O documento discute pesquisas sobre a representação do negro em livros didáticos e paradidáticos brasileiros entre 1950-1999. As pesquisas apontam que o negro é frequentemente retratado de forma estereotipada e preconceituosa, desempenhando funções subalternas e relacionado à escravidão. Apesar de décadas, alguns livros ainda tratam o negro como cidadão de segunda categoria.
A Obsessão por Justa Causa - – A Paixão, o Ciúme, a Traição e a obsessão - TEXTO
RepresentaçãO Do Negro No Livro DidáTico
1. Os presentes dados referentes ao racismo em livros didáticos e paradidáticos, foram apresentados em seminário elaborado pelo Centro de
Estudos das relações do Trabalho e Desigualdades – CEERT e pelo Fundo das Nações Unidas Para a Infância – UNICEF, em 22 de maio de 2003.
O referido seminário objetivou sensibilizar importantes atores do cenário educacional brasileiro a fim de discutir a inclusão da temática racial em
seus programas institucionais.
O objetivo da tabela que se segue é analisar as principais pesquisas que tiveram como objeto de estudo a representação do negro em livros
didáticos e paradidáticos, apontando suas principais conclusões. Um aspecto que incide em todas as pesquisas analisadas, é a representação do
negro de uma maneira estereotipada e preconceituosa. Outro aspecto que se observa após a análise destas pesquisas, é que decorridas cinco
décadas, ainda nos deparamos com publicações (Banzo, Tronco e Senzala - Elzi Nascimento e Elzita Melo Quinta, ilustrações Negreiros, editora
Harbra, 1999) que tratam o negro como um cidadão de segunda categoria, animalizado e como único responsável pelo processo de escravidão.
Esperamos que estas conclusões contribuam como indicadores de análise e seleção das publicações para o público infanto-juvenil.
2. Pesquisas sobre representação do negro em livros didáticos e paradidáticos
Ano Autor Título Principais conclusões
1950 Dante Moreira Leite Preconceito racial e patriotismo em seis Negro representado em situação social
livros didáticos primários brasileiros inferior.
Superioridade da raça branca.
O branco tendo uma postura de desprezo
e/ou piedade para com o negro.
1957 Bazzanella Valores e estereótipos em livros de O negro desempenhando funções
leitura. subalternas.
Sempre relacionado à escravidão.
1980 Fúlvia Rosemberg Análise dos modelos culturais na Em situação de trabalho mesmo quando
(1955-1975) literatura infanto-juvenil brasileira. não desempenhando nenhuma atividade
profissional (mulheres como empregadas
domésticas e homens como trabalhadores
manuais).
3. O negro como escravo.
Escassez de multidões mistas, indicando a
não miscigenação e invisibilidade do
negro.
Religiosos brancos.
Corpo humano: homem, branco e adulto.
Traço tipificador, como se todos os negros
fossem iguais.
1990 Esmeralda Negrão e De olho no preconceito: um guia para Inexistência do negro em livros.
Regina Pahim Pinto professores sobre racismo em livros O negro como categoria social.
para crianças. Branco tido como padrão. Tendência ao
branqueamento de objetos
antropomorfizados.
1995 Ana Célia da Silva Discriminação do negro no livro O negro assemelhado a seres irracionais.
didático Descontextualizado (sem família).
Associado à animais.
Desempenhando funções subalternas.
Em último lugar.
Menor freqüência nas ilustrações em capas
e como personagens principais.
Representado de forma caricaturada.
Maltrapilho e sujo, como se negro e pobre
fosse condições intrínsecas.
4. Criança isolada.
1999 Chirley Bazilli Discriminações contra personagens Vinte anos de produção (...) ocorreram
negros na literatura infanto-juvenil (...) quase inalterações, das tendências
brasileira contemporânea sobre as relações raciais (...). (p. 101)
Fonte: Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades – CEERT
5. Referências bibliográficas:
BAZILLI, Chirley. Discriminações contra personagens negros na literatura infanto-juvenil brasileira contemporânea. São Paulo,
Dissertação de mestrado em Psicologia Social (PUC-SP), 1999.
BAZZANELLA, W. Valores e estereótipos em livro de leitura. Boletim do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais. Rio de
Janeiro, vol. 2, n. 4, mar., 1957.
LEITE, Dante M. Preconceito racial e patriotismo em seis livros didáticos primários brasileiros. Psicologia. São Paulo, n. 3, p.207-31,
1950.
NEGRÃO, Esmeralda V. & PINTO, Regina P. De olho no preconceito: um guia para professores sobre racismo em livros para
crianças. São Paulo, Fundação Carlos Chagas, 1990.
ROSEMBERG, Fúlvia. Análise dos modelos culturais na literatura infanto-juvenil brasileira. São Paulo, Fundação Carlos Chagas,
volumes 1 a 9, 1980.
SILVA, Ana Célia da. Discriminação do negro no livro didático. Salvador, Editora CEAO, 1995.