SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 19
Baixar para ler offline
Os XULINGOS eram uma gentinha pequena, feita de
madeira. Toda essa gente de madeira tinha sido feita por um
carpinteiro chamado Eli. A oficina onde ele trabalhava ficava
no alto de um morro, de onde se avistava aldeia dos xulingos.
Cada xulingo era diferente dos outros. Uns, tinham
narizes bem grandes; outros tinham olhos enormes. Alguns
eram altos, e outros, bem baixinhos. Uns, usavam chapéus,
outros, usavam casacos. Todos eles, porém, tinham sido
feitos pelo mesmo carpinteiro e moravam na mesma aldeia.
E o dia inteiro, todos os dias, os xulingos só faziam uma
coisa: colavam adesivos uns nos outros. Cada xulingo tinha
uma caixinha com adesivos dourados, em forma de estrela, e
uma caixinha com adesivos cinzentos, em forma de bola. Em
toda a aldeia, indo e vindo pelas ruas, os xulingos passavam
dia após dia colando estrelas e bolas uns nos outros.
Os mais bonitos, feitos de madeira lisa e tinta brilhante,
sempre ganhavam estrelas. Mas, se a madeira era áspera ou
se a tinta descascava, os xulingos colavam bolas cinzentas.
Os xulingos que tinham algum talento também
ganhavam estrelas. Alguns conseguiam levantar pedaços de
madeira bem pesados acima de suas cabeças ou conseguiam
pular por cima de caixas de madeira bem grandes. Outros
conseguiam falar palavras compridas e difíceis ou cantar
belas canções. Todos colavam estrelas nesses xulingos.
Alguns xulingos viviam carregados de estrelas! Cada vez
que recebiam uma estrela, ficavam muito felizes! Sentiam
vontade de fazer alguma outra coisa para ganhar mais uma
estrela.
Alguns xulingos, porém, não sabiam fazer muita coisa.
Esses ganhavam bolinhas cinzentas.
Marcinelo era um desses. Ele tentava pular bem alto
como os outros, mas sempre caía. E, quando caía, os outros
xulingos se juntavam à volta dele e lhe davam bolinhas
cinzentas.
Às vezes, quando caía, sua madeira ficava arranhada, e,
assim, os outros colavam mais bolinhas cinzentas nele.
Aí, quando ele tentava explicar por que tinha caído, dizia
alguma coisa do jeito errado, e os xulingos colavam mais
bolinhas cinzentas.
Depois de algum tempo, Marcinelo tinha tantas bolinhas
que nem queria sair de casa. Tinha medo de fazer alguma
bobagem, como esquecer o chapéu ou pisar na poça d’água,
porque os xulingos iriam colar nele mais uma bolinha. A
verdade é que ele tinha tantos adesivos cinzentos que as
pessoas se aproximavam dele e, sem razão alguma, colavam
nele mais uma bolinha cinzenta.
 Ele merece ficar coberto de bolinhas cinzentas  as
pessoas de madeira diziam umas às outras.  Ele não é um
bom xulingo.
Depois de algum tempo, Marcinelo começou a acreditar
neles. E vivia dizendo:
 Eu não sou um bom xulingo.
Nas poucas vezes em que saía de casa, ficava junto de
outros xulingos que tinham muitas bolinhas cinzentas. Entre
eles, Marcinelo se sentia melhor.
Certo dia, Marcinelo encontrou uma xulinga diferente de
todas que ele conhecia. Ela não tinha nem estrelas nem
bolinhas. Só madeira.
O nome dela era Lúcia.
E não era porque outros xulingos não tentassem colar
adesivos em Lúcia. É que os adesivos não ficavam. Alguns
xulingos admiravam Lúcia porque não tinha bolinhas; por
isso, chegavam perto dela e lhe davam uma estrela. Mas a
estrela caía! Outros a desprezavam porque ela não tinha
estrelas, e por isso lhe davam uma bolinha cinzenta. Mas as
bolinhas também não colavam.
É assim que eu quero ser; pensou Marcinelo. Não quero
ficar com as marcas de outras pessoas.
Então, ele perguntou à xulinga que não tinha adesivos
