010.
• ALMEIDA, M. G.; PEREIRA, B. M. O Quintal Kalunga
como lugar e espaço de saberes. Geonordeste, ano
XXII, n. 2, 2011.
• CASTRIOTA, Leonardo. Paisagem cultural: novas
perspectivas para o patrimônio. Arquitextos, São
Paulo, ano 14, n. 162.02, Vitruvius, nov. 2013
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquit
extos/14.162/4960>.
• CUNHA, Manuela Carneiro e ALMEIDA, Mauro
Barbosa (Orgs.). Introdução. In: ______.
Enciclopédia da Floresta. São Paulo: Companhia
das Letras, 2002.
• EMPERAIRE, L. A cidade, um foco de diversidade
agrícola no Rio Negro (Amazônia, Brasil). Bol.
Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciências Humanas,
Belém, v. 3, n. 2, p. 195-211, maio-ago. 2008.
• RAMOS, Raquel. Quintais verdes da capital
mineira estão livres do IPTU. Jornal Hoje em Dia,
05/12/2013

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Áreas verdes urbanas memorias e usos sociais e biodiversidade

  • 1. ÁREAS VERDES URBANAS: MEMÓRIAS, USOS SOCIAIS E BIODIVERSIDADE Karla Cunha Pádua (PPGE-UEMG) Fátima Silva Risério (FaE-CBH) Roseli Correia da Silva (EMALC)
  • 2. • Projeto “Educar pela Cidade: memória e patrimônio cultural e ambiental” • http://educarpelacidaderegionalvendanova • Dados coletados por meio de “entrevistas narrativas” com proprietários/as de quintais, chácaras, hortas e responsáveis por programas socioambientais, governamentais e não governamentais em Venda Nova • 8 entrevistas
  • 4. Memórias do lugar • “Em Venda Nova era verde para todo lado, as casas todas com quintais imensos” (D. Lúcia) • “Antigamente, como eu já falei, quando eu era menino, a gente tinha fábrica de farinha, de rapadura. Fazia tudo isso. Mexia mais é com transporte de tropa, de carroça. [...] Quando era pouca coisa era na tropa, quando era mais quantidade, levava na carroça. Carro de boi... Ia até em Venda Nova com Carro de boi.” (Sr. Antônio)
  • 5. • “Aqui mesmo, onde nós estamos nas costas de vocês, esse terreno, essa parte baixa onde a gente está, porque ele sobe para lá, nesta parte alta era um laranjal enorme [...] Na frente da nossa casa, do outro lado rua, tinha um abacaxizal. [...] A partir do terreno seguinte, do lado de lá também, era uma plantação enorme de alface, imensa, o pessoal levava de caminhão para o mercado.” (D. Lúcia) • “Aqui, Venda Nova, era o centurião verde de Belo Horizonte. Se vocês vissem quantas pessoas tinham plantações grandes assim de couve, alface, de várias coisas, de muitas coisas mesmo e que eles levavam para o mercado em Belo Horizonte. “(D. Lúcia)
  • 6. • “[Em Venda Nova] tinha uma granja maravilhosa dos japoneses que vieram para cá, granja do Mikado, era imensa, eles criavam peixes. Era uma colônia mesmo de japoneses, agora eu esqueci o nome, mas acho que era Takarracha, mas não tenho certeza. “(D. Lúcia) • “[Na fazendo do Capão tinha] engenho de farinha. Tinha uma roda d’água grandona, Imitando uma roda gigante, ali soltava a água, tocava ela e ela tocava as outras.” (Sr. Antônio)
  • 7. Transformações na Paisagem • Destruição do cerrado e das nascentes • Ocupação desordenada • Desmatamentos • Diminuição das áreas verdes • Poluição dos córregos • Alterações da vida coletiva que restringiram os espaços de convívio , modificaram as brincadeiras infantis, as festas de rua e as Folias que antes varavam as madrugadas.
