Dia 8 de março está chegando, e precisamos refletir sobre o nosso papel no reconhecimento dos nossos direitos. É claro que a sociedade e o poder público deve fazer algo, mas há uma tarefa principal que só nós mesmas podemos fazer.
2. FESTA?
Estamos nos aproximando do dia 8 de março, institucionalizado como o dia
Internacional da Mulher. Mas o que temos de fato para comemorar?
As mulheres ainda sofrem todo tipo de abuso e humilhações. Não faz muito
tempo e uma pesquisa revelou que um grupo de pessoas acreditam que
algumas mulheres merecem ser estupradas. Quem merece isso? Desde
quando uma mulher precisa ser “punida” por andar com roupas sensuais,
ou tarde da noite pelas ruas? Que tipo de sociedade somos? Que tipo de
educação estamos recebendo e oferecendo a ponto de até mesmo mulheres
apoiarem a ideia da meritocracia dessa brutalidade? Será que há motivo
para festa? E não acaba aqui...
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3. Maria, Maria. E as Marias se vão...
Mesmo com a Lei Maria da Penha, em vigor no país, a violência doméstica
continua em alta. Quem assiste noticiários policiais, sabe bem que diariamente há
pelo menos uma notícia sobre uma mulher que foi assassinada pelo ex -
companheiro, e em tempos modernos , pela ex- companheira também. A violência
não para. Eles não sabem perder. Não admitem o término, ameaçam, espancam,
dão sinais claros de que usarão todos os recursos , inclusive o homicídio, mas um
mulher agredida só tem como proteção um papel , escrito: “olha, não se aproxime
dela.” Se isso resolvesse, o número de assassinatos contra a mulher não teria
crescido 46% no interior de São Paulo entre 2012 e 2013, de acordo com o portal
globo.com. Em todo país, há um sem número de assassinatos e agressões e mais
assassinatos. Alguns , acredite, são justificados: “ah, mas também, o que essa
mulher estava fazendo na rua de madrugada? Estava procurando. Por que se casou
com esse bandido? Por que não separou no primeiro tapa? Por que isso, por que
aquilo, e as Marias se vão.
4. Violência e racismo, mulher negra “br”
Dias atrás, eu conversava com um senhor muito simpático, e passou uma mulher
negra por nós. Ele, sem o menor pudor, virou-se para um colega e disse: “Essas é só
pra cama, pra casar tem que ser mais clarinha. Mas essas aí na cama, hum...”
Claro que ele esqueceu que estava conversando com uma mulher tão negra quanto
a que passou por nós, aliás, ele sequer notou que éramos igualmente negras: “você
é mais moreninha, mais clarinha”, dizia ele sem nenhum remorso do que disse a
respeito da mulher. Eu vi ali que ainda estamos vivendo com pensamentos
retrógrados em todo lugar. As leis mudaram, outras foram criadas, as mulheres
mudaram, tornaram-se mais fortes, decididas, tornaram-se autoras de suas
histórias, não precisam mais se esconder atrás de marido e filhos para mostrar
quem são. Mas alguns demonstram que não importa quão contemporâneas somos,
sempre há alguém pronto a mostrar o quanto ainda somos racistas, o quanto isso
ainda está cravado em nós.
5. As mulheres negras ainda ganham menos do que mulheres brancas, e estas
ganham menos do que os homens de acordo com dados do IBGE, censo
demográfico 2010. E não para por aí, de acordo com o SINAN ( Sistema de
Informação de Agravos de Notificação), em Goiás , nos últimos três anos,
das notificações de violências, 47% foram feitas por mulheres negras contra
30% por mulheres brancas. Quando se trata de violência sexual os números
ficam ainda mais assustadores, 63% das vítimas é negra.
A mulher negra também não é esquecida pela mídia. A televisão mostra
figuras negras (personagens) que falam errado, alto e tudo que fazem é
barraco, samba, sexo. Epa, eu não me pareço com isso, corta!
6. Negra cor
A verdade é que todas as mulheres, sejam
negras, brancas, indígenas, todas, em todo
lugar, ricas e pobres, sofrem porque os
homens se acham no direito de subjuga-las.
E elas por sua vez, não se sentem no direito
de reagir. Acham que precisam sofrer,
mulher padece, mãe padece. Eu ouvi de
uma mulher, que poderia ser qualquer
pessoa, mas era negra, algo que me marcou:
“Menina, se você puder se pintar de branca,
pinte, porque a vida fica mais fácil pra
quem é branca; mas se não puder, não
tenha medo, nem vergonha de ser uma
negona, mas lute sempre para que vejam
você além da sua cor, além do seu afro, além
da sua condição social.”
Então é isso, ser mulher é uma luta! Talvez...
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7. ... alguém queira, então, sair neste dia 8 de março, em passeatas, para pedir
respeito às mulheres; e todo tipo de respeito para todos os tipos de
mulheres: às fortes, às frágeis, às que estudaram, às que não estudaram, às
que moram nos palácios, às que moram nos casebres, às que tem filhos, às
que são estéreis, às que casaram, às que preferem ficar solteiras, às gordas,
às magras, às que dançam, às que ficam paradas, às que saem para
trabalhar, às que preferem ser donas de casa, às negras, brancas, pardas,
asiáticas, indígenas, etc. E não é pedir muito, claro que não, mas já não
fizemos isso antes? E não é exatamente por causa dessa luta por mais
respeito às mulheres todas que temos o dia Internacional da Mulher? Já não
lutamos pelo direito à escolarização, ao voto, já não queimamos sutiãs?
Então o que falta fazer?
8. Mulhe
r
Falta, a cada mulher olhar para dentro
de si e não aceitar , em hipótese alguma
qualquer forma de desrespeito.
Falta uma revolução, mas não estas que
ocorrem do lado de fora, mas estas que
ocorrem dentro de nós.
Falta amar-se e querer-se mais; falta
valorizar-se mais; falta a cada mulher
um olhar mais carinhoso, gestos mais
delicados consigo mesma.
Falta descobrir-se!
Então, ninguém mais tira de você o
valor que tem!!!