como é que ela conseguia ficar assim.
 É fácil  respondeu Lúcia.  Todo dia, vou visitar
Eli.
 Eli?
 Sim, Eli, o carpinteiro. Fico lá na oficina com ele.
 Por quê?
 Por que você não descobre por si mesmo? Suba o
morro. Ele está lá em cima. E, dizendo isso, a xulinga que
não tinha adesivos virou e foi embora, saltitando.
 Mas será que ele vai querer me ver? - gritou
Marcinelo.
Lúcia não ouviu. Assim, Marcinelo foi para casa.
Sentou-se junto à janela e observou toda aquela gente de
madeira andando de um lado para outro, colando estrelas e
bolinhas uns nos outros.
 Isso não é certo – disse ele baixinho para si mesmo.
E decidiu ir ver Eli.
Marcinelo subiu pelo caminho estreito até o alto do
morro e entrou na enorme oficina. Seus olhos de madeira se
arregalaram com o tamanho das coisas. O banco do
carpinteiro era da altura dele. Tinha de ficar na ponta dos pés
para ver a bancada onde trabalhava o carpinteiro. O martelo
era tão grande quanto o braço de Marcinelo, e ele engoliu em
seco.
 Eu não fico não! – e virou-se para ir embora.
Foi então que ouviu alguém dizer seu nome.
 Marcinelo? – A voz era profunda e forte.
Marcinelo parou.
 Marcinelo! Que alegria ver você. Chegue mais! Quero
ver você bem de perto.
Marcinelo virou bem devagar e olhou para o enorme
carpinteiro barbudo.
 Você sabe o meu nome? – perguntou o pequeno
xulingo.
 É claro que sei. Fui eu que fiz você.
Eli se curvou, levantou Marcinelo e o colocou sentado no
banco.
 Huummm! – disse pensativo o carpinteiro, olhando
para todas aquelas bolinhas cinzentas.  Parece que você
recebeu muitos adesivos ruins.
 Eu não queria que isso acontecesse, Eli. Eu me
esforcei para ganhar estrelas.
 Você não precisa se defender comigo, amiguinho. Eu
não me importo com o que os outros xulingos pensam.
 Não?
 Não, e você também não precisa se importar. Quem
são eles para dar estrelas ou bolinhas? São apenas xulingos
como você. O que eles pensam, não importa Marcinelo. A
única coisa que importa é o que eu penso. E eu penso que
você é muito especial.
Marcinelo deu uma risada.
Eu, especial? Por quê? Não sei correr.
Não consigo pular. Minha tinta está descascando. Por
que eu seria importante para você?
Eli olhou para Marcinelo, colocou suas mãos enormes
naqueles pequenos ombros de madeira, e disse bem
devagarzinho:
 Porque você é meu. Por isso, você é importante para
mim.
Nunca ninguém havia olhado assim para Marcinelo –
muito menos o seu criador. Ele nem sabia o que dizer.
 Todo dia, tenho esperado a sua visita  explicou Eli.
 Eu vim porque encontrei alguém que não tinha
marcas  disse Marcinelo.
 Eu sei. Ela me falou sobre você.
 Por que os adesivos não colam nela?
O criador dos xulingos falou bem mansinho:
 Porque ela decidiu que o que eu penso é mais
importante do que o que eles pensam. Os adesivos só colam
se você deixar que colem.
 O quê?
 Os adesivos só colam se eles forem importantes para
você. Quanto mais você confiar no meu amor, menos vai se
importar com os adesivos dos xulingos.
 Acho que não estou entendendo.
Eli sorriu e disse:
 Você vai entender, mas levará tempo. Você tem
muitos adesivos. Por enquanto, basta vir me visitar todo dia,
e eu lhe direi como você é importante para mim.
Eli ergueu Marcinelo do banco e o colocou no chão.
 Lembre-se – disse Eli quando o xulingo saía pela
porta  Você é especial porque eu o fiz. E eu não cometo
erros.
Marcinelo nem parou, mas lá no fundo de seu coração
pensou: Acho que ele realmente se importa comigo.
E, quando ele pensou assim, uma bolinha cinzenta caiu
ao chão.
The End