  • 8. • “Desde que eu mudei pra Venda Nova, a região mudou muito. O córrego que tem aqui na frente da minha casa, hoje tá uma sujeira! Mas quando nós mudamos pra cá, era limpo. Tinha peixe, a gente podia usar aquela água para construção. Agora, eles além de não arrumarem o córrego, tão é sujando mais. Piorou muito! Espero que um dia possa melhorar [...]. Quando eu vim pra cá tinha poucos moradores. Hoje tá bastante habitado. Houve muitas modificações. Umas partes boas, outras ruins.“ (Sr. Nilo)
  • 10. • “A água [do córrego do Capão] era limpinha, a gente pescava aí. Podia até tomar da água. Uma beleza! Hoje acabou com tudo. A gente num vê um sapo cantar mais, a gente num vê vagalume. Num vê nada mais. Ao invés de criar sapo aí no córrego, tá criando é rato. Tem umas ratazanas que pelo amor de Deus! Ô bicho danado!” (Sr. Antônio) • “Quando eu vim praqui, era tudo cerca de arame, quintal tudo aberto, cerca de arame que passava lá na rua, a gente via cá dentro de casa... Era terra e os meninos ficavam soltos [...] Tinha vezes que até perdia os meninos lá pro quintal afora. Como nós viemos de uma casa pequena, aí a gente achou o quintal uma maravilha, [podia] correr...” (D. Helena)
  • 11. • “Os meninos brincavam na rua! Tinha o tal do rouba-bandeira, futebol de barro, que meu filho brincava demais, aí chegava tudo lameado de barro.” (D. Helena) • “Pra você ter noção, aqui a gente fazia festa junina na rua. Juntava os vizinhos, fazia fogueira, dançava quadrilha. Cada um ficava responsável por fazer a canjica, outro fazia quentão.” (D. Helena) • “[...] Lá no interior, nós andávamos 12 noites encarrilhado, do dia 24 ao dia 06. Naquela época, era o tempo só pra folia. O trabalho não tinha,
  • 12. • porque de dia a gente tinha que dormir, pra noite a gente conseguir andar. [...] . Mas hoje nós tamos cantando muito pouco, num tamos fazendo esse período todo não. Tá muito fracassado. Você num encontra mais pessoas que querem receber as folias. Quando eu vim praqui, a gente num dava conta do pessoal que fazia pedido. Hoje, se a gente perguntar alguém aí, quase ninguém aceita. Os velhos foram morrendo. Os novos não adaptam com isso não. Tá muito difícil de tocar.” (Sr. Nilo) • “Eu num canto aqui [em Venda Nova] mais. Cantei muito aqui. Agora, num acha gente pra receber. “(Sr. Nilo)
  • 13. • Lembram que essas transformações socioambientais que vem atingindo as cidades não são tão recentes e que vêm se intensificando a partir dos anos 60, atingindo também outras regiões do estado, como as mineradoras. • “Os dejetos da mineradora acabaram com o rio. Na água do rio a gente tinha peixe, lavava roupa... Depois da britadora, como se diz, descia aquelas placas de óleo... “(D. Helena)
  • 14. • Mas as narrativas parecem sugerir algumas alternativas de revitalização urbana: • Parques ecológicos: • “Com a construção da cidade administrativa, teve um grande impacto na região, ali era uma área de lazer, de repente passou ser uma área fechada, para entrar tem que pedir autorização. Antes era de livre acesso, um lugar de caminhada, o parque era municipal, com a construção da cidade administrativa, ela pegou o parque.” (Cláudia)
  • 15. • Avenidas arborizadas com ipês e quaresmeiras: • “Bem no centro da cidade de Venda Nova, ao lado da Regional, tem um espaço que tinha uma quaresmeira rosa, ‘trem mais lindo’, que florescia o ano inteiro. [...] E eu não sei se ela foi derrubada, como muitas árvores de Belo Horizonte, por causa do BRT. “(D. Eulália)
  • 16. • Preservação de áreas verdes nos espaços coletivos, como os centros culturais: • “Onde está localizado hoje o Centro Cultural, antes, lá era uma chácara! [...] e a chácara se transformou no Centro Cultural. Hoje, lá só tem manga! Num tem mais planta nenhuma.” (Sr. Nilo)