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Convite para Jornada Pedagógica
Convite para Jornada PedagógicaConvite para Jornada Pedagógica
Convite para Jornada Pedagógica
Maisaro
 
Teatro para o dia das mães 3
Teatro para o dia das mães 3Teatro para o dia das mães 3
Teatro para o dia das mães 3
Vania Mendes
 
Material crianças ebd professor
Material crianças ebd   professorMaterial crianças ebd   professor
Material crianças ebd professor
Sergio Silva
 

Mais procurados (20)

Formação continuada de professores.
Formação continuada de professores.Formação continuada de professores.
Formação continuada de professores.
 
Dinâmica do quebra cabeça
Dinâmica do quebra cabeçaDinâmica do quebra cabeça
Dinâmica do quebra cabeça
 
Mães de todos os tipos
Mães de todos os tiposMães de todos os tipos
Mães de todos os tipos
 
Regras da biblioteca
Regras da bibliotecaRegras da biblioteca
Regras da biblioteca
 
Celebração do Dia da Bíblia - Pe Gesildo
Celebração do Dia da Bíblia - Pe GesildoCelebração do Dia da Bíblia - Pe Gesildo
Celebração do Dia da Bíblia - Pe Gesildo
 
Encontros de catequese
Encontros de catequeseEncontros de catequese
Encontros de catequese
 
Estudo Bíblico do filme: O Medalhão Perdido.
Estudo Bíblico do filme:  O  Medalhão Perdido.Estudo Bíblico do filme:  O  Medalhão Perdido.
Estudo Bíblico do filme: O Medalhão Perdido.
 
Encontro 001 vamos caminhar juntos - primeira eucaristia
Encontro 001   vamos caminhar juntos - primeira eucaristiaEncontro 001   vamos caminhar juntos - primeira eucaristia
Encontro 001 vamos caminhar juntos - primeira eucaristia
 
Ensino participativo na Escola Dominical
Ensino participativo na Escola DominicalEnsino participativo na Escola Dominical
Ensino participativo na Escola Dominical
 
Convite para Jornada Pedagógica
Convite para Jornada PedagógicaConvite para Jornada Pedagógica
Convite para Jornada Pedagógica
 
Slides capacitaçao inicial 2010 circuito campeao
Slides capacitaçao inicial 2010 circuito campeaoSlides capacitaçao inicial 2010 circuito campeao
Slides capacitaçao inicial 2010 circuito campeao
 
Conselho de classe
Conselho de classeConselho de classe
Conselho de classe
 
Campanha educativa bullying
Campanha educativa bullyingCampanha educativa bullying
Campanha educativa bullying
 
Aprendendo com os Salmos
Aprendendo com os SalmosAprendendo com os Salmos
Aprendendo com os Salmos
 
Diálogo com os_filhos_ecc
Diálogo com os_filhos_eccDiálogo com os_filhos_ecc
Diálogo com os_filhos_ecc
 
Plano de aula do magistério
Plano de aula do magistérioPlano de aula do magistério
Plano de aula do magistério
 
Trabalho coletivo - Trabalho de Equipe, Cooperação, Colaboração como elemento...
Trabalho coletivo - Trabalho de Equipe, Cooperação, Colaboração como elemento...Trabalho coletivo - Trabalho de Equipe, Cooperação, Colaboração como elemento...
Trabalho coletivo - Trabalho de Equipe, Cooperação, Colaboração como elemento...
 
Teatro para o dia das mães 3
Teatro para o dia das mães 3Teatro para o dia das mães 3
Teatro para o dia das mães 3
 
Encontro pedagógico
Encontro pedagógicoEncontro pedagógico
Encontro pedagógico
 
Material crianças ebd professor
Material crianças ebd   professorMaterial crianças ebd   professor
Material crianças ebd professor
 

Mais de maria367173 (6)

A_concepcao_de_imagem_em_Deleuze_e_Bergs.pdf
A_concepcao_de_imagem_em_Deleuze_e_Bergs.pdfA_concepcao_de_imagem_em_Deleuze_e_Bergs.pdf
A_concepcao_de_imagem_em_Deleuze_e_Bergs.pdf
 
Estudos-de-Bebes-1.pdf
Estudos-de-Bebes-1.pdfEstudos-de-Bebes-1.pdf
Estudos-de-Bebes-1.pdf
 
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço..pdf
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço..pdfBACHELARD, Gaston. A poética do espaço..pdf
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço..pdf
 
Livro - Heloisa Luck - A Gestão Participativa na Escola.pdf
Livro - Heloisa Luck - A Gestão Participativa na Escola.pdfLivro - Heloisa Luck - A Gestão Participativa na Escola.pdf
Livro - Heloisa Luck - A Gestão Participativa na Escola.pdf
 
FILMES PARA ESCOLHA.docx
FILMES PARA ESCOLHA.docxFILMES PARA ESCOLHA.docx
FILMES PARA ESCOLHA.docx
 
Artigo TONUCCI o direito de brincar uma necessidade para as crianças.pdf
Artigo TONUCCI o direito de brincar uma necessidade para as crianças.pdfArtigo TONUCCI o direito de brincar uma necessidade para as crianças.pdf
Artigo TONUCCI o direito de brincar uma necessidade para as crianças.pdf
 

Último

ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
azulassessoria9
 
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
azulassessoria9
 
No processo de aprendizagem motora, a forma como o indivíduo processa as info...
No processo de aprendizagem motora, a forma como o indivíduo processa as info...No processo de aprendizagem motora, a forma como o indivíduo processa as info...
No processo de aprendizagem motora, a forma como o indivíduo processa as info...
azulassessoria9
 
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
azulassessoria9
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
azulassessoria9
 

Último (20)

O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
 
425416820-Testes-7º-Ano-Leandro-Rei-Da-Heliria-Com-Solucoes.pdf
425416820-Testes-7º-Ano-Leandro-Rei-Da-Heliria-Com-Solucoes.pdf425416820-Testes-7º-Ano-Leandro-Rei-Da-Heliria-Com-Solucoes.pdf
425416820-Testes-7º-Ano-Leandro-Rei-Da-Heliria-Com-Solucoes.pdf
 
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
 
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
 
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfMESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
Acróstico - Maio Laranja
Acróstico  - Maio Laranja Acróstico  - Maio Laranja
Acróstico - Maio Laranja
 
Slides Lição 7, CPAD, O Perigo Da Murmuração, 2Tr24.pptx
Slides Lição 7, CPAD, O Perigo Da Murmuração, 2Tr24.pptxSlides Lição 7, CPAD, O Perigo Da Murmuração, 2Tr24.pptx
Slides Lição 7, CPAD, O Perigo Da Murmuração, 2Tr24.pptx
 
INTRODUÇÃO DE METODOLOGIA PARA TRABALHIOS CIENTIFICOS
INTRODUÇÃO DE METODOLOGIA PARA TRABALHIOS CIENTIFICOSINTRODUÇÃO DE METODOLOGIA PARA TRABALHIOS CIENTIFICOS
INTRODUÇÃO DE METODOLOGIA PARA TRABALHIOS CIENTIFICOS
 
No processo de aprendizagem motora, a forma como o indivíduo processa as info...
No processo de aprendizagem motora, a forma como o indivíduo processa as info...No processo de aprendizagem motora, a forma como o indivíduo processa as info...
No processo de aprendizagem motora, a forma como o indivíduo processa as info...
 
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do séculoSistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
 
Maio Laranja - Combate à violência sexual contra crianças e adolescentes
Maio Laranja - Combate à violência sexual contra crianças e adolescentesMaio Laranja - Combate à violência sexual contra crianças e adolescentes
Maio Laranja - Combate à violência sexual contra crianças e adolescentes
 
Prova nivel 3 da XXII OBA DE 2019 - GABARITO POWER POINT.pptx
Prova nivel 3 da XXII OBA DE 2019 - GABARITO POWER POINT.pptxProva nivel 3 da XXII OBA DE 2019 - GABARITO POWER POINT.pptx
Prova nivel 3 da XXII OBA DE 2019 - GABARITO POWER POINT.pptx
 
UFCD_10659_Ficheiros de recursos educativos_índice .pdf
UFCD_10659_Ficheiros de recursos educativos_índice .pdfUFCD_10659_Ficheiros de recursos educativos_índice .pdf
UFCD_10659_Ficheiros de recursos educativos_índice .pdf
 
Novena de Pentecostes com textos de São João Eudes
Novena de Pentecostes com textos de São João EudesNovena de Pentecostes com textos de São João Eudes
Novena de Pentecostes com textos de São João Eudes
 
Slides Lição 7, Betel, Ordenança para uma vida de fidelidade e lealdade, 2Tr2...
Slides Lição 7, Betel, Ordenança para uma vida de fidelidade e lealdade, 2Tr2...Slides Lição 7, Betel, Ordenança para uma vida de fidelidade e lealdade, 2Tr2...
Slides Lição 7, Betel, Ordenança para uma vida de fidelidade e lealdade, 2Tr2...
 