  • 17. • Lei da Reserva Particular Ecológica (RPE), da PBH – SMMA, divulgada em 1993, consideradas fundamentais para a preservação ambiental da cidade • Contribuição para o microclima da região, a qualidade do ar e por abrigarem ricas espécies da fauna e da flora e nascentes de água. • Os guardiões são os próprios moradores que, por preservarem o meio ambiente, ganham isenção da taxa do Imposto Predial Territorial Urbano (Ramos , 2003)
  • 18. • Hortas Comunitárias e Centros de Vivência Agroecológica: • “Aqui a horta era muito linda, igual vocês viram, uma horta de muitos anos, e foi muito bom para os idosos. Eles vão ao médico, o médico [diz]: procura um afazer. Fazer o que? Plantar alguma coisa, mexer com terra, mexer com água, isso é muito bom. Então, toda vez que os idosos iam no Posto [de Saúde], eles diziam: arruma um canteirinho. Toda vida foram os idosos que cuidavam da horta aqui, é uma maravilha!” (D. Inês)
  • 19. • “Esse espaço aqui é o CEVAE - Centro de Vivência Agroecológica. Esse espaço surgiu para atender as pessoas da comunidade que vieram de áreas rurais e hoje moram em apartamento ou tem os quintais bem pequenos. A proposta do CEVAE é que essas pessoas tenham esse local para plantarem suas hortas, tanto para sua subsistência ou como uma fonte de renda, vendendo orgânicos. [...] A nossa proposta é que tudo seja natural. Aqui é tudo natural, não pode usar adubo químico, nem agrotóxico, nem nada disso, é tudo realmente natural.” (Cláudia)
  • 20. • “[O CEVAE] é um projeto da prefeitura. Ela implantou, pois viu que aqui havia muitas pessoas que vieram do interior e gostavam de plantar, como Dona Neide, da Associação. Então, esse projeto é antigo e foi implantado aqui, porque já existia essa demanda, senão ele estaria em outras partes de Venda Nova. Então é uma política forte aqui no Serra Verde, [que tem] muita gente que veio do interior.” (Cláudia)
  • 21. • “E eu vim morar no apartamento, que era o que eu tinha, o que eu pude comprar e não um lote, mas mesmo morando em apartamento eu sempre tive um pedaço do lugar, um vaso onde eu plantava. Então, as ervas sempre fizeram parte da minha vida.[...] Na garagem onde era de meu uso, eu coloquei vasos em que eu tinha arruda, alecrim, eu tinha manjericão...” (D. Eulália) Plantio em pequenos espaços (apartamentos e garagens):
  • 23. • Plantio em apartamentos: Quintal D. Eulália
  • 24. Importância das áreas verdes urbanas • Na visão dos/as entrevistados/as, as plantas ajudam a melhorar o clima, trazem sombra, deixam o ar mais puro, baixam temperatura, atraem os pássaros: • “Eu acho muito importante o quintal, porque a gente sente a diferença. Às vezes, eu tô do lado de fora do portão, tá aquele calor insuportável, eu abro o portão, você entrou pra dentro do lote, você já sabe que tá diferente, é diferente o clima!” (D. Helena)
  • 25. • “E a sombra... é muito gratificante pra gente ter o ar puro. Você acorda de manhã, cinco e meia da manhã, os passarinhos tão cantando... Quer coisa melhor? E você sai ali fora... Eu saio ali fora pra ouvir... É bom demais! Uma senhora comentou assim: ‘Eu tô muito triste, eu tenho árvore, mas num tenho passarinho cantando!’ Eu falei assim: ‘Eu num tenho esse problema não, eles cantam todo dia. Às 5 horas eles tão fazendo a alvorada deles lá, cantando.’ Eu acho que é uma coisa assim de Deus, né? A gente tem que agradecer a Deus as oportunidades, a gente tá vivenciando isso nesse mundo agitado lá fora, mas se você fechou o portão, você tá tranquilo. Isso é muito importante!” (D. Helena)