Modelos de Inteligencia Emocional segundo diversos autores
Modelos de Inteligencia Emocional segundo diversos autoresModelos de Inteligencia Emocional segundo diversos autores
Modelos de Inteligencia Emocional segundo diversos autores
 
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
 
Poema - Maio Laranja
Poema - Maio Laranja Poema - Maio Laranja
Poema - Maio Laranja
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
 

voce-e-especial-max-lucado-.pdf

  • 1.
  • 2. Os XULINGOS eram uma gentinha pequena, feita de madeira. Toda essa gente de madeira tinha sido feita por um carpinteiro chamado Eli. A oficina onde ele trabalhava ficava no alto de um morro, de onde se avistava aldeia dos xulingos. Cada xulingo era diferente dos outros. Uns, tinham narizes bem grandes; outros tinham olhos enormes. Alguns eram altos, e outros, bem baixinhos. Uns, usavam chapéus, outros, usavam casacos. Todos eles, porém, tinham sido feitos pelo mesmo carpinteiro e moravam na mesma aldeia.
  • 3. E o dia inteiro, todos os dias, os xulingos só faziam uma coisa: colavam adesivos uns nos outros. Cada xulingo tinha uma caixinha com adesivos dourados, em forma de estrela, e uma caixinha com adesivos cinzentos, em forma de bola. Em toda a aldeia, indo e vindo pelas ruas, os xulingos passavam dia após dia colando estrelas e bolas uns nos outros. Os mais bonitos, feitos de madeira lisa e tinta brilhante, sempre ganhavam estrelas. Mas, se a madeira era áspera ou se a tinta descascava, os xulingos colavam bolas cinzentas.
  • 4. Os xulingos que tinham algum talento também ganhavam estrelas. Alguns conseguiam levantar pedaços de madeira bem pesados acima de suas cabeças ou conseguiam pular por cima de caixas de madeira bem grandes. Outros conseguiam falar palavras compridas e difíceis ou cantar belas canções. Todos colavam estrelas nesses xulingos. Alguns xulingos viviam carregados de estrelas! Cada vez que recebiam uma estrela, ficavam muito felizes! Sentiam vontade de fazer alguma outra coisa para ganhar mais uma estrela.
  • 5. Alguns xulingos, porém, não sabiam fazer muita coisa. Esses ganhavam bolinhas cinzentas. Marcinelo era um desses. Ele tentava pular bem alto como os outros, mas sempre caía. E, quando caía, os outros xulingos se juntavam à volta dele e lhe davam bolinhas cinzentas. Às vezes, quando caía, sua madeira ficava arranhada, e, assim, os outros colavam mais bolinhas cinzentas nele.
  • 6. Aí, quando ele tentava explicar por que tinha caído, dizia alguma coisa do jeito errado, e os xulingos colavam mais bolinhas cinzentas. Depois de algum tempo, Marcinelo tinha tantas bolinhas que nem queria sair de casa. Tinha medo de fazer alguma bobagem, como esquecer o chapéu ou pisar na poça d’água, porque os xulingos iriam colar nele mais uma bolinha. A verdade é que ele tinha tantos adesivos cinzentos que as pessoas se aproximavam dele e, sem razão alguma, colavam nele mais uma bolinha cinzenta.
  • 7.  Ele merece ficar coberto de bolinhas cinzentas  as pessoas de madeira diziam umas às outras.  Ele não é um bom xulingo. Depois de algum tempo, Marcinelo começou a acreditar neles. E vivia dizendo:  Eu não sou um bom xulingo. Nas poucas vezes em que saía de casa, ficava junto de outros xulingos que tinham muitas bolinhas cinzentas. Entre eles, Marcinelo se sentia melhor.
  • 8. Certo dia, Marcinelo encontrou uma xulinga diferente de todas que ele conhecia. Ela não tinha nem estrelas nem bolinhas. Só madeira. O nome dela era Lúcia. E não era porque outros xulingos não tentassem colar adesivos em Lúcia. É que os adesivos não ficavam. Alguns xulingos admiravam Lúcia porque não tinha bolinhas; por isso, chegavam perto dela e lhe davam uma estrela. Mas a estrela caía! Outros a desprezavam porque ela não tinha estrelas, e por isso lhe davam uma bolinha cinzenta. Mas as bolinhas também não colavam.
  • 9. É assim que eu quero ser; pensou Marcinelo. Não quero ficar com as marcas de outras pessoas. Então, ele perguntou à xulinga que não tinha adesivos como é que ela conseguia ficar assim.  É fácil  respondeu Lúcia.  Todo dia, vou visitar Eli.  Eli?
  • 10.  Sim, Eli, o carpinteiro. Fico lá na oficina com ele.  Por quê?  Por que você não descobre por si mesmo? Suba o morro. Ele está lá em cima. E, dizendo isso, a xulinga que não tinha adesivos virou e foi embora, saltitando.  Mas será que ele vai querer me ver? - gritou Marcinelo. Lúcia não ouviu. Assim, Marcinelo foi para casa. Sentou-se junto à janela e observou toda aquela gente de madeira andando de um lado para outro, colando estrelas e bolinhas uns nos outros.
  • 11.  Isso não é certo – disse ele baixinho para si mesmo. E decidiu ir ver Eli. Marcinelo subiu pelo caminho estreito até o alto do morro e entrou na enorme oficina. Seus olhos de madeira se arregalaram com o tamanho das coisas. O banco do carpinteiro era da altura dele. Tinha de ficar na ponta dos pés para ver a bancada onde trabalhava o carpinteiro. O martelo
  • 12. era tão grande quanto o braço de Marcinelo, e ele engoliu em seco.  Eu não fico não! – e virou-se para ir embora. Foi então que ouviu alguém dizer seu nome.  Marcinelo? – A voz era profunda e forte. Marcinelo parou.  Marcinelo! Que alegria ver você. Chegue mais! Quero ver você bem de perto. Marcinelo virou bem devagar e olhou para o enorme carpinteiro barbudo.  Você sabe o meu nome? – perguntou o pequeno xulingo.  É claro que sei. Fui eu que fiz você.
  • 13. Eli se curvou, levantou Marcinelo e o colocou sentado no banco.  Huummm! – disse pensativo o carpinteiro, olhando para todas aquelas bolinhas cinzentas.  Parece que você recebeu muitos adesivos ruins.  Eu não queria que isso acontecesse, Eli. Eu me esforcei para ganhar estrelas.
  • 14.  Você não precisa se defender comigo, amiguinho. Eu não me importo com o que os outros xulingos pensam.  Não?  Não, e você também não precisa se importar. Quem são eles para dar estrelas ou bolinhas? São apenas xulingos como você. O que eles pensam, não importa Marcinelo. A única coisa que importa é o que eu penso. E eu penso que você é muito especial.
  • 15. Marcinelo deu uma risada. Eu, especial? Por quê? Não sei correr. Não consigo pular. Minha tinta está descascando. Por que eu seria importante para você? Eli olhou para Marcinelo, colocou suas mãos enormes naqueles pequenos ombros de madeira, e disse bem devagarzinho:  Porque você é meu. Por isso, você é importante para mim. Nunca ninguém havia olhado assim para Marcinelo – muito menos o seu criador. Ele nem sabia o que dizer.
  • 16.  Todo dia, tenho esperado a sua visita  explicou Eli.  Eu vim porque encontrei alguém que não tinha marcas  disse Marcinelo.  Eu sei. Ela me falou sobre você.  Por que os adesivos não colam nela? O criador dos xulingos falou bem mansinho:
  • 17.  Porque ela decidiu que o que eu penso é mais importante do que o que eles pensam. Os adesivos só colam se você deixar que colem.  O quê?  Os adesivos só colam se eles forem importantes para você. Quanto mais você confiar no meu amor, menos vai se importar com os adesivos dos xulingos.  Acho que não estou entendendo.
  • 18. Eli sorriu e disse:  Você vai entender, mas levará tempo. Você tem muitos adesivos. Por enquanto, basta vir me visitar todo dia, e eu lhe direi como você é importante para mim. Eli ergueu Marcinelo do banco e o colocou no chão.
  • 19.  Lembre-se – disse Eli quando o xulingo saía pela porta  Você é especial porque eu o fiz. E eu não cometo erros. Marcinelo nem parou, mas lá no fundo de seu coração pensou: Acho que ele realmente se importa comigo. E, quando ele pensou assim, uma bolinha cinzenta caiu ao chão. The End