  • 27. • Trazem alegria, ajudam a manter o equilíbrio interior e a ter uma vida mais saudável: • “Não é só as plantas, é aquela energia que você recebe. Eu sempre gostei de cuidar, pra mim é como se fosse uma terapia mexer com as plantas. Há o dia que tem qualquer coisa me incomodando, eu enfio lá no meio das plantas, descalça, que é bom, começo a podar, subir nas árvores, podando... E aí eu vou o dia todo... Eu acho que todo mundo deveria ter um cantinho plantado.” (D. Helena) • “[...] Eu faço porque eu gosto, eu me sinto bem, mesmo que a gente não colhe, igual flores, só da gente ver já dá uma alegria.” (D. Neide)
  • 28. • “[...] Porque a saúde ganha muito mais com isso, o prazer de viver é outra coisa com o contato com a terra , torna as pessoas mais leves. [...] Acho não, tenho certeza, que muito stress, muito remédio não estaria sendo usado se o povo voltasse a atenção para a terra, os benefícios que lidar com a terra trazem, de botar a mão na massa... A cidade perdeu muito com isso, perdeu em qualidade de vida, perdeu em beleza.” (D. Eulália)
  • 29. • “Eu comento muito com minhas filhas: [...] enquanto eu estiver aqui, vocês vão ter que engolir eu e as plantas. Agora, no dia que eu morrer, vocês podem cortar tudo e cimentar, mas enquanto eu estiver, vocês vão ter que me aturar, eu e as plantas, porque faz bem pra saúde.” (D. Helena) • “E eu também gosto muito de flor, orquídea, gosto muito de borboleta, beija-flor, e de tudo que é passarinho , até do pardal eu gosto. “ (D. Lúcia)
  • 30. BIODIVERSIDADE DE ÁREAS VERDES EM VENDA NOVA MEDICINAl/ AROMÁTICA ALIMENTÍCIA ORNAMENTAL ANIMAL HORTA FRUTA Alecrim Arruda Bálsamo Barbatimão Bardânia Camomila Caninha de Macaco Cansação Carqueja Cavalinha Citronela Funcho Guaco Hortelã Pimenta Linhaça Losna Mama- Cadela (Maminha de porca) Marcelinha Para-Tudo Pau doce Picão Poejo Quebra pedra Romã Sândalo Sapé Unha de gato (27) Acelga Abobora Alface Alho Poró Almeirão Arroz Bertalha Beterraba Brócolis Café Cebolete Cebolinha Cenoura Chuchu Couve Couve flor Feijão de Corda Jiló Mandioca Manjericão Milho Pimenta branca Ora –pro-nobis Quiabo Repolho Salsa Tomilho (27) Abacate Acerola Amendoim Ameixa Amora Banana (caturra e ouro) Cajú Cana Caqui Carambola Figo Goiaba Jaca Jabuticaba Jambo Rosa Jatobá Laranja Limão Maçã Mamão Manga Pera Pitanga Seriguela Uva (25) Algodão Antúrio Coqueiro Macaúba Coqueiro Imperial Grama Hibisco Ipê Amarelo Ipê Mulato Ipê Roxo Ipê Verde Orquídeas Quaresmeira (12) Beija flor Boi Cavalo Cobra Galinha Galinha d’angola Macaquinhos Marreco Pássaros Pardal Pato Peixes Peru Piolho Porco Rato Sapo Vaga-Lume (18)
  • 32. Usos sociais: a) Medicinal • “Às vezes, vêm muitas pessoas que não tem nenhum quintal plantado, é só cimento [e perguntam]: ‘a senhora tem algum medicamento, alguma folha lá pra gripe?’ Eu falo: ‘tenho’. ‘A senhora pode trazer?’ Eu ainda vou levar lá. Ontem mesmo foi assim, aí vim cá, colhi as plantas e levei.” (D. Helena)
  • 33. • “Não vai curar, mas tá ajudando muita gente a aliviar aquele momento, eu acho que é importante. Às vezes, a pessoa chega tá passando mal, eu falo: olha esse aqui é bom, toma! Aí toma... Igual o guaco mesmo, meu marido tinha problema de enfisema pulmonar, e a fisioterapeuta [perguntou se eu tinha] guaco no quintal e [recomendou:] ‘Então faz um chazinho e dá pra ele’.” (D. Helena)
  • 35. • “A tansagem eles usam muito pra garganta inflamada. Qualquer inflamação de garganta, eles vêm procurar aí. Muita coisa... Esse picão da horta, eles procuram demais. Tem muita coisa que é remédio. Até a raiz de quiabo [...]. Estão pedindo raiz de quiabo. Dizem que é pra menino que tá nascendo dente. Que é bom dar o chá, pro dente sair rápido.” (Sr. Antônio)
  • 36. • “Aqui [no CEVAE] também tem o viveiro de ervas medicinais. O tempo todo tem gente batendo aqui, pedindo umas folhinhas de hortelã, tem funcho, camomila, o tempo todo, já tem essa referência, por ser um centro de vivência agroecológico, ele tem essa historia, o pessoal vem nos procurar”. (Cláudia) • “Quando eu conheci aqui há quinze anos atrás, o que acontece, [o Prodasec] fazia um trabalho cultural muito interessante aqui. Eles pegavam todas essas pessoas que vinham do campo, eles davam receita de pomada, ervas medicinais. Devagarinho estamos fazendo essa retomada, a gente fez encontros com pessoas para conversar sobre ervas medicinas, sobre ervas. Estamos retomando, é uma coisa meio lenta.” (Cláudia)
  • 38. b) Plantando e trocando mudas: espalhando conhecimentos • “Então, é importante que a gente plante pra manter limpo e tem as coisas que a gente gosta, que serve pra gente, pro uso da gente, [pra] dar pra algum amigo que goste. Na época de milho, fazer um mingau de milho e tal... Abóbora também, que dá bastante, eu doo pros outros... Pra mim, é muito importante.” (Sr. Nilo) • “Eu acho assim, eu acho que a gente não perde por ser útil pras pessoas... Igual, se tem uma pessoa sentindo alguma coisa, o que você puder fazer pra
  • 39. • tá aliviando... Eu acho que é muito importante. Cada um tem seu quinhão de responsabilidade na construção desse tempo de hoje...” (D. Helena) • “E saber, ter conhecimento que aquilo vai fazer bem. Não só pra você, mas pra alguém que tiver necessidade que vem, sempre vem. É difícil o dia que não toca o portão, alguém pedindo uma folha. Eles indicam. Eles falam assim: ‘Vai na dona Helena, ela tem lá.’ Se não tem, eu indico. Falo: isso é bom, você vai achar em tal lugar.” (D. Helena) • “E vou longe pra trazer uma muda. “ (D. Eulália)
  • 40. • “[...] As matas sempre me acompanharam... E eu vim para o Serra Verde, continuei plantando e trocando. Então, a minha irmã lá em São Marcos gosta de planta, ela tem uma coisa, eu tenho outra, a gente troca, [e com] meu irmão da Cachoeirinha. Tenho um irmão que tem 2 roças, cada um tem uma roça, a gente vai, leva daqui para lá e trás de lá pra cá e vai espalhando esse conhecimento, trocando essas coisas que um tem e o outro não tem. E usando isso pra tornar a minha vida mais saudável e ensinando os outros também a fazer isso.” (D. Eulália)
  • 42. c) Consumo e renda • “Quando eu mudei para Venda Nova, praticamente poucas casas você encontrava que fossem lotes, a maioria era chácaras. Muitas pessoas plantavam para sua própria subsistência. Mas tinha muita gente que plantava e vendia nos balaios de porta a porta.” (D. Lúcia) • “Levava pro Mercado Central e vendia lá [...] até 1970 por aí. Aí depois povoou, loteou, encheu de casa, passou a comprar aqui na porta. Antigamente qualquer coisa que tinha pra vender, era lá no Mercado.” (Sr. Antônio)
  • 43. • “De primeiro tinha muita horta por aí afora, depois todo mundo acabou, ficou só eu. De primeiro tinha muita horta aqui [...] Aqui pra cima tinha umas duas hortas ou três. Pra cá também. Lá pro lado do bairro da Lagoa tinha muita igual aqui, mas vai acabando. [...] Só eu que fiquei teimoso aí, mas o resto vendeu o terreno, acabou tudo!” (Sr. Antônio) • “Só verdura a gente vende, mas as frutas [são] só para o consumo.” (D. Neide)
  • 44. ”A gente usava as plantas, as hortaliças, pra vender, pra comprar o que não chegava até o final do ano e pra trocar também. As frutas, a gente consumia. Manga, mamão, abacate, caqui, jambo rosa. Lá tem uma árvore imensa de jambo rosa! Ameixa, a gente se fartava, amora, pau doce! Conhece pau doce? Ali tem, você passou debaixo de um pé de pau doce. Então, isso veio com a gente... Na minha família todo mundo gosta de plantar.” (D. Eulália)
  • 46. d) Gosto pelas coleções, prazer de conhecer e experimentar • “Eu plantei a vida toda. Eu plantei café para os meninos verem o que era um pé de café, eu plantei maça, plantei pera, plantei uva, plantei figo, porque eu gostava muito de figo, plantamos muitas laranjeiras, jabuticabeiras.” (D. Lúcia) • “Eu tenho é porque eu gosto. Compensar, num compensa mais não.” (Sr. Antonio)
  • 47. • • “Por enquanto, eu só tenho plantado lá manga, acerola, goiaba, eu pego sempre essas sementes de goiaba maiores, goiaba, amora, seriguela, essas coisas mais comuns. Eu estou querendo ampliar mais. [...] Porque eu gosto, aliás, nem sempre eu gosto, por exemplo, Jaca eu não gosto, mas eu fiz questão de plantar um pé de jaca lá, pode ter alguém que goste.” (D. Neide)
  • 48. • “Eu sempre gostei de mexer com planta, um dia eu vim aqui e conversei com a Edna, e ela me falou que tinha canteiro para plantar. Eu plantei repolho. Não sei se tem ainda, tem até retrato que ela tirou comigo com repolho desse tamanho aqui. Alface, cebolinha, alface, essas coisas assim. Eu sei que de repente eu quis mudar para plantas ornamentais e frutíferas. E estou até hoje estou gostando muito. Eu vejo o pessoal usando aqui, eles gostam muito, não sabem ficar sem isso não.” (D. Neide)
  • 49. e) Criação de animais • “Lá em cima perto da casa, eu tinha galinheiro, eu criava pato, marreco, peru, galinha e galinha de angola, eu adoro galinha de angola, muita mesmo, tinha um galinheiro muito bem feito, eu botava serragem, naquela época era muito fácil conseguir serragem, agora é 3 reais o saco de serragem, eu botava no chão, não tinha que ficar limpando, nesse galinheiro tinha duas partes separadas, uma para galinha que estivesse chocando e outra para que estivesse com pintinho.” (D. Lúcia)
  • 52. • “Toda vida que eu morei aqui, eu plantei. A minha esposa, no tempo dela, criava porco. Por isso, tem esse chiqueiro. Também, nós tínhamos uma criação de porco boa.” (Sr. Nilo) • “Primeiro eu mexi com essa vara, de criar porco. Quando eles começaram a roubar eu parei com tudo.” (Sr. Antônio) • “toda vida [os ciganos] andaram por aí, trocando cavalo... Eles arranchavam em Venda Nova desde longa data.”
  • 53. Considerações Finais • Importância desses sistemas locais de conhecimento ecológico, construídos na experiência cotidiana dos moradores das metrópoles (ALMADA , 2010). • Pouco compreendidos e pesquisados • A explicitação, a valorização e o diálogo com esses saberes e práticas são fundamentais para pensarmos cidades que preservem toda essa diversidade e riqueza
  • 54. • Importância do conceito de “paisagem cultural “ para pensar as políticas urbanas e as intervenção no campo do patrimônio • Possibilita articular os aspectos naturais e culturais, considerando as interações significativas entre o homem e o meio ambiente natural (CASTRIOTA , 2013). • Quintais, chácaras, hortas e outras áreas verdes urbanas, assim como os sistemas de conhecimento a eles relacionados como patrimônios que merecem ser reconhecidos, valorizados e preservados.
  • 55. Referências • ALMADA, E. D. Etnoecologia Urbana. Atualidades em Etnobiologia e Etnoecologia, v. 5, 2010. • ALMEIDA, M. G.; PEREIRA, B. M. O Quintal Kalunga como lugar e espaço de saberes. Geonordeste, ano XXII, n. 2, 2011. • CASTRIOTA, Leonardo. Paisagem cultural: novas perspectivas para o patrimônio. Arquitextos, São Paulo, ano 14, n. 162.02, Vitruvius, nov. 2013 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquit extos/14.162/4960>.
  • 56. • CUNHA, Manuela Carneiro e ALMEIDA, Mauro Barbosa (Orgs.). Introdução. In: ______. Enciclopédia da Floresta. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. • EMPERAIRE, L. A cidade, um foco de diversidade agrícola no Rio Negro (Amazônia, Brasil). Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 3, n. 2, p. 195-211, maio-ago. 2008. • RAMOS, Raquel. Quintais verdes da capital mineira estão livres do IPTU. Jornal Hoje em Dia, 05/12/2013